O uso da preposição - de

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O uso da preposição - de

#35619 | rgc | 16 Feb 2003 00:11

Caros confrades

Os nomes dos meus antepassados alentejanos, da freguesia de onde sou natural, que usaram o apelido - GÓIS -( aparece também escrito: Goyos-Goyas-Goes-Gois),apresentam uma particularidade que sempre me chamou a atenção: usam tal apelido precedido da preposição - de - e assim estão registados nos competentes livros paroquiais, desde os mais antigos ali existentes, da resp.ª freguesia - Santana da Serra, termo de Ourique (desde 1653 - no Arq. Dist. de Beja ).

Assim: todos, ou quase todos, que usaram o apelido - Góis( nas suas diferentes grafias )têm o - de - antes do apelido e apenas em mais uma ou duas pessoas de outros apelidos, verifiquei tal particularidade.

Engano do pároco, não foi, porque continuam a registá-los assim, geração após geração e outros párocos a fazê-lo.

Gostaria que os confrades me dessem alguma informação, ou opinião, sobre o que lhes parece acerca deste assunto, porque em mais nenhuma família, isto é: em nenhuma outra pessoa registada nos referidos livros encontrei a preposição - de - a não ser nos -Góis (Goyos, Goes ou Gois),poderá haver noutros apelidos, mas só encontrei com o - de - em Dona Bárbara Guerreiro de Gusmão e numa outra pessoa desta família, da referida freguesia.

O uso do - de - foi e será ainda (?) geralmente aceite como forma aristocrática dos apelidos familiares e, para quem o regista com conhecimento de causa, revestir-se-à normalmente com o cunho,quase sempre,"nobiliárquico", não só em Portugal, mas noutros paises da Comunidade Europeia.
Desculpem se não expus bem o assunto, que não domino convenientemente. Por isso gostava de ver tratado este assunto pelos confrades.

Também como curiosidade, informo que encontrei, na Chancelaria da Ordem de Santiago,na TT -Liv.º 10 fls.159 e 370 v.º referência à existência da igreja de Santana da Serra, em 1616, muito antes do ano de 1652, data do liv.º mais antigo existente, no Arq.Dist. de Beja. Referência encontrada num termo exarado em virtude do capelão curado, da referida igreja e freg.freire professo da Ordem de Santiago, Diogo Afilhado, pedir a troca pela de Almodôvar por estar "velho e enfermo .......não podendo administrar os sacramentos.......")

Um bom fim de semana para todos, e o meu obrigado,

Rafael Carvalho

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RE: O uso da preposição - de

#36739 | magalp | 28 Feb 2003 20:43 | In reply to: #35619

Meu caro Rafael Carvalho

Dei já muita volta à imaginação para tentar uma explicação para o facto de não haver resposta a esta sua questão da preposição "de" antes de um determinado apelido.
Calculei q. os estimados geneo-confrades Eduardo Albuquerque, ATF/Portuguez, Aburma, e/ou outros (poucos mais) estivessem num outro tópico a desenvolver uma das suas habituais polémicas, com fina ironia, manifesto conhecimento de causa e alto poder de comunicação. Mas não, nesse domingo deram folga às respectivas penas, não nos presenteando com as suas magistrais prosas!
Talvez porque tivesse estado muito frio e tivessem trocado o Fórum/GP por uma boa leitura, enquanto esquiçavam o brasido do fogão de sala...
Nem os habituais jovens e menos jovens Sábios e Experts q. não deixam os seus créditos por mãos alheias, sempre prontos a demonstrar a sua erudição, comentaram o seu raciocínio, aprovando ou condenando o mesmo.
Pois não tendo sido pelo futebol, pelo fado e sequer por Fátima, foi decididamente pelo frio!

Pois, meu caro Rafael Carvalho, não concordo consigo na questão supra. No meu entender o "de" não tem essa caractrística nobilitante qque lhe quer dar. Não tem, nem nunca terá tido.
Penso q. o seu uso terá sido implementado (estou a dizer muito em moda, não acha? Qualquer dia tb. digo "óbviamente" "na medida em que..." funeral, falecido, aguardar, esposo, etc...) ao tempo dos Senhores Reis da dinastia de Aviz, para melhor identificação do indivíduo em questão, terra de naturalidade ou mesmo família à qual pertence ou pertenceria.
Um significado bem diferente do De e Du francês, do Von, germânico e do Van, do Paises Baixos, onde realmente se verifica essa dita notabilização da preposição.
Assim entendo. Não me lembra ter lido nada sobre o assunto.

Um grande abraço
Manuel Maria Magalhães

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RE: O uso da preposição - de

#36741 | LCM | 28 Feb 2003 21:38 | In reply to: #36739

Caro Manuel Maria,

Concordo plenamente consigo. Quanto ao "De/Du" franc~es ou ao "von" germânico não tenho duvidas, agora o "van" dos Paises Baixos não sei se é mesmo uma preposição nobre. Tenho ideia de ter lido qualquer coisa a este respeito.

Abraço
Lourenço

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RE: O uso da preposição - de

#36742 | magalp | 28 Feb 2003 21:42 | In reply to: #36741

Lourenço

E onde estava você no 25 de abril... perdão, 16 de Fevereiro?

outro abraço
Manuel M/

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RE: O uso da preposição - de

#36747 | aburma | 28 Feb 2003 23:07 | In reply to: #36741

Caro Lourenço,

Trazido para esta conversa por nosso mui estimado confrade e meu distinto Primo, o Sr. Magalp, e arrumadas as brazas da lareira neste Inverno que parece não ter fim, estou em concordar com as dúvidas que levanta em relação ao "van" dos Países Baixos: não há praticamente ciclista holandês ou belga que não seja "van qualquer-coisa", e se bem que os meus estimados amigos da velha Albion gostem de descrever a monarquia do país das tulipas como uma "monarquia que anda de bicicleta", não sei se tal conceito se estenderá também à aristocracia.

Duas referências em relação ao costume francês e alemão (aqui uso alemão em sentido lato, como poderá constatar adiante):

1) Tanto é esse o caso em França que já vi algures referido que o impante General De Gaulle (aquele que "libertou" a França ao microfone da BBC) não era "De" nenhum, e terá acrescentado a preposição por mera "vaine gloire", dentro aliás do estilo geral desse personagem, hoje com fiel imitador no Eliseu;

2) Conheço um caso de antepassados de parentes meus do lado germânico, originários da Boémia, que ao serem nobilitados no séc. XIX pelo Império Austro-Hungaro juntaram o "von" ao seu nome de família. Não sei se era prática comum em casos semelhantes, mas a verdade é que o fizeram; também o "diplomata" do carniceiro da cervejaria, Joachim von Ribbentrop, não tinha aparentemente o sangue que gostava de alardear, e também o seu "von" parece ter sido postiço (estes nazis eram, aliás, muito narcisistas).

Quanto ao facto mencionado pelo ilustre Sr Magalp de a dita preposição em português denotar a origem do seu proprietário, penso que tal também se aplica em muitos casos à origem dos "von" e dos "De".

Finalmente, devo referir que em muitos títulos nobiliárquicos ingleses surge o "of", como por exemplo no caso de Lord Jenkins of Hillhead (o antigo político Roy Jenkins, sendo Hillhead o círculo eleitoral de Glasgow que representou durante alguns anos).

Os meus melhores cumprimentos

De Bettencourt

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RE: O uso da preposição - de

#36755 | rgc | 01 Mär 2003 00:33 | In reply to: #36739

Caro Manuel Maria Magalhães

Agradeço-lhe muito a informação sobre este assunto e que teve também o grande merecimento de trazer à colação outros confrades ilustres a quem apresento os meus cumprimentos.
Aprecio muito a sua forma de expor os assuntos, e quase sempre estou de acordo consigo, por isso sou sempre um seu leitor assíduo.

Um abraço e bom fim de semana e se me permite,também, para a bébé a Senhora D.Inês, sua neta.

Rafael Carvalho

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RE: O uso da preposição - de

#36795 | rgc | 01 Mär 2003 15:13 | In reply to: #36755

Ilustres confrades

Certamente, será do vosso conhecimento, mas a informação aqui fica para quem desconheça um pequeno(no tamanho) livrinho da colecção "Que Sais je ? - LA NOBLESSE ,por Philippe du Puy de Clinchamps-que acho deveras interessante e a propósito da família - Giscard d'Estaing e de outras, também notáveis, escreveu sobre este assunto, no que respeita a algumas famílias francesas, que "adoptaram" o " du ".
Com os meus melhores cumprimentos
Rafael Carvalho

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RE: O uso da preposição - de

#36862 | magalp | 01 Mär 2003 19:16 | In reply to: #36795

Meu caro Rafael

As saudades q. me faz esta sua recomendação da colecção "Que sais je?"!
A minha Mãe (sua colega mais velha, reformada há mais de 25 anos), tinha dezenas de livrinhos dessa colecção que muito recomendava aos seus alunos, bem como outros da "de Poche", pela sua alta qualidade e reduzido preço.
Logo q. me for possível vou ver se terá esse que refere.
Muito obrigado pela sua simpatia, esmerada e nobre educação q. sempre manifesta comigo e com todos os confrades, bem ao contrário duns quantos "pavões" que por aí irrompem, os quais até por uma questão basilar deveriam conhecer minimamente o Pe. António Vieira - a sua carta ao Conde Castanheira... plumitivos emproados sem a menor justificação para tanta "panache" (não posso usar o termo do Porto, porque o Marcos não permite), muito esquecidos da educação que terão tido (talvez... sei lá!).
Pois os nove quilos de gente na minha neta Inês, estão óptimos, na melhor saúde, gaD! Está hoje por cá muito risonha e com muito apetite!
É dona de dois dentes apenas e do cordãozito q. o tio e padrinho lhe deu com muito custo...
No resto, só pela sua delicadeza e sua prática dos antigos usos e costumes. É filha, neta e bisneta de "segundos"...
Demais não será contar que o trisavô da Inês, João Magalhães (tb. Carvalho...) quando afectuosamente tratado pelo Senhor Dom Carlos, por "D. Juan" repetia sempre o q. aprendera com os seus avós - "os Magalhães de Canavezes não são filhos de padre para serem Dons!"

Grande abraço
Manuel M/

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RE: O uso da preposição - de

#36876 | magalp | 01 Mär 2003 20:13 | In reply to: #36741

Caro Lourenço

A propósito dos De e Du...
Aqui no Porto há uma velha e muito respeitável família Henriques que entre outras particularidades tem uma muito curiosa - a dedicação ao Ensino desde há já 7 gerações!
Professores nas Medicinas, Engenharias, Belas-Artes e Arquitectura e até de Clássicas e Humanísticas!
Gente realmente de alta craveira intelectual, que eu ousaria comparar aos Álvares Ribeiro, outra velha família portuense de práticas semelhantes.
Pois nestes Henriques, ao tempo da 1ª G. Guerra, entrão um cidadão alemão de apelido Osswald, o qual descendia dum Cavaleiro francês Du Plessys, Plesseys (não sei qual a grafia correcta), originário creio eu, da Alsácia ou de Lorena.
Na pouca literatura q. tenho à mão sobre a Nobreza europeia, não encontrei nada. Mas não duvido q. existam, pois não é gente de invenções ou fanfarronices nesta matéria.
Poderá o meu querido amigo elucidar-me sobre a ascendencia desta família?

Grande abraço
Manuel M/

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RE: O uso da preposição - de

#36881 | zmcm | 01 Mär 2003 22:03 | In reply to: #35619

Caro Rafael:
Concordo com o que aqui foi já dito sobre a questão que colocou i.é, não creio que o uso das preposições "de", "da", "e" tenha a ver com o carácter nobiliárquico ou não da família. Verificou-se uma proliferação das preposições já no séc. XIX numa tentativa de imitar os germânicos, mas como o Rafael sabe tão bem quanto eu, as famílias mais nobres do sul do país ( Algarve mais concretamente) nunca usaram tal, no Baixo Alentejo apenas conheço os nossos Guerreiro de Gusmão com o uso da preposição.

um abraço
Miguel

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RE: O uso da preposição - de

#36882 | zmcm | 01 Mär 2003 22:05 | In reply to: #35619

Caro Rafael:
Concordo com o que aqui foi já dito sobre a questão que colocou i.é, não creio que o uso das preposições "de", "da", "e" tenha a ver com o carácter nobiliárquico ou não da família. Verificou-se uma proliferação das preposições já no séc. XIX numa tentativa de imitar os germânicos, mas como o Rafael sabe tão bem quanto eu, as famílias mais nobres do sul do país ( Algarve mais concretamente) nunca usaram tal, no Baixo Alentejo apenas conheço os nossos Guerreiro de Gusmão com o uso da preposição.

um abraço
Miguel

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RE: O uso da preposição - de

#36887 | rgc | 01 Mär 2003 22:54 | In reply to: #36882

Miguel

Inteiramente de acordo consigo e demais confrades, mas foi para ficar a saber que opinião tinham os nossos ilustres confrades sobre este assunto.

Recordo-me de ter alunos/as com nomes onde aparece a partícula - de - e com vários apelidos e distintos. No nosso País isso aconteceu devido aos apadrinhamentos, cristãos-novos e outros, por livre arbítrio, tomaram nomes históricos sem lhes pertenceram por consanguinidade. E assim muitas famílias de grau de instrução rudimentar, ou pouco mais que analfabetas, puseram bonitos nomes aos filhos, usando a prep.- de - ou com vários apelidos da família deles, de facto; e agora, de direito e com bom gosto.

No meu caso pessoal: não uso o - de - que meu Pai que Deus haja tinha gosto em usar. A minha mulher registou o nome de casada usando: RAFAEL de CARVALHO,e tinha muito orgulho nisso.
Os meus filhos registei-os simplesmente com os apelidos: Teixeira Colaço (da mãe) e Rafael Carvalho, sem o -de. Portanto, as mensagens deste Tópico,estão de acordo com a opinião que tinha.
Mas foi muito úti e agradável,para mim, ler as informações colocadas que me elucidaram melhor sobre o assunto.
Por isso, Miguel, também lhe agradeço muito a sua opinião.
Um grande abraço do primo e amigo
Rafael

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RE: O uso da preposição - de

#36905 | ftalmeida | 02 Mär 2003 10:59 | In reply to: #36739

Caro Senhor,

Concordo inteiramente.
Como excepção, que confirma a regra, cito o caso da família Moser, que chegou a Portugal como von Moser e rapidamente passaram a usar de Moser que, "obviamente" entendiam como nobilitante.
Mais curioso é o caso de Jozép Karol Konrad Chelmicki, da nobreza imemorial polaca, que usou em Portugal José Carlos Conrado de Chelmicki; este acrescentou o de, que não tinha na Polónia, como partícula nobilitante e, tanto assim que, num assento de baptismo da congregação evangélica alemã em Lisboa, uma sua filha é identificada como D. Emilie Laura von Chelmicki. Aliás alguns destes Chelmicki que passaram ao Brasil, aparecem aí referidos em documentos oficiais como von Chelimicki o que é duplamente curioso já que a família Chelmicki é conhecida na Polónia por vários dos seus membros se terem notabilizado nos combates contra a ordem alemã dos cruzados.
Desculpe o devaneio.
F.Tavares de Almeida

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RE: O uso da preposição - de

#36924 | rgc | 02 Mär 2003 15:04 | In reply to: #36905

Caro F. Tavares de Almeida

Gostei muito de ler a sua mensagem-informativa.Suponho que a Ordem Militar referida seja a Ordem Teutónica e há dias revi o filme Alexandre Nevski(não me recordo bem do nome, desculpe se vai baralhado),não pelo que o filme quer propagandear, mas tão-somnte, para visualizar de novo a armaria usada pela referida Ordem. Aprecio muito, além da Heráldica, a arte militar(Torneios, Castelos,etc.) e tudo o que se refere a Armaria( ao arnês):elmos, escudos. e armas da época medieval,etc.
Com os meus melhores cumprimentos
Rafael Carvalho

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