Ligação entre arquivos paroquiais e nobiliário
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Ligação entre arquivos paroquiais e nobiliário
Boa tarde, confrades!
Encontrei recentemente antepassados com o nome Ferreira, e vi que estava esse nome no nobiliário de Felgueiras Gaio. Dando uma olhadela pelo capítulo dedicado a esse nome, vi que era uma família nobre que depois se espalhou pelo país todo.
Tenho já um ramo ligado a este nobiliário (penso que aos Teixeiras), mas foi por contribuição dum parente desse lado, e não sei como posso eu mesmo passar das pessoas que encontrei nos registos paroquiais para as que estão lá, e fazer esta ligação na árvore.
Cumprimentos,
Guilherme
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Caro Guilherme,
fazer esta ligação nem sempre é possível. Como o nome já indica, "nobiliário" trata as famílias que descendem dos troncos de famílias nobres, em sua maioria com origens medievais.
Em Portugal começou-se muito cedo a escrever as linhagens nobres. O primeiro parece ter sido o Conde D. Pedro, que escreveu seu nobiliário por volta de 1340 ( https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4223189 ). Outros seguiram, baseando suas pesquisas nos nobiliários já existentes e acrescentando mais dados. Felgueiras Gayo (1750-1831) é o mais conhecido e abrangente e que ao meu ver merece admiração, mesmo havendo erros em sua obra.
Mas muitas famílias se espalharam e criaram ramos que foram decaindo de geração em geração da casta da nobreza para simples artesãos ou camponeses. Posso observar este fenômeno muito bem em várias famílias das quais descendo. Se não fosse assim todos nós seríamos condes e marqueses.
Essas famílias não foram mais registradas nos nobiliários e seu destino muitas vezes fica às escuras. É aqui que entram os dois fatores decisivos para se progredir na pesquisa: "perceverança" e também "sorte".
Se você se dedicar ao estudo dos registros paroquiais e de outras fontes (atos notariais, dispensas matrimoniais, Inquirições de Genere, tombo de igrejas, livros históricos...), aumentará a probabilidade de fazer uma ligação com alguma família descrita nos nobiliários. E se você tiver sorte, encontrará registros paroquiais que levam longe no passado. Mas o resultado nunca é predizivel.
Por exemplo tenho um ancestral, o Ajudante do número José Lourenço Ferreira, filho de João Lourenço e Maria Álvares Ferreira, que veio de Lisboa para o Rio de Janeiro por volta de 1695 e que foi compadre do então governador do Rio de Janeiro General Artur de Sá e Menezes, que veio de Portugal nesta mesma época. Suas conexões sociais e seu casamento com Luzia de Távora, filha de um rico senhor de engenho do Rio, indicam que foi uma pessoa importante, mas não consigo dar continuídade na pesquisa de sua família e ainda menos fazer uma ligação à um nobiliário. Talvez nunca consiga...
Mas sempre vale ter força de vontade e garra - sem estes requisitos nem precisamos começar a pesquisa genealógica.
Cumprimentos
Rainer
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Caro Rainer,
Tudo indica que, no meu caso, sejam camponeses.
Então está a dizer-me que os autores dos nobiliários só escreviam sobre aqueles que continuaram nobres ao longo das gerações, deixando de parte os que perderam o "sangue azul", certo? Se assim for, não será mesmo possível fazer a ligação, uma vez que estes de que falo só tinham de nobre o próprio apelido. Mas sim, faz sentido que assim seja. Depois de tantos anos, era impossível conseguir informações sobre todas as pessoas com um apelido que já estava tão difundido como outro qualquer.
Em relação à preserverança, penso que já se não aplica, porque atingi o limite dos registos paroquiais para esta linhagem. Mesmo outros documentos, por pesquisa no arquivo distrital, parece não os haver.
Cumprimentos,
Guilherme
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Caro confrade
Todos nós (enfim, 99,98%, mais ou menos centésimo) temos ascendentes das mais diversas condições sociais e económicas.
Cada Família tinha um estatuto social próprio ao longo dos séculos e durante os nossos primeiros 750 anos, sobretudo até ao liberalismo (com a extinção jurídica da chamada nobreza civil) e depois a partir da República (com a extinção jurídica da chamada nobreza hereditária). E mesmo fora da nobreza havia diversos sub-estatutos, por assim dizer.
Nem sempre era claro qual o estatuto de uma família, na altura e sobretudo para nós, para quem todas estas classificações são estranhas e consideradas hoje bizarras, absurdas ou inúteis. Há muito que estudar, sobretudo fora das "nobrezas", da fronteira destas para os outros grupos sociais (do chamado estado do meio, por exemplo).
Quanto aos apelidos, no entanto, há algo que é hoje aceite por todos, pois é evidente nas fontes: as Famílias em Portugal nunca se "arrumaram" oficialmente por apelidos. Como Villas Boas e Sampaio escrevia há mais de 300 anos e ainda há pouco o livro de Carlos Bobone mostrou, em Portugal o mesmo apelido foi sempre usado por pessoas da mais contrastante posição social ou económica: da mais alta nobreza à situação social e económica mais frágil. Os escravos, por exemplo, tinham direito a usar os apelidos dos donos e quantos se encontram assim nos paroquiais! Um Cunha, um Carvalho, um Ferreira, um Silva tanto poderia ser de uma família gentílica com 500, 700 ou até 1000 anos, como da família mais recente ou "simples", sem que qualquer dos seus membros se tenha "destacado" na sociedade, seja nas artes, nas letras, na administração ou nas armas (por isso, talvez, é uma tese possível, muitas famílias, talvez a grande maioria, não tinham apelidos até ao século XIX; muitas vezes mesmo os que tinham era alcunhas, e muitas passaram a apelidos).
Continue a procurar as suas raízes e saber de onde vem.
Com os melhores cumprimentos
Miguel
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Caro Guilherme,
Concordo com a mensagem do confrade Miguel Gorjão e queria acrescentar também que muitos dos nomes indicados incluíndo "Ferreira" podiam ser toponímicos (derivados de um local). Existem em Portugal muitos lugares ou freguesias chamadas "Ferreira" e muitas famílias terão adoptado "Ferreira" como apelido por serem naturais dum lugar com esse nome ... veja se existe algum lugar "Ferreira" na região da naturalidade desse seu ramo e se for o caso, poderá ser essa a origem desse nome.
Cumprimentos
João Braz
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Caro João,
Já estudei essa possibilidade, sim. No entanto, não encontrei nenhuma localidade chamada Ferreira pela zona que habitavam. Havia, dentro desse distrito, ainda que longe, uma ou outra Rua Ferreira, nas aldeias, vilas e cidades. Se for esse o caso, penso que virá o nome de tempos já mais remotos, não sendo possível traçar o caminho até lá.
Cumprimentos,
Guilherme
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