Abunazar, sr. da Maia, era Nazeron ibn Leodesindo?
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Abunazar, sr. da Maia, era Nazeron ibn Leodesindo?
Postei isto alhures; pode ser de interesse a quem vê essas questões.
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O principal obstáculo à compreensão do significado histórico - ou melhor, dos elementos históricos presentes na Miragaia - é o papel do ``rei Ramiro,'' na versão do LV, depois identificado aquele a Ramiro II no LL. Porque, na evidência documental, não há sinal de parentesco direto entre Ramiro II e os senhores da Maia. (Há alguma proximidade, se aceitarmos que os srs. da Maia descendem de Zahadon, o do DC 39, de 933, documento testemunhado pelo rei Ramiro II.)
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Dou, como exemplo do que pode ter acontecido, as diferentes versões brasileiras da ``lenda das Minas de Prata'':
- Em 1618 Melchior Dias ``Moréia,'' neto do _Caramuru_, solicita mercês a Filipe III, em troca da revelação do local de minas *de ouro* no sertão brasileiro; e acrescenta, de salitre, de pedras, de prata. Este doc. se acha na Coleção Luisa da Fonseca.
As minas de ouro foram descobertas em Itabaiana (SE) e em Assuruá (BA); as de salitre, exploradas desde fins do século XVII. As de pedras, achadas na Chapada Diamantina. As de prata provavelmente nunca existiram, embora eu tenha ouvido que a Vale do Rio Doce encontrou, na área, alguns veios de prata sem valor econômico.
Esta, a realidade.
- Nos fins do século XVII, Rocha Pitta confunde o descobridor, Melchior Dias, com o filho, Rubelio [Robério] Dias, e centra a narrativa nas minas de prata, mencionadas apenas subsidiariamente no doc. de 1618. As minas de prata, inexistentes, tornam-se no grande mito e mistério.
- Pouco depois, em começos do século XVIII, o coronel Moribeca, bisneto de Melchior Dias - seu nome aparece como Belchior da Fonseca Doria no livro de Antonil e nalguns documentos, e como Belchior da Fonseca Saraiva Dias Moréia, morgado de Moribeca, em mais outros documentos - afirma ter descoberto as minas de prata do bisavô. E' personagem de caráter duvidoso. As minas passam a ser chamadas ``minas do Moribeca.''
- Em 1753 João da Silva Guimarães mistura, no famoso ms 512 da Biblioteca Nacional, a busca às ``minas do famoso conquistador Moribeca'' à descoberta da ``cidade abandonada.''
Em resumo, aqui: minas de moribeca + cidade abandonada = a Atlântida brasileira, atrás da qual sumiu o cel. Fawcett (Percy H. Fawcett, aliás o modelo para Indiana Jones) em 1924 no Xingu.
- Em fins do século XIX, chefiando um grupo de engenheiros que estava fazendo prospecções em Assuruá e Gentio do Ouro (BA), para reativar a exploração de ouro no local, Paulo de Frontin recolhe as lendas locais sobre a ``descoberta das minas de ouro pelo grande chefe *índio* Moribeca''... Isso está na biografia de Frontin por Dodsworth Martins.
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Bom, passemos à Miragaia.
Como está no LL, a Miragaia tem a seguinte estrutura:
Preâmbulo + Miragaia do LV (com alteração da função da criada).
A Miragaia do LV fala das desventuras conjugais de Ramiro II. Este rei, como o pai, Ordonho II, teve várias mulheres. Das três mulheres de Ordonho II, Ermesenda, a primeira, morre em 920. A segunda, Aragunte, foi repudiada em 921, e a terceira lhe sobrevive. Ramiro II casou com Ausenda Guterres, repudiada em 930; de Ausenda teve vários filhos. Em seguida casa-se com Urraca ou Nunilla de Navarra, que † 956.
O centro da Miragaia é a história de um rei cuja mulher o abandona, e do castigo que a alcança em decorrência. E', ou parece ser, em linhas gerais, a história fantasiada e racionalizada, num contexto de lenda, das desventuras conjugais de Ramiro II e de Ausenda, com talvez uma pitada das de Ordonho II e Aragunte.
Noto agora o seguinte: nos docs. de Lorvão lemos sobre uma família, a de Nazaron ibn Leodesindo, casado com Tortora, e com dois ou três filhos, atestados nos confirmantes de documentos. (DCs 94 e 95, de 967 e 968.)
- Se, como o sugere Cecilia Adum, Nazaron é uma versão para an-Násr, e para Abu an-Násr, este personagem já seria o futuro senhor da Maia, embora com um primeiro casamento desconhecido dos livros de linhagens.
Pergunto: *poderia Tórtora ter sido repudiada, e o marido fugido ou mudado para o norte, onde se casa com Unisco Godins?*
Teríamos assim a lenda surgindo em duas ou três mutações:
1) Desventuras conjugais de an-Násrum ibn Leodesindi; repúdio de Tórtora, mudança para o norte e casamento com Unisco Godins.
2) As desventuras conjugais de an-Násrum/Abu an-Násr são subsumidas (``engolidas'') pelo affair Ramiro II/Ausenda.
3) As duas histórias se fundem, e são racionalizadas: Ramiro é feito pai de Abunazar.
No LV temos a etapa 3); no LL, temos o Preâmbulo + narrativa do LV. O Preâmbulo, com a genealogia de ``Çadam Çada'' até al-Walid, é claramente um texto à parte. Cremos na sua historicidade, pois:
a) O DC 229 mostra ter existido um Zahadon ``al Umawi'' na área de Coimbra.
b) Existem, como se vê nas investigações de Don Elías Terés, linhas descendentes de al-Walid, o califa contemporâneo ao Rei Rodrigo, em al-Andaluz.
c) Zahadon ``al Umawi,'' como já disse, seria o do DC 39, por ser personagem de óbvia importância e grande riqueza.
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Concluindo, noto que cada vez mais me parece provável que o nome (Abu) an-Násr(um) seja uma referência ao califa Abd ar-Rahman III an-Násr, título assumido em 929. Pois:
a) Ocorre a proximidade temporal entre os personagens, o sr. da Maia e o califa an-Násr.
b) Nazeron parece ter o seguinte nasab (ascendência varonil): Nazeron ibn Leodesindo ibn Fethe ibn Reccesmund. Este bisavô, Reccesmund, sugere parentesco ao homônimo, o bispo Reccesmund, ministro e embaixador de Abd ar-Rahman III.
A educação do personagem em causa em Córdova é uma possibilidade, que lhe explicaria o nome nas duas versões, an-Násrum e Abu an-Násr(um).
fa
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RE: Abunazar, sr. da Maia, era Nazeron ibn Leodesindo?
Caro Amigo:
Dizem-me que o Prof Doutor J.Pedro Vicente da Academia Portuguesa de História publicou, faz poucos anos, um artigo sobre esta dinastia na respectiva Revista.Conhece?
Abraço cordial.
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RE: Abunazar, sr. da Maia, era Nazeron ibn Leodesi
Não, infelizmente não conheço este artigo. Pedi recentemente aos IANTT facsímiles desses documentos, para examiná-los com mais calma (não que veja problemas na transcrição de Herculano; mas é sempre melhor examinar o original, ou seu fac-símile).
Mas estou convicto que esse Nazar ou Nazarum ibn Leodesindo era o sr. da Maia.
Se me puder conseguir uma cópia do artigo do Prof. Doutor J. Pedro Vicente, muito lhe agradeceria.
Deseja falar com meu primo lá do Piauí?
Grato pela informação, fa
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RE: Abunazar, sr. da Maia, era Nazeron ibn Leodesi
Caro Amigo:
Desejo se ele me puder vêr aqulo em S.Luis.Vou tentar de novo.O servidor central avariou.
Abraço.
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RE: Abunazar, sr. da Maia, era Nazeron ibn Leodesi
Não sei se ele tem contactos agora em S. Luís, mas envio-lhe em pvt o endereço (morada) dele.
Vou também mandar-lhe um e-mail pessoal a respeito.
(Desculpe a demora na resposta, mas entrou o bloqueio do fim de semana...)
fa
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RE: Abunazar, sr. da Maia, era Nazeron ibn Leodesi
Caro Amigo:
Estou sem servidor central faz dias.Parece que foi um virus de um saddamista honorário.Mazelas do "progresso".Posso enviar e não receber...Mais do que a Quaresma determina.
Um abraço.
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