Há uns 25 anos atrás, inspirado por um livro que acabava de ser publicado - "Le Sang des Bade", do Barão Taubert-Natta e de Georges Martin com prefácio da princesa Antoinette do Monaco - comecei a dar corpo a um velho projecto que teve a sua origem remota num artigo sobre a Casa de Bragança escrito na juventude em que, contrariando a versão apresentada por um genealogista francês numa revista da especialidade, pretendia demonstrar que se a Rainha Vitória era, incontestavelmente, a “Avó da Europa”, o Avô não era nem Cristiano IX da Dinamarca nem Luís Filipe dos Franceses como aí se defendia mas o nosso rei D. João VI.
Originalmente, o meu trabalho pretendia apenas identificar as linhas por onde o sangue de Bragança entrava nas casas reais europeias e nas casas principescas e ”mediatizadas” do Império Alemão que constavam do “Almanach de Gotha”. E quando finalmente o dei como pronto para publicação, dedicando-o ao Grão-Duque João do Luxemburgo – na altura, o mais português dos soberanos reinantes, neto paterno e materno de duas infantas portuguesas – apresentei-o à Fundação da Casa de Bragança cujo apoio mecenático me pareceu óbvio e era indispensável para que o projecto pudesse avançar. A resposta não tardou muito. Foi rotundamente negativa, fundamentada sob a forma de interrogação: “a quem poderá interessar um trabalho desta natureza? “
Sem resposta preparada ou sequer pensada, entre a surpresa e a desilusão não me restou outra alternativa que não fosse guardar o meu projecto de livro na gaveta. E assim ficou durante anos. Quando em meados de 1999 comecei a preparar o site de Genealogia, acabou por se revelar da maior utilidade: socorri-me das deduções genealógicas da descendência do 1º Duque de Bragança que constituíam o livro para, com alguma facilidade, as transpôr e desenvolver no Genea Portugal. Disso mesmo dei conta em 2000, no texto de apresentação do site, para justificar a profusão desproporcionada de estrangeiros num Portal que se pretendia de Genealogia portuguesa. E foi também por isso que, além da bolinha azul que identificava os descendentes de D. Afonso Henriques, inclui uma bolinha dourada para assinalar o sangue de Bragança.
“Bola azul” e “bola dourada” passaram a integrar o léxico dos apaixonados pela Genealogia que, desde a primeira hora e ao longo dos seus nove anos de existência, acompanham o desenvolvimento do site e com ele colaboram, seja através das suas doutas e apreciadas intervenções no Forum, seja através do envio de sugestões de actualizações ou de correcções. Não me surpreendeu por isso o desapontamento que constituiu o desaparecimento dessa informação acessória que o site prestava - a bola dourada - quando, por força de internacionalização do Portal de Genealogia e da sua conversão no actual Geneall, houve necessidade de uniformizar a informação e atribuir, para cada grande zona geográfico-linguística, um único ”pai da pátria”. Na nova versão, a bola dourada acabou por ser atribuída à descendência de Carlos Magno, o único avô comum a todos os outros: Hugo Capeto, Guilherme da Normandia, Fernando Magno e D. Afonso Henriques.
Nestes dois últimos anos, foram aqui chegando bastos ecos das saudades da “bola dourada” a que, por razões evidentes, não fiquei insensível. E simbolicamente, no mesmo dia em que ela desapareceu em 2007 – a 7 de Julho – ressurge agora em 2009, numa página autónoma que, ao mesmo tempo edita, sob o formato cibernético dos nossos dias, com mais informação e permanentemente actualizado – o trabalho que nunca chegou a ser publicado e cuja natureza, sei agora, interessará a 190.000 leitores, tantos quantos são actualmente os visitantes únicos e regulares do Geneall: o Sangue de Bragança.
Luis Amaral
7 Julho 2009