Qusayy- fundador da tribo Quraysh

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Qusayy- fundador da tribo Quraysh

#72063 | artur41 | 31 Aug 2004 22:22

Caríssimos Confrades,


Adquiri, recentemente, uma obra intitulada "O PROFETA Maomé, UMA BIOGRAFIA", da autoria de Barnaby Rogerson.

Na obra citada, Qusayy seria pai de Abdu Manaf; avô de Hashim (fundador do clã Beni Hashim); bisavô de Abd al-Muttalib; trisavô de Abdullah; tetravô de Maomé.
Gostaria que comentassem a filiação proposta.


Os meus melhores cumprimentos

Artur Camisão Soares

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RE: Qusayy- fundador da tribo Quraysh

#72074 | Carlos Silva | 01 Sep 2004 00:02 | In reply to: #72063

Caro Artur,

De facto trata-se da genealogia tradicional (e oficial) do profeta, e creio que por ele aceite.
Segundo a tradiçào Qusayy conseguiu certa forma de uniào dos quraysh para tirar aos Khuzâ'a o dominio do sanctuario da Ka'ba.
O siqaya Hashim é provavelmente mais antepassado eponimo dos beni Hashim do que fundador. Morreu em Gaza onde seu tumulo ainda é venerada.
Por outro lado Abd'Manaf foi pai de Abd Shams e avô de Umayya, antepassado dos omiadas, que têm hoje em dia um sentido tào forte para nào poucos genealogistas portugueses e brasileiros, como sabe.

Melhores cumprimentos
Carlos Silva

P.S.: As numerosas biografias do Profeta nào costumam apresentar variedade na apresentaçào da linhagem de Maomé.

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RE: Qusayy- fundador da tribo Quraysh

#72087 | doria_gen | 01 Sep 2004 02:13 | In reply to: #72074

Carlos,

Boa noite. A ascendência paterna de Maomé vai bem mais longe, mas o ancestral originário dos Quraysh é Firhi, cujo nome aparece nos primeiros Quraysh na Andaluzia, al-Firhi. Lembro também que em 967 e 968 confirma em Lorvão documentos um personagem de nome Nazeron ibn Leodesindo ibn Firhi, que, penso, poderia ser o futuro senhor da Maia.

(Já discutimos isso.)

Gdes abcs, boa noite, fa

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RE: Qusayy- fundador da tribo Quraysh

#72116 | artur41 | 01 Sep 2004 14:36 | In reply to: #72074

Caríssimo Carlos Silva,


Obrigado pela resposta. Fascina-me o mundo muçulmano: desde a sua origem até ao presente. Estou a fazer um esforço para o estudar, mas desde já lhe digo que há tradições seculares, ainda aplicadas nos dias de hoje, que tenho dificuldade em compreender: refiro-me, em particular, a "determinados" radicalismos!


Renovados cumprimentos

Artur João

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RE: Qusayy- fundador da tribo Quraysh

#72119 | Carlos Silva | 01 Sep 2004 14:42 | In reply to: #72116

Caro Artur,

Posso verificar caso interesse, mas é certo que o profeta aceitava a sua propria linhagem "tradicional" até certo ponto, julgando provavelmente o demais pouco digno de fê.

melhores cumprimentos
Carlos Silva

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RE: Um legado árabe nas Américas?

#72121 | camisao65 | 01 Sep 2004 14:56 | In reply to: #72116

Segundo o Dr. Yussef Mroueh, numerosas são as evidências que sugerem que muçulmanos vindos da Espanha e África Ocidental tenham chegado às Américas há, pelo menos, 5 séculos antes de Colombo.

Há registros, por exemplo, de que em meados do século X, durante o reinado do califa omíada
Abdul-Rahman III (926-961), muçulmanos de origem africana, partindo do porto espanhol de Delba (Palos), navegaram o "Mar Tenebroso". Após uma longa ausência, eles retornaram com uma carga preciosa, conseguida em "uma terra estranha e curiosa". Sabe-se que muçulmanos acompanharam Colombo, e os exploradores que se seguiram, em viagens ao Novo Mundo.

A última fortaleza muçulmana na Espanha, Granada, caiu em mãos de cristãos em 1492 d.C., um pouco antes do início da Inquisição espanhola. Para escapar da perseguição religiosa, muitos não cristãos fugiram ou se converteram ao catolicismo. Em pelo menos dois documentos podemos inferir a presença de muçulmanos na América espanhola antes de 1550 d.C., não obstante o fato de um decreto baixado em 1539 d.C, por Carlos V, rei de Espanha, ter proibido que netos de muçulmanos, que tivessem sido queimados na fogueira, migrassem para as Indias Ocidentais. Este decreto foi ratificado em 1543 d.C., juntamente com a publicação de uma ordem de expulsão de todos os muçulmanos dos territórios ultramarinos espanhóis. São muitas as referências sobre a chegada de muçulmanos às Américas e elas podem ser resumidas nas notas que se seguem:

Documentos históricos

1.Abul-Hassan Ali Ibn Al-Hussain Al-Masudi (871-957 d.C), um historiador e geógrafo muçulmano, escreveu em seu livro "Muruj Adh-dhahab wa Maadim al-Jawahar" (Os Campos de Ouro e as Minas de Jóias), que durante o reinado do califa muçulmano da Espanha, Abdullah Ibn Muhammad (888-912 d.C), um navegador muçulmano Khashkhash Ibn Saeed Ibn Aswad, de Córdoba, na Espanha, navegou de Delba (Palos) em 889 d.C, cruzou o Atlântico e alcançou um território desconhecido (Ard Majhoola) e retornou com tesouros fabulosos. No mapa de Al-Masudi há uma grande área no "Mar Tenebroso" (oceano Atlântico) que se refere a esse território (as Américas).
2.Abu Bakr Ibn Umar Al-Gutiyya, um historiador muçulmano, contou que, durante o reinado do califa muçulmano, Hisham II (976-1009 d.C), um outro navegador muçulmano, Ibn Farrukh de Granada, saindo de Cadiz (fevereiro de 999 d.C) aportou em Gando (ilhas Canárias), visitando o Rei Guanariga e continuou em direção oeste, onde avistou duas ilhas, dando-lhes os nomes de Capraria e Pluitana. Ele retornou à Espanha em maio de 999 d.C.
3.Colombo saiu de Palos (Delba), na Espanha, com destino a Gomera (Ilhas Canárias) – Gomera é uma palavra árabe que significa "pequeno incendiário". Lá, ele se apaixonou por Beatriz Bobadilha, filha do capitão-geral da ilha (o nome Bobadilha é derivado do arabo-islâmico (Abouabdilla). Ainda assim, o clã Bobadilha não foi condescendente. Um outro Bobadilha (Francisco), mais tarde comissionário real, colocou Colombo na cadeia e o transferiu de Santo Domingo de volta para a Espanha (novembro de 1500 d.C). A família Bobadilha era ligada à dinastia de Sevilha (1031-1091 d.C). Em 12 de outubro de 1492, Colombo aportou em uma pequena ilha das Bahamas, que era chamada de Guanahani pelos nativos e rebatizada de São Salvador por Colombo. Guanahani é derivado do mandinga e é uma corruptela das palavras árabes Guana (Ikhwana), que significa "irmãos" e Hani, nome próprio árabe. Portanto, o nome original da ilha era "Irmãos Hani". Ferdinando Colombo, filho de Cristóvão, escreveu sobre a presença de negros, visto por seu pai em Honduras: "As pessoas que vivem mais a leste de Pointe Cavinas, até Cabo Gracias a Diós, são quase negras na cor." Ao mesmo tempo, na mesma região, vivia uma tribo de nativos muçulmanos, conhecidos como Almamy. Nas línguas árabe e mandinga, Almamy era a designação para "Al-Imam" ou "Al-Imamu", a pessoa que conduz a prece ou, em alguns casos, o chefe da comunidade e/ou um membro da comunidade muçulmana.
4.Leo Weiner, um historiador e linguista americano da Universidade de Harvard, em seu livro "A Descoberta da América" (1920), escreveu que Colombo sabia muito bem da presença mandinga no Novo Mundo e que muçulmanos da África Ocidental haviam se espalhado pelos territórios doCaribe e das Américas do Norte, Central e do Sul, inclusive do Canadá, onde eles acabaram por se casar com indígenas das tribos iroquês e algonquin.

Explorações geográficas

1.O renomado geógrafo e cartógrafo muçulmano Al-Sharif Al-Idrisi (1099-1166 d.C) escreveu em seu livro Nuzhat al-Mushtaq fi-Ikhtiraq al-Afaq, que um grupo de marinheiros (da África do Norte), saindo do porto de Lisboa (Portugal), navegou pelo mar Tenebroso (oceano Atlântico) a fim de descobrir como ele era e qual era a extensão de seus limites. Finalmente, eles alcançaram uma ilha onde havia um povo e plantação ... no quarto dia, um tradutor falou com eles em árabe.
2.Livros muçulmanos mencionavam uma descrição bem documentada de uma viagem através do mar Tenebroso, feita pelo Shaikh Zayn-eddine Ali bem Fadhel Al-Mazandarani. Sua viagem começou em Tarfay (sul do Marrocos), durante o reinado do rei Abu-Yacoub Sidi Youssef (1286-1307 d.C), até a Ilha Verde, no mar do Caribe, em 1291 d.C. Os detalhes de sua viagem oceânica são referências islâmicas e muitos eruditos muçulmanos conhecem este fato histórico.
3.O historiador muçulmano Chihab Addine Abul-Abbas Ahmad bem Fadhl Al-Umari (1300-1384 d.C), em seu livro "Masaalik al-absaar fi Mamaalik al-amsaar", descreveu, em detalhes, as explorações geográficas além do mar Tenebroso feitas por sultões do Mali.
4.O sultão Mansa Kankan Musa (1312-1337 d.C) foi um conhecido monarca mandinga do império islâmico do Mali. Quando estava viajando para Macca, em seu famoso hajj, em 1324 d.C, ele disse a estudiosos da corte do sultão mameluco Bahri (an-Nasir-eddin Muhammad III, 1309-1340 d.C), no Cairo, que seu irmão, o sultão Abu Bakr I (1285-1312 d.C), havia empreendido duas expedições pelo oceano Atlântico. Como o sultão não retornasse a Timboctu dessa segunda viagem de 1311 d.C, Mansa Musa acabou por se tornar o sultão do império.
5.Colombo e os primeiros exploradores espanhóis e portugueses, só foram capazes de cruzar o Atlântico (uma distância de 24.000 km) graças ao conhecimento muçulmano sobre geografia e navegação, principalmente os mapas feitos por comerciantes muçulmanos, inclusive Al-Masudi (871-957 d.C) em seu livro Akhbar Az-Zaman (História do Mundo), que é baseado em material reunido na África e na Ásia. Aliás, Colombo tinha dois capitães de origem muçulmana em sua primeira viagem transtlântica: Martin Alonso Pinzon, que era capitão da nau Pinta, e seu irmão Vicente Yanez Pinzon, que era capitão da nau Nina. Eles eram ricos e experientes em navios e ajudaram a organizar a expedição de Colombo e a consertar a nau capitânea Santa Maria. E fizeram isso às suas próprias custas por interesse tanto político quanto comercial. A família Pinzon era ligada ao sultão marroquino Abuzayan Muhammad III (1362-66 d.C).

Inscrições arábicas (islâmicas)

1. Antropólogos provaram que os mandingos, seguindo as intruções de Mansa Musa, exploraram muitas partes da América do Norte, subindo o rio Mississipi e outros sistemas fluviais. Em Four Corners, Arizona, documentos comprovam que até elefantes eles trouxeram da África para essa área.

2. Em seus diários, Colombo admitiu que no dia 21 de outubro de 1492, uma segunda-feira, quando ele estava navegando próximo a Gibara, na costa nordeste de Cuba, ele viu uma mesquita no alto de uma bela montanha. As ruínas de mesquitas e minaretes com inscrições de versículos alcorânicos foram escobertos em Cuba, México, Texas e Nevada.

3. Durante sua segunda viagem, os nativos de Hispaniola (Haiti) disseram a Colombo que negros tinham estado na ilha antes de sua chegada. Como prova, eles o presentearam com lanças daqueles muçulmanos africanos. Essas armas eram arrematadas na ponta com um metal amarelo que os nativos chamavam de guanine, uma palavra de origem africana que siginifica "mistura de ouro". Estranhamente, está relacionada como a palavra árabe ghinaa, que quer dizer "riqueza!. Colombro levou algumas guanines para a Espanha e lá elas foram testadas. Ele, entãoo, soube que o metal era composto de 18 partes de ouro (56,25 %), seis partes de prata (18,75 %) e oito partes de cobre (25 %), a mesma proporção do metal produzido na nos mercados africanos da Guiné.

4. Em 1498 d.C., em sua terceira viagem ao Novo Mundo, Colombo aportou em Trinidad. Mais tarde ele avistou o continente sul-americano, onde alguns de seus tripulantes desceram em terra e encontraram nativos usando lenços coloridos em algodão tecido simetricamente. Colombo percebeu que aqueles lenços lembravam os lenços de cabeça e as tangas da Guiné, com suas cores, estilo e função. Ele se referiu a eles como os Almayzars, que é uma palavra árabe para "capa", "cobertura", "avental" e/ou saia, e que era a roupa usada pelos mouros (muçulmanos espanhóis e africanos do norte), que chegaram ao Marrocos, Espanha e Portugal vindos da África Ocidental (Guimé). Durante esta viagem, Colombo se surpreendeu com as mulheres casadas que vestiam calças de algodão (bragas) e imaginou como aquelas nativas
podiam ter aprendido sobre a modéstia. Hernando Cortez, o conquistador espanhol, descreveu a roupa das nativas como longos véus e a dos nativos como uma espécie de "bombachas, pintadas no estilo das tapeçarias mouriscas". Ferdinando Colombo chamou essas roupas de algodão "bombachas do mesmo desenho e roupa com os xales usados pelas mouras de Granada". Até a semelhança das redes das crianças com as usadas na Africa do Norte era fantástica.

5. O Dr. Barry Fell, da Universidade de Harvard, apresentou em seu livro "A Saga da América" - 1980, sólidas evidências científicas que amparam a tese da chegada de muçulmanos da África do Norte e Ocidental, muitos séculos antes de Colombo. O Dr. Fell descobriu a existência de escolas muçulmanas em Nevada, Colorado, Novo México e Indiana, datando de 700-800d.C. Entalhado nas pedras do antigo oeste americano, ele encontrou textos, diagramas e cartas, representando os últimos fragmentos vivos do que uma vez foi um sistema de escolas, tanto primária quanto secundária. A língua usada era o árabe norte-africano, escrito no antigo kufi. As matérias de ensino incluiam escrita, leitura, aritmética, religião, história, geografia, astronomia e navegação marítima. Os descendentes dos visitantes muçulmanos da América do Norte eram membros das atuais tribos iroqueses, algonquins, anasazis, hohokam, olmec.

6. Existem 565 nomes de lugares (vilarejos, cidades, montanhas, lagos, rios, etc.), 484 nos Estados Unidos e 81 no Canadá, que são derivados de raízes árabes e islâmicas. Esses lugares foram originalmente batizados pelos nativos do período pre-colombiano. Alguns desses nomes tinham significado sagrado, tais como Meca (Indiana) - 720 habitantes, tribo indígena Makka (Washington), Medina (Idaho) - 2.100 habitantes, Medina (NY) - 8.500 habitantes, Medina e Hazen (Dacota do Norte) - 1.100 habitantes e 5.000 habitantes, respectivamente, Medina (Ohio) - 12.000 habitantes, Medina (Tenessee) - 1.100 habitantes, (Medina (Texas) - 26.000 habitantes, (Medina (Ontário) - 1.200 habitantes, Maomé (Illinois) - 3.200 habitantes, Mona (Utah) - 1.100 habitantes, Arva (Ontário) - 700 habitantes, e muitos outros. Um estudo cuidadoso dos nomes das tribos indígenas revelou que muitos deles derivaram de raízes árabes e islâmicas, como, por exemplo, Apache, Arauaque, Arikana, Cheroque, Hohokam, Makka, Nazca, Zulu, Zuni, etc.

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RE: Andaluzia

#72122 | camisao65 | 01 Sep 2004 14:59 | In reply to: #72116

Dr. Abdellatif Charafi

Este artigo pretende ser uma viagem no tempo a um período muito especial da história mundial: do nono ao décimo terceiro séculos, na Andaluzia, e mais especificamente em Córdoba, onde um milhão de pessoas viviam na maior cidade da Europa, o centro cultural daquela época. Não havia separação rigorosa entre o estudo científico, a sabedoria e a fé. O Oriente estava separado do Ocidente, e nem os muçulmanos dos judeus ou cristãos. Na verdade, foi lá que o Renascimento começou e de lá se expandiu.

Ao examinar a trajetória do Islam na Andaluzia, o objetivo não é louvar um morto ilustre e sim reintroduzir em nossa vida a afirmação dos valores absolutos e universais do Islam, sem os quais a sociedade inevitavelmente se desintegrará.

O Mito da Conquista Muçulmana da Espanha

Mas de quinhentos anos se passaram desde que o Islam foi erradicado da Espanha. O acontecimento foi comemorado com esplendor na Expo 92, em Sevilha, durante a qual, os organizadores tentaram nos fazer crer que a Espanha teria sido formada por mais de sete séculos de luta continuada contra o Islam. Mas a derrota dos muçulmanos, em janeiro de 1492, significou uma libertação para os espanhóis? O califado muçulmano foi uma colonização da Península Ibérica?

Quando estudamos a expansão muçulmana na Espanha espantamo-nos com a sua velocidade, seu aspecto e um modo geral pacífico e seu componente civilizacional. Os muçulmanos levaram menos de 3 anos (de 711 a 714) e uma batalha (de Guadalete, perto de Cadiz) para se espalharem por toda a Espanha. Em contraposição a isto, o Profeta Mohammad levou 23 anos (de 610 a 632) e 19 expedições para que toda a Arábia aceitasse o Islam. Esta diferença no tempo e nos esforços para conquistar a Arábia e a Espanha para o Islam deve-se a afinidades teológicas assim como a razões sócio-culturais e político-econômicas que atraíram os espanhóis.

A Arábia pré-islâmica era predominantemente politeísta, com pequenas comunidades de judeus e cristãos e o Islam teve de lutar contra um "mundo sem lei" (jahiliyya) para que prevalecesse o monoteísmo. A Espanha pré-islâmica era cristã com importantes comunidades judaicas. Esta diferença, de acordo com Roger Garaudy, não só explica a rapidez da expansão como seu tipo também.

W. Montgomery Watt, em A History of Islamic Spain, afirma:

"É um equívoco comum que a guerra santa signifique que os muçulmanos tenham dado aos seus opositores uma escolha "entre o Islam e a espada". Em alguns casos foi assim, mas somente quando os inimigos eram politeístas e adoradores de ídolos. Para judeus, cristãos e outros "Povos do Livro", isto é, monoteístas com escrituras - uma sentença que foi interpretada muitas vezes de forma liberal - havia uma terceira possibilidade, eles podiam tornar-se um grupo protegido, pagando uma taxa ou tributo aos muçulmanos para usufruírem de autonomia interna."

O caso da Espanha não é, portanto, excepcional e isto se deve à verdadeira essência do Islam.

O Profeta nunca pretendeu criar uma nova religião: "Dize-lhes: Não sou um inovador entre os mensageiros." (46:9) "Nada te foi revelado que não tivesse sido aos mensageiros antes de ti." (41:43

Ele veio para lembrar às pessoas a Religião Primordial: "Dizei: Cremos em Deus, no que nos foi revelado, no que foi revelado a Abraão, a Ismael, a Isaac, a Jacó e às tribos; no que foi concedido a Moisés e a Jesus e no que foi dado aos profetas por seu Senhor; não fazemos distinção alguma entre eles e nos submetemos a Ele." (2:136)

O Islam veio para confirmar as mensagens anteriores, para purificá-las das alterações históricas e para completá-las. Diz o Alcorão: "Porém, se estás em dúvida sobre o que te temos revelado, consulta aqueles que leram o Livro antes de ti." (10:94)

A comunidade muçulmana era uma comunidade aberta, sem distinção para aqueles que acreditavam na unidade e transcendência de Deus.

Além disso, na Península Ibérica irrompeu uma guerra civil entre os cristãos trinitários, que aceitavam a Trindade e a divindade de Jesus, e os cristãos arianos, que não viam Jesus como Deus e sim como um profeta inspirado por Deus. O Concílio de Nicéia, em 325, convocado pelo imperador Constantino para unificar seu império ideologicamente, impôs o dogma da Trindade e condenou os ensinamentos de Anus de Alexandria, que não aceitava tais dogmas. O conflito surgiu quando, em 709, os cristãos unitários declararam Roderick rei. O arcebispo de Sevilha se opôs a ele e os habitantes da atual Andaluzia (Bétique) se revoltaram contra seu governo. Quando Roderick invadiu a Andaluzia, a população procurou por ajuda. O competente general bérbere, Tariq ibn Ziyad cruzou o estreito de Algeciras, e aconteceu a batalha em Guadalete, próxima a Cadiz. Os bispos de Sevilha e de Toledo se juntaram ao exército muçulmano.

Os camponeses tinham uma vida difícil, eram mal tratados e viviam escravizados. A pobreza, corrupção, ignorância e instabilidade estavam por toda a parte. Mesmo os homens livres se sentiam desprestigiados. Havia muitos descontentes e as pessoas comuns viram os muçulmanos como seus libertadores e lhes prestaram todo o apoio possível. Os judeus, que tinham sido perseguidos por muito tempo sob o governo dos visigodos (por exemplo, um decreto especial de 694 previa a escravização de todos os que não aceitassem o batismo), abriram os portões de várias cidades. A satisfação era tão grande e tão disseminada em todas as classes sociais que durante todo o século 8 não se registrou uma única revolta entre os súditos.

Se imaginarmos uma invasão militar, fica difícil compreender como um pequeno exército pôde atravessar toda a Espanha em menos de 3 anos. O historiador Dozy, em Histoire des Musulmans d'Espagne, descreve o envento como uma "coisa boa para a Espanha", que produziu uma importante revolução social, libertando o país das amarras que prenderam a região por tantos séculos. Os impostos eram muito menores se comparadas àquelas cobrados pelos governos anteriores. Os muçulmanos promoveram uma reforma da terra, tirando do rico e distribuindo-a igualmente aos camponeses e escravos. Os novos proprietários trabalhavam a terra com orgulho. O comércio, livre das limitações e das elevadas taxas que provocavam o seu estrangulamento,floresceu. Os escravos podiam alcançar sua liberdade através de uma compensação justa, algo que trouxe novas energias. Todas estas medidas, diz Dozy, criaram um estado de bem-estar que justificava a boa recepção que tiveram os muçulmanos.

O grande escritor espanhol Blasco Ibanez, em Dans l'ombre de la cathédrale, fala de uma "expedição civilizacional" chegando do sul e não de uma conquista. Para ibanez, não foi uma invasão imposta pelas armas, era uma nova sociedade cujas raízes vigorosas cresciam por toda a parte. Ao descrever os muçulmanos conquistadores, diz ele: 'O princípio de liberdade de consciência, a pedra angular da grandeza das nações, era muito caro a eles. Nas cidades em que governaram, eles aceitaram a igreja dos cristãos e a sinagoga dos judeus.'

A História, portanto, mostra que a lenda do muçulmano fanático varrendo a Espanha e impondo o Islam à força da espada é um mito absurdo. A expansão do Islam na Espanha não foi uma conquista militar e sim uma libertação.

O Sentido da Vida na Andaluzia

O sentido da vida e seus objetivos na Andaluzia na época de seu apogeu islâmico, ordenava cada ato do cotidiano, assim como da pesquisa técnica e científica. Gigantes espirituais, como os muçulmanos Ibn Rushd (1126-1198), conhecido no ocidente como Averróes, e Ibn Arabi (1165-1240), ou o filósofo judeu Maimônides (1135-1204), são alguns dos homens que trouxeram mais brilho à mensagem da Andaluzia. Este espírito está por trás de todo progresso científico e técnico das séculos dourados do Islam.

A ciência não foi separada da sabedoria e da fé e nada pode expressar melhor este fato do que o observado por Ibn Rush quando escreve:

"Nossa filosofia não serviria de nada se não fôssemos capazes de ligar estas três coisas conforme tentei fazer em minha 'Harmonia da Ciência e Religião':

- A Ciência, baseada na experiência e lógica, para descobrir a razão.
- A Sabedoria, que se reflete no objetivo de toda pesquisa científica para que a nossa vida seja mais bela.
- A Revelação, a do nosso Alcorão, porque somente através da revelação é que conheceremos os objetivos finais de nossa vida e nossa história."

A unidade da tradição abraâmica e a abordagem crítica da filosofia são expressas com a mesma força no trabalho do filósofo judeu Maimônides, que foi contemporâneo de Ibn Rushd. Diante da Torá, na sinagoga, ele disse:

Se para Ibn Rushd o Livro Sagrado não é a nossa Torá e sim o Alcorão, ambos concordamos no que se refere às contribuições da razão e da revelação. São duas manifestações de uma mesma verdade divina. Existe apenas uma contradição quando um é fiel à leitura literal das escrituras, esquecendo-se de seu significado eterno.

Na Andaluzia, o Islam assume uma nova dimensão com Ibn 'Arabi, apelido de Muhyi al-Din (aquele que dá sua vida pela fé). O que interessava a Ibn 'Arabi não era o que o homem fala a respeito de sua fé e sim o que esta fé faz por este homem. Diz ele:

Deus é unidade. A unidade do amor, do amante e do amado. Todo amor é um desejo de união. Todo amor, consciente ou inconsciente, é um amor a Deus.
Testemunhe esta presença de Deus dentro de si, da criação de Deus, que nunca cessa. O ato é uma manifestação exterior de fé. O Islam reconhece todos os profetas e mensageiros do mesmo Deus. Aprenda a descobrir em cada homem a semente de um desejo por Deus, mesmo que sua crença ainda seja fraca e algumas vezes idólatra. Ajude a conduzi-lo para a Luz mais completa.


Ibn Rushd esforçou-se para trazer a luz da mensagem universal do Islam, obscurecido pelas tradições, quando definiu a melhor sociedade como 'aquela onde toda mulher, toda criança e todo homem recebem todos os meios para desenvolver as possibilidades que Deus concedeu a cada um deles.' O poder de estabelecer isto não será através de uma teocracia, como a dos cristãos na Europa, um poder de cúmplices ou tiranos religiosos : Deus diz no Alcorão, 'Ele instilou no homem Seu espírito". Que Ele viva em cada homem!'

Quando indagado sobre as condições de uma tal sociedade, ele respondeu: 'Uma sociedade será livre e agradável a Deus quando ninguém agir por medo do Prínicpe ou por medo do Inferno, e nem pelo desejo da recompensa deste mundo ou do Paraíso, e quando ninguém disser: Isto é meu.'

O Islam na Andaluzia produziu vários gigantes espirituais que mostraram que não há futuro para a humanidade que não seja dentro dos valores espirituais que emanam da crença na transcendência e unicidade de Deus. Homens como Ibn Massara, de Córdoba (883-931), para quem o homem era responsável por sua própria história; Ibn Hazm, de Córdoba (994-1064), que foi o pioneiro da história comparativa das religiões; Ibn Gabirol, de Málaga (1020-1070), cujo trabalho fundamental foi a síntese da fé judaica e a filosofia de Ibn Massar; Ibn Bajja (1090-1139), que apresentou a filosofia islâmica de uma forma sistemática; Ibn Tufayl, de Cadiz (1100-1185), cujo tema central foi a relação entre a razão e a fé.

Todos esses homens de conhecimento, sabedoria e fé, permanecem como legado de um passado glorioso, quando o verdadeiro Islam foi pregado e praticado; um tempo do belo exemplo de muçulmanos conquistando fama e respeito; um tempo em que estes povos amantes da paz surgiram porque a injustiça estava sendo praticada e deveria ser combatida em nome de Deus com a força que levou um punhado de fiéis à vitória sobre os exércitos dos incrédulos.

O Estilo de Vida em Andaluzia

A Andaluzia foi singular no que se refere às suas realizações tangíveis em todos os campos da vida humana. O ensino foi enfatizado, marcado por uma fascinação pela ciência, literatura árabe e pelo discurso filosófico sobre a razão e a fé. No mundo criado em terras andaluzas, havia uma prosperidade comercial, prosperidade em termos de consumo e de produtividade e intercâmbio. Havia uma riqueza de informação graças às bibliotecas de Córdoba e uma riqueza de pensamento sobre o significado da vida, de Deus e das coisas materiais. E havia poetas que cantavam todas as formas de riqueza.

Limitar-nos-emos a uma breve descrição das conquistas técnicas e científicas, e a um relato mais detalhado da Mesquita de Córdoba porque é um das primeiras expressões monumentais do governo muçulmano e indiscutivelmente um prédio que mais completamente incorpora a imagem da hegemonia muçulmana na Andaluzia.

Conquistas Técnica e Científica

Quando discutimos o progresso científico da Andaluzia, não podemos separá-lo das contribuições de outras grandes civilizações e nem da sabedoria e fé que inspiraram os esforços de todos os pesquisadores andaluzes: a ciência é Única porque o mundo é Único, o mundo é Único porque Deus é Único. Este princípio de tauhid comandou todos os aspectos da pesquisa científica na Andaluza assim como em outras partes do mundo islâmico, em seu período de apogeu. A seguir, algumas conquistas desta filosofia de vida.

A primeira tentativa de vôo aconteceu em Córdoba com Abu Abbas al-Fernass. Al-Zahrawi, nascido nas proximidades de Córdoba, em 936, foi um dos maiores cirurgiões de todos os tempos. Sua enciclopédia de cirurgia foi usada como uma referência na matéria em todas as universidades da Europa por mais de 500 anos. Al-Zarqalli, que nasceu em Córdoba, inventou o astrolábio: um instrumento que é usado para medir a distância das estrelas acima do horizonte. O astrolábio tornou possível a determinação da posição de uma pessoa no espaço e as horas do dia, para navegar e chamar o fiel para a prece no tempo devido.

Al-Idrisi, que nasceu em Ceuta em 1099, e estudou em Córdoba, desenhou mapas para o rei Roger II, da Sicília, onde ele usou métodos de projeção para passar da sombra esférica da terra para o planisfério, que era muito semelhante àquele usado por Mercator 4 séculos mais tarde.

Os métodos de agrucultura e irrigação dos muçulmanos da Espanha foram revelados pelo grande engenheiro italiano, Juanello Turriano, que chegou a Andaluzia para estudar técnicas agrícolas e hidráulicas adotadas no século 11, para resolver seus problemas na Itália do século 16.

A Grande Mesquita de Córdoba

Córdoba merece seu título de 'a noiva das cidades' e a 'jóia do século 10'. A cidade das fábricas e lojas, que atraiu muitos exegetas e produziu os seus próprios. Foi a primeira cidade com iluminação pública da Europa. Foi o centro do ensino e da civilização numa época em que os normandos tinham atacado Paris e os vikings tinham saqueado a Inglaterra. Sua obra prima foi a magnífica mesquita, que é a construção mais famosa da Espanha, depois do palácio de Alhambra, em Granada.

As fundações da mesquita foram construídas por Abd al-Rahman I, em 785, num lugar que tinha sido uma igreja cristã. Desde o tempo da conquista, em 711, a igreja era usada tanto por muçulmanos como por cristãos. Os muçulmanos compraram a igreja por causa do crescimento da população e não por uma questão de intolerância religiosa. Entre 832 e 848, ela foi ampliada, e depois em 912, mais tarde em 961, por al-Hakam II, que construiu seu esplêndido mihrab. Al-Mansur, em 987, dobrou o espaço do salão de orações, que passou a dispor de 600 colunas. Em 1236, ela foi atacada quando Córdoba se rendeu a Ferdinando III, de Castela, e inseriu uma capela e, mais tarde, em 1523, quando uma catedral foi construída no coração da mesquita. Conta-se que o rei Carlos V quando viu a nova catedral disse: 'Se eu soubesse o que era, não teria dado permissão para que se tocasse no antigo, pois vocês fizeram o que existe em muitos outros lugares e desfizeram o que era único no mundo.'

Como podemos ver, apesar da oposição do governo espanhol ao projeto da UNESCO de mudar a catedral como ela é, sem omitir o menor detalhe (como o templo de Abu Simbel no Egito foi mudado), a Mesquita de Córdoba ainda é o reflexo do melhor da arte muçulmana.

O problema prático enfrentado pelo arquiteto da Mesquita de Córdoba para a construção de seu vasto salão para uma grande comunidade, foi levantar o teto do oratório a uma altura proporcional à extensão do prédio, com a finalidade de dissipar qualquer sentimento depressivo que é sentido quando se entra num parqueamento subterrâneo. As antigas colunas das ruínas do prédio não foram suficientes. Era necessário complementá-las e foi sugerido o exemplo de Damasco, com arcadas de dois níveis. Mas o modelo de Córdoba tem um aspecto realmente surpreendente: as arcadas superiores e inferiores não são parte da parede mas foram reduzidas a pilares e arcos sem qualquer alvenaria intermediária. As arcadas superiores que amparam o teto estão sob os mesmos pilares das arcadas inferiores. Este conceito, sem precedente na história da arquitetura e única na Mesquita de Córdoba é um verdadeiro desafio para o peso e inércia das pedras.

As curvas das duas séries de arcadas elevam-se como palmeira - galhos de um mesmo tronco que repousam sobre uma coluna relativamente delgada, sem parecerem pesadas demais. As arcadas com suas pedras trabalhadas, de várias cores, expressam tal força que dissipam qualquer idéia de peso. Esta expressão em termos estáticos de uma realidade que vai muito além do plano material deve-se ao contorno das arcadas. As inferiores são projetadas na forma de semicírculos, enquanto que as superiores são mais abertas e semicirculares.

Muitos arqueólogos sugeriram que a composição dos arcos usados pelo arquiteto de Córdoba foi inspirada no aqueduto romano de Mérida. no entanto, existe uma diferença fundamental entre as duas construções. O arquiteto romano respeitou a lógica da gravidade, o apoio de uma edificação deve ser proporcional ao seu peso e assim, os arcos superiores devem ser mais leves do que os elementos que as apoiam. Para o arquiteto cordobês - e de um modo geral para toda a arquitetura islâmica, esta regra não funciona. Por que?

Para responder a esta pergunta devemos nos abstrair de considerações técnicas e prestarmos atenção à expressão simbólica do espaço na oração muçulmana, que foi o fator mais importante que o 'Mestre' de Córdoba teve que se preocupar. O objetivo não era alcançar uma façanha arquitetônica e sim criar um novo tipo de espaço que parecesse respirar e se expandir a partir de um centro onipresente. Os limites de espaço não têm qualquer função: as paredes do salão de orações desaparecem por trás de uma floresta de arcadas. Sua repetição rigorosa (havia 900 delas na mesquita original) dão um impressão de extensão sem fim.



Interior da Mesquita

Aqui, e espaço é delimitado não por suas fronteiras e sim pelo movimento das arcadas, desde que isto possa ser descrito como movimento. Esta expansão que é tão poderosa na verdade é imóvel. Titus Burckhardt a descreve como sendo 'uma arte lógica, objetivamente estática mas nunca antropomórfica.'

Devemos a al-Hakam II o maravilhoso mihrab, a obra prima da arte de Córdoba, assim como às várias cúpulas que ficam por trás dele, inclusive suas subestruturas de arcadas entrelaçadas. O nicho deste mihrab, que é muito profundo, é circundado em sua parte superior por um arco que é como uma aparição e uma fonte de luz, de onde as curvas parecem se dilatar como o peito respirando o ar do infinito. Segundo a mais elevada espiritualidade muçulmana, a beleza é um dos "sinais" que evocam a Divina Presença. A incrição acima da sinfonia de cores, em escrita cúfica, proclama a Unicidade de Deus.



O mihrab da Mesquita de Córdoba

A Mesquita de Córdoba é a personificação da mensagem universal do Islam. Mohammad Iqbal em seu poema À Mesquita de Córdoba, escreveu:

Ó! Sagrada Mesquita de Córdoba,
Templo de todos os amantes da arte.
Pérola da verdadeira fé
Santificando o solo andaluz,
Como a própria Sagrada Meca.
Uma beleza tão gloriosa
Só se encontra na terra
No verdadeiro coração muçulmano.


Quem Matou o Islam em Andaluzia

O ensino filosófico e científico da Andaluzia atravessou os Pireneus e foi irrigar as secas pastagens da vida intelectual européia. Estudantes da Europa ocidental frequentavam as bibliotecas e universidades criadas pelos muçulmanos na Espanha, o que veio a mudar de modo decisivo a mente européia. Não há exagero em se dizer que a civilização ocidental deve sua regeneração à energia intelectual liberada pelo dínamo que foi o Islam. O período de regeneração, que começou em Florença, Itália, no século 16, ficou conhecido como Renascimento. Ele foi o resultado direto de um outro renascimento que começou na universidade de Córdoba, no século 9. Esta verdade de nossa história torna-se mais clara quando aprendemos como ouvir a música que emana das pedras de Córdoba. Há, no entanto, uma diferença fundamental entre os dois 'renascimentos': o primeiro que, em Córdoba, foi baseado na fé e tinha a consciência da universalidade do divino; o outro, que começou em Florença, foi um movimento contra Deus com seu projeto fundamental de secularização de todos os aspectos da vida.

As razões que levaram à morte do renascimento cordobês gerado pelo Islam pode ser compreendido melhor pela referência às causas de seu sucesso. O Islam devia seu sucesso espetacular inteiramente aos ensinamentos do Alcorão e dos exemplos (sunnah) do Profeta Mohammad (saw). O vigor ativo do sistema foi neutralizado logo que os muçulmanos relegaram o Alcorão à condição de um tratado de dogmas e a Sunnah tornou-se um mero sistema de leis e uma concha oca sem qualquer significado vivo. Em seu Muqaddima, Ibn Khaldoun condena os métodos de educação praticado por alguns dos fuqaha' da Andaluzia, quando, segundo ele, ao invés de ajudar o estudante a 'compreender o conteúdo do livro no qual ele está trabalhando', eles o forçam a 'decorá-lo'.

A escola maliquita de pensamento (madhhab) foi tão predominante na Andaluzia a ponto de nenhum outro madhahib ter sido ensinado, bastando conhecer de cór o Muwatta', de Imam Malik e seus comentários para que um renomado exegeta se tornasse um faqih. Este fechamento da porta do ijtihad (julgamento independente) que teria sido condenado por Imam Malik se ele tivesse presenciado, foi estimulado pela maioria dos governantes de Andaluzia porque significava obediência incondicional ao poder estabelecido. Isto levou a uma degeneração intelectual, o tratamento daqueles gigantes espirituais citado antes comprova isto melhor. Ibn Massar foi forçado a se exilar; Ibn Hazm foi expulso de Maiorca; os livros de Al-Ghazali foram queimados; a biblioteca universal de al-Hakam II foi lançada ao rio; Ibn Tufayl e Ibn Rushd foram expulsos; e Ibn Arabi também. Todos estes atos não foram praticados por cristãos e sim por companheiros muçulmanos! Nada mais foram do que sinais de que esta grande estrutura representada pelo Islam, que tinha resistido a muitas tempestades, tinha alcançado um estágio em que sua vitalidade interior tinha sido minada gradativamente e uma poderosa rajada a tinha extirpado do solo no qual tinha prosperado durante séculos.

Os primeiros conquistadores muçulmanos da Espanha tinham uma missão que tornava impossível para eles serem egoístas, cruéis ou intolerantes. O momento em que perderam seus sucessores, seu espírito desconfiado substituiu sua unidade de propóstio. Em um determinado momento, a Andaluzia chegou a ter doze dinastias muçulmanas. Este foi o sinal do colapso. A sociedade muçulmana começou a representar uma ordem social decadente, incapaz de um crescimento dinâmico e sem capacidade para uma resistência efetiva. Sob tais circunstâncias, é difícil para qualquer sociedade sobreviver a uma ameaça externa mais séria. O governo muçulmano na Península Ibérica começou a afundar por conta da traição dos diversos príncipes muçulmanos, até Granada cair nas mãos dos Cruzados, no dia 2 de janeiro de 1492.

Quando Abu Abdullah, o último rei de Granada olhou para Alhambra pela última vez, vieram lágrimas aos seus olhos. Neste momento, sua mãe, Aisha, disse: 'Abu Abdullah chora como uma mulher por um reino que não soube defender como um homem'. Mas nossa história deve desempenhar uma função mais inspiradora e orientadora do que ficar remoendo o passado. Quando olhamos essas maravilhas e todos os palácios deixados em Andaluzia, imaginamos: Certamente houve muita injustiça e opressão. Como Abu Dharr disse a Mu'awiya: 'Ó Mu'awiya! Se você estiver construindo este palácio com seu próprio dinheiro é extravagância, e se for com o dinheiro do povo é traição.' Não devemos glorificar nosso passado e nossos ancestrais sem fazer caso de seus erros. Nosso estudo da história do Islam deve ser mais objetivo e não uma simples justificativa de todos os atos praticados por aqueles que nos prececederam.

Conclusão

Precisamos lutar para que a tragédia da Andaluzia não se repita. Não devemos nos dirigir às nossas crianças com: Era uma vez a Palestina..., Era uma vez a Bósnia... Precisamos de um verdadeiro Renascimento Islâmico que nos conduza ao Islam eterno e universal. Um Islam que seja o apelo constante para a resistência a toda opressão, porque exclui qualquer submissão que não seja à vontade de Deus e mantém o homem responsável pela realização do mandamento divino na terra. Um Islam, nas palavras de Roger Garaudy, cujos princípios sejam:

1. No campo econômico: Só Deus possui,
2. No campo político: Só Deus ordena,
3.No campo cultural: Só Deus sabe.

Só assim responderemos a este chamado vivo: sem imitar o ocidente e nem imitar o passado.

Referências

The Holy Qur'an, traduzido e comentado por Abdullah Yusuf Ali.
Ibn Rushd, On the Harmony of Religion and Philosophy, trans. by George F. Hourani, 1960.
Roger Garaudy, 'For an Islam of the XXth Century', Relato apresentado na 1a. Conferência Internacional de Muçulmanos da Europa, Sevilha, 18-21/7/85.
Roger Garaudy, L' Islam, en Occident, Editions l'Harmattan, 1987.
Khola Hassan, The Crumbling Minaret of Spain, Ta- Ha Publishers, Londres, 1988.
Livreto sobre a Torre de Calahora, em Córdoba, 1988.
Ali Shariati, And Once Again Abu Dharr, trans. por Laleh Bakhtiar e Hussain Salih, The Abu Dharr Foundation, Teerã, 1985.
Titus Burckhardt, Art of Islam, World of Islam Festival Trust, Londres, 1976.
J. D. Dodds (ed), Al-Andalus, The Art of Islamic Spain, The Metropolitan Museum of Art, New York, 1992.
W. Montgomery Watt, A History of Islamic Spain, Edinburgh University Press, Edinburgh, 1967.
(Atualmente, o autor é um Pesquisador Associado, na Escola de Estudos Matemáticos, da Universidade de Portsmouth. Ele obteve seu PhD em Matemática Computacional no Wessex Institute of Technology, Southhampton, e um BSc em Matemática Pura na Ecole Normale Supérieure of Rabat, Marrocos.)

Cumprimentos

Luis Camizão

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RE: Os Califas Probos - I

#72123 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:24 | In reply to: #72063

"ABU BAKR (632-634 d.C)



Abu Bakr, o primeiro Califa (632-634 d.C)

"Se eu tivesse que ter um amigo além de meu Senhor, eu teria Abu Bakr com meu amigo." (hadith)

A Eleição para o Califado

Abu Bakr, o Companheiro mais próximo do Profeta (saw), não estava presente quando ele deu seu último suspiro na casa de sua amada esposa dos últimos anos, Aisha, filha de Abu Bakr. Quando ele soube da morte do Profeta, correu para a casa da filha, com tristeza, "Quão abençoada foi sua vida e quão beatificada é sua morte," sussurou, enquanto beijava o rosto de seu amado amigo e mestre que agora já não mais estava presente.

Quando Abu Bakr saiu da casa do Profeta e trouxe a notícia, a descrença e a consternação espalharam-se pela comunidade dos muçulmanos de Medina. Mohammad (saw) tinha sido o líder, o guia e o portador da Divina revelação. Através dele, eles tinham sido afastados da idolatria e da barbárie e entrado no caminho de Deus. Como ele podia ter morrido? Até Omar, um dos mais bravos e dos mais fortes entre os Companheiros do Profeta, perdeu a compostura, sacou de sua espada e ameaçou matar quem quer que dissesse que o Profeta estava morto. Abu Bakr gentilmente o afastou, subiu os degraus do púlpito da mesquita e se dirigiu ao povo, dizendo:

"Ó gentes, aquele que adora a Mohammad, eis que Mohammad está morto. Mas aquele que adora a Deus, eis que Deus está vivo e nunca morrerá."

E concluiu com um versículo do Alcorão:

"E Mohammad não é senão um mensageiro. Muitos mensageiros o precederam; se ele morresse ou fosse morto, voltaríeis à incredulidade?" (3:144)

Ao ouvirem estas palavras, as pessoas se consolaram. O abatimento cedeu lugar à confiança e tranquilidade. O momento crítico tinha passado, mas a comunidade muçulmana agora enfrentava um problema extremamente grave, que era a escolha de um líder. Após algumas discussões entre os Companheiros do Profeta, que estavam reunidos com o objetivo de escolher um substituto, ficou evidente que não havia outro mais adequado para a responsabilidade do que Abu Bakr. Uma parte de seu discurso, logo após sua eleição, já foi citada na introdução.

A vida de Abu Bakr

Abu Bakr ('O proprietário de camelos') não era seu nome verdadeiro. Ele passou a usar esse nome mais tarde, por causa de seu grande interesse na criação de camelos. Seu nome verdadeiro era Abdul Ka'aba (Servo da Caaba), que depois foi mudado pelo Profeta para Abdullah ('Servo de Deus'). O Profeta (saw) também lhe deu o nome de 'Siddiq', o Testemunhador da Verdade'.

Abu Bakr era de uma rica família de mercadores e, ainda antes de abraçar o Islam, era um cidadão respeitado de Mecca. Ele era três anos mais jovem do Mohammad (saw) e uma natural afinidade surgiu entre eles desde a infância. Foi o mais próximo Companheiro do Profeta durante toda a vida dele. Quando Mohammad convidou seus amigos mais íntimos e parentes para o Islam, Abu Bakr estava entre os primeiros a aceitar. Ele também persuadiu Osman e Bilal a aceitarem o Islam. No início da missão do Profeta, quando um punhado de muçulmanos foram submetidos a perseguição e tortura implacáveis, Abu Bakr teve a sua parcela de sofrimento. Finalmente, quando a permissão de Deus chegou para migrar de Mecca, ele foi o único escolhido pelo Profeta para acompanhá-lo numa perigosa viagem para Medina. Abu Bakr sempre esteve ao lado do Profeta nas inúmeras batalhas que aconteceram durante a existência dele. Certa vez, ele trouxe todos os seus pertences para o Profeta, que estava levantando fundos para defender Medina. O Profeta perguntou "Abu Bakr, o que você deixou para a sua família?" A resposta veio imediata: "Deus e Seu Profeta."

Mesmo antes do Islam, Abu Bakr era conhecido como um homem de caráter honrado e amável e de natureza compassiva. Por toda sua vida ele foi sensível ao sofrimento humano e gentil com os pobres e necessitados. Muito embora fosse rico, viveu modestamente e gastava seu dinheiro na caridade, na libertação dos escravos e pela causa do Islam. Muitas vezes ela passava parte da noite em súplicas e orações. Ele partilhou com sua família uma vida afetuosa e alegre.

O Califado de Abu Bakr

Este era o homem sobre quem o peso da liderança recaiu, no período mais delicado da história dos muçulmanos.

Quando a notícia da morte do Profeta se espalhou, várias tribos se rebelaram e se recusaram a pagar o zakat (o imposto do pobre), dizendo que ele era devido somente ao Profeta (saw). Ao mesmo tempo, começaram a surgir inúmeros impostores, alegando que a missão de profeta tinha passado para eles, e começaram a surgir revoltas. Além do mais, dois poderosos impérios, o Romano do Oriente e o Persa, também ameaçavam o recém-nascido estado de Medina.

Sob tais circunstâncias, muitos Companheiros do Profeta, inclusive Omar, aconselharam Abu Bakr a fazer concessões aos sonegadores do zakat, pelo menos por um tempo. O novo Califa não concordou. Ele insistia que era uma Lei Divina e que não podia ser desrespeitada, que não havia diferença entre as obrigações do zakat e do salat (oração) e que qualquer transigência com as injunções de Deus fatalmente minariam as fundações do Islam. Omar e os outros rapidamente perceberam seu erro de julgamento. As tribos revoltosas atacaram Medina mas os muçulmanos estavam preparados. O próprio Abu Bakr liderou a defesa, forçando-os a se retirarem. Ele também declarou uma guerra implacável contra aqueles que se diziam profetas, muitos dos quais se submeteram e voltaram a professar o Islam.

A ameaça do Império Romano, na verdade, tinha surgido mais cedo, durante a existência do Profeta. O Profeta tinha organizado um exército, sob comando de Usama, o filho de um escravo liberto. O exército não tinha ido muito longe quando o Profeta caiu doente e eles interroperam o avanço. Após a morte do Profeta, a questão surgida foi se o exército deveria ser enviado de novo ou se deveria permanecer em Medina, para defender a cidade. Mais uma vez Abu Bakr mostrou uma firme determinação. Ele disse: "Mandarei o exército de Usama da mesma forma que foi ordenada pelo Profeta, ainda que eu fique sozinho."

As instruções finais que ele transmitiu a Usama prescreviam um código de conduta na guerra que permanece até os dias de hoje. Parte de suas instruções para o exército muçulmano foram:

"Não desertem nem sejam culpados de desobediência. Não matem o velho, a mulher ou a criança. Não destruam as tamareiras e nem cortem as árvores frutíferas. Não matem carneiros, ou vacas, ou camelos, a não ser que seja para comer. Vocês encontrarão pessoas que passam suas vidas em monastérios. Deixem-nas em paz e não as molestem."

Em muitas ocasiões, Khalid bin Walid foi escolhido pelo Profeta (saw) para chefiar os exércitos muçulmanos. Um homem de enorme coragem e um líder nato, seu gênio militar desabrochou em plenitude durante o Califado de Abu Bakr. Durante o governo de Abu Bakr, Khalid levou seus homens de vitória em vitória contra o ataque dos romanos.

Uma outra contribuição de Abu Bakr para a causa do Islam foi a coleta e compilação dos versículos do Alcorão.

Abu Bakr morreu no dia 21 de jamadi-al Akhir, do ano 13 d.H (23 de agosto de 634 d.C), com a idade de 63 anos e foi enterrado ao lado do Profeta (saw). Seu Califado teve a duração de 27 meses. Neste curto período, no entanto, Abu Bakr foi importante, com a graça de Deus, para o fortalecimento e consolidação de sua comunidade e do estado e protegeu os muçulmanos dos perigos que ameaçavam sua existência."

Fonte SBMRJ Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro.

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RE: Os Califas Probos - II

#72124 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:26 | In reply to: #72063

"OMAR (634-644 d.C)



Omar, o segundo Califa (634-644d.C)

"Deus colocou a verdade na língua e no coração de Omar." (hadith)

A vida de Omar

Quando estava doente, Abu Bakr conferenciou com seu povo, principalmente com os mais eminentes e respeitados da comunidade. Após este encontro, eles escolheram Omar como sucessor de Abu Bakr. Omar era de uma família respeitada do Coraix e era mais novo do que o Profeta (saw) 30 anos. A família de Omar era conhecida pelo seu grande conhecimento de genealogia. Quando ele cresceu, Omar se destacou neste ramo do conhecimento, assim como na arte da esgrima, na luta e na arte da oratória. Ele também aprendeu a ler e a escrever quando ainda era criança, uma coisa rara na Mecca daquela época. Omar ganhava a vida como mercador. Sua atividade lhe possibilitou viajar bastante e encontrar todo tipo de pessoas. Esta experiência lhe deu uma percepção das questões e problemas dos homens. A personalidade de Omar era dinâmica, autoconfiante, franca e direta. Sempre falava o que lhe vinha à cabeça, mesmo que pudesse desagradar aos outros.

Omar tinha 27 anos quando o Profeta (saw) proclamou sua missão. As idéias pregadas por Mohammad o enraiveciam, da mesma forma que a outros notáveis de Mecca. Qualquer coraixita que se convertesse ao Islam encontrava a crítica feroz de Omar. Quando sua escrava aceitou o Islam, ele bateu nela até ficar exausto e disse a ela, "parei porque estou cansado e não por pena de você." A história de sua conversão ao Islam é interessante. Certo dia, cheio de raiva contra o Profeta, ele sacou de sua espada e partiu para matar o Profeta. No meio do caminho, ele se encontrou com um amigo e lhe contou o que tinha planejado fazer. Seu amigo, então, lhe disse que sua irmã, Fátima, e o marido também tinham aceitado o Islam. Omar foi direto para a casa de sua irmã, onde ele a encontrou lendo páginas do Alcorão. Ele caiu em cima dela e bateu sem dó nem piedade. Machucada e sangrando, ela disse ao irmão "Omar, você pode fazer o que quiser, mas não pode tirar de nossos corações o Islam". Essas palavras tiveram um efeito estranho em Omar. Que fé era aquela que fazia até de uma mulher fraca um coração tão forte? Ele pediu à irmã que lhe mostrasse o que estava lendo e no mesmo instante ele foi tocado pelas palavras do Alcorão e imediatamente compreendeu sua verdade. Ele dirigiu-se para a casa onde o Profeta se encontrava e declarou sua fidelidade a ele.

Omar não fez segredo de sua aceitação do Islam. Ele se encontrou com os muçulmanos e rezou com eles na Caaba. Essa coragem e devoção por parte de um cidadão influente de Mecca, levantou o moral da pequena comunidade de muçulmanos. Apesar de tudo, Omar também foi submetido a privações e quando a permissão para migrar para Medina chegou, ele também partiu de Mecca. A firmeza do julgamento de Omar, sua devoção ao Profeta (saw), sua ousadia e retidão de caráter lhe deram o título de "Faruq", que significa o "O que separa a verdade da falsidade". Durante o Califado de Abu Bakr, Omar foi seu assistente e conselheiro mais próximo. Quando Abu Bakr morreu, toda a comunidade de Medina jurou fidelidade a Omar e, no dia 23 de jamadi-al-akir, do ano 13 da Hégira, ele foi proclamado Califa.

O Califado de Omar

Após assumir o cargo, Omar falou aos muçulmanos de Medina:

"... Ó gentes, vós tendes direitos sobre mim que podem sempre ser reivindicados. Um desses direitos é que aquele que chegar a mim com um pedido, deve sair satisfeito. Um outro direito é que vós podeis exigir que eu não use indevidamente as receitas do Estado. Também podeis pedir que ... Fortificarei vossas fronteiras e não vos colocarei em perigo. Também é vosso direito, quando fordes para as batalhas, que eu cuide de vossas famílias enquanto estiverdes fora, como um pai o faria. Ó gentes, permanecei na fé em Deus, perdoai minhas faltas e ajudai-me em minha tarefa. Ajudai-me a fazer cumprir o bem e a proibir o que é mal. Aconselhai-me em relação às obrigações que me foram impostas por Deus..."

O feito mais notável do Califado de Omar foi a enorme expansão do Islam. Além da Arábia, o Egito, o Iraque, a Palestina e o Irã, também ficaram sob a proteção do governo islâmico. Mas a grandeza de Omar está na qualidade de seu governo. Ele deu um sentido prático à injunção alcorânica:

"Ó fiéis, sede firmes na observância da justiça, como testemunhas de Deus, ainda que o testemunho seja contra vós mesmos, contra vossos pais ou contra vossos parentes, seja o acusado rico ou pobre, porque a Deus incumbe protegê-los." (4:135)

Certa vez, uma mulher apresentou uma queixa contra Omar. Quando ele apareceu no tribunal, perante o juiz, este se levantou em sinal de respeito. Omar o repreendeu dizendo "Este é o primeiro ato de injustiça que você fez a esta mulher."

Ele insistia que seus governadores tivessem uma vida simples, que não tivessem guarda em suas portas e que fossem acessíveis ao povo todo o tempo, e ele próprio deu o exemplo. Muitas vezes enviados estrangeiros e mensageiros, mandados a ele por seus generais, o encontravam repousando sob uma tamareira ou orando na mesquita entre o povo, e era difícil para eles distinguir, no meio do povo, quem era o Califa. Ele passava parte da noite acordado nas ruas de Medina para ver se alguém precisava de ajuda ou assistência. O ambiente moral e social da sociedade muçulmana daquela época pode ser exemplificado pelas palavras de um egípcio que foi mandado espionar os muçulmanos durante um confronto. Ele contou:

"Eu vi um povo, onde cada um preza mais a morte do que a vida. Eles cultivam a humildade e não o orgulho. Ninguém tem ambições materiais. Seu modo de vida é simples ... Seu comandante é igual a eles. Não fazem diferença entre o superior e o inferior, entre o senhor e o escravo. Quando chega a hora da oração ninguém fica atrás ..."

Omar deu a seu governo uma estrutura administrativa. Foram criados os departamentos do Tesouro, do Exército e das Receitas Públicas. Foram estabelecidos salários regulares para os soldados. Foi realizado um censo da população. Foram feitos levantamentos dos territórios para estabelecer impostos equitativos. Novas cidades foram fundadas. As regiões que ficaram sob domínio de seu governo foram divididas em províncias, que eram administradas por governadores indicados por ele. Novas estradas foram feitas, canais foram abertos e construídos hotéis ao longo do caminho. Dos fundos públicos, foi feita uma provisão para ajudar os pobres e necessitados. Ele definiu, pela lei e pelo exemplo, os direitos e privilégios dos não muçulmanos, como, por exemplo, o contrato com os cristãos de Jerusalém:

"Esta é a proteção que o servo de Deus, Omar, governante dos crentes, concedeu ao povo de Eiliya (Jerusalém). A proteção vale para suas vidas e bens, suas igrejas e cruzes, para os doentes e os saudáveis e para todos os correligionários. Suas igrejas não serão usadas para moradia nem serão demolidas, seus recintos não sofrerão qualquer dano nem suas cruzes ou bens serão danificados de qualquer maneira. Não há compulsão para o povo em matéria de religião e ninguém sofrerá ofensas por conta da religião ... Tudo que está escrito aqui representa um pacto com Deus, sob a responsabildiade de Seu Mensageiro, dos Califas e dos crentes e será válido para os que pagarem a Jizya (imposto para a proteção de não muçulmanos) imposta a eles."

Os não muçulmanos que participaram das campanhas juntamente com os muçulmanos ficaram isentos do pagamento da Jizya e quando os muçulmanos se retiravam de uma cidade cujos cidadãos não muçulmanos tinham pago este imposto, o valor era devolvido a eles. O muçulmano velho, o pobre, o incapacitado, assim como os não muçulmanos, eram sustentados pelo Tesouro Público e pelos fundos provenientes do zakat.

A morte de Omar

No ano 23 d.H, quando Omar voltava para Medina, depois da peregrinação, ele ergueu as mãos e rezou:

"Ó Deus! Estou velho, meus ossos estãos cansados, meu vigor já não é mais o mesmo e o povo por quem sou responsável espalhou-se pelo mundo. Chama-me de volta para Ti, meu Senhor."

Pouco tempo depois, quando Omar dirigia-se à mesquita para conduzir a oração, um magian, de nome Abu Lulu Feroze, que guardava mágoa de Omar a respeito de uma questão pessoal, atacou-o com um punhal e o esfaqueou diversas vezes. Omar cambaleou e caiu ao chão. Quando ele soube que o assassino era um magian, disse "Graças a Deus que não é um muçulmano."

Omar morreu na primeira semana do mês de muharram, do ano 24 d.H., e foi enterrado ao lado do Profeta (saw)."

Fonte: A mesma do I

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RE: Os Califas Probos - III

#72125 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:27 | In reply to: #72116

"OSMAN (644-656 d.C)



Osman, o terceiro Califa (644-656 d.C)

"Todo Profeta tem um assistente e o meu será Osman." (hadith)

A Eleição de Osman

Quando Omar foi ferido pelo punhal do assassino, antes de morrer as pessoas pediram-lhe que apontasse seu sucessor. Omar indicou um comitê, integrado por 6 dos dez companheiros do Profeta (saw) e de quem o Profeta tinha dito "Eles são as pessoas do Paraíso" - 'Ali, Osman, Abdul Rahman, Sa'ad, Al-Zubair e Talha - para escolher o novo califa dentre eles. Ele também esboçou o procedimento a ser seguido, no caso de surgir alguma divergência de opinião. Abdul Rahman retirou seu nome. Ele, então, foi autorizado pelo comitê a indicar o califa. Após dois dias de discussão entre os candidatos, e após consultar a opinião dos muçulmanos de Medina, a escolha recaiu sobre dois nomes, Osman e 'Ali. Abdul Rahman chegou à mesquita, juntamente com outros muçulmanos, e após um breve discurso e de ser questionado por dois homens, ele jurou fidelidade a Osman. Todos os presentes fizeram o mesmo e Osman tornou-se o terceiro Califa do Islam, no mês de muharram, do ano 24 da Hégira.

A vida de Osman

Osman bin Affan nasceu sete anos depois do Profeta (saw). Ele pertencia ao ramo omíada da tribo coraixita. Ele aprendeu a ler e a escrever ainda muito cedo e, quando rapaz, tornou-se um comerciante de sucesso. Mesmo antes de aceitar o Islam, Osman era conhecido por sua honradez e integridade de caráter. Ele e Abu Bakr eram amigos íntimos e foi Abu Bakr quem o trouxe para o Islam, quando ele estava com a idade de 34 anos. Alguns anos mais tarde, ele se casou com a segunda filha do Profeta, Ruqayya. Apesar de fortuna e da boa posição social que desfrutava, seus parentes o submeteram a torturas por causa de sua conversão ao Islam e ele foi forçado a emigrar para a Abissínia. Algum tempo mais tarde ele voltou a Mecca mas logo em seguida migrou para Medina com os outros muçulmanos. Em Medina seus negócios começaram a prosperar e ele reconquistou sua antiga fortuna. A generosidade de Osman não tinha limites. Em várias ocasiões ele gastou de seus bens com o bem-estar dos muçulmanos, com a caridade e com a melhoria dos exércitos muçulmanos. Por isso, ele é conhecido como "Ghani", isto é, Generoso.

A esposa de Osman, Ruqayya, ficou seriamente doente, um pouco antes da Batalha de Badr e, por isso, ele foi dispensado pelo Profeta (saw) de participar da luta. Ruqayya morreu em decorrência da doença, deixando Osman profundamente pesaroso. O Profeta ficou tocado e ofereceu a Osman a mão de sua outra filha, Kulthum. Por ter tido o privilégio de ter-se casado com duas filhas do Profeta, ele passou a ser conhecido como "O Possuidor de Duas Luzes".

Osman participou das batalhas de Uhud e da Trincheira. Após os confrontes de Trincheira, o Profeta (saw) determinou que fosse feito o Hajj e enviou Osman aos coraixitas de Mecca, como seu emissário. Chegando lá, Osman foi detido e o episódio terminou com um tratado com as autoridades de Mecca, o Tratado de Hadaibiya.

O retrato que temos de Osman é o de um homem simples, honesto, manso, generoso e muito amável, conhecido principalmente por sua modéstia e espírito de justiça. Muitas vezes passava parte da noite em orações, jejuava a cada segundo ou terceiro dia da semana, fazia o hajj a cada ano e cuidava dos necessitados de toda a comunidade. Apesar de sua fortuna, ele tinha um modo de vida muito simples e dormia sobre a areia do pátio da mesquita do Profeta. Osman memorizou todo o Alcorão e tinha um profundo conhecimento do contexto e circunstâncias relacionados a cada versículo alcorânico.

O Califado de Osman

Durante o califado de Osman, as características dos califados de Abu Bakr e Omar - justiça imparcial para todos, políticas humanas e moderadas, empenho no caminho de Deus e expansão do Islam - continuaram. Os domínios de Osman estenderam-se do Marrocos, a oeste, até o Afeganistão, a leste, e a Armênia e Azerbaijão, no norte. Durante seu califado, a marinha foi organizada, foram revistas as divisões administrativas do estado e muitos projetos públicos foram completados. Osman enviou eminentes Companheiros do Profeta (saw) como seus representantes pessoais às diversas províncias para fiscalizar a conduta dos funcionários e a condição de vida do povo.

A mais notável contribuição de Osman para a religião de Deus foi a compilação de um texto completo e autorizado do Alcorão. Várias cópias deste texto foram feitas e distribuídas por todo o mundo muçulmano.

Osman governou por 12 anos. Os primeiros seis anos foram marcados pela paz e tranquilidade internas, mas durante a segunda metade de seu califado começou uma rebelião. Judeus e magians, aproveitando-se da insatisfação disseminada entre o povo, começou a conspirar contra Osman e publicamente alardeavam suas queixas e ressentimentos, ganhando tanta simpatia que já não era mais possível distinguir o amigo do inimigo.

Parece surpreendente que um governante de tão vasto território, cujos exércitos eram invencíveis, fosse incapaz de lidar com os rebeldes. Se Osman tivesse desejado, a rebelião poderia ter sido esmagada logo que começou. Mas ele não queria que houvesse derramamento de sangue entre os muçulmanos. Ele preferiu argumentar com eles e persuadi-los com gentileza e generosidade. Ele sempre se lembrava de ouvir o Profeta (saw) dizer: "Assim que a espada for desembainhada entre os meus seguidores, nunca mais será guardada até o Último Dia."

Os rebeldes exigiram que ele renunciasse e alguns dos Companheiros o aconselharam que o fizesse. Com satisfação ele teria seguido o conselho, mas, mais uma vez, ele estava preso a uma promessa solene que tinha feito ao Profeta. "Talvez Deus o vista com uma camisa, Osman", disse-lhe certa vez o Profeta, "e se as pessoas quiserem que a tire, não faça isso por elas." No dia em que sua casa foi cercada pelos rebeldes, Osman disse a um amigo "O Mensageiro de Deus fez um pacto comigo e mostrarei firmeza no seu cumprimento."

Após um longo cerco, os rebeldes entraram na casa de Osman e o assassinaram. Quando a espada do primeiro assassino atravessou Osman, ele estava recitando o versículo

"Deus ser-vos-á suficiente contra eles, e Ele é o Oniouvinte, o Sapientíssimo." (2:137)

Osman deu seu último suspiro na noite de sexta-feira, dia 17 de dhul hijja, do ano 35 da Hégira (junho de 656 d.C). Ele estava com 84 anos anos de idade. O poder dos rebeldes foi tão grande que o corpo de Osman permaneceu insepulto até sábado à nite, quando então foi enterrado com suas roupas manchadas de sangue, a mortalha que convém a todos os mártires da causa de Deus."

Fonte: A mesma do I II

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RE: Os Califas Probos - IV

#72126 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:28 | In reply to: #72116

"'ALI (656-661 d.C)



'Ali, o quarto Califa (656-661 d.C)

"Tu ('Ali) és meu irmão neste mundo e no outro." (Hadith)

A Eleição de 'Ali

Depois do martírio de Osman, o cargo de califa ficou vago por dois ou três dias. Muitas pessoas insistiam em que 'Ali deveria assumir o lugar mas ele se sentia constrangido pelo fato de as pessoas que o estavam pressionando serem os rebeldes e, por isso, ele declinou de início. Quando os Companheiros do Profeta (saw) pediram-lhe que aceitasse, ele finalmente concordou.

A vida de 'Ali

'Ali bin Abi Talib era primo do Profeta (saw). Mais do que isso, ele tinha sido criado na casa do Profeta, mais tarde casou-se com a filha mais nova do Profeta, Fátima, e permaneceu intimamente ligado a ele por aproximadamente 30 anos.

'Ali tinha 10 anos quando a Divina Mensagem chegou a Mohammad (saw). Uma noite ele viu o Profeta e sua esposa, Khadija, curvando-se e em prostração. Ele perguntou ao Profeta sobre o siginificado daquilo. O Profeta lhe disse que eles estavam orando a Deus, o Supremo, e que 'Ali também deveria aceitar o Islam. 'Ali disse que iria primeiro perguntar a seu pai sobre a questão. Ele passou a noite sem dormir e de manhã foi ao Profeta e disse, "Quando Deus me criou Ele não consultou meu pai, portanto, por que deve consultar meu pai para servir a Deus?" e aceitou a verdade da mensagem de Mohammad.

Quando o mandamento Divino chegou, "e avise teus parentes mais próximos" (26:124), Mohammad (saw) convidou seus parentes para uma refeição. Quando terminou, dirigiu-se a eles e perguntou: "Quem se juntará a mim pela causa de Deus?" Durante alguns momentos houve um silêncio completo e, então, 'Ali se levantou e disse: "Sou o mais jovem de todos os presentes aqui. Meus olhos me incomodam porque estão inflamados e minhas pernas são finas e fracas, mas me juntarei a ti e ajudarei naquilo que puder." Os presentes cairam na gargalhada. Mas, durante os tempos difíceis em Mecca, 'Ali cumpriu sua palavra e enfrentou todas as dificuldades que foram impostas aos muçulmanos. Ele dormia na cama do Profeta quando os coraixitas planejaram matar Mohammad. Quando partiu de Mecca, foi a ele que o Profeta confiou os valores que lhle tinha sido confiados, para que 'Ali os devolvesse a seus legítimos proprietários.

Além da expedição a Tabuk, 'Ali participou das primeiras batalhas do Islam com grande distinção, principalmente na campanha de Khaybar. Diz-se que na Batalha de Uhud ele recebeu mais de 16 ferimentos.

O Profeta (saw) tinha um grande amor por 'Ali e o chamava por nomes carinhosos. Certa vez, o Profeta o encontrou dormindo na areia. Ele afastou as roupas de 'Ali e disse carinhosamente "Levante-se, Abu Turab (Pai da Poeira)". O Profeta também lhe deu o nome de Asadullah (Leão de Deus).

A humildade, austeridade, piedade, o profundo conhecimento do Alcorão e a sua sagacidade, deram-lhe uma grande distinção entre os Companheiros do Profeta. Abu Bakr, Omar e Osman o consultavam frequentemente e muitas vezes Omar o fez vice-regente em Medina, em suas ausências. 'Ali também era um grande estudioso da literatura árabe e foi um pioneiro no campo da gramática e da retórica. Muitos de seus ditos sensatos foram preservados. 'Ali tinha uma personalidade rica e versátil. Apesar desses talentos, ele permaneceu um homem modesto e humilde. Certa vez, durante seu califado, quando ele estava indo para o mercado, um homem se levantou em respeito e o seguiu. "Não faça isto", disse 'Ali. "Essas atitudes são uma tentação para o governante e uma desgraça para o governado."

A vida em sua casa era extremamente simples e austera. Algumas vezes chegaram a passar fome por causa da grande generosidade de 'Ali e ninguém que pedisse ajuda voltava de mãos vazias. Seu estilo de vida austero e simples não se modificou, mesmo quando se tornou o governante de um grande império.

O Califado de 'Ali

Conforme mencionado anteriormente, 'Ali aceitou o califado muito relutantemente. O assassinato de Osman e as circunstâncias que o cercaram, eram um sintoma e também a causa de uma luta civil em grande escala. 'Ali sentiu que a trágica situação era devida, principalmente, a governadores incapazes. Assim, ele demitiu todos os governadores que tinha sido indicados por Osman e nomeou novos. Todos os governadores, com exceção de Muawiya, da Síria, acataram suas ordens. Muawiya se recusou a obedecer até que o sangue de Osman tivesse sido vindado. A viúva do Profeta, Aisha, também defendeu a posição de que 'Ali deveria primeiro julgar os assassinos. Devido às condições caóticas dos últimos dias de Osman, era muito difícil descobrir a identidade dos assassinos e 'Ali se recusou a punir alguém sem provas. Então aconteceu a batalha entre o exército de 'Ali e os partidários de Aisha. Mais tarde, Aisha percebeu seu erro de avaliação e nunca se perdoou por isso.

A situação no Hijaz (a parte da Arábia onde estão localizadas Mecca e Medina) tornou-se problemática e 'Ali mudou a capital do Califado para o Iraque. Muwaiya, agora abertamente contra 'Ali, partiu para a luta contra o exército de 'Ali. A batalha não teve uma conclusão e 'Ali teve que aceitar o governo de facto de Muawiya na Síria.

No entanto, muito embora o califado de 'Ali se visse às voltas com uma guerra civil, ele conseguiu introduzir uma série de reformas, principalmente na arrecadação de receitas.

Corria o ano 40, da Hégira. Um grupo de fanáticos, os carijitas, pessoas que tinham se afastado de 'Ali por causa de sua transigência com Muawiya, alegavam que nem 'Ali, o Califa, nem Muawiya, o governador da Síria, nem Amr bin al-Aas, o governador do Egito, mereciam governar o Califado. Na verdade, eles chegaram a afirmar que o verdadeiro califado tinha chegado ao fim com Omar e que os muçulmanos deveriam viver sem um governante, exceto Deus. Eles prometeram matar os três governantes e enviaram assassinos para os três lugares.

Os homens que tinham sido indicados para matar Muawiya e Amr não conseguiram realizar o intento e foram capturados e executados. Mas, Ibn-e-Muljim, o assassino que tinha a incumbência de matar 'Ali, conseguiu realizar sua tarefa. Certa manhã, 'Ali estava absorto em oração na mesquita, Ibn-e-Muljim o apunhalou com uma espada envenenada. No dia 20 do ramadan, do ano 40 da Hégira, morreu o último dos Califas Probos do Islam. Que Deus lhes conceda Sua recompensa eterna.

Conclusão

Com a morte de 'Ali, chegou ao fim a primeira e mais notável fase da história dos povos muçulmanos. Durante todo este período, foram o Livro de Deus e as práticas de Seu Mensgeiro - isto é, o Alcorão e a Sunnah - que orientaram líderes e liderados, que estabeleceu os padrões de conduta moral e inspirou as ações de todos. Foi o tempo em que governante e governado, rico e pobre, poderoso e fraco, se submeteram uniformemente à Lei Divina. Foi uma época de liberdade e igualdade, da consciência de Deus e da humildade, da justiça social que reconhecia privilégios e de uma lei imparcial que não aceitava pressão de grupos ou de interesses pessoais.

Após 'Ali, Muawiya assumiu o califado e, a partir de então, o trono do califado passou a ser hereditário, passando de um rei a outro.

Com a permissão da Associação dos Estudantes Muçulmanos dos Estados Unidos e Canadá."

Fonte. A mesma do I II III

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RE: ABU HURAYRAH

#72127 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:31 | In reply to: #72116

""An Abi Hurayrata, radiyallahu anhu, qal' qala rasul Allahi, sallallahu alayhi wa sallam..."

Com essa frase, milhões de muçulmanos, desde o início da história do Islam até os dias atuais, se familiarizaram com o nome de Abu Hurayrah. Nos discursos e palestras, nas khutbas das sextas-feiras e seminários, nos livros biográficos e de hadith, o nome de Abu Hurayrah é mencionado desta forma:

"Pela autoridade de Abu Hurayrah, que Deus esteja satisfeito com ele, que disse: O Mensageiro de Deus, que Deus o abençoe e lhe conceda a paz, disse ..."

Graças a seus esforços notáveis, centenas de ahadith ou ditos do Profeta foram transmitidos para as gerações posteriores. Ele é o nome mais ilustre no rol dos transmissores de hadith. Ao lado dele estão nomes como Abdullah, o filho de Omar, Anas, o filho de Malik, Umm al-Muminin Aishah, Jabir ibn Abdullah e Abu Said al-Khudri, que transmitiram mais de mil ditos do Profeta.

Abu Hurayrah tornou-se muçulmano pelas mãos de At-Tufayl ibn Amr, o chefe da tribo dos Daws, a qual ele pertencia. Os daws viviam na região de Tihamah, que se estende ao longo do mar Vermelho, no sul da Arábia. Quando At-Tufayl retornou a sua cidade, depois de se encontrar com o Profeta e se tornar muçulmano no início de sua missão, Abu Hurayrah foi um dos primeiros a responder ao chamado. Ele era diferente da maioria dos daws, que permanecia teimosamente presa às suas velhas crenças.

Quando At-Tufayl visitou Meca de novo, Abu Hurayrah o acompanhou. Lá, ele teve a honra e o privilégio de se encontrar com o Profeta, que lhe perguntou: "Qual é o seu nome?"

"Abdu Shams - servo do sol", ele respondeu.

Ao invés desse, que seja Abdur Rahman - servo do Senhor Beneficente", disse o Profeta.

"Sim, será Abdur-Rahman, ó Mensageiro de Deus", ele respondeu. No entanto, ele continuou a ser conhecido como Abu Hurayrah, literalmente "o pai de um gato", porque, assim como o Profeta, ele gostava de gatos.

Abu Hurayrah permaneceu em Tihamah por muitos anos e, somente no começo do sétimo ano da Hégira, ele chegou a Medina com outros de sua tribo. O Profeta estava em campanha em Khaybar. Sendo um necessitado e destituído, Abu Hurayrah tomou sem lugar na mesquita. Ele era solteiro, mas com ele estava sua mãe, que ainda não tinha se convertido. Ele desejava ardentemente, e rezava para que ela se tornasse uma muçulmana. Mas, ela se recusava terminantemente. Um dia, ele a convidou a acreditar somente em Deus e a seguir Seu Profeta, mas ela proferiu algumas palavras sobre o Profeta que entristeceram Abu Hurayrah. Com lágrimas nos olhos, ele foi ter com o Profeta, que lhe perguntou:

"O que o faz chorar, ó Abu Hurayrah?"

"Eu nunca deixei de chamar minha mãe para o Islam, mas ela sempre me repele. Hoje, eu a convidei de novo e ouvi dela palavras de que não gostei. Peça a Deus para fazer o coração da mãe de Abu Hurayrah se inclinar pelo Islam."

O Profeta atendeu o pedido de Abu Hurayrah e orou por sua mãe.

Disse Abu Hurayrah: "Fui para casa e encontrei a porta fechada. Ouvi o barulho de água e quando tentei entrar minha mãe disse: 'Fique onde está, ó Abu Hurayrah.' E depois de vestir suas roupas, ela disse 'Entre!' Eu entrei e ela disse "Testemunho que não há outro Deus senão Allah e que Mohammad é Seu servo e mensageiro."

Voltei ao Profeta chorando de alegria, quando uma hora antes eu tinha estado chorando de tristeza, e disse: "Tenho boas notícias, ó Mensageiro de Allah. Deus respondeu às suas preces e guiou a mãe de Abu Hurayrah para o Islam."

Abu Hurayrah amava muito o Profeta. Ele nunca se cansava de olhar para o Profeta, cujo rosto lhe parecia ter todo o brilho do sol, e também nunca se cansava de ouvi-lo. Muitas vezes ele louvava a Deus por sua boa sorte e dizia: "Louvado seja Deus, Que guiou Abu Hurayrah ao Islam. Louvado seja Deus, Que ensinou a Abu Hurayrah o Alcorão. Louvado seja Deus que concedeu a Abu Hurayrah a companhia de Mohammad, que a paz de Deus esteja com ele.' "

Ao chegar a Medina, Abu Hurayrah se dedicou a buscar o conhecimento. Zayd ibn Thabit, o notável companheiro do Profeta, relatou: "Quando estávamos eu, Abu Hurayrah e um outro amigo meu na mesquita rezando a Deus Todo Poderoso, o Mensageiro de Deus apareceu. Ele veio em nossa direção e sentou-se entre nós. Nós ficamos em silêncio e ele disse: "Terminem o que estavam fazendo." Então, meu amigo e eu fizemos uma súplica a Deus antes de Abu Hurayrah e o Profeta disse amém. Aí, Abu Hurayrah fez uma súplica, dizendo: "Ó Senhor, eu Lhe peço o que meus dois companheiros pediram e ainda peço pelo conhecimento que jamais será esquecido."

"O Profeta, que a paz esteja com ele, disse: 'Amém' Nós, então, dissemos: 'E pedimos a Allah pelo conhecimento que jamais será esquecido e o Profeta respondeu: 'O jovem Dawsi pediu antes de vocês.' Com sua formidável memória, Abu Hurayrah conseguiu memorizar, nos quatro anos que passou com o Profeta, as jóias de sabedoria que emanavam de seus lábios. Era um dom que ele possuía e que usou inteiramente a serviço do Islam."

Ele tinha todo o seu tempo livre. Diferentemente dos muhajirin, ele não ficava nos mercados, comprando ou vendendo mercadorias. Diferentemente dos ansars, ele não tinha terras para cultivar nem colheitas para guardar. Ele ficava com o Profeta em Medina e sempre o acompanhava nas viagens e expedições.

Muitos companheiros ficavam fascinados com a quantidade de ahadith que ele memorizou e, muitas vezes, indagavam dele sobre um certo hadith e suas circunstâncias.

Certa vez, Marwan ibn al-Hakam quis testar a capacidade de memória de Abu Hurayrah. Foram para um cômodo e atrás de uma cortina Marwan colocou um escriba desconhecido de Abu Hurayrah e ordenou que ele escrevesse tudo o Abu Hurayrah dissesse. Um ano mais tarde, Marwan chamou Abu Hurayrah de novo e lhe pediu que recitasse o mesmo hadith que o escriba tinha registrado. E descobriu-se que ele não tinha esquecido uma única palavra.

Abu Hurayrah tinha a preocupação de ensinar e transmitir os ahadith que ele tinha memorizado e o conhecimento sobre o Islam em geral. Conta-se que um dia ele passava pelo mercado de Medina e naturalmente viu as pessoas ocupadas nos negócios.

"Quão fracos vocês são, ó povo de Medina!", ele disse.

"O que você vê de fraco em nós, Abu Hurayrah?", eles perguntaram.

"A herança do Mensageiro de Deus, que a paz esteja com ele, está sendo repartida e vocês ficam aqui! Por que vocês não vão e pegam a sua parte?"

"E onde está isto, ó Abu Hurayrah?" eles perguntaram.

"Na mesquita", ele respondeu.

Rapidamente, eles saíram e Abu Hurayrah esperou até que eles retornassem. Quando eles o viram, disseram: "Ó Abu Hurayrah, fomos até a mesquita, entramos e não vimos nada sendo distribuído."

"Vocês não viram niguém na mesquita?" ele perguntou.

"Ó sim, vimos algumas pessoas fazendo a Salat, outras lendo o Alcorão e algumas discutindo sobre o que é halal e o que é haram."

"Esta é a herança de Mohammad, que Deus o abençoe e lhe conceda a paz.", ele respondeu.

Abu Hurayrah passou por muitas privações e dificuldades, como consequência de sua busca dedicada do conhecimento. Ele contava sobre si mesmo:

"Quando a fome me atingia, eu procurava por um companheiro do Profeta e lhe perguntava sobre uma ayah do Alcorão e (ficava com ele) aprendendo, porque assim ele me levava à sua casa e me dava comida."

Um dia, minha fome estava tão grande que coloquei uma pedra sobre meu estômago e me sentei no caminho dos companheiros. Abu Bakr passou e eu o indaguei sobre uma ayah do Livro de Deus. Eu apenas perguntei porque assim ele me convidaria para sua casa, mas, ele não o fez. Então, Umar ibn al-Khattab passou por mim e lhe perguntei sobre uma ayah, mas ele também não me convidou. Então, o mensageiro de Deus, que a paz esteja com ele, passou e percebendo que estava com fome, disse: "Abu Hurayrah!" "Ao seu dispor", respondi e o segui até que entramos em sua casa. Ele encontrou uma vasilha com leite e perguntou a seus familiares: "De onde vocês conseguiram isto?" "Alguém trouxe isto para você", responderam.

Então ele me disse: "Ó Abu Hurayrah, chame os necesistados". Obedeci e todos beberam do leite.

Chegou o tempo em que os muçulmanos foram abençoados com riqueza e bens materiais de todos os tipos. Abu Hurayrah, finalmente, conseguiu sua parte de fortuna. Ele tinha uma casa confortável, esposa e filho. Mas, esta mudança de sorte não modificou sua personalidade e nem ele se esqueceu dos dias de necessidade. Ele dizia "Cresci como um órfão e emigrei como um pobre e indigente. Costumava me alimentar do que Busrah bint Ghazwan me dava. Eu servia as pessoas quando elas retornavam de suas viagens e cuidava de seus camelos. Então Deus me mandou casar com ela (Busrah). Assim, louvado seja Deus que fortaleceu sua religião e transformou Abu Hurayrah em um imam." (Esta última afirmação é uma referência ao tempo em que ele foi governador de Medina).

Muito do tempo de Abu Hurayrah era passado em exercícios espirituais e em devoção a Deus. Ficar a noite acordado em oração e devoção era uma prática regular de sua família, incluindo sua esposa e filha. Ele ficava acordado uma terça parte da noite, depois sua mulher uma outra terça parte e sua filha a outra terça parte. Desta forma, na casa de Abu Hurayrah não havia uma hora da noite que não estivesse alguém em prece e devoção.

Durante o califado de Omar, ele foi indicado como governante de Bahrain. Omar era muito criterioso com o tipo de pessoas que ele indicava como governante. Seus indicados deviam viver simples e frugalmente e não deviam ser muito ricos, ainda que a fortuna tivesse sido obtida por meios legais.

Em Bahrain, Abu Hurayrah ficou muito rico. Omar ouviu falar sobre este fato e mandou chamá-lo a Medina. Omar achava que a fortuna tinha sido adquirida por meios ilegais e o questionou sobre onde e como ele tinha amealhado tal fortuna. Abu Hurayrah respondeu: "Da criação de cavalos e dos presentes que recebi."

"Devolva isto ao tesouro público muçulmano", ordenou Omar.

Abu Hurayrah assim fez e levantando suas mãos para os céus rezou: "Ó Senhor, perdoa o Amir al-Muminin." Em seguida, Omar pediu-lhe que se tornasse governador uma vez mais, mas ele não aceitou. Omar lhe perguntou por que ele estava recusando e ele respondeu:

"Porque assim minha honra não será manchada, nem minha fortuna tomada."

E acrescentou: "E temo julgar sem conhecimento e falar sem sabedoria."

Por toda sua vida, Abu Hurayrah foi gentil e cortês com sua mãe e sempre estimulava as pessoas a serem gentis com seus pais.

Um dia ele viu dois homens andando juntos, um mais velho do que o outro. Ele perguntou ao mais novo: "O que é esse homem para você?"

"Meu pai", a pessoa respondeu.

"Não o chame pelo nome. Não ande na frente dele e não se sente antes dele", aconselhou Abu Hurayrah.

Os muçulmanos têm uma dívida de gratidão com Abu Hurayrah por ter ajudado a preservar e transmitir o legado valioso do Profeta, que Deus o abençoe e lhe conceda a paz. Ele morreu no ano 59, depois da Hégira, quando tinha 78 anos de idade."

Fonte: Alim® Online

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RE: ABU SUFYAN IBN AL-HARITH

#72128 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:32 | In reply to: #72116

"Dificilmente podemos encontrar laços tão estreitos entre duas pessoas como os que existiram entre Mohammad, o filho de Abdullah, e Abu Sufyan, o filho de al-Harith. Claro que não se trata daquele Abu Sufyan ibn Harb, o poderoso chefe coraixita e grande inimigo do Profeta.

Abu Sufyan ibn al-Harith nasceu quase que na mesma época que o Profeta. Eles se pareciam bastante um com outro. Cresceram juntos e por algum tempo viveram na mesma casa. Abu Sufyan era primo do Profeta. Seu pai, al-Harith, era irmão de Abdullah, e ambos eram filhos de Abd al-Muttalib.

Abu Sufyan também era irmão-de-leite do Profeta. Halimah, que cuidou do jovem Mohammad, também o amamentou durante algum tempo.

Na infância e juventude, Mohammad e Abu Sufyan foram amigos muito íntimos. Eles eram tão próximos que teria sido natural que Abu Sufyaan estivesse entre os primeiros a responder ao chamado do Profeta, que a paz estejaa com elle, e a seguir a religião da verdade de todo o coraação. Mas, não foi assim, pelo menos por muitos e muitos anos. Desde o momento em que o Profeta tornou públilco o chamado para o Isla e pela primeira vez advertiu os membros de seu clã para os perigos de continuaarem em sua existência de descrença, injustiça e imoralidade, o fogo da inveja e do ódio irrompeu no coração de Abu Sufyan. Os laços de parentesco se romperam. Onde antes houvera amizade, havia agora revolta e ódio. Onde antes era fraternidade, agora era resistência e oposição.

Naquela épocaa, Abu Sufyan era conhecido com um dos melhores lutadores e cavaleiros do Coraix e um de seus mais perfeitos poetas Usou sua língua e sua espada contra o Profeta e sua missão. Todas as suas energias foram mobilizadas para denunciar o Islam e perseguiur os muçulmanos. Em qualquer batalha contra o Profeta ou tortura e perseguição contra os muçulmanos, lá estava Abu Sufyan. Ele compunha e recitava versos atacando e vilipendiando o Profeta.

Por quase vinte anos, este rancor consumiu sua alma. Seus três outros irmãos, Nawfal, Rabiah e Abdullah, já haviam abraçado o Islam, menos ele.

No oitavo ano depois da Hégira, no entanto, um pouco antes da libertação de Macca, a posição de Abu Sufyan começou a mudar, conforme ele mesmo explica: "Quando o movimento do Islam se tornou vigoroso e sólido, e as notícias sobre o avanço do Profeta para libertar Macca começaram a chegar, o mundo desabou sobre mim. Senti-me preso numa armadihla. 'Para onde ir?' perguntei para minha esposa. 'E com quem?' e disse para ela e meus filhos: 'Preparem-se para abandonar Macca. O avanço de Mohammad é iminente. Certamente serei morto. Nada valerei se for reconhecido pelos muçulmanos.' 'Agora', respondeu minha família, 'você precisa perceber que árabes e não árabes prometeram obediência a Mohammad e aceitaram sua religião. Você ainda se opõe a ele, quando poderia ter sido o primeiro a apoiá-lo e ajudá-lo.'

Eles continuaram tentando influenciar-me no sentido de reconsiderar minha atitude em relação à religião de Mohammad e de buscar aquela antiga afeição. Finalmente, Deus abriu meu coração para o Islam. Levantei-me e disse para meu servo, Madhkur: 'Prepare um camelo e um cavalo para nós.' Juntamente com meu filho Jafar, galopamos à grande velocidade até al-Abwa, entre Macca e Medina. Sabia que Mohamad estava acampado lá. Aproximei-me do lugar, cobri meu rosto a fim de que ninguém pudesse me reconhecer e me matar, antes que pudesse alcançar o Profeta e declarar minha aceitação do Islam diretamente a ele.

Vagarosamente, avancei a pé, enquanto grupos avançados de muçulmanos se dirigiam para Macca. Evitei o caminho deles, com medo de que um dos companheiros do Profeta pudesse me reconhecer. Continuei assim até que vislumbrei o Profeta num monte. Agora caminhando às claras, fui direto a ele e descobri meu rosto. Ele me olhou e me reconheceu, mas virou o rosto. Mais uma vez me voltei para ele. Ele evitou me olhar e de novo virou o rosto. Isto aconteceu diversas vezes.

Eu não tinha dúvidas de que, ao encontrar o Profeta, ele ficaria contente com minha aceitação do Islam e que seus companheiros se rejubilariam com sua felicidade. No entanto, quando os muçulmanos viram o Profeta, que a paz esteja com ele, me evitando, eles olharam para mim e se afastaram. Em seguida apareceu Abu Bakr que violentamente se afastou. Olhei para Omar ibn al-Khattab, com meus olhos implorando por sua compaixão, mas ele foi mais cruel do Abu Bakr. Na verdade, Omar saiu para incitar um dos ansar contra mim.

'Ó inimigo de Deus', gritou para que os ansari ouvissem, 'você é um dos que perseguiu o Mensageiro de Deus, que a paz esteja com ele, e torturou seus companheiros. Você levou sua hostilidade contra o Profeta até os confins do mundo.'

Os ansari continuaram me censurando em voz alta, enquanto outros muçulmanos me encaravam com raiva. Neste ponto, vi meu tio al-Abbas e corri para ele em busca de refúgio.

'Ó tio', eu disse, 'esperava que o Profeta, que a paz esteja com ele, ficasse feliz com minha aceitação do Islam por causa de nosso parentesco e por causa da posição que desfruto entre meu povo. Você sabe qual foi a sua reação. Fale com ele em meu nome para que ele fique satisfeito comigo.'

'Não, por Deus', respondeu meu tio. 'Não falarei com ele em absoluto, depois que o vi evitar você, a menos que uma oportunidade se apresente.'Eu honro o Profeta, que a paz e as bênçãos de Deus estejam com ele, e tenho por ele profundo respeito.'

'Ó tio, por quem, então, você me abandonará?´, supliquei.

'Nada posso fazer, exceto o que você já ouviu', ele disse.

A ansiedade e a dor tomaram conta de mim. Vi Ali inb Talib pouco depois e falei com ele a respeito do meu caso. Sua resposta foi a mesma que a de meu tio. Voltei a meu tio e lhe disse: 'Ó tio, se você não pode abrandar o coração do Profeta em relação a mim, então, pelo menos, impeça aquele homem de continuar me denunciando e incitando os outros contra mim.' 'Descreva-o' disse meu tio. Eu descrevi o homem e elle disse: 'Aquele é Nuayman ibn al-Harith an-Najjari'. Elle se dirigiu a Nuayman e disse: ó Nuayman! Abu Sufyan é o primo do Profeta e meu sobrinho. Se o Profeta está zangado com ele hoje, estará satisfeito com ele um outro dia. Portanto, deixe-o em paz...' Meu tio continuou tentando aplacar a ira de Nuayman até que ele se acalmou e disse: 'Não mais o rejeitarei.'

"Quando o Profeta alcançou al-Jahfah (cerca de 4 dias de viagem de Macca), eu me sentei na entrada de sua tenda. Meu filho Jafar ficou ao meu lado. Quando o Profeta estava deixando sua tenda, ele me viu e me evitou. Contudo, não desisti de buscar sua satisfação. Sempre que ele acampava em algum llugar, eu me sentava na entrada de sua tenda e meu filho ficava em frente a mim ... Continuei assim por algum tempo. Mas a situação se tornou demais para mim e acabei ficando deprimido. Disse para mim mesmo:

'Por Deus, ou o Profeta, que a paz esteja com elle, mostra-se satisfeito comigo ou eu pegarei meu filho e perambularei pelo mundo até morrer de fome e de sede.'

Finallmente, o Profeta abrandou e disse a Abu Sufyan: "Agora não há mais acusação contra você." O Profeta confiou o novo adepto a Alli ibn Abi Talib, dizendo: "Ensine a seu primo como fazer o wudu e sobre a Sunna e depois traga-o a mim." Quando Ali retornou, o Profeta disse:

"Diga ao povo que o Mensageiro de Deus está satisfeito com Abu Sufyan e que eles devem ficar satisfeitos com ele."

Abu Sufyan continua: "O Profeta então entrou em Macca e eu fiz parte de sua equipe. Ele se dirigiu à Mesquita e eu também, tentando dar o melhor de mim para ficar em sua presença e não me separar dele por nada...

Mais tarde, na Batalha de Hunayn, os árabes se juntaram numa força sem precedentes contra o Profeta, que a paz esteja com ele. Estavam determinados a desfechar um ataque mortal contra os Islam e os Muçulmanos. O profeta saiu para enfrentá-los com um grande número de seus companheiros. Eu fui com ele e quando vi uma multidão de mushrikin disse: "Por Deus, hoje expiarei toda a minha hostilidade passada conttra o Profeta, que a paz esteja com ele, e ele, certamente verá, da minha parte, o que agrada a Deus e o que agrada a ele.'

Quando as duas forças se encontraram, a pressão dos mushrikin sobre os muçullmanos foi violenta e os muçulmanos começaram a perder o ânimo. Alguns, até, começaram a debandar e uma terrívelll derrota se aproximava. No entanto, o Profeta permaneceu firme no meio da batalha, e com uma perna de cada lado de sua mula "Ash-shahba", como uma montanha elevada, brandindo sua espada, ele lutou por ele próprio e pelos que estavam à sua volta. Saí com meu cavalo e fui lutar a seu lado. Deus sabe que desejei o martírio ao lado do Mensageiro de Deus. Meu tio tomou as rédeas da mulla do Profeta e ficou a seu lado. Eu tomeu minha posição do outro lado. Com minha mão direita, eu desviava os ataques contra o Profeta e com a esquerda segurava minha montaria. Quando o Profeta viu meus golpes devastadores sobre o inimigo, ele perguntou a meu tio: 'Quem é este?' 'Seu irmão e primo, Abu Sufyan inb al-Harith. Contente-se com ele, ó Mensageiro de Deus.'

'Sim, estou, e Deus lhe garantiu o perdão por todas as hostilidades praticadas contra mim.' Mal cabia tanta felicidade em meu coração. Beijei seus pés no estribo. Ele se voltou para mim e disse: 'Meu irmão! Por minha vida! Avance e ataque!'

As palavras do Profeta me estimularam e todos mergulhamos nas posições dos mushrikin até que eles se espalharam e fugiram em todas as direções."

Depois de Hunayn, Abu Sufyan ibn al-Harith continuou a usufruir da alegria do Profeta e teve a satisfação de estar em sua nobre companhia. Mas, jamais encarou o Profeta diretamente nos olhos ou lançou seu olhar sobre seu rosto, por causa da vergonha e embaraço de seu passado hostil contra ele.

Abu Sufyan continuou a sentir intenso remorço pelo tempo que levou tentando apagar a luz de Deus e se recusando a seguir Sua mensagem. Dalli em diante, ele passaria seus dias e noites recitando os versículos do Alcorão, buscando compreender e seguir suas leis e se beneficiar com suas admoestações. Ele se afastou do mundo e de seus brilhos e se voltou para Deus com todas as forças de seu ser. Certa vez o Profeta, que a paz esteja com ele, o viu entrar na mesquita e perguntou para sua esposa: "Você sabe quem é esse, Aisha?" e ela respondeu: "Não, ó Mensageiro de Deus." "É meu primo, Abu Sufyan ibn al-Harith. Veja, ele é o primeiro a entrar na mesquita e o último a sair. Seus olhos não se afastam do cadarço de seu sapato."

Quando o Profeta, que a paz esteja com ele, morreu, Abu Sufyan sentiu imensa dor e chorou amargamente.

Durante o califado de Omar, que Deus o abençoe, Abu Sufyan sentiu que seu fim estava próximo. Um dia, as pessoas o viram em al-Baqi, o cemitério perto da mesquita do Profeta, onde muitos companheiros estão enterrados, cavando e preparando uma sepultura. Ficaram surpresos. Três dias mais tarde, Abu Sufyan estava se deitando estirado e sua família em volta dele começou a chorar. Mas, ele disse: "Não chorem por mim. Por Deus, não fiz mais nada de errado desde que aceitei o Islam." E com essas palavras ele morreu. "

Fonte: SBMRJ

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RE: ABDURRAHMAN IBN AUF

#72129 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:34 | In reply to: #72116

"Um dos grandes personagens do Islam, Abdurrahman Ibn Auf Ibn Háris Ibn Zahra, o coraixita, nasceu dez anos após o Ano do Elefante, e viveu em Makkah, centro da idolatria. Porém, apesar disso, ele deplorava seus atos. Ele respeitava a verdade e desaprovava a falsidade. Conta-se que se absteve de tomar bebidas alcoólicas mesmo na época da idolatria.

Ele foi convencido a se converter por Abu Bakr Assidik. Foi, portanto, um dos pioneiros dos quais o Islam se orgulha. Quando aumentou a perseguição dos coraixitas aos muçulmanos, ele emigrou para a Abissínia, sacrificando-se e à sua fortuna pela causa de Deus. Posteriormente migrou para Madina logo após o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele).

Ele participou juntamente com o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) de todas as batalhas. Em Uhud ele protegeu o Profeta e foi um dos heróis muçulmanos.

Era exemplar em tudo. Eloqüente, conhecedor do Alcorão e da Sunah, fiel e lutador pela causa de Deus. Ocupava uma posição de destaque entre os companheiros. Foi um dos seis escolhidos por Umar Ibn Al Khattab para sucedê-lo. Narra-se que o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) disse

"Aquele que proteger minhas esposas depois de mim é o amigo sincero".

Abdurrahman cuidava delas e peregrinava com elas, e isso era uma grande honra para ele. 'Ali ibn Abu Talib disse: Ouvi o Profeta dizer:

''Abdurrahman é fiel na terra e é fiel no céu."

Ele tinha uma só opinião. Quando Abu Bakr adoeceu e quis que houvesse consenso dos muçulmanos para a nomeação de um Califa, perguntou a Abdurrahman o que ele achava de Umar para sucedê-lo. Disse: "Por Deus, é o melhor homem para o posto. Mas ele é um pouco rude".

Ele foi quem aconselhou Umar Ibn Al Khattab a não entrar na Síria durante a epidemia de cólera. Ele disse:

"Ouvi o Mensageiro de Deus (Deus o abençoe e lhe dê paz) dizer: Se souberdes que em determinado país espalhou-se a cólera, não entrais nele; e se for descoberto e vós estais nele, não devereis sair dele." Ômar aceitou o conselho e agiu de acordo com a Tradição.

Suas Contribuições Pela Causa de Deus

Ele era um comerciante bem sucedido. Seu estábulo abrigava cem cavalos, mil camelos e dez mil ovelhas. Foi conhecido como o mais caritativo para com os pobres e necessitados. Estava sempre pronto para contribuir na preparação dos exércitos, Uma vez contribuiu com a metade de seus bens.

Devido à grandeza de seu coração e sua solidariedade para com os pobres, sentindo suas dores, engajou-se na tarefa de libertação de escravos e prisioneiros. Conta-se que num só dia libertou trinta escravos. Tais atos humanistas e sociais são incentivados pelo Islam, pois promete para os que libertam os escravos um paraíso do tamanho dos céus e da terra.

Sua Influência na Escolha de Uthman, quando Umar foi ferido e apresentou uma lista com seis nomes para que o Califa fosse escolhido entre eles, houve uma assembléia para se debater a questão. Quando a discussão se tornou acirrada, Abdurrahman, com sua sabedoria, serenou os ânimos, e pediu:

"Promete! que me apoiareis e aceitareis quem eu escolher para o cargo?"

Responderam: "Sim!"

Ele avaliou a tarefa que lhe foi incumbida e a sagrada confiança que lhe foi depositada naquela hora delicada. Começou a fazer encontros com os companheiros do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), sondando-os sobre quem seria o melhor para a função. Ao chegar a uma conclusão, reuniu os muçulmanos na Mesquita, após a Oração da Alvorada, e lhes disse: "Eu observei e consultei e conclui, que Deus seja testemunha disso, que o melhor é Uthman".

Colocou sua mão na mão de Uthman e lhe deu seu apoio. Os muçulmanos acorreram para dar o apoio à sua escolha.

Ele faleceu em 31 da Hégira, aos 74 anos de idade vividos a serviço do Islam, auxiliando pobres e necessitados. Que Deus o recompense com o melhor galardão."

Fonte:CEDI e SBMRJ

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RE: AMR IBN AL JAMUH

#72130 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:35 | In reply to: #72116

"Amr Ibn Al Jamuh era uma das principais figuras de Yathrib (antigo nome da cidade de Madina) nos dias da ignorância. Era o chefe dos Banu Salamah e era tido como uma das pessoas mais generosas e valorosas da cidade.

Um dos privilégios dos chefes da cidade era ter um ídolo próprio em sua casa. Esperava-se assim que o ídolo abençoasse o chefe em tudo o que ele fizesse. O chefe deveria oferecer sacrifícios ao ídolo em ocasiões especiais e procurar a sua ajuda em tempos de aflição.

O ídolo de Amr chamava-se manat. Amr fizera-o em madeira da mais valiosa. Ele gastou muito tempo, dinheiro e atenção a cuidar dele e ungiu-o com os perfumes mais caros.

Amr tinha quase sessenta anos quando a luz do Islam começou a penetrar nas casas de Yathrib. Musab Ibn Umayr, o primeiro missionário enviado a Yathrib antes da Hégira, pregou a nova fé casa após casa. Foi através dele que os três filhos de Amr, Muawwadh, Muadh e Khallad, se tornaram muçulmanos.

O conhecido Muadh Ibn Jabal foi contemporâneo deles. Hind, esposa de Amr, também se convertera ao Islam com os seus três filhos, mas Amr não sabia de nada.

Hind notou que as pessoas de Yathrib estavam a ser conquistadas para o Islam e que nenhum dos chefes da cidade se manteve idólatra, exceto o seu marido e alguns indivíduos. Ela gostava muito do marido e orgulhava-se dele, mas estava preocupada com a possibilidade de ele morrer em estado Ímpio (de, Kafir).

Ao mesmo tempo, o próprio Amr começou a sentir-se pouco tranqüilo. Receava que os seus filhos abandonassem a religião dos seus antepassados o seguissem os ensinamentos de Musab Ibn Umayr, que, em pouco tempo, tinha sido o causador do virar de costas à idolatria o da adesão à religião do Islam por parte de muitos.

Amr disse à mulher: "Toma cuidado para os teus filhos não entrarem em contato com este homem (referindo-se a Musab Ibn Umayr) antes de nós formarmos uma opinião sobre ele."

Respondeu ela: "Ouvir é obedecer, mas queres ouvir o que o teu filho Muadh tem para contar a respeito deste homem?"

Disse Amr: "ó mulher! O Muadh virou costas à sua religião sem o meu conhecimento?"

A boa mulher teve pena do marido e disse-lhe: "De forma alguma. Mas ele esteve em algumas das reuniões deste missionário e decorou algumas das coisas que ele ensina."

Disse ele: "Diz a Muadh para vir aqui,".

Quando Muadh chegou, ordenou-lhe: "Dá-me um exemplo do que este homem prega."

Muadh recitou a Surat-al-Fatihah (o Capítulo de Abertura do Alcorão):

"Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso. Louvado seja Deus, Senhor do Universo, o Clemente, o Misericordioso; Soberano do Dia do Juízo, Só a Ti adoramos, e Só a Ti pedimos ajuda. Guia-nos a senda reta, à senda dos que agraciaste, não à do abominados, nem à dos extraviados.''

Exclamou o pai: "Como são bonitas e perfeitas essas palavras! Tudo o que ele diz é assim?"

Apelou Muadh: "De fato é, meu Pai. Quer jurar-lhe lealdade? Todo o seu povo já o fez"

O idoso ficou silencioso durante um bocado e depois disse: "Não o farei sem consultar manat, e ver a que ele me diz."

Disse Muadh: "O que é que manat poderia dizer, pai? É apenas um pedaço de madeira. Não pode pensar nem falar."

O idoso pai replicou incisivamente: "Já te disse, não farei nada sem ele."

Mais tarde no mesmo dia, Amr foi para junto de manat. Era costume dos idólatras colocar uma mulher velha por trás do ídolo quando queriam falar com ele. Ela responderia pelos ídolos, articulando, assim o julgavam, o que o ídolo a tinha inspirado para dizer.

Amr colocou-se defronte do ídolo em grande reverencia e proferiu-lhe grandes louvores. Depois disse:

"Ó manat, sabeis sem dúvida que este propagandista que foi mandado vir até nós de Meca não quer fazer mal senão a vós. Veio apenas para nos obrigar a deixar de vos adorar. Não quero jurar-lhe lealdade, apesar das belas palavras que ouvi dele. Portanto, vim procurar a vosso conselho. Por isso, aconselhai-me, por favor."

Não houve resposta de manat. Amr continuou: "Talvez estejais zangado. Mas até agora, não fiz nada que vos prejudicasse... Não tem importância, deixo-vos uns dias para que a zanga desapareça."

Os filhos de Amr conheciam a grande dependência do seu pai em relação a manat e sabiam como, com o passar do tempo, o seu pai se tinha quase tornado uma parte dele. Contudo, compreenderam que o lugar do ídolo no seu coração estava a ser ameaçado e que tinham que o ajudar a libertar-se de manat. Isso deveria ser o caminho do seu pai para a fé em Deus.

Uma noite, os filhos de Amr, com o seu amigo Muadh Ibn Jabal, foram tirar o ídolo manat do seu lugar e deitá-lo a uma vala pertencente aos Banu Salamah. Voltaram a suas casas sem que ninguém soubesse o que tinham feito. Quando Amr acordou na manhã seguinte, dirigiu-se em atitude de respeito para venerar o ídolo, mas não o encontrou.

"Ai de todos vós," gritou.

"Quem atacou o nosso deus na noite passada?''

Não houve qualquer resposta. Começou a procurar o ídolo, a espumar de raiva e a ameaçar os autores do crime. Acabou por encontrar o ídolo de cabeça para baixo na vala. Lavou-o, perfumou-o e voltou a colocá-lo no seu local habitual, dizendo: "Se descubro quem vos fez isto, humilhá-lo-ei."

Na noite seguinte os rapazes voltaram a fazer o mesmo ao ídolo. O velho recuperou-o, lavou-o e perfumou-o como tinha feito anteriormente e voltou a colocá-lo no seu lugar. Isto voltou a acontecer várias noites, até urna noite Amr colocar uma espada à volta do pescoço do. ídolo, dizendo-lhe: ''ó manat, não sei quem vos está a fazer isto. Se tiverdes algum poder, defendei-vos deste mal. Aqui tendes uma espada.''

Os jovens esperaram que Amr estivesse dormindo, tiraram a espada do pescoço do ídolo e deitaram-no na vala. Amr encontrou o ídolo de cabeça para baixo na fossa, sem ver a espada. Finalmente, convenceu-se que o ídolo não tinha qualquer poder e não merecia ser adorado. Não demorou muito a aderir à religião do Islam.

Amr em breve conheceu a doçura da Fé (Iman), no único Deus Verdadeiro. Ao mesmo tempo, sentiu grande dor e angústia interior ao pensar em cada momento que tinha passado como idólatra. A sua aceitação da nova religião foi total, e colocou-se a si próprio, a sua riqueza e os seus filhos ao serviço de Deus e do Seu Profeta.

A sua devoção foi visível em toda a sua extensão na época da batalha de Uhud. Amr viu os seus três filhos prepararem-se para a batalha. Olhou para os três jovens determinados, inflamados pelo desejo de serem mártires e alcançarem o sucesso e a glória de Deus.

A cena produziu um grande efeito sobre ele; decidiu ir com eles para a guerra sob o estandarte do Enviado de Deus. Contudo, os jovens opuseram-se a que o pai levasse a cabo a sua intenção. Ele já era muito velho e estava extremamente fraco.

Disseram eles: "Pai, certamente que Deus vos dispensou. Então, porque quereis carregar esse fardo?''

O velho ficou muito zangado e dirigiu-se ao Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) para se queixar dos seus filhos: "ó Rasulullah! Os meus filhos querem afastar-me desta fonte de bem, argumentando que estou velho a decrépito. Por Deus, desejo alcançar o Paraíso desta forma, embora seja um homem velho e doente."

Disse o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) aos filhos: "Deixem-no, talvez Deus, o Poderoso e Grandioso, o faça mártir."

Em breve era tempo de ir para a batalha. Amr despediu-se da mulher, virou-se na direção de Makka e orou: "Senhor, faz-me mártir a não me envies de regresso à minha família com as minhas esperanças desfeitas''.

Partiu na companhia dos três filhos e de um grande contingente da sua tribo, os Banu Salamah. Enquanto a batalha lavrava, Amr foi visto nas fileiras da frente, a saltar com a perna boa (era parcialmente coxo da outra perna), e a gritar: "Quero o Paraíso, quero o Paraíso."

O seu filho Khallad manteve-se próximo dele, e ambos lutaram corajosamente para defender o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), pai e filho caíram no campo de batalha e morreram."

Fonte:CEDI e SBMRJ

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RE: ABU UBAYDAH IBN AL JARRA

#72131 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:37 | In reply to: #72116

"Abu Ubaydah era coriaxita e foi um dos pioneiros a abraçar o Islam, levado por Abu Bakr Assidik. Foi um dos dez homens que foram alvissarados pelo Paraíso. Ele emigrou para a Abissínia e retomou para lutar ao lado do Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) em Badr.

Participou posteriormente de todas as batalhas empreendidas pelo Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele). Continuou a prestar serviços ao Islam na época do Califa Abu Bakr e posteriormente na califado de Umar Ibn Al Khatab.

Esse batalhador piedoso, o asceta, o conquistador fiel, o eloqüente orador, foi enviado pelo Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) como reforço para Amru Ibn Al A'ass na Batalha de Datis-salássel, como comandante de um exército que possuía em suas fileiras Abu Bakr e Umar.

Ele deu seu voto de confiança ao Profeta e prometeu-lhe lutar pela causa de Deus enquanto pudesse e cumpriu a sua promessa. Toda vez que via um perigo rondando o Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), corria em seu socorro, fazendo os inimigos retrocederem em seu intento.

O Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) o enviou com a delegação de Najran para o Iêmen para ensinar-lhes o Alcorão e a Sunah, dizendo-lhes:

"Enviarei um homem com vocês realmente fiel, realmente fiel, realmente fiel."

Esse testemunho, feito pelo Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), é suficiente para demonstrar a confiança que ele depositava em Abu Ubaydah.

Em outra oportunidade, quando Khalid Ibn Al Walid estava comandando uma das grandes batalhas, O Califa Umar o substituiu, nomeando Abu Ubaydah em seu lugar. Quando Este recebeu o emissário de Umar com a nomeação, ele escondeu a ordem até que a batalha terminasse e Khalid conquistasse o local. Somente então apresentou a sua nomeação a Khalid, com todo o respeito.

Khalid lhe perguntou:

''Por que você não me comunicou a substituição quando recebeu a ordem?''

Abu Ubaydah lhe disse:

''Para não quebrar o seu entusiasmo na luta. Eu não estou interessado na autoridade deste mundo, nem lutamos por recompensas terrenas. Somos todos irmãos no amor a Deus."

Este é o soldado fiei e o fiel soldado, o comandante fiel e o fiel comandante. Ele foi o comandante dos comandantes na Síria. Em sua casa Umar só encontrou a espada e o escudo. Quando faleceu, Umar disse:

"Se eu pudesse ter um desejo, desejaria uma casa cheio de homens como Abu Ubaydah.''

Ele lutou na Síria, na Batalha de Yarmouk, em Damasco na batalha de Fahl, em Latkia, na batalha de Kansarin, em Allepo, em Antióquia, em Homs. Ele conseguiu completar a conquista de toda a Síria, do Líbano, da Palestina e da Jordânia. Quando Umar estava a beira da morte, disse:

"Se Abu Ubaydh estivesse vivo, eu o indicaria para substituir-me. Se meu Senhor me perguntasse a respeito dele, diria: Indiquei o fiel dessa comunidade e o fiel de seu Mensageiro.''

Foi perguntado uma vez a Aicha:

''Quais companheiros o Profeta gostava mais?''

Ela respondeu: ''Abu Bakr, então Umar, então Abu Ubaydah Ibn Al Jarrah."

Durante a Batalha de Uhud, quando o Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) foi atingido e duas argolas do seu elmo lhe entraram no rosto, ele foi o primeiro a chegar para socorrê-lo. Logo em seguida chegou Abu Bakr. Abu Ubaydah lhe disse: "Peço-te por Deus que me deixes extrai-las da face do Profeta." Foi, então, mordeu as argolas e as arrancou, perdendo os seus dentes dianteiros.

Na época do Califado de Umar, e Abu Ubaydah deu-lhe igualmente o seu apoio e obediência. Não lhe desobedeceu em nenhum assunto, exceto num.

O incidente aconteceu quando Abu Ubaydah se encontrava na Síria liderando as forças Muçulmanas duma vitória a outra até a totalidade da Síria se encontrar sob o controle Muçulmano. O rio Eufrates dispunha-se à sua direita e a Ásia Menor à sua esquerda.

Foi então que uma praga atacou a terra de Síria, como nunca ninguém tinha visto antes. Devastou a população. O Califa Umar, enviou um mensageiro para Abu Ubaydah com uma carta que dizia:

"Preciso de ti urgentemente. Se a minha carta chegar a ti de noite, solicito-te veementemente que partas antes da madrugada. Se esta carta chegar a ti durante o dia, solicito-te veementemente que partas antes do anoitecer e venhas ao meu encontro depressa".

Quando Abu Ubaydah recebeu a carta de Umar, ele disse:

''Sei porque o Amir al-Muminin precisa de mim. Ele quer preservar a sobrevivência daquele que, contudo, não é eterno.''

Então ele escreveu a Umar:

''Eu sei que precisas de mim. Mas ou estou num exército de Muçulmanos o não desejo salvar-me daquilo que os aflige. Não quero me separar deles até à vontade de Deus. Por isso, quando esta carta chegar a ti, liberta-me da tua ardem o dá-me permissão para aqui fjcar.''

Quando a Califa Umar, leu esta carta, os seus olhos encheram-se de lágrimas, e aqueles que estavam com ele perguntaram:

"Abu Ubaydah morreu, ó Amir al-Muminín?"

Disse ele: "Não, mas a morte anda perto dele.''

A intuição de Umar não estava errada. Em pouco tempo, Abu Ubaydah foi afetado pela praga. Enquanto a morte o rodeava ele falou ao seu exército:

''Deixem-me dar-vos alguns conselhos que vos conduzirão sempre pelo caminho da bondade. Estabelecei a Oração. Jejuai no mês de Ramadan. Dai Sadakah. Fazei o Hajj e a Umrah. Permanecei unidos o apoiei-vos uns aos outros". Sejais sinceros com vossos chefes e não escondei nado deles. Não deixais o mundo destruir-vos pois mesmo que a homem vivesse mil anos ela acabaria sempre neste estado que vedes em mim. Que a paz o a misericórdia de Deus esteja convosco.''

Abu Ubaydah virou-se então para Muadh Ibn Jabal e disse:

'' Ó Muadh, faz a Oração com o povo (sê o seu líder)''

Aí, a sua pura alma partiu. Muadh levantou-se e disse:

"Ó Povo! Vós estais impressionados com a morte de um homem. Por Deus, eu não sei se alguma vez terei visto um homem com um coração mais justo, que estivesse além de todo o mal e que fosse mais sincero para o povo do que ele. Pedi a Deus que derrame a Sua misericórdia sobre ele e Deus será misericordioso convosco".

Abu Ubaydah faleceu acometido de cólera no ano 18 da Hégira (639 da era cristã), durante o califado de Umar Ibn Al Khatab.

Este é um relato sucinto a respeito de um companheiro do Profeta (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), em quem ele confiava e a quem ele admirava. Abu Ubaydah, um dos grandes homens que lutaram pela causa do Islam, que Deus derrame a Sua Misericórdia sobre ele. Amin !"

Fonte: CEDI Centro de Divulgação de Estudos do Islão, e SBMRJ

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RE: MALIK IBN ANAS

#72132 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:38 | In reply to: #72116

"O Imam Málik Ibn Anas, originário do Iêmen, nasceu em Madina no ano 93 da Hégira (726 da era cristã). Seu pai, seus tios e seu avô dedicaram suas vidas à busca do saber e do conhecimento. Assim, Málik cresceu num lar empregnado de sabedoria e num ambiente estimulante à aprendizagem e ao estudo.

Na época, a cidade de Madina era o centro principal do saber e seus sábios eram a referência primeira em jurisprudência islâmica. Os nobres companheiros do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) passaram seus conhecimentos a milhares de discípulos, e Madina, naturalmente, se tomara um centro, para onde convergiam todos os desejosos de estudar e adquirir informações seguras da vida do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), suas tradições, suas explicações do Alcorão Sagrado, além de presenciar de per- to o exemplo vivo de seus companheiros.

Memorizou o Alcorão ainda na infância, e se direcionou depois para registrar e memorizar a tradição do Profeta. Freqüentava as aulas ministradas nas mesquitas pelos sábios de sua época, mas seu principal professor era o iminente sábio Ibn Hurmuz, na companhia de quem ficou sete anos. Foi aluno também de Náfi', servo de Abdullah, filho de Umar Ibn Al Khattab. Outro mestre de Málik era Ibn Chihab Az-Zuhari.

Certo dia, depois de assistir às aulas de Chiháb Az-Zuhari, em vez de voltar para casa, Málik foi a casa de seu mestre. Vendo-o voltar, este lhe disse:

''Parece-me que você não voltou para casa hoje!" " É verdade, quero que você me ensine", respondeu Malik.

Az-Zuhari ensinou-lhe, então, quarenta tradições e o aplicado aluno registrou tudo.

''Quero mais, solicitou Málik. Por hoje é suficiente, pois se você as memorizar, será um grande tradicionista. Já as memorizei, respondeu Málik.''

Ele tomou, então, os registros de Málik e disse-lhe: ''recita, então!''

E Málik recitou as quarenta tradições!

Az-Zuhari devolveu-lhe seus registros e disse-lhe: ''Levanta, pois você é o depósito do saber!''

Era criterioso em escolher seus professores, pois julgava que não era qualquer erudito que era digno de passar o conhecimento. A honestidade, o caráter, o bom senso e a compreensão do que está ensinando, eram requisitos que Málik exigia, na escolha de seu mestre.

Dizia ele: "O saber é uma religião, sejam criteriosos em saber de quem adquiri-lo"

Quando completou a sua formação intelectual, passou a difundir o saber adquirido. Dizia ele, quando começou a ministrar aulas na mesquita:

"Não são todos os que queriam sentar na mesquita para ensinar e emitir opiniões que o fizeram; e não sentei para fazê-lo antes que setenta sábios testemunhassem que sou digno disso."

Escreveu seu famoso livro de tradições e jurisprudência "Al Muwatta" (um compêndio de tradições e princípios de jurisprudência), o primeiro em seu gênero, pois, até então as pessoas se baseavam principalmente na memorização para transmitir os conhecimentos. Levou nada menos que 11 anos para redigi-lo e revisá-lo cuidadosamente.

Adotou em sua compilação o método de colocar o assunto e em seguida mencionar todas as tradições que a ele se referem, o procedimento dos habitantes de Madina e a opinião dos sábios que ele teve a oportunidade de acompanhar.

Quando se deparava com um fato inédito e que ninguém antes dele abordou, dava a sua própria opinião a respeito, baseado nas tradições que conhecia e a compreensão que tinha das mesmas; e nos pareceres e opiniões de que tinha conheci- mento.

Escreveu outros livros, onde registrou suas experiências e conhecimentos, mas a sua importância é menor, comparados com ''Al Muwatta''.

Apesar do esforço laborioso para escrever este livro e a revisão minuciosa de seu conteúdo, ele não admitia que as pessoas o tomassem como a única referência, pois acre- ditava que a divergência dos sábios em assuntos secundários era uma misericórdia de Deus para com seus servos, além de que a única coisa indiscutível é uma determinação clara do Alcorão ou uma tradição autêntica do Profeta.

Apesar de sua grandeza e seu conhecimento, não foi poupado da agressão dos governantes. Suas opiniões davam a entender que o povo não era obrigado a obedecer o Califa omíada, Abu Ja'afar Al Mansur, contemporâneo dele, pois este não teria sido escolhido legitimamente de acordo com o princípio da consulta (Ach-Chura) e teria usurpado o poder.

O governador de Madina o açoitou por isso. Os madinenses ficaram revoltados com o que aconteceu, e sabendo disso, o Califa pediu-lhe desculpas publicamente e expressou-lhe o seu arrependimento pelo ato pecaminoso de seu governador. Malik, como é digno de uma personalidade de seu nível, perdoou ao agressor.

A sua vida se prolongou até os noventa anos. Era um oceano de saber, como dizia seu discípulo Ach-Cháfi'i: "Ninguém alcançou em saber o nível de Málik. Quem deseja conhecer a tradição autêntica que procure Málik"

A linha de pensamento e a escola de jurisprudência que ele fundou se difundiram em muitas terras islâmicas, principalmente na África do norte, e África Ocidental."

Fonte: CEDI e SBMRJ

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RE: SAAD IBN ABI WAKKAS

#72133 | camisao65 | 01 Sep 2004 15:39 | In reply to: #72116

"É o ilustre Companheiro coraixita, Saad Ibn Málik Ibn Wuhaib Ibn Abd Manaf Ibn Zahra Ibn Kilab, pai de Isac Ibn Abi Wakkas, um dos emigrantes pioneiros e um dos dez alvissarados pelo Paraíso. Foi um dos seis indicados por Umar Ibn Al Khattab para substituí-lo no califado.

Sua Posição e Seus Méritos

Foi um dos que Deus abriu-lhes o peito para o Islam, de uma forma convicta. Por causa de sua conversão, sua mãe o boicotou para obrigá-lo a reconsiderar. Porém isso só aumentou a sua fé e sua firmeza. Os historiadores narram que sua mãe lhe disse.

"Soube que você cometeu apostasia. Por Deus, não haverá proteção para mim, nem alimentação até que você negue a religião de Muhammad."

Ela permaneceu assim durante três dias o ele não a atendeu. Foi, então ter com o Profeta e o colocou à par da situação. O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) ficou fascinado por sua fé e por isso Deus revelou o seguinte versículo sagrado:



"E recomendamos aos humanos benevolência para com seus pais; porém, se te forçarem a atribuir-Me o que ignoras, não lhes obedeças, porque vosso retorno será a Mim, e, então, inteirar-vos-ei de quanto houverdes feito". (29ª Surata, versículo 8).

O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) rogou a Deus por ele: "Senhor, atende o rogo de Saad, se pedir-Te algo."

Foi ele quem construiu a Kufa, por ordem de Umar Ibn Al Khattab e foi designado como seu governador durante o califado de Umar e do califado de Uthman. Ao ser inquirido a respeito dele, Umar disse:

"Nomeei como governador o mais honrado e capaz das pessoas e o menos severo. Ele é forte durante a adversidade e o mais querido coraixita entre as pessoas".

Posteriormente, Umar o indicou para substituí-lo no califado, dizendo:

"Se o escolhido for Saad, será uma boa escolha. Se não for, que o escolhido peça o auxílio dele."

Foi também um dos narradores da tradição.

Sua Luta Pela Causa de Deus

Ele escreveu uma página gloriosa na luta pela causa de Deus e pela causa do Islam. Foi o primeiro a derramar sangue pela causa de Deus. Participou da Batalha de Uhud junto com o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele). Era um dos arqueiros que estava ao lado do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele). Este sempre ficava fascinado com ele e o incentivava.

Quando os muçulmanos quiseram conquistar a Pérsia e Umar Ibn Al Khattab assumiu o califado, quis ele próprio comandar o exército. Porém, os muçulmanos o aconselharam a escolher um dos companheiros. Ele subiu ao púlpito e disse:

"Homens, estava eu disposto a sair convosco, porém os conselheiros me convenceram a não fazê-lo o a nomear alguns companheiros para assumiram os assuntos de guerra.''

Os muçulmanos escolheram por unanimidade Saad Ibn Abi Wakkas como comandante desse exército, o que alegrou Umar sobremaneira, porque conhecia a sua capacidade. E, apesar de sua confiança na sua sinceridade, na sua crença e capacidade, nomeando-o como comandante, ele lhe traçou um sistema íntegro dando-lhe aquele extraordinário conselho:

"Ó Saad, não se deixe enganar se for dito: Tio e Companheiro do Profeta, porque Deus não apaga o mal com o mal, mas apaga o mal com o bem. Não há parentesco perante Deus a não ser a obediência a Ele. As pessoas, quer sejam ilustres, quer sejam humildes, perante Deus são iguais. Deus é o Seu Senhor e eles são seus servos. Sobrepujam um ao outro pelos seus atos, e alcançam Suas recompensas com a Sua obediência. Observa o que o Profeta Muhammad costumava fazer e pratique-o."

Saad partiu em direção a Pérsia e cumpriu fielmente o conselho de Umar, pois foi um exemplo extraordinário de comando, de política proba. Tal política deu seus frutos, fortalecendo as fileiras, unindo os corações e difundindo a cooperação e a solidariedade.

Quando o comandante corajoso chegou às terras persas, não foi enganado pelas aparências nem o exército numeroso o amedrontou. Enviou um emissário com a seguinte mensagem:

"Estamos vos convocando para a nossa religião, pois é uma religião que prega o que é excelente e proíbe o que é abominável. Se vos negardes devereis pagar a Jizya (tributo). Se, vos negardes sereis combatidos. Se aceitardes, deixaremos convosco o Livro de Deus pelo qual vos regereis, deixando vosso país a vosso cargo. Se aceitardes pagar a Jizya aceitamos e vos protegeremos. Se negardes, então vos combateremos."

Os persas se negaram e aconteceu o combate na batalha de Cadissiya, onde Deus cumulou os muçulmanos com a vitória, apesar de sua inferioridade numérica:

"Quantas vezes um pequeno grupo venceu outro mais numeroso pela vontade de Deus, porquanto Deus está com os perseverantes!" (2ª Surata, versículo 249).

Ele enviou mensagens para Umar comunicando a vitória. Foi um dia glorioso na história dos muçulmanos. Saad permaneceu na Pérsia até conquistar a sua capital Madáin.

Seu Falecimento

Após uma vida repleta de luta cheia dos atos mais dignos, ele faleceu no ano cinqüenta e cinco da Hégira. Que Deus Se compraza com ele e o recompense com o melhor galardão."

Fonte: CEDI e SBMRJ

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RE: genealogia do profeta Maomé

#72155 | Carlos Silva | 01 Sep 2004 21:58 | In reply to: #72063

Caro Artur,

O Profeta Maomé considerava que « os genealogistas sào impostores ».
De acordo com esta sabia consideraçào nào admitia que se continuasse a sua ascendencia além de Ma’add (filho do lendario Adnan o antepassado dos Arabes do norte).

Temos portanto :
Muhammad, b. ‘Abd Allah, b. ‘Abd al-Muttalib (Shayba), b. Hashim (‘Amr), b. ‘Abd Manaf (al-Mughira), b. Qussay (Zayd), b. Kilab, b. Murra, b. Ka’ab, b. Lu’ayy, b. Ghalib, b. Fihr, b. Malik, b. al-Nadr, b. Kinana, b. Khuzayma, b. Mudryka (‘Amir), b. Ilyas, b. Mudar, b. Nizar, b. Ma’add.
Genealogia estabelecida por Ibn Isham (por volta de 740).
21 geraçoes naquele contexto oral, ja nào é pouco ( e até demais).
Entre Ma’add e Fihr (Quraysh) sào nomes e mais nada.
Depois sào antepassados com valor simbolico.
O periodo historico abre-se com Abd’Al-Muttalib nascido por volta de 500.

A màe Amina bint Wahb pertencia aos Banu Zuhra (Zuhra o antepassado eponimo era irmào de Qussay), e era filha do chefe do clà.
A màe de Amina era Barra, do clà dos Banu ‘Abd al-Dar, tambem descendentes de Qusayy
A avo paterna do profeta era dos Banu ‘Adi (de Medina).

Melhores cumprimentos
Carlos Paulo « al-Jiliqi »

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RE: O MAPA DE PIRI REIS

#72203 | camisao65 | 02 Sep 2004 15:05 | In reply to: #72116

"O mais antigo da América

INTRODUÇÃO

O mapa de Piri Reis é o primeiro que resistiu ao tempo, que mostra as Américas (o mapa de Vinland pode ser mais velho, mas apenas mostra uma parte da América do Norte). O de Piri Reis mostra a América do Norte, a América do Sul, a Groenlândia e a Antártica, que ainda não tinham sido descobertas naquela época. O mapa foi feito por um almirante turco, Piri Ibn Haji Mehmed. Reis significa almirante. O mapa ficou perdido e somente redescoberto em 1929, por um grupo de historiadores que trabalhava em um dos prédios do Palácio Topkapi, em Istambul, em meio a um monte de entulho.

Por causa da riqueza de detalhes, muito se tem especulado a respeito desse mapa. Alguns até acham que ele, de tão perfeito, só poderia ter sido elaborado a partir de fotografias tiradas de uma altitude elevada.

O mapa de Piri Reis não foi feito como os mapas modernos, com grades verticais e horizontais para facilitar a localização. O método utilizado é mais antigo, aperfeiçoado por Dulcert Portolano, que utilizava uma série de círculos com linhas se irradiando a partir deles. Os mapas feitos com esse método são, por isso, denominados de mapas "portulanos". Seu objetivo era guiar os navegadores de porto a porto, ao contrário da concepção moderna que é a de localizar uma posição. Com isso, fica mais difícil comparar as características do mapa de Piri Reis com os mapas modernos.

O mapa de Piri Reis também tem inúmeras anotações, inclusive sobre a descoberta do Novo Mundo feita por Colombo. A tradução dessas notas está mais adiante.

O trecho a seguir faz parte do livro "The Oldest Map of America", do Professor Dr. Afet Inan, Ankara, 1954

. =========================================================

Façamos uma pequena viagem no tempo. A primeira parada nesta viagem será a Turquia, há 30 anos atrás. O primeiro quarto de século mostra a Turquia, ao final da Guerra de Independência, e a República estabelecida por Kemal Ataturk (1923). A república turca, hoje, trinta anos mais velha, foi fundada com os restos de um outro estado turco, o Império Otomano (1299-1923). Na segunda parada, estamos no ano de 1929, mais precisamente no Palácio Topkapi, dos sultões otomanos, situado em um dos mais belos lugares de Istambul, chamado Sarayburnu. O palácio, que é composto de vários prédios, cada um rodeado por grandes jardins, testemunha as diferentes épocas de todo o período otomano. O governo republicano turco decidiu transformar este palácio em museu.

Descoberta do mapa da América

Na tarefa de classificar os inúmeros documentos existentes nos prédios, Mr. Halil Edhem, Diretor dos Museus Nacionais, descobriu um mapa (9.11.29) até então desconhecido no mundo da ciência. Ao saber da descoberta do mapa mais antigo da América, Ataturk mostrou grande interesse. Pediu que o mapa fosse trazido a Ancara, ordenou que ele fosse publicado do jeito que estava e que fosse submetido a pesquisas acadêmicas.

Estudar aquele mapa representava uma grande emoção. Ele havia sido confeccionado há centenas de anos atrás, em pele de animal, com várias ilustrações coloridas e com anotações em suas bordas. Assim que o tive em mãos, senti como se estivesse vivendo naquele longo passado esquecido. Minhas emoções estão agora 24 anos mais velhas, mas, com o mesmo orgulho nacional e espírito acadêmico, vamos dar uma espiada no período em que este mapa foi desenhado e na história do homem que o confeccionou.

Este é um dos mapas mais velhos e mais perfeitos da América, feito por um almirante turco. Agora, se o leitor não se importar em ter centenas de anos, vamos até o século XVI. Nesta terceira parada, nossa jornada abrange um vasto terreno.

O poder marítimo do Império Turco-Otomano nos séculos XV e XVI

No século XV, principalmente após a conquista de Istambul, o estado otomano se transformou num império. Havia a necessidade de uma força naval que assegurasse o monopólio turco sobre o mar Negro e o Mediterrâneo. Para ter o domínio da margem superior do Mediterrâneo, as forças turcas lutaram contra os venezianos, os genoveses, seus tradicionais aliados, os Cavaleiros de São João, e os espanhóis. Finalmente, conseguiram a hegemonia territorial até Viena, a oeste, até o Cáucaso, Irã e Iraque, a leste, e sul, e assim acrescentaram às conquistas iniciais, Síria, Egito, Tunísia, Argélia e Arábia, estabelecendo contatos estreitos com os vários mares. O mar Negro e o Mediterrâneo, incluindo o litoral do Adriático, caíram sob o domínio da bandeira turca. E a esquadra turca com o seu estandarte atravessou o mar Vermelho, o golfo Pérsico e o mar da Arábia até o Oceano Índico. O grande almirante Piri Reis, sobre cuja vida falaremos agora, foi um daqueles grandes almirantes como Burak Reis, Kemal Reis, Muslahiddin Reis, Barbaros Hayrettin, Turgut e Kilic Ah, que, ao final do século XV e durante o século XVI, obtiveram grandes vitórias para a armada turca instituindo, assim, o poder turco nos mares.

Concentremo-nos, agora, no primeiro mapa do mundo, feito por Piri Reis. Suas idéias a respeito de cartografia em geral estão registradas em verso. Ele diz que desenhar mapas exige técnicas e conhecimentos profundos. Ele acredita que o menor erro torna o mapa inútil. Para que se tenha uma idéia de como ele era fiel aos princípios de precisão e exatidão, basta que se estude seus mapas. Ao antever o desenvolvimento das possibilidades marítimas do império otomano nas primeiras décadas do século XVI, Piri Reis percebeu a necessidade de um mapa do mundo, com informações práticas, que ajudasse aqueles marinheiros a cruzar os mares. Ao confeccionar este mapa, como um marinheiro devotado à sua profissão, ele se utilizou de todos os recursos até então disponíveis.

Na introdução ao seu "Bahriye", ele se refere ao mapa e diz que recorreu a todos os mapas conhecidos, inclusive os dos mares chineses e do oceano Índico, que eram desconhecidos no ocidente naquela época. Ele também registra que o mapa foi presenteado ao sultão Selim II. De uma nota escrita a mão pelo próprio autor, concluímos que o mapa foi feito entre março e abril de 1513 (919 da Hégira). Numa dessas notas, Piri cita suas fontes e uns vinte mapas que teriam sido utilizados por ele. Oito deles eram mapas novos do Mappa Mundi, quatro desenhados pelos portugueses, um indiano em árabe e um de Cristóvão Colombo sobre o hemisfério ocidental. O ponto mais importante a ser notado aqui é o fato de que Piri Reis, quando fez o seu, tinha em mãos um mapa de Colombo. Ele faz referência a este fato em "Bahriye" (pag. 82), quando fala sobre a descoberta das Antilhas por Colombo. Isto pode ser explicado da seguinte forma: ele conseguiu o mapa quando se encontrava com Kemal Reis no litoral espanhol do Mediterrâneo. Numa clara referência às praias de Valença, ele diz que certa vez, naquelas costas, ele e Kemal Reis aprisionaram, em um único confronto, sete navios espanhóis (Bahriye, pág. 596). Em uma das notas feitas por Piri Reis, ele cita um espanhol que teria participado da terceira expedição de Colombo e que teria sido feito prisioneiro por Kemal Reis. Este espanhol teria feito um relato interessante sobre Colombo a Kemal Reis. É bem possível que ele tenha sido capturado durante a batalha na qual artigos indígenas foram apreendidos.

O mapa de Colombo em poder de Piri Reis foi feito em 1498 e, uma vez que sabemos que Kemal e Piri Reis tinham lutado contra os espanhóis em 1501, é muito provável que Piri Reis tenha conseguido o mapa durante a guerra.

Embora Piri Reis tenha desenhado um mapa do mundo inteiro, a parte que chegou até nós se refere às costas ocidentais da Europa e Africa, o oceano Atlântico, as Américas do Norte e Central. O mapa foi densenhado sobre pele de animal em várias cores. Como outros mapas contemporâneos, ele não apresenta as linhas de longitude e latitude. No entanto, podemos ver duas circunferências, uma ao norte e a outra ao sul. Cada uma delas é dividida em 32 partes e as linhas de divisão são prolongadas para além de sua estrutura.
Cada prolongamento é igual a uma milha marítima, conforme está mostrado nas medidas sobre as áreas próximas às rosas dos ventos. O mapa mede 90/65 centímetros. É colorido e decorado com numerosas ilustrações. Nas áreas correspondentes às capitais de Portugal, Marrocos e Guiné encontramos quadros de seus respectivos reinos. Além disto, sobre a África há desenhos de um elefante e de um avestruz, e sobre a América do Sul de lhamas e pumas. Sobre os oceanos e ao longo das costas vemos ilustrações de navios. Tanto nas terras quanto nos mares há ilustraçóes correspondentes a entradas algumas vezes importantes. Todas essas anotações estão escritas em turco e podem ser encontradas em seu livro "Bahriye". Podemos acompanhar essas anotações a partir do canto nordeste, voltando para o sul e continuando ao longo do perímetro e finalmente seguindo em direção ao centro. Ler algumas dessas notas é realmente difícil, mas alguns peritos transcreveram essas anotações conforme se segue:



I - Há uma espécie de tinta vermelha, chamada de "vakami", que não é percebida à primeira vista, porque está a uma distância ... as montanhas têm ricos minérios ... Lá, algumas ovelhas têm penugem sedosa.

II - Este país é habitado e sua população não usa roupas.

III - Esta região é conhecida como o vilayet de Antilha. Está do lado onde o sol se põe. Diz-se que há quatro espécies de papagaios, branco, vermelho, verde e preto. As pessoas comem a carne de papagaio e seus enfeites de cabeça são feitos com as penas deles. Há uma pedra aqui. Lembra uma ... preta. Eles usam isto ao invés de machados. É muito difícil (ilegível)

(NOTA: Piri Reis escreve em seu "Bahriye": "Nos navios inimigos que capturamos no Mediterrâneo encontramos um enfeite de cabeça feito com aquelas penas de papagaio e também uma pedra como aquela.")

IV - Este mapa foi feito por Piri Ibn Haji Mehmed, conhecido como o sobrinho de Kemal Reis, em Gallipoli, no mês de muharrem, do ano de 919 (isto é, entre 9 de março e 7 de abril de l513)

V - Esta seção fala sobre como essas praias e ilhas foram descobertas. Esta região foi denominada como litoral das Antilhas.
Elas foram descobertas no ano de 896 do calendário árabe, mas diz-se que um infiel, seu nome era Colombo, foi quem descobriu aqueles lugares. Por exemplo, um livro chegou ao conhecimento do dito Colombo, onde está registrado que no fim do mar Ocidental (Atlântico), isto é, em seu lado ocidental, havia litoral e ilhas e todas as espécies de metais e pedras preciosas. Colombo, tendo estudado este livro inteiramente, falou com os grandes de Gênova: "Dêem-me dois navios e deixem-me ir e encontrar esses lugares." Eles disseram: "Ó homem inútil, existe algum fim ou limite a ser descoberto no mar Ocidental? Seu nevoeiro é cheio de escuridão." Percebendo que não teria qualquer ajuda dos genoveses, Colombo rapidamente foi ter com o Rei de Espanha e lhe contou sua estória detalhadamente. A resposta foi a mesma dos genoveses. Em resumo, Colombo de há muito buscava ajuda, até que, finalmente, o rei de Espanha lhe deu dois navios bem equipados e lhe disse: "Ó Colombo, se acontecer como você nos diz, vamos torná-lo kapudan (almirante) deste país." E o dito Colombo foi enviado ao mar Ocidental. O último Gazi Kemal tinha um escravo espanhol. Este escravo disse a Kemal Reis que tinha estado três vezes naquelas terras com Colombo. "Primeiro alcançamos o Estreito de Gibraltar, de lá, na direção sul e oeste entre as duas (ilegível). Tendo avançado por 4 000 milhas, nós vimos uma ilha a nossa frente, mas gradualmente as ondas do mar ficaram sem espuma, isto é, o mar se acalmou e a Estrela Norte - os marinheiros com suas bússolas ainda dizem estrela - pouco a pouco foi sumindo até ficar invisível e também disse que as estrelas naquela região não têm a mesma disposição daqui. Elas são vistas de uma forma diferente. Ancoraram na ilha que eles tinham avistado primeiro durante o caminho, a população da ilha chegou, atirou setas e não permitiu que desembarcassem a fim de pedir informações. Homens e mulheres estavam nus e também muito (ilegível). Vendo que não poderiam desembarcar, eles rumaram para o outro lado da ilha e viram um bote. Assim que os viram, fugiram (as pessoas que estavam no bote) e correram para terra. Eles (os espanhóis) pegaram o bote. Viram dentro dele restos de carne humana. Ocorre que eram de uma nação cujos habitantes iam de ilha em ilha caçando homens para comê-los depois. Colombo avistou ainda uma outra ilha, aproximou-se dela e viu que havia grandes cobras. Ele evitou desembarcar naquela ilha e permaneceu por lá por 17 dias. Os nativos dessa ilha não viram qualquer perigo neles e se aproximaram trazendo-lhes peixes em seus pequenos botes (filika). Os espanhóis ficaram satisfeitos e lhes presentearam com contas de vidro. Parece que ele (Colombo) tinha lido no livro que naquela região as contas de vidro tinham muito valor. Ao verem as contas os nativos trouxeram mais peixes e os espanhóis retribuiram com mais contas. Certo dia eles viram ouro no braço de uma mulher, pegaram o ouro e deram a ela contas. Disseram que trouxessem mais ouro, nós lhe daremos mais contas (eles disseram). E eles trouxeram muito ouro. Parece que em suas montanhas havia minas de ouro. Um dia, também, viram pérolas nas mãos de um nativo. Perceberam que quanto mais contas eles lhes davam, mais pérolas eram trazidas. As pérolas eram encontradas nas praias desta ilha, em um lugar a uma ou duas braças de profundidade. Também carregando seu navio com muitas árvores e levando com eles dois nativos, naquele ano retornaram ao Rei de Espanha. Mas, o dito Colombo não sabia a língua daqueles nativos, eles negociavam através de sinais e depois desta viagem o rei de Espanha enviou padres e cevada, ensinaram aos nativos como semear e colher e para convertê-los à sua religião. Eles não tinham qualquer religião. Andavam nus e se deitavam como animais. Agora aquela região tinha sido aberta para todos e se tornara famosa. Os nomes que marcam os lugares nessas ilhas e costas foram dados por Colombo, que esses lugares podem ser conhecidos por todos. E também Colombo era um grande astrônomo. O litoral e a ilha deste mapa foram tiradas do mapa de Colombo.

VI - Esta seção mostra de que maneira o mapa foi feito. Neste século não existe outro mapa como este. As mãos desse pobre homem o desenhou e agora ele está pronto. Tirei meus dados de cerca de vinte cartas e Mappae Mundi - há cartas que remontam aos dias de Alexandre, o Senhor dos Dois Chifres, que mostram a parte habitada do mundo, os árabes chamam essas cartas de Jaferiye - de oito Jaferiyes daquela espécie e um mapa árabe da Índia, e dos mapas feitos pelos portugueses, que mostram a Índia e a China geometricamente desenhados, e também de um mapa da região ocidental feito por Colombo. Reduzindo todos esses mapas a uma única escala, cheguei a esta forma final. Por isso, o presente mapa é tão correto e confiável para os Sete Mares quanto o mapa daqueles nossos países é considerado correto e confiável por nossos marinheiros.

VII - É relatado pelo português infiel que neste lugar a noite e o dia são mais curtos em duas horas. Mas o dia é muito quente e de noite há muito orvalho.

VIII - A caminho da Índia, um navio português encontrou um vento contrário (soprando) da praia. O vento da praia ... (ilegível) o navio. Depois de ser desviado por uma tempestade na direção sul, eles viram uma praia oposta a eles e avançaram em direção a ela (ilegível). Perceberam que estes lugares são bons para ancorar. Lançaram a âncora e foram para a praia em botes. Viram nativos andando, todos nus. Mas atiraram setas, as pontas eram de osso de peixe. Ficaram lá oito dias. Negociaram com aquelas pessoas através de sinais. Aquela barcaça viu aquelas terras e escreveu sobre elas, as quais ... A dita barcaça, sem ir para as Índias, voltou a Portugal, onde, depois da chegada, deu informações ... Eles descreveram aquelas praias detalhamente ... Elas tinham sido descobertas por eles.

IX - E neste país parece que há monstros de cabelos brancos nessa forma e também bois de seis chifres. Os infiéis portugueses escreveram em seus mapas ... Este país é um desperdício. Tudo está em ruínas e diz-se que grandes cobras podem ser encontradas aqui. Por esta razão, os infiéis portugueses não desembarcaram naquelas praias e diz-se também que é muito quente.

XI - E estes quatro navios são portugueses. Seu modelo é descrito abaixo. Eles viajaram saíndo do lado ocidental até a Abissínia, a fim de alcançar as Índias. Eles disseram em direção a Chalice. A distância é de 4 200 milhas.

XII - ... sobre esta praia uma torre ... é contudo ... neste clima de ouro ... pegando uma corda ... diz-se que eles mediam ...

(NOTA: O fato de que metade de cada uma daquelas linhas esteja faltando é a prova mais clara de que o mapa foi feito em dois)

XIII - E um kuke (um tipo de navio) vindo de Flandres foi apanhado por uma tempestade. Impelido pela tempestade ele chegou àquelas ilhas e, desta forma, aquelas ilhas se tornaram conhecidas.

XIV - Diz-se que em tempos remotos, um padre de nome Sanvolrandan (Santo Brandan) viajou pelos Sete Mares, assim eles dizem. O referido padre sobre este peixe. Eles acharam a terra seca e acenderam um fogo sobre este peixe, quando as costas do peixe começaram a queimar ele mergulhou no mar, eles reembarcaram nos botes e fugiram para o navio. Este fato não é mencionado pelos portugueses infiéis. Foi tirado de um antigo Mappae Mundi.

XV - Estas pequenas ilhas receberam o nome de Undizi Vergine. Quer dizer Onze Virgens.

XVI - E esta ilha eles chamaram de Ilha das Antilhas. Há muitos monstros e papagaios e muitas árvores. Não é habitada.

XVII - Esta barcaça foi desviada para aquelas praias por uma tempestade e ficou onde encalhou. ... Seu nome era Nicola de Giuvan. Em seu mapa está escrito que os rios têm muito ouro (em seus leitos). Quando a água escoou, pegaram muito ouro (poeira) da areia.

XVIII - Esta é a barcaça de Portugal, que foi apanhada por uma tempestade e chegou a esta terra. Os detalhes estáo escritos na extremidade do mapa (NOTA: ver VIII)

XIX - Os portugueses infiéis não seguem para o lado ocidental. Todo aquele lado pertence inteiramente à Espanha. Eles fizeram um acordo que (uma linha) 2 000 milhas, a oeste do Estreito de Gibraltar devem ser tomadas como limite. Os portugueses não cruzam este lado mas a India e o sul pertencem a Portugal.

XX - E tendo esta caravela encontrado uma tempestade, foi desviada para esta ilha. Seu nome era Nicola Giuvan. E nesta ilha há muitos bois com um só chifre. Por esta razão, a ilha foi chamada de Isle de Vacca.

XXI - O almirante desta caravela se chama Messir Anton, o genovês, mas ele foi criado em Portugal. Um dia, a referida caravela se deparou com uma tempestade e se desviou para esta ilha. Ele encontrou muito gengibre aqui e escreveu sobre estas ilhas.

XXII - Este mar é chamado de Mar Ocidental, mas marinheiros francos o chamam de Mare d'Espagna. Até hoje é conhecido por este nome, mas Colombo, que inaugurou este mar e tornou estas ilhas conhecidas e também os portugueses infiéis que abriram o caminho para a Índia, concordaram em dar a este mar um novo nome. E deram o nome de Ovo Sano (oceano), que quer dizer "ovo são". Antes disto, dizia-se que o mar não tinha fim ou limite, e que seu outro fim era a escuridão. Agora eles viram que este mar é circundado por uma costa, porque é como um lago, eles deram o nome de Ovo Sano. Seus mapas, ou cartas, chamados de portulanos, l. C. Manual sobre Navegação, foram confeccionados no século XIII.

Há exemplos de tais trabalhos antes daquele período, mas os que poderiam ser comparados com os de Piri Reis são principalmente os dos séculos XIV a XVI.

O primeiro portulano europeu foi encontrado no trabalho de Adamus Biemensis, em 1076. A seguir, vem o mapa denominado "pisane", feito, presumivelmente, no século XIII. Os mapas que aparecem depois testemunham o nome do autor e a data de sua confecção. O mais antigo entre os portulanos é o de Pietro Vesconti, datado de 1320. A este, foi acrescentada uma seção do trabalho de Marino Snudus, sob o nome de "Liber Secretariun Fidehum Crucis". Portanto, considerando o desenvolvimento deste tipo de manual e cartas, será útil fazer uma pequena revisão comparativa com outros trabalhos contemporâneos, especialmente os mapas que mostram a América. Os portulanos e os manuais escritos depois do século XIV, mencionam a ilha do "Brasil" e em 1414 a ilha de "Cipango" e a Antilha são mostradas. Acredita-se que entre 1474 e 1482, Toscanelli enviou um portulano, juntamente com uma carta, a Cristóvão Colombo. Infelizmente estes documentos se perderam. Naquela carta, supõe-se que ele tenha dito que de acordo com o testemunho de muitos que tinham feito aquele caminho, se se mantivesse a direção oeste, eventualmente poder-se-ia alcançar a Ásia. De acordo com o que De la Ronciere escreveu, o mapa português foi desenhado entre 1488 e 1493. Uma fotografia do mapa será encontrada em outra página deste livro, juntamente com a parte que Kretchner redesenhou (pág. 39). A informação se espalhou por todo o mundo depois de 1507, quando Américo Vespúcio escreveu numa carta que se tratava de um novo continente, ao qual deu o nome de "Novus Mundus". St. Die, que publicou a carta, sugeriu o nome de "América". É verdade que, na primeira metade do século XVI, este novo continente chamou a atenção de geógrafos, o que resultou na confecção de vários mapas. Piri Reis foi um desses cartógrafos. Portanto, uma comparação de seus trabalhos com outros confeccionados entre 1507 e 1550, nos mostrarão a grandeza de seus mapas de e a sua importância como documento histórico na descoberta da América.

Conclusão

Como já foi dito, na época de Piri Reis, o Império Turco-Otomano era o poder dominante no Mar Negro e no Mar Vermelho e lutava pela hegemonia no Mar Egeu, no Mediterrâneo e oceano Índico. Para deter tal posição, era necessário que o Império tivesse uma esquadra equipada com todas as armas mais modernas. Os Arquivos do Estado nos fornecem alguns dos mais interessantes e ricos materiais concernentes a essas organizações. O que o autor deste livro queria mostrar, contudo, era somente alguns aspectos característicos de um marinheiro e intelectual turco, o escritor de um manual marítimo e o cartógrafo de dois mapas do mundo, um homem que tomou parte em inúmeros empreendimentos privados e governamentais em vários mares. Estudos cuidadosos dos mapas nos revelam o fato de que, quando comparados com outros mapas contemporâneos, eles provam ter sido elaborados dentro de um método e espírito científico avançado. Os dois mapas de Piri Reis se completam. Estamos em débito com guias tão valiosos no mundo da intelectualidade por nos esclarecer sobre esta importante fase das descobertas geográficas. Em qualquer período da história eles devem ser tomados como fonte direta de informação. A bibliografia mostrará a riqueza da publicação desses trabalhos. O autor sempre teve imenso prazer em estudar este assunto em diversas ocasiões, e achou ser sua obrigação dividir algumas das informações com um grupo mais amplo de leitores. A vida e os trabalhos de Piri Reis mostram não só as grandes qualidades heróicas e militares dos turcos nos séculos XV e XVI, mas também sua contribuição para a civilização. Piri Reis viveu numa época onde a cultura turca era fértil em todos os campos. O século XVI é universalmente visto como a Idade de Ouro da civilização turca na história. Piri Reis foi um dos que deixou grandes obras não apenas para a sua nação mas para a ciência da geografia mundial e, por isso, se tornou uma figura importante para a história da civilização. Uma nação vive tanto mais quanto mais ela possa produzir obras culturais através dos tempos."

FONTE. SBMRJ

Podem consultar o dito mapa aqui:

wwwpontosbmrjpontoorg.brbarrapage6ptpirireis.htm

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