Portugal e os portugueses
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Portugal e os portugueses
Dois partidos monárquicos, sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, na hora do desastre, de sacrificar à monarquia ou meia libra ou uma gota de sangue. Um partido republicano composto sobretudo de pequenos burgueses da capital, adstritos ao sedentarismo crónico do metro e da balança, gente de balcão, não de barricada, com um estado-maior pacífico e desconexo de velhos doutrinários, moços positivistas, românticos, jacobinos e declamadores.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal.
Um clero português desmoralizado e materialista, um clero jesuítico, estrangeiro ou estrangeirado, força superior cosmopolita, invencível, adaptando-se com elasticidade inteligente a todos os meios e condições. Um exército que importa em 6000 contos não valendo 60 réis, como elemento de defesa e garantia autonómica.
Um povo humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai, um povo que eu adoro, porque sofre e é bom.
Um regime económico baseado na inscrição e no Brasil, perda de gente e perda de capital, autofagia colectiva, organismo vivendo e morrendo do parasitismo de si próprio.
Humanizar o ensino, nacionalizar a indústria, um clero português e cristão, a justiça fora da política, o exército fora de S. Bento, os burocratas para a burocracia, o professorado para as escolas, o poder legislativo entregue às forças independentes e vivas do País, arrotear o solo, colonizar a Africa — tudo era possível, tudo era simples desde que nos dessem uma fé, uma crença, vida luminosa, uma alma!»
15:54 - 24-02-2010
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