Mancebia com padre
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Mancebia com padre
O que poderia acontecer socialmente a uma mulher solteira que tivesse um filho de um padre, numa vila da beira baixa no século XVII?
E ao padre?
O registo dde baptismo da neta dessa mulher indica claramente o nome dos avós, e identifica-os como mulher solteira e padre.
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RE: Mancebia com padre
Não deve haver ninguém em Portugal que não descenda de padres e de manteúdas. Começa pela Casa Real. Isto é um país de matriz católica e não protestante, do proibido e não do contratado. Onde tudo era proibido havia tolerância social.Quanto aos padres da Beira Baixa pergunte ao Coronel Silva Rolão, se a informação não vier nos seus volumes. Uma parte da Cª. Eclesiástica está no ANTT.
Cumprimentos.
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RE: Mancebia com padre
Não conheço bem a realidade beirã, mas é provável que não fosse muito diferente da minhota.
Embora o pudor de muitos genealogistas em revelar esses casos faça com que sejam frequentemente omitidos nos seus trabalhos, eram, sem dúvida, frequentes os casos de padres com descendência. O facto não é de admirar, uma vez que nessa época, e mesmo em épocas mais recentes, os jovens seguiam a carreira religiosa por decisão dos pais e não por vocação ou decisão pessoal.
Para as famílias nobres empobrecidas a carreira religiosa era uma forma de garantir a sobrevivência dos filhos mais novos, sem terem de seguir profissões que aos seus olhos não eram compatíveis com o seu estatuto social. Os cargos religiosos também permitiam à família reforçar a sua influência na sociedade local, quando os seus membros se tornavam párocos nas terras de origem familiar, e facilitavam o estabelecimento de alianças matrimoniais entre famílias de estatuto relativamente elevado, quando ocupavam cargos em terras mais distantes daquela de onde eram originários.
Neste contexto, a transgressão do celibato pelo concubinato ou relações pontuais era então mais aceite pela comunidade do que na actualidade, em que, supostamente, ninguém é obrigado a fazer essa opção de vida.
Cada caso era um caso e variava muito, desde o concubinato com o conhecimento dos paroquianos, até ao caso negado e cuidadosamente escondido. No primeiro caso chegamos mesmo a verificar casos em que a paternidade era assumida pelo padre nos próprios registos paroquiais e, certamente, com a preservação do devido respeito perante os paroquianos. Noutros casos a paternidade era conhecida da comunidade, mas não era publicamente assumida pelo progenitor, e era feito silêncio sobre o assunto sempre que o decoro e o respeito ao pároco o exigiam. Os comentários feitos directamente ao faltoso seriam certamente raros. No outro extremo estavam os casos em que o progenitor negava a paternidade e a mãe e a criança podiam ser levadas para outra freguesia, para longe da vista e dos comentários dos paroquianos.
Não nos devemos esquecer que nessa época um pároco detinha bastante poder sobre os paroquianos. Ele era não só um mediador entre a população e o divino e, como tal, objecto de temor, como a confissão o tornava conhecedor de muitos dos segredos que os pecadores queriam esconder.
Por último, apesar do seu poder e deste aparente à vontade, os padres não estavam acima do julgamento, e os que cometiam este e outro tipo de faltas eram regularmente confrontados, questionados e repreendidos pelos visitadores. Na maior parte dos casos negavam estas acusações, sustentadas por informações obtidas junto dos paroquianos, e geralmente não alteravam o seu comportamento, o que se depreende da quantidade de vezes que alguns padres eram chamados à atenção por factos desta natureza, levando mesmo a crer que havia uma certa impunidade. É de crer que o testemunho de um padre contra o de um homem comum seria minimamente satisfatório para uma Igreja conhecedora dos contornos de uma realidade social que conduzia com alguma frequência a estas situações.
NBA
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RE: Mancebia com padre
O caso concreto que aponta sugere um cenário intermédio e comum: um padre que não assumiu claramente a paternidade, mas esta era conhecida das pessoas. Falecido o padre faltoso, o silêncio pôde ser quebrado e assumido o que era do conhecimento geral. Com frequência, os padres tinham um estatuto social superior ao das suas concubinas e os filhos ilegítimos casavam abaixo da condição social do pai. Assim, revelar a paternidade, mesmo que o pai ou a mãe da criança baptizada fosse fruto de uma relação socialmente condenável, podia ser uma forma de assumirem publicamente um facto só na aparência ocultado, e também de remeterem para uma origem social de extracto superior.
NBA
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RE: Mancebia com padre
Caro NBA
Muito obrigado pela informação. Foi-me muito útil.
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