Alguém tem uma Isaura a partilhar?
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Alguém tem uma Isaura a partilhar?
Procuro identificar uma mulher que vivia no Porto, em finais da déc. de 50 do séc. XIX.
Dela conheço pouco mais do que o nome, Isaura, citado em cartas particulares.
Por ela ter mantido correspondência amorosa, em 1856-57, com um homem nascido em 1825, podem estimar-se os limites do intervalo de tempo em que o seu nascimento se deve inscrever: entre 1820 e 1835.
É provável que tenha sido baptizada apenas como Maria, tendo posteriormente adoptado um sobrenome, como era invariável costume na época, passando a ser Maria Isaura, pois não encontrei, nas freguesias urbanas e adjacentes, qualquer criança baptizada como Isaura. No caso de ter sido baptizada fora dos limites da cidade, já poderia ser Isaura de primeiro nome.
Era muito bela – a acreditarmos na opinião do apaixonado homem que a namorava –, e alguns indícios levam a pensar que residia na zona da rua da Carvalhosa, via que ligava o Campo Pequeno, actual largo da Maternidade, ao Carvalhido, e que englobava as ruas hoje chamadas da Maternidade, Aníbal Cunha e Oliveira Monteiro.
Frequentava o Teatro São João, o que aponta para que não fosse de condição muito modesta, e é possível, mas não certo, que no período em que o namoro se desenvolveu, fosse viúva.
A única mulher que, durante a pesquisa que realizei, me surgiu como candidata à identificação foi uma Maria Isaura d’Almeida Braga, que foi inumada no cemitério da Lapa, em Março de 1873; mas, não só o óbito não consta nos paroquiais portuenses, como também nada dela sei, além do nome, podendo tratar-se, seja de uma recém-nascida, seja de uma macróbia de 90 anos.
Alguém tem notícia de uma mulher que pudesse corresponder a esta Isaura que me excita a curiosidade e me perturba o sono?
Muito esperançosamente,
Manuel.
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RE: Alguém tem uma Isaura a partilhar?
Caro Manuel,
Não serei decerto eu a dar-lhe solução para a perturbação do sono, embora tenha com algum cuidado pesquisado nos meus dados onde constam Isauras, infelizemnte qualquer delas com afastamento temporal suficientemente grande para não se enquadrar.
Também eu acho particularmente interessante este tipo de situações e histórias, pelo que este seu caso me prendeu a atenção.
Dadas as informações que escreve permito-me no entanto dar-lhe duas sugestões se é que já não as utilizou :
1) A hipótese que põe, de Maria Isaura d’Almeida Braga, pode tentar encontrá-la nos jornais da época em datas até um mês posteriores ao falecimento. Não sendo das épocas mais abundantes, já nessa altura se davam notícias de falecimentos, e se faziam convites para funerais e missas. Se se trata de pessoa com algum estatuto social tem alguma possibilidade de aparecer num dos diários de maior tiragem. Não tendo na minha frente as datas de publicação de todos eles poderá em principio ver no Jornal de Notícias, Com´+ercio do Porto, Primeiro de Janeiro e Voz Pública.
Já resolvi alguns problemas assim.
2) Também pessoas da burguesia portuense, eventualmente mais abastadas como poderá ser o caso, eram muitas vezes enterradas em Jazigos de família. Viu no da ordem da Lapa. Será que viu nos das outras Ordens da cidade ?
Consultando os livro de registos de enterramentos (das Ordens !) do cemitério de Agramonte pode encontrar outros casos. Estão disponíveis na Casa do Infante (AHMP) e não dão muito trabalho a ver. Abrangem as Ordens do carmo, da Trindade e de S.Francisco.
Sobram ainda as outras Ordens (no cemitério do Prado do Repouso) de consulta mais difícil.
Isto seria uma forma de filtrar os óbitos, concentrando-se nos de maior probabilidade.
Evidentemente que procurar nos outros cemitérios também é possível mas será como procurar "agulha em palheiro".
Espero ter sido de alguma utilidade.
Cumprimentos
Jorge Amado Rodrigues
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RE: Alguém tem uma Isaura a partilhar?
Caro Jorge Amado Rodrigues
Se, como declara, não pretendeu contribuir para a solução do meu “caso clínico”, há que reconhecer que, quanto à vertente concreta, genealógica, se assim se pode classificar, a sua medicação inclui todos os sábios procedimentos terapêuticos.
A primeira sugestão, consulta de jornais posteriores ao óbito, revela um experimentado conhecedor dos costumes da época. Consultei, com efeito, os jornais que enumera, e o acerto da sua lista sugere-me que, muito provavelmente, nos conhecemos de vista da secção de periódicos da Biblioteca.
A praxe de deixar passar várias semanas após o funeral, antes de agradecer a participação nele, é muito curiosa, e deve reflectir mais do que apenas a vontade de incluir os assistentes às missas de sétimo dia e de mês. Acredito que pretendia também transmitir a ideia de que a família ficava de tal maneira esmagada pelo funesto acontecimento que, só após o mês de luto e estupefacção que refere (eu diria seis semanas), podia, a custo e muito esforçadamente, regressar ao convívio social.
Também o facto de apenas os membros masculinos da família assinarem os anúncios, deve reflectir não só a repugnância de ver os nomes das mulheres citados nas gazetas, mas também sugerir que estas, por serem, segundo os paradigmas contemporâneos, fragilíssimas organizações sentimentais, ainda se encontravam interditas, submetidas ao império da dôr, do qual talvez nunca viessem a emancipar-se.
Quanto à consulta dos registos de inumações, foi precisamente ao fazê-lo que encontrei, na Irmandade da Lapa, essa Maria Isaura d’Almeida Braga, que referi no tópico. Não foi depositada em jazigo. A informação que possuo é despida de qualquer dado suplementar ao nome e à data. O mais provável é que ela nada tenha que ver com o caso, mas existe um indício que lhe fornece alguma qualificação como candidata. O homem que a namorou manteve relações de amizade com João Joaquim d’Almeida Braga (1836-1871), prosador e poeta bracarense de quem aparece poesia nas revista literárias do Porto, e cuja lista de obras consta no site da BN.
Foi por este lado que procurei atacar o problema. O poeta de Braga era primo (penso que primo direito) do conselheiro Joaquim Januário de Sousa Torres e Almeida, que consta na Base de Dados do GP.
Duas pessoas de reconhecida competência em questões genealógicas bracarenses, ocuparam-se, a meu pedido, de localizar o poeta e a sua família. Infelizmente, apesar da boa-vontade investida, nada resultou de concreto.
Talvez a solução resida aí. A Maria Isaura poderá ter sido uma irmã mais velha, ou uma cunhada viúva, do poeta João Joaquim d’Almeida Braga, mas... até surgir a barbitúrica informação que o confirme, a insónia continua.
Agradeço-lhe a gentileza da resposta e, enviando-lhe votos de bons sonhos, subscrevo-me, atenciosamente,
Manuel.
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