D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
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D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
Será que alguém me pode explicar o seguinte, relativamente aos maridos da Raínha D. Maria II?
Porque é que D. Fernando aparece sempre designado como D. Fernando II Rei de Portugal, enquanto D. Augusto de Beauharnais é apenas designado como Duque de Leuchtenberg, sem qualquer referência como "Rei de Portugal"?
Parece-me que nem um nem outro foram Reis de Portugal, mas apenas maridos da Rainha. No entanto, a diferença de tratamento deixa-me intrigado.
Se alguém me souber dar uma explicação, agradeço....
Obrigado,
Francisco Andrade
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RE: D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
Caro Francisco de Andrade:
D. Augusto de Beauharnais foi príncipe consorte durante escassos meses.
O mesmo aconteceu com o segundo marido de D. Maria II. Julgo que, largos anos mais tarde, após haver descendência desse casamento, passou a usar, a título excepcional, o título de Rei. Já algo assim tinha acontecido com o marido de sua bisavó, D. Maria I, o príncipe D. Pedro, rei consorte, que na história ficou como D. Pedro III.
Cumprimentos.
António Taveira
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RE: D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
Caro António Taveira,
Muito obrigado pela sua pronta resposta. Parece-me que o título de Rei consorte só era atribuído quando a Rainha tinha descendência...será isso? Parece-me a única razão para a diferença de tratamento, já que a única diferença entre o infeliz D. Augusto e os casos que refere, de D. Pedro III e D. Fernando II, é que estes últimos tiveram Filhos Reais, enquanto o primeiro não os teve.
Com os meus cumprimentos
Francisco Andrade
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RE: D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
E neste caso bem se pode dizer que D. Augusto se limitou a receber o título de Príncipe Consorte...coitado, logo ele que não teve sorte nenhuma....
Cumprimentos,
Francisco Andrade
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RE: D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
Caro Francisco Andrade:
Os maridos da rainha não tinham o título de reis. Só a elas competia o exercício dos poderes reais. Outra situação podia originar conflitos que teriam de ser prevenidos.
Só tivemos duas rainhas que não o foram pelo casamento.
D. Maria I, casada com o tio, irmão do pai, D. Pedro III, representante da varonia de Bragança. Este usa o título de rei, consorte, às vezes mesmo figuram como "Casal Real" - D. Maria I e D. Pedro III, reis de...
Com D. Maria II, algo idêntico parece ter sido alinhavado pelo seu casamento contratado com D. Miguel. Sabemos o que aconteceu. Julgo que o uso do título de rei por D. Fernando é muito posterior ao seu casamento com a rainha, não sei se mesmo após a viuvez, e já no reinado de seu filho.
Cumprimentos.
António Taveira
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RE: D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
Caríssimos:
D. Fernando II recebeu o título de rei logo após o nascimento de seu filho primogénito, o futuro rei D. Pedro V, havido da rainha D. Maria II.
O reinado de D. Fernando está compreendido entre essa data (1837) e o falecimento da rainha D. Maria II em 1853.
D. Fernando exerceu por várias vezes, inclusive após a morte da rainha D. Maria II, a função de regente do Reino, nomeadamente entre 1853-55, até D. Pedro V entrar nos 18 anos de idade e ser declarado maior.
Esperando ter contribuido para o esclarecimento desta questão...
Um abraço.
Sempre,
Pedro França
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RE: D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
Caro Pedro França:
Obrigado pelo esclarecimento prestado.
Cumprimentos.
António Taveira
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RE: D. Augusto de Beauharnais e D. Fernando II
Caríssimos
Esta é a grande diferença duma monarquia democrática á portuguesa, comparada com as actuais e "progressivas" monarquias europeias, nomeadamente Reino Unido, Dinamarca e Holanda, onde os consortes padreadores de varões-herdeiros nunca chegam ou chegarão (apesar de bem cumprirem os deveres constitucionais e conjugais) a reis e paradoxalmente têm comichões em tudo o que chamam discriminação de género, Muito puderão aprender com as lusitanas prácticas de há 150 anos. Não acham?
Cumprimentos
Aguerreiro
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RE: Discurso do rei D. Fernando II (*D. Pedro V)
Caros Francisco Andrade, António Taveira, Pedro França e Aguerreiro,
A título de curiosidade aqui vos deixo um interessante excerto do livro Contemporaneos Illustres – D. Fernando II de Portugal escrito por F. J. Pinto Coelho e editado em 1878 pela Imprensa Nacional, págs 42 a 44.
Os meus cumprimentos,
José Pedro Castro
O príncipe D. Fernando, em 1836, fez uma longa visita ao monumento de D. João I, conhecido pelo nome de convento da Batalha. O príncipe e estudou aquela magnifica construção, desde os mais baixos pavimentos até à própria cobertura, maravilhando-se de obra tão notável.
Esta visita do príncipe valeu-nos o não ficarmos sem aquele magnifico edifício, porque pouco depois o governo, a instancias do augusto e desvelado protector das artes, decretou que se fizessem varias reparações no edifício da Batalha, e reparações importantes, aliás o país perderia aquele monumento nacional !
Chegou finalmente a época jubilosa para o príncipe: - mês de Setembro de 1837 !
A gravidez da rainha chegara ao seu termo, o país inteiro esperava esse momento para exultar de entusiasmo, por adquirir a certeza de que a dinastia constitucional se perpetuava na pessoa dos seus legítimos descendentes.
No dia 16 de Setembro, pelas onze horas e um quarto da noite, a rainha D. Maria II deu à luz um menino, que mais tarde ocupou o trono, e que se chamou D. Pedro V !
Lisboa iluminou-se como por encanto, logo que ouviu as salvas de cento e um tiros dados pelo castelo de S. Jorge e pelos navios de guerra, anunciando-lhes o nascimento do príncipe.
Todo o ministério, presidente das cortes constituintes, corpo diplomático, câmara municipal, autoridades, oficiais mores e damas, reuniram no paço, como é de estilo.
O príncipe D. Fernando recebeu inúmeras felicitações, e o tratamento de – rei – pela primeira vez.
Eis a felicitação do presidente das cortes: «Senhor ! – O desejado e feliz nascimento do sereníssimo príncipe, com que o céu abençoou a ditosa união de vossa majestade com a filha augusta do imortal duque de Bragança, nossa excelsa e adorada rainha, é para a nação portuguesa uma época de esperança e de geral contentamento. Um príncipe, que perpetuasse a dinastia da casa de Bragança e de Gotha-Coburgo sobre o trono de D. Afonso Henriques, era o objecto dos votos mais fervorosos do povo português. O céu ouviu nossos rogos, dando a vossa majestade um filho, e à coroa um sucessor.
É por este venturoso acontecimento, que as cortes gerais constituintes mandam esta deputação felicitar vossa majestade em nome do povo, que representam, e que se gloria de contar a vossa majestade no catalogo dos seus reis.
Tais são, senhor, os sentimentos da mais sincera dedicação que as cortes gerais constituintes tributam a vossa majestade neste faustíssimo dia.»
El-rei D. Fernando respondeu:
«Muito grata é para mim a manifestação dos sentimentos, que as cortes gerais constituintes mandam significar-me pelo feliz nascimento do príncipe sucessor da coroa. Certo que este acontecimento contribuirá poderosamente para a união e ventura de todos os portugueses, podeis asseverar às cortes, que para tão importante fim hei de constantemente empregar todos os meus desvelos.»
As câmaras municipais de Lisboa e Porto, e muitas corporações, felicitaram o rei D. Fernando pelo mesmo motivo.
O baptismo do príncipe teve lugar no dia 1 de Outubro, pela três horas da tarde, na capela do paço das Necessidades, recebendo o mesmo nome de seu avô materno – Pedro de Alcantara – sendo padrinho o Imperador do Brasil D. Pedro II e madrinha a duquesa de Bragança. Este acto solene foi celebrado com o maior esplendor, ostentando-se o mais rigoroso cerimonial e riqueza possível.
O ministro do Brasil que representou o imperador, chamava-se Sérgio Pereira de Macedo.
Depois do acto do baptismo entoou-se aquele grande Te-Deum, composto por D. Pedro, no Brasil, e que fora executado no Rio de Janeiro por ocasião do nascimento da rainha D. Maria II.
O rei D. Fernando mandou depois da cerimonia distribuir pelos pobres a quantia de 2.000$000 reis do seu bolsinho, para deste modo associar os infelizes à sua alegria !
O patriarca, que administrou os santos óleos, foi o cardeal Patrício da Silva, que tinha então oitenta e um anos de idade.
O príncipe real D. Pedro foi jurado e reconhecido pelas cortes, em 26 de Janeiro de 1838.
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RE: Discurso do rei D. Fernando II (*D. Pedro V)
Onde se lê:
O príncipe D. Fernando, em 1836, fez uma longa visita ao monumento de D. João I, conhecido pelo nome de convento da Batalha. O príncipe e estudou aquela magnifica construção, desde os mais baixos pavimentos até à própria cobertura, maravilhando-se de obra tão notável.
Deve ler-se:
O príncipe D. Fernando, em 1836, fez uma longa visita ao monumento de D. João I, conhecido pelo nome de convento da Batalha. O príncipe viu e estudou aquela magnifica construção, desde os mais baixos pavimentos até à própria cobertura, maravilhando-se de obra tão notável.
Direct link:
RE: Discurso do rei D. Fernando II (*D. Pedro V)
Caro Zé Pedro:
Esse excerto está repleto de atenções e emoções, só foi pena que "o objecto dos votos mais fervorosos do povo português, o de um príncipe, que perpetuasse a dinastia da casa de Bragança e de Gotha-Coburgo sobre o trono de D. Afonso Henriques (...)", ficasse gorado no infausto dia 5 de Outubro de 1910.
Todos esses sentimentos ficaram enfiados, amarfanhados no caixote de lixo da implantação da república.
Enfim, os motivos manifestados em 1837 não se mantiveram constantes e firmes nem respeitados duas gerações mais tarde. Se em 1837 a nação estava com os seus reis, em 1910 a nação virou costas e cruzou os braços para os seus reis.
Pedro França
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