Escravos em Portugal
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Escravos em Portugal
Caros confrades,
Curiosamente e uma única vez, encontrei um assento paroquial (óbito) relativo a um escravo:
"Tereza escrava de José Rodrigues de Villa Pouca faleceu no lugar de Paredes desta freguezia de São Thiago de Soutello de Aguiar, comarca de Vila Real, aos vinte e sete de Outubro de mil setecentos e setenta e dous, confessou-se e comungou (...) informando-se os Senhores para Villa Pouca, poucos dias antes da morte da sobredita escrava (...)".
A aparente inexistência de referências a escravos dever-se-á a estarmos no interior (Trás-os-Montes) e estes serem em número diminuto e/ou por não ser usual registar os nascimentos, casamentos ou óbitos ?
Grato pelos V/ esclarecimentos,
Nuno de Sousa Pina
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RE: Escravos em Portugal
Caro Nuno de Sousa Pina,
Posso sugerir uma obra que espelha a escravidão em Portugal, da autoria de José Ramos Tinhorão, chamada "OS NEGROS EM PORTUGAL-UMA PRESENÇA SILENCIOSA", editada pela Caminho em 1988, e da qual extraí este texto:
NOTÍCIAS DE PORTUGAL-1655-PADRE SEVERIM DE FARIA
"- "Vemos no Reino meter
tantos cativos crescer
E irem-se os naturais,
Que, se assim for, serão mais
Eles que nós, a meu ver"
Parafraseando Da Miscelânea, do cronista Garcia de Resende... aquele membro co clero lusitano explicou e pôs em evidência versos que realçam a proliferação do trabalho escravo em Portugal, a partir do século XVI. No Algarve, naquele século e no seguinte, a mão-de-obra escrava representava já 10% da população total e também no Alentejo e em Lisboa, esse percentual era significativo. Por´´em, a presença de escravos era visível também no Norte de Portugal e em outras regiões. Mas não se pense que o Pe.Faria estava cheio de razão ao atribuir às conquistas «a falta de gente que se padece neste Reino»"
Pode não responder completamente á sua questão, mas pode ser uma ajuda.
Melhores cumprimentos
Luis Camizão
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RE: Escravos em Portugal
Caro Nuno de Sousa Pina:
Tenho encontrado diversos assentos paroquiais referentes a escravos (baptismos, casamentos e óbitos), pelo que julgo não haver qualquer costume de os omitir. Também encontrei baptismos de filhos de escravas solteiras, com ou sem menção do pai da criança. Um aspecto interessante desses assentos é a frequência com que os escravos adoptavam os apelidos dos senhores (em Belmonte encontrei casamentos de diversos casais de escravos, todos com o apelido Cabral, dos respectivos senhores, alcaides-móres da Vila); julgo que este costume de adoptar apelidos de senhores ou padrinhos era comum nos "convertidos" (caso da maioria dos escravos de primeira geração) e não tanto nos criados ou outros afilhados (o que só muito raramente constatei), ao contrário do que por vezes se pensa. É questão que mereceria estudo aprofundado, pois já ouvi opiniões discordantes a pessoas cuja qualidade científica na área da História e Genealogia muito prezo.
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Escravos em Portugal
Caro Nuno de Sousa Pina,
Venho apenas reforçar o que já anteriormente foi dito. Tenho encontrado diversos registos de escravos e alguns onde aparecem como pais os patrões das escravas e até padres.
Cumprimentos,
Paulo Alcobia Neves
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RE: Escravos em Portugal
Caros Luis Camisão, António Bivar e Paulo Alcobia Neves,
Muito obrigado pelas V/ respostas e informações esclarecedoras.
Este é um tema que ainda não tinha visto abordado no fórum.
Pessoalmente, só posso concordar com António Bivar na pertinência de um estudo mais aprofundado, pois concerteza nos ajudará a enquadrar melhor a vida nas várias regiões que são objecto das n/ pesquisas e estudos.
Sem receio de assumir que Portugal foi, efectivamente, esclavagista, mas também um dos primeiros a abolir tal prática.
Com os meus sinceros cumprimentos,
Nuno de Sousa Pina
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RE: Escravos em Portugal
Caro Nuno de Sousa Pina,
Penso que a temática é aliciante e inclusivamente seria muito interessante do ponto de vista não só da genealogia mas também histórico e sociológico termos no futuro genealogias de famílias descendentes escravos.
Várias pessoas da minha geração e mais velhas decerto estarão lembradas da fabulosa série televisiva Roots que recentemente foi retransmitida na SIC Gold e que abordava precisamente esta temática.
Cumprimentos,
Paulo Alcobia Neves
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RE: Escravos em Portugal
Caros confrades
A minha pequena contribuição para este tema.Já li numm Liv-Par.de cas., de uma freg.do B.xo Alentejo o registo do casamento de um escravo do prior dessa localidade com senhora,que não era escrava( pelo contrário) e cujo enlace me deu para pensar que houve a influência do amo (padre e freire da Ordem de Santiago).
É um exemplo,entre tantos outros,cujos descendentes o ignoram ,ou até não "gostassem" de referi-lo,mas a verdade está lá.(isto é: conforme o termo do resp.º cas.º).
Os meus melhores cumprimentos.
Rafael Carvalho
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RE: Escravos em Portugal
Caro amigo
Quando comecei a pesquisar nas freguesias em Portugal sempre encontrei assentos escravistas nos séculos XVI, XVII e mesmo XVIII. Mesmo em freguesias interioranas os encontro. O impacto demográfico é grande e estas pessoas fazem parte da ancestralidade portuguesa contemporânea em várias regiões. Depois de poucas gerações acabam se misturando na população como um todo e com o passar de múltiplas gerações tendem a ser antepassados de quase toda uma população. Um levantamento mais rigoroso indicaria quais as maiores concentrações no tempo e no espaço. Em Portugal, ao contrário do Brasil, não é comum encontrar referências das origens étnicas dos escravos - como procedentes do gentio da terra, ou do cabelo corredio, ou dos diferentes grupos indígenas brasileiros e também não encontrei dados como a indicação da origem africana tipo do gentio da Mina, Moçambique, da Guiné e assim por diante. Muitos dos retornados do Brasil também levavam alguns dos seus escravos de volta ao Reino e também seguiam como acompanhantes no caso dos estudantes em Coimbra, por exemplo.
Cumprimentos
Ricardo Costa de Oliveira
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RE: Escravos em Portugal
Caro Nuno de Sousa Pina
Se consultar o ADB/on-line/ Memórias Particulares de Ignacio José Peixoto, pág 32 :
....Estava Lobo hóspede de António Pereira de Eça nos Biscaínhos: apenas lá se soube do embargo, sahio Martinho Pereira seu filho e soldado, varios creados e ESCRAVOS delle e do Deão, ... ora isto é 1756, freguesia da Sé, Braga. Seguramente nesta freguesia devem surgir assentos relativos a descendencia destes escravos e como consulto estes Assentos vou estar atento.
Na mesma obra, pag 18 poderá ainda ver : ... está prenhe a preta dos Dinises.... ( aqui a freguesia é S. João do Souto) mas o Morgado dos Dinises poderia mandar a escrava para ter os filhos na suas propriedades de Gondizalves. É caso que verei.
Cumprimentos
Vasco Briteiros
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RE: Escravos em Portugal
Caros amigos
Também eu ao longo dos últimos quatro anos tenho encontrado referências de escravos em baptizados e testamentos da região de Negrelos, santo Tirso.De um testamento de um meu quinto avõ retirei o seguinte" deixo os mays bens moveis,que he toda a mobilia como gados bestas e escravos que tenho se reparta em todos os ditos meus filhos"(1782).Alguns destes escravos já estão livres em 1798 por testamento de um de seus filho que ordena " que a cada um de meus escravos Francisco e Roza se dê anualmente,dez alqueires de páo e cinco almudes de vinho e mil e duzentos reis tambem anualmente para luguer de casa". Tenho encontrado outros dados curiosos inclusivamente com oferta de terras após a libertação.Era interessante um estudo abordando esta questão e sobretudo a forma como foram libertados e como se integraram os escravos após a libertação.Nos paroquiais e sobretudo nos paroquiais da região de Lisboa existe muita informação sobre a escravatura, em boa hora abolida.
Cumprimentos
Miguel Brandão Pimenta
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RE: Escravos em Portugal
Meu Caro
No Boletim nº 5 (?) do Museu da Graciosa há um interessante trabalho de Luís Pimentel sobre o testamento - parece que é coisa rara - de uma escrava Joana natural da Mina que veio para aquela ilha com um filho e o patrão Francisco Leite Barcamonte de uma antiga família local. Este filho da escrava deixou inúmera descendência na Graciosa que chegou aos dias de hoje. Cumprimentos Eugenio Medina
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RE: Escravos em Portugal
Caro Nuno de Sousa Pina
A minha terra também é uma terra do interior alentejano mas nos livros paroquiais aparecem com frequência registos sobre escravos.Talvez por se tratar de uma região onde abundam os latifúndios, o trabalho escravo fosse aplicado em maior escala que em Trás-os-Montes.
Através dos registos tenho constatado várias Casas de Senhores com dezenas de escravos que trabalhavam nas suas fazendas ou em serviços domésticos. Muitos deles nasciam de pais incógnitos, mas havia também alguns desses escravos que eram rodeados de certas atenções por parte da familia do Senhor, o que deixa antever uma certa relação de familiaridade encaputada.
De entre muitos registos que encontrei, deixo aqui este:
"Aos vinte dias de Dezembro do anno de mill seyscentos e trinta e trez, baptizei a Luiza, filha de Pêro Vaz e de Maria Janeyra, escravos de Álvaro Piriz de Távora. Forão padrinhos hum seu primo do Hábito de Malta e sua filha D. Cecília."
À primeira vista parece um simples assento de baptismo e poderia passar despercebido entre tantos outros, mas fazendo um estudo aprofundado sabe-se tratar-se de escravos do fidalgo da Casa Real Álvaro Pires de Távora,Comendador de Padrões, filho de Luís Alvares de Távora e Barbara de Fonseca, portanto sobrinho do Governador do Brasil Gaspar de Sousa.
Os padrinhos destes escravos não deixam de ser pessoas menos importantes naquela época. Assim o primo do fidalgo, é António de Mendonça, cavaleiro da Ordem de Malta e Mestre de Campo na Flandres, filho de D. Madalena de Távora e de João Mendonça Furtado.
D. Cecília, é filha do fidalgo Álvaro Pires de Távora e de D. Isabel de Castro, portanto neta do Conde de Torres Vedras e futura condessa de S. Miguel.
Nesta descrição fica demonstrado toda a envolvente que rodeava o apadrinhamento de certos escravos no seio da família do Senhor, talvez por se tratar alguém já com laços familiares?
A alguns escravos davam mesmo o nome da família do Senhor a que pertenciam, nos registos nunca são referidas as suas origens, mas eram descritos como pretos, mulatos ou pardos, depois da morte do Senhor, passavam a pertencer aos herdeiros do Senhor.
Atenciosamente
Zé Maria
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Escravos e Terras em Portugal
Caros confrades,
Muito interessante essa distribuição de terras a alguns escravos libertos.
È um tipo de reforma agrária. Não tenho notícia de q se tenha feito algo semelhante no Brasil. Se alguém sabe, por favor, diga.
Cordialmente,
FGJ
Rio/BR
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RE: Escravos em Portugal
Caro Ricardo Costa de Oliveira,
Já tenho tido ocasião de ver em microfilmes dos Mormons assentos paroquais brasileiros (no caso relativos à freguesia da Conceição da Praia, Salvador), onde surge a indicação de "escravo". Tenho também por vezes encontrado a designação de "cabra". Saberá o meu caro amigo elucidar-me sobre o que era exactamente um "cabra"?
Tenho também constatado que nos assentos de baptismo, independentemente do estatuto do baptizando, apenas surge a indicação dos pais, não sendo mencionados os avós. Era isto prática comum?
Desde já grato pelos seus possíveis esclarecimentos,
Um abraço
Alexandre Burmester
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RE: Escravos em Portugal
Caro Alexandre Burmester
As condições em que os assentos paroquiais brasileiros eram escritos variavam muito e dependiam da região, do capricho do padre e de um boa dose de sorte !
Na Bahia os livros eram únicos com "brancos" e "negros" juntos.
Na Capitania de São Paulo geralmente havia uma divisão entre os primeiros livros dos "brancos" e os dos "bastardos", os não-brancos, isto é os indígenas e os tapanhunos, nome dados aos negros africanos. Como a escravidão indígena era formalmente proibida pela Coroa (salvo nas guerras justas) e tratava-se de relação social estabelecida, os índios eram tratados como "servos" e "administrados" até meados do século XVIII. Depois das reformas pombalinas encontramos basicamente o termo mesmo de escravo, muitos de origem africana e com a denominação de sua região de origem.
Também encontrei o termo cabra em alguns assentos e penso estar relacionado com algum tipo de ancestralidade indígena. Ainda hoje existem centenas de termos de referência étnica e bio-antropológica no Brasil, variando de região para região e em função da cultura local. O Brasil é um dos maiores laboratórios genéticos do mundo. Não há conceitos e nem termos suficientes para classificarem a todas as misturas étnicas do povo brasileiro !
Conheço vários assentos paroquiais brasileiros excepcionalmente escritos, com os avós e com a freguesia de origem de cada um deles, e tudo em ordem e com caligrafia impecável. O problema é que as freguesias brasileiras eram muito grandes e com centenas de batismos por ano, de modo que o padre mal tinha tempo de escrever detalhadamente tudo. Vi freguesias em Portugal com pouco mais de uma dezena de batismos por ano ! Havia poucas Igrejas e poucos padres para a população brasileira, de modo que uma freguesia que tenha mais de mil batismos por ano não pode ser comparada com uma freguesia com quinze batismos anuais !
Um abraço
Ricardo Costa de Oliveira
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RE: Escravos e Terras
Caro FGJ
Há sim ! Há vários casos de famílias senhoriais que deixaram heranças fundiárias para famílias negras e de ex-escravos. Conheço alguns casos famosos e no Paraná existe até mesmo um filme contando a história da comunidade do Sutil. Até hoje os descendentes lutam na justiça por essas terras deixadas em disposições testamentárias para comunidades negras, ainda hoje estabelecidas nessas áreas e lutando contra os grandes fazendeiros vizinhos que tentam tomar as terras. É o caso do Sutil no Paraná. Como a Constituição Brasileira de 1988 destinou as terras de comunidades quilombolas para os seus herdeiros, há uma perspectiva de análise histórica para a garantia de terras para comunidades negras históricas e ameaçadas pela perda de suas terras.
COMUNIDADE DO SUTIL
Através das tradições de uma comunidade composta por 122 negros descendentes de escravos, o documentário propõe a reinserção do negro na história da formação cultural paranaense.
Direção: Adriano Justino.
Co-produção: Adriano Justino / Exclusiva Produções / Paraná Educativa / Fundação Padre Anchieta – TV Cultura.
DEMOGRAFIA-Pesquisa vai mapear colônias de descendentes de escravos no estado
Governo desconhece quilombos no Paraná
Dados informais contabilizam 19 povoados remanescentes da escravidão
Henry Milleo/Gazeta do Povo
Ana Rita Andrade tem 88 anos, pelos cálculos dos parentes, e nunca saiu da colônia Sutil, entre Ponta Grossa e Palmeira.
Ponta Grossa – Dos 134 quilombos reconhecidos no Brasil, nenhum está no Paraná. A Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura, não tem registro de comunidades remanescentes de escravos no estado. Uma série de fatores causou o "esquecimento" das colônias negras paranaenses. O tratamento peculiar dado aos africanos no Paraná acabou resultando na formação dos primeiros quilombos livres do Brasil.
Os negros que viviam por aqui trabalhavam na agropecuária e não dormiam em senzalas. Cada família tinha uma casa simples para morar. Negros de confiança do fazendeiro tomavam conta dos escravos, que podiam ficar dias no campo procurando gado. E sempre voltavam. Para tentar mapear pela primeira vez as comunidades remanescentes no estado, apontando a população exata e as condições de vida, o Instituto Afrobrasileiro em parceria com o Centro de Estudos Antropológicos da Universidade Federal do Paraná está iniciando um levantamento. As entidades ligadas aos movimentos negros acreditam que há 19 comunidades negras no estado.
Como resquício do tropeirismo, a maioria dos quilombos livres está concentrada nos Campos Gerais. Na divisa entre as cidades de Ponta Grossa e Palmeira estão as colônias Sutil e Santa Cruz. Os moradores são descendentes dos escravos que trabalharam para o coronel Manoel Guimarães, na Fazenda Santa Cruz. Antes mesmo da abolição da escravatura em 1888, uma herdeira das terras, Maria Clara Nascimento, alforriou os negros e doou 350 alqueires para as famílias.
Ana Rita Andrade não sabe o que é viver fora do Sutil. Ela fez carteira de identidade há pouco tempo. Os parentes acreditam que ela tem 88 anos, mas Dona Rita prefere não tocar no assunto. Para ela, não é importante. Também não gosta muito de conversar com visitantes que chegam fazendo perguntas.
Assim como ela, 50 famílias descendentes moram nas duas comunidades e sobrevivem da agricultura de subsistência. Mas não têm a posse da terra onde nasceram e que lhes foi concedida em testamento. Algumas áreas foram ingenuamente trocadas por alimentos. Outras foram griladas. Aos afrodescendentes restaram apenas os lotes onde moram, mas sem escritura.
Katia Brembatti
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Um abraço
Ricardo Costa de Oliveira
Rio de Janeiro
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CABRA
Prezados Confrades,
Disse-me o Arq, Nireu Cavalcanti, estudioso do Brasil-colônia. que CABRA é o negro de olhos verdes - um mestiço, portanto.
sds,
FGJ
Rio/BR
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RE: Escravos em Portugal
Caros confrades. saúdo a todos.
Tenho a impressão que em Portugal, como acontecia na Antigüidade, a cor da pele ou a raça não estava relacionada com a condição de cativo. (Influência da dominação moura?).
Li e, "Ditos Portugueses, publ. Europa-América, uma porção de histórias sobre um fidalgo negro, D. Luis de Sá, que circulava à vontade nas altas esferas da corte de João III e do cardeal-rei. Mas nunca vi mencionado em outra parte.
Também li, não lembro onde, que uma família de negros "branqueava" em quatro ou cinco gerações em Portugal.
Parece-se possível que na América, onde os escravos eram sempre negros, a cor da pele se transformasse em um sinal de escravidão e, por isto, estigmatizasse mais que em Portugal. será?
Cordialmente.
luiz M. Sá
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RE: Escravos em Portugal / livros da Bahia
Ns Bahia, em todos os livros que vi (Recôncavo, Salvador e Itapicuru), os livros de escravos e livres eram comuns, e os registros também se misturavam.
fa
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RE: Escravos em Portugal
Caro Ricardo Costa de Oliveira,
Muito obrigado pela sua completa e elucidativa resposta.
Um abraço
Alexandre Burmester
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RE: CABRA
Caro FGJ,
Agradeço a informação. Na antiga África Portuguesa usva-se o termo "cabrito" com o mesmo sentido.
Cumprimentos
Alexandre Burmester
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RE: Escravos em Portugal
Tenho conhecimento directo desse "branqueamento".
O presidente do Conselho Fiscal de uma firma que administrei era um mulato escuro (fora anteriormente chefe da antiga Repartição Central de Finanças de Lisboa). Casou com uma senhora branca e teve um filho, conhecido advogado, o qual era mulato claro. Este senhor foi meu sócio. Era casado com uma senhora branca de quem teve duas filhas. Uma loura e uma morena. Da morena *dificilmente* se poderia dizer qualquer coisa quanto às suas origens africanas, e tem todos os traços de portuguesa. Da loura é *impossível* adivinhar que tinha pai e avô paterno mulatos (ambos falecidos).
Creio que ambas as filhas já tiveram filhos, ainda são bébés e o que eu conheço é branquíssimo.
Luís K. W.
Lisboa-Portugal
PS: peço desculpa pelo teor desta conversa, vagamente racista, mas isto é para dizer que todos nós podemos descender de negros e não ter o mínimo traço fisionómico de africano ao fim de 4 ou 5 gerações.
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RE: Escravos em Portugal
“Cabra da Peste” é um termo utilizado no Nordeste Brasileiro. Normalmente é atribuído a indivíduos “machos”, marcados por uma profunda selecção natural, em termos de dificuldades que advêm do solo pobre, portanto solos geradores de fraca economia e da estrutura social brutal, onde estão envolvidos.
Um abraço do,
JAC
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RE: Escravos em Portugal
Caros Luis K.W. e Luis Sà,
Serà questào de proporçoes na "melting pot", tanto na America como em Portugal.
Mas tambem talvez de estatuto.
Nào se pode considerar que fosse o mesmo ser negro alem ou aquem mar.
No entanto nào é possivel pensar que ser negro em Portugal era mesmo assim coisa leve.
As Inquiriçoes de Genere e as do Santo Oficio tinham apesar de tudo como objectivo afastar do clero "as naçoes infectas" (segundo a terminologia usada).
Nào se tratava portanto apenas de criterio religioso (judeus) mas tambem racial (negros) ou misto (mouros).
Voltando portanto ao assunto evocado do "branqueamento", suponho que resultou de "hipergamia" (com a procura sistematica de uniào com parceiro mais branco), e das condiçoes mais restritivas até ao sec. 19 para todo o casamento (que nào excluia apenas escravos, mas que excluia com certeza escravos).
No sec. 18, certo membro da familia, desejando tomar ordens religiosas viu-se obrigado a superar algumas dificultades com as autoridades eclesiasticas porque ao testemunhar (na Inquiriçào de Genere) um fulano se lembrara que outro sicrano dissera com forte desagrado, quando ambos estavam na guerra na Praça de Valença do Minho, que o capitào da companhia (pai do pretendente clerigo) era de "casta de negros". Ficou perplexo por ouvir dizer assim e no regresso foi perguntando junto das pessoas mais antigas da terra para saber se tal coisa era verdade.
Se nào era o caso concretamente, nào impede no entanto que foi por todos entào considerado assunto grave, e por outro lado significa que o conhecimento visual directo do Fulano, que via com os proprios olhos o seu capitào e conterraneo, nào era testemunha suficiente para saber se tinha ou nào origem Africana.
O ter origens africanas podia entào tornar-se algo tào pouco visivel e tangivel como ter origem X.N.
No entanto ja vimos aqui no forum que, geneticamente falando, e no essencial por via exclusivamente feminina (ADNmitocondrial) as origens subsarianas de muitos portugueses sào pelo contrario algo muito "tangivel".
Melhores cumprimentos
Carlos Silva
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RE: Escravos em Portugal
Caros Confrades,
Penso que seria curioso um estudo, embora haja umas notas acerca do assunto escritas por um Prior de Coruche no século XIX, de como se processou a integração dos escravos negros que foram trazidos para a lezíria ribatejana com o fim de trabalhar nos arrozais; população essa, que, segundo vários historiadores, teria sido transportada em pequenas caravelas pelo Tejo e Sorraia até ao local do destino.
Do ponto de vista fisionómico, existe uma diferença entre ribatejanos e alentejanos, imediatamente perceptível em certas pessoas.
É também curioso referir que foram as populações de negros escravos que trouxeram o paludismo para as referidas regiões, mais tarde conhecido pela designação popular de "sesões".
Cumprimentos
José Berquó de Seabra
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RE: Escravos em Portugal
Caro José,
Muito obrigado pela dica.
Um abraço
Alexandre
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RE: Escravos em Portugal
Caros Amigos
Os escravos quando foram libertados fixaram-se em algumas zonas do sul de Portugal onde se dedicavam a certas tarefas como a agricultura e pesca. É interessante encontrar no sado pescadores de carapinha, lábios grossos e narizes largos. O mesmo acontece em Cuba - Alentejo. Atenção também que muito do povo que está no Ribatejo foi para lá da Ria de Aveiro nos sec XVII, XVIII e XIX. Ler por exemplo o Garrett no primeiro capitulo das«Viagens na Minha Terra». Os nossos antepassados eram muito diferentes e fechados, tanto que em Monte Gordo- Algarve - lhes chamavam indios CUICAS.
Cumprimentos,
Angeja
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RE: Escravos em Portugal
Caríssimos,
Olhando-me ao espelho, consigo aperceber-me que não sou só descendente das figuras que a História me deu a conhecer nos anos que andei na escola. Hoje, aos trinta anos, duvido mais facilmente do que me foi "ensinado" e procuro mais informação com o intuito de me reeducar. Busca essa que me levou a este forum e o objectivo está a ser alcançado, muito obrigado a todos os que opinam aqui.
Eu tenho o cabelo "encarapinhado", o nariz grosso, olhos pretos e muitas outras características fisionómicas que pertencem mais a povos africanos do que aos cristãos que vieram combater vindos de norte. De onde vêm estes traços, se os antepassados que conheço nasceram "todos" em Portugal? Olhando os meu avós consigo perceber os mesmos traços, um pouco mais carregados, será que descendo de mouros? Todos nós sabemos que, quando a História relata a vitória dos cristãos sobre os árabes, estes últimos, ao contrário do que se ensina, não foram expulsos do território que hoje consideramos Portugal. É óbvio que ficaram cá, em condição subjugada aos vitoriosos.
A minha primeira pesquisa acerca da minha origem levou-me a este ponto, tenho antepassados sarracenos! Por isso é que, quando viajo ao estrangeiro, os árabes dirigem-se a mim pensando que compartilho com eles a mesma língua e os outros olham-me com desconfiança! Após esta quase certeza, resolvi indagar as origens geográficas dos meus ascendentes e, para espanto meu, a parte da família que me deu estes traços veio das margens do rio Tejo (Alpiarça e Pombalinho) e também das margens do rio Zêzere (Vila de Rei, Cercadas e Cabecinha). Ao ler o livro "Os Negros Em Portugal" concluí que só posso ser descendente de antigos pretos livres que colonizaram estas zonas ribeirinhas, assim como as margens do Sado, porque eram mais resistentes à malária. Doença essa que por meados do séc. XIX dizimava muito branco que se atrevesse trabalhar em tais terrenos, alagados, pantanosos e cobertos de mosquitos.
Esta minha curiosidade acerca dos pretos em Portugal levou-me a Alcácer do Sal na busca dos traços negros das populações ribeirinhas do Sado. É uma alegria ver como o traço está tão presente nas pessoas que ali vivem. Até existe uma terra que se chama "Os Algarvios".... será que o nome se deve à palavra "algarviada" que se usava para descrever uma língua diferente, africanizada? Se este assunto vos interessa não deixem de visitar estes locais, estão a desaparecer no espaço, no tempo e na memória. Se virem construções palafíticas com telhados em colmo, não estranhem, é típico da região e estendem-se até à Comporta... algumas até se alugam para passar uma noite à beira Sado.
Realmente, sempre é verdade que "dos vencidos não reza a História". Mas eu estou vivo! E muito provavelmente devo este meu bem mais precioso a esses meus antepassados que porventura foram escravos. Eles venceram e eu, assim como muitos outros, somos prova disso. Acho que já é altura de se aprender uma História diferente na escola e explicar porque é que conhecemos sempre um Português, mesmo que ele vá de MGB, disfarçado de cachimbo e com sobretudo à Sherlock Homes na Inglaterra. Os nossos traços são diferentes dos demais europeus, são mais africanos, quer pelos mouros que cá ficaram, quer pelos escravos que para cá vieram. Por muito que custe a alguns....
Cumprimentos
PPMarques
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RE: Escravos em Portugal
Caríssimos
Estamos no século XXI e afinal cada vez temos mais escravos .Agora vêm muitos do brasil e dos PALOP'S, São comprados por mui alto preço por sociedades e particulares, alguns até o são á percentagem. Muitos deles casam logo á entrada da fronteira, para adquirir a nacionalidade, que agora é europeia. Deixam por cá geração que baste e compram~se vendem-se e trafulham-se por qualquer preço. È só ver as equpas de Futebol. Por isso meus caros continua tudo mais ou menos na mesma como há trezentos anos. E julgamos que somos civilizados!!
um abraço
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RE: Escravos em Portugal
Caro Guerreiro
Já no século XV, o seu avô Bartolomeu Guerreiro e o Rei D. Afonso V se preocupavam com isso.
D. Afonso V fez várias doações ao seu avô em terras do Espírito Santo, ou seja em Panoyas do Campo de Ourique e arredores, mas não foi só ao seu avô, foi a toda a nobreza espanhola que partilhava desse ideal para a Salvação do Mundo, e não se pense que era pouca, D. Afonso V chegou a ter a cidade de Madril nas suas mãos.
Também em Portugal D. Afonso V fez muitas doações à nobreza, entre os vários nobres comtemplados encontrava-se Nuno Pereira Barreto, alcaide-mór de Faro a quem Colombo visitou no seu regresso da 1ª viagem da América.
A preparação da Cruzada Celestial de D. Afonso V, para Salvação do Mundo teve o seu preço, a tal ponto que quando D. João II herdou o poder o levou a afirmar que apenas tinha as estradas para andar!
Como vê nós quisemos dar o exemplo ao Mundo, só que os espanhóis (de Castela) não quiseram, não resistiram à tentação do ouro!!! É para dizer que, de Espanha nem bom vento nem bom casamento.
Afinal já fomos civilizados, e àquela época em que fomos aureos nas causa do Mundo, alguém quis encobrir tudo isso, para que ficasse conhecida como a Idade das Trevas!!!
Um abraço fraterno
Zé Maria
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Trouxeram o Paludismo
Os escravos negros eram resistentes, ou mais resistentes ao paludismo que os branco residentes onde existe calor e humidade: local tipico para oque mosquito responsavel pelo paludismo exista.
Daí não crei que os negros tenham trazido o paludismo....
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Trouxeram o Paludismo
É verdade o paludismo existiu cá nas bacias do tejo e sado, até aos anos quarenta em que o paludismo foi erradicado com as grandes obras de saneamento e regularização das águas paradas nesses rios e com a irradicação do mosquito anophelles que é o veículo da malária. A raça preta devido ao maior contacto geracional com o mosquito era mais resistente á doença.
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Aravia e erva alta do sapal
Uma nota sobre 'algaraviada':
- Era comum aos nossos primeiros navegadores referirem-se à língua de algumas populações que encontravam como " ... e falam aravia ...". Isto quer dizer 'falam árabe'. Mas as analogias com 'araviada' ou 'algaraviada' são directas. É mais provável que 'algaraviada' venha de 'aravia' que de 'Algarve'. O linguajar dos nossos conterrâneos do extremo Sul foi de facto em tempos muito mais influenciado por sotaques e expressões moçárabes e mudejares que hoje.
Uma nota sobre as casas de ervas altas do sapal, 'colmo' (?) - e que não é só telhados, é a casa TODA - :
- Há um mês fui tentar almoçar no restaurante da Escola Primária, entre Alcácer e a Comporta, você deve saber onde é. Acabamos na aldeia a seguir, onde ainda há as tais casas ... mas rodeadas, cercadas, massacradas por expressões de uma arquitectura estranha e, para variar, que fazem lembrar Loures ou Matarraque. Nem me passa pela cabeça advogar a permanência das pessoas em casas de 'ervas', mas são inúmeros os exemplos de quem aproveite por esse mundo fora os motivos tradicionais no exterior - como são ou recriados - e o interior seja com todos os confortos que a nossa sociedade pede e a que as pessoas tem direito. Talvez assim as pessoas lá se deslocassem para ver o que não têm na Brandoa e experimentar um ambiente diferente. Mas como o que lá encontram é precisamente isso, bom, vão ao restaurante comer o choco frito e vão-se embora ... Enfim, escravos da nossa pouca preparação ...
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Escravos em Portugal
Caros confrades,
É certa a presença de escravos em Portugal, iniciando-se no século XV e intensificando-se no XVI. Sabe-se que, por volta de 1560, 10% da População de Lisboa era escravizada. As regiões do Alentejo e do Algarve também contabilizavam grande presença de escravos.
Estes cativos dividiam-se em mestiços, negros ou pretos e mouros. Os primeiros escravizados eram provenientes da Mauritânia e do Marrocos, portanto eram norte-africanos. Era notado, por alguns viajantes, que "algumas escravas eram mais brancas que seus senhores". Os mestiços poderiam ser tanto de uma escrava moura com um branco, quanto de uma escrava negra com um branco. Eram raros os casos de escravos homens terem filhos com suas senhoras. Não sei se é verídico, mas também recebi informações acerca da escravidão de alguns judeus.
Em geral, os escravos negros em Portugal eram das "minas", ou seja, da Costa da Mina (atual Costa do Marfim e proximidades), pois eram conhecidos como fortes e disciplinados, inclusive convertiam-se facilmente ao catolicismo. Já os escravos angolanos costumavam ser enviados para o Brasil, pois eram considerados de "qualidade inferior". Notifiquei, também, mesmo que em menor proporção, moçambicanos no século XVIII, em Lisboa.
Sabemos que o tráfico negreiro mudou seu foco de Portugal para o Brasil durante a União Ibérica. Então, o número de escravos negros reduziu drasticamente, em Portugal, a partir do século XVII. Contudo, continuou a chegada deles, por vezes em grandes carregamentos (com destaque para os da década de 1740), principalmente para Lisboa, Coimbra e Évora, onde serviam às famílias mais abastadas. Ao verificar os registros em bairros nobres de Lisboa, vemos, no século XVIII, cerca de um a cada vinte registros de batismo sendo de escravos, muitas vezes já adultos batizados no navio.
É de se notificar que, desde a saída da África até a chegada no destino, cerca de 70% faleciam. A viagem, em geral, era longa. Até mesmo entre os primeiros militares portugueses que foram para a África, 90% não resistiam aos primeiros dois anos.
A participação subsaariana no DNA português é inferior a 1%, conforme estudos recentes. Entretanto, este número é uma média entre portugueses de regiões distintas. No Alentejo, por exemplo, notifica-se 2% em alguns indivíduos, em Lisboa também é muitas vezes superior. Também houve a presença de escravos no Norte, até mesmo em Trás-os-Montes, mas foi muito pequena, então a sua influência na população local é praticamente nula, pois a sua descendência, se existiu, foi assimilada ao longo dos séculos.
Há apenas uma região em Portugal, a qual eu estudo há longo tempo e já li todos os registros da maioria de suas freguesias, onde nunca encontrei a presença, sequer, de um escravo: a Beira Alta. É de se notificar que a população desta região, também, é a que possui a pele mais clara em Portugal, além de olhos e cabelos claros. Apenas notifico uma pequena presença de cristãos-novos por volta de Vouzela e Viseu, neste mais intensa. A própria ancestralidade norte-africana nesta região é pequena, pois a resistência cristã foi muito grande. Há, apenas como exemplo, uma localidade denominada "Alcofra", um nome derivado do árabe que significa, literalmente, "Terra dos infiéis" (em alusão ao fato de serem cristãos na época de domínio mouro). Inclusive, o povo de Alcofra tem orgulho deste nome.
Retornando aos escravos africanos, busco notificar que muitos eram "reprodutores". Então, estes registros de pai incógnito podem vir disso também. As escravas costumavam ter trabalho na casa e estavam muitas vezes grávidas. Havia escravos homens, geralmente fortes e com boas qualidades, que os senhores vendiam para reproduzir com as outras escravas, para gerar filhos. Os filhos eram vendidos por 40 ou 50 escudos, dependia do pai. Eram, como comparado por alguns viajantes e historiadores modernos, semelhantes aos cavalos reprodutores (vide reportagem do Expresso).
Sobre uma pergunta, na qual o cidadão afirmava nele ver muitas características africanas, sendo ele de ancestralidade do Alentejo, digo a ele que, conforme suas pesquisas, isto é normal nesta região. O centro-sul e o sul de Portugal possuem grande presença de características norte-africanas e judias em seus DNAs, além da presença subsaariana mais abundante que noutras regiões.
Espero ter esclarecido algo. Perdoem-me o idioma, pois nasci no Brasil, filho de italiano com portuguesa. Por isso, pelas pesquisas genealógicas de minha família materna, que tenho informações e interesse nestes estudos de Portugal (no caso, principalmente da região das Beiras, de onde a minha família é).
Atenciosamente,
João Victor
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Caro confrade João Victor
Não sei onde foi buscar a ideia que a entrada de escravos em Portugal se iniciou no século XV...
Sendo certo que cresceu substancialmente nesse século, a escravatura existia em Portugal desde a fundação do reino. E já anteriormente no território, como é evidente.
Cumprimentos
António Taveira
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Caro confrade,
Referia-me àqueles escravos chegados a partir de 1441, em Portugal, quando tornou-se mais intensa. É certo que já haviam escravos desde os tempos mais remotos, até mesmo anteriores à fundação do Reino.
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Realmente, expressei-me mal quando utilizei o termo "iniciando-se". Em textos grandes no fórum às vezes sou direcionado para alguns erros em coerência e coesão.
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Escravos em Portugal
Há pessoas que, quando se fala de escravos, só se lembram dos negros dos EUA.
Lá tenho que lhes falar do Fernão Mendes Pinto ("sete vezes cativo, sete vezes vendido")
e da ironia de um europeu, ser vendido como escravo, em África. Mas isto não é novidade
para os confrades deste fórum, que já reparei serem pessoas cultas e sérias.
Respondendo à sua intervenção,quero referir que os negros do Alentejo, particularmente,
os chamados "negros do Sado", são os descendentes de negros que vieram trabalhar para a cultura
do arroz,no vale do rio Sado, por serem mais resistentes ao paludismo,que os brancos.
Em relação aos escravos na região das Beiras, encontrei várias referências nos registos paroquiais,
inclusive em aldeias, quer na longínqua raia de Espanha quer no concelho de Tondela (paredes meias da sua Alcofra, área de extraordinária beleza) até ao séc. XVIII, sendo os patrões, bacharéis ou padres. Nunca vi referência à cor.
Depois de feito o texto, reparei que estas duas observações, já foram abordadas, neste tópico.
Cumprimentos
miguel monteiro
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Caros Confrades
O tema da escravatura é interessante. Contudo, pese embora seja ignorante na matéria, parece-me que ser redutor a sua análise apenas na perspectiva da escravatura.
Compartilho convosco o resultado da minha observação:
- Numa vila Quinhentista Ribatejana havia senhores de servos, de escravos e de cativos. Fazendo-se distinção entre escravos boçais, que nem nome lhes era atribuído, e os outros. No último quartel de Quinhentos, as referências aos servos nos registos paroquiais desta vila são muito escassos, inversamente às referências a escravos, muito numerosas.
Cumprimentos,
António Pena Monteiro
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Escravos em Portugal
Pesquisando em Pinheiro, Oliveira de Frades, encontrei um registro em que consta a escrava de um antepassado meu. Esta escrava tinha nome Maria e era solteira, tendo um filho no ano de 1755.
O proprietário era o meu 8º avô Domingos Dias Correia, cristão-velho, lavrador rico e abastado de bens, que vivia da renda de suas fazendas, que nasceu em Couço, Pinheiro de Lafões, aos 02.11.1676, e faleceu no mesmo local aos 23.12.1756. Este Domingos Dias Correia era filho de outro Domingos Dias Correia e de sua esposa, Antónia João, e era casado com Maria Jerónima (irmã de Manuel Fernandes Couceiro, casado com Joana Francisca Pereira de Lima, que era neta do Correio-Mor de Aveiro Pedro Tavares Pacheco, F.C.R., também meus antepassados), filha de Jerónimo Fernandes [Couceiro] e de Maria Antónia. Era irmão do Padre Miguel Dias Correia e pai do Padre Nicolau Dias Carreiro, que foi Bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra.
Uma filha de Domingos Dias Correia com a sua esposa, Joana Maria Correia, foi casada com Manuel Francisco, natural de Reigoso. Este Manuel Francisco foi quem batizou a filha da escrava de Domingos Dias Correia. Joana Maria Correia e Manuel Francisco foram pais do meu 6º avô Nicolau Dias Carreiro, sobrinho, que casou com Antónia Maria Lopes de Arêde, filha do Capitão António Diogo Lopes de Arêde e de sua esposa, Maria Francisca Martins (pais também do Dr. António Diogo Lopes de Arêde). Neta paterna de António Diogo de Arêde e de sua esposa, Maria Lopes. Neta materna do Capitão Gonçalo Francisco Martins, fundador da Capela de São Gonçalo em Antelas, e de sua esposa, Maria João, que foram pais do Padre Manuel Francisco Martins, Notário do Santo Ofício.
Fico curioso quanto às origens desta escrava de Domingos Dias Correia, pois também pesquiso no Brasil (de onde é natural a minha avó materna, assim como eu) e por aqui os registros costumam dizer a origem do escravo. Por exemplo, tenho este casamento de escravos do meu 7º avô Francisco Ferreira de Abreu:
" Aos vinte e seis de Novembro de mil oito centos e trez, feitas
as Dennunciações do Trid. nésta Matriz e na sua filial a Ca-
pella de S. José do Engenho Eixo, como consta aos documentos
q. ficão em meu poder e Arquivo desta Igreja, por não cons-
tar impedimento de minha Licença em presença do Padre
Manuel José dos Prazeres na dita filial de tarde recebe-
rão-se Solemnemente em Matrimonio João e Luiza,
do Gentio de Angolla, escravos de Francisco Ferreira de Abreu,
morador do dito Engenho, sendo presentes por testemunhaz
José Ignacio de Moura e Manuel Paiz, pessôas conheci-
daz do que abençoou conforme aos Ritos e Cerimonias
da S. Igreja de q. fiz este assento q. assignei.
O Vigro. José Franco. de Moura Paxco. "
Além deste registro, posso trazer este batismo de um filho de escravos de um filho de Francisco Ferreira de Abreu, onde não são trazidas as naturalidades, de modo que presumo que já fossem naturais do Brasil:
"Aos 21 de Fevro. e 1835 na Capela do Gravatá da minha licença
o Pe. Manoel da Ima. Comcam. baptizou com os S. Oleos a [?]
de ide. 2 mezes fo. lego. de Severino e Esperança pretos captivos
de Vicente Ferra. de Abreu mor. na Sambambaia foi Padro. Joaquim
soltro. escro. de José Cte. de Almda. de q. fiz este assento e assignei
O Vigro. Antonio Jorge Guerra"
Apenas por curiosidade, José Cavalcanti de Almeida, proprietário do escravo que foi padrinho, era próximo dos "Ferreira de Abreu", presumo que fosse pai de Manuel Cavalcanti de Almeida, fundador da Capela de Gravatá e proprietário abastado, sepultado no altar da Capela-Mor, cuja viúva casou com um irmão de Vicente Francisco Ferreira de Abreu, com esta descendência apresentando vários casamentos entre si. Este povo tem os seus antepassados na "Nobiliarchia Pernambucana" de Borges da Fonseca, sendo a esposa de Vicente Francisco Ferreira de Abreu, Joana Maria Francisca Dornelas Pessoa, descendente dos que estão no "Título dos Pessoas". Todos estes eram "Pessoas". O próprio Vicente Ferreira de Abreu era filho de uma Maria Dornelas Pessoa e de Francisco Ferreira de Abreu (cujas origens também estão nos "Pessoas").
Outro caso, mais antigo, que tenho de escravos em Portugal é o de uma "mulata" escrava do Padre Baltazar Teixeira, de Talhadas. Este padre foi inimigo declarado de um antepassado meu, Diogo João dos Santos, que era um lavrador abastado em Talhadas, com o seu filho homônimo sendo juiz (de órfãos?). Defendendo-se das acusações do padre, Diogo João contratou um advogado que apresentou o seguinte relato sobre aquele:
“avendo de morar na matriz onde está o S. Sacramento, mora na freguesia de Ereira, distante um quarto de légua, em um lugar onde tem de sua mão hũa Maria João, mulher casada, com a qual de cinco anos a esta parte anda amancebado publicamente, de que tem filhos e como tais os trata, e juntamente de porta a dentro, uma mulata que lhe serve de Alcoviteira, e manceba, pelo qual já foi culpado em Visitação…”.
Este processo ocorreu entre as décadas de 1630 e 1650, na Inquisição de Coimbra. O meu antepassado era acusado de ter agido publicamente como familiar do Santo Ofício sem o ser, inclusive prendendo determinados indivíduos. Foi condenado ao degredo em Castro Marim e a pagar as custas de 15$677 réis. Muitos anos depois, ainda sem cumprir o degredo, ele mentiu a idade em mais de quinze anos (dizendo ter 65 anos) e disse estar doente, e pagou mais 8$000 réis para não ser degradado. No total, a sua "pena" foi pagar 23$677 réis para a Inquisição, dinheiro que, na época, era maior que a renda anual de um lavrador médio. É interessante como investigaram a linhagem dele até pelos tios, para comprovar que era inteiramente cristão-velho. Eu tenho outros antepassados julgados pela Inquisição, inclusive cristãos-novos, e eles também eram bem investigados em suas linhagens, apesar de não avançarem tanto quanto as diligências de habilitação para servir o Santo Ofício.
Por fim, deixo aqui estas curiosidades.
Atenciosamente,
João Brianti
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Prezados confrades:
Há alguns anos fiz pesquisas sobre a freguesia de Canelas, em Vila Nova de Gaia, de onde procedia meu trisavô Estevão Fernandes Moreira, que se transferiu para o Rio de Janeiro em 1879, e localizei vários assentos de batismo, casamento e óbito envolvendo pessoas escravas. Transcrevo um que considerei muito interessante pela preocupação do abade celebrante em precisar a origem dos nubentes.
"Aos dezesseis dias do mês de outubro de mil setecentos e trinta e cinco anos de manhã feitas as denunciações nesta igreja donde os contraentes são moradores sem se descobrir impedimento algum, por despacho do Mmo. reverendo doutor vigário geral, que fica em meu poder, em presença de mim o doutor Bento Homem da Fonseca Abade desta igreja, e comissário do Santo Ofício estando mais presentes testemunhas João Domingues e Manuel António de Canelas de Baixo, e outras mais, se casaram solenemente por palavras de presente José Vieira natural da Costa da Mina, meu escravo, que não conhecem seus pais, e Teresa Maria da Encarnação nascida no mar de sua mãe Maria da Encarnação, vindo do Rio de Janeiro quando (?) ia (?) para a cidade de Lisboa, e não conheceu pai. Rogo e dei as bênçãos de que fiz este assento.
O Abade Bento Homem da Fonseca."
As referências atuais são https://pesquisa.adporto.arquivos.pt/viewer?id=502094
PT-ADPRT-PRQ-PVNG03-002-0003_m0028.tif
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Outro registro de Canelas que achei singular foi este, do início do século XVII. A mãe da criança baptizada "acusa" seu senhor de ser o pai da criança:
João, filho de Maria escrava de Margarida da Costa e de João Álvares de Negrelos ao qual ela deu por pai, nasceu aos 26 de junho e foi baptizado aos 29. Foram padrinhos Tomé Álvares de Negrelos e Andressa Francisca mulher do xxxxxxx João de Negrelos e eu Pedro de Barros cura que o baptizei.
Pedro de Barros.
https://pesquisa.adporto.arquivos.pt/viewer?id=502044
PT-ADPRT-PRQ-PVNG03-001-0001_m0666.tif
Obs: Negrelos neste caso não era um sobrenome, mas um dos pequenos povoados da freguesia de Canelas.
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No mesmo livro temos uma sequência de três batismos de filhos da mesma escrava, cuja origem étnica não é apontada:
António, filho de Maria, escrava de Tomé da Costa (23/04/1606).
https://pesquisa.adporto.arquivos.pt/viewer?id=502044
PT-ADPRT-PRQ-PVNG03-001-0001_m0671.tif
Isabel, filha de Maria escrava de Tomé da Costa (06/06/1608).
PT-ADPRT-PRQ-PVNG03-001-0001_m0673.tif
Domingos, filho de Maria escrava de Tomé da Costa (17/10/1612).
PT-ADPRT-PRQ-PVNG03-001-0001_m0676.tif
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Boa tarde,
Há já alguns anos que faço pesquisa e que vou registando num excel os registos de escravos que vou encontrando pelo caminho. Pergunto se alguém conhece uma base de dados pública onde se possa fazer a pesquisa dos mesmos por nome, dono, freguesia, etc e que possa dar estatísticas?
Obrigada,
A Antunes
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