Família Colombo - Interpretações
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Família Colombo - Interpretações
Caros confrades,
Rendido à emulação de tantos tópicos abertos, decidi também abrir o *meu* tópico colombiano, de que esta mensagem é singela apresentação.
Porque, tal como Jaime Cortesão e ao contrário do que pretendem impor os defensores de ortodoxias oficiais e oficiosas, entendo que é preciso pensar livremente, vou tentar uma abordagem problematizante. Pouco recorrerei a documentos, que se encontram suficientemente divulgados mas que obviamente não ignorarei.
Como bem escreveu o prof. Pinheiro Marques, Realidade e Interpretação, História e Historiografia, não se podem separar. Tudo é interpretação. E, não sendo possível recriar o passado, interpretamos hoje sobre o que foi previamente interpretado e que, apenas por isso, recriou uma nova realidade ou modificou a preexistente.
Pensar livremente, ou problematizar historiograficamente, implica assim, sem ignorar anteriores interpretações, despi-las do que foi acrescentado, sugerido, hipotizado, enquadrado e, muitas vezes, apenas afirmado. Lugares comuns que me perdoarão.
Não é possível qualquer abordagem da família Colombo de Génova, sem previamente abordar a extraordinária personagem que foi o prof. Paolo Emilio Taviani. Mundialmente reconhecido como a maior autoridade sobre Colombo, autor sem comparação com qualquer outro e que conseguiu realizar como poucos a ambição humana de deixar uma obra que perdurará muito para além da sua própria morte.
Assim, a próxima mensagem deste tema terá como epígrafe Taviani - O personagem. Também ela não será uma biografia mas uma interpretação.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Família Colombo - Interpretações
Caro Fernando
A personagem Taviani foi importante, sim senhor, mas acerca de COlombo serve apenas como case-study da sociologia. Não o COlombo, mas o próprio Taviani.
Quero com isto dizer que o sr. Taviani, dotado de enorme inteligência e brilhantêz, foi também dotado de fraquezas de alma. Taviani tal como os outros italianos preferiram agarrar-se a COlombo do que ao império romano, a Miguel Ângelo, Leonardo e todos os brutais artistas renascentistas que de Veneza a Florença, Pádova, Milão, cidade do vaticano etc etc etc deixaram um rasto esplendoroso da capacidade artística do homem.
Jamais esquecerei os 20 minutos que fiquei embasbacado a admirar a uma certa distância a Pietá de Miguel Ângelo dentro da Basílica de S. Pedro.
COm gente desta no currículo da pátria para quê tanta coisa com o navegador Colombo? Eu não entendo.
Talvez por isso os franceses não percam muito tempo com um possível Colombo para eles. LEmbram-se bem de quem têm no panteão deles.Não precisam de nenhum COlombo.
MAS taviani não pensa assim. E vai daí serve como exemplo de homem elevadíssimo a quem a força patriótica o pode cegar. Não falo de toda a obra, currículo e vida política, falo sim do facto de a cegueira o ter levado a pôr os portugueses como ignorantes que aprenderam tudo com os tecelões de lá.
O factor patriótico foi mais forte. Pode pois a Itália sentir-se feliz pois é rica a nação que reúne um grande cérebro com fervor patriótico.
cpts
PM
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Taviani - O personagem
Caros confrades,
Paolo Emilio Taviani nasceu em Génova em 1912 e faleceu em Roma em 2001. Foi um estudante excepcional e além de Economia, licenciou-se nas áreas de Leis, Ciências Sociais e Filosofia.
Cedo chegou a professor na Faculdade de Economia da Universidade de Génova e mais cedo ainda se embrenhou na problemática Colombiana que havia sido reimpulsionada pelo nacionalismo fascista em 1931, tendo sido publicada uma colecção documental sob a égide do “Podestà” da cidade de Génova.
Na guerra foi oficial de artilharia(?) e chegou a capitão. Em 1943 deixa o exército e junta-se aos “partisans” que combateram a ocupação alemã no Norte de Itália. Foi da - suponho que única - organização resistente não comunista, conhecida por “Os Brancos”. Era católico e teve alguma actividade militante em Génova onde viria a interagir com o arcebispo, o célebre cardeal Siri, mais de uma vez “papabili”.
Como “partisan” o seu desempenho foi excepcional, recebeu a medalha de ouro da Resistência, foi o único civil que teve a honra de receber a rendição de uma divisão alemã e, regressado a Génova, liderou o levantamento em 25 de Abril de 1945 que libertou a cidade antes da chegada das tropas aliadas.
Terminada a guerra, sem nunca abandonar as actividades académicas e colombianas, iniciou uma carreira política na Democracia Cristã, de que chegou a ser secretário-geral por poucos meses. No governo, como ministro, começou por ter a responsabilidade do Comércio Externo, fez uma passagem pela Defesa - em que se afirmou como apoiante da NATO - mas passou para a pasta do Interior que ocupou por diversas vezes entre 1962 e 1974. Além do Comércio Externo em 1953, foi ministro do Tesouro em 1959-60 e vice-presidente do governo em 1969.
O ministério italiano do interior, à semelhança do nosso da Administração Interna, além das polícias, gere a distribuição de verbas regionais ou seja, com excepção da Defesa que se terá devido ao capital político adquirido na resistência, a actividade governativa de Taviani foi essencialmente no campo económico, aliás como também na sua vida académica, onde foi professor na Faculdade de Economia e onde os seus primeiros trabalhos sobre história foram exactamente sobre história económica genovesa.
Abandonadas as actividades governamentais em 1974, intensificou exponencialmente a “cruzada” colombiana. Entre 1974 e 1978 visitou todos os lugares onde Colombo terá estado nas suas quatro viagens. Viajando com passaporte diplomático italiano e tendo apoio das respectivas embaixadas, estabeleceu contactos com universidades e centros de cultura, recolhendo tudo o que existia sobre Colombo, divulgando a história dos Colombos genoveses, promovendo intercâmbios e gerindo a atribuição de bolsas, algumas em Génova. Para esta política dispôs de vastos recursos, desde logo da própria Universidade, da cidade de Génova que apoiou incondicionalmente o seu “Archivio”, de fundos de turismo em que se sabia movimentar pela passagem pelo Comércio externo mas, sobretudo, de fundos particulares de grandes empresas e de bancos, provavelmente geridos por antigos colegas de governo e de partido.
Se tentasse um ensaio de síntese sobre Taviani, nesta fase, começaria por defini-lo como um patriota; e um patriota para quem a primeira lealdade é a cidade que o viu nascer. Despertado para a figura de Colombo - em 1931 tinha 19 anos - dedicou-se a essa figura como forma de engrandecer a sua cidade e servir o seu país. Colombo foi para Taviani a sua maior realização mas também o seu melhor instrumento.
Que o patriotismo e o amor a Génova são os fios condutores da vida de Taviani, não se me oferece qualquer dúvida. Adere a uma iniciativa da “cultura oficial fascista” - nos anos iniciais do fascismo não existiam em Itália actividades neutras - combate pelo Eixo chegando a capitão mas em 1943 reequaciona o seu sentido de lealdade e novamente se empenha, designadamente regressando à sua cidade onde terá corrido não poucos riscos.
Mas não parece ter sido o típico herói, apaixonado, voluntarioso, precipitado, intempestivo. Pelo contrário, com os pés bem assentes na terra pela formação económica, tem muito de pragmático. Aliás, no seu percurso político foi sempre considerado um moderado e um promotor de consensos; é sintomática uma controversa decisão sua em que, invocando “razões de Estado” recusou-se a pressionar acusações contra militares alemães que haviam massacrado seis mil italianos na ilha grega de Cephalonia.
Estas excepcionais capacidades pessoais, foram postas ao serviço do Colombo genovês, engrandecedor da cidade de Génova e da República Italiana. Taviani prestou serviços relevantes e foi por isso reconhecido, tendo sido nomeado Senador vitalício pelo presidente Cossiga em 1971 e tem já um largo com o seu nome na cidade de Génova.
Como paladino do Colombo genovês, o seu desempenho foi também excepcional. Defendeu e propagou a família Colombo de Génova em todos os países e situações. Como pinceladas de um quadro de enormes dimensões, refiro apenas que também foi colaborador da Revista de Estudos Italianos em Portugal - que teve 3 ou 4 colaboradores portugueses, entre os quais o inevitável Dr. Graça Moura - e que nas Celebrações Colombianas, visitou também o Brasil em 1990, onde proferiu palestras e, acrescento eu como comentário, deixou escola.
Curiosa foi a sua actuação, também em 1990, na sequência da “bomba” jornalística de Ruggero Marino. A primeira reacção de Taviani foi de aceitação e logo escreve uma carta a uma não identificada “Excelência” que se presume um actual descendente do Papa, dando conta das diligências que já tinha providenciado e reconhecendo que Marino teria encontrado uma informação que a ele próprio havia escapado. Abro parênteses para relembrar que a hipótese de Marino foi pouco depois rejeitada pela comunidade científica italiana e lhe foi dado tratamento muito semelhante ao dado em Portugal a Mascarenhas Barreto e acrescento como mera curiosidade que o desacreditado livro de Marino foi recentemente editado em Portugal por uma editora que pertence ao Dr. Dias Loureiro “senador do PSD” e a Zita Seabra.
Mas o que quero acentuar é a natureza das providência tomadas por Taviani. Mandou efectuar um levantamento arquivístico de toda a documentação relativa à família Cibo - a família a que pertencia o Papa - e pediu ao Ministério dos Negócios Estrangeiros - como senador era o presidente da Comissão de Relações Externas - que oficiasse ao Vaticano para obter cópias de toda a documentação trocada com a Coroa Espanhola durante os anos que interessavam.
Uma última pincelada, demonstrativa do zelo, atenção e eficácia com que defendia a sua dama. Em dada altura um jornal de Roma, publicou uma reportagem sobre a hipótese maiorquina de Enseñat de Villalonga e logo no dia seguinte, no diário romano de maior expansão, sai uma entrevista com Taviani a rebater a referida hipótese e de que, por curiosidade, respigo o argumento que segue:
“Durante as celebrações colombianas de 1992, o nome e nascimento genovês de Cristoforo Colombo foram oficializadas pela Monarquia, o Governo e estudiosos espanhóis, pela Academia e o Governo português e, naturalmente, pelos estudiosos italianos.”
Mas a maior homenagem à indústria de Taviani, terá sido dos americanos Stephen E. Summerhill e John Alexander Williams, autores de um curioso livro com o título ‘Sinking Columbus’ literalmente, ‘Afundando Colombo’. O livro trata mais das comemorações do que de Colombo e, depois de arrasar o que se fez nas Américas e de afirmar que em Espanha “Balaguer não estava a comemorar Colombo mas [a comemorar] Joaquín Balaguer” afirma que só em Itália parece ter havido alguma semelhança de sucesso (any semblance of success) largamente devido a Paolo Emilio Taviani, proeminente político natural de Génova e infatigável angariador de fundos e [infatigável] viajante de um lugar Colombiano para outro.
A última grande realização de Taviani, foi uma longuíssima entrevista acompanhada de imagens, gravada em VHS e DVD para o que obteve o patrocínio da Caixa de Crédito de Génova - Cassa di Risparmio di Genova e Imperia - e que, está hoje distribuído gratuitamente em todas as escolas italianas, incluindo as escolas italianas nos Estados Unidos.
Alguns lembrar-se-ão de, numa mensagem muito polémica, eu ter afirmado que Taviani estava a roubar um património cultural que também era o meu. Referia-me à sua espantosa afirmação de que Colombo tinha sido o pioneiro da navegação de alto mar, desmistificando os pavores que vinham já da antiguidade e as falsas crenças dos portugueses que só navegavam à vista das costa de África.
Independentemente da verdade histórica, que tenderá a ficar circunscrita a uma ultra minoria muito culta, quase correndo o risco de se transformar em seita esotérica, o que será ensinada nas escolas do mundo e será divulgada em livros e revistas, é que os descobrimentos foram efectuados por genoveses e outros italianos ao serviço das coroas de Espanha e de Portugal. Escapará apenas Vasco da Gama, e este graças sobretudo a Toynbee.
Como atrás disse, a obra de Taviani projectou-se para até muitissimo depois da sua morte, provavelmente para sempre. Além do efeito do DVD, o espantoso Arquivo de Génova e o actual Centro de Estudos Paolo Emilio Taviani se encarregarão de o perpetuar.
Do Centro de Estudos é actualmente directora a prof. Gabriella Airaldi, de quem cito o seguinte texto:
« In quest’ottica, rivendicare la nazionalità di Colombo non significa solo affermare che “È nato a Genova!”, ma que apartiene a una cultura tipica del capoluogo ligure. Genovese in quanto navigatore, in quanto pionere nella navigazione (già nelle explorazioni delle coste atlantiche di Africa e Europa del nord i Genovesi avevano fatti scuola). »
Depois disto, a afirmação - também já divulgada - de que foi a cultura científica italiana, maxime de Toscanelli - que levada pelos genoveses, permitiu às coroas espanhola e portuguesa, navegarem no alto mar, é apenas o nó de laçada num sapato concebido e fabricado em Itália e já com a exportação assegurada para o resto do Mundo.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Família Colombo - Interpretações
Caro Pedro Marinho,
Aproveito para (não) responder a uma pergunta a propósito da "carta de naturaleza" de Don Diego Colón.
Embora o Rei fosse o mesmo, creio que Leão e Aragão-Catalunha não estavam unidos como Leão e Castela. É assim provável que catalães tivessem de se naturalizar mas, de facto, não sei e até tenho pena que o tal "centenar" ou mais de cartas existentes em Simancas não estejam publicadas e acessíveis porque, para além dos genoveses "et pour cause" gostaria de saber o que por lá há de portugueses naturalizados castelhanos.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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Taviani - Uma desconstrução
Caros confrades,
Sendo Taviani o maior historiador dos Colombos genoveses, não é possível qualquer abordagem a esses Colombos ignorando Taviani. Mas sendo Taviani um historiador não isento, na realidade mais um missionário do que um historiador, haverá que proceder a um rigoroso escrutínio das suas afirmações, destrinçando o que diz o documento do que é hipótese e do que não passa de sugestão. E tanto mais quanto Taviani é um mestre da sugestão.
Recorrendo a exemplos simples e já transcritos nestes tópicos, vejamos como procede.
No primeiro caso, discutindo Menéndez-Pidal e Consuelo Varela diz o seguinte:
“Their findings are often contrasting: however, in our opinion an overall judgement can be attempted. Christopher Columbus's language is Castilian punctuated by noteworthy and frequent Lusitanian, Italian, and Genoese influences and elements."
Um leitor incauto, conclui deste texto que ambos, Varela e Pidal aceitam que a lingua base de C.C. é o castelhano mas que divergem, ou contrastam, nos elementos externos que pontuam esse castelhano. Taviani, face a essa divergência, propõe uma síntese: será o castelhano pontuado por evidentes e frequentes influências e elementos Lusitanos, Italianos e Genoveses.
Ora este texto, escrito ou traduzido em língua inglesa, vai ser consumido por americanos ou ítalo-americanos que assim adquirem a noção de paridade entre os elementos e influências; aliás, apesar de não elencados na primeira posição, ‘Italianos’ MAIS ‘Genoveses’ até aparentam ser MAIS do que os ‘Lusitanos’.
Como se sabe, a centenas de lusismos bem identificados, correspondem poucas dezenas de termos que PODERÃO também ser comuns a outra línguas ou PODERÃO ser meros erros ortográficos; como evidente, o maior número de possíveis correspondências são do galego e do catalão, aparecendo as possivelmente italianas ou genovesas em quantidade negligenciável. De facto, de italiano, apenas relevam os dois estropiados textos já divulgados e que apenas servem para destruir a hipótese de C.C. nunca escrever em italiano para não revelar as suas origens; de facto, em duas ocasiões, C.C. tentou escrever em italiano e mostrou que não era capaz.
Mas Menéndez-Pidal e Consuelo Varela, como já transcrito por Manuel Rosa, disseram respectivamente:
“... los extensísimos escritos españoles de Colón; las confusiones se producen introduciendo formas y voces portuguesas, no italianas....”
“En su castellano se encuentran portuguesismos claros: hasta un deter ‘detener’ en la relación del tercer viaje. A su vez, cuando escribe el italiano no deja de incurrir en groseras faltas que revelan que no era este el idioma en el que redactaba normalmente.”
Poderemos assim chamar mentiroso a Taviani?
Pois não só não podemos como incorreríamos nos tais 800ºs e seguintes do CP porque Taviani apenas diz que os seus [deles, Pidal e Varela] achados são divergentes e que “em sua opinião, poder-se-ia tentar” uma conclusão abrangente.
Ora ninguém pode negar que Pidal e Varela têm divergências; nem ninguém incorre em falta por expimir a opinião de que seria possível “uma tentativa”.
A mestria da técnica, reside exactamente em chamar à colação Menéndez-Pidal e Consuelo Varela pois se Taviani apenas afirmasse que em sua opinião, C.C. escrevia com influêcia Lusitanas, Italianas e Genovesas é obvio que o impacto seria pequeno; mas a “sugestão” - nunca afirmada preto no branco - de que estaria a utilizar “achados” de outros e a integrá-los numa síntese, tem uma força muitíssimo maior.
Num segundo exemplo, diz Taviani:
“The extraordinary novelty of Columbus's prodigious plan is that it demolished two great superstitions, one inherited from the Middle Ages, the other kept alive by the Portuguese discoverers hugging the African coastline and avoiding the open sea.”
Esta espantosa asserção, surge na sequência de C.C. ter sido apontado como o primeiro que se aventurou no alto mar e, também aí, Taviani recorrera à autoridade de terceiros, retirando apenas uma palavrinha: Castilla. Pois, de facto, embora em Castela pudesse talvez existir o conhecimento científico que permitiria a navegação no alto mar, esse conhecimento estaria circunscrito a meios académicos, possivelmente apenas da Universidade de Salamanca. Assim, um espanhol, falando de Castela, poderia com toda a propriedade dizer que C.C. fôra o primeiro a aventurar-se no alto mar.
A mestria de Taviani revela-se na referência aos Portugueses a bordejar a Costa de África e, para um leitor desprevenido, uma afirmação apenas válida para Castela é entendida como universalmente válida.
Passando agora ao terceiro exemplo:
“... The theory that the Portuguese were the first to face the 'aventura do mar alto' and 'navegação celocientifica' contains large amounts of exaggeration. It was sustained by João de Barros, but ridiculed by many others. ..."
Aqui a sugestão é magistralmente utilizada.
Logo de início, o impacto de se referir a “uma teoria” que contém “vastas quantidades de exagero” fixa logo o que se vai discutir: uma mera teoria.
Depois, a teoria foi defendida por João de Barros, mas ridicularizada por muitos outros. Repare-se nos dois pormenores:
- Por um lado, João de Barros; pelo outro, muitos outros.
- E a teoria não foi apenas contraditada, foi mesmo ridicularizada; ou seja, uma fraca teoria!
Mas o toque de excelência são as frases em português. Para um leitor incauto, são assim colocadas duas mensagens subliminares:
- Taviani domina o português e estudou autores portugueses;
- E, logicamente, serão também portugueses os tais muitos outros que ridicularizaram a teoria de João de Barros.
Nada está afirmado mas as mensagens estão lá. E o efeito em americanos ou ítalo-americanos e não só, assegurado.
Após esta “desconstrução” apenas faltam algumas considerações sobre documentos para, com as águas mais clarificadas, interpretar os Colombos de Génova, seguindo Taviani.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Taviani - O personagem
Começa assim a segunda parte da deturpaçâo da história, com o beneplacio de alguns Drs portuguesinhos, que olham para o bolso e deixam andar...
Foram 500 anos e vamos para outros 500 mais, agora tiram a pouca identidade, culturalmente falando, genuinamente portuguesa: Os descobrimentos e o aperfeiçoamento da arte de navegar.
Vamos, há que descobrir um Taviani português, ainda que nào seja no interior da selva amazónica. Mas è urgente.
Já quando foi o 500 aniversário de Carlos V, lá vi ao presidente português a render homenagem ao tal monarca, como simbolo da construçâo europeia (?), numa festa nacionalista espanholista... E por cá? nada, è que nâo há nada para comemorar... ê que, continuamos orgulhosamente sós. Para que queremos engrandecer mais a nossa gente, a nossa história, se nós orgulhosamente sós, a conhecemos....
Cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: Taviani - Uma desconstrução
Entretanto já vi por aí alguma obra desmitificando e desmentindo a Taviani. Parece ser que há uma o bra circulando em 4 idiomas criticando ponto por ponto a este pseudo cientifico...
Aqui neste forum já vi alguns exemplos bem palpantes de gente que está dentro desta feroz aupada critica das descobertas tavianistas...
Cumprimentos,
Fernando de Telde
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Documentos colombianos
Caros confrades,
Aperfeiçoando anterior opinião, classificaria a documentação colombiana em quatro categorias:
1. Os que apenas respeitavam à vida do Almirante, os mais numerosos;
2. Os que apenas respeitavam aos Colombos genoveses e tecelões, para mim surpreendemente numerosos;
3. Os que relacionam alguns Colombos de Génova com o Almirante, os seus locais ou a sua família: quatro ou talvez cinco, sendo então um parte de outro.
4. Os que ligavam o Cristoforo Colombo de Génova ao Almirante: apenas dois. Ou, melhor, um e meio!
Deveria ainda haver uma quinta categoria, que seriam os que respeitavam aos oito - ou onze segundo Rumeu de Armas! - preenchidíssimos anos de Cristoforo Colombo em Portugal mas nessa categoria, como é consabido, não há documento nenhum!
Os elencados em 1. e 2. serão aqui, despiciendos, pelo que começo pelos elencados em 3.
Todos levantam problemas, pelo que, nesta instância, terão de ser classificados como artigos de fé. Quem já está convencido da tese genovista aceita-os pelo seu valor facial, quem está convencido do contrário rejeita-os pelas incoerências ou, como prefere o P.R. do “excelente blogue” pelas dificuldades de exegese crítica.
Sem querer entrar em detalhes e de memória - devem estar algures no “site” do Coelho - apenas os refiro por alto.
Um é uma escritura de 2 ou 3 anos depois primeira viagem em que três irmãos Colombo, um com o inacreditável nome de Amigheto se comprometem a pagar em partes iguais a viagem de um deles que vai visitar o Almirante. Referem um quarto irmão morto chamado António e são de Quinto.
Para lá do insólito de tal contrato notarial, não há referência ao motivo da viagem e o Almirante, não se percebe porquê, não é Colombo nem Colón mas Columbus (porque não vi nenhum fac-simile pode ser disparate do editor ou um embelezamento para consumo americano).
Em Quinto, viveram Domenico, pai de Cristoforo e o seu irmão mais velho, de nome Antonio mas não eram originariamente de lá pelo que não existiriam outros familiares a não ser remotos. Assim estes quatro seriam, por melhor hipótese filhos de António e primos direitos do Almirante. Mas em tempo algum ou em algum dos mais de cem documentos dos Colombo se faz referência a esta gente ou qualquer notícia que os relacione; isto apesar do presumível pai, segundo Taviani, se documentar em nove actos.
Por outro lado, nenhum deles terá deixado descendência pois não aparece nenhuma referência a Quinto nos pretendentes genoveses à sucessão Verágua.
Outro nasce de um processo movido contra os herdeiros de Domenico pai e que seriam os três irmãos Cristoforo, Bartolomei e Giacomo. O processo seria uma cobrança de dívida relativa a dois terrenos em Legino.
Em Legino, tinha Domenico adquirido uma casa com terreno e que depois alugou ainda anos antes da data em que poderá ter morrido. Ora, não tendo havido escritura de venda dessa casa com terreno e havendo ainda mais dois terrenos por pagar parece que haveriam bens para executar antes de ir à procura de herdeiros ausentes.
[Já estou a ver a confrade Maria Benedita a arguir com o 830º do CC]
Além de que Domenico alugara a casa de Legino em 1491 ou seja, o processo é posto 10 anos depois de Domenico sair de Legino e, pelo menos, mais de um ano depois da última data possível da sua morte (entre 1493 e 1500).
Mas o mais estranho é que Bianchinetta, a filha que vivia em Génova e em cuja casa vivera o pai até morrer e que logicamente teria continuado a receber as rendas de Legino pois todos os irmãos já estariam para as Espanhas, não fosse chamada à demanda. Mais uma morta sem notícia nem descendência?
Outros dois são actos, um dos quais creio que relacionado com o processo anterior e o outro não se percebe bem mas até poderá ser um “aperfeiçoamento” do anterior. Em ambos é testemunhado que se sabe que os demandados herdeiros já não viviam em Savona nem em Génova e estariam para lá de Pisa e Nice. No último um grupo de cidadãos de Génova declara que estarão para lá de Pisa e Nice, para as Espanhas, ou equivalente já não recordo exactamente. Também a filha, que se tivesse morrido seria há muito pouco tempo que, por si ou pelos seus herdeiros estaria na posse da casa de Legino, não é referida pelos cidadãos de Génova. Posto e cargos do Almirante, não são mencionados.
O último é um Savonês que vai ao notário para que seu sogro o substitua como procurador de Don Diego irmão do Almirante, isto por 1515. Taviani considera este acto importantíssimo por demonstrar que nove anos depois da morte do Almirante perduravam relações económicas com habitantes da terra em que também vivera.
É curioso que tendo supostamente Don Diego trabalhado como aprendiz já em Génova, e aí conhecido como Giacomo, seja em Savona onde só poderá ter estado ainda menino e depois apenas ocasionalmente, que tenha mantido as tais relações e que não se mencione que o Diego mandante, era o mesmo que antes se chamava Giacomo. E igualmente curioso que o documento, que hoje poderia ser um substabelecimento, não identifique a procuração original; e, escusado seria dizer, em Espanha e do que se sabe e ficou de Don Diego, nada se encontrou que possa justificar tais *negócios* Savoneses.
São, como disse artigos de fé mas, dois a dois, nem são compatíveis entre si pois se dois referem o Almirante, dos outros dois um apenas sabe que os irmãos não residem até “Nice e Pisa” e o outro lá os coloca nas bandas de Espanha.
Ora, se em Savona e Quinto se saberia muito bem quem era o Almirante, cabe na cabeça de alguém que tal fosse ignorado em Legino e Génova?
Claro que os documentos constavam das “raccolta” embora eu não saiba se “descubertos” em 1892 em 1931 ou em 1991 mas é apenas mais uma demonstração da mestria de Taviani, conseguir referi-los a todos de uma forma que um leitor mediano não se aperceba imediatamente das contradições, digo, das dificuldades de exegese crítica (acho que ficarei o resto da vida agradecido ao P.R. do “excelente blogue”).
Finalmente os elencados em 4.
O primeiro é - ou era - o testamento de 1497/1498 provadamente falso e posterior em mais de 70 anos. Nele o supostamente Almirante dizia ter nascido em Génova mas, porque já se sabe que não foi ele a dizê-lo, esfumou-se como documento.
O segundo é o documento Assereto mas é só “meio” documento, isto é, mesmo que por hipótese não fosse falsificado, apenas provava que Cristoforo Colombo, genovês, estivera em Lisboa, viajara para a Madeira em representação de um mercador genovês, aí negociara uma aquisição de acúcar que acompanhara a Génova, de onde iria regressar no dia seguinte a Lisboa.
Ou seja, estabelece uma ligação de Cristoforo Colombo à Madeira e a Lisboa e, indirectamente a mercadores e financiadores genoveses. De resto mais nada. Nem conhecimentos de castelhano e de latim, nem conhecimentos de navegação - o barco tinha capitão - ou preocupação em, por exemplo, encontrar-se com os discípulos de Toscanelli ou outros representantes da “pléiade de conhecimentos genoveses”; apenas a preocupação de embarcar para Lisboa “ por la mañana, mañana” [o mexicanismo, perdão, o castelhanismo é meu].
Além das peculariedades intrínsecas ao negócio, em que um dos dois principais interessados falha o envio de fundos fazendo-o gorar, também não se percebe porque iria Cristoforo Colombo acompanhar tão pequena quantidade de açúcar até Génova quando em Lisboa é que estava o seu mandatário e, pelo que se viu, o interesse pessoal dele era embarcar para Lisboa. Demos de barato que estaria com saudades da família. Seu pai estaria a viver em Legino, portanto perto. Por aí tudo bem. Mas eu arriscaria uma hipótese mais interessante:
Cristoforo tinha sido processado e o pai preso na sequência de um negócio de vinho com um tal Girolamo del Porto e, a acreditar nos documentos columbianos a dívida não tinha sido integralmente paga. Assim seria possível que Cristoforo, um jovem honesto, tivesse feito toda essa inútil viagem apenas para falar ao Girolamo e dizer-lhe que, agora não tinha dinheiro, mas quando fosse Almirante prometia incluir um codicilo no seu testamento para assegurar o pagamento a ele ou aos herdeiros.
(Vai entre parêntesis, por pudor, a afirmação de, entre outros, Mascarenhas Barreto que notariais e codicilos são tudo falsificações!).
Mas, de facto, as datas também não ajudam. Passa-se isto em 1479. C.C. parte para Castela em 1484 ou l485 e o filho Diogo já não é bébé mas é muito novo. Por outro lado, conheceu Filipa em Lisboa mas foi viver para Porto Santo depois de casado. Já teria casado e deixara Filipa em Porto Santo enquanto se incumbia de negócios em Lisboa, foi a Génova testemunhar e regressou a Lisboa? Ou estaria de casamento marcado em Lisboa mas foi fazer a despedida de solteiro a Génova? Ou ainda, não quiz prescindir da benção paterna, porquanto ia casar com uma estrangeira e, segundo a “nova estrela do esplêndido blogue”, serviçal num convento?
Como já referi, o documento foi descoberto por Ugo Assereto - estudioso que desapareceu tão depressa como apareceu - em 1904, cosido a um processo para o qual não havia evidência de ter sido considerado, não havia termo de juntada ou outra referência e não havia sido feita renumeração de páginas.
Foi escrito em três diferentes caligrafias - o que foi “explicado” por o notário poder ter três escrivãos e, na parte que interessa, começa por uma pergunta do notário a Cristoforo Colombo “se ia viajar” ao que ele responde que no dia seguinte de manhã embarcaria para Lisboa.
Seguidamente, Cristoforo Colombo declara ser de mais ou menos “vel circa” vinte e sete anos de idade, o que também tem sido explicado por poder querer dizer que ia para os 27 ou ainda não tinha 28 e que as pessoas, nessa época não tinham a noção da idade exacta. Eu apenas comento que as pessoas nessa época não escreviam em latim e castelhano, com bons conhecimentos de português e alguns de grego e hebreu para não falar na parte científica. Claro que, para os crentes - ou crédulos, tanto faz - podia ter adquirido todos esses conhecimentos apenas nos 6 anos seguintes mas, se não tinha aos vinte e sete conhecimento da idade exacta, nenhum professor o ensinaria depois sobre essa matéria e, para aceitarmos o documento Assereto, lá teremos que desvalorizar os apontamentos escritos pelo punho do Almirante. Ou, segundo o tal Ockham - que só é invocado quando convém - que se tratava de duas pessoas diferentes.
Mas, repito, mesmo aceitando o Assereto, não há documento NENHUM que ligue o Cristoforo Colombo de Génova ao Almirante Don Cristóbal Colón.
Há, é claro, testemunhos; declarações de terceiros, a começar por João de Barros, repetido por Damião de Góis. Valem o que valem e também não é essa a discussão em que quero aqui entrar.
O que pretendo frisar é que:
- mais centenas de documentos sobre o Almirante;
- mais dezenas sobre os Colombos de Génova;
- ou mais dúzia e meia de testemunhos;
- ou mais milhares de aderentes à tese genovista, ...
... em NADA alteram o “status quo”: prova documental, NENHUMA!
Mas também considero que as teses não genovesas e mesmo as genovesas não purista não têm já pernas para ir mais longe. Só documentos novos e, como diz Manuel Rosa, análises de ADN ou uma descoberta relacionada com o casamento de Filipa Moniz poderão alterar quinhentos anos de inércia. Aí, Portugal está melhor colocado do que muitos pois, o ADN ainda por cá não andou; nem se fez nada de semelhante ao esforço de pesquisa documental de Génova, Catalunha e mesmo Galiza, de onde já não será de esperar nada de novo a não ser mais Asseretos.
Onde me separo de Manuel Rosa é nas consequências de, por hipótese, uma análise de ADN que venha a ligar o Almirante a Portugal. Aí Manuel Rosa vai ter a desilusão da sua vida.
As pessoas estão já tão habituadas ao sapato italiano que não quererão sair à rua sem ele. Poderão tirá-lo no conforto de suas casas, no recato de tertúlias seleccionadas mas na rua, o mundo continuará a calçar italiano. E os Albuquerques e Coelhos deste país, a apregoar razão - o primeiro trasladando, o segundo em bicos dos pés - enquanto as Beneditas irão remetendo e repetindo que nada transitou em julgado.
Experiência de genealogista ...
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Documentos colombianos
Caro Fernando Aguiar,
será a segunda vez que o faço neste forum, e ambas em relação a escritos seus; novamente sem querer entrar no rodopio de mensagens apoiando qualquer tirada mais eloquente, mas que logo de seguida vai sendo espremida até não dar nada, saliento a excelente elaboração e conteúdo do seu texto.
Mas olhe que o calçado italiano vai ficando apertado para alguns pés: já lhes doem os calos.
cumprimentos
Carlos Calado
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RE: Documentos colombianos
Caro Fernando Aguiar
Que provas é que tem para dizer que Filipa depois de casada foi viver para a Madeira? Não me diga que já naquela altura os noivos íam passar a lua-de-mel á Madeira? Isso são tudo tretas!!!
Filipa casou em Lisboa, saíu do Convento e foi morar para um Palácio, que era património de seu marido, esse mesmo palácio foi depois doado a seu tio e tutor Diogo Gil Moniz.
Não vá "nessa" da Madeira e de Genova, que isso tudo são tretas, inventadas intencionalmente para afastarem Colombo de Portugal, e por pouco quase o conseguiam!!!
Cumprimentos
Zé Maria
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RE: Docs. colomb. - Errata
Caros confrades,
- "Por outro lado, nenhum deles terá deixado descendência pois não aparece nenhuma referência a Quinto nos pretendentes genoveses à sucessão Verágua."
Faltou a palavra varonil. "... descendência varonil ...".
- "peculariedades" seriam peculiaridades.
- "Além de que Domenico alugara a casa de Legino em 1491 ou seja, o processo é posto 10 anos depois de Domenico sair de Legino e, pelo menos, mais de um ano depois da última data possível da sua morte (entre 1493 e 1500)."
Domenico alugara a casa de Legino em 1481 e, portanto o processo fôra posta 20 anos depois.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Documentos colombianos
Caro Zé Maria,
Eu, até ver, não vou nessa, ... nem em nenhuma outra.
E, desculpe-me a falta de fé, não espero em dias de minha vida ver esta questão satisfatoriamente resolvida.
Mas, claro que não tenho nenhuma prova de que após o casamento C.C. tenha ido para a Madeira. Apenas a versão tradicional diz que o casal estabeleceu residência em Porto Santo e especula que aí C.C. aí terá tido acesso aos mapas e cartas que foram do sogro. Deixando essa do espólio do sogro que até está bem tratada no livro do Manuel Rosa, eu limitei-me a mostrar uma incongruência entre a residência do casal em Porto Santo e as andanças que o Assereto dá ao noivo.
Mas, nunca tendo pessoalmente investigado nada neste campo, até será possível, como noutros casos, que seja precisamente ao contrário. Isto é, para justificar o pretenso facto da sogra lhe ter dado o espólio do falecido marido, lhe tenham atribuído a residência em Porto Santo.
Mas muito me alegram as suas notícias. É que, não sei porquê, a figura da misteriosa Filipa que - segundo pelo menos um - foi assassinada e deitada borda fora pelo marido numa viagem, sempre me foi simpática.
Saber que foi promovida de serviçal em Santos a senhora de Palácio, é agradável à minha sensibilidade.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Documentos colombianos
Caro Fernando Aguiar
O que é que Colombo já tinha feito acerca de navegações? Nada, simplesmente nada!!!
Que posses teria um paupérrimo Colombo, para casar em Lisboa e pôr casa na Madeira a sua mulher Filipa que vivera internada (num hotel de luxo para aquela época) como comendadeira que teria até vinte serviçais. O que é que eles íam para lá fazer? Íam ver pastar os coelhinhos?
Ser donatário de Porto Santo não implicava que a família do donatário lá vivesse, e muito menos quando esse donatário já havia falecido. A família de Filipa encontrava-se em Lisboa e vivia num Palácio. Talvez alguma vez, Filipa tenha estado na Madeira, a não ser que o "marido" em viagem de núpcias lá a tenha levado a mostrar-lhe "a minha Ilha da Madeira", (era assim mesmo que ele gostava chamar).
Cumprimentos
Zé Maria
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Origem humilde e mecânica de Colombo: actualização
Caro Sr. Carlos Calado,
na sequência das suas observações sobre a ausência de mulheres europeias no Española antes de 1498, enviei uma nova nota para o meu texto publicado no blog Pseudo-História Colombina, na qual transcrevo um parágrafo de Consuelo Varela sobre esse assunto. Trata-se do parágrafo que já lhe dei a conhecer via forum e que tivemos oportunidade de analisar.
Aproveitando a oportunidade, acrescentei mais algumas breves considerações baseadas em Rumeu de Armas.
Deixo-lhe em anexo o texto tal como está actualmente no citado blog.
Cumprimentos,
Coelho
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A origem humilde e mecânica de Cristóvão Colombo e a investigação de Bobadilla (1500)
«Coelho» enviou-nos o texto que em baixo publicamos.
Registou-se, por ocasião da comemoração do centenário da morte de Cristóvão Colombo (1506-2006), um renovado interesse nesta figura histórica e nas múltiplas e delirantes teorias sobre a sua origem. A teoria geralmente aceite sobre Cristóvão Colombo aponta para o seu nascimento em Génova, por volta de 1451, de uma plebeia família de tecelões. Por seu lado, as fantasiosas teorias do "Colombo português" foram recentemente "reforçadas" com pelo menos mais dois livros. Os defensores do "Colombo português" acham que todo o percurso do almirante demonstra que ele seria necessariamente de origem nobre e muito provavelmente de sangue real.
Quanto à origem genovesa, os testemunhos coevos existentes (documentos oficiais, cartas e crónicas) e os próprios testemunhos do filho Fernando (1539; 1571) demonstram-na amplamente. A discussão desse ponto é estéril, excepto se aparecerem fortíssimas provas noutro sentido.
Se os documentos notariais genoveses que identificam o Cristoforo Colombo, filho de Domenico Colombo, com o almirante são autênticos, então não há a mínima dúvida que ele era de família de laneiros e tecelões, pois é essa actividade que esses documentos amplamente documentam. Seria portanto de uma família plebeia, mas o grande número de documentos relativos a essa família (cerca de 100) mostra que era gente activa e empreendedora, muito provavelmente gente da "pequena classe média". Nos notariais genoveses, Domenico aparece como tecedor de panos de lã, laneiro e taberneiro. Entre 1470 e 1473, o filho Cristoforo aparece também como laneiro. A palavra ‘laneiro’ designava um traficante de lã ou mercador, ocupação que, no caso do Cristoforo, Rumeu de Armas enquadra no trânsito mercantil de importação de lã de Lisboa e outras cidades peninsulares para Génova. Rumeu de Armas, estudando as ligações de “Cristobal Colón” a Portugal, mostra como a informação sobre o almirante é totalmente compatível com a informação relativa a Cristoforo Colombo, filho de Domenico, dada nos notariais genoveses (1).
Para os que negam a identificação do Chistoforo Colombo dos notariais genoveses com o Almirante, ou negam a autenticidade dos documentos genoveses que fazem essa identificação, sobram ainda vários testemunhos sobre a ocupação e estatuto social da família do Almirante. São de há muito conhecidos os testemunhos de três cronistas: Gallo (1499), Senarega (1514) e Giustiniani (1516; 1537).
Gallo registou por volta de 1499 nos seus Commentarii que Colombo tinha nascido em Génova de pais laneiros, e que ele e os irmãos eram cardadores. Esses escritos, no entanto, só seriam publicados no século XVIII. O testemunho de Senarega, que praticamente copia Gallo, também só muito mais tarde seria publicado. A primeira publicação do facto deve-se a Agostino Giustiniani, primeiro em 1516, e novamente em 1537. Na segunda publicação, Giustiniani refere não só a origem humilde mas também o meio de vida (tecelagem), citando Gallo como fonte sobre essa informação.
É verdade que, se colocarmos de lado os documentos notariais genoveses, a atestação documental relativa à origem mecânica de Cristóvão Colombo é bastante mais reduzida do que a atestação documental da sua origem genovesa.
No entanto, é também verdade que a origem humilde é assumida pelo próprio Cristóvão Colombo (ele por várias vezes afirma ter sido um "pobre estrangeiro" enobrecido com muitas mercês pelos reis católicos). Por seu lado, o filho Fernando, que procurou parentes ilustres em Itália (e apenas em Itália!), não os encontrou. O mesmo Fernando, comentando Giustiniani, não contesta a origem humilde por este referida, insurgindo-se apenas contra a suposta origem mecânica (artesãos).
No entanto, é uma verdade de Lapalice que "ser de Génova" não implica "ser tecelão". Esta "implicação negada" tem suscitado confusões em mentes menos dadas à lógica. Ora, quem afirma que
"Ser de Génova não implica ser tecelão"
não está automaticamente a excluir
"Ser de Génova e ser tecelão"!
No estado actual dos conhecimentos, o senso comum e o princípio de Occam levam a aceitar que Cristóvão Colombo, não só era de Génova, como seria concretamente de uma família laneira dessa cidade.
A discussão sobre a origem plebeia e mecânica de Cristóvão Colombo foi enriquecida recentemente com a publicação da investigação de Bobadilla (1500), que conduziria à destituição do almirante. No âmbito dessa investigação foram interrogadas 22 testemunhas, a maior parte das quais são bem conhecidos através de outras fontes da época. Segundo três das testemunhas (Juan de Salaya, Rodrigo Pérez e Francisco de Sesé), uma ou duas mulheres (2) foram severamente castigadas por afirmarem que Colombo era "de baxa suerte" e "de linaje de texedores".
De notar que uma das testemunhas (precisamente o lugar-tenente Rodrigo Pérez) afirmou que esse episódio se havia passado 5 anos antes, ou seja por volta de 1495-1496. Mas, por outro lado, Gallo escreveu em 1499, portanto antes de Bobadilla começar as suas investigações. Ou seja, temos a mesma informação a circular, documentadamente e de forma independente, em ambos os lados do Atlântico desde 1495-1499.
-- Coelho
Anexo A - Transcrição dos testemunhos relevantes da investigação de Bobadilla (3)
«II testigo. Francisco de Sesé […] Yten, dize que mando açotar una muger ençima de un asno desnuda en cueros en la Ysabela, y la açotaron porque dixo que estava preñada e no se halló la preñez verdad; e a otra dixo mal del Almirante e de sus hermanos, le cortaron la lengua, e el mal que avía dicho fue que su padre, del Almirante, avía sydo texedor e sus hermanos ofiçiales.» (interrogatório, fl. 13v, p. 186)
«V testigo. Rodrigo Mançorro [...] Yten, dize que en la Ysabela el Adelantado tomó presa por su mano una muger que se dezía Teresa de Vaeça e le mandó dar tormento él y Rodrigo Pérez syn aver testigo ninguno. E que fue porque el Adelantado tenía que fazer con una muger casada, la qual avía tenido que fazer con otro en casa de la dicha Teresa, e dixo que por alcahueta meresçía la dicha Teresa la dicha pena, e le dieron çient azotes e cortaron la lengua a la dicha Teresa porque havía dicho que era preñada e no se falló ser verdad; quando la açotaron, fue a pied desnuda. E que lo sabe porque lo vio e quie pasó todo este ante Rodrigo Pérez, e cree que no uvo proçeso e que, sy lo avía, que el dicho Rodrigo Pérez lo ternía.» (interrogatório, fl. 16, p. 190)
«VIII testigo. Juan de Salaya [...] Yten, dize que el Adelantado, andando de noche azechando por las casas, [e] que oyó dezir a dos mugeres, que la una se dezía Teresa de Baeça e la otra Ynés de Malaver, que el Almirante e el Adelantado heran de baxa suerte e que don Diego, su hermano, aprendyó texedor de seda, e que por ésto les mandó cortar las lenguas e açotallas, e que lo sabe porque lo vió.» (interrogatório, fl. 19/19v, p. 196)
«XVI testigo. Rodrigo Pérez [...] Yten, dize que podía aver çinco años que acaezçió que porque una muger, que se dize Teresa de Baeça, e otra Ynés de Malaver dixeron que el Almirante e sus hermanos heran de linaje de texedores, que Moflín avía enseñado a texer a don Diego, les cortaron las lenguas; e quando lo supo el Almirante escribió una carta al Adelantado, que leyó este testigo, que en una parte della dezía: "Eso que aveys fecho está bien, que quienquiera que dize mal de nos muerte meresçe, e asy es el derecho".» (interrogatório, fl. 23v, p. 203) (4)
Anexo B - Análise recente de Consuelo Varela (5)
«Por força dos rumores, as declarações das nossas testemunhas misturam factos sem se importarem demasiado com os motivos. Por exemplo, Salaya declarou que D. Bartolomeu mandou açoitar Inés de Malaver e cortar a língua a Teresa de Baeza porque as ouvira dizer que os Colombo não só eram de baixa condição, como que D. Diogo tinha sido tecelão antes de chegar a Castela e que, para mais, tinha sido um mouro quem lhe havia ensinado o ofício. Outra versão nos deixou Manzorro, que declarou que D. Bartolomeu tinha mandado cortar a língua a Teresa porque em sua casa uma das amantes do adelantado, que, para cúmulo, era casada, tinha tido relações com outros homens. Dirigia Teresa um prostíbulo? Sabemos agora que o pobre marido se chamava Pedro Daza.
Quanto o almirante soube do castigo recebido pela alcoviteira, escreveu uma carta ao seu irmão, a que uma das testemunhas teve acesso, em que lhe dizia a certa altura: "Eso que aveys fecho está bien, quequiera que dize mal de nos muerte meresçe, e asy es el derecho". D. Cristóvão, para que todos soubessem do seu parecer e para atemorizar quem lançasse esse tipo de boatos que o desacreditavam, não teve dúvidas em mostrar a carta a Rodrigo Pérez. Bem sabia o almirante que Pérez, um intriguista do pior, anunciaria aos quatro ventos o castigo que esperava quem se atrevesse a anunciar notícias contrárias aos Colombo.
Aos Colombo, aquela acusação resultou-lhes particularmente inquietante. Senão vejamos. Em 1516, o cronista genovês Agostino Giustiniani, bispo de Nebbio, publicava o seu Psalterio Poliglota, um livro de salmos escrito em latim, grego, hebreu, árabe e caldeu. Numa glosa a um salmo em que se fazia menção às ilhas do oceano, o bispo escreveu:
"Christophorus Cognomento Columbus, patria Genuensis, vilibus ortus parentibus",
quer dizer,
"Cristóbal, de apelido Colombo[, natural de Génova], nascido de pais de baixa condição".
Alguns anos mais tarde, nas suas Castigatissimi Annali con la lora copiosa tavola della Eccelsa et Illustrissima Repub. di Genova, publicada em Génova em 1537, voltou a copiar aquela mesma frase acrecentando uma nota em que esclarecia que D. Cristóvão tinha nascido
"di parenti plebei, come il pare fussi testore de panni di lana et lui fussi textore di seta".
Os Colombo eram afinal, mais de que "de clase baja", uns plebeus que trabalhavam nas artes manuais: o pai fora tecelão de lã! e o filho, o futuro D. Cristóvão, tinha feito a família subir um degrau, pois tinha chegado a ser, antes de almirante, tecelã de ceda. Um insulto que Fernando Colombo não deixou de assinalar na biografia do seu pai. Indignado com Giustiniani, o filho comentou:
"Aunque los padres del almirante hubiesen sido personas viles, era cosa más honesta que él hablase de su origen com aquellas palavras que otros autores en tal caso usan, diciendo nacido en lugar humilde, o de padres pobres, que poner palavras injuriosas, como el las puso en el dicho Psalterio, repitiéndolas después en su Cronica, llamandole falsamente artesano".
Por precaução, Fernando dedicou-se se seguida a procurar outros erros do cronista genovês. Encontrou doze, a que acrescentou um décimo terceiro para mostrar como o bispo era falsário. Os treze eram, apesar de tudo, de menos importância: pequenas questões que indicavam a pouquíssima informação do bispo acerca do Novo Mundo e das suas circunstâncias. Se o cronista não era de fiar em questões de actualidade, pouco crédito se lhe deveria dar em outras que se referiam ao passado.
Tão falsária se revelou ser a crónica que, de acordo com Fernando, a senhoria de Génova mandou apreender os exemplares e castigar com uma pena pecuniária quem ousasse possuir um nas prateleiras da sua biblioteca. É claro que deve tratar-se de uma invenção do filho, pois não consta que a Crónica tenha sido retirada de circulação. Pela nossa parte temos de acreditar que é no texto da investigação que se encontra a primeira documentação em que se diz que o padre [sic] dos Colombo era tecelão.» (p. 125-127)
(1) António Rumeu de Armas, El "Portugues" Cristobal Colon en Castilla, Ediciones Cultura Hispanica, 1982.
(2) Mulheres europeias começaram a chegar à Española logo em 1493: “Até hoje apenas se conheciam os nomes de oito mulheres brancas que ali residia[m] por aquelas datas [1498]. Uma tal María Fernández que foi com Colombo como sua criada, na segunda viagem e talvez continuasse a residir na na ilha. Com elas viajaram María de Granada e duas Catalinas, a Vásquez e a Rodríguez, habitante de Sanlúcar. Na viagem de 1498, a lista de feminina ascende a quatro nomes, a já citada Catalina de Sevilha e três outras, que iam sem direito a soldo: Gracia de Segovia e as duas homicidas Catalina de Egipto e María de Egípto, sem dúvida ciganas. Conhecemos agora a outras duas, Inés de Malaver e Teresa de Baeza, que, segundo Rodrigo Pérez, tinham chegado em 1495. Pouca coisa.” (Consulelo Varela (5), p. 141-152).
(3) Isabel Aguirre, "Segunda Parte", em C. Varela e I. Aguirre, "Colombo: a Queda do Mito", Caleidoscópio, Fevereiro de 2007, p. 159-219.
(4) Omitem-se, por serem redundantes, as notas à margem e a versão que consta do resumo do interrogatório. Uma versão mais extensa foi apresentada no forum Genea e consta da compilação em Documentos sobre Cristóvão Colombo.
(5) Consuelo Varela, "Primeira Parte", em Consuelo Varela e Isabel Aguirre, Colombo: a Queda do Mito, Caleidoscópio, Fevereiro de 2007, p. 9-158.
«Coelho»
Por: J. C. S. J.
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RE: Origem humilde e mecânica de Colombo: actualização
Caro Sr. Coelho,
Não respondi ainda à sua mensagem sobre a data de chegada das primeiras mulheres ao Novo Mundo porque, como lhe disse, a descrição de Consuelo Varela não é explícita. Continuo a pensar que onde o Sr. Coelho inseriu (1498) se trata do período em análise, identificado no início do capítulo e do sub-capítulo: 1500, data do julgamento de Bobadilla.
Nõa creio que Consuelo Varela esteja a dar o seu aval às conclusões do Sr. Coelho "pois aceitou o testemunho de Rodrigo Perez". Longe estaria C. Varela de imaginar que ao referir que "sabemos agora o nome de outras duas, que, segundo Rodrigo Perez, tinham chegarado em 1495" contribuiria para que fosse daí abusivamente concluído que em 1495 já se dizia na Hispaniola que ele era tecelão.
Eu vou por estes dias ler o livro de C. Varela, tentar perceber o que não é explícito
(não sei se por deficiente tradução ou pouco cuidado na escrita, difícil quando se faz uma trancrição paleográfica).
Caso necessário tentarei (outros confrades poderão tentar) perguntar a C. Varela .
cumprimentos
Carlos Calado
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Alfa e Ómega
Caros confrades,
Muito se tem por aqui discutido o estatuto social dos Colombos genoveses. Tanto que, de turvas que já estão as águas, terei de começar pelo princípio, saltar para o fim e deixar o meio para futuras abordagens.
Tecedor de lã era uma actividade humilde. Como artífices, estavam abaixo dos tecedores de seda (o algodão apenas seria divulgado na Europa muito depois e, por incúria Portuguesa, pelos Ingleses que, do seu comércio, depois do seu fabrico, finalmente da sua reexportação para a Índia, retiraram lucros muito superiores aos das especiarias). Outros artífices, como os de madeira, estariam a par ou abaixo nas modalidades mais toscas mas acima nas mais elaboradas; dos que trabalhavam os metais, abaixo só talvez os ferradores; armeiros e os de metais nobres, muito acima. Comerciantes a não ser os de ínfima dimensão também suplantavam os artífices; funcionários idem.
Estalajadeiros, proprietários de uma casa suficientemente grande para a actividade, também estariam acima mas taberneiros, numa dependência da própria habitação, estariam abaixo e tanto mais abaixo quanto a periferia da localização.
Dentro da profissão, Domenico começou por baixo: foi aprendiz por contrato de seis anos para terceiro não familiar. Dez anos depois estava estabelecido e apenas casaria dez anos depois; nada é claro nesta cronologia mas é o que diz Taviani. E, também sem ser claro, poderá por morte de seu pai, ter herdado alguns dinheiros mas não a casa paterna, nos arredores de Génova.
Assim, seguindo Taviani, as origens foram humildes.
Como já disse, os “entretantos”, por metodologia, ficarão para depois.
Os finais foram de patente humildade. Se reservasse miséria para os que nada têm, poderia mesmo dizer que foram de pobreza.
Já reformado "olim textor pannorum" arrenda a casa de Legino, e regressa a Génova, onde se vai albergar em casa de sua filha Bianchinetta, uma casa que já fôra sua mas há vários anos vendera a um comerciante de queijo.
É o que ainda hoje no interior de Portugal, fazem os idosos humildes, entregando os bens aos filhos a troco do sustento em vida; transacção que raramente beneficia os filhos e que, nalguns casos, fazem circular os idosos pelas respectivas casas, 15 dias ou um mês em cada uma.
Temos já uma base de trabalho: nasceu humilde e morreu humilde. Sem outra informação, poderíamos presumir que toda a vida foi humilde e que não melhorou no seu decurso.
É apenas uma presunção clássica. Se um determinado facto é verdadeiro num dado momento e continua verdadeiro em momento posterior, presume-se que o foi entretanto. Claro que, como todas as presunções, é ilidível por prova. Desculpem-me a insistência: ilidível por prova. Mas não ilidível por meras conjecturas, ainda que sugestivamente apresentadas por Taviani, um verdadeiro mestre.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Documentos colombianos
Caro Fernando Aguiar
Receio que não avalie convenientemente o potencial dos dois documentos que evoca na sua mensagem.
O processo onde aparecem três irmãos de nomes coincidentes (sei que isto, em sua opinião, não é pacífico quanto ao Giacomo) e o outro documento onde se diz que vieram para a Península, bem avaliados, são esmagadores.
Se os dois documentos são autênticos, estamos perante argumentação implícita quase impossível de contestar, pois a probabilidade de três irmãos genoveses, de apelido Colombo, de profissão ligada à indústria dos lanifícios, ostentarem não só os nomes conhecidos mas até ordenados cronologicamente, e todos vivendo em Espanha, é uma daquelas coincidências que, bem considerada, não deixa muito espaço para réplica sensata.
Se chamarmos à frequência do nome Cristoforo em cada cem genoveses da época, FC, e FB e FG às associáveis aos irmãos, a probabilidade de três irmãos exibirem os três nomes é FC / 100 * FB / 100 * FG / 100.
Atribuindo 2 a FC, 3 a FB e 12 a FG daria 72 / 1000000
Se considerarmos o acerto da ordenação por idades temos que dividir ainda por 6 (número de maneiras como os três nomes poderiam aparecer), chegando a um resultado de 12 / 1000000.
Decerto que a noção de genovês não deve ser restritiva, e o estatuto deve atribuir-se aos habitantes da região onde o poder da cidade se fazia sentir. A cidade, em si mesma, nunca foi nem nunca poderia ser muito populosa, pois é um porto com uma montanha nas costas; mesmo assim, em estimativa de esbanjadora generosidade, a região contaria, talvez, com meio milhão de pessoas, metade delas pertencendo ao desinteressante sexo masculino.
Considerando que 12 / 1000000 é igual a 3 / 250000, a abstraíndo que que as famílias de três irmãos, à época da morte do pai, seriam apenas uma parte, existindo outras de 1, de 2, de 4, etc., teríamos, com grande abdicação de argumentação favorável, três possibilidades, digamos três famílias onde a ocorrência, probabilisticamente, seria expectável.
Note que estou a considerar cada habitante varão como sendo uma família, e não levo em conta a restrição relativa ao ramo de actividade, para simplificar a argumentação, cortando sempre e abundantemente no meu campo.
A probabilidade, em cálculo menos trivial (sempre generosíssimo para com a tese contrária) seria, talvez, cem, se não mil vezes menor.
Também o cálculo de três familias terem três filhos à morte do pai, bem ordenados, de nome Cristoforo, Bartolomeu e Giacomo, aplicar-se-ia apenas se todas as famílias genovesas tivessem por apelido Colombo. Se considerarmos que Colombos seriam apenas dois ou três por cento, começamos a aproximarmo-nos da realidade e a aperceber-mo-nos de que em todo o território da Península Itálica, talvez não encontrássemos uma número de famílias exibindo a realidade descrita, atingindo os dedos de uma mão... e, faço notar, abstraindo da consideração do campo profissional.
Não preciso dizer-lhe que, se acrescentarmos o facto de esses três genoveses estarem a viver na Espanha, encontramo-nos perante um conjunto de ocorrências que ronda a impossibilidade probabilística.
Para considerarmos um cenário menos abstracto e mais fácil de avaliar pela nossa sensibilidade, teríamos qualquer coisa do género:
Um senhor de apelido Pereira que morreu em Portugal entre 2000 e 2007, ligado à indústria dos transportes, que à hora da morte deixa três herdeiros, chamados, por ordem de idades, Carlos, Bernardo e José, todos a viver e a trabalhar em Inglaterra.
A probabilidade de os produtores de uma novela, que apresentasse este elenco de personagens, poderem ser processados por uma família portuguesa que, por coincidente perfil, se considerasse malevolamente retratada, é virtualmente nula.
Parece-me, assim, que fácil é concluir que se os dois documentos forem considerados incontestáveis, incontestável é a identificação dos três Colons com os três Colombos.
Se alguém sentir a tentação de dedicar anos de vida a procurar uma alternativa “patriótica” à tese italiana, penso que deve, em primeiro lugar, concentrar-se na autenticidade destes dois documentos... e no seu potencial probatório, se autênticos. Ignorá-los ou tomá-los como uma coincidência sem especial significado, é atitude semelhante à do jogador que confunde probabilidade com possibilidade.
É óbvio que qualquer chave do Euromilhões pode ser contemplada, é sempre possível que tal aconteça, mas a probabilidade de isso suceder é baixíssima, como todos sabemos. Olhar para a coincidência entre a realidade que os dois documentos dos Colombos descrevem, e a realidade dos Colons, sobre o prisma da possibilidade, ignorando o da probabilidade, é viver no fantasioso mundo dos jogadores que se arruinam nos casinos.
Prometo-lhe, no entanto, se um dia ganhar os tais milhões europeus, mudar radicalmente de opinião.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Documentos colombianos
Caro confrade Manuel,
à luz da teoria das probabilidades, está na calha para o Euromilhões. pelo menos tenta, não é?
Uma pequena dúvida: qual dos irmãos Colon era o mais velho? Cristobal ou Bartolomeu?
cumprimentos
Carlos Calado
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RE: Documentos colombianos
Caro Carlos Calado
Respondendo à sua pergunta sobre o euromilhões, estarei atento, com efeito, à descoberta do documento que mostre que o Almirante era português, evento que tomarei como sendo o farol astral a apontar-me o caminho para a mais próxima casa de apostas.
Quanto ao resto, não sei qual dos dois irmãos era o promogénito. Sabia-o antes de mo perguntar. Tomei-o como certo, habituado como estou (como todos estamos) a assim o considerar.
Penso que tudo indica que o fosse, mas se o contesta, e contesta com legitimidade, direi que, em rigor, a probabilidade de Cristoforo ser o mais velho é 1 / 2, pelo que o factor 1 / 6 passa a ser 1 / 3.
Quanto a isto, está a correcção feita.
Permita-me, já que por acaso nos cruzámos, que aproveite a ocasião para tentar dissipar a perplexidade que me deixou um texto que, não há muito, aqui produziu.
Segundo se pode supor da leitura dele, um parágrafo de um autor contemporâneo, um italiano que cita como tendo-se referido a “30 mulheres, as primeiras a serem enviadas para o Novo Mundo” em Janeiro de 1498, teria poder para invalidar testemunhos produzidos num julgamento da época.
Devo dizer-lhe que não é o que consta nas regras da FIFA.
Habitualmente, atribue-se às fontes coevas dos acontecimentos, e mais ainda aos depoimentos feitos sob juramento e sob pena de pesado castigo em caso de perjúrio, maior credibilidade do que à opinião de um autor nascido no séc. XX. Os documentos onde esse género de testemunhos constam, muito ao contrário do que escreve, servem (e este também servirá) para corrigir o que em contrário foi sendo escrito, no intervalo que medeia entre o acontecimento e o momento em que eles se tornaram disponíveis. Será que devemos recusar como falso um assento de baptismo do séc. XVII, onde se regista o quinto filho de um casal, se ele desmentir uma genealogia publicada anteontem, que mostra que o autor só teve conhecimento de quatro?
Diz que Bobadilla instruíu as testemunhas para prestarem falsos depoimentos. Se acreditarmos no que escreve, instruíu-as mal. Introduzir, nos depoimentos, mulheres identificadas por nomes castelhanos, que, segundo ressalta do que diz, nunca teriam atravessado o Atlântico, configura uma inverosímil e absurda vontade, por parte do “encenador” do julgamento, de dar ao adversário catorze trunfos numa mão de treze cartas. Haveria algo mais fácil de desmentir e mais obviamente desqualificante de um testemunho do que declarar que haveria mulheres castelhanas no Novo Mundo, quando seria facílimo de provar que, se mulheres não tivessem embarcado, lá não poderiam estar?
Parece-me que não.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Documentos colombianos
Caro Manuel,
Muito obrigado pela sua mensagem. O muito que escreveu interpreto-o, ou talvez o meu ego o interprete, como como sinal que me leva a sério, embora com todas as discordâncias.
Não era exactamente minha intenção repetir aqui o que tem acontecido, em que se começa a discutir um determinado pormenor com a dupla consequência de se azedarem os ânimos e se perder de vista o global.
Como já viu, não aceito as hipóteses de Manuel Rosa para a identificação de Colombo mas reconheço que o livro dele é uma tese global e que deve ser apreciada no seu conjunto e não, como tem acontecido com raciocínios tipo "se El Real é com maiúsculas, Colón não pode ser português" etc..
Não pretendo induzir ninguém em erro e por isso esclareci a minha posição de início, de facto noutros tópicos já esquecidos e, pela primeira vez no Genea há mais de dois anos. De há muito que estava convencido de que C.C. estava ao serviço de D. João II. Sem entrar em mais pormenores, o ter navegado abaixo do paralelo das Canárias, o ter regressado por escalas nas Ilhas, o ter ido apresentar-se a D. João II e, a esse respeito, ter mentido por carta aos Reis Católicos.
Depois, a minha entrada na história foi sempre pela genealogia e, nesta, tenho uma admiração enorme por Braamcamp Freire. Ora - e isto é novidade neste fórum porque ninguém o mencionou - quando foi descoberta a carta de D. João II no arquivo do duque de Verágua, muita gente falou logo em falsificação mas Braamcamp Freire, o mais céptico e incrédulo possível, aceitou a autenticidade. Tudo isto, e não apenas uma coisa, convenceu-me.
Na documentação colombiana de Génova, comigo passa-se mais ou menos o mesmo. É um conjunto vasto que me leva a conclusões e não um pormenor especial.
Taviani elenca meia dúzia de embaixadores que atestam a genovesidade de Colombo mas cala que os primeiros, os que vieram especialmente apresentar os cumprimentos de Génova pela descoberta aos Reis Católicos, e que não referiram essa genovesidade.
Por outro lado, sempre me impressionou que o tribunal da Casa de las Indias, tenha atestado Bernardo Colombo, dos senhores de Cugguleo (ou grafia parecida) e negado qualquer parentesco a Baltasar, dos pobres de Génova e que era quem vinha com documentos, inclusive o testamento de 1497/98 que, como documento foi aceite pelo tribunal. Isto *parece* um contra-senso.
Quando vejo as outras hipóteses, vejo um experimentado navegador de uma família importante - embora não nobre - catalã, um nobre galego, um maiorquino filho do príncipe de Viana, um filho natural do Papa, um conde, etc..
Isto tudo, tem duas coisas em comum. Quem pensa em Colón, quem questiona as suas origens pelo que conhece da sua vida, atribui-lhe sempre uma origem nobre. Aí concordo totalmente com Manuel Rosa: o percurso em Castela não se quadra com um plebeu. O casamento com Filipa, só por si, talvez um fraco argumento apenas valorizado pelas informações divulgadas por Manuel Rosa sobre o convento de Santos - de facto não se vê como é que um plebeu entrava por ali a dentro para assistir à missa de Domingo - e a relação de quase intimidade com D. João II, sublinhada por Rumeu de Armas, apenas vêm reforçar o quadro. Julgo mesmo que a Casa de las Indias, rechaçou o Baltasar por não poder conceber uma origem plebeia para Colón.
Interligado com a origem nobre está a questão da cultura científica e humanista. Desde Mascarenhas Barreto que o põe criança a estudar num convento de monjas em Pavia (Alentejo) a Enseñat de Villalonga que o põe a estudar num convento próximo de Pavia (Itália) os que *construíram* hipóteses que fazem sentido - independentemente de erros e de falta de documentação - preocuparam-se em arranjar-lhe uma educação de base.
Nestes tópicos tenho visto dezenas de intervenções sobre este assunto. Umas que aprendeu a navegar e toda a parte científica por experiência. Mas depois, põe-no a navegar nas rotas genovesas do Mediterrâneo e, mal chegado a Portugal, no máximo um ano e pouco depois, já vai à Islândia. Depois casa com Filipa e assim "naturalizado" português já pode ir a S. Jorge da Mina e colaborar ou assistir nos cálculos equatoriais de Vizinho. E assim se teria feito a sua aprendizagem.
Pois, meu caro Manuel, não consigo aceitar isto como possível e, mesmo que o fosse, onde estaria o tempo para aprender castelhano, latim, rudimentos de grego e de hebreu? Com que professores?
Creio que concordará comigo que a história tende a registar invulgaridades e a calar banalidades. Dos professores desse Colón, que teriam lidado com um aluno que teria de ser verdadeiramente excepcional, depois de ele ser conhecido e Almirante, nenhum apareceria a vangloriar-se "eu ensinei o Almirante!"?
Voltando aos documentos genoveses, alguns serão falsos e a questão que logo ponho é que "cesteiro que faz um cesto, faz um cento" e se Colón fosse Colombo, não haveria necessidade de falsificações.
Outro pormenor que, desde muito cedo me impressionou, foi a tentativa italiana de atribuir a descoberta da América a Vespúcio e que foi bem sucedida por tempo suficiente para ter dado nome ao continente. Acho que é mesmo jeito italiano.
Os documentos para que chamou a minha atenção e que me parece serem duas versões do mesmo, isto é, feito o primeiro ou até sendo o primeiro autêntico - o que me custa a acreditar - fez-se o segundo para acrescentar o pormenor das "Espanhas" têm, como disse, algumas incongruências:
a) Se, como penso, se referiam ao processo por dívida em Legino, esta dívida será de 1481 ou antes e o processo apenas de 1501;
b) Em 1501 até o Almirante já tinha sido destituído de Vice-rei e Governador, era assim supostamente mais do que conhecido e - para mim - não faz qualquer sentido testemunhar a ausência de um qualquer Cristoforo Colombo sem mencionar que era o mesmo Almirante de Castela;
c) Génova tinha relações intensas com Aragão, bastante comércio com Castela e a referência, para lá de Pisa e Nice e para os lados das Espanhas, é demasiado vaga;
d) Nada permite supor que a outra filha, Bianchinetta tivesse já morrido, se tivesse seria há pouco tempo, terá sido ela a herdar a casa e terreno de Legino ou, no mínimo, a ter a sua posse e não se percebe porque não é citada nem é feita referência a essa casa e terreno.
Por último, antecipando algo que projectara mentalmente para mais tarde, chamo a sua atenção para os argumentos circulares.
1º. Pressupõe-se que Colón era Colombo.
2º. Consideram-se as informações sobre Colón, escritas por ele, por seu filho Hernando e por Las Casas.
3º. A partir de 2º. constrói-se a história de Colombo em Génova.
Nada está documentado, sobre a tal vida marinheira de Cristoforo. O que se sabe é que o Almirante disse ter começado a navegar muito cedo e daí lhe arranjam toda a carreira italiana nas diferentes versões mediterrânica, peninsular comercial e dos *primos* corsários.
Taviani afirma e Rumeu de Armas aceita que muito cedo chegou a capitão de navio. Porquê? Pela simples razão que o Almirante esteve ao serviço de René de Anjou e daí se conclui que antes já seria capitão de navio. Tudo circular!
Não há um único documento, verdadeiro ou falso que faça Cristoforo negociante. No Assereto ele é contratado em Lisboa por um del Negro? que, por sua vez, tinha sido contratado pelo Centurione Escoto de Génova. No processo de 1470, como referi, seu pai foi preso mas ele não e já tinha 19 anos. Eu concluo que o negócio não seria dele e que terá agido como agente do pai.
É a partir desse negócio que Taviani o põe como comerciante de vinho. Rumeu de Armas, explica que o ter sido chamado laneiro em Espanha, o faz comerciante de lã e não tecedor. Mas o mesmo Rumeu de Armas explica e bem que Génova importava lã da Catalunha, de Castela e de Portugal e até identifica os principais portos de saída. Ora isto põe Rumeu de Armas em perfeita contradição com Taviani que, a partir de um escrito do Almirante conclui que ele andou no comércio levantino. Mas nenhum deles tem um documento de financiamento, uma carta de encomenda, um protesto notarial por alguma coisa que tivesse corrido mal ou seja o que seja que comprove seja o que fôr.
Segundo Taviani, Domenico tinha cinco filhos, sendo Cristoforo o mais velho, Giovanni o segundo, Bartolomei o terceiro, Giacomo o 4º e Bianchinetta a mais nova.
Bianchinetta, pelo que se viu, pôde sumir-se com bens e eventuais herdeiros. Giovanni Pellegrino, terá morrido novo porque nada mais se sabe dele mas também não se sabe quando ou onde morreu. Giacomo apenas se documenta com aprendiz de tecedor, para reaparecer em Espanha com conhecimentos náuticos e a escrever castelhano. Cristoforo ducumenta-se em 1470 e 2 ou 3 vezes depois até 1473 e, depois, em 1479, no Assereto; ou seja, se o Assereto for falso, desaparece com 22 anos.
Bartolomei é o mais curioso. Em Génova não se documenta mas é referido por terceiros e, curiosíssimamente, um fá-lo mais velho do que Cristoforo e um outro, fá-lo o descobridor da 1ª viajem. Isto sempre me fez suspeitar que os que afirmam que existia mais de uma família Colombo estavam cheios de razão e que, numa família, Bartolomei seria o mais velho e possivelmente mais educado e que até poderia ter vindo para Lisboa desenhar mapas e ter convencido o irmão Cristoforo a juntar-se-lhe (faz parte da tal minha teoria que não quero divulgar).
Aplicando Ockham:
Giacomo depois de aprendiz, Cristoforo depois de 1473 e Bartolomei desde sempre, não se documentam porque nada tiveram ou fizeram que ficasse documentado, incluindo eventualmente morrer, exactamente como Giovanni Pellegrino.
Duas notas apenas para não "levar nas orelhas" por possíveis contradições.
1. Para lá de Nice e Pavia, com que Manuel Rosa perde demasiado tempo dizendo que não fazia sentido, seria um idiomatismo ou mesmo um juridismo, significando fora da jurisdição de Génova; por isso, acrescentar-lhe "para os lados de Espanha" ou parecido é suspeito. Para efeitos legais a primeira afirmação ou apenas a segunda seriam suficientes.
2. Tal como está generalizada a confusão entre navegação mediterrânica e de cabotagem e navegação atlântica de alto mar, também está generalizada a confusão entre mapas para primeira, que consistiam nos perfis ou alçados da linha de costa com indicações de baixios, etc. e as cartas de marear, estas sim, secretas e passíveis de pena de morte se divulgadas ou vendidas. Não era assim impossível que um Bartolomei Colombo vivesse de desenhar mapas em Lisboa, então uma das principais escalas de uma navegação comercial de cabotagem que ia do levante mediterrânico ao báltico.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Documentos colombianos
"Diz que Bobadilla instruíu as testemunhas para prestarem falsos depoimentos. Se acreditarmos no que escreve, instruíu-as mal"
Falta um pormenor: È que as mulheres nunca estiveram no tal juizo... Alí se apresentaram testemunhas de gente, (homens) que dizem ter escutado e ter entendido que a uma cortaram a lingua e a outra a açotaram. Mas alí, as interessadas nâo estiveram em qualidade de acusadoras. Ora isto è bastante inquietante, pois se vivas, teria sido mais convincente, (para Bobadilla) alí estarem elas e, se mortas, o mais usual e natural è que se tivessem apresentado como parte acusadora os familiares ou descendentes. Nâo se percebe bem o porquê desta ausencia.--
Também Consuelo Varela, nota e bem, que á contradiçâo nas testemunhas...
Por outro lado, dentro da estadistica das probalidades, ao haver em Catalunha e Ilhas Baleares, familias que tinham um sobrenome parecido ou identico com os Colom, nâo os faz nem mais nem menos acreedores, de pertencer à familia do Almirante. Até à data nâo o conseguiram provar.-
Cumprimentos
Fertelde
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RE: Documentos colombianos
Caro Fernando Aguiar
A questão nem se coloca. Claro que o levo a sério.
Aliás, levo a sério toda a gente. O que quero dizer é que, neste super complexo quadro da questão colombina apenas dois dos intervenientes têm meios para questionar a teoria oficial globalmente, e o outro é o Manuel Rosa. O resto do pessoal, a meu ver, apenas pode contestar, bem ou mal, um ponto concreto, uma aspecto que por acaso estudou, elucidar uma vertente menos bem tratada, ou apontar uma incongruência num raciocínio.
É na cauda desse recuado pelotão que me incluo, a pedalar ligeiramente de ladex, por não ter a vincada paixão que tomou conta da maioria dos participantes.
Deixe-me que lhe diga, muito enfaticamente, que seria do meu agrado que aparecesse o melro do bico azul.
Se surgir o documento, ou se surgir outra qualquer prova que estabeleça que o Almirante era português, certamente que isso me causará prazer. Confessando até mais um bocadinho, não desgostaria, em segunda escolha, de o ver nacionalizado galego ou catalão, e até, para tudo dizer, qualquer coisa menos italiano, qualquer coisa menos aquilo a que o Manuel Rosa chama o “status quo”, tal como, aliás, suspeito ser a vontade da quase totalidade de quem por aqui escreve.
Se os ler com atenção, o que lhe não recomendo, os meus bitaites têm um carácter de crítica positiva. Fundam-se na ideia de que o estabelecimento de uma teoria fortemente contrastante com o que é geralmente aceite, necessita de contenção e precisão acrescidas. Os seus textos anteriormente publicados, aqui neste mesmo tópico, evidenciam que tem uma fina sensibilidade a esse aspecto da questão, (que se sente na crítica à habilidosa redacção do Taviani) e que sabe avaliar a quase inamovível inércia das ideias instaladas.
Vou dar-lhe um exemplo de afirmações que, a meu ver, contribuem negativamente para vencer inércias. O facto de Carlos V proibir o Fernando Colon de investigar as origens do pai, tomado como prova da nobreza deste. A mim parece-me, e acredito que perecerá a todos os que não têm paixão investida neste tema, que ele detestaria que se tornassem conhecidas as origens plebeias, pelo descrédito que isso acarretaria para a dinastia.
A questão da absoluta necessidade de nobreza, quanto a mim, é exagerada.
É natural que um plebeu competentíssimo em matéria de navegação fosse altamente estimado em Castela, que não tinha nos seus quadros quem possuísse o saber necessário à navegação no oceano. Parece-me, no entanto, que a rainha foi muito para lá do que seria natural. Concordo que o trajecto em Portugal é surpreendente, e então em Espanha é muito, muito surpreendente, mas na porta ao lado não tinham por onde escolher. Se queriam inaugurar uma política de expansão oceânica, tinham que contratar quem tivesse a capacidade de a implementar no terreno, se a expressão não claudica por pouco fluida no contexto.
Times were a-changing.
Houve um português, em época ligeiramente posterior, que nem ordenado era nem sabia latim, que havia sido alfaiate ou profissão semelhante, que foi investido como patriarca da Etiópia, recebido pelo papa e pelo rei de Portugal, como tal e com a devida vénia. Falou-se disso? O menos possível. Nem o rei nem o papa terão achado graça, mas sublinhar o facto seria contraproducente.
Quanto a mim, o grande segredo era esse. O homem era plebeu, e a divulgação desse estatuto não era favorável à coroa, por várias razões.
Desacreditava-o enquanto comandante de homens, limitando-lhe a indispensável autoridade, e poderia fazer passar os reis por parvos, por ingénuas vítimas de um embuste, por terem sido forçados a tratar com um homem que não possuía o perfil ajustado, segundo as concepções afluentes.
Se bem compreendo o desenho mental do Almirante, nunca ele deixaria de proclamar de quem provinha, se isso contribuísse para o seu prestígio.
Os reis devem ter fingido acreditar em qualquer prosápia, cujo fundamento sempre se encontra numa bastardia três gerações atrás, para facilitar o acordo.
Será talvez na permanência desta cúmplice perspectiva que foi recusada a admissão dos documentos dos genoveses “pobres”, que refere.
A questão da aprendizagem das matérias que viria a dominar, é, efectivamente, um dos muitos pontos problemáticos, tal como a quase nula fama que adquiriu em Itália, se era italiano. Talvez que, se o sucesso fosse menos estrondoso tivesse chamado o pai e a família, mas dada a altíssima posição a que subiu, terá preferido esquecer um pai pouco apresentável.
Devo confessar que concordo com o Manuel Rosa, quando lê a expressão “para lá de Nice e Pavia (penso que é Pisa)”, como uma fórmula jurídica, com o sentido de “para lá dos limites da nossa jurisdição”. Importaria ver se e como a expressão é usada em outros documentos, para poder verificar se esta interpretação é correcta, e avaliar a parte da referência à Espanha. Quem sabe, poderá simplesmente significar “para Poente”, assim apareça um texto que a use, no contexto de alguém que foi para Marselha.
Parece-me também acertada a distinção que faz entre os dois tipos de cartas. Cartas para navegação costeira seriam tão necessárias em Lisboa como em Constantinopla ou em Londres. Seria, talvez, esse tipo de cartas em que os irmãos negociariam, um a desenhar e o outro a vender.
Penso que nunca li qualquer alusão a passado “lanério” visando particularmente Bartolomeu. Se assim for, parece aberta a via para ter sido sempre cartógrafo, fazendo a carreira de aprendiz a mestre, e partilhando com os irmãos os conhecimentos matemáticos.
Para terminar, dir-lhe-ei que só depois de escrever a espécie de desafio que aqui (ao lado) lhe fiz, me surgiu, como uma evidência, a ideia que havia sérios motivos para pensar que tem legítimas aspirações a divulgar o que pensa de outro modo, razão para ter refreado a minha curiosidade, que, como imagina, não diminuiu de intensidade, muito pelo contrário.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Documentos colombianos
Caro Fertelde
Não compreendo onde lê, no que escrevi, que as “mulheres estiveram no tal juízo”.
Não digo isso. Digo apenas que elas foram introduzidas nos depoimentos das testemunhas, como aliás confirma.
Testemunha, no sentido de alguém que presta testemunho, não sofre flexão de género.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Documentos colombianos
Caro confrade Manuel,
Pela sua reacção à minha pergunta, confirmo aquilo que já tinha concluído por suas anteriores intervenções: está aqui para tentar aprofundar os temas e esclarecer as dúvidas, as suas e as de todos nós.
Não sabemos, efectivamente qual dos dois irmãos Colon era o mais velho, tal como não sabemos qual dos dois irmãos Colombo era o mais velho. Fomos ouvindo e lendo isto e aquilo, mas certezas, nada.
Sobre a questão das mulheres no Novo Mundo:
Concordo consigo que um documento da época tem mais valor que a opinião de qualquer autor posterior.
O que até agora se conhecia era que as primeiras mulheres tinham ido na Terceira Viagem. Foi escrito por alguns autores, baseados nas listas de colonos (documentos da época). O depoimento de Rodrigo Perez é, para já, o único de onde se pode concluir que já haveria mulheres anteriormente,ao dizer que essas duas mulheres receberam um castigo 5 anos antes do Julgamento de Bobadilla, "colocando-as" no Novo Mundo em 1495-96. Isto serviu ao confrade Coelho para usar como prova do Colombo tecelão. Eu contestei (em Bobadilla farsa e fraude) porque este testemunho, contrariando tudo o que era conhecido sobre a presença das mulheres, deveria ser altamente duvidoso (fraude).
(* Note-se que a questão de datas não é elemento fulcral do depoimento)
Como eu disse ao confrade Coelho noutra mensagem, estou a ler o livro de C. Varela para tentar esclarecer este ponto. Para já, reporto uma frase de Consuelo sobre a 2ª viagem (pág. 14): «Apesar do que sempre se afirmou, também participaram mulheres, se bem que talvez tenham sido poucas as que se arriscaram a efectuar tão extraordinária viagem.»
Li toda a parte final do livro (págs. 161 a 219), com a transcrição do julgamento, e só encontrei o depoimento de Rodrigo Peréz como sustentação desta afirmação de C. Varela. Vamos a ver se haverá, algures no livro, algum dado menos duvidoso.
Portanto, como pode verificar, não era apenas um parágrafo de um autor contemporâneo, mas sim " o que sempre se afirmou" como escreveu C. Varela.
Concordo consigo que "seria facílimo de provar que, se as mulheres não tivessem embarcado, lá não poderiam estar".
Seria, se este Julgamento tivesse como objectivo apurar factos, e não ser apenas um pretexto formal para destituir o Almirante.
Para mim, até encontrar algo mais substancial, aquela frase de Rodrigo Peréz foi apenas um deslize, que passou despercebido a quem escreveu, e que (provavelmente) nunca foi lida por ninguém.
cumprimentos
Carlos Calado
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RE: Documentos colombianos
Estimado Manuel
Também nâo vejo onde digo que voçê tivesse dito que havia mulheres no tal juízo. Tudo pelo contrário. Apenas faço uma observaçâo sobre que faltava uma ponderaçâo, e a meu ver uma das mais importantes provas de que aquele juízo foi algo inusual e se préjulgava aos condenados. È que nâo estavam presentes as vitimas nem interessados directos. Alí apareceram gente a fazer um depoimento e nâo vieram as vitimas... Ora se Bobadilla quizesse dar verossimilhança, todos deveriamos estar de acordo que tal se conseguiria melhor com as vitimas, e logo testemunhos das circunstanciasem que tal feito (corte das linguas e açoitamento) se verificou. (causas que motivaram)
Uma delas nâo poderia falar, mas poderia ser a prova em directo e mostrar a veracidade de ter ficado sem lingua, e a outra até poderia falar e mostrar as cicatrizes dos açoites. (leia-se que tais açoites eram chicotadas pelos costados). Que melhor efeito poderia ter sobre o tribunal que essa prova real e crua.-
Sim, que nâo o tomei que "testemunha" tivesse um género. Apenas teria sido um julgamento em que a introduçâo de homens como testemunhas e nâo das mulheres agraviadas, deixa entrever que houve manipulaçâo de testemunhas, diria mais, do próprio tribunal julgador, que era tudo uma farça. Creio que estava bem patente as intençôes de Francisco de Bobadilla quando alí chegou. Era despossuir a Colom de todos os seus privilégios e expulsar-lo da Hispanhola. O porquê dessa intencionalidade??? Aos historiadores lhes toca emcontrar respostas.-
Porquê a Colom e irmâo se lhe devolveu de novo tudo e se lhe permitio voltar de novo às Indias Ocidentales apenas proibindo-o de regressar à Hispanhola, se bem se o autoriza na viagem de regresso que alí aportasse em caso de necessidade? Pois poderemos inferir que os Reis em previsâo de retaliaçôes e vinganças por parte de Colom, e para proteger aos (nobres) que lhe haviam traicionado, tomaram tal precauçâo...
Mas a incógnita ficou de novo sem se resolver, com a morte de Bobadilla, quando em 1502 regressava ao reino.-
Melhores cumprimentos
Fernando
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RE: Documentos colombianos
Estimado Manuel
Também nâo vejo onde digo que voçê tivesse dito que havia mulheres no tal juízo. Tudo pelo contrário. Apenas faço uma observaçâo sobre que faltava uma ponderaçâo, e a meu ver uma das mais importantes provas de que aquele juízo foi algo inusual e se préjulgava aos condenados. È que nâo estavam presentes as vitimas nem interessados directos. Alí apareceram gente a fazer um depoimento e nâo vieram as vitimas... Ora se Bobadilla quizesse dar verossimilhança, todos deveriamos estar de acordo que tal se conseguiria melhor com as vitimas, e logo testemunhos das circunstanciasem que tal feito (corte das linguas e açoitamento) se verificou. (causas que motivaram)
Uma delas nâo poderia falar, mas poderia ser a prova em directo e mostrar a veracidade de ter ficado sem lingua, e a outra até poderia falar e mostrar as cicatrizes dos açoites. (leia-se que tais açoites eram chicotadas pelos costados). Que melhor efeito poderia ter sobre o tribunal que essa prova real e crua.-
Sim, que nâo o tomei que "testemunha" tivesse um género. Apenas teria sido um julgamento em que a introduçâo de homens como testemunhas e nâo das mulheres agraviadas, deixa entrever que houve manipulaçâo de testemunhas, diria mais, do próprio tribunal julgador, que era tudo uma farça. Creio que estava bem patente as intençôes de Francisco de Bobadilla quando alí chegou. Era despossuir a Colom de todos os seus privilégios e expulsar-lo da Hispanhola. O porquê dessa intencionalidade??? Aos historiadores lhes toca emcontrar respostas.-
Porquê a Colom e irmâo se lhe devolveu de novo tudo e se lhe permitio voltar de novo às Indias Ocidentales apenas proibindo-o de regressar à Hispanhola, se bem se o autoriza na viagem de regresso que alí aportasse em caso de necessidade? Pois poderemos inferir que os Reis em previsâo de retaliaçôes e vinganças por parte de Colom, e para proteger aos (nobres) que lhe haviam traicionado, tomaram tal precauçâo...
Mas a incógnita ficou de novo sem se resolver, com a morte de Bobadilla, quando em 1502 regressava ao reino.-
Melhores cumprimentos
Fernando
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RE: Documentos colombianos
Estimado Manuel
Também nâo vejo onde digo que voçê tivesse dito que havia mulheres no tal juízo. Tudo pelo contrário. Apenas faço uma observaçâo sobre que faltava uma ponderaçâo, e a meu ver uma das mais importantes provas de que aquele juízo foi algo inusual e se préjulgava aos condenados. È que nâo estavam presentes as vitimas nem interessados directos. Alí apareceram gente a fazer um depoimento e nâo vieram as vitimas... Ora se Bobadilla quizesse dar verossimilhança, todos deveriamos estar de acordo que tal se conseguiria melhor com as vitimas, e logo testemunhos das circunstanciasem que tal feito (corte das linguas e açoitamento) se verificou. (causas que motivaram)
Uma delas nâo poderia falar, mas poderia ser a prova em directo e mostrar a veracidade de ter ficado sem lingua, e a outra até poderia falar e mostrar as cicatrizes dos açoites. (leia-se que tais açoites eram chicotadas pelos costados). Que melhor efeito poderia ter sobre o tribunal que essa prova real e crua.-
Sim, que nâo o tomei que "testemunha" tivesse um género. Apenas teria sido um julgamento em que a introduçâo de homens como testemunhas e nâo das mulheres agraviadas, deixa entrever que houve manipulaçâo de testemunhas, diria mais, do próprio tribunal julgador, que era tudo uma farça. Creio que estava bem patente as intençôes de Francisco de Bobadilla quando alí chegou. Era despossuir a Colom de todos os seus privilégios e expulsar-lo da Hispanhola. O porquê dessa intencionalidade??? Aos historiadores lhes toca emcontrar respostas.-
Porquê a Colom e irmâo se lhe devolveu de novo tudo e se lhe permitio voltar de novo às Indias Ocidentales apenas proibindo-o de regressar à Hispanhola, se bem se o autoriza na viagem de regresso que alí aportasse em caso de necessidade? Pois poderemos inferir que os Reis em previsâo de retaliaçôes e vinganças por parte de Colom, e para proteger aos (nobres) que lhe haviam traicionado, tomaram tal precauçâo...
Mas a incógnita ficou de novo sem se resolver, com a morte de Bobadilla, quando em 1502 regressava ao reino.-
Melhores cumprimentos
Fernando
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RE: Documentos colombianos
Estimado Manuel:
Em relaçâo às suas apreciaçôes de que aqui estamos, a grande maioria opinando sobre particularismos e pormenores menores, pois creio que de acordo. Poucos (alguém?) temos os documentos, a bagagem ou preparaçâo expecífica para abranger um tema tâo complexo como o tema Colombino.
Estaremos entâo num passatempo mais ou menos apaixonante, segundo o carácter e a predisposiçâo e disposiçâo (saúde) de cada qual, que nos leva a um exercicio de lógica (mais ou menos), na apreciaçâo do que se vai escrevendo. È um desafio de apreciaçôes e contra apreciaçôes, até de reconversôes, sobre o que cada um aqui vai escrevendo. Nâo è mais que um reflexo de tertulia de café, com o conveniente de que ninguém escuta, (directamente) o grito e vocerio excitado do defensor desta ou daquela tésis ( de café), e que o insulto nâo degenera em bofetadas, porque nos mantemos todos a uma distancia prudente, e que o debruçar sobre a cadeira, dando respostas para a mesa do lado, até è tolerado, por isso, por ser uma mesa redonda onde todos nos acotevelamos para ali exercer o direito, (como um reflexo condicionado) de manter o espaço vital...
.-.-.-
Quanto à matéria, se me permite, há algo que também nâo encaixa na origem humilde, e quando diz: "Desacreditava-o enquanto comandante de homens, limitando-lhe a indispensável autoridade, e poderia fazer passar os reis por parvos, por ingénuas vítimas de um embuste, por terem sido forçados a tratar com um homem que não possuía o perfil ajustado, segundo as concepções afluentes." chamo à atençâo de que isso poderia ter sido resolvido perfeitamente, como o resolveram os reis de Portugal, que à cabeça de uma importante missâo colocaram a alta nobreza a comandar as mesmas. Os grandes navegantes, os Diogo Dias os Bartholomeus etc, nunca capitanearam uma misssâo importante. Foram reservados para aquilo que eram: Navegantes, descobridores de novas rotas e técnicas de navegaçâo.
O Almirante Colom, deveria saber que em Portugal nunca se lhe daria uma missâo que lhe reportara ser Almirante do mar oceano. Que navegante (descubridor) português teve essa distinçâo? Quantos Almirantes tivemos nessa època das descobertas? Porquê D. Joâo II o trata como Almirante? Pela carta que portava, dos Reis Católicos, que assim lhe haviam concedido a merçê?
Poderia um nâo nobre, (falamos daquela època), impor a um Rei, as condiçôes que impôs Colom? Seria factivel a um nâo nobre, ter tal ambiçâo, que só aceitasse ou tudo ou nada? Nâo seria suficiente para um nâo nobre aceitar ser apenas o piloto de uma descoberta? Os nossos nautas contentaram-se com isso. Porquê nâo iria Colom aceitar o mesmo, se fosse um simples navegante chegado a mais desde posiçôes humildes? Estamos bem a tentar metermo-nos na mentalidade da època para poder entender tudo isto?
Bem, o meu tempo de tertulia terminou. Aqui coloco as minhas dúvidas.-
Cumprimentos
Fernando
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Tecelão de lã e taberneiro
Caros confrades,
Ainda sobre o estatuto social de Domenico Columbo, pai de Cristoforo, vejamos agora o seu percurso centrado apenas no que à profissão respeita.
Já vimos que começou por ser aprendiz em oficina de terceiro não familiar e dez anos depois estava estabelecido. Teria nascido em 1418, entrou como aprendiz em 1429 com onze anos e, dez anos depois, ou seja por 1439, estava estabelecido em Génova onde, segundo Taviani, exerceu o seu mister até 1447. Seu pai, terá morrido entre 1440 e 1444 e quaisquer bens em Quinto, terão ficado para o irmão mais velho, Antonio, do qual não se sabe se casou ou deixou descendência.
Por metodologia, deixo para mais tarde um interregno de três anos 1447-1450 pois as informações de Taviani para esse período não se enquadram em actividades profisssionais.
Em 1 de Outubro de 1450, Domenico assume pela segunda vez o cargo de guardião da Porta dell’Olivella e estaria financeiramente bem pois adquire uma propriedade em Quarto que, no mesmo dia, arrenda ao seu anterior proprietário.
Em 1451 teria nascido Cristoforo.
Sendo o cargo de guardião da Porta exercido por treze meses, já não o exercia em 1452.
Entre 1452 e 1455 deve - Taviani presume - ter vivido na sua casa da Via dell’Olivella que, até aí, não tinha vendido nem arrendado.
Em 1455 muda-se para uma casa em Vico Diritto onde mantém a actividade "textor pannorum lane".
Há um interregno de onze anos e em 1466, intervém numa escritura de venda e, em Fevereiro de 1470 já aparece como morador em Savona exercendo o seu mister de tecedor de lã mas também o de taberneiro.
Mas seis meses depois, em 22 Setembro de 1470, está de volta a Génova onde é preso. Posteriormente solto pelo juiz dos crimes que o achou inocente mas lhe aplicou uma multa de 35 liras para cujo pagamento teve de vender algumas terras (no plural em Taviani) "in Ginestreto, potestacie Bisannis" e que tinham sido dote de sua mulher Susanna.
Um irmão desta última, Guagnino, invocou o direito de preferência mas Susanna veio ao processo ratificar a venda feita pelo marido. É esta a primeira e creio que única ocasião em que Susanna Fontanarossa se documenta “de per si”. Foi em 1471 e Domenico era morador em Savona "habitator Saone".
Em 12 de Março de 1473, ainda se documenta em Savona e em 24 de Setembro desse ano vende a casa de Génova da Via dell’Olivella. Imediatamente a seguir, em 1474, tendo já comprado uma casa com algum terreno em Legino, vende a casa em Vico Diritto no quarteirão de Sant’Andrea.
Em 17 de Agosto de 1481 arrenda a casa de Legino e, supõe-se, regressa a Génova. Em 27 de Janeiro de 1483 está já reformado "olim textor pannorum". Teria uns 65 anos e, segundo Taviani, a sua mulher teria já falecido. A filha Bianchinetta estaria para se casar com Giacomo Bavarello, filho do comerciante de queijo que havia comprado a casa de Vico Diritto.
Em 1491 documenta-se a receber uma dívida em Savona e em 1493 testemunha uma escritura em Génova. No final do século, teria já falecido.
Do narrado, Taviani considera que Domenico Columbo, muito envolvido em escrituras judiciais e litígios - 77 documentos contra apenas 9 de seu irmão António - era um homem muito activo e com grande poder de adaptação, tendo exercido diversas profissões e actividades e mudando de residência por diversas vezes. Apesar de preso, foi logo reconhecida a sua inocência e, também apesar de “ocasionalmente” se encontrar em dívida por atraso de pagamentos, nada permite inferir que fosse desonesto ou tivesse falta de escrúpulos [segue-se “música” sobre as difíceis condições e exigências da vida comercial nesses tempos]. Ainda que tinha um cérebro ágil e agudeza de espírito, comprando bens quando dispunha de dinheiro e vendendo-os quando precisava de liquidez.
Em sede de interpretação.
Sabe-se que Domenico Columbo casou com Susanna Fontanarossa, também de uma família de tecelões de lã. Mas, ao contrário de Domenico que não se vê que tenha herdado quaisquer imóveis por morte do pai, Susanna traz terras em dote, não se sabendo se também trouxe algum dinheiro, o que é o mais natural dados os usos e costumes dotais. De facto, sempre que possível as mulheres eram dotadas e herdadas em dinheiro, por forma a manter a propriedade de imóveis na família, que era então fortemente patrilinear. E, neste caso, lá aparece mais tarde o irmão de Susanna a pretender reaver as terras vendidas.
É apenas sintomático que Taviani, habitualmente expedito em sugerir mundos e fundos a partir de uma mão cheia de vento e outra cheia de nada, tenha deixado esta informação por comentar.
Dadas as pesquisas sistemáticas, primeiro cerca de 1892 para o 4º centenário, depois pelo “Podestà” da cidade de Génova em 1931, não duvido que qualquer informação pertinente sobre a família Fontanarossa teria sido trazida a lume como forma de elevar Domenico através do casamento. Mas nada disso sucedeu. Os Fontanarossa, não fosse pelo processo intentado por Guagnino teriam ficado totalmente anónimos e nem se saberia qual a proveniência das “terras” vendidas para pagar a multa de 35 liras.
A primeira conclusão a tirar é que, tratando-se de duas famílias de tecelões, uma que não se vê ter herdado significativamente um de dois filhos, outra que dota uma jovem casadoira, a segunda será de nível social superior. Ou seja, sai reforçada a origem humilde dos Colombo.
A outra é que, após o casamento, não eram boas ou nem existiam mais, relações entre as duas famílias. De facto, se Guagnino queria recuperar as terras que teriam sido dos seus pais e tinha possibilidades financeiras de o fazer, se o cunhado se encontrava em apuros com a dívida judicial, a existirem boas relações a solução teria sido um empréstimo com garantia hipotecária sobre as terras; se apenas existissem relações, porque não a venda ao cunhado interessado?
Saindo do campo das conclusões para o das hipóteses: ou Susanna havia casado abaixo do seu nível e/ou contra a vontade familiar ou algo acontecido posteriormente levara ao afastamento das famílias.
Quanto ao percurso de Domenico, despido de Tavianismos, é aprendiz por contrato de seis anos e estabelece-se dez anos depois, cerca de 1439. O pai que vive em Quinto morre entre 1440 e 1444 e tinha um irmão mais velho, António. Será apenas razoável supor que tenha sido ajudado a estabelecer-se em Génova pelo pai ou pelo irmão.
Poucos anos depois, possivelmente com algum dinheiro de tornas, recebido após a morte do pai, adquire a casa da Via dell’Olivella de que ficaria a pagar a parte restante não sem sobressaltos.
O ano de 1450 foi significativo. Em 1 de Outubro é novamente guardião da Porta, e em 1451, nasce Cristoforo o que, em princípio, coloca o casamento também em 1450, com 31 anos. Assim, será naturalmente o dote de Susanna que permitiu a aquisição em Quarto.
Após o casamento e com o rendimento de Quarto, pode já em 1455 mudar-se para a casa de Vico Diritto, presumivelmente maior e para fazer face ao crescimento da família.
Depois, seguem-se onze anos sem história até que em 1466 faz uma venda - Quarto? - e em 1470 está em Savona como tecelão e também taberneiro.
Ora bem. Porque é que um próspero tecelão com oficina em Génova, se muda para Savona, então bem fora da cidade e lhe sobra tempo da tecelagem para ser também taberneiro? Onde é que está o senso comum disto?
É claro que o negócio não corria bem. E tudo indica que nunca correra bem e que as aquisições e mudanças de casa de Domenico nunca foram financiadas por rendimentos profissionais mas por capital, primeiro da pequena herança de seu pai, depois do dote de Susanna.
Diz Taviani que está em Fevereiro de 1470 em Savona como morador mas já em Setembro em Génova. Ora o mais elementar senso comum diz-nos que não “estava” em Génova. Fôra a Génova por causa do processo, se é que não saíra já de Savona à ordem do Juiz, porventura sob prisão. Tanto mais que em 1471 continua "habitator Saone".
E, afinal, que processo foi esse?
Diz Taviani - e nem preciso fechar os olhos para ouvir os violinos - que se tratou de uma “disputa legal” resolvida pelo Juiz do Crime com uma multa de 35 liras.
Se houve ou não crime e, aí sim, se tratou de uma multa (substituição de pena de prisão) não sei nem ninguém que eu tenha lido refere. Mas o que li e faz todo o sentido é que se tratava de uma dívida a um tal Gerolamo del Porto relativa a um negócio de vinhos e que os acusados eram Domenico e seu filho Cristoforo que, no entanto, não foi preso.
Não parece que se tratasse de um negócio de Cristoforo, ainda que afiançado pelo pai, nem sequer de ambos, pois, em qualquer dos casos, Cristoforo, então com 19 anos, também seria preso (nesse tempo e durante vários séculos havia prisão por dívidas).
Invocando Ockham, Domenico teria comprado vinho que não pagou para a sua taberna de Savona, utilizando Cristoforo como agente da compra. Forçado pela prisão, logo pagou vendendo as terras vindas pela mulher o que apenas demonstra que a actividade têxtil, que não seria já famosa em Génova, não tinha melhorado em Savona.
O resto da sua vida é linear. Vende as duas casas de Génova, a da Via dell’Olivella e a de Vico Diritto, comprando uma casa com algum terreno em Legino, na “província” como ainda hoje fazem muitos reformados; isto por 1473-1474, portanto com 55-56 anos. Sete anos depois , em 1481, arrenda Legino e “supõe-se” regressa a Génova. Em 1483 documenta-se como reformado - mais certo já o estaria nove anos antes - e sua filha “está para casar”.
Outro ensurdecedor silêncio de Taviani!
Onde teria vivido Bianchinetta antes? Repare-se que Domenico vendera a casa de Vico Diritto aos pais do futuro genro, anos antes deste o ser mas, segundo Taviani, é o futuro genro quem sucede a Domenico na casa. E, residindo Bianchinetta em Savona, depois em Legino, como teria conhecido Giacomo Bavarello, filho de um comerciante de queijo de Génova?
Hipóteses há muitas. Domenico podia ter voltado a Génova e residido numa casa que não arrendara formalmente e que por isso se desconhece; Bianchinetta poderia estar como serviçal em casa dos Bavarello; mas também podia ter ficado a residir em Quinto com familiares; podia ..., podia .... Só que não vejo é como se compatibilizam este silêncio e estas hipóteses com o “prospero e dinâmico” Domenico, já da “classe média”.
Como igualmente não se compatibiliza o facto do único filho que com ele ainda vivia, Giacomo, ter igualmente sido contratado aprendiz em oficina de terceiros não familiares. Afinal que próspero negócio era esse que nunca justificou a contratação de um operário nem mesmo de um aprendiz? Que não aliciou nenhum dos filhos nem sustentou a aprendizagem de Giacomo?
O que se sabe de Domenico Columbo, permite avançar com diversas conjecturas - como fez Taviani mas ao seu jeito - e, desde logo, duas “debochadas” como dizem os nossos irmãos do outro lado da poça.
A primeira seria, a partir das tendências negociais de Domenico - sair da cidade para abrir uma taberna e, talvez, tentar negociar em vinho - extrapolar para o alcoolismo. Assim se explicaria a ruptura com os Fontanarossa e o decaimento que se foi acentuando, forçando-o a acolher-se a casa da filha depois da ignorada morte da mulher. As más lembranças do pai alcoólico, porventura causadoras da prematura morte da mãe, seriam a causa dos filhos, prosperamente instalados em Lisboa, um desenhando mapas, outro actuando como agente comercial ou mesmo comerciando por conta própria, não terem acorrido às dificuldades do pai nem, mais tarde voltado a Génova onde, pelo menos, residiria a irmã.
A segunda seria mais “debochada”. A de Susanna ter, em algum tempo sido uma “cortesã” e ser essa a explicação para o período “próspero” seguido do rápido decaimento quando a idade, depois a presumível morte a incapacitou. Nesta linha há duas teorias, uma já por mim anteriormente referida, que faz Cristoforo filho de uma anterior ligação com um Bartolomeu Pallestrelli (dos de Palencia); outra que “explica” as nomeações para guardião da Porta dell’Olivella, que Taviani, sem sombra de prova, atribui a Pietro Fregoso, por uma ligação de Susanna com o mesmo Pietro; esta explicaria ainda a “rápida” carreira de Cristoforo, embarcado como grumete com 11 anos mas que cedo é capitão de navios e - há duas versões diferentes mas não mutuamente exclusivas - agente de mercadores genoveses ou ele próprio mercador de lã e vinho, apoiado por financiadores genoveses. O afastamento dos filhos e as más relações com o irmão de Susanna, também por aí se explicariam.
Qualquer das conjecturas, diga-se, com as mesmas ou talvez melhores bases, do que a melodia de Taviani. E todas, diga-se, defendendo teorias genovesas, tentando explicar o motivo de Cristoforo se dirigir a Portugal e casar com Filipa que seria assim sua parente, tentando explicar a muitíssimo improvável carreira marítima que faz um filho de tecelão sem estudos chegar a capitão pelos 20 e poucos anos e logo contratado como corsário por René d’Anjou, tentando explicar a falta de contactos posteriores dos enriquecidos irmãos com a família de origem.
Mas em relação a Domenico, o que em nenhum caso se vislumbra é o tal “dinâmico empresário já da classe média”.
O meu declarado objectivo é denunciar Taviani e tenho-me limitado a segui-lo. Mas, já tendo sido focada a questão documental, é de relembrar que esta quase não existe para a factualidade da vida de Cristoforo. Que terá ido para Lisboa, naufragado ou chamado pelo irmão Bartolomei, são tudo conjecturas. Se Taviani diz que foi grumete aos 11 anos, baseia-se apenas em dois factos: primeiro as declarações do Almirante que muito novo foi para o mar, segundo a idade em que os jovens entravam na aprendizagem, como documentado para Domenico e deduzido com razoabilidade para Giacomo. Se formos a testemunhos, o mais perturbador é logo o do bispo Giustiniani que afirma assertivamente que era tecedor de seda; esta última actividade, com muito maior exigência de aprendizagem - a inutilização de uma peça de seda comprometeria fatalmente um rendimento familiar - seria incompatível com uma aprendizagem prática de marinharia.
Por isso, neste pântano de indícios contraditórios e documentação significativa escassa e duvidosa, inclino-me fortemente para os que dizem ter existido mais de uma família Colombo, com um pai Domenico - que nem é absolutamente necessário à hipótese - e dois irmãos um Cristoforo e outro Bartolomei; que um dos Domenicos seria efectivamente de Quinto e o outro de algum dos outros lugares dos arredores de Génova a que também se atribui a sua origem; que na “outra” família Bartolomei seria não só o mais velho mas o que teria alguns estudos, tudo isto, obviamente também “deduzido” a partir da actividade de desenhador de mapas de Bartolomei e, sobretudo, da surpreendente afirmação de Las Casas que o diz mais “entendido” do que o Almirante.
Também quanto à versão oficial de que se trataria de uma família de tecedores de lã com interesses comerciais, além de, como já referi, não estar documentada a actividade comercial a não ser pelo processo de 1470 que tudo aponta para ser apenas um fornecimento não pago, há duas fortes indicações de que não existiu tal actividade comercial ou apenas existiu marginalmente e sem significado.
Como dito por Taviani, Domenico documenta-se como reformado em 1483 “olim textor pannorum”. Ora, se mantivesse ou mesmo tivesse anteriormente exercido uma actividade comercial com algum significado económico, isso não deixaria de ser mencionado em 1483, como o foi quando em 1470 se documenta como tecelão e taberneiro.
Por outro lado, dificilmente uma actividade comercial de alguma dimensão se manteria sem recurso ao crédito e, quer o de particulares que era habitualmente notarizado, quer o bancário deveriam ter deixado rasto documental.
No caso do crédito bancário, foi provado que os Colombo não tiveram negócios com o Istituto San Giorgio, de que foi chanceler Antonio Gallo. Isto é curiosíssimo porque Gallo afirma que os Colombo eram de extracção humilde. Por outro lado, o Almirante escreveu em castelhano ao banco o que parece estabelecer uma relação triangular - e a que o Coelho et al chamam documento (a) - mas uma relação aberta pois em lado algum o triângulo se vê fechado. Ora se Gallo conhecia - socialmente já que não profissionalmente - os Colombo e profissionalmente o Almirante seria apenas razoável que, na morte de Domenico entre 1493 e 1500 houvesse alguma interacção, mormente havendo que dar destino à casa de Legino.
Argumentou Manuel (mtt) que o Almirante subiu tão alto que não quereria chamar o pai para Castela e isso aceita-se. Mas já é mais difícil de aceitar que nunca utilizasse os serviços do banco para enviar umas ajudas ao pai; e muitíssimo difícil de aceitar, dada a indesmentível religiosidade do Almirante, que não mandasse rezar umas missas em Génova e que nem disso se lembrasse no testamente de 1506 nem no codicilo; afinal umas missas por alma de seu pai Dominicus de Columbo ou, apenas Dominicus, nada revelariam sobre o seu estatuto social.
(a) Neste contexto, documento seria, por exemplo, uma carta de Antonio Gallo para o Almirante dando-lhe conta que, de acordo com as instruções recebidas, entregara a sua irmã Bianchinetta a importância de 10 ducados para o bem-estar do pai, Domenico.
E, depois do que já se viu, nem é de admirar que tal documento ou semelhante ainda venha a aparecer lá para as comemorações do 6º centenário.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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RE: Tecelão de lã e taberneiro
Caro Fernando de Aguiar
Portugal na segunda metade do século XV, era a nação mais potente do Mundo, isso implicaria obviamente desenvolvimento e conhecimento! Diga-me quantas famílias de taberneiros ou tecelões é que se poderão documentar em Portugal, para essa mesma altura em que se documenta a pressuposta famíla italiana de Colombo? Eu arriscaria dizer, que não se documenta nenhuma!
Então porque é que aparece na Itália, essa família tão bem documentada? Porque é que sendo tão bem documentada, não apareceram depois mais tarde os seus descendentes, como herdeiros do morgado? Porque é que nenhum dos filhos de Colombo e seus descendentes tomaram o nome de algum dos seus familiares italianos? Por aqui me fico...
Cumprimentos
Zé Maria
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RE: Tecelão de lã e taberneiro
Como está caro Zé Maria?
deixava-lhe uma questão?
onde encaixariam os "irmãos" de CC/ Dom Diogo? seriam somente irmãos de missão, e como ele pertencentes à O.Santiago ou à O.Cristo?
Com os melhores Cpts,
Augusto
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RE: Tecelão de lã e taberneiro
Caro Augusto
Eu estou bem obrigado, e você como está?
Estou a gozar uns dias de férias, só espero que o Sol do nosso Algarve, ajude!
Você e os restantes confrades vão-me desculpar, mas eu não vou por enquanto responder ás questões por si levantadas, seria o mesmo que começar a ler um livro pelo fim.
No entanto deixo-lhe também uma pergunta. Nunca ninguém viu escrito em nenhum documento que eles eram irmãos de sangue, pois não?
Cumprimentos
Zé Maria
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RE: Tecelão de lã e taberneiro
Caros Zé Maria e Augusto,
espero que não se tenham esquecido das análises ADN confirmando que Cristóvão Colon e Diego Colon (o tal que não podia se Giacomo) eram irmãos. Creio que está mesmo confirmado (por esse exames) que tinham a mesma mãe.
Isso coloca-nos dificuldades com Cristóvão Colon ser D. Diogo-duque e Diego Colon ser meio-irmão, ambos filhos de D. Fernando-duque.
cumprimentos
Carlos Calado
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RE: Tecelão de lã e taberneiro
Bons dias a todos!
Caro Carlos Calado... tem toda a razão... mas eu não me esqueci disso, mas dentro da hipótese mais "esotérica" de CC ser Dom Diogo, realmente os irmãos só fariam sentido se fossem irmãos nas ordens portuguesas. Claro que Dom Fernando podia ser uma grande maluco a querer deixar inumerosos meios-irmãos....
8-)
Cpts,
Augusto
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Político e Guardião da Porta.
Caros confrades,
Ainda sobre a situação social dos Colombos e esgotadas as actividades profissionais, vejamos as outras.
Sem nada que o anteceda ou justifique, Taviani começa por afirmar que Domenico Colombo se viu envolvido na amarga contenda entre Adornos e Fregosos, tomando o partido destes últimos.
No seu estilo habitual, recorre a um historiador quase coevo - o badaladíssimo Giustiniani - para descrever o conflito. É apenas histórico mas, para dar sabor, aqui vai.
Em 4 de Janeiro de 1447 Barnabo Adorno faz-se eleger Doge mas por pouco tempo pois logo a 30 do mesmo mês Giano da Campo Fregoso que tinha resistido por quatro anos aos Adorno, assalta o poder. O Doge Barnabo Adorno tinha consigo muitos soldados, entre os quais 600 escolhidos guerreiros (fighting men) enviados pelo Rei Alfonso de Aragão. Giano, com uma simples galera, entrou à noite na cidade e com 85 valentes companheiros atacou o palácio do Doge. Travou-se uma feroz batalha em que quase todos os companheiros de Giano foram feridos mas, graças à sua valentia e determinação, alcançou a vitória e conquistou o trono do Doge.
[Aqui termina o discurso extraído de Giustiniani e regressa o discurso directo de Taviani]
É improvável que Domenico, o tecelão, fosse um dos 85 valentes companheiros, mas foi concerteza um sólido suporte da facção Fregoso dentro da cidade. Mais do que isso, parece ter sido um elemento muito influente nas fileiras mais baixas do partido, como um “militante” a julgar pelo facto de, em 4 de Fevereiro, 5 dias depois, ter sido nomeado guardião da Porta dell’Olivella "ad custodiam turris et porte Olivelle dilectum suum Dominicum de Columbo."
O ÚNICO facto que existe, é Domenico ter sido nomeado Guardião da Porta 5 dias depois dos acontecimentos.
[Impossível não sentir uma certa admiração!]
De resto, nada resiste a uma análise fria e as melhores possíveis conclusões são precisamente as contrárias das deduzidas por Taviani.
Antes do mais, parece certo que o governo dos Adorno - exactamente como o dos Fregoso que se seguiu a Giano - seria tudo menos popular e o Doge Barnabo não teria grande apoio. Mesmo admitindo como possível que os 600 aragoneses não estivessem muito interessados numa contenda que lhes não dizia respeito, o Doge teria concerteza muito mais tropas e, para terem sido vencidos por 85 ou não tinham vontade de combater ou, pelo menos alguns, passaram-se para o outro lado.
Mas o que é curial é que não se tratou de nenhum levantamento popular, nenhuma revolução, nenhuma “jacquerie”. O combate trava-se no Palácio dos Doges, entre profissionais, a guarnição que deveria defender o Doge e os 85 companheiros de Giano que tinham vindo de fora da cidade numa galera.
Os partidos, se existiam - e é natural que sim pelo menos ao nível das preferências - ficaram-se nas suas casas. Não houve nenhuma acção de “activistas” ou “militantes” não houve “palazzos” de apoiantes dos Adorno incendiados, não houve, pelo menos que tivessem merecido registo, vinganças ou violências sobre os adversários vencidos. Foi uma acção militar entre profissionais ou, se quiserem, um combate entre representantes de duas facções nobres estritamente limitado aos exércitos de cada um. Aliás, como seria o mais vulgar na época.
Temos, é certo, a nomeação de Domenico cinco dias depois como Guardião da Porta e se porventura se tratasse de outro que não Taviani, ficaria a dúvida razoável pois em história, é de boa regra duvidar de coincidências. Mas Taviani é o “grande patrão” que, querendo, pode pedir cópias de correspondência ao Arquivo do Vaticano ou investigar toda a família Cibo; assim, sem grande esforço, poderia mandar investigar e apresentar o que transformaria a coincidência em indício.
É o próprio Taviani que nos brinda com a informação de que o cargo de Guardião tinha a duração de treze meses. Ora nada custava investigar a data da nomeação do Guardião anterior e informar-nos de que não tinha cumprido o mandato completo pois, aí sim, haveria um forte indício de que a nomeação de Domenico estivesse ligada aos acontecimentos políticos. Mesmo que não quisesse aprofundar tanto num texto de divulgação para público não especializado, o mínimo dos mínimos seria um singelo acrescento “tal como também ocorreu nas outras portas da cidade” (o que, pelo silêncio, presumo não ter acontecido).
Assim, a melhor hipótese é que a nomeação de Domenico estivesse já prevista umas semanas antes, como normal para um mandato de mais de um ano e, de duas uma, ou havia sido nomeado por ser mais chegado aos Adornos ou, o que de longe é a melhor probabilidade, o cargo de Guardião da Porta era um cargo menor e perfeitamente irrelevante para quem quer que ocupasse o poder político.
O que seria ou poderia ser o cargo de Guardião da Porta, ficará para outra ocasião mas, apenas para remate, Taviani, a partir do facto de Domenico ter voltado a ser Guardião da Porta em 1451 quando governava Pietro Fregoso, propõe que teria já sido esse mesmo Pietro quem teria intercedido junto do tio para que Domenico fosse nomeado. Mas nem um dado só, pequeno que fosse, sobre as datas em que Pietro assumiu o poder e o deixou; nem uma palavra de explicação para algumas das ocasiões em que Domenico se atrasou nos pagamentos ao Convento, e coincidiam também com os três governos dos Fregoso, incluindo o de Pietro.
Enfim, muito ingratos seriam aqueles Fregosos para com os seus activistas e fiéis militantes!
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
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Guardião da Porta - O que seria?
Caros confrades,
Diz-nos Taviani que Domenico foi por duas vezes Guardião da Porta, “um cargo de certa importância”. Como vimos, havia-nos também dito que o cargo era exercido por treze meses.
E mais não disse.
Comparando com anteriores instâncias em que a partir de um processo por dívida, deduz toda uma vida comercial de que não há a menor evidência; de que, a partir de uma data coincidente em cinco dias com uma alteração política ao mais alto nível, deduz toda uma carreira política que, sem qualquer outra evidência e repetida por várias vezes ao longo do seu texto - “não seria provável que Domenico, tão activo politicamente nos anos 47-50 deixasse de o ser” ou “ as suas mudanças de residência devem também ser lidas à luz da actividade política, tão perigosa na Génova do séc. XV” e outras - o silêncio de Taviani sobre a Porta é mais uma vez ensurdecedor.
Uma breve descrição das tarefas efectivamente exercidas, dos pagamentos ou de honras inerentes, uma exemplificação de identidades e profissões de outros Guardiões de Porta, sei lá, qualquer coisa.
Mas, dado que tudo o que temos é que se tratava de cargo de “certa” importância, passemos a analisar que funções poderiam estar associadas a uma Porta de uma cidade muralhada e também cabeça de um grande empório comercial.
Antes do mais a função militar que, nesse tempo se confundiria também com a policial.
Essa será de regeitar liminarmente pois funções militares dão lugar a pagamentos e a postos com direito a tratamento pelo posto. Mesmo sem qualquer graduação, não seria possível um militar intervir em tantos actos notariais sem alguma vez ser identificado como militar.
Depois uma função alfandegária. Certas mercadorias poderiam pagar direitos à cidade ou até não ser permitida a sua comercialização e isso deveria ser fiscalizado. Poderia sê-lo logo no porto, à descarga dos navios e em portagens nas estradas de acesso mas, nada impediria que também o fosse à entrada na cidade.
Esta seria uma função complexa - que em Portugal caberia a diversos possíveis funcionários mas, por excelência, ao almotacé - e para a qual seriam necessários estudos, pelo menos ao nível de escrivão. Ora, nisso Taviani elucida-nos sem margem para dúvidas que Domenico não teria estudos “embora soubesse o suficiente para compreender as escrituras em que intervinha”. E, se tivesse competências para qualquer função administrativa, não continuaria obviamente como tecelão de lã.
Em tempos, quando manifestei estranheza pela quantidade de actos em que intervinha uma família de modestos artífices, fui atacado com dois tipos de argumentos: que não seriam tão modestos como isso e que Itália não tinha comparação com Portugal, não surpreendendo que a três ou quatro actos na média nobreza portuguesa pudessem contrapor-se dezenas na “pequena média burguesia” italiana.
Do primeiro já disse o que tinha a dizer, do segundo e se fosse verdade, o corolário seria provavelmente um esplêndido conhecimento da nobreza e das genealogias italianas. Não é o caso.
Um conhecedor classifica a nobreza italiana como “uma confusão que dá dó”. Diz que há poucos registos e pouco confiáveis advindos da primeira metade do segundo milénio e que cada pequeno burgo tinha a sua nobreza própria com os seus próprios critérios e tratamentos: uma salada!
Em Génova haveria pouca coisa até à constituição da república (1528?) quando toda a nobreza foi democratizada com o sistema de patriciado mas nem todas as anteriores famílias de nobreza histórica anterior (a república aristocrática) aderiram “ab initio” ao sistema. Mas porque os cargos públicos eram exclusivos dos patrícios, lá tiveram que ir cedendo, bem como várias famílias burguesas também entraram no patriciado, tornando-se portanto nobres.
A regra geral é que quem era nobre era patrício e estava no Livro de Ouro. O “Libro d’Oro” parece ter sido queimado no tempo de Napoleão mas foi reconstituído a partir de diversos registos existentes.
Ora o que se deduz, é que em Génova haveria a tradição de reservar o serviço público à nobreza e tal como em Portugal na mesma época, os cargos com algum significado eram atribuídos à nobreza ainda que à muito pequena nobreza como seria um escudeiro a quem fosse dado o ofício de escrivão. E esse ofício seria, por regra e salvo “acidentes” como por exemplo Alfarrobeira, exercido ou detido por toda a vida e, sujeito a confirmação, seria herdado por um filho ou genro. Claro que, nesta descrição nunca caberia um cargo exercido (rotativamente?, por sorteio?, por escolha dentro da corporação?) por treze meses.
Tudo assim indica que Guardião da Porta fosse um cargo menor, possivelmente apenas gratificado e reconhecido por alguma manifestação pública. Nada me admiraria que os Guardiões das Portas tivessem uma espécie de opa própria e lugar cativo nas várias procissões em que também se manifestava a religiosidade medieval.
Há anos, investigando uma costela alemã na minha ancestralidade, deparei-me com um antepassado “Gemeinheitsvorsteher”.
Quem souber alemão ficou já surpreendido porque esta palavra não pode existir. Traduzido à letra seria qualquer coisa como um “director dos vis” ou um “presidente dos reles”. Ou por analogia Romana, um senador da ralé. Ora a ralé não tinha representação política e os senadores eram de famílias patrícias. Senador da ralé não podia existir.
Depois de contactar o “Stadtarchivar”, muito prestável e sabedor, lá me explicou que se tratava de uma cidade fortificada, dividida em quarteirões e que o meu avô seria uma espécie de chefe de um desses quarteirões. Não um vereador, nem sequer o equivalente a membro de junta de freguesia nem sequer um funcionário; apenas uma espécie de interlocutor entre a vereação da cidade e os habitantes do bairro. Como noutras ocasiões, também se documentou como “Ackermann” agricultor e “Gastwirth” estalajadeiro ou taberneiro, o nível social ficou bem delimitado.
Ora, voltando à Porta dell’Olivella e eliminadas funções militares ou alfandegárias, poderemos admitir que:
a) a Porta devesse ser aberta e fechada, diária ou semanalmente.
b) a Porta devesse ser limpa (imaginem uma porta medieval tipo entrada em Valença do Minho e o efeito conjugado de um espaço fechado e empedrado sobre animais de tiro que, nervosos com a mudança de ambiente tenderiam a urinar e defecar).
Não digo que fossem essas tarefas executadas pelo Guardião pois elas caberiam naturalmente a presos mas alguém teria de coordenar o trabalho.
Em resumo, nada me admiraria que, no silêncio de Taviani o “custodiam turris et porte” fosse pouco diferente do “Gemeinheitsvorsteher”.
Com os meus cumprimentos,
Fernando Aguiar
P.S. - A benefício de alguns, com especial relevância para a confrade Maria Benedita que o referiu por mais de uma vez, é outro o entendimento do prof. Francisco António Dória. De facto o prof. Dória contradisse o conhecedor que citei no assunto dos cargos públicos em Génova serem exclusivo do patriciado e exemplificou exactamente com o pai de Colombo e o cargo exercido na Porta; mas não com outros cargos que evidenciassem um conhecimento aprofundado.
Para quem está habituado a ler o prof. Doria, era claro que estava a falar em termos coloquiais ou culturais mas não científicos ou seja, a afirmar o que há muito estava convencido mas nunca tinha estudado em profundidade. Desde logo a simples referência ao “pai do Colombo” sem identificação precisa nem identificação da Porta que era a dell’Olivella ou a Porta Leste mas, mais reveladoramente, por ter atribuído ao pai do Colombo o cargo de “administrador” da Porta. Ora o prof. Doria tem conhecimentos de latim - e até de grego - e, se tivesse estudado o assunto nunca traduziria “custodiam” por administrador, que, se existisse, seria sim um cargo que sugeria funções fiscais e alfandegárias.
Deitando-me a adivinhar, eu arriscaria afirmar que o prof. Dória, nesta questão, está “sugestionado” e até admito que seja mais uma fruto da escola “plantada” por Taviani em 1990 quando visitou o Brasil.
F.A.
P.P.S. - Com esta mensagem, dou por terminada a desmontagem que me propusera sobre os Colombos de Génova.
À guisa de conclusão, relembro que Domenico se documentou 3 vezes como tecelão (textor pannorum) uma vez como taberneiro. Foi duas vezes nomeado Guardião da Porta dell'Olivella e é tudo. Nunca se documentou como comerciante nem sequer foi como tal referido em documentação coeva. Foi ele próprio aprendiz para terceiro não familiar e um filho seguiu-lhe as pisadas. Tudo muito rasteirinho.
F.A.
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