D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
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D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caros Carlos Silva, Artur Camisão Soares, Francisco Dória, Lourenço Correia de Matos, Manuel Maria Magalhães, Vasco Jácome, Manuel Abranches de Soveral, excelentíssimos Senhores.
D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde; Foi o 7º Senhor da Honra e Couto de Azevedo e Conde de Refoios.
Foi Rico Homem da corte da Rainha D. Teresa e de D.Afonso Henriques.
É também chamado pelos genealogistas, por D. Mundo Bofino ou D. Mem Paes Bufinho.
Sendo dono da terra de Castro (o mesmo que se chamar, do Castelo) passou-se esta a chamar Vila do Conde, o que consta das memórias antigas das freiras de Stª Clara. As terras que começavam no Cavalo da Póvoa até à vila de Fão, vendeu-a a D. Mendo, 3º abade do Mosteiro de Tibães, o lugar de Estela, junto daquela Vila, ambos faleceram durante o reinado de D. Afonso Henriques. Nesta venda estiveram presentes o seu filho Hermigo Mendes e o neto Pedro Hermigues, segundo documentos do próprio Mosteiro de Tibães, com data de 1121 a que Felgueiras Gaio diz, ser data errada pois não poderia ter netos adultos com a idade de 42 anos!
D. Mendo confirma uma escritura datada de 1155, ano de Cristo 1117, data duvidosa segundo Braancamp Freire, pois segundo ele seria impossível que 130 anos depois, ainda o seu filho pudesse dar tão rijas cutiladas em infiéis... É curiosa esta carta em que D. Mendo confirma que, tendo sido feita na " terra Sancte Marie ubi vocant Feira" no mês de Novembro da dita era, e , por ela , a infanta D. Teresa Rainha de Portugal, fez mercê a Gonçalo Eriz de lhe coutar a sua quinta de Ossela. Na carta declara a rainha, que lhe fazia esta graça por Gonçalo Eriz haver dado açor a D. Mendo Ruofino, um rocia ao escudeiro Arnaldo e um gavião a Godinho Viegas. Por ele ir fundar juntamente com a Rainha, uma albergaria à beira da estrada que " currit de Portugal in directo de Petra de Aguila".
Esta coincidência dos dois genealogistas em atribuírem erros às fontes, curiosamente dois documentos datados em anos aproximados, faz-me pensar se não estarão eles efectivamente errados. As datas de 1117 e 1121 suponho eu dentro da cronologia de Felgueiras Gaio correspondem aproximadamente à sua data de nascimento ?!
O neto de D. Mendo, D. Pedro Mendes de Azevedo ( D. Pedro Hermigues) morre heroicamente em batalha contra os mouros em 1247, na tomada de Valência aos mesmos, junto de el Rei Fernando III de Castela. Com ele estava também o seu sogro D. Rodrigo Forjás, senhor ou conde de Trastamara, outros nobres portugueses e a nossa ordem de Hospital.
As datas de 1117/1121 D. Mendo é já homem adulto, o neto D. Pedro eventualmente um rapaz, ao estar presente na cerimónia de assinatura do referido documento, para morrer em 1247 deveria ter cerca de 140 anos !?...
Cumprimentos,
José de Azevedo Coutinho
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caro José de Azavedo Coutinho.
Nas " Nobres Casas de Portugal" , Vol III, págs. 162/163, António Lambert Pereira da Silva, diz:
D. Pedro Mendes de Azevedo, 8º Senhor do Couto e Honra de Azevedo, era filho ( e não neto)de D. Mendo Pais Bofinho, que tinha sido 7º Senhor do dito Solar.
Para cálculos de idade pode tomar
7º- D.Mendo ... 1121
8º- D.Pedro ( filho). Reinado de D. Sancho
9º- D. Soeiro (neto) ...?
10º- D. Paio (bisneto).Rein.D. Afonso/D.Diniz
11º- Vasco (trineto)
12º Gonçalo( 4º neto)
13º- Diogo ( 5º neto) faleceu em Guimarães-1369
Curiosamente estes Senhores de Azevedo, a partir do 11º-Vasco, são citados sem o título de D. Ignoro a razão!
Cumprimentos
Vasco Briteiros
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caro Confrade:
Tenho alguns elementos que talvez possam contribuir para o assunto. Estão em Word.
Se quiser dar-me o seu endereço de e-mail
para:
jpcmt@mail.telepac.pt
terei prazer em enviar-lhos.
Cumprimentos
J. de Castro e Mello Trovisqueira
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caríssimo José
Parecem-me, de facto existir várias problemáticas:
a) Não me parece, de todo, que fosse impossível a D. Mendo ser avô, com 42 anos, de netos adultos!
b) Relativamente à confirmação de uma escritura de 1155, ano de Cristo de 1117, "das duas uma": ou falta uma geração; ou existe erro na datação.
c) Quanto á possibilidade de seu neto ter falecido com cerca de 140 anos: é uma aberração!
Numa análise sumária posso concluir, sem dificuldade, por sérios erros de datação.
Gostaria que outros colegas dessem a sua opinião.
Grande abraço
Artur João
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Meu Caro José de Azevedo Coutinho
Um nome muito bonito mesmo que nos traz recordações históricas, na Marinha, no Exército... O meu Avô materno teve um grande amigo Azevedo Coutinho, creio q. companheiro nas Incursões.
Mas, o que lhe queria dizer é que muito me honrou colocar-me lado a lado com verdadeiros sábios na matéria. Faria subir o meu ego se fosse minimamente certo... sou tão só um curioso que gosta de ler e aprender com estes e alguns outros não nomeados, experts nestes assuntos.
Com gosto vi que já teve resposta satisfatória.
Os melhores cumprimentos,
Manuel Maria Magalhães
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
[Errata]
Na alínea a, onde se lê "impossível"- deve-se ler "possível"
Nota: Minhas desculpas. Tenho estado noutras pesquisas, e só agora dei pelo lapso!
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caro Manuel Maria
Gostaria que desse a sua versão dos acontecimentos.
Grande abraço
Artur João
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caro José de Azevedo Coutinho
Essa é a história que Gayo conta no seu ttº de Azevedos §1 N8. No entanto, José Pizarro no Vol. 3 das suas “Linhagens Medievais Portuguesas”, árvore 4.5. BAIÕES, faz Pedro Mendes de Azevedo (cc Velasquida Rodrigues de Trastamara) filho de Mem Pais Bofinho cc Sancha Pais de Toronho. Nada de D. Hermigo Mendes de Azevedo. Julgo que aqui pode estar a chave do neto adulto com o “avô” com 42 anos, que realmente me parece muito pouco provável, mesmo sabendo que a maioridade nessa altura seria atingida bem mais cedo do que hoje. Hermigo devia ser irmão de Pedro e não pai. Aliás, assim o diz Sousa da Silva no seu ttº de Azevedos (13º) §1 N7.
A análise do suposto casamento deste Hermigo também não é muito favorável à teoria de Gayo de ele ser pai de Pedro, pois as que lhe dá por mulheres não parecem ter existido com essa condição. Vejamos:
1- D. Exemea Paes, filha de D. Pedro Paes da Maia, Alferes-mor de D. Afonso Henriques (o mesmo segue Sousa da Silva). José Pizarro, no vol. 1 das “Linhagens” pg. 257 e 258 fala dos filhos do Alferes-mor, sem identificar qualquer filha casada com qualquer Azevedo.
2- Elvira Veegas filha do famoso Egas Moniz, coisa que nenhum genealogista dá, incluindo o próprio Gayo no seu ttº de Coelhos. Esta foi mulher do referido D. Pedro Paes da Maia.
Portanto, o casamento de D. Hermigo Mendes de Azevedo é duvidoso.
Termino dizendo que José Pizarro no seu estudo sobre os Azevedos, para as Gerações iniciais usa como bibliografia principal as obras de José Mattoso “Identificação de um País. Ensaio sobre as origens de Portugal 1096-1325”, vol. I, pg. 146-147 e “Ricos-Homens, Infações e Cavaleiros. A nobreza medieval portuguesa nos séculos XI e XII”.
Cumprimentos,
Vasco Jácome
PS- Também lhe agradeço ter-me incluído nas lista dos “entendidos” nestas coisas, que é coisa que não sou. Quem o é, são os autores mencionados na mensagem (entre outros, claro) cujas obras deve procurar consultar. Eu não tenho as de Mattoso.
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Torres Vedras, 2002-04-25
Caros Vasco Briteiros, Artur João, J. de Castro e Melo Trovisqueira, Manuel Maria Magalhães e Vasco Jácome.
Desculpem a ausência, mas só agora consegui eliminar um vírus ( w 32/Klez.I), que se alojou no computador via correio electrónico no dia 23, sem que o programa de anti vírus o tenha detectado!...
Obrigado pelas vossas estupendas respostas.
Cumprimentos,
José de Azevedo Coutinho
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Torres Vedras, 2002-05-01
Caros Senhores, primos e participantes.
João de Castro e Mello Trovisqueira, teve a gentileza de me enviar um artigo do seu avô D. João de Castro, nosso grande escritor e historiador.
Publica-o em 1939 no “ Primeiro de Janeiro” (dos mais de 800 que escreveu) de 1926 a 1955 ano da sua morte, fez também investigação para a Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, onde lhe vem o conhecimento para elaboração deste artigo.
Põe em causa a atribuição do nome da Vila do Conde a D. Mendo Pais Roufino de Azevedo, pedi a João C.M.Trovisqueira para o publicar aqui no fórum, e ele acedeu.
VILA DO CONDE E O SEU CONDE
Há cerca de 2 anos, estudando por dever de ofício a história do castelo de Guimarães, encontrei nos Vimaranes Monumenta Historica o texto de uma ecritura lavrada na era de 991 (ano cristão de 953), em que uma senhora de nome Flamula, recolhida no convento de Mumadona, confessa ter vendido ao abade, frades e freiras da respectiva comunidade duas propriedades rústicas não muito distantes da terra vimaranense: “Villa de Comite” e “villa Quintanela”. O referido texto, extraído dos Portugaliae Monumenta Historica, indica os limites dessas propriedades, que eram vizinhas. Ambas confrontavam com uma terceira, a “villa Fromarici”; mas, ao passo que a de “Quintanela” demandava os férteis campos de Touguinha e Argivai, a “villa de Comite”, seguindo oposta direcção, estendia-se até ao mar, circunvizinhando na extrema do norte com outro prédio idêntico, a “villa Euracini” – hoje Póvoa do Varzim. Era vasta, como se vê, a sua área. Além de boas terras aráveis, tinha salinas de certa importância e uma igreja situada no monte que hoje se chama de S. Francisco e que nesse tempo se denominava de S. João (ecclesia que est fundata in castro vocitato sancto Ioanne). Em face destas indicações e de outras que omito, não pode haver dúvida de que a “villa de Comite” vendida em 953 ao mosteiro duplex de Guimarães é a mesma Vila do Conde que hoje existe na foz do Ave com o nome de “vila” transposto da restricta significação arcaica para a que foi atribuída a tal palavra a partir do século XIII.
Depois de tão fácil e casual achado, averiguei que Alberto Sampaio, o insigne historiador das “Vilas do norte de Portugal”, não deixara de notar (embora sem interesse especial) o documento a que acabo de referir-me; e há muito pouco tempo ainda – porque só agora pude obter um exemplar do livro “ Vila do Conde e o seu Alfoz” , que antes procurara debalde na Biblioteca Nacional de Lisboa – achei também ensejo de ler a referência em que o ilustre arqueólogo, Mgr. José A. Ferreira, citou o mesmo documento para rectificar sucintamente o que durante séculos se escreveu e reescreveu sobre a antiga história da povoação. Efectivamente, com excepção de Mgr. Ferreira, todos os escritores que até hoje estudaram o passado de Vila do Conde (sem excepção do meticuloso José Caldas) têm aceitado como dogma a tradição que atribui o nome da mesma vila a um grande senhor do século XII, vassalo fiel da rainha D. Tareja e a quem o velho Livro de Linhagens, com a sua tumultuosa grafia , chama dom Meem Paaez Bofinho. Porquê ? Porque o erro muito repetido acaba sempre por ganhar raízes. Em um manuscrito anónimo dos primeiros anos do século XVIII, “Memórias geográficas da província de Entre Douro e Minho”, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, afirma-se como verdade incontroversa que aquele prócere foi o primeiro senhor que teve Vila do Conde e que por serem então “raros os condes com senhorio de terras”, se substituira em sua honra o nome da povoação. Não contente com isto, o memorialista acrescenta que mais tarde, tendo-se extinguido a descendência de D. Mendo, o rei D. Dinis amerceara com o senhorio da vila seu filho D. Afonso Sanches. Pura fantasia, como o resto; pois é certo que nem a descendência de D. Mendo se extinguiu, nem D. Afonso Sanches podia ter recebido do rei lavrador um senhorio que desde o reinado de D. Sancho I pertencia à família de D. Teresa, sua mulher.
Como foi possível formar-se e alcançar tamanho crédito a lenda que conferiu a D. Mendo Bofino honras de senhor e baptizador de Vila do Conde ? O facto de ele ter possuído algumas terras entre o Douro e o Cávado bastará para a explicar ? É possível. Fr. Leão de S. Tomaz, o cronista da Ordem de S. Bento em Portugal, assevera, com efeito, que D. Mendo foi senhor da terra de Estela (hoje freguesia rural da Póvoa de Varzim), acrescentando que, segundo uma escritura existente no cartório do mosteiro de Tibães, ele e seu filho Ermígio a venderam nos primeiros anos do século XII ao 3º abade daquele convento. Outras terras deviam pertencer-lhe na mesma região, sobretudo nas cercanias do Porto, visto achar-se a sua assinatura, bem como a de seu irmão Nuno Vida, na carta de doação da mesma cidade, feita pela raínha D. Tareja, em 1120, a favor do bispo D. Hugo. Todavia, de nenhum documento consta que tivesse haveres em Vila do Conde – nem sequer (julgo eu) que fosse conde. Na carta de doação a que já aludi, assina apenas “Menendus Bofio”; e a terra de Estela, que lhe pertenceu, como já disse, tem a simples designação de “villa Menendi” na carta em que D. Afonso Henriques a coutou a favor dos monges de Tibães, em 1140. O genealogista Gaio engrandece-o com o título de “ Conde de Refojos” e declara que assim o viu nomeado em “uma memória”. É equívoco. O chamado conde de Refojos foi outro D. Mendo, filho de D. Afonso Ancemondes, fundador do mosteiro de Refojos do Lima. Também já li algures uma referência que identifica o pretenso senhor de Vila do Conde com o “Comite Dompno Menedo”, de que falam as inquirições de D. Afonso III, referentes à povoação de Lavra (hoje freguesia do concelho de Matosinhos). Trata-se ainda de uma confusão de pessoas de igual nome. O Conde ali mencionado deve ser D. Mendo de Sousa, o “Sousão”, o maior senhor de Portugal no reinado de seu primo D. Sancho I.
Provado que D. Mendo Bofino não concorreu de qualquer modo para a formação do nome de Vila do Conde, uma pergunta naturalmente ocorre: Quem foi então o Conde que deu origem a tal nome ? Na nossa velha documentação histórica nada há, segundo creio, que permita responder a tal pergunta com absoluta segurança. Contudo, os antecedentes genealógicos da última possuidora hereditária da “villa de Comite”, que a mesma documentação nos revela – a já citada Flamula deovota, que há 983 anos a vendeu ao mosteiro de Guimarães – conduz-nos racionalmente a uma conjectura, não só verosímil ou plausível, mas de certo modo fundamentada. É tão fundamentada que, se ninguém a apresentou até hoje, foi certamente porque nunca o problema logrou atrair a atenção dos competentes.
Famula, prolis Pelagius et Iberia, era filha de de um irmão do Conde Ermenegildo Gonçalves, marido de Mumadona, a fundadora do castelo de Guimarães. Em razão de tal parentesco, assinou com sua irmã Velasqueta, na era de 1006 (ano cristão de 968), o codicilo então feito por Mumadona. Assim como Flamula herdou a “villa de Comite” de seu pai, Pelágio ou Pelaio Gonçalves, recebeu-a este, com idênticos direitos sucesórios, do seu progenitor D. Gonçalo Mendes, mordomo-mor de D. Afonso, o Magno, rei de Leão e Astúrias – guerreiro ilustre e um dos cinco condes que havia então no território que depois constituíu o reino de Portugal. D. Ermenegildo, conde de Tuy e do Porto, era sem dúvida o mais poderoso daqueles semi-soberanos. Provam-no a extensão, a situação e até a superioridade populacional do território que ele governava, e que compreendia a Galiza e toda a província de Entre Douro e Minho. Aos quatro condes restantes pertencia o Eminio (actual região de Águeda), Bragança, Viseu e Idanha. Da estirpe dos reis visigodos, 5º neto por varonia legítima daquele rei Vitiza que Rodrigo (o vencido na batalha do Guadalete) destronou e carregou de ferros depois de lhe vazar os olhos. D. Ermenegildo era cunhado do rei Ordonho I e tio da raínha Elvira, mulher de Ordonho II. Foi de tão nobre, glorioso pai que D. Gonçalo Mendes herdou a “villa de Comite”, depois legada sucessivamente a seu filho Pelágio e a sua neta Flamula, que por fim a alienou da família. Assim se pode concluir, sem nenhum artifício, que só aquele D. Ermegildo, conde de Tuy e do Porto nos últimos decénios do século IX e nos primeiros do século X (personagem que cumpre não confundir com seu neto e homónimo, o marido de Mumadona) podia ter dado a Vila do Conde o nome que a bela guardiã do Ave há mais de um milénio conserva.
Foi antes desse tempo que o lugar onde existiu a vila antiga (prédio agrícola) e onde existiu a vila moderna (unidade social, urbana) se chamou Castro – nome tomado durante a dominação romana e que substituíu através da influência dos invasores que depois avassalaram a Península. A mudança do nome, assim verificada, não pode causar estranheza. Eram comuns essas crismas profanas. Época de “presúrias” e de “presores”, à substituição dos proprietários das terras (consequência dos progressos da reconquista) seguia-se então, quase sempre, a dos nomes das propriedades. Alberto Sampaio, quando se refere a tal facto, observa que o novo possuidor, apagando a antiga designação da terra adquirida, raramente deixava de impor a esta o próprio nome, como sinal de ocupação jurídica.
Conforme se vê, há já algumas centenas de anos que Vila do Conde venera credulamente, como seu padroeiro histórico ou como seu criador, um intruso bem escolhido para a iludir – aquele famigerado D. Mendo Bofino que na infância do século XII, ao lado da raínha D. Tareja e de D. Afonso Henriques, assistiu à ante-manhã e quase à manhã do primeiro dia de liberdade que Portugal viveu. Desenganados, os vilacondenses de agora deverão acaso reacender esse discreto culto de pais e avós em honra do único antepassado que, a meu juízo, pode merecê-lo: o Conde Ermenegildo ? Sim e não. O culto particular é justificável, senão devido, em razão do que atrás fica exposto; mas o culto oficial, muito mais exigente, só deve fundar-se na verdade provada – e esta ninguém a pode estabelecer com segurança, porque os velhos arquivos portugueses nenhuma porta nos abrem para tão longínquo passado. No pedestal donde é forçoso apear D. Mendo Bofino fica somente uma sombra, e seria grave inconsideração atribuir a tal sombra consistência igual à do mármore ou do bronze que o fiat dos grandes estatuários eterniza. Contudo, reconhecendo-o, claramente divisamos também as fortes linhas de contorno e até os traços com modelado de feições que a figura encoberta deixa transparecer sob o véu de mistério em que se envolve. È uma sombra que, em segredo, nos revela o seu segredo. Devemos contentar-nos com isso.
D. JOÃO DE CASTRO
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caros Confrades:
A José de Azevedo Coutinho agradeço o seu interesse em "ressuscitar" o artigo de meu avô. O tema continua hoje vivo,e, sobre ele, podem-se consultar também as seguintes obras:
- Freitas, Eugénio da Cunha-"Vila do Conde- 2. História e Património", ed. C.M. V. do Conde, 2001
- Miranda, Marta - "Vila do Conde", ed. Presença, 1998
- Reis, A. do Carmo- "Nova História de Vila do Conde, ed. C.M. V. do Conde, 2000
J. de Castro e Mello Trovisqueira
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Meu Caro J.Castro e Mello
Deixe que acrescente mais duas obras sobre o mesmo tema, para q. lá no Além o muito saudoso Dr. Eugénio, possa dizer " bem feito", pois foi grande amigo do tb. saudoso e sábio autor.
- "Vila do Conde" por Dr. Joaquim Pacheco Neves, Vila do Conde, 1987
- "O Mosteiro de Sta, Clara de Vila do Conde",
pelo Dr. Joaquim Pacheco Neves, Vila do Conde 1982.
Foi um grande homem, com vasta obra publicada, este ilustr médico, romancista e investigador vilacondense. Não me esquecerá facilmente a comoção do Sábio Dr. Eugénio Cunha Freitas, discursando, com grande dificuldade, na sessão de homenagem póstuma, ao grande amigo que fora o Dr. Joaquim Pacheco Neves.
Manuel Maria Magalhães
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Meu Caro Manuel Maria de Magalhães:
Tem, como sempre, toda a razão. Eu apenas referi as obras mais recentes (e, talvez, mais fáceis de encontrar). Aliás, quem consultar, por exemplo, a obra de Carmo Reis, lá encontrará transcrito o que, de mais relevante
para o tema, saíu da hábil pena do Dr. Pacheco Neves (e de outros não menos distintos autores).
Sempre grato,
J. de Castro e Mello Trovisqueira
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caro J. de Castro e Mello Trovisqueira.
Efectivamente permita-me que lhe diga os escritos de seu Avô são mesmo para "ressuscitar", pois li alguns e eram francamente bons. Quando um dia consultando no ADB o rpb da Sé,"tropecei" com a referência ao casamento dele , registei-o nos meus papeis.
Infelizmente nunca consegui encontrar o artigo que ele escreveu,no Primeiro de Janeiro, sobre a Casa da Tapada ( Poeta do Neiva, pág 374).
Nem em Braga nem no Porto encontrei esse Jornal( na BPP este Jornal está praticamente fora de leitura)Pode pelo menos dizer-me a data?
Ficaria muito grato.
Vasco Briteiros
P.S. Já agora como Vasco Jácome certamente vai ler esta mensagem, pergunto-lhe o mesmo sobre o artigo que Sousa Machado escreveu a seguir.
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caro Vasco Briteiros:
Não tenho o "Poeta do Neiva" mas, pelo que me diz, presumo que se trate do artigo intitulado "Impressões e Opiniões - A Casa de Sá de Miranda", publicado em 11/4/1928.
Se estiver interessado que lhe mande uma cópia, dê-me, p.f., o seu endereço de e-mail para jpcmt@mail.telepac.pt.
Com todo o gosto o farei.
Cumprimentos do
João de Castro e Mello Trovisqueira
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caro Vasco Briteiros
Infelizmente, não tenho nenhum artigo de Sousa Machado sobre o assunto.
Cumprimentos,
Vasco Jácome
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RE: D. Mendo Pais Roufino De Azevedo, Conde
Caro Vasco Jácome.
Tenho aqui um manuscrito incompleto, não assinado, mas cuja caligrafia é de certeza do Dr. Sousa Machado. Aguardo o artigo de D. João de Castro para comparar. Depois apresentarei os meus comentários.
Cumprimentos
Vasco Briteiros
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RE: Mendo Pais Bofinho
Caros colegas,
Mais uma achega.
Definir quem era Mendo Pais Bofinho nào apresenta muita dificuldade, mas estabelecer o vinculo entre este e Soeiro pires de Azevedo é mais dificil.
Com efeito, José Mattoso estudou bem Mendo Pais Bofinho [1105-1163] e seu irmào Nuno Pais Vida [1097-1134], mas a descendencia destes nào se encontra no fulcro cronologico por ele estudado.
Por outro lado, José Augusto Pizarro estuda os Azevedos a partir dos filhos de Pedro Mendes de Azevedo, ou melhor de Soeiro Pires de Azevedo e irmàos, documentados principalmente entre 1230 e 1260.
Propoem uma ascendencia para estes, no seu tomo 3 dedicado aos esquemas genealogicos, mas situada cronologicamente fora (antes) do periodo para o qual seu estudo se especializou.
Entre estes dois a ligaçào levanta algum problema, e eu nào tenho proposta a formular.
A proposito de Mendo Pais Bofinho(e de Nuno Pais Vida), creio que serà preferivel tomar apoio na documentaçào existente, privilegiando a pesquisa universitaria recente (isso é 1990 neste caso).
José Mattoso (Identificaçào de um pais, ensaio sobre as origens de Portugal) escreve o que segue :
« Os dois irmàos Azevedos, Nuno Pais «Vida» e Mem Pais «Bofinho», orfàos de pai e màe em 1108, e que entào fizeram partilha:s aparecem varias vezes na corte portucalense. O primeiro, logo em 1097, corno alferes, cargo que deve ter conservado pouco tempo. Depois, volta a aparecer na corte varias vezes, sem ai alcançar relevo especial, entre 1109 e 1139. A regiào onde aparece mais vezes a confirmar documentos eclesiàsticos ou particulares é a de Braga, entre 1103 e 1134. Encontra-se uma vez em Coirnbra, em 1115 , e outra em Coimbra ou Lorvào, a confirmar uma doaçào de seu parente Pero Pais da Silva 0 «Escacha ». E dos poucos nobres do principio do século XII cujo patrimonio dominial se pode reconstituir corn alguma precisào, pois possuirnos o ja citado acto de partilhas entre ele e os irmàos. Sem ter tentado identificar todos os toponirnos, podem em todo o caso situar-se facilrnente 'l'randeiras (c. Braga), Besteiros (c. Amares) , Figueiredo (nas margens do Lima, em Ponte da Barca ou Arcos de Val de Vez), S. Salvador da Torre, o mosteiro que jà mencionàmos, e S. Vicente de Panoias. Fssem aquisiçoes posteriores ou nào, sabemos que mais tarde deu bens à Sé de Braga em Ferreiros, perto da cidade e em Forjàes, no conœlho de Esposende. Pareœ so ter tido uma filha que casou duas vezes, uma na familia de Portocarreiro, outra na dos Carpinteiros.
Apesar de mencionado em segundo lugar no acto de partilhas, quem pareœ ter herdado o so1ar da familla por inteiro, ou pelo
menos em lugar onde ele se veio a perpetuar, foi Mem Pais «Bofinho». Possui tambem dominios ern Trandeiras, Palmeira., Cabanas, em Entre Hornem e Càvado e mesmo a sul do Ave. Mais tarde deu, trocou ou vendeu terras suas perto de braga, no concelho de Barcelos e mesmo em Trandeiras, que como vimos tinha herdado dos pais. Aparece vàrias vezes na regiào de Braga a confirrnar documentos de diversa natureza entre 1108 e 1155. Viveu pelo menos até 1163, ano ern que vendeu os seus casais de Trandeiras à Sé de Braga.
Entretanto, ,tendo acompanhado a corte de D. Henrique e de D. Teresa desde 1109 e depois, desde a primeira hora da sua revolta, até 1139, a do infante D. Afonso, desempenhou algumas missoes de confiança, rnas nào de grande prestigio. Devia ser suficienternente influente junto de D. Teresa para surgir como intercessor junto dela para conœder a carta de couto à alberg8aria de Assilho, ern 1117. Exerceu certarnente um papel importanlte nas tentativas para atrair à orbita portuguesa dois magnates galegos. Um deles foi o poderoso Paio Curvo, rico-homern de Toronho., que casou com a sua filha Sancha Pais ; outro foi Rodrigo Forjaz, irmào do ainda mais poderoso Pedro Forjaz, conde de Trava, pois conseguiu casar seu filho Pero Mendes de Azevedo corn a filha dele, Velasquida Rodrigues. »
A tais missoes de confiança mas em grande prestigigio de Mendo Pais foram uma inquiriçào em Viseu (1127) e a delimitaçào da paroquia de Santa Cruz em Coimbra (1139)
Se Mendo Pais « Bofinho » tivesse sido conde o facto nào teria por certo escapado aos historiadores.
José Mattoso tambem notou um problema cronologico em volta de Pedro Mendes de Azevedo (em « Ricos-homens, Infançoes e Cavaleiros », 1985).
Parece certo que Mendo Pais Bofinho é antepassado da linhagem dos Azevedos. Mas entre este e Soeiro Pires de Azevedo [1230-1260] existe um zona nebulosa na qual se encontra com certeza um Pedro Mendes de Azevedo.
Sào esses os elementos que eu posso trazer ao debate. Lamento nào serem decisivos para o periodo que se estende entre 1160 e 1230.
Sobre a origem de Vila do Conde sem duvida a posiçào de D. Joào de Castro é certa, pelo menos, quando nega que o conde « eponimo » seja Mendo Pais Bofinho. Como é obvio, nào estou minimamente em medida de pôr ou tirar, salvo talvez algum pormenor resultando de possivel desactualizaçào ligada a evoluiçào da pesquisa. Mesmo assim, necessario consultar os actuais seguidores de D. Joào de Castro, enunciados por Joào Paulo de Castro e Mello Trovisqueira e Manuel Maria de Magalhàes, quanto a propostas e contra-propostas para a definir qual o « conde » em « Vila do Conde ».
Carlos Silva
P.S. : Partilho o parecer de Vasco Jacome. Muito proveitoso adquirir as obras de José Mattoso para perceber o « funcionamento », as estrategias, e até algumas trajectorias das linhagens portuguesas no séc.11 e 12, e deveras util para um genealogista que estuda a idade media.
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RE: Mendo Pais Bofinho
Caro Carlos Silva
O "Armorial Lusitano", refere a seguinte ascendência (Azevedo, pág. 71-72):
D.Pedro Mendes de Azevedo, filho de D.Mem Pais Bufinho, ou D.Mendo Bufião, e de sua mulher D.Sancha Vasques; neto paterno de D.Paio Godins e de sua mulher Maria Martins; bisneto de D.Godinho Viegas de Baião, e de sua mulher, Maria Soarea, filha de D.Soeiro Guedes da Várzea; Terceiro neto de D.Egas Gosendes de Baião, e de sua mulher D.Useu Viegas, filha de D.Egas Hermigues, o Bravo, e de D.Gontinha Eriz; Quarto neto de D.Gosendo Araldes de Baião; Quinto neto de D.Arnaldo de Baião, e de sua mulher D.Ufo, que provinha do sangue real dos Godos.
Um abraço
Artur João
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RE: Mendo Pais Bofinho
Caro Artur Joào,
Assunto complicado.
Salvo quanto às mulheres José Mattoso parece nào discordar.
A proposito das mulheres J. Mattoso (Ricos homens, Infançoes e Cavaleiros, a nobreza medieval portuguesa nos séculos XI e XII) tem Sancha Pais de Toronho como mulher de Mendo Pais Bofinho. A mulher de Paio Godins era Gontinha Nunes (Velho) e ja estavam casados em 1076. A mulher de Godinho Viegas era Maria Soares, filha de Soeiro Gueendes, talvez Soeiro Galindes.
Seja como for, os Azevedos sào descendentes da linhagem de Baiào, e estes, passo a citar J. Mattoso :
"Segundo Almeida Fernandes seriam descendentes do dux Gondesendo Eriz, por intermédio de Soeiro Gondesendes, Gondesendo Soares, Arualdo Gondesendes, Gondesendo Arualdes e Egas Gondesendes. Ignoramos até que ponto se pode aceitar esta hipoteses. De qualquer maneira, o primeiro Egas Gondesendes que nos aparece, està certamente ligado a uma familia com numerosos membros proprietarios em Subcolina, junto a Braga, um grupo de infançoes que entra em conflito com o arcebispo da diocese durante varios anos, cerca 1070-1080, segundo nos informam varios documentos do Liber Fidei".
E mais (Identificaçào de um pais, 1991) :
"Vejamos, pois o que sabemos acerca da familia de Azevedo.
Tomou o nome do lugar de Azevedo, na freguesia de Lama, do concelho de Barcelos, o que justifica o interesse que a familia tinha pelosmosteiros beneditinos da Varzea, de Manhente e de Vilar de Frades. Este ultimos segundo os linhagistas havia sido fundado por Godinho Viegas. O da Varzea por Soeiro Gueendes, que talvez se identifique com Soeiro Galindes, sogro de Godinho Viegas,pois deve ter casado com Godinha Pais, da familia dos Velhos, e vivia pelos anos 1046-1075. O de Manhente, por Gontinha Odores, filha de Odorio Mendes de Moles, e neta por sua màe do fundador da Varzea."
Estamos com os de Baiào em terreno pouco seguro, em que a pesquisa vai progredindo. As fontes que acabo de citar datam de 1985-1990, de modo que podem estar ja ultrapassadas.
De qualquer forma, note que o Armorial Lusitano nào é fonte segura para os séc. XI e XII.
Tambem nào vejo ligaçào com os reis Godos (ainda nào conheço nenhuma), nem sequer com os reis (Astur-)Leoneses.
De memoria devem ser no caso descrito por Almeida Fernandes, acima citado, descendentes do conde Gatào, ou Agatào, muito ligado à familia real, que J. Mattoso em certa altura julgou ser neto ilegitimo de Ramiro I. Mas parece que nào é.
Estamos ja fora do assunto.
Melhores cumprimentos
C. Silva
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