Descendência de D. Lopo da Cunha, de Santar, e de uma "negra"
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Descendência de D. Lopo da Cunha, de Santar, e de uma "negra"
Caros Confrades,
Durante a consulta da Diligência de Habilitação de Luís Gomes Loureiro (natural de Aldeia de Carvalho, Alcafache, Mangualde) a Familiar do Santo Ofício, deparei-me com o seguinte trecho:
“e informandome com Manuel da Cunha Cardoso do lugar de Tibaldinho da freguesia de Acafache por ser pessoa limpa sem embargo de me diser que era parente do pertendente [o Pe. Luís Gomes Loureiro] por via de Simão Gomes de Loureiro me disse que ouvira diser a seo avo Simão Manuel que faleceo de 84 annos que D. Lopo de Santar o que fugio para Castella no levantamto do Sr. D. João o 4 tivera tres filhas de huma negra e que as cazara com tres homens principaes do Concelho de Senhorim”.
(http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2336245 - PT-TT-TSO-CG-A-008-001-17311_m0016.tif)
Trata-se, sem dúvida, de D. Lopo da Cunha, de Santar, cujo levantamento contra D. João IV é sobejamente conhecido da literatura genealógica e não só.
Devido à necessidade de confirmar a limpeza de sangue do habilitante, os inquiridores tiveram que aprofundar a sua relação com essa “negra” que, assumo, teria sido uma escrava de D. Lopo da Cunha, não obstante não ter conseguido, ainda, encontrar mais informação. É certo, contudo, que alguns dos descendentes de D. Lopo da Cunha e da referida “negra” vão parar a Gandufe (Espinho, Mangualde) mas a ausência de documentação não permite mais do que a seguinte reconstrução:
0 - D. Lopo da Cunha, de Santar, que fugiu para Espanha em 1641, terá tido 3 filhas de uma "negra" que, depois, casou em boas famílias. Destas, interessa-nos uma:
1 - ?
1 - ?
1 - Helena de Morais cc ?
2 - Isabel de Morais cc Francisco Lopes, de Gandufe. Terão tido, pelo menos, 2 filhos:
3 - Simão Lopes (b. ? - f. 9/9/1663), cc Francisca Antunes (b. ? - f. 18/3/1690), ela sendo natural da Roda, Mangualde, e tendo depois residido em Gandufe. Tiveram, pelo menos, 2 filhos:
4 - Jerónimo Lopes (b. ? - f. 30/11/1714);
4 - Francisca Antunes (b. ? - f. 6/10/1696).
3 - Elvira (Ervilha) de Morais (b. ? - f. ?) cc Belchior Pais (b. ? - f. ?) em 27/2/1634, ele natural de Espinho, Mangualde. Tiveram, pelo menos, 1 filha:
4 - Isabel de Morais (b. ? - f. ?) cc Simão Gomes de Loureiro (b. 17/9/1625 - f. ?), natural de Aldeia de Carvalho, Alcafache. Tiveram, pelo menos, 2 filhas:
5 - Maria de Loureiro cc Luís de Faria, tiveram pelo menos um filho:
6 - Luís Gomes de Loureiro, FSO.
Gostaria de perguntar ao fórum se alguém tem conhecimento de mais dados sobre esta “negra” e a sua descendência, nomeadamente quem terão sido os “homens principais” do Concelho de Senhorim com os quais as suas filhas se casaram.
Cordiais saudações,
Francisco Faure
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Caro confrade,
Pelo cruzamento de datas parece-me haver, na sua proposta de linha genealógica, uma geração a mais entre D. Lopo da Cunha e sua bisneta Elvira (Ervilha) de Morais que case em 1634. No entanto, não é impossível.
Cumprimentos,
MSS
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Caro Confrade MSS,
só hoje lhe respondo por não ter recebido notificação da sua mensagem, mas desde já agradeço a sua resposta.
Também me apercebi da questão das datas e do curto espaço de tempo. De facto, não sendo impossível, implicava uma nova geração a cada 15 anos (mais ou menos) o que é incomum, pelo menos para as idades "normais" nos livros que consultei.
Cumprimentos,
Francisco Faure
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Caro confrade,
Da "negra" escrava dos Senhores de Santar provem vasta prole que toca a muitas famílias da região.
Para alem da Helena de Morais a que faz referencia da sua mensagem, sabemos que teve outra filha de nome Francisca de Morais (da Cunha), casada bem dotada com Manuel Fernandes de Carvalho, dito "o Padelo", do Carvalhal Redondo.
Trata-se deste casal que está na BD deste site:
https://geneall.net/pt/nome/316773/manuel-fernandes-de-carvalho-o-padela/
Vários descendentes deste casal tentaram se habilitar ao S.O. e pela leitura destes processos não restam dúvidas que estas Morais eram efetivamente filhas de uma escrava, provavelmente negra, possivelmente mourisca (não há opinião unânime), dos Cunhas de Santar.
Em relação à paternidade é quase certo que são filhas de um dos Senhores Cunhas...No entanto, não é possível saber pelos processos de qual. (muito provavelmente de D. Pedro, ou D. João). A proposta de serem filhas de Dom Lopo está descartada pela cronologia.
Tanto Helena de Morais como Francisca de Morais terão nascido entre 1540-1560.
Seguem os filhos deste casal:
1 - Manuel Fernandes (de Carvalho, segundo seus bisnetos), "o Padelo" de alcunha, nat.Carvalhal Redondo. vivia das suas fazendas
casou c. Francisca de Morais, nat. Santar, filha de um Senhor de Santar e de uma sua escrava
moradores no Carvalhal Redondo e tiveram:
1.1 - Maria Manuel, cas. c. João Francisco (um dos filhos n. 1604)
1.2 - Catarina de Morais cc António de Abrantes
1.3 - Antónia de Morais da Cunha cc Manuel da Costa Godinho, n.Midões
1.4 - Simão de Morais cc Mécia Godinha da Costa, n. Midões (doc. filhos bp.1605 e 1607)
1.5 - Manuel Fernandes de Carvalho, casado morador em Vimeiro/Sta Comba Dão
Todos com descendência nas principais familias da região.
Nesta BD Manuel Fernandes o Padelo aparece duplicado aqui como pai de Manuel Fernandes casado com Antónia Lopes, avós do FSO Simão Manuel Monteiro, de Alcafache. Esta relação é manifestamente (geografica e cronologicamente) impossível, pelo que o verbete deve ser corrigido.
https://geneall.net/pt/nome/634283/manuel-fernandes-do-amaral/
Fica por descobrir, se deveras existiu, o nome da terceira irmã.
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Caros Confrades,
Numa diligência de habilitação mais antiga algumas testemunhas dizem que Francisca de Morais era filha de uma negra cativa dos Senhores de Santar e de um mouro que se chamava Morato Aray (?) que não foi baptizado e foi sepultado numa estrada junto a uns álamos. “Dizem os descendentes deste mouro que esta negra concebeu de um fidalgo da Casa de Santar o que é falso porque a dita negra pariu três vezes três filhas nas estrebarias do dito fidalgo...”
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Confrade,
É necessário ler todas as inquirições. Numa obra publicada conhecida, o autor desconsidera que Francisca de Morais pudesse ser filha de uma escrava por Maria Manuel (neta) e seu filho serem "alvos sem sinal de mulatice". Desconsiderando outros testemunhos que mostram que outros parentes - por exemplo, João de Morais de Nelas, e um filho de Catarina de Morais irmã daquela Maria, eram "baços" - como se dizia na epoca.
A informação de que seria filha de um mouro tem origem numa carta-denuncia escrita pelo Abade de Canas por ocasião da habilitação de Bartolomeu de Morais. Essa informação foi desconsiderada por este individuo ser notoriamente inimigo confesso do habilitando e pessoa problemática. Estando claro sempre no campo das probabilidades, esta hipotese parece ser pouco provável.
Aliás, talvez essa estória tenha um fundo de verdade, pois,em outros testemunhos a mãe de Francisca já não seria africana mas sim uma moura nunca baptisada (dito inclusive vinda de Tunes). Nunca saberemos ao certo, estamos sempre no campo das probabilidades.
O que sabemos de facto é que toda esta gente aparece muitissimo bem colocada a nível social, o que reforça e muito a hipotese que provenham de filhas bastardas com casamentos patrocinados pelos Senhores de Santar.
A tal carta aparece neste processo:(de Bartolomeu de Morais - 1664)
http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=2323312
Mais três processos interessantes para o estudo desta família:
(Jacinto Homem Corte-Real - 1676 ver inq.da mulher)
http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=2329464
(Manuel Ferreira de Abreu - 1702 ver inq.da mulher)
http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=2337986
(Bartolomeu de Morais - 1724)
http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=2323313
Há mais processos mas estes creio que são os que contem informações mais completas.
Cps.
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Caro confrade,
Retomando o tópico, a partir da leitura do processo de HSO de Manuel Cota de Morais (1688), aqui:
https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2348024
obtemos o nome do marido de Helena de Morais (Licenciado Domingos Cota).
Temos, assim, mais um descendente da tal escrava, inserido nas melhores famílias da região, com diligência de habilitação não aprovada.
1 - Manuel Cota de Morais, casou (viuvo) 1672 com Mariana da Conceição
2- Pedro Tavares, n.Covas/Tábua
3- Maria Cota de Marais, n.Carvalhal Redondo
6- Lic. Domingos Cota, n. Carvalhal Redondo
7- Helena de Morais, n.Santar?
14- N. Cunha, Senhor de Santar
15- uma sua escrava
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Simão Manuel Monteiro, de Alcafache
Caros confrades:
Simão Manuel, n.Casal Sancho, e morador em Alcafache, na BD deste site como:
https://geneall.net/pt/nome/621859/simao-manuel-monteiro/
é indicado na HSO de seu neto António Moreira Monteiro
https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2321951
como sendo descendente de uma negra escrava (na inquirição a fama é já vaga, sendo indicado que seria neto de um mulato) - concluindo-se que sua origem é a mesma dos Morais de Carvalhal Redondo tratados neste tópico.
Simão Manuel era natural de Casal Sancho onde terá nascido antes de 1570 - sendo que o primeiro casamento deve datar de 1590. Era filho de Manuel Fernandes, juiz dos principais do concelho de Senhorim, e de Antónia Lopes.
Neste site Manuel Fernandes é indicado como sendo filho de Manuel Fernandes de Carvalho "o padelo", que casou com Francisca de Morais, já referida em outra mensagem como filha da escrava. Esta sequencia encaixaria na suposição de que seu filho seria neto de um(a) mulato(a), levantando no entanto o seguinte problema:
Dado que Manuel Fernandes o Padelo já tem um filho chamado Manuel Fernandes (morador no Vimeiro/Sta Comba) e que foi pai do COX José de Morais Henriques, manifestamente pessoa diversa do Manuel Fernandes casado com Antónia Lopes e que morou no Casal Sancho;
Este Manuel Fernandes, a ser filho do "padelo", só poderia ser via outro casamento daquele - não podendo ser filho de Francisca de Morais (a mulata). Para alem disso, o Manuel Fernandes do Casal Sancho parece ser da mesma geraçao que o "padelo", não parecendo encaixar como pai e filho. Mesmo descartando a idade, pelo exposto acima, a menos que "o padelo" tenha casado com duas irmãs, desconhecendo o nome da primeira que gerou o Manuel Fernandes do Casal Sancho, a filiação atribuída tem de ser descartada.
Se Simão Manuel de Alcafache é efetivamente descendente das escravas de Santar, ainda falta esclarecer como é feita a ligação.
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