Criado
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Criado
Caros Confrades,
Gostaria de saber o que no início do Sec. XVII (1640), queria dizer num Assento (no caso de casamento), que fulano de tal era criado de fulano de tal. Isto é, gostava de saber que funções é que desempenhava tal pessoa, pois estava convicto que um trabalhador rural, era normalmente tratado por jornaleiro, e quando me apareceu criado, fiquei sem saber o que quereria dizer, pois pensei que geralmente os trabalhadores homens à época, teriam como profissão jornaleiros, abegões ou feitores, etc., e não me parece que fossem criados domésticos, logo esta expressão deverá querer dizer outra coisa.
Faço notar que o "criado em causa", andaria na casa dos 20 anos, e que ele era o nubente.
Cumprimentos,
Jorge Mota
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RE: Criado
Tanto quanto sei, "criado" significa que essa pessoa teria ido para casa de alguém que não os pais (amigos, parentes, casa de um fidalgo) ainda criança e ali cresceu (e, eventualmente, foi educado). No Rio Grande do Sul (Brasil) ainda se usa, embora pouco, a expressão "filho de criação" para significar aquele que, geralmente vindo de pequena localidade rural, é entregue a um casal da cidade, desde pequeno, para poder estudar, retribuindo com pequenos trabalhos "como se filho fosse". Tem alguma similitude com o "au pair" atual, no caso dos estudantes europeus.
Lamento não ter à mão "fontes de autoridade" para melhor o esclarecer. Cumprimentos.
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RE: Criado
Caro Jorge Mota
Julgo que este assunto já foi tratado no link abaixo onde poderá ver mais informações
http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=104441
Cumprimentos,
José de Castro Canelas
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RE: Criado
Caro Jorge Mota:na época referida os criados eram as pessoas de ambos os sexos contratados pelas famílias fidalgas para os servirem nos trabalhos caseiros, nas suas propriedades, para tratarem do seu gado, etc.. Inclusivamente, para brigarem ou com ou pelos seus amos!
Quem nasceu e cresceu nas aldeias recorda-se que na primeira metade do século XX, esta gente já era conhecida por moços de servir; o seu número estava na razão directa da quantidade de campos, bouças, árvores de frutos, sementeiras, rebanhos ou cabeças de gado que os propritários tinham e, por aí adiante. Alguns, semanalmente, estavam encarregados de levarem de carros de bóis certa mercadoria para ser vendida nas feiras ou cabeças de gado, as quais, por vezes, ficavam distanciadas mais de 20 Kms. das suas residências. E, para encurtarem a jornada, tinham que andar por carreiros metidos em bouças cerradas e campos algumas vezes enlameados pela chuva ou por nascentes de água.
Regra geral, eram pessoas um tanto rudes, mas, de confiança e honradas. Refíro-me à honorabilidade do passado. Lutavam, se necessário fosse, contra e não importava quem, que denegrisse o bom nome dos seus patrões.
Recordo-me que alguns dormiam em palheiros metidos na palha.
Lembro-me, também, de alguns lavradores com propriedades de alguma monta, cujos filhos varões usavam este sistema para dormirem. Só as filhas é que tinham camas.
É quanto se me oferece dizer sobre o assunto.
Cumprimentos / CNT
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RE: Criado
Caros Confrades,
Agradeço desde já, a todos aqueles que contribuíram para o esclarecimento desta minha dúvida.
Contudo e como acréscimo volto a salientar que estávamos em 1640 e não no Sec. XIX e XX, pelo que não sei se haveria algumas diferenças, no que diz respeito à região, falamos da Extremadura, mais propriamente à freguesia do Turcifal, termo de Torres Vedras.
Cumprimentos,
Jorge Mota
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RE: Criado
Caro Jorge Mota: se tiver a maçada de ler com atenção a minha mensagem de ontem irá ler: "na época referida...", por si, como é evidente: 1640. Tenho cópias de testamentos, desta época, que atestam o que disse:
"...Deixo à minha criada fulana, 10,000 reis por soldadas que lhe devo...".
Criado (s.m.) foi e é aquele que serve por soldada ou uma pessoa paga para fazer o serviço doméstico, em qualquer parte do país.
O particípio passado de criar, criado, significa outra coisa. E, Egas Moniz criado... outrossim.
É óbvio que as pessoas -só aceditam- naquilo que querem ou lhes convêm.
Cumprimentos / CNT
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RE: Criado
Caro Confrade,
Agradeço-lhe a sua resposta, e peço-lhe desculpa por não ter entendido que situava a sua definição no período que me interessava.
Este meu sentido de rigor, prende-se com o facto de dar igual tratamento, quer às ascendências mais ilustres (inclusive reais), quer às mais humildes, como é o caso do criado em epigrafe, e outras, das quais me orgulho igualmente.
Cumprimentos,
Jorge Mota
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RE: Criado
Caro confrade,
Como achega e para dar uma ideia do quão vasto de significado se pode considerar o termo criado, cito em seguida uma inscrição numa campa da capela-mor da Igreja de Santa Cruz da Ribeira de Santarém, destruída como muitas outras durante uma das fases de "reconstrução" que esta igreja já sofreu, mas felizmente coligida pelo Padre Luiz Montez Matoso:
" Aqui jazem Nuno Infante, cavaleiro feito na tomada de Arzila e seu filho Diogo Nunes Infante, cavaleiro feito na tomada de Tânger, criados que foram dos reis passados "
Esta campa estava ainda ornada por um escudo a envolver uma espada.
Cumprimentos,
Norberto Pedroso
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Fidalgos intitulados criados
Gostava de precisar que no passado não foram apenas os reis que tiveram ao seu serviço fidalgos com o epíteto de criado; alguns bispos também.
Cumprimentos / CNT
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RE: Criado
Caro Jorge Mota:
Só por si, a designação de "criado" ou "criada" pode não caracterizar com grande precisão a posição da pessoa em questão na "escala social"; por exemplo, encontrei nos assentos de Monção, na primeira metade do século XVI, uma madrinha designada por "D. Maria, criada de D. Pedro de Sottomayor". Nessa época em Monção as senhoras com tratamento de "Dona" eram extremamente raras; por junto encontrei com esse tratamento esta criada e a Mulher do próprio D. Pedro de Sotomayor, a mulher de Leonel de Abreu e pouco mais. Por exemplo, a mulher, as filhas e outras descendentes legítimas do fidalgo da casa real Lançarote Falcão não tinham esse tratamento, assim como não o tinha a maior parte das restantes senhoras da nobreza de Monção e esta situação manteve-se em grande parte nos séculos seguintes, por vezes até finais do século XVIII. Assim, teremos de concluir que aquela D. Maria não poderia ser assimilada a uma simples serviçal, mas seria talvez até uma parente empobrecida "criada na casa", mesmo que exercesse algumas funções domésticas. O nível social dos "patrões", as funções exercidas pelo "criado" em questão, etc. terão de ser levados em conta para podermos vislumbrar qual a situação "social" mais precisa da pessoa assim designada, mas teremos de nos conformar por vezes a ficar numa certa ignorância, por falta de dados.
Com os melhroes cumprimentos,
António Bivar
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RE: Criado
Acrescentaria, em contrapartida, que muitas vezes os trabalhadores rurais ao serviço de determinada casa também aparecem designados por "criados". Por aqui se vê o grande espectro de estatutos que essa designação podia abarcar.
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RE: Criado
Caro António Bivar
Como pretendia ter uma cópia desse assento, não se importa de ter a amabilidade de me dizer como se chamava o afilhado da D. Maria e em que ano foi baptizado?
Cumprimentos
Fernanda Ribeiro
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RE: Criado
Cara Fernanda Ribeiro:
Desculpe só hoje lhe responder, mas estive fora estes dias; a "D. Maria" afinal era D. Mayor, como verá. Trata-se do baptismo de Alldonça, filha de Bastyam Royz (Sebastião Rodrigues) e Cª (Catarina) de Paços, baptizada a 19/10(?)/1542, assento a fls. 59/59v do livro Mixto 1 da matriz de Santa Maria dos Anjos de Monção (ADVC, paroquiais). Tomei nota do seguinte: "Cdre. [compadre] Ml. Soares (...) Dona Mayor cryada de Dom Pº de Sotto Mayor e Dona Marya fª de Dona Caterynha". Esta "Dona Caterynha" é muito provavelmente D. Catarina de Eça, filha do Senhor de Regalados, Pedro Gomes de Abreu (segundo os nobiliários), pois aparece referido noutro assento "Vasco Marynho filho de Dona Caterynha", sendo sem dúvida o filho de Pedro Marinho casado com a referida D. Catarina de Eça.
Já agora também encontrei na mesma folha 59v um assento (não tomei nota do nome do baptizando nem dos pais, nem da data, mas trata-se do 3º assento da página) de que foram padrinhos "Antº de Calldas, Vellosa cryada de Lyonel Dabreu e Erena Gomez". Também aqui aparece uma "cryada" madrinha em conjunto com duas personagens (bem identificadas) da nobreza de Monção - António de Caldas e Helena Gomes (Soares?); é menos significativo, mas não deixa de ser interesante. Outro exemplo semelhante é, a 7/3/1540, um baptizado em que são padrinhos "Erena Gomez molher de Rº Rabelo e Ruy Frz. cryado de Isabel Frz. molher que foi de Pº Vaaz o moço e Costança Ruyz molher de Joam Gomez da Porta e Aº Fontº [?]".
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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