Dúvidas sobre um testamento do início do século XIX
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Dúvidas sobre um testamento do início do século XIX
Caros confrades,
Recentemente encontrei este testamento de um hexavô meu pg1: https://goo.gl/obXzvh pg2:https://goo.gl/8hZZMu
Eis a minha transcrição:
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Traslado do Testamento com que faleceu Mathias José do lugar do Preto desta freguesia de Alvelos.
Em nome de Deus Ámen. Digo eu Mathias José desta freguesia de Alvelos, Termo de Barcelos, Arcebispado de Braga, que estando na cama de doença, que Deus foi servido dar-me, mas em meu juízo perfeito e querendo dispor dos meus bens, não só dos da minha alma, mas também dos temporais, faço o meu testamento do modo seguinte:
Primeiramente encomendo minha alma a Deus e ao Seu unigénito Filho, que a remiu com o Seu preciosíssimo Sangue e a Virgem Santíssima Sua Mãe, aos Santos Apóstolos e ao Anjo da minha guarda para que sejam meus Advogados, a fim de que Deus salve a minha alma.
Declaro que sou católico e que na fé da Igreja Romana vivo, e que nela quero morrer.
Declaro que sou casado com minha mulher Maria da Silva, e que tenho dela oito filhos, cinco machos e três fêmeas, que instituo por meus herdeiros.
Declaro que tenho bens de raiz e que ??? ??? ??? de minha mulher, menos algumas ???, que fiz, e ??? que aumentei o casal, e mais algumas benfeitorias e compras.
Declaro e quero que minha mulher fique sendo administradora de meus filhos permanecendo ela no citado de viúva; pois sempre lhe achei juízo e capacidade para administrar.
Declaro que sendo livres os meus bens, que devem ser partíveis por meus filhos.
Que sendo Deus servido levar e separar minha alma deste corpo mortal, que o envolvam no hábito de S. Francisco e que me façam um católico e decente enterro; que me façam os meus bens de alma conforme o uso e costume que há nesta freguesia às pessoas da minha qualidade.
Que me mandarão dizer por minha alma, segundo a minha tenção as missas seguintes. A saber: seis no altar do Santíssimo Sacramento; seis no altar de Nossa Senhora das Dores; dez no altar de Nossa Senhora do Rosário desta Igreja; seis na capela de Nossa Senhora do Socorro e mais vinte missas, todas conforme a minha tenção.
Declaro que é minha vontade que se dê e ponha na mão do Padre Coadjutor desta igreja, o Padre Manoel José Fernandes, quatorze mil e quatrocentos reis para ele dispor deles segundo eu lhe tenha determinado, e deles ninguém lhe poderá pedir contas.
É minha vontade que se me tomem duas Bulas de composição para o fim que tenho em meu pensamento; e que entregarão mais ao dito Reverendo Padre Manoel José Fernandes seis mil e quatrocentos reis para o fim que com ele comuniquei, e deles não dará contas.
E para cumprir e satisfazer o que deixo disposto neste meu Testamento peço muito por mercê a meu irmão Manoel Antonio, queira meu testamenteiro, de cujo zelo e amizade confio muito; e desta forma concluo meu Testamento e peço aos senhores da Justiça(?) mo aprovem e façam executar.
E por estar gravemente enfermo e impossibilitado para escrever rogo ao Reverendo senhor Padre Manoel José Fernandes que por mim o assine.
Alvelos, 17 de Março de 1803.
Foram testemunhas ao fazer deste: José Gomes, do lugar do Preto; Domingos Luis, do mesmo lugar; Manoel Francisco, da Devesa; José de Faria, do mesmo lugar; José Francisco, do lugar do Preto; Antonio Luis da Costa, da freguesia de Pereira e o Reverendo João de Mello e Sá, Abade desta Igreja.
Assinaram: a rogo dele, o Padre Manoel José Fernandes. Testemunhas: José Gomes; Domingos Luis, uma cruz; Manoel Francisco, uma cruz; José de Faria, uma cruz; José Francisco, uma cruz; Antonio Luis da Costa; João de Mello e Sá.
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Antes de mais, gostaria que me ajudassem a decifrar a parte assinalada a vermelho na pg1, pois há algumas palavras que não consigo perceber.
Depois gostaria que me dessem a vossa opinião sobre este testamento. Como é a primeira vez que encontro um, não sei muito bem quão "normal" é.
Pelo que eu percebo, ele dá 14.000 reis para pagar 48 missas, mais 6.400 para qualquer coisa que não quer revelar, e ainda compra 2 bulas. Ora, isto parece-me demasiada fruta. Seria este indivíduo tão pecador assim (lol) ou isto é tudo um pouco bizarro?
Outra coisa: a frase "Declaro que sou católico e que na fé da Igreja Romana vivo, e que nela quero morrer" denota uma conversão recente ou é perfeitamente normal?
Com os melhores cumprimentos e agradecendo desde já a vossa atenção,
XavierLima
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testamento início do século XIX
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... Relativamente às missas; + qualquer coisa; =$20, 400, seria o salário diário
de um trabalhdor rural [horário: sol a sol - 20$00.], anos 1960.
Saintclair
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Caro Xavier Lima
O que consigo ler na parte indicada 'e : ".... bens de raiz e que provieram por parte de minha mulher menos algumas (alguns?) ???? que fiz e com que aumentei o casal.... ". Tambem nao consigo perceber aquela palavra.
Com respeito ao testamento em si, parece-me "normal" para a epoca. Ja' vi alguns a deixar ainda mais missas, doacoes a confrarias, etc. etc. . Como ele mesmo diz, quer fazer o que era esperado de uma pessoa da sua condicao social e posses e portanto ve-se que nao era nada de especial. A unica coisa talvez nao comum 'e os pedidos ocultos que deixa ao cuidado dos padres. Especulando, tanto podia ser que ele nao queria criar invejas por deixar a uns e nao a outros e pede aos padres para doar, como podia ser realmente algum segredo (como um filho secreto!) a quem ele quisesse ajudar.
Cumprimentos.
Rosario
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Caro(a) saintclair, não percebi grande coisa da sua resposta. De qualquer forma penso que está a referir-se a 1960. O testamento data de 1803.
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Ao que já foi dito e no respeitante a:
"Outra coisa: a frase "Declaro que sou católico e que na fé da Igreja Romana vivo, e que nela quero morrer" denota uma conversão recente ou é perfeitamente normal?"
apenas quero acrescentar que, pelo que conheço da matéria, me parece perfeitamente normal, não apontando para qualquer mudança de atitude recente.
Cumprimentos
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Cara Rosario, parece-me que é isso. Muito obrigado. Só fica a faltar a tal palavra.
Também pensei que poderia ser o caso de ter algum filho fora do casamento e querer deixar-lhe alguma coisa por meio do padre. É uma possibilidade que nunca poderá ser verificada.
Quanto às bulas, sabe dizer-me como funcionavam?
Com os melhores cumprimentos e agradecendo a sua ajuda,
XavierLima
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Obrigado CSSLP
Pensei que podia tratar-se de um caso de cristãos-novos mas realmente nesta altura já nem os havia pois o Marquês de Pombal acabou com essa distinção.
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Quanto à palavra que falta decifrar, acho que se trata de "tomadias"
http://www.priberam.pt/dlpo/tomadias
Presumo que neste caso queira dizer "compras", pois com que autoridade poderia ele apreender o que quer que fosse a outros?
Ou seja, comprou algumas terras para aumentar o casal.
Casal: propriedade rústica menos importante que a quinta.
Que dizem?
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Caro Xavier Lima
'E possivel que sim. Talvez igual a aquisicoes. 200 anos depois o significado pode ter mudado um pouco. Note que ainda hoje se diz "tomar de trespasse" e afinal nao se "toma" nada mas sim compra-se/adquire-se.
Quanto 'as bulas, so conheci as que permitiam comer carne na quaresma mas bulas sao documentos em que a troco de dinheiro/esmola se recebia indulgencias ("favores") do Papa/igreja. Por exemplo em 1500 e tal um Papa dava indulgencias de perdoar os pecados a quem desse dinheiro para a construccao da basilica de S. Pedro. Ora nao sei se no tempo do seu antepassado havia alguma coisa parecida.
Cumprimentos.
Rosario
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"Estamos perante agrotopónimos referentes a arroteias que recuam, pelo menos, à Idade Média. Com efeito, no foral manuelino de Ílhavo (1514) o termo "tomadas" refere-se aos arroteamentos feitos em terrenos maninhos, exprimindo o sentido de acto ou efeito de tomar ou de se apoderar de alguma coisa:
E os maninhos em Jlheuo [Ílhavo] toma os quem quer com o foro da terra [...] porem [...] se nam tomaram os dictos maninhos sem primeiro serem Justificados nas camaras dos comçelhos se sam nas saida e logramentos doutros cassaes […]: E Aalem do foro da terra que dos dictos maninhos se paguara paguar se am somente das cassas que nouamente se fizerem nas dictas tomadas a que chamam cabanarias [...]» (Madaíl, 1959: 266).
O mesmo sentido, de acto ou efeito de tomar, é dado à voz "tomadias", título de uma das verbas do foral manuelino de Eixo e Requeixo (1516), mas aqui referido às exacções senhoriais na apropriação ilegítima de corveias ou produtos da terra."
Rfmc
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Bula de composição: aquela pela qual, dada certa esmola, fica quem a dá absolvido de pagar alguma soma maior, em que a consciência lhe ficou gravada por ocasião de contratos com pessoas desconhecidas, a quem, por consequência, não pode restituir por inteiro.
http://www.dicionarioglobal.com/portugues/48478-composicao
Mais sobre os vários tipos de bulas aqui: http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/viewFile/61350/64285
Outra coisa que não percebo acerca deste ascendente é o porquê de se chamar simplesmente Mathias José em todos os registos (casamento, óbito, testamento, baptismos e casamentos dos filhos) sendo que o seu pai tinha o apelido Domingues.
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Caro(a) rfmc,
A última definição que apresenta, parece-me dizer mais respeito ao sistema feudal, que há muito tinha terminado.
Acho que nesta altura do início do século XIX estas tomadias seriam arroteamentos feitos em terrenos baldios, com registo prévio junto das autoridades competentes. Como diz na primeira parte da sua resposta.
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Caro Xavier Lima
Isso do apelido era normalissimo. Creio que ate' ao principio do sec. XX nao havia regras obrigatorias para apelidos e cada um usava praticamente o que queria. Havia quem desse 'as filhas o apelido da mae e aos filhos o do pai, outros iam buscar algum aos avos (maternos ou paternos) se eram mais "sonantes", outros, por exemplo, se o pai era de fora e ia viver na terra da mae e portanto nao conhecido da populacao, os filhos usavam so o apelido da mae que era o ja conhecido. Havia ate quem adoptasse os apelidos do padrinho! Tenho todos estes exemplos nos meus ascendentes ou de familiares.
Ate nos nomes proprios nao eram muito rigorosos. Eram baptisados sempre so com um nome mas mais tarde podiam adicionar outro. Principalmente as que se chamavam Maria. E agora no's e' que sofremos muitas dores de cabeca para deslindar tudo isto.....
Cumprimentos.
Rosario
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Cara Rosario,
Também já encontrei quase todos desses exemplos mas este é o primeiro em que o filho não adopta nenhum dos apelidos dos pais nem de qualquer outro familiar, chamando-se simplesmente Mathias José.
Enfim, nada de muito importante.
Cumprimentos,
XavierLima
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Caro rxavierflima
É com grande surpresa que encontro isto! Esse senhor, Mathias José, é meu avô em 8ºgrau !
Será que podia dar o seu e-mail para trocarmos algumas informações?
Helder
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Caro rxavierflima
É com grande surpresa que encontro isto! Esse senhor, Mathias José, é meu avô em 8ºgrau !
Será que podia dar o seu e-mail para trocarmos algumas informações?
Helder
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