Porque foi esta senhora Princesa ?
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RE: Porque foi esta senhora Princesa ?
Por 3 razões
1. Era neta do Rei de Portugal
2. Era filha duma princesa
3. Casou com um principe reinante
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RE: Porque foi esta senhora Princesa ?
Caro confrade,
A sua primeira razão é muito discutível. É certo que os soberanos que não dependiam de Espanha, reconheceram D. António com Rei mas não creio que D. António tenha casado com Ana Barbosa e, sem dispensa Papal, um filho natural não poderia ser Príncipe; mas, mesmo aceitando que foi genericamente reconhecido o tratamento de príncipe aos seus filhos, pela ordenação portuguesa, D. Manuel, seria Infante de Portugal, e uma sua filha já não seria princesa, pelo menos de Portugal. Nem nenhum soberano estrangeiro lhe poderia conferir o título de Princesa de Portugal e em Portugal reinavam os Filipes.
Também não creio que a sua segunda razão tenha cabimento.
O título de Príncipe de Orange, se não estou em erro, era inerente ao exercício da soberania, portanto não era transmissível a filhos não soberanos.
Guilherme "o Silencioso", Príncipe de Orange e Conde de Nassau teve 15 filhos legítimos de 4 casamentos e um bastardo. Dos legítimos, três foram Príncipes de Orange: Willem e Maurits, falecidos sem descendência e Frederik Hendrik, todos sucessivamente soberanos e todos sucessivamente Príncipes de Orange e Condes de Nassau. Mas já o irmão mais velho, que quando nasceu se presumia ser o herdeiro mas faleceu com dois anos, foi apenas o Conde Maurits August Philipp de Nassau. Todas as onze irmãs foram Condessas ABC de Nassau, excepto Maria, a segunda, que herdou o título de condessa de Buren de sua mãe, Anna de Egmond, pelo que teve a dupla designação.
Assim Emilia de Nassau, apenas terá sido princesa, melhor apenas terá tido o tratamento de princesa por ser casada com D. Manuel.
A terceira razão é indiscutível mas penso que é a única.
É de salientar que, apesar do direito ao tratamento de princesa, nem Emilia de Nassau foi Princesa de Orange, nem D. Maurícia Leonor, Princesa de Portugal.
Aliás, se for à página de D. Manuel, verificará que dos seus oito filhos apenas D. Maurícia Leonor, a 4ª e com dois irmãos mais velhos, tem o título de Princesa de Portugal, o que nunca poderia ser.
Na ordenação alemã e flamenga, todos os filhos de um titular tinham o tratamento pelo título mas, enquanto o titular era ABC, Conde de XYZ, os outros eram Condes ABC de XYZ. À semelhança, seria correcto Princesa D. Maurícia Leonor de Portugal, mas não ao contrário, como está na BD. E a mãe nem isso porque seria sempre Nassau e não Orange.
Melhores cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Porque foi esta senhora Princesa ?
Caro Fernando
Da discussão nasce a luz.
Quando respondi à sua questão, precipitei-me e deveria tê-lo feito no modo interrogativo pois as 3 respostas que dei eram também para mim meras hipóteses para reflexão. As minhas desculpas pela forma que não foi clara nesse sentido.
Concordo com tudo o que afirma na sua resposta. E acrescento uma nova questão "Houve Principes/Princesas de Portugal?". Em geral todos os filhos dos nossos Reis foram titulados (correctamente na minha visão) como Infantes e raramente (e só depois de 1734) por Principes ou Princesas (e neste caso da Beira e não de Portugal). Que me diz?
Cumprimentos
Rui Correia
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RE: Porque foi esta senhora Princesa ?
Se não tinha de facto o título, tinha pelo menos o estatuto enraízado e era tratada como tal, em virtude da sua ascendência. Caso contrário, jamais teria casado com um príncipe reinante da casa de Nassau.
Cumprimentos,
martincost
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RE: Porque foi esta senhora Princesa ?
Caro Rui Correia,
Nunca me debrucei em profundidade sobre esse assunto mas concordo consigo que nunca terão havido de direito e em Portugal, Príncipes de Portugal.
Os filhos legítimos dos Reis eram Infantes, podendo igualmente receber o título de Duque. Só quando referiu, o herdeiro começou a receber o título de Príncipe da Beira e suponho que (também?) por motivos práticos e protocolares nas relações externas.
Mais tarde, possivelmente por influência alemã (Saxe-Coburgo-Gotha e Hohenzollern-Sigmaringen) também se utilizou Príncipe Real.
Mas outra questão poderá ter sido - e no caso da descendência de D. António, Prior do Crato, foi - no estrangeiro.
Como sabe, os designativos, principalmente toponímicos e patronímicos, precederam os apelidos e em alguns casos, pessoas de sangue real, mesmo em épocas em que os apelidos já eram de uso comum, nunca os utilizaram também porque, tendo normalmente cargos ou funções relevantes, por estas eram suficientemente identificados. Mais uma vez o Prior do Crato é exemplo, como também o Cardeal D. Henrique.
Mas, no estrangeiro, isto já não seria assim, e nada mais natural que por mera facilidade identificativa, retomassem o designativo toponímico e fossem referidos e tratados por "de Portugal".
Aliás o mesmo acontecia a não "príncipes" como por exemplo a irmã do 1º Duque de Bragança, casada em Inglaterra com o Conde de Arundel, que era Beatriz de Portugal; e na mesma época, uma possível descendente de um Sousa (Chichorro) e por isso com armas reais no 1º quartel, casada com Sir Thomas Fettiplace, era iguamente Beatriz de Portugal (esta a célebre Bea Fettiplace, confundida por inquiridores com a anterior e assim originária de uma confusão que ainda hoje perdura nalgumas linhagens inglesas).
Como já lhe disse, não estudei estas questões mas, se porventura algum soberano estrangeiro, ou algum registo de direitos tipo Livro de Moradias, atribuíu o título de príncipe ou apenas se fez acompanhar o tratamento protocolar de príncipe com alguma regalia fiscal, jurisdição especial, tença ou honra, acho que ficariam preenchidos os requisitos para se dizer que existiram príncipes de Portugal.
Na certeza porém de que, extinta a descendência varonil legítima de D. António, apenas poderiam existir Príncipes Fulanos de Portugal e nunca Fulanos, Príncipes de Portugal.
Isto, que não sucederia em Inglaterra nem em França, poderia ocorrer nos Países-Baixos e em grande parte da actual Alemanha, onde todos os filhos de titulares nas casas mediatizadas - e creio que noutras, embora não em todas - tinham o tratamento pelo título, transmissível igualmente aos filhos.
Com os melhores cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Porque foi esta senhora Princesa ?
Caro Confrade,
Ter o título, é uma coisa; ter o direito ao tratamento, outra. Ter o "estatuto" pode ser qualquer delas.
Compare com o título de Dom, um caso singelo na nobiliarquia portuguesa. Quem fosse Dom de direito ou seja quem tivesse o título, transmitia-o a todos os filhos legítimos varões, e só a estes que, por sua vez assim também o transmitiam. As filhas tinham apenas direito ao tratamento que por sua vez, transmitiam a filhas, noras e netas, mas não aos filhos.
Mas o tratamento de Dom, era direito inerente à Grandeza pelo que todos os titulares com Grandeza - e também Cardeais, Bispos e alguns Priores e Abades - tinham o tratamento (e não o título) de Dom que transmitiam aos filhos mas já não aos netos. Esta situação tem maior visibilidade nos bastardos reais que eram todos Dom (tratamento e não título e com excepção numa época de grande restrição, salvo erro D. Afonso III) mas já não o transmitiam aos filhos, ainda que tivessem casado com uma senhora nobre, eventualmente Dona.
Da senhora discutida no tópico, pode garantir-se que não tinha o título, não sei ao certo - por desconhecer eventuais mercês dos Príncipes de Orange - se teria direito ao tratamento, mas é certo que adquiriu o estatuto pelo casamento, pois as senhoras, seguiam sempre a condição do marido, excepto se a sua própria condição fosse muito superior, pois nessa circunstância, ocorriam excepções. Mas eram mesmo excepções porque a regra era que se uma senhora nobre casasse com um plebeu, perdia a condição de nobre.
Pouco depois da Infanta D. Ana de Jesus Maria ter casado com o Marquês de Loulé, fizeram uma viagem a Inglaterra e a nossa embaixada em Londres, logo inquiriu se D. Ana de Jesus Maria deveria ter o tratamento protocolar - lugares à mesa, etc. - de Infanta ou de Marquesa. Neste caso, foi D. Carlota Joaquina, com a autoridade que já tinha exercido no casamento, que decidiu a excepção e determinou o tratamento de Infanta.
É por isso que estou muitissimo curioso em observar o que se passará quando, numa viagem oficial a um país monárquico a Duquesa de Cornwall acompanhar o Príncipe de Gales; sobretudo em ver a distribuição de lugares num almoço em que também esteja, por exemplo, a Princesa das Astúrias.
Tenho o palpite que o protocolo tão dificilmente negociado em Viena, foi ao ar com as hodiernas práticas dos príncipes e que virá a vingar o protocolo que o Vaticano aplicou nas exéquias de João Paulo II: representação por países (e não por categoria dos representantes) língua francesa e ordem alfabética.
Melhores cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Porque foi esta senhora Princesa ?
Caro Rui Correia,
Tal como diz, e por norma, os filhos dos reis de Portugal recebem o título de infante/a. O título de príncipe foi usado pela primeira vez no país (se não estou em erro) por uma mulher: D. Joana, filha do Rei D. Afonso V e da rainha sua mulher e prima D. Isabel de Coimbra, tanto que ficou esta D. Joana para a História conhecida como Santa Joana Princesa. Após o nascimento do seu irmão, D. João, futuro D. João II, este também usou o título. Note bem- foi a única altura da História portuguesa em que isto aconteceu. O título de "Príncipe de Portugal" foi criado por D. Afonso V para designar o herdeiro. Assim, o filho herdeiro do rei recebe o título de príncipe e o tratamento de Alteza Real, enquanto os restantes filhos recebem o título de infante/a e o tratamento de Alteza. Note que D. Luiz Filipe usava o título de Príncipe Real.
Espero ter podido esclarecê-lo neste assunto com os meus fracos conhecimentos.
Receba os meus melhores cumprimentos,
I. Vieira Martins
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