Sobre os Merovingios
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Sobre os Merovingios
Caros colegas,
Varias vezes tem sido discutidas ligaçoes entre a dinastia dos Merovingios e familias medievais (e por ai familias actuais) por via, principalmente, dos Carolingios.
Julgo interessante deixar aqui o parecer de um investigador, Christian Settipani, especialista do estudo das ligaçoes da Antiguidade com a Idade Media, e que muito fez para tentar estabelecer tais ligaçoes, sem contudo abandonar os criterios cientificos perante a propria vontade de achar e demonstar.
Por outro lado um investigador que nao tem receio em voltar sobre as propostas por si proprio adiantadas quando as acha ultrapassadas.
Trata-se da conclusao do capitulo sobre os Merovingios, do livro
"La Préhistoire des Capétiens (481-987) – Première Partie : Mérovingiens, Carolingiens et Robertiens »
de Christian Settipani, coloboraçào de Patrick Van Kerrebrouck
in “Nouvelle histoire généalogique de l’auguste maison de France”
Villeneuve d’Ascq, 1993
cumprimentos
C. silva
Conclusao :
(trad. do francês)
« Com Childerico III e seu filho Theoderico desaparecem os ultimos representantes seguros da dinastia merovingia.
Os genealogistas procuraram desde ha muito achar-lhes descendentes desconhecidos.
Infelizmente, devemos reconhecer que até hoje nenhuma certeza, mesmo « virtual » tem vindo à luz.
As pretensoes manifestadas desde o seculo VIII pelos Carolingios de serem descendentes dos Merovingios por uma filha de Clotario I, foram desde ha muito reconhecidas por todos como ficticias. Sem referir aqui as aberraçoes e outras asneiras inventadas por sustentar fracas causas, as pesquisas mais serias, antes de maiss as varias hipoteses adiantadas por K.A. Eckhardt nao alcançaram o alvo.
Finalmente, a melhor probabilidade no que toca aos Carolingios, à que mais vezes é adiantada em todo o caso, està na origem da Rainha Berta"do Pé Grande", cuja familia transmitia no seu seio os nomes Bertrada, Cariberto, Theoderico, todos merovingios.
E provavel, embora nao seja certeza, que houve ai uma ligaçao com a dinastia anterior. Mas os pormenores dessa ligaçào nao pode ser provados mesmo com as varias teorias que tem sido produzidas.
Fora dos Carolingios, existem outras possibilidades de descendencias merovingias mas, ai tambem, nemhuma pode ser provada.
A que nos parece mais aceitavel no dia de hoje foi proposta por D. Kelley e liga o rei Ecberto de Wessex (802-839), cuja posteridade é bem conhecida, aos seus dois homonimos do reino de Kent, Ecberto II (796-798) e Ecberto I (664-673), este ultimo sendo neto e bisneto de duas princesas merovingias.
Pretendeu-se tambem no sec. XVII que o rei visigodo de Espanha Artabasdo, oriundo de Bizancio, era filho do principe visigodo Athanagildo, exilado em Bizancio, filho da merovingia Ingundis. Mesmo que a referência no sec. XVII nao passe de conjectura moderna e nao se apoie em nenhum texto, a possibilidade de tal filiaçào é real, mas continuarà ai tambem indemonstravel.
Além disso, a descendência de Artabasdo perde-se no sec. X nas nobres familias muçulmanas de Sevilha, os Banu Sa’id, os Banu Hadjdjadj, os Banu Maslima e os Banu Yûrz.
Sem evocar as que nào conhecemos, varias princesas merovingias tiveram um destino que nos é desconhecido, e algumas puderam casar no seio da aristocracia e ter descendência. Nao é excluido que se ache, em certos bastardos régios a origem de alguns santos que as suas biografias dao como sendo de raça real ou de alguns nobres cujos nomes deixam conjecturar a mesma origem. »
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RE: Sobre os Merovingios
Caro Carlos Silva,
Muito obrigado pela tradução/transcrição de Settipani.
Pessoalmente já conhecia o conteúdo e hoje é genericamente aceite pelos especialistas que Bertrada era da família real merovíngea e muito próxima mas, sempre sem se saber exactamente como.
Intervenções como esta sua, no seguimento do que já deixara sobre o tema, são do maior interesse e permitem que os verdadeiramente interessados fiquem com uma perspectiva correcta do "estado da arte" e não se deixem deslumbrar pelo que se encontra disseminado na NET.
Pena é que outras "linhagens" - estou-me a lembrar de descendências de Maomé por filhas que não Fátima ou de Telles de Menezes por uma filha natural do conde D. Pedro - não tenham o benefício de semelhantes intervenções.
Com os melhores cumprimentos,
Fernando Aguiar
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