A Vingança do Senhor de Aborim
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A Vingança do Senhor de Aborim
Caros Confrades
D. João de Castro, no seu livro, Portugal Amoroso, tem uma história com este titulo. Eu, por varias vezes na pesquisa de elementos relativos à historia da familia Barbosa, ramo de Aborim, me deparei com este "incidente".
A minha duvida é esta: existem documentos, e quais, que comprovem que Gonçalo Barbosa matou o Comendatário de Carvoeiro por pensar que tinha sido ele que raptara a sua filha ou não passa apenas de uma história, pois já li que este caso foi o inicio do declinio da Casa Barbosa de Aborim.
Grato pelas informações que possam prestar, cumprimentos,
Candido Rodrigues
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RE: A Vingança do Senhor de Aborim
Caro Confrade:
Sou neto de D. João de Castro. Como sabe, o livro “Portugal Amoroso” é uma colectânea de contos, onde alguns episódios históricos são romanceados, com base em acontecimentos muitas vezes transmitidos aos vindouros apenas por via oral. Não sei em que fontes se baseou o meu avô, mas admito que a ideia lhe tenha sido sugerida por Felgueiras Gayo, no seu Nobiliário de Famílias de Portugal. Em qualquer caso, não será fácil encontrar provas inequívocas do acontecido em tempos tão remotos.
Embora, muito provavelmente já conheça, transcrevo abaixo o que diz F. Gayo.
Melhores cumprimentos,
J. de Castro e Mello Trovisqueira
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Ttº Barbosas. § 29
N 20 BRITES BARBOZA filha de Gonçalo Fernandes Barboza N 19 do § 1 = diz o Reitor de Morufe, que não casara mas que tivera de Estevão Gonçalves Capelão que foi da Casa de seu pai, com a qual fugira para Coura e moraram no lugar de Lapela, ou Capela com tanto recato que nunca seu pai o soube, nem o pode descobrir, e julgando que nas suas vizinhanças não podia haver quem tivesse o atrevimento de lhe roubar sua filha mais o Comendatário do Carvoeiro, estando firme neste conceito de que ele tinha roubado quando o mesmo Comendatário passava para Braga lhe saiu ao caminho com Criados com lanças, e Adargas, e o matou as lançadas sobre umas lages que muitos anos concervaram o sangue daquele inocente, na frase dos Lavradores, e trazendo o dito Comendador um rico colar de ouro ao pescoço um criado do dito Gonçalo Fernandes Barboza lho tirara por cujo facto ficara seu amo culpado por ladrão, e salteador, e matador, e por isto lhe tiraram todas as merces e privilégios, e regalias da casa, e foi o princípio da ruína da casa: o Ab.e de Esmeriz no ttº de Barbozas diz que esta Brites Barboza fora casada com Estevão Gonçalves Justeiro, a que outros chamam Gesteiro, e diz mais que indo depois da morte de Gonçalo Fernandes Barbosa seu filho para aquelas partes, e anoitecendo lhe no lugar da Lapela one morava o dito Estevão Gonçalves Justeiro lembrandose dele que tinha sido criado da sua casa se foi a ela recolher, ignorando que ele lhe tinha furtado a irmã Brites Barbosa, e entrando pela porta dentro conhecendo a irmã esta, e Estevão Gonçalves se lhe lançaram aos pés a pedir-lhe perdão, e igualmente os filhos, e que ele enternecido das lágrimas lhe perdoara, e os trouxera consigo para Aborim, e apresentara no dito Estevão Gonçalves Justeiro já viúvo a Igreja de S. Miguel de Fontoura, e S. Julião da Silva: era o dito Estevão Gonçalves Justeiro dizem uns da família dos Novaes, e outros dizem ser da família dos Varelas de Salamanca, outros dizem que ele tomara o apelido de Justeiro 129 por ser natural do lugar da Gesteira em Coura, e que era pessoa Principal, e Padroeiro da Igreja de S. Maria de Linhares, e de Ferreira no concelho de Coura, e que não fora criado de Gonçalo Fernandes Barbosa, mas muito seu privado, por cuja amizade lhe furtara a filha. (ortografia actualizada)
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RE: A Vingança do Senhor de Aborim
Caro J. de Castro e Mello Trovisqueira
Muito lhe agradeço a sua resposta pronta. Efectivamente quando pesquisei os Barbosas de Aborim encontrei em vários autores a referencia a este caso. De qualquer maneira, e tendo este caso acontecido, não poderá existir algum "processo judicial" pois tratou-se de um homicidio e mesmo os nobres estavam sujeitos às leis do reino. Como sou um pouco leigo nestas andanças e os meus afazeres profissionais não me possibilitam deslocações a Arquivos, resolvi colocar esta mensagem no forum na esperança de que algum confrade já tivesse "tropeçado" neste caso que muito me intriga.
Com os melhores cumprimentos,
Candido Rodrigues
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RE: A Vingança do Senhor de Aborim
Caro Candido Rodrigues:
A história contada por Felgueiras Gayo (portanto, fins do séc. XVIII) é, pelos vistos, baseada no nobiliário do Abade de Merufe (meados do séc. XVII, que está inédito na Biblioteca do Porto): sempre, em qualquer caso, duzentos anos após estes acontecimentos...
O Gonçalo Fernandes Barbosa é referido como tendo participado em Aljubarrota (1385); ora, a esse tempo não havia ainda abades comendatários (no site da TT, pesquisando em "Carvoeiro", encontra a referência de que, no Mosteiro de Santa Maria de Carvoeiro, os abades comendatários surgiram em 1500. Quando muito, diria, em plena segunda metade do séc. XV. Assim, a Brites Barbosa deverá ter nascido não antes de 1440, creio - pelo que, ou não é filha de Gonçalo Fernandes, ou este não tem a cronologia que normalmente se lhe aponta.
Tanto quanto sei, a genealogia dos Barbosas entre os séculos XIV e XVI está completamente por rever... e será uma tarefa ciclópica, embora fascinante.
Melhores cumprimentos,
Marcos Sousa Guedes
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RE: A Vingança do Senhor de Aborim
Caro Marcos Sousa Mendes,
Muito obrigado pelos seus esclarecimentos. Efectivamente desde que comecei a pesquisar os Barbosas de Aborim este episódio sempre me fascinou e a busca por dados concretos sempre foi o meu propósito. Muitos autores falam deste episódio mas, daqueles que eu li, nenhum aponta documentos palpaveis que sustentem que efectivamente esta tragédia aconteceu. No entanto falam da perda de previlégios por parte da familia uma vez que o referido Gonçalo Barbosa foi intitulado além de assassino, de ladrão coisa ainda mais grave pois se lavar a honra com sangue ainda poderia ser "desculpavel" (visto à luz da época) o facto de ter roubado o morto (mais tarde provou-se que não foi ele mas sim um dos criados)foi uma ignominia inqualificavel para um nobre.
Outra coisa que eu gostaria de esclarecer (e posso estar a fazer uma grande confusão) é, quano F. Gayo diz que isto se passou em 1385, sobre que calendário se baseou, pois nessa altura Portugal regia-se pelo calendário Juliano (era de César), pois só em meados do sec. XV é que foi adoptado o calendário Gregoriano (era de Cristo que vigora até hoje) e como tal pode haver, ou não, uma discrepancia de 38 anos. Provavelmente a minha falta de conhecimentops nesta area é que está a provocar toda esta confusão mas, como este forum é frequentado por especialistas, aproveito e sempre aprendo mais um pouco.
Ao dispor e com os melhores cumprimentos,
Candido Rodrigues
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RE: A Vingança do Senhor de Aborim
Caro Cândido Rodrigues:
Receio que tenha interpretado mal um ponto da minha mensagem anterior, na questão de 1385. Salvo erro, Felgueiras Gayo não data este acontecimento (aliás está transcrito numa das mensagens acima): mas diz que Gonçalo Fernandes Barbosa participara, já idoso, em Aljubarrota (essa sim em 1385 do actual calendário). Sendo já idoso, admissivel seria que tivesse filhos adultos ou adolescentes, e portanto esta filha vivendo, digamos, entre 1370 e 1450. Daí o meu comentário sobre a estranha presença de abades comendatários (tão frequentes infelizmente nos mosteiros do Minho, mas apenas a partir das últimas décadas de 1400).
Quanto à "perda de privilégios", ou decaimento social dos Barbosas, vou deixar-lhe a minha opinião, que não é obviamente a de um especialista.
Os Barbosas são referidos nos nobiliários medievais como uma das principais famílias de Portugal, sendo Sancho Nunes "de Barbosa" cunhado do rei D. Afonso Henriques. Os genealogistas mais tardios (até Felgueiras Gayo, por exemplo) dão-lhes uma ascendência na varonia muito recuada, entroncando nos reis visigodos.
Ora, a partir, digamos assim, da segunda dinastia, os Barbosas estão completamente ausentes da primeira nobreza de Portugal. Nos séculos XVI e XVII abundam Barbosas pelo menos na região de Amarante-Baião e na região do Alto-Minho, em todas as classes sociais: por exemplo, pescadores em Viana ou Caminha (não estou certo, de momento). Seria tentador encontrar uma história-mito que "marcasse" a decadência, e esta aventurosa e romântica história presta-se às mil maravilhas: Gonçalo Fernandes Barbosa aparece assim nos nobiliários como ainda um cavaleiro "medieval", presente em Aljubarrota com "vinte lanças" (cito de memória o F. Gayo), e depois, subitamente, a explicação da queda no anonimato...
Note que no Minho, onde tudo isto se passa, a fronteira entre a nobreza e a "principalidade" dos concelhos (homens de 'peso local', pode-se dizer, mas muitas vezes artífices de ofícios mecânicos) parece muitíssimo fluida.
Actualmente, a trajectória dos Barbosas dos primeiros séculos de Portugal está bem estudada (principalmente por Sotomayor Pizarro, nas "Genealogias Medievais Portuguesas); e parece haver aqui, desde sempre, uma ilusão. Na verdade, esse Sancho Nunes de Barbosa terá casado duas vezes: uma delas com a irmã ou filha de Afonso Henriques, e desse casamento nasceu o conde Vasco Sanches, cuja descendência se extinguiu; do outro casamento terão continuado os "de Barbosa" (sem 'sangue real', portanto, embora nessa altura isso não fosse decerto tão significativo como mais tarde se veio a acreditar); como aconteceu a quase todas principais famílias da formação de Portugal (do Minho ou do Douro), perderam importância à medida que a Corte se deslocava para Sul (Coimbra e depois Lisboa); muitos filhos, ou a falta deles, terão feito o resto. Na Crise de 1383-85, Fernão Lopes já não menciona nenhum Barbosa como protagonista daqueles acontecimentos.
De modo que esta história vianesa, que "abre" os Barbosas do Alto-Minho, pode na verdade ter acontecido - não decerto naquela época (1400) e com uma filha de Gonçalo Fernandes, se ele tiver existido (creio que não está documentado). Talvez tenha (agora especulo...) também sido alimentada por famílias da região que, ocupando lugares de destaque na hierarquia de Viana - Ponte de Lima - Barca, não pudessem invocar tantas gerações de antepassados ilustres como os visigodos dos Barbosas...
E tanto quanto sei é tudo o que temos...
Melhores cumprimentos,
Marcos Sousa Guedes
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RE: A Vingança do Senhor de Aborim
Caro Marcos Sousa Guedes,
Muito obrigado pelos seus esclarecimentos. Sendo eu um completo leigo em genealogia, tenho aprendido muito neste forum com os confrades como o caro Marco, sempre dispostos a ajudar, e a partilhar o seu tempo e saber com quem está a dar os primeiros passos nesta àrea.
Aos poucos vou descobrindo mais alguma coisa sobre esta familia e tudo o que vier é bem vindo pois vai enriquecer o meu conhecimento sobre estes meus conterraneos.
Com os melhores cumprimentos,
Candido Rodrigues
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RE: A Vingança do Senhor de Aborim
Caro Cândido Rodrigues:
Também me interessam os Barbosas da Casa de Aborim, alguns possivelmente meus antepassados... infelizmente, nunca tive a oportunidade de visitar a Torre.
Esperando que nos vamos encontrando por aqui com mais novidades,
melhores cumprimentos,
Marcos Sousa Guedes
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RE: A Vingança do Senhor de Aborim
Caro Marcos
Muito obrigado por tudo. Se tiver oportunidade não deixe de visitar que vale a pena, apesar do estado de ruina em que se encontra o solar e a torre, é uma visao magnifica e imponente. Passo por lá todos os fins de semana e não me canso.
Vamo-nos encontrando por aqui.
Melhores cumprimentos,
Candido Rodrigues
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