Um Menino nasceu para nós
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Um Menino nasceu para nós
"Naqueles dias, o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para os que habitavam na terra da escuridão uma luz começou a brilhar(...)E todo o calçado ruidoso da guerra, toda a veste manchada de sangue, serão lançados ao fogo (...)É que um Menino nasceu para nós, um filho nos foi concedido." Is. 9
Que este Menino esteja sempre nos nossos corações e nos ajude em cada dia do ano que agora começa.
Um Santo Natal para todos e um Feliz Ano Novo
João Cordovil Cardoso
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Um Menino nasceu para nós
Um sonho de Natal
Numa destas noites, num sonho que dificilmente esquecerei (daqueles que nos vão alimentando o espírito ou ensombrando o descanso pretendido), surgiu-me uma criança, envolta em pequenas vestes que lhe deixavam muito do seu pequenino corpo desnudado.
Fiquei aterrado. Um frio cortante ameaçava aquele menino, temendo que não resistisse ao gélido ambiente em que nos encontrávamos.
Aproximei-me dele e perguntei-lhe como era possivel não tremer de frio, mantendo-se totalmente alheio à temperatura que nos rodeava.
Tentei retirar o casacão que me cobria, desvairado com a sensação de medo e angústia pela miséria que nos rodeia, diariamente, sem nos sensibilizarmos minimamente.
A criança largou um rasgado sorriso, um misto de ternura e agradecimento, deixando a sua pequenina mão aproximar-se da minha cara.
Um singelo gesto de amor, daqueles que as nossas crianças, os nossos filhos ou netos, nos reservam nas ocasiões mais inesperadas, e nos deixam com uma incontida lágrima a escorrer pela cara. Aquela estranha sensação de que somos, apesar de tudo, seres divinamente protegidos, arrancados de qualquer matéria incompreensivel e desvalorizada.
Com a sua pequenina mão, traçou um risco no chão e convidou-me a observar. O risco rapidamente se transformou em imagens que se sobrepunham umas às outras, acabando por permitir que visionasse um crucifixo e umas gotículas de sangue.
Permaneci imóvel, de algum modo estarrecido e sem conseguir entender as imagens que se aglomeravam perante os meus olhos.
A seguir ao crucifixo e às gotículas de sangue, vi surgir uma fonte de onde escorria água tão límpida que permitia alcançar com os olhos o seu fundo. Em seguida, quase sem me aperceber dos seus movimentos, a criança envolveu-me com os seus bracitos e pediu-me para a resguardar no meu colo, encostando a sua pequenina cabeça ao meu ombro.
Cada vez mais enternecido e, de algum modo, temente, por não alcançar o sentido de tudo o que me estava acontecendo, apertei a criança contra mim e beijei-a. Acima de tudo, quereria que aqueles momentos nunca acabassem, que toda a vida se resumisse tão somente a isso.
Uma voz adulta, vinda de dentro daquela pequenina criatura, com um impacto de uma bomba de neutrões, deixou-me num transe inexplicável, mas possuido de uma enorme, incomensurável, sensação de paz. Disse-me a voz:
- A criança que levas junto ao peito é a única que salvará o mundo e os homens. Protege-a e proteger-te-ás. Toda a tua vida depende Dela. Todos os teus passos serão marcados pela forma como a protegeres com a teu calor. Esse menino deu-te a explicação de toda a tua vida. Com o crucifixo, penarás com dor e todo o sofrimento que possas imaginar. Com as gotas de sangue, chorarás a perda de todos os que te são mais queridos. Mas a fonte de água límpida é a tua redenção, a seiva que há-de transformar-te num dos Eleitos de Deus. O calor e a singeleza dos teus carinhos, serão medidos em quantidades que não conseguirás nunca dimensionar. O Juizo Final será dimensionado pela tua capacidade de AMAR.
Sem qualquer aviso, sem qualquer sinal, sem qualquer forma de explicação, fiquei só, entregue a mim próprio, revestido de uma sensação de calor que nunca havia sentido.
Acordei de sobressalto, envolvido num misto de perguntas e inquietações.
Uma lágrima insiste em toldar-me os olhos e libertar-se do cativeiro em que eu quereria mantê-la. É inútil!
Dou comigo a pensar na pequenez da minha vida, na pobreza dos meus actos, na angústia das minhas limitações humanas.
De quando em vez, uma estrela cintila com uma impressionante luminosidade neste nosso Universo, tão pouco sensibilizado para a entrega total, para o amor doado sem buscar agradecimentos e recompensas mundanas. Dar-se simplesmente. Amar sem limitações. Sofrer pela fé que alimenta a esperança da Eterna Felicidade.
Ao adormecer de novo, sonhei que estava num outro Mundo, em que os seres que me rodeavam se tratavam com igualdade, onde a pobreza havia sido derrotada pela solidariedade entre as nações, onde a dor fora mitigada pela compreensão entre todos os homens.
Sonhei que era preciso sonhar. Sonhei que era preciso querer. Sonhei que era urgente dar, muito mais do que receber.
E ao acordar apercebi-me de que a vida é, na realidade, uma dádiva divina que não deve, nem pode ser desperdiçada.
Que é urgente saber mudar. Que é urgente aprender a amar.
Então, quis que aquela lágrima que me caíra teimosamente, se transformasse num imenso lago de água tão clara e límpida que permitisse que todos os humanos lá pudessem mergulhar comigo. E daí emergíssemos limpos de todas as fraquezas que nos tornam mesquinhos, covardes e insensiveis à dor.
A realidade impediu-me de continuar a sonhar. Mas de cada vez que uma lágrima tentar libertar-se dos meus olhos, ela há-de transformar-se num singelo hino à solidariedade entre os homens.
Fernando de Sá Monteiro
Um forte abraço, João Cordovil e umas Santas Festas!
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