Interpretaçôes incorrectas da História
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Interpretaçôes incorrectas da História
Acabo de ler esta noticia sobre uma página de Historia na net e passo a comentar o erro de interpretaçâo num autor que desconhece as diferencias entre um navio de pano latino e um de pano redondo:
No texto
"O nome de Pero de Alenquer é porém muitas vezes referidos por causa de um outro episódio. Conta Garcia de Resende na sua Crónica de D. João II que um dia, estando o rei à mesa a dizer que só podiam vir navios de pano latino da Mina (isto é, apenas os de Portugal), porque queria manter a exclusividade desta rota, Pero de Alenquer replicou que de lá traria qualquer navio redondo. O rei negou-o, o piloto reafirmou o que dissera antes, e o monarca rematou a conversa afirmando que a “um vilão peco não há coisa que lhe não pareça que fará e enfim não faz nada”. Terminada a refeição D. João II mandou chamar Pero de Alenquer e pediu-lhe que lhe perdoasse por ter dito aquilo, mas pretendia manter o segredo da navegação para a Mina - e por isso manteve sempre a Guiné bem guardada no seu reinado, acrescenta o cronista.
E continua o autor,
A história é incongruente sob vários pontos de vista, dois dos quais por demais evidentes: Portugal não era o único país onde existiam navios redondos que pudessem navegar até à Mina, ao contrário do que se afirma no texto; e não faz qualquer sentido que, pretendendo o rei manter o segredo da navegação da Mina, um dos pilotos que fazia essas viagens não soubesse que devia manter sigilo rigoroso sobre elas! Mas vale por outros motivos: mostra-nos um Pero de Alenquer próximo do rei, e dele afirma que era um “muito grande piloto da Guiné e que bem tinha descoberto”.
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Agora eu passo à critica:
1º Comentário critico: Quando em parentesis o autor interpreta que os de pano latino eram navios de Portugal, isto está completamente errado. Pano latino era a forma da vela, que era triangular e nâo quadrada, e as embarcaçôes de pano latino podiam "bolinar", isto è navegar "contra o vento" ou melhor dito em angulo cerrado em relaçâo ao vento. Os navios que arvolavam pano redondo apenas podiam navegar a favor do vento, isto è em angulo aberto ao vento...
2º Comentario critico: Quando Pedro de Alenquer replica ao Rei que poderia trazer da Mina qualquer navio de pano redondo, o que quiz dizer è que conhecia o regime de ventos do Atlântico, e que ao contrario da pratica habitual que era utilizar navios de pano latino, que navegariam relativamente perto da costa africana de regresso a Portugal, uma vez que os ventos sâo constantemente de sentido Norte/Sul, e que seriam os unicos que poderiam navegar contra o vento, os tais de aparelho ou velas latinas... A afirmaçâo de Pedro de Alenquer de que trairia de volta qualquer navio de pano redondo deve ter soado a uma palermada de ignorante. O rei assim contestava a afirmaçâo a Pedro de Alenquer dizendo que era impossivel trazer de volta embarcaçôes de pano redondo, pois estes nâo poderiam navegar "contra o vento"
3º Comentário critico: A incongruencia do argumento interpretativo de Garcia de Resende, aduzindo as razôes do Rei que seriam manter o segredo sobre as navegaçôes, è uma mostra clara do desconhecimento sobre navegaçâo deste cronista, além do desconhecimento da História recente do seu País, visto durante o reinado de D. Afonso V, ter havido batalhas navais entre Portugal e Castelhanos/Aragoneses em àguas da Guine, e ao Sul das Canarias, quando das desavenças sobre a legitimidade da sucessâo ao trono de Castela de Isabel I, em que a guerra terrestre foi também maritima...
4º Comentário Critico: A interpretaçâo do autor deste texto, ao afirmar que o argumento do Cronista Garcia de Resende è incongruente, porque Portugal nâo seria o unico País com embarcaçôes de pano redondo, ao nâo saber também interpretar o que queria dizer o grande navegante Pero de Alenquer com " trazer da Mina qualquer embarcaçâo de pano redondo", entra a dizer que Portugal nâo era o unico País que utilizava navios redondos para navegar até à Mina sic. Ao nâo saber o que sâo navios redondos, o autor encontra o contra argumento a Resende dizendo que Portugal nâo era o unico a ter navios redondos. O autor desconhece que os navios redondos, (que significa com aparelho de vela quadrangular) nâo podiam navegar contra o vento... A 2ª apreciaçâo do autor sobre o sigilo está também incorrecta, pelo que digo sobre as batalhas navais ao Sul das Canarias e na Guine, durante o reinado de D. Afonso V .-
Aqui cabe indicar que Pedro de Alenquer ao afirmar à mesa de D. Joâo II que podia "trazer da Mina qualquer embarcaçâo de pano redondo", o que evidencia è que conhecia já "a volta do mar" ou os regimes de ventos do Atlântico que sopram ao Norte do equador para Oeste ou poente, logo perto da costa centro americana, ou no mar dos sargaços sopra para Norte e logo ao Norte dos Açores sopra em direcçâo a Portugal, fazendo assim possivel utilizar navios de aparelho redondo para esta viagem Portugal/Mina/Portugal. A utilizaçâo deste tipo de barcos para a exploraçâo da Mina seria mais rentavel, pois estes aproveitariam sempre ventos portantes, ou ventos de popa e portanto tal viagem seria muito mais rápida ao navegarem mais velozmente as embarcaçôes com vento de popa que os navios de velas latinas que tem que navegar "contra o vento" e ziguezagueando em direcçâo contraria ao vento, sendo muito mais lenta a progressâo destes... ( os ventos na costa africana, como digo mais acima sopram direcçâo Norte/Sul).-
Cumprimentos
Fernando de Telde
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