Escola de Sagres ou Escola de Lagos?
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Escola de Sagres ou Escola de Lagos?
Caros Confrades,
Gostaria de saber a vossa opinião: existiu uma Escola de Sagres?
Tenho para mim, como já é aceite por muitos, que nunca houve uma "Escola" no sentido tradicional do termo. Subsiste em mim, porém, uma dúvida persistente: porque é que não a denominaram de Escola de Lagos!? É que Lagos era na altura um importantíssimo porto, onde confluíam pessoas de diferentes nacionalidades e, como tal, se trocavam informações e adquiriam-se novos conhecimentos...
Meus melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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Recato e bulício
Caro confrade,
O termo latino 'schola', talvez antes até de adquirir o sentido de actividade ou local onde se ensina (que presumo tenha sido o que quis dizer com 'tradicional'), quis dizer o 'grupo dos que sabem', dos que partilham ou discutem um tema com conhecimento de causa, ou pelo menos que procuram melhorar esse conhecimento pelo debate e pela confrontação.
Por isso, onde quer que se tenham reunido em mais recato, o grupo de 'MITs' recrutados pelo Infante devem-no ter feito, por períodos mais longos ou mais curtos, provavelmente assim mesmo: em recato. Havia muito em jogo, e o saber naquelas lides era raro e caro.
Para o 'caro', remedeou como é sabido o Infante com as suas posses que, proporcionalmente, talvez fizessem o Joe Berardo corar de inveja. Para o 'raro', talvez Sages tenha feito jeito: até bem recentemente era o cabo dos trabalhos para lá chegar, quanto mais nessa altura. E aqueles que ele lá levaria já tinham adquirido os seus conhecimentos há muito, e provavelmente não precisariam de ter um porto agitado à beira.
Isto digo eu, que confesso a minha pouca ciência no tema e que nestas amenas cavaqueiras apenas quero partilhar impressões, com base no que nos parecer razoável.
Cumprimentos renovados.
Victor Ferreira
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RE: Recato e bulício
Caro Victor Ferreira,
É que Sagres é muito ventoso e tem um mar muito alteroso!
Existem, efectivamente, "grupos dos que sabem". Estou plenamente de acordo consigo relativamente ao "jeito", já quanto ao "raro" dúvidas se levantam: é que a "arte de marear" requer um "saber de experiência feito". Ora, em Sagres pode-se contemplar o mar e o horizonte...e pouco mais.
De qualquer das formas, é curiosa a pouca relevância que se deu, durante centúrias, à obra do Infante D. Pedro! Porque será...?
Melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Recato e bulício
Sobre o infante D. Pedro, é uma personagem para quem eu apenas há pouco voltei mais atenção, estou muito cru p'a botar faladura e o meu caro Artur, para além das leituras que fez, faz ou fará, tem aqui alguns tópicos em que acaloradamente se debate sobre ele.
Sobre o 'raro'. Há milénios que se sabia velejar, que se tinha a experiência da curvatura e por aí adiante. Há milénios que se tinha esse saber de experiência feito. Em que contexto? Não só na cabotagem, mas bastante mais com a navegação de alto mar na travessia mediterrânica e nas viagens comerciais desde há séculos nas e para as costas Oeste e Norte da Europa.
O que se passa é que esse saber passava de geração para geração dentro das comunidade de pescadores ou das comunidades de comerciantes. Saber é poder, hoje, como naquela época.
Ora aí parece estar o 'breakthrough' do grupo que rodeava quem quer que seja que tomou a iniciativa de juntar os saberes relativos às artes de marear: registá-lo, sistematizá-lo, confrontar diferentes correntes, fazer análises e sínteses, em suma, partir de uma boa base - os saberes de experiência feitos - e passar a fazer disso ciência, com muita Matemática - Geometria, Cálculo ... - pelo meio.
E Sagres era um sítio tão bom como outro qualquer para reunir pessoas, proto-cientistas no caso, ou pelo menos em vias disso. Tão bom não: melhor. Em Sagres não se tem as distracções da cidade; há pequenos portos perto de onde partir para qualquer lado e onde atracar.
Em suma, e à mons avis, não se estava em Sagres para marear. Estava-se ali para produzir ciência. Talvez do melhor que se fizesse por essa época. Um projecto da coroa? Um projecto do(s) Infante(s)? Talvez ambos. Um dos poucos que deram mesmo certo ao longo dos séculos entre nós.
Benz'ós Deus.
Cumprimentos. VF
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Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caros Confrades,
Retomo o tópico. É, por certo, matéria controversa; não deixa, porém, de ser aliciante.
Indico, com a devida vénia, o seguinte link:
http://www.diariodigital.pt/news.asp?section_id=4&id_news=372199
Fábio Pestana Ramos escreve no seu livro «Por Mares Nunca Navegados», o seguinte:
"A escola de navegação de Sagres jamais existiu, sendo apenas um mito construído pelo fervor nacionalista da historiografia portuguesa do período romântico do século XIX."
Meus melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Escola de Sagres ou Escola de Lagos?
Caros Confrades
Já me perguntei muitas vezes como é que o Infante dirigia uma escola em Sagres se habitava (segundo me parece) no seu paço de Tomar?
Cumprimentos
Fernando António
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Artur,
também considero no mínimo "estranho" uma Escola em Sagres, naquela época, quando tudo era muito mais difícil.
Estive em Sagres por uma semana, em 1984, justamente para conhecer este lugar tão famoso. Descobri que em Sagres não havia água. Havia um duto de 30 kilometros que trazia a água.
Pensei qual o motivo de se fazer uma Escola tão importante em um lugar que nem água havia,
Fernando Caldeira Teixeira de Freitas.
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RE: Escola de Sagres ou Escola de Lagos?
Caros Confrades
Penso que não existe qualquer dúvida que o Infante D. Henrique viveu em Sagres durante largos anos e também teve casa na vizinha Vila do Bispo, onde morreu.
JCumprimentos,
J C Canelas
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RE: Escola de Sagres ou Escola de Lagos?
Caro José de Castro Canelas,
Sobre o que diz, meu confrade, julgo não existirem dúvidas. Levantam-se, no entanto, outras questões:
1ª- Foi o Infante D. Henrique o "elemento congregador" da dita "Escola de Sagres"...?
2ª- Utilizou o Infante D. Henrique a sua fortuna pessoal?
3ª- A Corôa pediu empréstimos a entidades externas, nomeadamente "genovesas"...?
Meus melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Fernando,
"Estranho" será, o que não obsta a que Sagres tenha funcionado como "local de reunião". Será que se encontram, porém, achados arqueológicos da "Escola de Sagres"??
Gostaria que comentasse, na medida do possível, aquilo que Fábio Pestana Ramos afirma. Endereço, como é óbvio, o convite aos restantes confrades.
Meus melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caros Confrades,
Desejo dar uma explicação para uma discrepância que não deve pôr em causa a "substância" do título do sub-tópico: no link já referido aparece uma obra denominada "Por Mares Nunca Dante Navegados"; na realidade a obra denomina-se "Por Mares Nunca Dantes Navegados".
Por outro lado, da "Editora Contexto" online retira-se, com a devida vénia, o seguinte:
"Fábio Pestana Ramos
Fábio Pestana Ramos é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Foi professor de História na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Puccamp). Na Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), lecionou nos cursos de História, Pedagogia e Administração de Empresas, entre outros; coordenou os cursos de Letras e Pedagogia; e fez parte do corpo docente do mestrado em Educação. Foi também professor em diversas outras faculdades particulares e pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Seu currículo registra intensa atividade de pesquisa e passagens por arquivos históricos do Brasil e de Portugal, como a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o Arquivo Público do Estado da Bahia, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, o Arquivo Histórico Ultramarino, a Biblioteca Nacional de Lisboa e a Biblioteca Central da Marinha Portuguesa. Por sua destacada produção acadêmica, recebeu menção honrosa da USP e o prêmio Jabuti. Pela Editora Contexto, publicou No tempo das especiarias e, como co-autor, História das crianças no Brasil, obra agraciada com o prêmio Casa-Grande & Senzala. Colabora com publicações acadêmicas, revistas e jornais brasileiros de grande circulação, como Superinteressante, Aventuras na História, Jornal do Brasil e Folha de S.Paulo."
Renovados cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caríssimo Artur João
De acordo com a Dra Luisa Gama e com o Instituto Camões
"A existência ou não da Escola de Sagres já foi amplamente debatida no panorama historiográfico português. Porém, desde o princípio do século XX que a ideia de uma escola náutica fundada pelo Infante D. Henrique, onde se agrupariam os mais variados sábios, de várias partes da Europa, com objectivo de obter uma vasta informação sobre determinadas áreas científicas como a geografia, a astronomia ou a cartografia, se encontra ultrapassada. Esta ideia é sobretudo uma lenda que carece de provas evidentes, devida principalmente a escritores e historiadores ingleses que procuraram promover a figura e a acção do Infante de Sagres.
O infante D. Henrique fundou de facto uma vila no Algarve. Em 1443 pediu a seu irmão, o regente D. Pedro, que lhe concedesse a região inóspita de Sagres, para aí fundar uma vila. O pedido foi concedido e a vila foi fundada no lugar de Terçanabal. O infante deixou convenientemente explicitados os objectivos da fundação desta vila, numa carta testamentária datada de 19 de Setembro de 1460. Esta seria um ponto de assistência aos navegadores que aí passassem perto e precisassem de mantimentos ou de aguardar por boas condições de navegação.
Em toda a documentação do príncipe analisada até hoje, não encontramos qualquer tipo de referência a uma escola náutica em Sagres, nem sequer é uma ideia presente em nenhum escrito que seja seu contemporâneo. Gomes Eanes de Zurara apenas faz referência à vila em construção. Duarte Pacheco Pereira tal como João de Barros, apenas menciona uma vila fundada pelo Infante na Angra de Sagres. Só em 1567 na Crónica do Príncipe D. João, Damião de Góis começou a dar consistência à lenda da erudição do Infante, quando escreve que o príncipe era um homem muito dado ao estudo das letras, principalmente da Astrologia e Cosmografia. Para cultivar esses estudos e mandar navios para a Costa africana, D. Henrique teria fundado uma vila no sítio de Sagres.
Duarte Leite, num estudo sobre a Escola de Sagres, apresentou Samuel Purchas como o verdadeiro introdutor do tema em Portugal e no resto da Europa, corria o ano de 1625. Este afirmou que o Infante contratou o mestre catalão Jaime de Maiorca, para dirigir uma escola de marinha, e não apenas para ensinar os marinheiros portugueses a fazerem verdadeiras cartas de marear. O próprio João de Barros o afirma, mas Purchas entende que esta escola seria uma condição indispensável para a realização das viagens marítimas do período henriquino.
Em 1660, D. Francisco Manuel de Melo atribuiu ao infante um considerável conhecimento cosmográfico e matemático e afirma que este teria fundado a vila algarvia não só para pôr em prática esse tipo de conhecimentos, mas também para garantir assistência aos nautas que precisassem de apoio.
Cerca de 100 anos depois, a ideia já começava a ficar enraizada, como é possível comprovar através da obra de Francisco José Freire Nobres Vida do Infante D. Henrique, escrita e dedicada à Majestade Fidelíssima de El-Rei D. Joseph I N.S. Pouco tempo depois, António Ribeiro dos Santos descreveu entusiasticamente a Escola onde se erguera um observatório astronómico, o primeiro que tinha existido em Portugal. Em Sagres haviam-se concentrado eminentes sábios, capitães e pilotos experientes. O Infante tinha transformado o seu paço real numa escola de estudos náuticos, com um seminário de geógrafos, matemáticos, astrónomos e náuticos.
Já no século XIX, o Cardeal Saraiva afirmou que os progressos da marinha portuguesa só tinham sido possíveis graças à escola fundada por D. Henrique, uma vez que tinha sido na escola que os vários instrumentos náuticos, utilizados nos descobrimentos, foram fabricados e aperfeiçoados. Segundo o Cardeal, também teriam sido estudados nesta escola métodos para a determinação de latitudes e longitudes marítimas.
Muitos historiadores estrangeiros também trabalharam sobre esta matéria, tentando procurar os alicerces científicos das navegações do século XV. O escritor Malte – Brun afirmou que no Portugal de quatrocentos proliferavam escolas para o estudo da navegação, acrescentado que Colombo tinha aprendido a sua «arte» numa dela.
A historiografia romântica deu o contributo final para o enraizamento da Escola de Sagres na memória colectiva dos portugueses. Oliveira Martins, na sua obra Os Filhos de D. João I¸ compilou uma suposta lista bibliográfica que teria sido utilizada pelo infante e pelos mestres da escola. Esses livros teriam sido adquiridos pelo infante D. Pedro, durante o seu longo périplo pela Europa. Tal tese foi refutada sucessivamente, uma vez que as obras que figuram nessa lista e nomeadamente as cartas de Gabriel de Valseca e os livros de Jorge Peurbach, nunca poderiam ter sido trazidas para Portugal por D. Pedro.
A descrença na questão surgiu ainda durante o século XIX, quando vários historiadores começaram a rever esta tese. Em 1877 o marquês de Sousa Holstein afirmou que não teria existido propriamente uma escola, mas sim uma academia científica, que tratava de problemáticas náuticas e geográficas. Seguiram-se autores como Luciano Pereira da Silva ou Joaquim Bensaúde, os quais demonstraram que a náutica da época apenas criou regras e regimentos empíricos, logo os marinheiros não necessitariam de grandes conhecimentos astronómicos; e por certo o infante nunca chegou a ler obras de homens citados por Oliveira Martins, como Johannes de Monte Régio ou Jorge de Peurbach.
O último grande defensor de uma verdadeira escola náutica em Sagres foi Jaime Cortesão. O autor defende a imagem do infante e da sua escola daqueles que pretendem criar uma lenda anti-infantista, homens como Duarte Leite que afirmavam que o príncipe não se interessaria muito pela cultura geográfica e científica do seu tempo. É importante afirmar que o infante revelou ao longo da sua vida preocupações culturais, que estão bem presentes na protecção que deu à Universidade, embora nenhuma cadeira de ensino matemático tenha sido aí criada durante o seu tempo.
Será Duarte Leite o primeiro acérrimo defensor da não existência da Escola de Sagres, pois para o escritor ela é apenas um mito nacional. Segundo a sua tese, os pilotos henriquinos não se distinguiram dos árabes ou dos nautas que navegavam no Mediterrâneo. Nem sequer é conhecida a existência de sábios ou técnicos estrangeiros que viessem para Portugal, excepto daquele que aparece referido como Jaime de Maiorca.
Durante o século XX desconstruiu-se a tese da escola científica, mas neste capítulo é importante perceber, tal como afirma Teixeira da Mota, que a lenda teve a sua grande expansão durante os séculos XVIII e XIX, ou seja, numa época em que as academias científicas proliferavam por todo o mundo. Talvez por isso, os historiadores de então transportassem a sua realidade para o século XV e o julgassem à luz dela. Para estes homens os acontecimentos do tempo do infante eram, sem dúvida, fruto de uma revolução das técnicas de navegação, logo, as descobertas teriam sido levadas a cabo por instituições científicas, que trabalhavam directamente sobre os problemas apresentados pelos marinheiros. Para a historiografia actual, sem pôr em causa o interesse que o Infante teria de ter tido pelos problemas da navegação, pois deles dependia o sucesso das viagens que promovia (mas sem que isso queira dizer também que seria um sábio ou um perito na arte de navegar), a Escola de Sagres, mais do que uma instituição académica, transformou-se sobretudo num símbolo, símbolo do infante D. Henrique e de todas as actividades relacionadas com as navegações portuguesas do seu tempo. Símbolo da progressão das técnicas de navegação adquiridas empiricamente pelos navegadores que enfrentaram o Atlântico no século XV, e que criaram as bases da navegação astronómica, tal como veio a ser praticada nos séculos subsequentes - no que é aliás uma das consequências mais importantes dos Descobrimentos.
Luísa Gama
Bibliografia Sumária:
ALBUQUERQUE, Luís de, «Escola de Sagres», Dicionário de História de Portugal. Dir. de Joel Serrão, Vol. III, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1971, pp.716-717.
GARCIA, José Manuel, Sagres, Vila do Bispo, Edição da Câmara Municipal de Vila do Bispo, 1990.
LEITE, Duarte, História dos Descobrimentos. Colectânea de esparsos. Organização, notas e estudo final de Vitorino Magalhães Godinho, Lisboa, Editora Cosmos, 1958.
MOTA, A. Teixeira da, A Escola de Sagres, Lisboa, 1960, Separata dos Anais do Clube Militar Naval.
Aqui deixo 2 sites sobre a mítica Escola de Sagres
http://www.marinha.pt/Marinha/PT/Menu/DescobrirMarinha/Historia/historiamarinha/Criacao_Escola_Sagres.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Sagres
Um grande abraço
Maria Benedita
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caríssimo Artur João
Por indicação generosa do Pseudo-Históra Colombina, indico igualmente o seguinte link
http://jugular.blogs.sapo.pt/708756.html
um abraço
Maria Benedita
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caríssima Maria Benedita,
Agradeço-lhe os dados. Pode ler algumas entrevistas do citado autor no «youtube», pois são interessantes. Não percebo, porém, a dúvida de Fábio Pestana Ramos relativamente a Bartolomeu Dias: "...salvo erro é espanhol..."; não se lembrava, ou há dúvidas...!?
Há outras coisas que em devido tempo gostaria de debater.
Um grande abraço,
Artur João
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caríssimo Artur João
Dúvidas sobre a nacionalidade de Bartolomeu Dias? Que eu saiba, nenhumas!
Concerteza Fábio Ramos esqueceu-se, como se esqueceu também que a teoria da existência da Escola de Sagres éstá mais que rebatida!
Um grande abraço
Maria Benedita
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Prezado Camisão,
me parece que a Maria Benedita exauriu o tema sobre a Escola de Sagres, não deixando margem à qualquer dúvida quanto à existência da mesma.
Achei interessante o livro do Pestana e já o adqiuri. Você já leu o livro ou apenas os trechos publicados na internet?
Fernando Caldeira.
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Minha Cara Maria Benedita,
Quanto ao link: agradeço-lhe a indicação dessa "preciosidade"...
Relativamente a Fábio Pereira Ramos: tenho também a mesma impressão. Quero, porém, ler o livro: o que ainda não aconteceu.
Um grande abraço,
Artur João
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Prezado Caldeira,
Sabe como posso adquirir a obra, de forma rápida?
Renovados cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Onde se lê Fábio Pereira Ramos deve-se ler Fábio Pestana Ramos
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Prezado Camisão,
moro no Rio de Janeiro, e adquiri a obra na LIvraria da Travessa, no centro da cidade. É uma livraria bem conhecida,
Fernando Caldeira.
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Prezado Caldeira,
Tenho tido problemas informáticos, pelo que só agora lhe respondo.
Sei que a "Travessa" é bem conhecida. O problema é que aqui em Portugal não sei quando é que a obra será lançada!?
Melhores cumprimentos,
Artur Camisão Soares
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caro Artur
Seguramente, nunca existiu em Sagres nada de relevante.
Não passa de um Promontório, árido, demasiado ventoso numa das vertentes e estranhamente abrigado, na outra.
Inserida numa região de Complexos Megalíticos, que nem de longe se aproximam aos do resto da Europa, da chamada Fortaleza do Infante, pouco resta.
Francis Drake e a Dinastia Filipina, provàvelmente irritados com a orientação dos Ventos, levaram a cabo uma misericordiosa destruição, que economizou substanciais fundos, aos governantes subsequêntes, que apenas tiveram que arrasar as ruínas que sobreviveram.
Caro Artur, Sagres nunca existiu!
Não passa de Nacionalismo barato.
O Relógio Solar, e a Rosa dos Ventos, que ninguém sabe o que é nem para que serve, devem ser ruínas Árabes, ou Romanas, ou Fenícias.
Não eram os Fenícios navegadores?
Ou então são Ruinas Chinesas, do tempo em que os Juncos Chineses, descobriram a América.
Para mim o nome América até é chinês, mas como ninguém percebia os caracteres, pensaram que fosse Ytaliano.
´
Nem fale das Sete Partidas, que isso não passa de Megalomania.
Esqueça Sagres. Esqueça Henrique. Esqueça Aviz.
Está tudo estudado. Está tudo escrito.
Quem guardou aqueles Mapas Remotos, foram os Chineses.
E se a Rainha Isabel em vez de planear o futuro dos seus súbditos à beira do Mar All Garvio, tivesse destruído devidamente a documentação, que Francis Drake tomou de empréstimo em Portugal, em este assunto estava morto e enterrado.
Melhores Cumprimentos
Airmid
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caríssimo Artur João
Sobre a questão da mítica escola de Sagres, deixo este elucidativo texto de Amélia Polónia que versa a formação dos nautas das primeirs descobertas( Texto da comunicação apresentada ao CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO DOS PROFESSORES DE
HISTÓRIA (Porto, 16/17/Outubro 2003).
"Totalmente desmontado, desde há décadas, pela historiografia académica, o mito da famosa
“Escola de Sagres”, ainda que persistente até tempos bem recentes, através de uma historiografia
apologética, com recurso a estratégias de divulgação, com particular incidência nos manuais
É objectivo deste artigo discutir até que ponto os conhecimentos técnicos e
científicos decorrentes do processo de descobrimentos e expansão
ultramarina portugueses se baseiam, ou não, em procedimentos e em praxis
científicas e contribuem, ou não, para a construção de um novo sistema
científico que marcará a Europa do século XVII. Para tanto, debruçar-nosemos,
primeiro sobre os conceitos e as práticas de “arte de navegar”, “técnica
náutica” e “ciência náutica” e, num segundo momento, sobre algumas das
aquisições epistemológicas da chamada “sabedoria dos descobrimentos”.
As considerações aqui apresentadas não resultam de uma investigação original
sobre a matéria em análise, mas tão só de uma reflexão sobre dados e
informações já conhecidos e consabidos.
escolares, como explicar e como interpretar, do ponto de vista dos saberes, as bases dessa sabedoria
e dessa praxis náutica2?
Comecemos por apresentar algumas ideias axiais, nucleares para o debate que aqui propomos.
Em primeiro lugar, o que aqui subscrevemos é que é inaceitável a ideia de que a preparação
dos náuticos das primeiras descobertas era feita através de uma formação teórica ministrada por
sábios e académicos que os formavam para as navegações. Na verdade, o desenvolvimento das
aquisições nucleares da marinharia dos descobrimentos nunca poderia ter sido prévio, antes é
necessariamente decorrente das navegações atlânticas, e consequente das necessidades impostas
por essas novas experiências, ao apresentarem condicionalismos de geo-referenciação, de ventos,
correntes, navegação em alto mar, até aí desconhecidas pelos europeus, que todavia dominavam,
com perícia, as rotas mediterrânicas e as do Mar do Norte.
Em segundo lugar, sustentamos que não está, de todo, provada, nos primórdios do
movimento expansionista, qualquer ligação e articulação entre os náuticos das descobertas e os
académicos que se dedicavam a estudos na área da astronomia, matemática e cosmografia teórica,
antes se tratava de dois universos que corriam em paralelo, de duas áreas de saber dificilmente
comunicantes: os primeiros balizavam-se em muito rudimentares conhecimentos astronómicos
e numa “arte de marear” que foram desenvolvendo à medida das suas necessidades; os segundos
alimentavam-se dos tratados teóricos dos clássicos e de uma reflexão especulativa e de gabinete.
Esta realidade parece ser válida pelo menos até ao início do exercício do cargo de cosmógrafo e
depois de cosmógrafo-mór do reino por Pedro Nunes, cargos em que foi empossado, respectivamente,
antes de 1529 e em 1547. Subsistem, ainda assim, muitas reservas a uma verdadeira
articulação entre saber matemático e astronómico e prática náutica, mesmo em torno da figura
e da actuação de Pedro Nunes. Exemplo de assimilação dos dois saberes, teórico e prático, é, no
século XVI, o de D. João de Castro, eminente matemático e astrónomo e exímio navegador,
nomeadamente da rota da Índia, mas esta personagem mais não é do que a excepção que confirma
a regra.
É certo que alguns sábios foram convocados para dar pareceres e para contribuir para a
resolução de problemas práticos, nomeadamente de orientação astronómica. Isso ocorre já em
tempos de D. João II, em que parece estar provado o recurso a teóricos e académicos, como
Abraão Zacuto, para auxiliar a resolução de problemas impostos pela navegação no Atlântico
Sul, e a progressão ao longo da costa Ocidental africana em direcção ao Cabo que seria da Boa
Esperança. Nunca esses conhecimentos, produzidos por teóricos – matemáticos ou astrónomosforam,
porém, directamente incorporados na formação dos náuticos, nem estes preparados
teoricamente ou inseridos em estruturas escolares que lhes facultassem preparação para o exercício
das suas funções. Esta realidade não será senão bem tardia, e posterior aos avanços geográficos
do século XV e XVI.
Na verdade, a criação de uma aula, a ser frequentada por pilotos, sota-pilotos, mestres e
guardiães de embarcações não está explicitamente indicada senão no “Regimento do Cosmógrafo-
mór de 15923, ainda que dele se possa presumir a leccionação de uma aula, destinada ao mesmo
público, e ministrada por Pedro Nunes, na sequência de um prévio regimento, cujo original não
é conhecido, datado de 15594. Reportamo-nos, porém, em qualquer dos casos, a um período
bem tardio, se tivermos em atenção a cronologia em que a totalidade das descobertas geográficas
e marítimas foram levadas a cabo. É de notar, neste domínio, a nítida discrepância em relação à
Espanha, onde está determinado, desde 1508, que os pilotos que vão às Índias de Castela são
obrigados a frequentar a aula do piloto-mor, então Américo Vespucio, leccionada na Casa da
Contratação de Sevilha. E isto a despeito de a carreira da Índia ser, indiscutivelmente, bem mais
complexa, na sua rota e nas suas exigências, do que a Carreira das Índias de Castela.
No caso português estas “aulas” são, pelo contrário, de frequência voluntária, segundo se
estipula ainda no Regimento de 1592, e porventura esporádica, já que não se trata de um curso
contínuo, de tempo delimitado, mas de uma lição diária que os náuticos poderiam frequentar
de acordo com as suas disponibilidades5. A sua criação parece estar, por outro lado, ligada à
existência de deficiências, sentidas na prática de navegar, responsáveis por naufrágios frequentes
e dramáticos em tempos em que a superioridade dos portugueses no mar era posta em causa por
potências marítimas cada vez mais poderosas, como a Inglaterra e a Holanda, mais do que
imposta por uma intenção explícita de institucionalização do ensino náutico. É certo que os
jesuítas Francisco da Costa e Cristóvão Bruno, e o padre inglês Thomas Breton ministraram, no
Colégio de Stº Antão de Lisboa, uma “Aula de Esfera”6. A sua criação data, porém, apenas da
segunda metade do século XVI, porventura dos seus últimos decénios, e nada indica que a sua
frequência maioritária fosse composta por homens do mar.
Em paralelo, os avanços sensíveis e verdadeiramente revolucionários do ponto de vista da
ciência náutica, incorporados na prática da navegação astronómica não decorrem, segundo nos
ensina Luís de Albuquerque, da produção de teorias e de literatura científicas originais e inéditas,
antes se servem de rudimentos de saber astronómico em circulação já no período medieval. Isto
é, as regras astronómicas que vieram a ser utilizadas pela náutica portuguesa não foram inventadas
na altura, antes andavam desde há muito expostas, na sua quase totalidade, em livros correntes.
A “revolução” teria sido consagrada pelos homens experimentados, e não pelos académicos, e
definida, não nos bancos de qualquer escola, Sagres, Coimbra ou Lisboa, mas no decurso das
viagens de navegação, ou nas “pranchas das caravelas”, no dizer de Luciano Pereira da Silva7, e
através de um processo de aquisições empíricas, e não especulativas.
O que queremos dizer é que as grandes aquisições da náutica portuguesa, e da navegação
astronómica do século XV não surgiram de uma criação ab nihil, mas antes de uma evolução e
adaptação gradual de conhecimentos anteriormente existentes. Nem partiram das complexas
3 Cf. Regimento do cosmógrafo-mor de 1592 , publ. RIBEIRO, 1994. Vd., sobre esta matéria, POLÓNIA,
1995; POLÓNIA, 1999; MATOS, 1999.
4 MOTA, 1969.
5 Um vínculo de obrigatoriedade não se estabelece senão em 1626, em que novo Regimento estipula que os
candidatos a sota-pilotos seriam obrigados a apresentar certificado da sua frequência. CF. Regimento sobre a matricula
da gente da nauegação deste Reyno, publ. COSTA, 1989.
6 Ver, sobre esta matéria, BERNARDO, 2000.
7 SILVA, 1946, Vol. III, pp. 7 segts.
12 A M É L I A P O L Ó N I A
sumas teóricas dos grandes intelectuais da Antiguidade estudados nas universidades, mas de
uma tradição mais recente, corporizada num fundo intelectual subsidiário do saber e das aquisições
de árabes e judeus, e sistematizado nos “Libros del Saber Astronomico”, escritos em castelhano,
verdadeira enciclopédia de astronomia medieval. Lembremos, em paralelo, que as grandes revisões
teóricas do saber astronómico não se situam cronologicamente neste período, antes decorrem
dos contributos, posteriores, de Copérnico, Tycho Brahe ou Galileu.
Os contributos da náutica portuguesa fazem-se, assim, sentir mais ao nível da sistematização
de regras e tabelas auxiliares de cálculos de latitude, impostas por circuitos de navegação cada
vez mais complexos e longínquos, bem como a nível da invenção ou simples melhoramentos de
instrumentos de orientação astronómica, como a bússola, o quadrante, o astrolábio, a balestilha,
ou o nónio, criado por Pedro Nunes. A realização de tábuas de declinação solar e a elaboração
dos “Regimento da Estrela Polar” e do “Regimento do Cruzeiro do Sul” correspondem a outras
tantas sistematizações de conhecimentos auxiliares para a estimativa de uma das coordenadas
geográficas fundamentais: a latitude, através do cálculo da altura das estrelas.
Os próprios materiais escritos de teor náutico de que os pilotos das navegações ultramarinas
portuguesas se servem, reflectem bem o carácter pouco profundo dos conhecimentos científicos
que os informam. Estes homens lidam com três tipos centrais de literatura náutica, designados
por guias náuticos, roteiros e diários de bordo, todos alheios a índices de grande complexidade
técnica ou científica.
Em concreto, e segundo informa Luís de Albuquerque8, os guias náuticos contêm, de
forma prática, por vezes ilustrada, directivas e normas de astronomia náutica e regras de pilotagem;
os roteiros descrevem rotas, fundeadouros, entradas de barras, enfim incorporam as informações
de orientação para uma navegação segura; nos diários de bordo os pilotos deveriam anotar as
observações, diárias, feitas durante uma viagem: rotas seguidas, alturas dos astros; declinação da
agulha, vistas de terra, tipo e direcção dos vôos das aves; cor e profundidade das águas. Estamos,
em qualquer dos casos, perante uma literatura de teor eminentemente prático, básico, e descritiva,
longe, portanto de um verdadeiro teor técnico-científico.
Adiante-se, inclusive, que, se à partida, o manuseamento destes livros exige o domínio
mínimo da leitura e da escrita, não faltam os exemplos de pilotos que desenvolveram a sua
actividade no mais completo analfabetismo. Frazão de Vasconcelos elucida esta prática com um
caso – o de Marçal Luís, piloto da carreira da Índia, que frequentou, com sucesso, essa carreira
durante 28 anos, vindo-se a verificar, em 1611, que era analfabeto, facto que não impediu a sua
nomeação para uma outra viagem, dada a falta de pilotos para a efectuar9. Pesem embora estes
exemplos, o que conhecemos das comunidades náuticas quinhentistas leva-nos a crer que, de
um modo geral, homens do mar qualificados, mestres, sotapilotos e pilotos, sabiam, pelo menos
escrever o seu nome, e dominariam os rudimentos da escrita e da leitura, o que não é, porém,
sinónimo de alfabetização e menos ainda de literacia.
O facto é que verdadeiros livros de náutica portugueses, centrados em âmbitos de estudos
astronómicos e matemáticos não são conhecidos senão através da produção de Pedro Nunes ou
de D. João de Castro. Atente-se que, ainda assim, Pedro Nunes, no seu “Tratado da Sphaera”,
publicado em 1537, ainda retoma e republica estudos de Sacrobosco e de Ptolomeu, se bem
que enriquecidos pelas suas próprias anotações. Produções de literatura náutica de vulto, e de
pendor original, são, todavia posteriores e, entre elas poderemos apontar, do mesmo autor, o
“De Crepusculis”, datada de 1542, talvez a obra que lhe grangeou maior nomeada internacional,
a par do seu “Petri Nonii Salaciensis Opera”, publicado em Basileia em 1566.
Entre a sua obra destaca-se já, porém, uma preocupação de aproximação teórica aos
problemas práticos sentidos pela navegação. Apontemos, como exemplos, o “Tratado de certas
dúvidas de navegação” e o “Tratado em Defensam da Carta de Marear” (1537); a “Arte Navigandi
libri duo” (1573) ou a “Defensão do tratado de rumação do globo para a arte de navegar”. O
facto é que a própria utilização do latim, língua de ciência e de erudição, inviabiliza uma efectiva
comunicação dos seus ensinamentos ao universo dos homens do mar.
Não se assiste, assim, mesmo com Pedro Nunes, a um processo de simbiose entre o saber
teórico e o prático, essa inexistente, e comprovada pelas críticas recíprocas entre o cosmógrafo e
os pilotos das navegações ultramarinas, o primeiro apontando-lhes falhas graves nas suas bases
teóricas, e um excessivo empirismo, os segundos queixando-se da ignorância do matemático nas
coisas do mar10. Note-se que apenas em 1625 um outro cosmógrafo-mór do reino, D. Manuel
de Meneses, pratica, de facto, viagens de navegação. Pedro Nunes, era, ainda, um homem de
gabinete, como o serão muitos dos cosmógrafos-mores do reino, desde João Baptista Lavanha, a
Pedro de Maris Carneiro, ou a muitos dos Pimenteis.
É certo que estes se encontravam na presidência de um júri que procedia ao exame dos
náuticos, desde 1592, e talvez, segundo procura provar Teixeira da Mota, já desde 1547, data da
nomeação de Pedro Nunes para o cargo de cosmógrafo-mór. A eles cabia o exame da speculativa,
que ocorria a par da examinação prática, a cargo de pilotos experimentados nas carreiras para
que o náutico se candidatava, e que igualmente incorporavam o júri. A análise das matérias a
examinar, minuciosamente descritas no Regimento de 1592, prova, porém, à saciedade, que os
aspectos práticos, empíricos e técnicos, se constituíam, mais do que a formação teórica e
especulativa, nas vertentes mais vincadas da formação náutica, mesmo em finais do século
XVI.
O que pretendemos dizer é que, se os navegadores portugueses superaram os procedimentos
de uma simples “arte de marear”, eles cultivaram e serviram-se, fundamentalmente, de “técnicas
de marear”, desenvolvidas à revelia dos meios académicos, e tendo como base uma verdadeira
“sabedoria do mar”. Esta, construída a partir de fundamentos fortemente empíricos, era transmitida
de uma forma geracional e prática, à margem de teorizações e sistematizações verdadeiramente
científicas, e à margem de uma formação escolar e sistémica, ausente dos processos de
transmissão de conhecimentos náuticos.
Se a náutica portuguesa esteve, de facto, na base de um processo de “desenvolvimento” que
afectou todo o continente europeu e, por contactos múltiplos, também outros continentes, essa
dinâmica não entroncou numa verdadeira prática científica, só possível através da associação
das especulações teóricas com a prática e a técnica. Desenvolvendo-se estas vertentes de construção
de saber em espaços não comunicantes, e através de agentes situados em distintos níveis de
cultura, e de saber, não cremos que se possa falar, na verdadeira acepção da palavra, de uma
verdadeira “ciência náutica” quando nos referimos à sabedoria que esteve na base dos descobrimentos
e da expansão marítima portuguesa.
Daqui decorre uma outra área de discussão: aquela que se prende com os efectivos
contributos desta sabedoria para a construção da chamada “revolução científica do século XVII”.
Sobre esta matéria as opiniões dividem-se, entre posições por vezes extremadas, sustentadas por
correntes e por personalidades que veiculam interpretações muito díspares quanto à associação
ou dissociação entre esses dois marcos do saber europeu dos séculos XVI e XVII.
2 Ver, sobre esta matéria, entre outros, ALBUQUERQUE, [1989]; Actas do Seminário A Ciência e os
Descobrimentos, Lisboa, 1996; Ciência Náutica e Técnicas de Navegação nos Séculos XV e XVI, 1988.
11 A R T E , T É C N I C A E C I Ê N C I A N Á U T I C A N O P O R T U G A L M O D E R N O
8 ALBUQUERQUE, [1989].
9 VASCONCELOS, 1942, p. 46.
13 A R T E , T É C N I C A E C I Ê N C I A N Á U T I C A N O P O R T U G A L M O D E R N O
10 Sobre a obra de Pedro Nunes, ver, entre outros, Pedro Nunes. 1502-1578; 2002 Pedro Nunes e Damião de Góis.
Dois rostos do Humanismo Português, 2002; Gazeta de Matemática, 2002.
14 A M É L I A P O L Ó N I A"
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3374.pdf
Um gramde abraço
Maria Benedita
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RE: Historiador brasileiro nega existência da Escola
Caríssima Maria Benedita,
Obrigado pelo texto, o qual será guardado no meu arquivo. É muito elucidativo e, para além de referir as fontes, remete para estudos de gente autorizada!
Um grande abraço,
Artur João
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