os jacobinos ainda existem .....nesta "Democracia"
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os jacobinos ainda existem .....nesta "Democracia"
De um Centenário a Outro
João Mattos e Silva * (Fev-2008)
"O sangue tem um preço. O sangue inutilmente derramado por D. Carlos e D. Luís Filipe pesa sobre nós como herança macabra…Vingaremos o sangue de El-Rei D. Carlos no dia em que soubermos pelos caminhos perdidos da Tradição, reencontrar a alma do povo e a face da Pátria".
Francisco de Sousa Tavares
Apesar dos entraves, ameaças e arruaças de um grupúsculo carnavalesco do Bloco de Esquerda travestido de neo-Carbonária, a celebração do centenário do assassinato do Rei Dom Carlos e do Príncipe Real Dom Luís Filipe realizou-se com completa tranquilidade e enorme dignidade. Mais do que "vingar", por actos cívicos e por palavras de condenação, o crime do 1 de Fevereiro de 1908, o que se pretendia era enaltecer a memória histórica de um grande Rei, as suas qualidades humanas e de carácter, a sua vasta cultura, o seu patriotismo, a sua entrega total aos deveres dinásticos e constitucionais e fidelidade aos valores políticos que enformavam a Monarquia que encarnava, a sua coragem e determinação de regenerar o regime, contra as forças dos partidos e servidores do poder que o aviltavam, e contra os falsos messias que recorriam às maiores torpezas para impor as suas ideias e a sua ânsia de mando.
A condenação do hediondo crime era, passados cem anos e profundamente alteradas as circunstâncias históricas e políticas e as mentalidades, um pressuposto. Puro engano. Passados cem anos, os herdeiros da república imposta revolucionariamente em 1910, mas nascida de facto nesse dia de 1908, foram incapazes de afirmar que o crime como arma política deveria ser repudiado por qualquer consciência naturalmente bem formada. Assim se viu na rejeição de um voto de pesar proposto por um deputado na Assembleia da República, que teve a oposição do Partido Socialista, com o incrível argumento de que seria uma condenação do regime. O que, por outro lado, vem confirmar que, para os republicanos que se consideram herdeiros do Partido Republicano do começo do século passado, o assassinato do Rei e do Príncipe Real foi, ainda que eventualmente perpetrado por extremistas à sua revelia, o acto fundador da república. A intervenção do Ministro da Defesa, em nome do Governo, impedindo por acto oficial que o Exército participasse na homenagem prestada no exacto local do crime, mas remetendo para as chefias militares o ónus da decisão, lavando as mãos como novo Pilatos, reforçou essa evidência.
Para alguns menos informados e mais inclinados a crer na bondade desta III República, ficou feita a prova. A intransigência e ódio políticos dos republicanos de hoje é a mesma dos que fizeram a I República e o seu espírito democrático – aliás logo demonstrado no impedimento constitucional de sufragar a forma de regime – ficou esclarecedoramente à vista. Se condenar um crime de sangue é um constrangimento político, condenar os crimes políticos da república – e foram muitos – é não só espectável como absolutamente certo e isso mesmo é já claro no relatório da comissão preparatória das comemorações do centenário da república. Desenganem-se pois os mais benevolentes, os mais ingénuos, os mais defensores de atitudes de complacência.
Faltam, assim, dois anos para que o regime cumpra o seu centenário. Dois anos que devem ser de esclarecimento público do que representou para Portugal o regime, de como foi imposto por uma revolução armada, de como se implantou pelos atropelos à liberdade que dizia trazer aos portugueses, restringindo em muitos casos as liberdades que a Monarquia Constitucional comportava matricialmente e praticava, de como fez estagnar e mesmo promover o retrocesso da sociedade nacional, de como quase levou o País à bancarrota, de como impôs ao País a participação na I Grande Guerra e milhares de mortos, com falsos interesses nacionais e de facto de salvaguarda do regime, de como pelos seus desmandos conduziu Portugal a uma II República em ditadura, de quase meio século, com o seu cortejo de arbitrariedades.
Aos que vêm dizendo que a questão do regime não se põe, condenando embora regicidas e criminosos, que abateram também políticos republicanos e um Presidente da República e os desmandos da república, é imprescindível fazer-lhes ver que a questão do regime se põe enquanto houver, mesmo que em momentânea minoria, quem não se reveja no regime. Se os portugueses forem esclarecidos, se a mentira, mesmo oficial e com honras de Estado, não se impuser, a minoria poderá converter-se em maioria e não pela força das armas, mas pela força do voto, fazer a mudança do regime. Porque, como disse um grande monárquico democrata, Francisco Sousa Tavares, citado no início, só "vingaremos o sangue de El-Rei D. Carlos no dia em que soubermos pelos caminhos perdidos da Tradição, reencontrar a alma do povo e a face da Pátria".
* Nota: o texto publicado é da exclusiva responsabilidade do autor.
Texto publicado no Diário Digital a 15-Fev-2008
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