Dúvida no conceito de «casamento morganático»

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Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#127938 | Luís_MCS_Froes | 10 Sep 2006 14:28

Caros Senhores,

Perdoem-me se a questão que coloco se vos afigura como ridícula, mas, dado que não encontro esclarecimento noutro local, ouso fazê-la.

Sei que o significado de «casamento morganático» atenta para a disparidade de classe entre o noivo e a noiva, presumo que em se tratando de uma aliança em que um dos membros tem sangue real.

Ora, a minha dúvida é esta: quais os critérios exactos usados para a definição de um casamento como sendo morganático?

Por outro lado, o «casamento morganático» só é concebível no seio de uma família real, isto é, um casamento de um herdeiro presuntivo de uma Casa Ducal não-reinante com uma criada pode também ser tido como morganático?

Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#127941 | jmacieira | 10 Sep 2006 15:01 | In reply to: #127938

Caro Confrade

Consultando o Diccionário de António de Moraes Silva, 8ª Edição, de 1891, poder-lhe-ei fornecer o conceito, aqui expresso, de casamento morganático. " o de um príncipe ou nobre com esposa de inferior condição; também se chama casamento de mão esquerda, porque com essa é que se faz a cerimónia. Os filhos herdam os direitos de nobreza, mas não os estados do pai". V. Mão. - Casamento de mão esquerda " aquele em que o noivo é nobre e não dá à noiva todos os direitos de família e de posição que lhe deviam caber pela lei comum".

Melhores cumprimentos

João de Mariz Sarmento Macieira

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#127943 | Luís_MCS_Froes | 10 Sep 2006 15:28 | In reply to: #127941

Meu Caro João de Mariz Sarmento Macieira,

Agradeço a disponibilidade e a resposta e retribuo os cumprimentos.

Luís Froes

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#127973 | Luís_MCS_Froes | 10 Sep 2006 20:21 | In reply to: #127941

Meu Caro João de Mariz Sarmento Macieira,

Apesar do seu esclarecimento, a minha dúvida persiste. De facto, quais os critérios exactos para a definição de um casamento como sendo morganático?

Para dar um exemplo concreto, pergunto: o casamento do Príncipe Carlos com Diana Spencer foi morganático?

Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#127980 | jmacieira | 10 Sep 2006 22:15 | In reply to: #127973

Meu Caro Luis Froes

Como me dirige a sua mensagem aqui estou para lhe responder.
Acredite que, apesar de lhe ter enviado informação que, como disse, fui buscar ao Diccionário de Morais, não tenho grandes certezas sobre isso.
Penso que sim. Se o foi, os tempos mudaram. Ela teve o tratamento de Princesa, os filhos têm todos os direitos e, não podemos esquecer, era filha dum Conde inglês.
Face ao casamento do Príncipe Filipe, com D. Letizia Ortiz, que é plebeia, também não se ouve falar da possível transmissão aos filhos e, D. Letizia, é Princesa das Astúrias.

Estou em crer que, o que acontece, os casamentos morganáticos (tanto nas Casas Reais como dentro da Nobreza) vão existindo mas as consequências que traziam consigo, essas acabaram.

Os meus cumprimentos

João de Mariz Sarmento Macieira

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#128000 | Luís_MCS_Froes | 11 Sep 2006 00:47 | In reply to: #127980

Meu Caro João de Mariz Sarmento Macieira,

É a impressão que eu tinha.
De resto, em teoria, morganático foi também o casamento de S.A.R. o Senhor Dom Duarte Pio com a Senhora Dona Isabel de Herédia. E tantos outros ao longo da história, muitos deles culminando na abdicação dos direitos de sucessão para os próprios e para os descendentes.

Mas a minha questão nem acaba aqui.
Por exemplo, imaginemos uma descendente próxima de uma Casa Real por via materna, cujo pai descende de velhas famílias da nobreza, muitas delas de origem medieval, mas que acumula também costados menos nobres, no fundo, uma nobre dos quatro costados, mas não todos de igual nobreza, em termos de antiguidade, património e grandeza, imaginemos - dizia eu - que esta senhora casa com um príncipe. O casamento é morganático?

É esta especificidade de critérios que procuro esclarecer, porque nobreza há muita e variada.

Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#128004 | Marcondes | 11 Sep 2006 01:45 | In reply to: #128000

Caros amigos,

Eu creio que o casamento só é morganático quando os filhos não herdam os direitos paternos (nome e bens). Por exemplo: um príncipe casando-se com uma mulher de condição inferior e, com isto, a mulher não herdando o tratamento de Alteza ou Alteza Real do marido e os filhos não herdando nem os tratamentos nem sendo herdeiros do trono.

Este casamento só existe se as leis do país não permitem ou se a casa real não aceitar a união para efeitos de sucessão.

Tanto o cassamento do Príncipe de Gales quanto o do Príncipe das Astúrias como o do Duque de Bragança, no meu entender, não foram morganáticos já que as esposas usam o nome do marido e os filhos são herdeiros do pai em relação ao trono.

Mas acho que alguém com mais conhecimento possa dizer realmente quando é o casamento morganático.

Um abraço,
Washington Marcondes Ferreira
Campinas SP Brasil

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#128005 | Pedro França | 11 Sep 2006 01:51 | In reply to: #128000

Caro Luís Froes:

Desculpe-me por estar a meter a colherada mas acontece o seguinte:
- Quando Diana Spencer casou com Carlos, príncipe de Gales/ Letizia Ortiz casou com Filipe, príncipe das Astúrias/ Mary Donaldson casou com Frederico, príncipe herdeiro da Dinamarca/ Mette-Marit casou com Haakon Magnus, príncipe herdeiro da Noruega (e já antes seu pai o rei Haraldo V com Sónia Haraldsen)/ Filipe duque de Brabante casou com Matilde d'Udekem d'Acoz/ Guilherme, príncipe de Orange-Nassau, casou com Máxima Zorreguieta/ Henrique, Grão-Duque do Luxemburgo, casou com Maria Teresa Mestre/ Carlos XVI Gustavo da Suécia casou com Sílvia Renata Sommerlath/ D. Duarte Pio de Bragança, duque de Bragança casou com D. Isabel de Herédia (Ufa! Vai extensa a lista!), todas as consortes aqui referidas foram "acrescentadas", elevadas ao "rang" de seus maridos e portanto alcançaram o estatuto idêntico ao deles e são tratadas por SAR. A prole de todas estas alianças é sucessível aos respectivos tronos.
*
Logo, não se verificou nenhum casamento morganático como foi o de D. Fernando II de Portugal com Elisa Hensler, feita condessa de Edla, ou o do malogrado arquiduque de Áustria Francisco Fernando com Sofia condessa Chotek, ou ainda o Duque do Porto D. Afonso com a oportunista Nevada Stoody Hayes Chapman, que, embora duquesa do Porto, nunca foi reconhecida no seio da sua "belle famille" nem tão-pouco foi tratada por SAR (e o duque viu-se obrigado até a renunciar aos seus direitos eventuais à coroa).
A prole destes casamentos aqui, quando a houve, perdeu direitos à sucessão e ao título de SAIR como na Áustria-Hungria e o nome de família mudou de Habsburgo-Lorena para Hohenberg (duques de, "tout court").
Um abraço.
Sempre,
Pedro França

Um abraço.
Sempre,
Pedro França

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#128019 | zamot | 11 Sep 2006 09:07 | In reply to: #128005

Caro Luis Froes

Penso que um facto muito importante é a autorização do parlamento. O casamento do Principe Carlos e do Principe Filipe foram autorizados pelos respectivos Parlamentos. Quanto ao da Infanta Dona Ana de Jesus Maria penso que não terá sido préviamente autorizado pelas Cortes.


Um abc

Zé Tomaz

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#128039 | Pedro França | 11 Sep 2006 13:04 | In reply to: #128019

Caro Zé Tomás:

Como achega ao seu pensamento expresso, creio que até houve um certo secretismo à volta desse casamento, um pouco que à porta fechada, e, se não me engano (onde é que eu já li isto?), na capela do Palácio de Queluz.
Nunca esse casamento foi esclarecido quanto à sua natureza nem tão-pouco foi salvaguardado o eventual direito à sucessão ao trono nos descendentes, um pouco como o que D. Maria I fez para sua filha D. Maria Ana Vitória quando esta casou com um infante de Espanha.
Aliás eu também me recordo de ter lido (é só saber a fonte) que D. Ana de Jesus Maria renunciou em si e seus descendentes qualquer eventual pretensão ao trono português para si e seus descendentes. "Donc acte!"
Um abraço.
Sempre,
Pedro França

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#128044 | Luís_MCS_Froes | 11 Sep 2006 13:55 | In reply to: #128019

Meu Caro José Tomaz,

Concedo que o Parlamento espanhol tenha autorizado o casamento do Príncipe Felipe com Letizia Ortiz.
E, na minha opinião, ajudou a contribuir, juntamente com a condescendência incompreensível dos Reis de Espanha, para o assassinato da Monarquia Espanhola e de uma linhagem secular e de extraordinária grandeza.

Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes

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#128045 | Luís_MCS_Froes | 11 Sep 2006 13:58 | In reply to: #128005

Meu Caro Pedro França,

Dadas as situações que descreve, questiono-me se os casamentos morganáticos passaram à História. Se o casamento de Don Felipe de Borbón com Letizia Ortiz não é (e não foi, como se vê) dado como morganático, que casamento o pode ser?

Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes

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#128049 | zamot | 11 Sep 2006 14:33 | In reply to: #128045

Meu Caro Luis

Apenas para te lembrar que estamos em 2006, ou seja no Séc XXI. Onde querias tu ir encontrar para o Principe Filipe uma Princesa, católica, e Virgem?

Bastante mais razoável e de acordo com os nossos tempos, uma rapariga bonita, sensata, inteligente, e com conhecimento da vida real.

Não achas?


Um abc

Zé Tomaz

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#128052 | Luís_MCS_Froes | 11 Sep 2006 14:50 | In reply to: #128049

Meu Caro José Tomaz,

Não acredito que não haja, no meio da nobreza espanhola, uma rapariga católica e que se dê ao respeito. E mais não digo.

Quando ao século XXI nada posso fazer. É um facto que é nele que vivemos. Mas devo dizer-lhe que há coisas que não passam. E o respeito pela tradição e pelos valores mais altos não pode estar ao sabor de ventos e marés, dos céus e da terra. Nem no século XXX os Borbóns deixarão de ser quem são.

Peço-lhe que não leve a mal esta minha posição. No fundo, é simplesmente e tão-só a minha posição.

Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes

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#128054 | zamot | 11 Sep 2006 15:20 | In reply to: #128052

"Não acredito que não haja, no meio da nobreza espanhola, uma rapariga católica e que se dê ao respeito. "

Carissimo Luis

Tenho a certeza que sim, que existem mas... era preciso que o Principe Filipe se tivesse enamorado de uma delas, e como se enamorou pela Princeza Leticia, foi Ela a escolhida e certamente dará uma excelente Rainha um dia mais tarde.

Um abc

Zé Tomaz

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#128070 | JoãoGaspar | 11 Sep 2006 17:48 | In reply to: #128052

Caro Luís Froes

Tenho lido com atenção, as mensagens sobre a duvida de casamento morganático, segundo penso hoje as regras ja não serão as mesmas, e a mudença nem sempre sera má.
A minha questão aqui é a seguinte, se sabesmos que o casamento do Principe Carlos de Inglaterra com Lady Diana Spencer não foi nem teria logica se o fosse morganatico, o segundo casamento com Camila, Duquesa da Cornualha, julgo que o é.

Quanto a questão dos Borbons, julgo que tão ilustre casa, como a Reinante em Espanha sabe o que faz, não é uma morte anunciada da Monarquia Espanhola, é sim e como se tem visto em toda a Europa, uma renovação.

Caro Luís Froes, Dom Afonso , 1º Duque de Bragança , é filho de Dom João I, Dinastia de Avis, com Inês Pires. Até o Proprio Dom João I, é filho de Dom Pedro I de Portugal com Teresa Lourenço.

Como pode ver, as nossas ultimas dinastias Avis e Bragança tem origem com Mães de menor Nobreza, o que não fez delas menores Monarquias, pelo contrario, o Nome de Portugal com estas Dinastias cresceu como nunca.

quanto a questão das Nobreza e das suas meninas católicas e que se dão ao respeito!!! Não posso acreditar que somente as Nobres, sejam Catolicas e Respeitadas.
Acha que o comportamento leviano de amantes e prostitutas aceite e respeitavel quando praticado pelo um Principe ou Rei ?

Luis Froes, julgo que sois bastante jovem, logo não entendo esta sua posição!

Agora é a minha vez de lhe dizer, que não leve a mal esta minha posição. No fundo é somente a posição.

Com os melhores Cumprimentos,

João da Silva-Gaspar

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#128082 | Pedro França | 11 Sep 2006 19:29 | In reply to: #128045

Caro Luís Froes:

A situação que se vive actualmente é uma situação de tendência ou seja, de excesso de democratização das sociedades liberais e daí ao esbatimento entre os vários níveis sociais que em Antigo Regime tinham estatutos definidos juridicamente e com isso procurava-se evitar uma certa promiscuidade social e uma certa degradação ou degenerescência social e estatutária.
Daí que houvesse uma certa tendência para a endogamia nas alianças familiares.
Ora, hoje em dia, ou pelo menos desde o século XIX (isto não vem do séc. XX somente), tem-se verificado a contracção de alianças ditas desiguais, as quais, por força da tal liberalização vs democratização das sociedades, chegou a contaminar não só os parentes afastados dos chefes dinásticos como os próprios herdeiros e chefes dinásticos como se vê publica e notoriamente.
É claro que estas alianças não se praticam assim, pacificamente: como se trata de potenciais consortes que não nasceram e cresceram dentro do mesmo nível social, é-se-lhes dado um tempo de reflexão e amadurecimento para que interiorizem as responsabilidades que deles/delas são esperadas.
Havendo constância na decisão de contrair casamento, a aprovação passa pelo assentimento do chefe dinástico em exercício assim como do parlamento, instituição essa que representa por eleição a vontade de toda a nação.
Com Carlos XVI Gustavo apenas foi precisa a autorização do parlamento (o Riksdag), em 1976, uma vez que o rei precedente e seu avô, Gustavo VI, era já falecido (1973).
Assim, Luís, como terá constatado, todos os casamentos que eu referi na minha anterior mensagem que não apresentaram derrogação, tiveram o aval quer do soberano vigente quer das instituições principais de poder governativo. Portanto, nestes últimos casos não se pode falar de morganatismo.
Note-se que para mim também faz muita confusão (ainda hoje é o dia e eu a vê-los passar), assistir a essa mescla de alianças que se nota à partida serem bastante desiguais - faz com que o sentido de família real ou de alteza ou majestade se desvirtuem por força da excessiva comunicabilidade com a pessoa comum.
Geralmente os consortes são pessoas com uma ocupação socioeconómica desafogada, de tipo liberal, de funcionalismo público, ou empresarial. São no fundo pessoas com autonomia financeira e de estofo empreendedor. Daí que, no mínimo, alianças nesta base contribuem para o aburguesamento das famílias reinantes (só falta dizer proletarização das famílias reinantes, por absurdo).
Pronto, fica à reflexão.
Um abraço.
Sempre,
Pedro França

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#128087 | LCM | 11 Sep 2006 21:29 | In reply to: #128052

Caro Luís,

Morganático é todo o casamento celebrado entre uma Pessoa Real e outra de condição diferente, seja esta qual fôr, lavadeira ou titular do Reino. Assim, tão morganático é o casamento do Principe Filipe com Leticia Ortiz como seria com uma filha da Duquesa de Alba. Ele é uma Pessoa Real ela seria sempre apenas uma Grande de Espanha. Do ponto de vista formal é isto que se passa.
Evidentemente que numa abordagem puramente social, não política, o casamento com a filha de um Duque ou de um Grande de Espanha seria mais bem aceite e mais considerado.

O mesmo se passa com todos os casamentos que o nosso confrade Pedro França se deu ao trabalho de enumerar. Todos os eles são morganáticos. Mas, atenção! Nem todos os países excluiam os casamentos morganáticos da sucessão. A Rainha-Mãe de Inglaterra, por exemplo, não era Princesa. Em França não havia casamento morganático. Em Espanha e nas Duas-Sicílias, apesar de serem um ramo dos Borbons, não eram autorizados casamentos morganáticos pelo menos desde Carlos III, salvo o erro. Para a sucessão da Casa Real das Duas-Sicílias ainda assim é.
Em Portugal, tanto quanto sei, este assunto que nunca foi legislado, pelo que o Rei poderia casar com quem entendesse.

Abraço
Lourenço

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#128105 | feraguiar98 | 12 Sep 2006 00:05 | In reply to: #127938

Casamento morganático, é uma criação da cultura alemã e apenas difundida
nas zonas de influência dessa cultura.
Pode-se definir como um casamento em que a noiva não adquire parte do seu
status de esposa e a descendência não tem direitos sucessórios nem herda
propriedade vinculada. Fora essas limitações, os filhos são legítimos e
mantém-se o dever de fidelidade e proibição de bigamia.
Como corolário, tal instituição não pode existir em países cuja ordenação
jurídica não permite o contrato antenupcial, como é flagrantemente o caso de
Inglaterra. Em França nem o termo é utilizado e, quando acontecia - o exemplo
imediato é Luís XIV e Madame de Maintenon - era chamado de casamento secreto. muito embora fosse público.

Há quem filie a etimologia directamente no alemão - morgen = manhã - quem muito eruditamente filie no antigo gótico - morgjen = restringir - mas o mais aceite é que venha pelo latim - matrimonium ad morganaticam - e que, no contexto, significa casamento limitado ao dote. O dote, era um pecúlio que o clan, depois a família, do noivo entregava à noiva para assegurar a sua sobrevivência em caso de viuvez. Dote tem outro sentido e origem na cultura inglesa mas a finalidade era a mesma e era a única propriedade do casal que o marido, embora administrasse, não podia vender; graças a questões judiciais relacionadas com dotes e suas transmissões é que melhor se conhecem as genealogias dos primeiros tempos da colonização inglesa nos Estados Unidos.
Tradicionalmente, o dote era entregue como presente pelo noivo na manhã
seguinte ao casamento e esse presente matinal, dizia-se em latim "morganaticum" e em alemão "morgengabe".
Também o nome "casamento de mão esquerda" directamente traduzido do
alemão tem origem no costume de, nesses casamentos, o noivo dar a mão
esquerda à noiva em vez da direita.

Por manifesta falta de informação, têm-se feito algumas afirmações pouco
exactas em casos recentes, sobretudo ingleses.
Eduardo VIII e Wallis Simpson não foi evidentemente um casamento morganático
pois o conceito nem sequer existe em Inglaterra. Eduardo VIII, quando abdicou,
renunciou a todos os seus títulos por si e por sua descendência ou seja, não
detinha quaisquer direitos dinásticos nem nobiliárquicos para transmitir. Foi
então criado Duque de Windsor, a sua mulher foi Duquesa de Windsor e, se o
casal tivesse tido filhos, o título continuaria na descendência.
Como não foi morganático nem tinha qualquer razão para o ser o casamento de
Carlos e Diana pois o estatuto de Diana nem seria muito diferente do da
Rainha-Mãe.
Também não é morganático o casamento com Camila Parker-Bowles. Para já e em
Inglaterra, - ao contrário da Alemanha - a sua origem social não era impeditiva de um casamento real; as objecções nascem da sua situação matrimonial e da religião professada. E, por muito que isso surpreenda algumas pessoas, Camila é a Princesa de Gales e nada na lei nem no costume inglês permite que não o seja. Da mesma maneira, se Carlos ascender ao trono ela será Rainha Consorte. E não tem, nem ela nem eventuais filhos do matrimónio se porventura existirem quaisquer limitações de herança que não sejam as decorrentes de situações de facto, isto é, os direitos de primogenitura e de propriedade vinculada. Se, por hipótese, William e Harry morressem, um eventual filho de Carlos e Camila seria o herdeiro do trono "de jure" e certamente "de facto".
O que existiu foi um acordo de princípio, que poderíamos chamar de pacto familiar - por óbvios motivos políticos e de respeito pela opinião pública dadas as suas responsabilidades no divórcio de Carlos e Diana - para não utilizar
o título de Princesa de Gales e para isso foi criada Duquesa de Cornwall; nem
para, se Carlos subir ao trono ter o tratamento de Rainha Consorte mas apenas
SAR a Princesa Consorte, à semelhança do que que já tinha ocorrido com o
príncipe Alberto, marido da Rainha Vitória.
Não é ilegítimo nem inédito que uma princesa use título inferior ao que
efectivamente lhe cabe. Actualmente a filha do Conde de Wessex é tratada por
Lady Louise Windsor, quando de direito é H.R.H. Princess Louise of Wessex. Mas
nada impede que Lady Louise, quando maior, assuma o tratamento de princesa como nada impede Camila - excepto obviamente o bom-senso - de assumir o título de Princesa de Gales.

A questão inicial de Luís Froes, não tem uma resposta certinha, tipo pronto-a-vestir. Tal como na genealogia é necessário - à gente comum - "partir pedra" geração a geração, quem quiser estudar os casamentos morganáticos tem que saber o quadro jurídico-constitucional de cada estado e tradição dinástica de cada família soberana. Depois, cada casamento morganático é um contrato em que os termos, isto é, os direitos que se perdem e as compensações que se recebem variam de caso para caso. O mais corrente é, como compensação, a criação de títulos e isso tem sido frequente na história, começando com a Condessa d'Edla cá por casa. Mas há títulos hoje respeitadíssimos e que por vezes tiveram descendentes que entraram em Casas Reais, com origem morganática. Basta lembrar os Duques de Hohenberg, com descendência nas casas reais de Espanha e Suécia, os Battenberg, também com descendência na Casa Real Inglesa e os Duques de Teck. O caso mais flagrante, será o dos Hochberg, em que a esposa morganática de Carlos Frederico, 1º Duque de Bade e Eleitor do Sacro-Império, começou por receber o título de baronesa, depois acrescentada a condessa com direito ao tratamento de Alteza Ilustríssima (ou talvez só Ilustre) e, esgotada a linha varonil de Bade, uma herdeira veio a casar com um tio Hochberg que adquiriu direitos dinásticos depois do Imperador ter autorizado a revogação parcial do pacto matrimonial de seus pais.

A questão morganática "quente" será de momento a desagradável querela na
Casa Real Italiana, em que o Duque de Parma, baseado na falta de autorização
familiar para o casamento com Marina Dória, entende esse casamento como
morganático e reclama os direitos dinásticos.

Melhores cumprimentos,
Fernando Aguiar

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#128118 | Luís_MCS_Froes | 12 Sep 2006 01:35 | In reply to: #127938

Meus Caros Senhores,

Agradeço a todos vós que se disponibilizaram para responder e de alguma maneira contribuirem para o meu esclarecimento acerca deste tema.

Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes

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#128119 | Pedro França | 12 Sep 2006 02:48 | In reply to: #128087

Caro Lourenço:

Bourbons das Duas Sicílias? É? Não houve casamento morganático?
Então como considera a entrada nesta família de uma Chantal Chevron-Villette e de uma Camila Crociani, respectivamente mãe e mulher de Carlos dito Duque de Calábria?
Para este pode não ser casamento morganático mas note que houve e ainda há controvérsia por causa dos casamentos e na pretensão ao título, por parte deste Carlos, filho do duque de Castro, e do seu homónimo, infante de Espanha, filho do conde de Caserta.
Um abraço.
Sempre,
Pedro França

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#128126 | LCM | 12 Sep 2006 08:37 | In reply to: #128119

Caro Pedro,

É fácil: acredito no direito de D. Carlos de Borbon Duas-Sicílias y Borbon Parma http://genealogia.netopia.pt/pessoas/pes_show.php?id=9929, Duque de Calábria, Infante de Espanha por mercê do primo direito do Rei Juan Carlos (como era costume serem os Chefes da CR das Duas Sicílias). Os Castros, por diversos motivos mas também pelos casamentos morganáticos, estão em minha opinião excluidos.
O filho do "meu" Duque de Calábria, o Duque de Noto, casou com uma menina espanhola cuja mãe é Melgarejo, dos Duques de S. Fernando de Quiroga. Ao que se diz o pai obrigou-o a renunciar. Após a morte de D. Carlos sucederá um primo, D. António http://genealogia.netopia.pt/pessoas/pes_show.php?id=9933 casado com uma Wurtemberg, e depois o filho deste casado com uma Schonborn-Wiesentheid.

Um abraço
Lourenço

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#128129 | JBdeS | 12 Sep 2006 10:07 | In reply to: #128126

Caros Lourenço e Pedro,

O avô do Príncipe Carlos de Bourbon renunciou para si e todos os seus descendentes ao trono das Duas Sicílias ao casar com a então Princesa das Astúrias. Mais tarde, quando o Rei Afonso XIII nasceu, póstumo como sabemos, perderam o direito ao uso do título de Príncipes das Astúrias, mas foram Infantes de Espanha.
Quando o Príncipe Carlos de Bourbon, que na época usava Carlos Bourbon de Duas Sicílias, quis casar com a Princesa Ana d'Orleans, uma das condições impostas pelo Conde de Paris foi ele usar apenas Carlos de Bourbon, e foi um casamento muito contrariado pela posição indefinida que o Príncipe tinha.
O Rei de Espanha, quando subiu ao trono fê-lo Infante de Espanha, assim como sua mãe, a Princesa Alice, e Carlos de Bourbon é herdeiro do trono espanhol, vindo a seguir ao Príncipe das Astúrias, Infantas Helena e Cristina e respectivos filhos. Não penso que se possa ser herdeiro de dois tronos ao mesmo tempo, nem voltar atrás na renúncia do avô. E há um facto que não deixa de ser curioso: o Duque de Noto (flho de Carlos de Bourbon) não pode ser pretendente às Duas Sicílias, mas pode suceder no trono de Espanha.
Percebo a referência do Pedro aos casamentos do outro ramo, mas lembro que o Rei de Espanha assumiu publicamente o seu apoio à "segunda Casa das Duas Sícilias" ao pedir à Condessa de Barcelona que o representasse no casamento de uma das filhas do Duque de Calábria.

Um abraço

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#128137 | LCM | 12 Sep 2006 11:05 | In reply to: #128129

Caro Zé,

A sucessão da Casa Real das Duas Sicílias não é pacífica. Para os defensores - historiadores e juristas - do Infante D. Carlos e de seu pai, a renúncia de 1900, o chamado acto de Cannes, não tem validade porque as circunstâncias em que foi produzido deixaram de existir, ou seja, deixaram de ser herdeiros imediatos do trono de Espanha (devo estar a dar vários erros jurídicos grosseiros mas espero que perceba). A isto junta-se o facto de no ramo Castro terem casado morganaticamente nas últimas três gerações.
Como bem sabe a Pragmática de Carlos III (1759) impede a re-união das duas Coroas mas aceita que os príncipes de ambas possam suceder na outra.

Deixo aqui os sites de ambos os ramos, com autorização do moderador, para quem quiser ler os argumentos de ambas as partes:

http://www.borbone-due-sicilie.org/

http://www.realcasadiborbone.it/es/ordcost/

O casamento de D. Carlos com Ana de Orleans foi curioso. O sogro não reconhecia o genro como Chefe da Casa Real das Duas Sicílias porque este, como Borbón, não reconhecia o sogro como Chefe da Casa Real de França mas sim o primo Duque de Cádiz, de Borbón e de Anjou, primogénito dos Capetos, e Rei de França para os legitimistas franceses. Graças a Deus em Portugal não temos problemas destes.

Um abraço
Lourenço

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#128141 | JBdeS | 12 Sep 2006 12:02 | In reply to: #128137

Caro Lourenço,

Obrigado pelos sites que não conhecia. Acho que tem razão, a sucessão não foi nem será pacífica.

Um abraço

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#128238 | Pedro França | 12 Sep 2006 23:23 | In reply to: #128126

Caro Lourenço:

E com isso está esgotada a varonia do conde de Caserta Afonso de Bourbon Duas Sicílias (1841-) com Antonieta de Bourbon Duas Sicílias (1851-).
É preciso colocar esperanças neste ramo.
Um abraço.
Sempre,
Pedro França

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#128243 | LCM | 12 Sep 2006 23:37 | In reply to: #128238

Caro Pedro,

Ainda existe o Príncipe Casimiro casado com uma Saboia-Aosta, que vive no Brasil e tem dois filhos varões solteiros
http://genealogia.netopia.pt/pessoas/pes_show.php?id=9936

Abraço
Lourenço

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RE: Dúvida no conceito de «casamento morganático»

#128255 | Pedro França | 13 Sep 2006 01:20 | In reply to: #128243

Caro Lourenço:

Sim, é certo, mas trata-se da descendência do último filho do dito conde de Caserta que é na ocasião Gabriel de Bourbon Duas Sicílias (1897-1975).
Um abraço.
Sempre,
Pedro França

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