Solar da Farrobeira, Moncarapacho (Olhão, Algarve)

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Solar da Farrobeira, Moncarapacho (Olhão, Algarve)

#256229 | rogeriod | 09 Jun 2010 07:26

No site do IGESPAR existe uma referência (património em vias de classificação) ao Solar da Farrobeira, localizado em Moncarapacho, no sitio da Farrobeira - alguém conhece a localização deste sitio? Embora existam algumas referências a este "solar" na internet, não consigo apurar a localização geográfica deste sitio. Estou curioso também em saber a que família este solar terá pertencido.

Obrigado e melhores cumprimentos,

Rogério

http://www.ippar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/70939/

O Solar da Farrobeira é uma construção privada setencentista, terminada muito possivelmente em 1737, data que figura numa inscrição na entrada da capela. Ao longo da sua história, serviu de residência a uma importante família nobre e rural da região, mas as mutações sócio-económicas do século XX determinaram a sua perda de função e o consequente abandono. Em 1998, já em adiantado estado de degradação, foi colocado à venda, prevendo-se para breve uma campanha de obras que, inevitavelmente, adulterará a imagem original do conjunto.
Compositivamente, o solar divide-se em três zonas distintas, perfeitamente marcadas na fachada principal: a área habitacional ocupa o espaço central, existindo, à esquerda, a capela e, à direita, a cozinha e demais dependências de apoio. A frontaria é, assim, o principal elemento de impacto do conjunto, desenvolvendo-se numa compacta massa horizontal, de um só andar, embora assimétrica. Com efeito, comprova-se que a organização dos alçados privilegiou uma preocupação funcional, se bem que a intenção de lhe conferir maior monumentalidade não esteja de todo ausente. Duas portas, intercaladas por sete janelas, em posição não simétrica entre si, marcam o alçado, sendo a sugestão de unidade dada pelo perfil do frontão que as encima, que é uniforme, composto por três segmentos contracurvados com motivo floral no tímpano. Superiormente, a empena é horizontal, marcada por cornija, existindo uma platibanda acima da linha de telhado seccionada em oito panos por pilastras e integrando cartelas axiais.
Esta platibanda é o elemento que sugere maior monumentalidade à frontaria, sugestão que se encontra também materializada no corrido degrau que antecede o edifício e na fachada principal da capela. Esta é de pano único entre cunhais-pilares encimados por fogaréus quadrangulares de terminação piramidal; o portal axial é de padieira recta, moldurado e encimado por ligeiro entablamento horizontal (sobre o qual existe uma pequena cartela de volutas cujo interior ostenta a inscrição com a data de 1737), e é ladeado por duas janelas quadrangulares com grelha de ferro em cruz; a empena retoma a sugestão de maior monumentalidade, na medida em que se compõe por amplo frontão circular, de desenvolvido cornijamento, rematado axialmente por cruz sobre peanha. Em posição um pouco recuada em relação à frontaria, existe uma torre sineira, de dois andares, marcada superiormente por arco sineiro de volta perfeita.
São muitas as dependências anexas de apoio, como estábulos, oficina, arrecadações, etc. A fachada posterior é particularmente importante para a correcta caracterização da vivência quotidiana deste espaço. Enquanto que, do lado dianteiro, o edifício denuncia uma clara tentativa de monumentalidade e até de cenografia, na secção posterior as dependências organizam-se para responder convenientemente às exigências de uma propriedade rural, cujas funções eram concentradas no edifício principal.
O interior foi alvo de uma pontual modificação no século XIX, mas mantém genericamente a organização original, conseguida através de um corredor transversal que corre ao longo das fachadas principal e posterior. A partir deste, abrem-se as várias dependências, as principais apresentando tectos trabalhados a estuque e a sala de jantar pinturas de parede e um armário embutido. O interior da capela é comunicante com a área habitacional e compõe-se por nave única e capela-mor quadrangular, com arco triunfal de volta perfeita encimado pelo brasão da família e retábulo-mor de talha com nicho central.
Pela sua posição rural, pela relevância histórica local (que não tem paralelo noutra edificação do concelho de Olhão), pelos elementos construtivos caracteristicamente algarvios e meridionais - como os telhados de tesouro, os contrafortes de algumas dependências, as cartelas e as platibandas, a chaminé quadrangular, etc. -, este conjunto tem uma inegável importância patrimonial, cujos valores essenciais importa preservar.

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#256230 | josécyr | 09 Jun 2010 09:01 | In reply to: #256229

Caro Rogério,
Fica na Estrada que vai de Moncarapacho para a Luz de Tavira, à direita a seguir ao “poço da Areia”.
Conheço muito bem e foi “restaurado” faz 3 ou 4 anos. Dos interiores, casa e capela, julgo que nada deve restar, lamentavelmente.
Quanto às origens da casa aponto que seriam dos “Afonso Pires” de Moncarapacho.
A Maria da Graça Pessanha e o seu irmão João Revez Pessanha, ela construtora e enterrada na Capela, eram filhos do Capitão Pedro Afonso Pires e de sua mulher Dona Inês Pessanha. Cuido que netos paternos do Capitão Sebastião Rodrigues Pires e de Isabel Ingrês e maternos de João Rodrigues de Carvalhos Revez e de Inês Martins, gentes de Moncarapacho e Quelfes e dos quais tenho algo mais por serem meus ascendentes.
Aqui vão umas notas do Dr. José Fernandes Mascarenhas sobre o Solar e filiação dos ditos:

“Filiação: "R.P. - (Pag. 10) - Baptismo de João, filho de Manuel Gonçalves e de Maria da Assunção, Moncarapacho, a 10.02.1704 - Padrinhos: João Revez Pessanha e sua irmã Maria da Graça, ambos solteiros e filhos do Capitão Pedro Afonso Pires e de sua mulher Dona Inês, do Poço das Figueiras".
Dona Maria da Graça, foi grande benfeitora e fundadora da Capela de Nossa Senhora da Conceição da Herdade da Farrobeira, que ainda existe. Não teve geração. Na capela, por cima do arco do altar, existem as armas com, Pessanhas, Mellos e Castros, atribuídas estas últimas aos Gouveias. É referida como irmã do Capitão João Revez Pessanha no baptismo de Vasco de Freitas Relego, em Moncarapacho a 10-02-1715.
Faleceu solteira.”
Um abraço,
Zé Cabecinha
PS – A casa, do Morgado da Farrobeira, é muito mais antiga que o XVIII e remonta ao Sec. XVI.

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#256231 | josécyr | 09 Jun 2010 09:50 | In reply to: #256229

Caro Rogério,
Ainda que muito más, e anteriores às obras de recuperação, aqui vai um link para umas fotos do Solar e Capela.
Zé Cabecinha
http://radix.cultalg.pt/visualizar.html?id=16784

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#256256 | correa | 09 Jun 2010 19:23 | In reply to: #256231

Caros Rogério e José Cabecinha

Até que enfim se volta a falar de Moncarapacho!
Nos meus apontamentos tenho seguinte:
Maria da Graça Pessanha foi batizada em 18/11/1715 em Moncarapacho, e faleceu aí em 20/2/1759, solteira.
Era filha do capitão Pedro Afonso Pires e de Inês Pessanha de Aragão, casados em 3/12/1705 em Santa Catarina de Tavira, neta paterna de Gaspar Rodrigues Pereira (da Conceição de Tavira) e de Isabel Estevens Valente (de Moncarapacho), neta materna de Domingos Pereira da Costa ( de Sto Estevão) e de Isabel Vaz Pessanha (de Sta Catarina).
Maria da Graça Pessanha fez em 7/1/1743 uma doação para seu afilhado e sobrinho (?) António José Pessanha Pereira "se ordene de ordens sacras e ficar com a Capela que instituiu de NªSrª da Conceição com missa diaria...".
Este afilhado poderá ser o que casou em 11/1/1745 em Moncarapacho com Isabel Caetana da Franca, ele filho de pais incógnitos no registo do casamento, possivelmente sobrinho carnal e não legal.
Também encontrei outra escritura em que dá alforria a 6 escravos em 31/7/1756.
A Capela tem sido vandalizada, se continuar o abandono pouco dela restará.
A.Correa

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#256261 | rogeriod | 09 Jun 2010 20:20 | In reply to: #256256

Caro Zé Cabecinha e A. Correia,

Obrigado por toda a informação! No próximo fim de semana quando estiver no Algarve irei então tentar descobrir o sitio do solar, uma vez que não conheço e fiquei curioso.

Melhores cumprimentos

Rogério

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#256267 | josécyr | 10 Jun 2010 00:18 | In reply to: #256256

Caros Amigos António e Rogério,
Tenho dúvidas se será essa Maria da Graça, a que o amigo António Horta Correia aponta. Temos, em Moncarapacho 3 que poderão ser a dita. Senão vejamos:
Pelo menos 1 delas, a que julgo ser correcta e de cujos pais não encontrei o casamento, mas de quem se diz;
"R.P. - (Pag. 10) - Baptismo de João, filho de Manuel Gonçalves e de Maria da Assunção, Moncarapacho, a 10.02.1704 - Padrinhos: João Revez Pessanha e sua irmã Maria da Graça, ambos solteiros e filhos do Capitão Pedro Afonso Pires e de sua mulher Dona Inês, do Poço das Figueiras".
Ora esta já existia, a par de seu irmão João Revez Pessanha em 1704, não podendo ter nascido em 1715 e ainda por cima referida como sendo do Poço das Figueiras. A dita terá nascido circa 1680, e o seu irmão João (Revez Pessanha?), a 15.02.1677.
A outra, será a Maria da Graça, filha de Sebastião Rodrigues Pires e de Maria Pessanha, baptizada a 22.11.1681, e que, por acaso, tem também um irmão de nome João, baptizado a 15.04.1680. Dela diz-se: "é referida no baptismo de Manuel, filho de Manuel Fernandes, da Foupana e de Isabel d' Orta, nascido a 15-04-1704 e baptizado a 24-04-1704 - (Pag. 13 v) - Padrinhos: "Gaspar Soares de Barros e sua enteada Maria da Graça".
A 3.ª a apontada pelo Horta Correia.
Vamos ver se de uma vez por todas conseguimos esclarecemos esta confusão.
Um abraço
Zé Cabecinha
PS - Se o Rogério tiver disposto vamos à Farrobeira juntos pois quero ver se tiro fotografias dela também.

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#256347 | correa | 11 Jun 2010 18:43 | In reply to: #256267

Caro José Cabecinha

Como é obvio trata-se de pessoas distintas,resta saber qual foi a que instituiu a capela da Farrobeira.
A 2ª hipotese que colocou, (a enteada do Gaspar Soares de Barros), julgo que deverá ser eliminada, pois essa Maria da Graça faleceu em 21/3/1735 "sendo testamenteiro Gaspar Soares de Barros".
Em abono da minha hipotese fica a escritura da doação feita em 1743 a um sobrinho para se ordenar...Ora a Maria da Graça da 1ª hipotese teria nessa data 63 anos e um sobrinho não teria idade para se ir ordenar, pois aos 40/45 faleciam.
Também não sei porque se associa a Maria da Graça que pretendemos saber a um seu irmão João Revez Pessanha.
Se fosse assim não haveria duvida de que a certa seria a 1ª hipotese, até porque a da 3ª hipotese não tem irmão João.
Poderá ainda aparecer qualquer outro documento que nos esclareça definitivamente.
Um abraço
A.Correa

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#256481 | josécyr | 14 Jun 2010 09:14 | In reply to: #256347

Caro Amigo António H. Correia,
O que me leva a pensar que terá que ser uma anterior a 1715, é o facto de, salvo o erro na data, a casa da fazenda estar concluída em 1723 ou 1727. Segundo informação do "guarda/caseiro" do actual dono, e também segundo me recordo, esta data estava na chaminé da cozinha velha da casa.
Depois, há também o facto da capela estar terminada em 1737.
Julgo que, para uma mulher nascida em 1715, esta seria muito jovem para tratar destes assuntos ou instituir algo. Mais, depois de lá ter estado, este domingo, com o confrade Rogério Domingues, fiquei com a impressão de que nunca houve um Morgado (do qual, como sabe, nunca se encontrou documentação) mas sim a instituição de uma capela. Em abono disto aqui vão os dados que estão na sepultura da Maria da Graça:
S[EPULTURA] DE D[ONA] M[ARI]A DA GRACA PECCANHA Q[UE] MANDOU F[A]Z[E]R P[AR]A SI E SEVS ADIMINISTRADO[RE]S. (leitura do confrade Rogério Domingues).
Quanto, à idade, se tivesse nascido na década de 80 do XVII, seria mulher a falecer com cerca de 79 a 80 anos, o que não está fora de questão e justificaria a tradição local de que morrera com um certo "cheirinho de Santidade" uma vez que, durante toda a sua vida, havia sido muito benfeitora dos pobres da zona.
Um abarço,
Zé Cabecinha

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RE: Solar da Farrobeira, Moncarapacho (Olhão, Algarve)

#279021 | rogeriod | 19 Jun 2011 18:46 | In reply to: #256481

A pedido de muitas famílias aqui deixo um link para um álbum de fotografias do Solar da Farrobeira, agora devidamente restaurado como uma residência particular, tiradas aquando de uma visita em Junho de 2010, quando o Zé Cabecinha e eu decidimos tentar redescobrir o famoso “Solar da Farrobeira” de D. Maria da Graça Pessanha.

http://www.facebook.com/media/set/?set=a.153206054751012.39066.153196254751992&l=6a5b2685b8

Melhores cumprimentos

Rogério

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#279040 | josécyr | 19 Jun 2011 20:43 | In reply to: #279021

Caro Rogério,
Obrigado pelas fotos que estão mágnificas. Cá fica algo mais sobre o Algarve desconhecido de muitos. Um abraço. José Cabecinha.

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