Como viviam os nossos antepassados
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Como viviam os nossos antepassados
Os nossos antepassados viviam mal. Com fome e com pouco dinheiro. Tinham frio e tinham de trabalhar arduamente: Junto um conjunto de fichas sobre alguns temas importantes para os nossos antepassados, esperando os vossos comentários:
Quaresma : « carême » em francês deve o seu nome, ao nome em latim «quadragésima » que significa o 40º dia antes da Pascoa. Importante era também o dia de “mi-carême”, ou dia do meio. A importância era devido aos jejuns que a igreja instituía. Eles eram a sexta-feira, dia da morte de Cristo, o sábado, dia em que ele esteve no seu túmulo, aos quais se juntou a quarta-feira, dia em que ele foi vendido por Judas. Era ainda dia de penitência cada véspera, i e a véspera de cada festa obrigatória, os dias das têmporas, correspondentes aos 3 primeiros dias do início das estações, os 3 dias que precedem a Ascensão, e por último pelo Advento (4 semanas antes do Natal) e durante a Páscoa. Assim os nossos antepassados apertavam o cinto, não somente quando as colheitas eram más, mas igualmente quando eram boas, pois teriam de fazer cerca de 200 anos por ano de jejuns e de penitências.
Mas as penitências ou jejuns eram obrigatórios, mas a Igreja interditava, nesses dias toda a actividade sexual. E tal não era brincadeira as “aproximações” de um marido junto da sua mulher durante os dias de penitência equivalia a condenações a pão e água durante 20 dias, se tal fosse confessado ao pároco.
Ora durante a Páscoa, os 40 dias eram demasiados longos, pelo que se “libertaram” seis dias, que eram os 5 domingos e o dia do meio ou o da “mi-carême”. Este dia era chamado igualmente o da “velha”, e, por isso, nas aldeias e pequenas cidades, os jovens se divertiam, provocando os velhos, lembrando-lhes que poderiam finalmente ter actividades sexuais.
Somente nesses dias se poderiam comer ovos, pois estes foram, durante muito tempo assimilados a “carne” e consequentemente eram interditos naquelas semanas. No dia de Cinzas, a dona de casa, preparava as suas caçarolas para que a família passasse a comer somente legumes e peixe.
Mas havia excepções: podiam-se comprar umas imagens de santos que davam indulgências de vários dias (conforme o preço) para quem rezasse determinadas orações diante da imagem.
A sexta-feira santa, dia da morte de Jesus, era evidentemente o dia do ano em que as penitências eram mais fortes. Tal traduzia-se por uma multitude de interdições, que se juntavam às interdições sexuais e alimentares. Toda a actividade era um sacrilégio! Não se podia trabalhar, forjar o ferro ou cavar a terra, pois tal seria cavar a sua própria sepultura. As interdições eram infinitas: não rir, não cortar os cabelos, não matar qualquer animal, não subir a uma árvore, não concluir um mercado ou contrato, nem fazer uma viagem, não cantar, não utilizar o martelo, etc.
Mas havia alguns bons presságios. Assim os ovos postos nesse dia, deverão ser guardados pois evitaram as quedas quando da colheitas dos frutos; colocados no estábulo afastam os malefícios dos animais; lançados num incêndio, apagam-no. Mas havia ainda uma boa nova: morrer nesse dia era uma felicidade, pois era-se dispensado do purgatório e preservado do inferno, pois as suas portas estavam fechadas nesse dia. No entanto o pão cozido nesse dia apodrecerá, mas em outros sítios afirma-se que durará todo o ano
Mas, no sábado, o padre fazia uma volta pelas casas para as abençoar. Ele aspergia-as, Bebia um pequeno copo de vinho generoso oferecido pelo dono da casa e partia para a visita seguinte. A dona da casa ia à igreja abastecer-se de água benta.
No dia seguinte os sinos repicavam, pois era o grande dia. Os sinos marcavam o tempo. Os nossos antepassados sabiam a hora olhando para o sol ou escutando os sinos. Notemos que não era importante saber a hora exacta pois não tinham que apanhar o comboio ou ver um determinado programa de televisão. Previa-se que tal trabalho fosse feito durante a tarde ou que demorasse o tempo de uma Ave Maria ou de um Pai Nosso, como se previa uma viagem para o domingo antes do dia de Todos-os-Santos ou para a segunda-feira depois do Carnaval.
As missas
O Domingo, consagrado a Deus, era obrigatoriamente um dia em que se não trabalhava. A missa era obrigatória e havias a todas as horas, para que não houvesse desculpas. A missa dura duas horas. Quer se resida longe ou que os caminhos sejam difíceis, a presença na missa dominical é obrigatória. De resto era também uma forma de encontro e para aproveitar para comprar algumas coisas no mercado que decorria perto da igreja. Canta-se em latim, sem se compreender o significado das palavras que se pronunciam. Cada um canta como pode pronunciando as palavras como quer. Outros aproveitam para falar com os seus vizinhos que não vêem há algum tempo. Outros ainda aproveitam para trocar umas palavras com o notário ou o tesoureiro. As crianças choram ou fazem pequenas asneiras chamando uns pelos outros, etc. Enfim, o interior da igreja é um verdadeiro cafarnaum, mas no exterior, a praça ou a feira estão sem ninguém.
Mas o grande momento não é o da comunhão que é pouco praticado pelos fiéis, pois se confessam pouco com medo de serem julgados pelo pároco e muitas vezes “multados” por não terem observado todas as prescrições da igreja. O grande momento era a prédica do pároco. Era um longo momento onde se era informado e aconselhado. Tal momento era tão aguardado como hoje o é um telejornal! O próprio Estado, o Rei, aproveitava a ocasião para passar a informação. De resto era o único momento em que o padre se expressava em português e que os nossos antepassados sabiam de uma vitória ou derrota na guerra, ou da morte ou casamento do rei, da chegada de um cometa, e de meras actividades locais ou nacionais. Lembremos que por volta de 1820, chegava a Leiria somente 3 exemplares de um jornal que tinha 4 folhas! Eram igualmente anunciados os nascimentos, os baptizados e os casamentos, solicitando, neste caso, às pessoas que conheciam impedimentos à sua realização, que se pronunciassem. Estes impedimentos eram, na maioria dos casos, pelos laços de parentesco dos nubentes, coisa normal, pois havendo pouca mobilidade toda a gente se casava com pessoas da mesma aldeia. Muitas vezes o pároco aproveitava a ocasião para dar uma dispensa excepcional para que se pudesse trabalhar em dias de descanso obrigatório para permitir terminar um trabalho agrícola atrasado.
O luto
Os lutos dos nossos antepassados duravam muito tempo e por outro lado estavam ligados a proibições de participar em reuniões e cerimónias “animadas”. Igualmente havia um código muito complexo nos meios burgueses. No século XIX, a viúva, durante os seis primeiros meses não podia usar que vestidos de lã negra, xales negros, chapéus com grandes véus de crepe, luvas e meias negras e ter somente lenços orlados de negro. Nos 3 meses seguintes o “uniforme” era aligeirado. Nos três seguintes, admitiam-se vestidos de seda negra e vestidos em tafetá no verão. Acabado o ano de luto, era ainda necessário que nos seis meses seguintes se fizesse um luto aliviado com vestidos de seda negra ou branca e negra ou violeta ou ainda roxo.
O luto era um culto e o seu cumprimento um dever e com uma clara hierarquia segundo o parentesco. Todos sabiam que os “grandes lutos” eram para os pais, filhos, viúvas ou viúvos e que duravam mais de um ano. Os dos tios ou das tias duravam 3 meses, os dos primos direitos seis semanas e dos primos, filhos destes, 3 semanas. Percebe-se assim que devido à importância numérica das famílias de antigamente, tenhamos conhecido as nossas avós sempre vestidas de negro, pois estavam de luto pelos primos direitos, pais, tios, ou de dezenas de primos mais ou menos afastados. E se houvesse um engano e o luto fosse aliviado quando ainda não era a altura, haveria sempre alguém que os lembrava de forma crítica.
Estes períodos de luto eram pontuados por missas pois havia que acompanhar (encomendar) as almas que durante um período de tempo estiveram no céu á espera da noite de lua cheia, pois as portas do céu só se abriam nessa altura. Havia diversas missas que eram realizadas, como a dos 4º dias depois da sua morte, a “do ano” e ainda aquelas que o defunto no seu testamento ou os seus, encomendaram contra o pagamento de determinadas somas.
O testamento
O testamento, quando era feito, visava menos garantir o destino dos bens temporais que os da alma. Assim em muitos casos encontramos registos paroquiais de óbitos, com a uma indicação das últimas vontades que foram ditadas ao padre. Outras vezes é o padre que no seu registo de óbito refere que deixou testamento.
O testamento, feito junto a notário, começava sempre mencionando o nome de Deus, invocando inúmeros santos e referia a forma como tinha vivido: “temente a Deus”, “respeitando os mandamentos”, etc. Seguiam-se as últimas vontades, mas quase sempre limitadas, ou quase, ao plano religioso. Com ofertas proporcionais à sua fortuna estipulava como queria ser enterrado e encomendava missas, novenas e celebrações (algumas perpétuas) mencionando o valor que deveria ser pago por cada uma. Depois indica os montantes a serem dados ao cura, a diversos estabelecimentos de caridade e a serem distribuídos pelos pobres durante o seu enterro. Por último menciona algumas somas para os seus mais próximos, afilhados e criados da sua casa.
Assim se preparava para o seu “passamento”.
O médico
O pediatra era considerado não necessário, pois não havia clientela para ele pois as crianças eram incapazes de dizer o que sentiam!. Oftomologista? Mas para que serve consultar um oftomologista se em todas as feiras se podiam encontrar vendedores ambulantes que nos proponham uma panóplia de lentes. Os cuidados dentários estavam a cargo do ferreiro da aldeia pois com ajuda das suas pinças e alicates arrancava os dentes que doíam. A escova de dentes era naturalmente desconhecida. Como se comia muita batata, mão e pouca carne (pois esta era cara), não ter dentes não fazia muita diferença.
Antes dos anos 1850-70 o cirurgião ignora a anestesia ou os anticépticos. Deixando os problemas “interiores” ao médico, o cirurgião dedica-se às partes externas como tumores, úlceras, feridas, fracturas, etc., que ele cura lancetando. Durante muito tempo ele era o barbeiro, pois durante muitos anos estas profissões foram confundidas. A única obrigação instituída ao longo dos anos era de ter uma insígnia que indicava que tinha frequentado uma formação. Assim os cirurgiões que tinham passado por uma escola tinham uma bata longa e os vulgares cirugiões-barbeiros uma curta. Para estes, como de resto para os dentistas, não era necessário qualquer diploma ou estudos .
Os farmacêuticos acumulavam as profissões actuais de droguista e de ervanário. Eram eles que preparavam as “cataplasmas” ou ainda forneciam as sanguessugas tão usadas para sangrar um doente com febre.
Por último o veterinário era inexistente. Haviam uns “artistas” que em concorrência com alguns “feiticeiros” faziam tratamentos aos animais e nomeadamente a castração.
Finalmente, era Deus, a natureza e os seus milagres que eram, em última análise os que podiam vir a curar um doente no tempo dos nossos antepassados.
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro ou Cara Chartri,
Considero o seu texto de um enorme interesse e de grande importancia actual.
O que eu retiro do seu texto e da História , é que a Igreja Católica Apostólica Romana, é tudo o que Jesus Cristo criticou, é tudo o que ele não queria que se torna-se, milagrosamente ainda existe.
Sendo eu Católico, vejo-me cada vez mais confrontado com a terrivel verdade. A Igreja hoje para mim não é a instituição, ela nada tem de Cristo, a Igreja para mim são as Pessoas. A Igreja é o Homem, tal como Cristo o Foi.
Se vermos que hoje o Boticario, ja não é o Farmaceutico, que o Ervanario ja não é o Farmaceutico, que comemos todos os dias, sem ter de cavar a terra ou criar Porcos, a carne o peixe e os Ovos abundam nas mesas dos Portugueses, o Jejum ja não impera, os Médicos tentam curar doenças, os cirurgiões Operam, os Dentistas são Médicos, ou seja em quase tudo evoluimos, mesmo na Religião, mas esta ultima a sua evolução é insignificante, continuando em muitas aldeias e Vilas Portuguesas, e até em Lisboa, Padres que condenam, que castigam que criticam, que tentam controlar a naturalidade do acto sexual e a consequencia natural que é o planeamente familiar, passando pelos metodos de concepção e pelas novas leis de aborto.
O papel da Igreja na nossa historia é mais que secundária, está estritamente ligada ao nosso passado e ao nosso Futuro. E dela deveremos tirar Culpas e Virtudes que tambem as teve, mas com certeza nessas virtudes não esta a Inquisição ou o Fachismo.
Muitos Parabens pelo seu trabalho,
Sinceros Cumprimentos
João da Silva Gaspar
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Estimado Chartri:
IX-1.1.4 .1 PAULO DE ....
Nasceu em Chaves. 1781(?)
Bacharel formado em Medicina, Médico Militar com o grau de Sargento-Mór, Cavaleiro da Ordem de Nsª Srª da Conceiçâo de Vila Viçosa, RGM D. Maria II, liv.11,fl.215v-216: Carta de 13.04.1840. Delegado do Fisico-Mor do Reino, na Comarca de Chaves, RGM D. Maria II, liv.1,fl. 95-96: Carta de 28.08.1834.
Teve Carta de Brasão passada a 18 de Novembro de 1818...
Nâo estou a ver que na època que indica que fossem uns simples barbeiros...
Pelo menos na UC já se formavam em 1800 como médicos... Seria muito exigir a barbeiros fornmarem- se na UC.
Seria a diferencia em que os de bata curta, como sabiam curar os cortes que faziam durante a barbada, se dedicariam a enfermeiros?? Mas daí a médicos...
Estaremos a ir a tempos mais remotos, nâo??
Verterinários: O mesmo, já havia em 1800 gente que passava pela UC.-
Cumprimentos,
Fernando
P.S. Nâo há que exagerar nos tempos e a apreciaçâo deste deverá ser mais cuidada e um barbeiro... ter tanta comenda e Brazâo...-
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro João da Silva Gaspar:
Não sendo objectivo deste fórum a discussão de temas relacionados com Religião, não posso deixar de dizer que estou de acordo consigo, no essencial.
No que diz respeito à Igreja Católica, existe um pouco de tudo: Desde sacerdotes modernos, arejados e perfeitamente adaptados aos tempos modernos, até aos mais retrógrados, diria mesmo medievais.
A posição oficial da Igreja Católica é, em relação a muitas questões, também ela medieval, mas em relação a outras nota-se alguma evolução.
Eu pessoalmente sempre aprendi a diferenciar as águas: Deus é anterior e causa de tudo, ao passo que a Igreja (Católica ou outra qualquer...) é sempre uma criação do Homem, seja ela encarada como uma instituição, seja como um conjunto de regras e princípios doutrinários.
A Igreja Católica não é perfeita, mas também não vejo grande perfeição nas demais confissões...
Cumprimentos,
João Pombo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Exmos Senhores,
Concordo que este não seja o local mais apropriado para expor o que se segue, mas dados os debates dos últimos dias em todos os meios de comunicação social, os ataques de que é alvo a Igreja, e a ignorância que demonstram aqueles que a atacam sobre a realidade da mesma, não resisto em escrever o que se segue.
Custa-me, nos dias que correm, ver (para meu grande espanto!) aqueles que, dizendo-se católicos, não se cansam de qualificar negativamente a Igreja não se poupando a ataques gratuitos e que denotam um profundo desconhecimento dessa realidade a que dizem pertencer.
Se em vez de criticarem procurassem conhecer o seu verdadeiro rosto perceberiam melhor que a devem olhar como «Mater et Magistra», como mãe e mestra; ou seja, com amor filial e reverente e com humildade, aceitando-a como mestra de vida.
Uma primeira nota:
A Igreja é una. Só há uma Igreja de Cristo. O EST da eclesiologia clássica, que afirmava que a Igreja Católica era a verdadeira Igreja de Cristo, foi substituído –criando, a meu ver, alguma confusão - pelo pós conciliar SUBSISTIT, que, por sua vez, afirma que na Igreja Católica subsiste a única e verdadeira Igreja de Cristo.
A Igreja é Santa. Não santa e pecadora, note-se. É Santa porque instituída pelo próprio Cristo e habitada continuamente pelo Espírito Santo. Se bem que formada por homens, não se confunde com as suas fraquezas.
A Igreja é católica (universal) porque sacramento de salvação para todos os homens.
A Igreja é apostólica porque se funda na autoridade dos Apóstolos. Cristo nada escreveu; aquilo que conhecemos da sua doutrina, vida e obras foi-nos transmitido pelos Apóstolos que, pela sua autoridade, derivada do pessoal e íntimo contacto com o Mestre, e pelo mandato deste de baptizar «todos os povos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo», deram continuidade à obra de salvação querida por Cristo: a Igreja.
E, finalmente, a Igreja é Romana porque como disse Cristo a Pedro: «Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam…» e, obviamente, o Papa, sucessor de Pedro e autoridade máxima do catolicismo, habita em Roma.
Sr. João Gaspar,
É de facto um milagre a Igreja ainda existir, mas não no sentido negativo que o sr. lhe quis dar. Se quiser posso antes dizer, é maravilhado e em acção de graças que vejo a sobrevivência da Igreja ao longo destes quase 2000 anos! É esse o sentido do milagre.
Como corpo místico de Cristo a Igreja é eterna, daí que se falem em três dimensões da Igreja, a triunfante, que no céu goza as delícias do paraíso, a purgante, que se purifica para se encontrar com o Esposo e a militante que, aqui na terra luta contra a fragilidade e o pecado… assim, a Igreja não acabará nunca. Nascida no Calvário é, e será para toda a eternidade.
Assim, tem toda a razão quando diz que a Igreja é o Homem, não o género humano, mas o Homem perfeito: Jesus Cristo. Não sei se sabe mas o Concílio Vaticano II definiu a Igreja como o Povo de Deus. Porquê? Exactamente pela razão que se diz que esta é habitada pelo Espírito Santo que está em cada um dos baptizados. Como diz S. Paulo, somos membros diversos de um só Corpo e cada um tem a sua função e os seus carismas. Não valem mais uns do que outros, se bem que pela sua importância, dedicação e responsabilidades haja uns que merecem mais reverencia do que outros, até porque a si posso perdoar (e até compreender) algumas asneiras, coisa que não faria ao bispo da minha diocese…
Quanto a « Padres que condenam, que castigam que criticam, que tentam controlar a naturalidade do acto sexual e a consequencia natural que é o planeamente familiar, passando pelos metodos de concepção e pelas novas leis de aborto», não faço comentários. Sugiro simplesmente que se atenha ao Catecismo da Igreja Católica e aos ensinamentos dos Papas. João Paulo II foi pródigo em encíclicas.
«O papel da Igreja na nossa historia é mais que secundária, está estritamente ligada ao nosso passado e ao nosso Futuro.» Esta não percebi. Se é secundário (o papel) como pode estar intimamente ligada ao nosso passado e ao nosso futuro?
Em relação a culpas e virtudes não faço comentários. A História fala por si.
Sr João Pombo,
Não sei se é católico, no entanto remeto-o para o parágrafo introdutório ao meu texto onde se tenta explicar rapidamente a natureza da Igreja.
Quanto ao lugar comum de achar que as opiniões da Igreja são medievais e que, em oposição a certos arejamentos, existem padres medievais, devo depreender que afirma que os medievais serão aqueles os que se mantêm fiéis à sã doutrina, ou seja, aos ensinamentos daquela a quem prometeram servir…
Uma pequena chamada de atenção. A doutrina da Igreja e os seus ensinamentos baseia-se na Tradição e na Revelação (entendendo-se por esta a Sagrada Escritura, que também é Tradição, embora passada a escrito). Assim sendo, nada do que a Igreja afirma hoje pode contradizer o que ela afirmou, por exemplo, no século XII (atenção que falo em matéria doutrinal e de moral e costumes!) A Igreja não se pode contradizer a ela própria.
Chama-se a isto o depósito da fé, de que o Papa, e os bispos em união com ele, são os mais visíveis guardiães, e que qualquer católico deve conhecer respeitar e amar. Os sinais dos tempos reflectem-se na forma e com os olhos com que cada geração vê e reflecte em cada uma destas verdades. Pode-se dar realçar, em determinado tempo, um aspecto sobre outro, mas nunca se pode negar nenhum ponto daquilo que afirmou e afirma a fé católica.
Para terminar, lembro-lhe que quando se baptiza alguém na fé da Igreja o padre pergunta ou ao próprio ou aos padrinhos:« Quid petis ab Ecclésia Dei?» (o que pedis à Igreja de Deus?), ao que eles respondem:«Fidem!» (a Fé!); novamente pergunta: «Fides, quid tibi præstat?» (e a Fé, para que vos serve?) eles respondem: «Vitam aeternam.» (para a vida eterna.)
Para bom entendedor meia palavra basta.
Historicamente a intervenção do confrade Chatri tem muito que se lhe diga. Passo a explicar, muitas das práticas que o sr. apresenta como preceitos da Igreja, não passam muitas vezes de superstições populares assumidas dentro de uma religiosidade muitas vezes mal compreendida; outros são reflexos de uma profunda religiosidade que sacralizou a vida quotidiana em vários dos seus momentos.
Não hesito em dizer que, pelo que conheço da História da Igreja, o texto que apresenta está descontextualizado, é pobre porque não esclarece e induz em erro.
Sucintamente:
A questão dos jejuns é claramente exagerada e confunde jejum com abstinência. Jejum é a privação de alimentos e abstinência é a privação de carne, naquele tempo coisa rara.
Ainda hoje se pode ler na página do Patriarcado de Lisboa: «A 21 de Fevereiro próximo, inicia-se a Quaresma pela Imposição das cinzas. São dias de jejum a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-Feira Santa; são dias de abstinência os dias de jejum e as Sextas-Feiras da Quaresma.»
Não considero que seja uma coisa negativa. Ainda hoje, graças a este preceito, em casa dos meus pais come-se peixe às sextas feiras… não vem daí mal nenhum ao mundo, e é da forma que recebemos alguns nutrientes essenciais exclusivos ao tão odiado peixe!
É claro que no passado havia uma mais rigidez mas esta não era de todo negativa em si. Dias litúrgicos de penitência não equivaliam a dias de jejum. A vigília de determinada festa litúrgica importante era sempre de penitência como preparação para esse evento. Até os paramentos eram roxos. O jejum servia de purificação na medida em que libertava um pouco dos excessos alimentares centrando a pessoa no essencial. Existe um santo (muito recente) que dizia que se não fazemos sempre um pouco de sacrifício à mesa comemos como um pagão…
Hoje há quem jejue simplesmente para se sentir bem com o seu corpo e para estar na moda… é tudo uma questão de prioridades.
Quanto à sexualidade não faço comentários, parece uma fixação nos dias que correm!
Indulgências ainda hoje são concedidas…
Agradeça à Igreja o facto de ter feriado na Sexta-feira Santa. Assim tem um fim-de-semana prolongado, acrescido muitas vezes da tarde de Quinta… é assim tão mau?
Quanto às Missas era difícil que demorassem duas horas. Estamos a falar de uma paróquia de província não na Santa Igreja Patriarcal de Lisboa! O padre muitas vezes tinha de dizer várias Missas numa manhã e não se podia dar ao luxo de demorar duas horas em cada uma. Dá para perceber porquê.
Não era costume a assembleia cantar, muito menos em latim. A Missa normalmente era rezada e o padre, quando a solenizava um pouco mais cantava algumas partes que só a ele diziam respeito. Nas Missas solenes com ministros havia mais partes cantadas mas estas eram exclusivas do coro que dialogava com o celebrante.
E assim por diante.
Todos os outros tópicos mostram que realmente a fé guiava o dia-a-dia do povo. Será isso mau?
Cumprimentos,
Alberto R. Sapinho
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Sr. Engenheiro
Adorei a informação prestada, até porque já várias vezes me tinha imaginado na época e tentado vislumbrar determinados procedimentos face aos preceitos religiosos e ao rigorismo vigente. Realmente os nossos antepassados não deviam viver lá muito felizes nem ter , graças a Deus para eles, mentes muito arejadas! A paz e o socêgo, se os havia, deviam ser a parte boa da sua vida, em contraposição ao actual stress! Bom, sendo eu mulher, ainda menos gostaria de ter vivido nesses tempos.
Com os meus melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Alberto R. Sapinho
Os meus parabéns pela forma desassombrada como tetsemunha a Fé.
Como é óbvio não se podem confundir, a bem da inteligência, os ensinamentos de Cristo e doutrina dos homens. O Homem é pecador, seja ele leigo ou Papa, e quando se quer alçar acima da sua própria dignidade normalmente cai em asneira...Por isso tivemos Papas que foram mais temporais que espirituais e, ainda hoje, temos muitos católicos para quem a Maior Glória de Deus se confunde com o seu bel-prazer.
Quanto aos apontamentos históricos também concordo consigo. Eu nasci e fui muitas vezes à Missa antes do Concílio Vaticano II, que era em Latim e, por vezes, cantada. Não sei como era nos sécs. XVIII e XIX, mas também não creio que durasse as tais duas horas (não estamos a falar de Solenes Pontificais, pois não?). Até pelo texto original em que se diz que havia missas a todas as horas, se conclui que era impossível haver uma duração tão grande. Mas isso não é importante.
Hoje em dia há celebrações eucarísticas, mesmo em Portugal, que demoram várias horas, por opção daqueles que nelas participam.
Finalmente, não concordo consigo quanto cita os ritos litúrgicos em latim. Nenhum dos meus filhos foi baptizado em latim e o que eu pedi à Igreja, em seu nome, foi a Fé e não Fides. Isto para que todos nos entendamos sobre o que pedimos e os compromissos que assumimos.
Cumprimentos
João Cordovil Cardoso
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Exmo Senhor,
Muito obrigado pela sua mensagem.
Não sei que idade terão os seus filhos mas provavelmente já foram baptizados no rito reformado em português.
A transcrição que fiz foi tirada do original do Rituale Romanum 1952: Ordo Baptismi Parvulorum com a intenção de mostrar a responsabilidade de um baptizado em relação ao que recebe da Igreja: a Fé. Também para esclarecer que não se é católico só porque sim ou em partes, mas que, quando se aceita esta Fé com humildade e filial devoção, há algo que somos obrigados a defender custe o que custar.
Não citei o rito actual pela simples razão que este não ilustra tão bem esta realidade pois contém muitas admonições e catequeses que vieram substituir o símbolo "puro e duro", sendo difícil perceber o essencial. Assim sendo, foi mesmo em latim para ser mais fiel à tradição.
Quanto à Missa, poder-se-ia escrever uma infinidade de coisas. Para mim é óbvio que o texto é incorrecto e que se exagera coisas só para manchar a Igreja e exaltar a nossa vaidade pessoal e muitas vezes o nosso egoísmo (contra mim falo!).
Também eu conheço bem o rito pré conciliar e acho difícil adequar a realidade que conheço às afirmações deste tópico.
Enfim, agradeço-lhe o seu reparo.
Cumprimentos,
Alberto
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Alberto Sapinho:
Sinceramente, não me parece que para se ser católico seja necessário concordar com tudo aquilo que emana da Igreja Católica, enquanto Instituição secular, com uma organização complexa, regras, rituais e procedimentos próprios.
Se assim fosse, de um dia para o outro a I.C. iria perder centenas de milhares, porque não milhões de fiéis espalhados pelos quatro cantos do Mundo...
Não conheço um único católico que não aponte críticas à I.C. e não falo apenas das questões ditas de mais mediáticas, como o aborto, o preservativo, a ordenação de mulheres, etc...
Eu, p.ex., como cidadão livre e apesar de educado na I.C., baptizado, etc, aponto críticas à mesma, não deixando por isso de ser católico e de defender a Igreja (enquanto Instituição) contra muitas das investidas injustas de que tem sido alvo.
Quanto à Fé, a questão é outra e também interessante, todavia extravasa muito do âmbito do fórum.
Cumprimentos,
João Pombo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro confrade Chartri
Que INTERESSANTE tópico criou.
Sempre gostei muito de saber dos costumes e até, dentro do possível, da vida quotidiana das gerações anteriores a nós. Quando uma simples msg. ,além da informação genealógica respeitante ao tema, lhe dá vida, isto é: mencionando factos e acontecimentos, uma certa "bisbilhotice" que possa vir a público ou é pública,curiosidades que complementam a informação fazem as delícias do tipo de genealogia que aprecio muito.E que pratico, aqui no Fórum, muitas vezes.
Temos alguns, ex. de genealogistas,sobretudo Senhoras, que cultivam este género de abordagem e conheço trabalhos inéditosdeste género e alguns possuo, a cuja amizade e consideração dos seus autores os devo. Quando os releio é como se estivesse a ver um filme daquela/s família/s; como que oiço a voz das pessoas, leio os seus olhares e vivo as alegrias e dramas familiares dessas personagens.São romances históricos na urdidura, mas é a realidade, não é imaginação.Tanto mais que a doc. e bibl. e a seriedade das autoras o atestam.
A genealogia, repito até à exaustão, é tb. reviver o passado e até o passado da nossa época; é vida e não apenas lista de personagens e relatos de acontecimentos, secos e sem alma que, infelizmente, a maioria das vezes tem de ser assim,por respeito da intimidade a quem se referem, quando estão ainda na "nossa" companhia.
As considerações anteriores faço-a porque acho que a abordagem DESTE tópico contribuindo para o conhecimento da vivência da gente de antanho e suas dificuldades, ajuda a compreender melhor a vida dos nossos antepassados,segundo o conceito que tenho da Genealogia em geral e particularmente de minha família.
Cumprimento quem já aqui deixou valiosas informações, confrades por quem tenho grande consideração pelo seu saber, sempre posto ao nosso alcance.
Com os melhores cumprimentos,
Rafael Carvalho
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Exmo Senhor,
Tem razão, a Fé extravasa o âmbito do forum, mas em resposta à sua mensagem cito Pio XII no seu famoso discurso de Pascoa na véspera das eleições na Itália do pós guerra (não sei precisar a data) onde estavam prestes a ganhar os comunistas:
«Non c'è luogo di pusilanimità; o con Dio o contro Dio; o con Cristo o contro Cristo; o con la Chiesa o contro la Chiesa...»
Não lhe faz lembrar o evangélico «Sim sim, não não»?
Quanto à ordenação de mulheres a questão foi arrumada definitivamente por João Paulo II num documento que se assemelha muito na forma a uma declaração "ex cathedra". Ainda há pouco tempo o cardeal Walter Kasper escreveu ao chefe da Comunhão Anglicana afirmando a posição da Igreja Católica em relação à ordenação de mulheres (os anglicanos ordenaram mulheres-bispo), condenando-a e fazendo ver que esta só os afasta ainda mais da tão ambicionada comunhão.
O preservativo é uma questão decorrente da moral sexual da Igreja. A Igreja não é contra o preservativo em si nem pretende o alastrar das DST's! Perceba isto de uma vez por todas! A questão do preservativo faz parte da doutrina sobre os métodos anticoncepcionais, simplesmente isto. Mais, a Igreja ensina que não se devem manter relações sexuais fora do matrimónio. Sabe porquê? Porque a sexualidade humana e o amor entre um homem e uma mulher são de tal forma importantes que Cristo os elevou à dignidade de sacramento. Como a natureza humana é frágil - e a busca de prazer egoista pode acontecer entre o casal, na sua vida sexual -, pela graça sacramental do matrimónio os esposos recebem uma efusão de Espírito Santo que, pela confiança em Deus, lhes permitirá ultrapassar todas as dificuldades e egoísmos. Sexo egoista de prazer pelo prazer, é isso que é condenado.
Acha que a um penitente que se vai confessar de ter mantido relações sexuais fora do âbito do matrimónio o padre está preocupado em saber se ele usou preservativo? Saiba também que o atentado contra a própria vida ou a de outra também é pecado!
Quanto ao aborto excuso-me de lhe responder... penso que já terá percebido o que diria.
Não é a sua fé que conta, com tudo o respeito essa não passa da sua fé. O que conta é a Fé da Igreja
Sem mais. Cumprimentos,
Alberto.
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Chartri
Não venho em defesa dos Médicos nem é essa a minha intenção, mas queria deixar só um apontamento sobre dois, um meu conterrâneo e o outro perto disso.
O 1º, João Rodrigues, de Castelo Branco mais conhecido por Amato Lusitano, sobejamente conhecido com direito a estátua e tudo em Castelo Branco.
Nasceu em Castelo Branco em 1511. Tirou o Curso de Medicina em Salamanca. Viveu em Lisboa, Antuérpia, Itália onde foi Professor na Universidade e em Salónica. Publicou várias obras sobre medicina, todas elas célebres.
O Outro, António Nunes Ribeiro Sanches, Médico, Filósofo e Pedagogo nasceu em Penamacor em 1699 publicou várias obras e exerceu en vários sítios. Foi entre outras coisas médico na Rússia. Não me diga que foi para a Rússia como barbeiro de Catarina a Grande!
Cordiais cumprimentos
Manuel da Silva Rolão
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Ex.mo Senhor:
A citação de Pio XII, em circunstâncias muito concretas e perfeitamente balizada no tempo, faz-me lembrar, isso sim, outras posições que agora prefiro não recordar, algumas bem mais recentes.
Quanto à ordenação de mulheres, confesso que é tema que não me tira o sono, mas não vejo qualquer inconveniente, posto que outras confissões o fazem, nomeadamente a Igreja Anglicana, que como saberá está muito próxima da Católica (muito mais que o Calvinismo, Metodismo, Baptismo, Presbiterianismo, etc...).
Em relação ao preservativo, não me recordo de alguma vez ter opinado sobre tal neste fórum. Não percebo por isso o seu "Perceba isto de uma vez por todas!"...
Termino pelo óbvio: De facto, não é a minha fé que conta, é a de todos nós, católicos (e não católicos).
Felizmente, que muitos católicos sabem conciliar a sua fé com a modernidade, adaptando-se às novas realidades, muitas das vezes com o apoio tácito ou expresso da pp. Igreja, que se quer aberta ao Mundo e a todos os Homens, e não fechada e obsoleta, excessivamente ritualista e afastada da realidade.
João Pombo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Exmo Senhor Sapinho,
Tinha decidido não lhe responder, mas é mais forte que eu. Os seus pensamentos são na realidade importantes e portanto seria um "pecado" não responder. E digo que não queria responder, não porque não o mereça, mas como este é um forum de Genealogia, se começamos a discutir idealogias e Teoligias invadimos o Forum e as nossas mentes com algo que não é a genealogia e isso não esta correcto.
Mas como eu estava a escrever, é mais forte que eu, tenho de lhe responder, e isso porque o Exmo Senhor focou exelentes questões.
Portanto, o senhor afirma que a fé do Confrade João Pombo, não é mais que a fé dele, que o que importa é a Fé da Igreja (???)
E eu que pensava, que a Igreja é o Homem, e cada Homem tem a sua fé como individuo, e como individuos, fazemos parte de um colectivo. Logo a FÉ da Igreja e a Fé Individual do HOMEM , sejam a mesma FÉ! (?)e logo com a mesma importancia.
Logo a minha Fé ou a sua é tão Importante como a Fé do Papa aos Olhos de Cristo e de Deus seu Pai. Ou não? O problema é que se calhar não! lol
Lembro que no Sec. XVI a Rainha de Inglaterra, foi excomungada pelo papa tais como os seus subditos, sendo apenas salvos os que se mantenssem fieis à Igreja Católica ( ora aqui esta uma atitude humana e irmã, lol), mas o que acontece ao ser excumungado? vamos para o Inferno? o País seria aniquilado pelos seus inimigos? hum? Vejo hoje que os Reis Portugueses que nunca foram excumungados e deviam ter Grande Fé, maior e mais importante que a fé do Povo, não tiveram tanta sorte como os seus congeneres Ingleses, que ainda hoje são uma das mais Poderosas Dinastias do Mundo, e o Reino Unido em muito se destaca de nós enquanto País! Porque não foi o Reino Unido Castigado Por DEUS?
Se calhar porque Deus não é Pertence de Ninguem, porque Deus esta em Nós, porque DEUS não Obdece a um Papa...
Outro facto que me intriga verdadeiramente é o conceito de Pecado para o senhor e alguns Católicos. O que é o Pecado? Ter relações sexuais sem ser casado é Pecado? Aos olhos de quem? Pecado é o Padre do seu exemplo exactamente não se preocupar se uma das Ovelhas do seus rebanho, teve relações sexuais sem qualquer tipo de protecção, pecado sim, pois não se preocupa com a saude da sua comunidade.É engraçado como o senhor diz que Jesus dava grande importancia ao matromónio. Claro que devia dar. o Matromónio para o Judeus era e é de grande importancia e Jesus sendo Judeu aos 30 anos seria com toda a certeza casado não?
"Porque a sexualidade humana e o amor entre um homem e uma mulher são de tal forma importantes que Cristo os elevou à dignidade de sacramento. Como a natureza humana é frágil - e a busca de prazer egoista pode acontecer entre o casal, na sua vida sexual -, pela graça sacramental do matrimónio os esposos recebem uma efusão de Espírito Santo que, pela confiança em Deus, lhes permitirá ultrapassar todas as dificuldades e egoísmos. Sexo egoista de prazer pelo prazer, é isso que é condenado." ... Sapinho Dixit.
Portanto ao longo dos seculos o Homem casa pela Igreja Catolica e o homem "recebe uma efusão de Espirito Santo"?
hum....ok
adiante!
Agora tenho eu uma pergunta a si, ja que sou jovem e a minha experiencia de vida é pouca.
Porque é o Sexo pelo Prazer um Pecado? Só devemos ter sexo para a procriação?
Ou por que é considerado o Prazer um egoismo?
Porque não pode o HOMEM ter prazer e Viver e tem de ter regras anti prazer, anti natura?
De tudo o que li na Biblia, de todos os Teologos que ja ouvi falar, nunca ouvi ninguem dizer que Jesus condenou o Sexo e o prazer, ou jamais ouvi dizer que : JESUS CONDENOU QUEM QUER QUE FOSSE, sempre me foi ensinado que JESUS PERDOOU, ele queria ensinar que a fé não tem hierarquias, não tem barreiras nem fronteiras nem credo. que Somos TODOS filhos de DEUS, Jesuitas, Cristãos, Muçulmanos, Indus, Budistas, Ortodoxos, Protestantes e Ateus e Agnosticos.e todos os outros. Ensinou que devemos tratar o Proximo como gostariamos de ser tratados. e no entanto o Senhor continua com um discurso em Nome de Cristo ( que acho fantastico) completamente abusivo e castrador.
Em algumas conversas com Teologos que fazem Doutoramentos no Vaticano, nunca vi ninguem com as suas ideias, mas ele devem ter Fé menor, ou concerteza serão como eu Maus Cristãos.
O facto de Criticar a minha Igreja não faz de mim mau Cristão, tal como não faz de mim mau filho de Criticar um mau precedimento do meu pai. Mostra antes o meu AMOR quanto filho do meu Pai e da minha Igreja. Pois aos que Amo quero que sejam Maiores e Nobres de ACTOS, Justos e Perefeitos. Muitas vezes cresci a pensar que o meu pai não tinha defeitos, não pensamos todos o memo do nosso pai? mas o meu pai tal como os outros pais do mundo, é humano e tem defeitos e qualidades e é o meu dever como filho ver esses defeitos e qualidades e ajudar o meu pai a melhorar.O mesmo na minha opinião deve ser deito com a nossa Religião, de que me serve citar Papas ? se eu não entendo o proximo? Ou não me faço entender? se a Igreja é feita dos Homens , é obvio que vai comportar os seus defeitos, e não seria melhor filho da Igreja se ignorar os seus defeitos, mas sim serei melhor Cristão se tentar melhorar nos nossos defeitos e entender as pessoas que nos rodeiam!
Sinceros Cumprimentos
João Paulo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Senhor Manuel,
Eu não venho aqui em Defesa de Chartri, mas acho que o senhor nao entendeu bem.
Médico e Cirurgião no Sec XVI/ XVII/XVIII não eram equivalentes.
Uma Vila com Dinheiro teria um Médico Licenciado, sem ele teria um Cirurgião.
O Confrade Chartri, separa bem estas duas profissões antigas e não semelhantes.
Chama mos hoje de Cirurgião ao Médico que executa operações, porque é o médico que tem a navalha! e muitos de nós ainda vemos essa grande diferença entre Cirurgião e Médico mesmo no seculo XXI, imagine a alguns seculos atrás!
Na realidade os Barbeiros tinham formação para tratar algumas doenças,dai a diferença entre cirurgião de bata curta ou longa.
Logo o Chartri não queria de todo denegrir a imagem de niguem , nem de nenhuma profissão, antes veio e segundo o meu ver, mostrar um trabalho deveras importante e bastante revelador de uma época.
Cumprimentos
João da Silva Gaspar
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Senhor João
O senhor é que não entendeu.
Cumprimentos
Manuel da Silva Rolão
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro João Paulo:
Não me fica nada bem dizer isto, mas digo-o perfeitamente convicto e com uma "fé" inabalável:
Nós (O João Paulo e eu) é que temos razão, e se soubermos viver respeitando não só os Mandamentos da Igreja Católica mas também todos aqueles ditâmes de outras confissões, e que no fundo são os mesmos, seremos um dia recompensados por Deus, seja de que forma for.
E se até esse momento, que espero demore muitos anos e cheios de saúde, formos criticando de forma responsável a Igreja Católica e usando preservativos sempre que tal se justifique, não seremos certamente castigados por isso, do que também estou certo.
Um abraço,
João Pombo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Exmos Senhores,
Obrigado pelas vossas mensagens.
Penso que fui bastante claro naquilo que escrevi, logo excuso-me de desenvolver mais o assunto.
Dou por terminada a minha intervenção neste tópico.
Os meus melhores cumprimentos,
Alberto Reis Sapinho
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Senhor Manuel,
Se não entendi , terá o Senhor a amabilidade de mo esplicar?
Cumprimentos
João da Silva Gaspar
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caríssimos.
A viver mal mas deixando descendência que abonde Hoje é oque se vê até querem que se paguem abortos sem usofruir do respectivo fabrico. Assim vai deixar de haver contribuintes. e não os havendo, também não precisamos de governo e pode ser que se volte ao antigamente.
abraços
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Pois é...e então se deixarmos todos de fumar e de andar de carro, não sei como vai ser... mas certamente que os excelentes governos deste País vão inventar outras formas de nos "roubar" descaradamente, com as devidas chancelas legais, claro!
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Como viviam os nossos antepassados - a ascensão so
Agradeço as achegas que fizeram a este meu texto. Com estes textos, irei procurar mostrar como a vida era diferente para os nossos antepassados. A influencia do Rei mostrava-se a nivel nacional; a da igreja a nivel local.
Mitos dos relatos de estrangeiros (ver:http://genealogia.netopia.pt/forum/msg.php?id=132633) que relataram as suas visitas a Portugal, dando-nos exemplos de como se vivia no nosso pais. Um deles lembrava que ao entrar em Leiria, cidade que se desenvolvia na baixa junto ao rio Lis, tinha de um lado o castelo, e do outro lado o monte onde se situa a Igreja de N S da Encarnação, mostrando que o poder temporal era balanceado pelo religioso.
Coloco a seguir um texto , resumindo a ascenção social dos nossos antepassados. Fico a aguadar os vossos comentários:
A ascensão social
A fortuna de uma família raramente ultrapassa 3 gerações! A primeira amealha, a segunda aproveita e a terceira delapida o que resta. È tão difícil de manter uma fortuna como de a obter.
Os nossos antepassados viviam numa sociedade constituída por diversas camadas sociais sobrepostas, mas não impenetráveis e entre elas era possível evoluir se se fosse paciente, pois a progressão era sempre lenta. Somente os mais pobres, os jornaleiros , os criados e os trabalhadores nas cidades ou nos campos tem pouca esperança de sucesso, a menos que um bom casamento lhes permita um salto nas suas condições de vida.
Muitas vezes os nossos antepassados trabalhadores rurais tinham um aliado, muitas vezes um membro da família, na pessoa do “tio padre”. Uma criança apoiada pelo cura da aldeia, era uma garantia de sucesso para uma família que poderá vir a beneficiar desse apoio, pois esse “tio padre” exerce o seu ministério numa paróquia vizinha, e encarrega-se da sua educação e ira promover a sua formação introduzindo-o como aprendiz, junto de um comerciante ou “industrial” da vila mais próxima.
Esse “tio padre” promoverá igualmente alianças familiares entre algumas famílias mais ricas da sua paróquia. No segredo da confissão pode sempre deixar cair algumas palavras deixando entender que o bom Deus será mais clemente aqueles que vendem as vacas a Joaquim e não ao Manuel. Muitas vezes vemos que o cura não morre pobre, deixando à sua família um bom pé de meia. Se o comerciante era o iniciador da ascensão social, o padre era quase sempre o motor e é raro não encontrar um junto das famílias que conseguiram subir na vida.
No entanto, no século XIX tudo começa a mudar, nomeadamente pela aparição de funcionários do Estado, como os juízes, os conservadores e o nascimento de profissões que consideradas com algum prestígio, como o ourives, o farmacêutico, o médico e mesmo o oficial do exercito. Nos finais do século XIX aparece ainda uma nova profissão de prestígio e influência: o professor, nomeadamente nas aldeias e nas pequenas vilas. O padre perde então a exclusividade de influência .
Hoje, certas profissões ou certos diplomas permitem fazer subir numa única geração todas os níveis da sociedade. A família terá somente que ser solidária. As dinastias nascem espontaneamente.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados - a ascensão so
Caro Ricardo,
Muitos parabéns por ter colocado este(s) assuntos neste espaço. É uma ajuda para aqueles que gostam de fazer a história completa da sua família, localizando-a no tempo / história respectivamente.
Quanto aos cirurgiões militares que, embora diplomados eram olhados de "lado" pelos físicos da época, passaram a ter lugar de carreira depois das Guerras Liberias.
Um abraço
Maria
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RE: Como viviam os nossos antepassados - a ascensão so
Caro confrade Ricardo Charters
A influência dos costumes dos nossos antepassados perdurou, pelo menos até meados do séc. XX, no nosso país. Julgo que o litoral foi sempre mais aberto, mas as minhas memórias de infância levam-me a Tondelinha, hoje practicamente incorporada em Viseu, mas, á época, aldeia a 5 Km da cidade, de estrada tipo caminho de cabras e sem luz eléctrica até 1960.
A missa era ás 6 da manhã e o jejum , para quem queria comungar, obrigatório pelo menos nas 12 horas anteriores. Uma vez não cheguei a comungar, desmaiei logo ali! Nunca vi as minhas tias-avós sem ser de luto rigoroso. Viúva tinha de usar luto fechado até morrer! Uma prima minha ficou viúva aos 19 anos, faleceu aos 94 sempre de negro e com o retrato do marido num medalhão pendurado ao peito. O falecimento de familiar chegado , pai ou irmão, por exemplo, dava direito a 6 meses de luto carregado e 6 meses de luto aliviado, após o que se podia usar o azul escuro com uns bocadinhos de branco.
Reinava o peixe cozido porque dias de jejum e abstinência eram mais que muitos. Convenhamos que nos dias livres se comia á tripa forra, os almoços demoravam mais de 2 horas, uma estopada para a criançada que tinham que pedir licença para se levantar da mesa ao patriarca, primeiro, e depois a todas as tias e primas velhas em quem este ia declinando a honra. Nas épocas de matança do porco havia 2 porcos mortos, um para a salgadeira e outro inteirinho para ser de imediato devorado pela família, alargada, óbviamente. Toda a familia, a partir de uma certa idade, tinha diabetes, colasterol, etc.etc. das morcelas, farinheiras, carnes de porco e doçarias várias!
O padre era presença obrigatória aos almoços de domingo e comia tanto ou mais que os outros. Recordo um almoço em que minha Tia Prazeres perguntou ao Sr Abade se nâo ia mais uma morcelinha e a resposta foi: " Querida Senhora, eu comer comia, mas já me doem os queixos!"
Não havia médico, nem farmacêutico nem nada, havia um barbeiro que por lá aparecia ao sábado e, para além de montar um banco junto á fonte e cortar á "tigela" o cabelo ás pessoas , que faziam bicha, sangrava os doentes, e tirava dentes. Usavam-se, também, sanguessugas para sangrar e havia um método curativo estranhíssimo: queimar o oxigénio dentro de copos que eram de imediato aplicados nas costas do paciente! Ventosas! Nunca percebi para quê! Quem dava as injecções e prescrevia medicamentos, chás e mezinhas era uma velha prima, irmã de outra igualmente velha, solteironas conhecidas como " As Santinhas".
Miúdos de pé descalço, calça rota sem fundilhos aquem ninguém obrigava a ir á escola, construída particularmente e paga a professora de bolso particular também.
Seria assim tudo tão diferente de antigamente no interior deste país?
Com os meus melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Como viviam os nossos antepassados - a ascensão so
Cara Maria Benedita:
É sempre um prazer ler as suas intervenções no fórum, e esta não é excepção.
A Maria Benedita descreve de forma muito rigorosa, correcta e também divertida um modo de vida que ainda perdura, sobretudo no interior.
Nasci no Porto e tenho 34 anos, mas muitas das situações que descreve são-me familiares, até por ter família em Braga e arredores, cidade conservadora e com características ainda rurais, nalguns aspectos.
As "santinhas" existem em todo o interior português, assim como as velhas (e menos velhas) de luto profundo ou mais aliviado (lembro-me duma tia avó que ainda usa luto carregado, depois de mais de 25 anos de viúvez...e é portuense, da zona da Boavista!).
De facto, Portugal não se resume apenas ao que descreve, mas também é o que descreve, para o bem e para o mal...
Um abraço
João Pombo
PS: Devo ter certamente "herdado" dalgum antepassado rural e comilão o colesterol alto...infelizmente!
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RE: Como viviam os nossos antepassados - a ascensão so
Caro João Pombo
Atenção ao colesterol! Frase de mãe que ainda hoje mandou o filho fazer análises ao mesmo já que pode ser hereditário e não derivar apenas das fartas comezainas portuenses!
A verdade é que o nosso interior português mantem arreigadamente costumes ancestrais, uns óptimos, outros nem tanto assim! Tenho em enorme apreço a solidariedade que as gentes da "provincia" têm para com o próximo, não há velho ao Deus dará nem pobre com fome. Lá se vai arranjando a casita do velhote sózinho, a vizinha lava-lhe a roupa, o amigo leva-o ao médico, tem sempre comida em casa e quem lhe trate da horta. Mas o preço de tudo isto, que é muito quando vemos a situação dos idosos nos grandes centos urbanos ( e aqui não posso deixar de chamar a atenção para uma obra social , " Coração Amarelo", que se dedica a fazer companhia a idosos solitários) , é a mentalidade fechada, a cara hermética e dura da consciência do "dever" cumprido, dever tradicionalmente estipulado e geometricamente quadrado com definição centenária, e o conceito de culpa! A culpa é um dos termos que mais me assusta ! Assenta na pior das coisas, o julgamento!
Este tópico, interessantíssimo, acaba por nos levar não apenas ao descobrir do passado como ás repercussões do mesmo nos tempos de hoje.
Um abraço
Maria Benedita
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RE: Como viviam os nossos antepassados - a ascensão so
Cara Maria Benedita:
Há muitas coisas positivas no interior do País, nomeadamente o espírito de entre-ajuda e solidariedade entre as pessoas, novos e velhos, remediados e pobres.
Todos sabemos que a pior pobreza e miséria é a dos grandes centros urbanos, dos sem-abrigo a dormir cobertos por jornais em frente a prédios de habitação e escritórios, etc...
Pior ainda, só mesmo a chamada pobreza envergonhada, dos que têm tecto mas não o que comer e ainda alguma dignidade que os impede de pedir ajuda ou mesmo esmola.
O passado têm efectivamente uma importância enorme, e mesmo os que o desconhecem acabam por carregá-lo "às costas", muitas vezes sem se aperceberem.
Nós, portugueses, carregamos nas costas 4 décadas de ditadura e séculos de mentalidade rural, atrasada e provinciana...
Um abraço,
João Pombo
PS: É um bom conselho (de mãe) o do colesterol...eu já vou no quinto exame e enfim....já ando a comprimidos pro resto da vida....sem comparticipação!!
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RE: Como viviam os nossos antepassados - a ascensão so
Cara Maria Benedita
Grande satisfação tive ao ler a sua msg. Dá gosto recordar esses tempos.Muito do que conta, até há relativamente pouco tempo, era respeitado com algum rigor.
E lembro-me de muitos acontecimentos de criança. Recordo o aborrecimento que tinha de todos os dias ter de ir pedir a benção à minha avó paterna ( tinha medo dela) e a minhas tias-avós, padrinhos. Só consegui a carta de alforria quando, já crescido, saí da aldeia devido aos estudos.
E o suplício e também risos à socapa, quando eu e alguns primos éramos apanhados para irmos rezar com a avó, a tia e uma ou outra criada. E ainda por cima, de joelhos com calções e bem direitos, em cima de um grande tapete de esparto que nos magoava muito e a vontade de rirmos das rezas feitas; mas se fôssemos apanhados tínhamos castigo. Á noite tínha de deitar-me cedo, quando lá ficava, por ausência de meus pais. A casa era antiga ( hoje remodelada) e onde eu dormia o quarto não era de molde a aquietar uma criança, pelos rangidos da madeira velha e do sótão logo por cima, onde o pessoal de serviço dormia. O medo que tinha com a cabeça tapada e acordando uma ou outra vez ao contrário, depois de vencido pelo sono; porque à lareira ( sem a minha avó saber, claro ) a Sr.Adília ( que fazia serviço de cozinheira e cabe aqui lembrar-me dela,Deus a tenha em paz, que sabendo ler e escrever me encantava com as histórias do Toiro Azul, a princesa Magalona.etc. e o Anão Sabichão, e outros da colecção Manecas-ed. Romano Torres, que contribuiram para o gosto das coisas antigas, o cavalheirismo, a corageme altruismo, vencendo sempre o mal e tudo terminando em bem ), porque o medo era acrescido depois das criadas tb. das minhas tias, à lareira, começarem a contar histórias de bruxas e lobisomens, histórias macabras que eu devorava. O pior era ir deitar-me. A chama trémula dos candeeeiros ou lamparinas faziam realçar "vultos" que a minha imaginação recreava.Tenho de ficar por aqui, para não aborrecer.
A genealogia familiar tb. comporta estas recordações. Os meus filhos nem imaginam e é bom deixar estas lembranças.Recordar é viver.
Com grande consideração os meus melhores cumprimentos,
Rafael Carvalho
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O Casamento
Retomo mais um dos temas.
O casamento
Antes do início do século XIX, os casais que conseguiam festejar as bodas de ouro não chegavam a ser 2 em cada 100. Cinquenta anos de vida comum era tão raro naquelas épocas que quando acontecia o cura da paróquia procedia a um simulacro de uma segunda cerimónia de casamento. Nos nossos dias as fotografias de bodas de ouro são quase um lugar comum.
Havia uma esperança de vida muito mais curta. Parece que antigamente uma homem em quatro e uma mulher em cinco eram viúvos ou viúvos antes dos 35 anos, e um homem em cada dois e uma mulher em cada três antes dos quarenta e cinco anos. A diferença entre os dois sexos é explicada naturalmente pela taxa mais elevada de mortalidade feminina durante a gravidez e após o parto – uma média de 10 em cada 100 dos partos. Sabemos que uma mulher teria em média uma criança todos os quinze a vinte meses. As Consequências destas situações são catastróficas. Nos meios mais pobres os órfãos são confiados a um tutor, que os coloca mais tarde como aprendiz de uma profissão na vila mais próxima.
Um viúvo ira casar-se o mais depressa possível. Como poderia ele tratar das suas crianças, quando tem que ir todos os dias para o campo ou estar à frente do seu comércio? O mesmo acontece com uma viúva e nomeadamente quando ela tem alguns bens ou é nova. Nos registos paroquiais vemos que um viúvo se casa, em média, seis meses depois de ter morrido a sua mulher. A viúva, toma mais tempo e normalmente procura fazer o seu luto e garantir que quando se casar não tem no seu ventre uma criança do marido que morreu. Mas não só segundos casamentos são frequentes, mas terceiros casamentos não era tão invulgar assim.
Mas para marcar um casamento, mesmo que ele seja o primeiro, é complicado. Não pode ser ao Domingo, pois o Padre já tem muito que fazer com as diversas missas, grandes ou pequenas, as vésperas, etc. A sexta feira era de excluir pois o Padre nunca dará uma bênção nesse dia de luto e de jejum ou penitência pela morte de Jesus Cristo. A quinta-feira tem um problema pois a festa de casamento pode passar para Sexta-feira. Lembremo-nos que as festas de casamento tinham uma dezenas de sopa, de peixes vários, de carnes, etc o que obrigava a grandes estadias na mesa para se ir comendo tudo. Muitos “escorregavam” para debaixo da mesa, já muito “tocados” e apareciam umas horas depois aptos a continuar.
Então, escolhia-se a terça ou a quarata feiras, mas que não fossem dias de penitência do Advento, da Quaresma. Consequentemente nunca em Maio e nunca no Verão pois tal coicidia com os trabalhos das colheitas.. O período preferidos eram em Janeiro e Fevereiro, entre os “reis” e a Pascoa. E em Novembro depois das vindimas.
Por último lembramos que o fato de noiva branco só começou a ser usado depois das aparições da Virgem em Lurdes, e nomeadamente após a difusão da forma como ela apareceu vestida. Até la o culto da Imaculada Conceição obrigava a que nenhum fato de noiva fosse de branco, e a noiva vinha de cores variadas segundo as tradições locais e a riqueza da família. A cor era viva e sobretudo vermelha ou azul e sempre com um rico avental de cor clara ou branco. Lembremos que o fato da mulher casada era habitualmente escuro ou preto. E nunca poderia ser feito o fato de noiva por ela própria: trazia azar.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados - a ascensão so
Caro confrade Rafael Carvalho
Isto de recordações é como comer cerejas, nunca mais se para!
Eu também li a Coleção Manecas-ed Romano Torres! Em segunda mão, os livros tinham sido dos meus primos mais velhos e, naquela altura, os mais novos apanhavam sempre as sobras! Lembro-me perfeitamente do Anão Sabichão! E do Capitão Morgan, em folhetos, e do Ponson du Terrail com o seu maquivélico Rocambole! E o Conde de Monte Cristo, o meu preferido porque tinha visto o filme interpretado pelo Jean Marais, que, com a sua voz portentosa se assumia como Edmond Dantés! E o medo do ranger dos móveis antigos, que me parecia feito por almas do outro mundo! Maravilhosas noites á lareira a ouvir histórias contadas pela minha Avó e meus Tios!
Á noite apagavam-me a vela da mesinha de cabeceira, mas eu tinha sempre uma reserva debaixo do colchão para acender e ler ás escondidas.
Tive uma criada que me contava histórias do "bulisómio", e eu morria de medo. Afinal era o tal lobisomem, mas só muitos anos depois o descobri.
Boas recordações de férias maravilhosas cheias de aventuras, sonhos e a liberdade dos campos!
Com os meus melhores cumprimentos e consideração
Maria Benedita
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RE: O Casamento
Caro Ricardo Charters d'Azevedo
O tema que nos apresentou é entusiasmante! Parabéns pelo seu estudo. Felizmente, muitos de nós ainda conseguimos “assistir” a alguns dos ambientes descritos. Em família, quando vêmos, ouvimos ou sentimos. Nos lugares, nas casas, nos objectos com história ou com as estórias que deles supomos. Reviver a história é construir a história!
Nos seus textos, penso que muitíssimos itens poderia o caro Ricardo Charters d'Azevedo acrescentar. A vida não se compunha só dos aspectos que descreveu. E num sentido amplo era até “colorida”.
Tenho algumas dezenas de cartas de familiares e avoengos, entre o séc XVIII e o séc. XIX e os relatos e escritos, sinceros, não revelam uma vida tão desgraçada e miserável como fazemos crer quando constatamos as óbvias diferenças entre diferentes épocas ou civilizações.
Uma das cartas, escrita por um meu sexto avô em 1789, relata a experiência e encantamento numa noite de chuva de estrelas e estrelas cadentes, as voltas e reviravoltas em torno do telescópio – “luneta” –, o assento no mapa das coordenadas… e também no fim um repasto que foi feito com vinho doce “…bebi della e amanheci bom d’estômago que ha mui nam acontecia”!
Em jeito de desabafo, já reparou que hoje vivemos numa época, que se diz perfeita, onde temos toda uma infindável tecnologia, conforto, onde até as flores e aves têm direitos, há “leis” para tudo, há “igualdade” para tudo, há a net on line, off line, off record… mas no meio de tanta “vigilância” e inteligência – e por isso – como é possível encarar tanta fome, desperdício, sofrimento… para onde evolui o nosso altruísmo?
Não resisto a transcrever parte de uma carta de um meu tetravô para apoiar a ideia de que “cada época (geração) tem a sua razão” e que “há coisas”, que em Portugal, nunca mudaram:
“Candidinha
Tuy, 4 de Agosto de 1850
10 horas menos 10 minutos da manhã
Aqui chegamos hontem a Tuy ás 6 horas da tarde. Trouxemos uma viagem de 4 horas no Vapor Rio Minho, porque o vento contario era tão forte que foi preciso tirar o toldo do convez, onde o vento fazia muita impressão, e ficamos expostos ao sol.
Quasi todos os pasageiros foram p.ª Camara onde fazia muito calor.
Os meus companheiros de viagem são quatro: o Conde, o Alba, dourador, o Jacopo Carli, mestre de musica, que vai ha sua terra comprar uma quinta com o drº que tem ganho, producto das suas lições, e um francez, rapaz novo e polido, fabricante de sedas, em Lyão.
A viagem tornou-nos familiares, e todos nós comemos juntos e convivemos o melhor possivel.
Não imaginas a fraternidade q. ha entre viajantes. Ha 2 dias fóra do Porto e tenho encontrado já francezes, hespanhoes e italianos. Mal nos vemos travamos relações, e d’ahi a meia hora quem nos visse diria que eramos conhecidos d’ha muitos anos. D’este contacto, d’esta precisão moral que temos de nos tornar-nos uteis e agradaveis uns aos outros resulta uma doçura e uma amenidade de costumes, que, mais tarde, muito devem contribuir para a felicidade moral dos póvos. As bôas estradas, as grandes vias de communicação (não se ria, Snrª D. Camilla, olhe que isto é a serio) são os grandes germens da civilização.
Pena é que esta bôa terra, que este abençoado torrão chamado Portugal que, cá fóra, com orgulho o digo, ainda respeitam pelas antigas tradições da sua gloria, caminhe tanto atraz de outras nações em relação aos progressos materiaes que as exigencias d’uma épocha essencialmente commodista e intelligente reclamam.
…”
cumprimentos,
João Borges
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sincerando se
Já que chegou o momento de aqui se sinsirezar e espelhar as vivencias da juventude, aqui vai dentro da outra visâo de um menino do Ultramar:
Corriam os anos 59, numa Quinta nos arredores de Lisboa, lá para as bandas de Xabregas, na quinta do Beco do Grilo, em terras dos primos B.B., quinta essa que ainda hoje pude ver no mapa interactivo de Lisboa e felizmente ainda existe, entre o Convento do Grilo e um Quartel Militar, onde a Rosa, essa empregada jovem e maravilhosamente bonita, ia todos os dias comprar pâo, e de passo receber os elogios dos magalas, eu e os meus tres irmâos, eee, já me esquecia, e o amigo Manolo, o espanhol, que na rua das trazeiras da Quinta vivia, com os pais exilados, passavamos os dias caçando pássaros nas ramas das árvores com um pegamento, que a memória nâo alcança a saber do nome...
Dias despreocupados, nas féria paternas de seis meses que eram merecidas pelo trabalho de tres anos nas terras de Àfrica, transformados em 12, por acumulaçâo.
Dalí iamos, em eletrico, cuja paragem ficava em frente a outro Mosteiro da rua do Grilo, subindo até casa da avó paterna. la para a Almirante Reis, na Praça Olegario Mariano, outras vezes até à casa dos bisavós maternos na zona de Alcântera.
Certa noite, as noticias eram tremendas," havia chegado o terrorismo a Angola", alí na televisâo em casa dos bisavós, com o avô tentando explicar o que se passava, vimos depois a preparaçâo das tropas paraquedistas, que saltando desbravavam montanhas... Isto foi no dia seguinte a desgraça para os trabalhadores da Quinta, pois chegados à Quinta, aquel fim de tarde, eu e os meus irmâo, mais o Manolo, lá nos dedicámos a saltar pelas eiradas e destruimos parte dos muros das hortas... No dia seguinte lá estavam os pobres trabalhadores a pedir indemnizaçâo para recompor o destruido monte.-
O Vaqueiro, graças ao Senhor Vaqueiro, que vivia num casebre a beira da linha do caminho de ferro, que ainda hoje passa no meio da Quinta, e que com tremenda paciencia, lá nos ia (aturando) contando historietas, com os olhos escondidos no meio de umas sobrancelhas enormes, (nunca conheci sobrancelhas tào espeças), intercedeu por nós, e nâo levámos na cara...
Foi essa vez e aquela em que nos dedicámos a limpar o casebre abandonado, que dava justo para as trazeiras do dito Convento do Grilo, e atirámos as latas velhas que ali encontramos para os contrafortes dos ventanais do Mosteiro, que meio enterradas davam para a quinta, o que nos levou a uma dura repreençâo do Prior, na missa do domingo seguinte e na comesaina domingueira que sempre fazia na casona da Quinta em companhia das duas beatas, a Tia Berta e a Irmâ. Hà e também quando resolvemos caçar lombrises e as atirámos por cima do muro sem saber que caiam directamente sobre a casa da guarda do tal quartel lindeiro... Ao Sr. Vaqueiro um agradecimento especial por nos ter livrado de boa... Aqui também um parentesis para o guarda do armazém, que ficava mesmo ao lado do portâo da quinta, (e de cujo nome já nâo me lembro), onde iamos remexer nas velharias das familias nobres empobrecidas e que ali deixavam os móveis e roupa à espera do leilâo, o que era para nós um autentico pátio de feira e teatro e admiraçâo pelas velharias encontradas nos baús, e a velha pianola na qual tentávamos dar algum sentido às notas...
Mas como ia contando, a vida lá ia decorrendo, entre a brincalheira, a Quinta e a televisâo do sábado em casa do avô, amém das liçôes da Srª Inês, que nos dava classes de primária, ás que eu tentava surripiar- me para continuar nas jogatanas ao ar livre. Tremendamente turturantes esses momentos de prisào, para assistir às classes.-
No Paquete Pátria, já de volta para Angola, quis o destino que à chegada a Las Palmas cumprisse os meus oito anos, bolo incluido e balôes, e depois o desembarque naquela cidade onde alugado um taxi, um mercedes descapotável, grandissimo, lá nos foi subindo pelas ziguezagueantes estradas da ilha, que para isso sâo estradas de uma ilha, e finalmente nos encontrámos numa cume, com a cidade a nossos pés. Farnelo, preparado pelo camareiro do Pátria, sentados, lá fomos saboreando aquela comida de campo preparada no paquete Pátria...
Logo, a compra obrigada aos cambolhoneiros do cais, a boneca para a minha irmâ, o relogeo, que nunca funcionou do meu irmâo mais velho, a minha bonita lapizeira, que escreveu apenas dois dias, o brinquedo do meu outro irmâo que aguentou em pè outros dois dias... Ali, voltei àquel monte, nas minhas navegaçôes,
só o reconhecendo pela vista da cidade... Quem diria entâo que alí voltaria... Pois estes seriam os ultimos momentos de uma vida despreocupada.-
Chegados a Angola, a nossa casa que dava directamente para a praia, era todas as noites motivo de preocupaçâo. Alí os pescadores, toda a noite assoviando, dando se ordens para o amanhar das redes punham me os pelos de ponta, pois no meu pequeno querer, julgava serem ordens de ataque contra os colonos...
As noites eram entâo um inferno de pesadelos, vendo como me atacavam e me arrebanhavam a cabeça com uma catana, isto anos e anos seguidos, noites e noites em que quando tentava em sonhos fechar as janelas, estas se faziam mais e mais pequenas e nâo chegava a madeira para fechar a entrada, entâo, o ultimo recurso que encontrava nos meu jovens sonhos, era correr e correr e voar, essa tremenda possibilidade de escapar, de ser finalmente livre, voando... E os carnavais, esses carnavais, que para todos eram diversâo, para mim naquela època eram um suplicio, quando pela rua, desfilavam os grupos dos bairros suburbanos e via como se empunhavam as catanas e entre bailes, algum que outro se me aproximava brandindo aquel instrumento de morte, com que todos os dias sonhava...
Passaram os anos, e já em Lisboa, (nâo voltámos à quinta do Grilo, onde com saudade rememoro a figura da velha Tia Berta e da irmâ, que de quando em quando nos acordava nos seus ataques de hesterismo. Alí nâo rangiam as madeiras, alí soavam os gritos lacinantes daquela velhota beata, mas que comparados com o terror das noites de Angola, bem vindos teriam sido...) mas já entâo de visita à Casa dos Estudantes de Angola, onde reencontramos os nossos colegas do curso de Direito, entre eles o massacrado Rui Coelho, numa noite dessas tertulias de estudantes, quando conto as minhas insonias juvenis, o meu amigo Miguel, me diz:
"Enquanto tu sonhavas com catanas, eu no meu bairro, acordava com armas troando e gritos de gente entre Muxima, Muxima, que nos vem a levar".
Entâo entendi o drama da vida, a que vivemos de forma diferente e em campos diferentes, mas numa realidade cruamente igual. Todos vivemos enfim, os nossos fantasmas da juventude...
Aqueles anos 60 em nada foram iguais, com aqueles narrados na paz e sossego da metropole.
Foi duro, para aqueles que tiveram que abandonar pais noivas e amigos para ir combater, mas essa também nós ali a vivemos... Mas enquanto o drama da juventude de uns foi o Lobisomem, o meu foi o terror.-
(Esse conto da tropa, fica para mais tarde.
Hoxalá os meus fantasmas tivessem sido como os contos de bruxas e lobisomens, que isso, só mais tarde, e já na companhia e bem aconchegados nos braços da noiva de turno , a conhecemos nas butacas de um cinema.-
Cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: sincerando se
Caro Fernando de Telde
Comoveu-me. A noite passada sonhei que o meu filho ia para a guerra, para o Ultramar, eu despedia-me dele, via o paquete, os rapazes fardados mas o meu filho estava ao meu colo, de robe de xadrês, e era o meu pequenino, nâo o matulão de hoje. Fui trabalhar quase sem dormir, berrei todo o dia e acabei a dar um chuto no cão que assaltou novamente o frigorífico e comeu o resto da moamba de ontem, vomitando a seguir. Na guerra, em Moçambique, vi o meu primo predilecto morto e sobrou-me outro, comando, afectado até hoje e a quem faço de mãe. Vi meu filho com 18 anos partir para Timor, voluntário nos fuzileiros, e quase o vi, há 2 anos, destacado para a Guiné. Dei pulos de alegria quando resolveu deixar a Marinha e entrar em Económicas. Imagino bem os fantasmas que povoam os seus sonhos, e creia que, se podesse, carregava uns tantos para o aliviar.
Um abraço solidário
Maria Benedita
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RE: sincerando se
Caro Senhor Fernando de Telde,
Julgo que o Pegamento com que os rapazes apanhavam os paçaros tinha o nome popular de Visco ou Visgo, não tenho bem a certeza.
Cumprimentos
João da Silva Gaspar
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A escola dos nossos antepassados
A escola
Será que os nossos antepassados iam à escola? Com meios limitados o mestre de escola, que era o pároco ou um laico, ensinava o catecismo com uns rudimentos de leitura e por vezes de escrita, na sacristia. Este ensino era reservado aos jovens. Algumas “avós” ensinavam as raparigas a trabalhar com a agulha descurando as letras do alfabeto. Por outro lado a escola não era frequentada assiduamente. Quanto muito do dia de todos os Santos ao final de Abril, antes dos grandes trabalhos agrícolas que obrigavam a sua presença nos campos. Claro que as famílias mais abonadas ou cultas obtinham preceptores para as suas crianças e mais tarde enviavam-nas para colégios de freiras ou de frades e muitas vezes mesmo para o seminário. Muitos dos “inquéritos de génere” que a igreja efectuava (para controlar a admissão aos seminários) cobriam vários jovens da mesma família, mas que mais tarde nem todos chegavam a frequentar o seminário por completa falta de vocação.
Muitas vezes a consulta de registos paroquiais ou notariais permite-nos aperceber que indivíduos notáveis, pela sua riqueza na sua região, não sabiam assinar, limitando-se a colocar uma cruz, símbolo do juramento sobre a Cruz de Cristo. Somente os letrados escreviam o seu nome com firmeza fazendo-a seguir, pegado com a ultima letra, por um “sinal complicado”muito decorativo e personalizado. Era este sinal que revelava a pessoa e não nome que era simplesmente escrito.
Os edifícios das primitivas escolas no nosso país eram, muitas vezes, o resultado de ofertas de pessoas endinheiradas da região. Temos exemplos que tal acontecia nos finais do século XIX e ainda início do século XX, por exemplo nas Cortes .
As punições físicas estavam na ordem do dia nas escolas, mas era a memória que sofria mais, pois as crianças tinham de decorar tudo e seguindo o principio das perguntas respostas como se ensinava o catecismo antigamente. Todos (os mais velhos) nos lembramos de ter fixado os rios de Portugal (e das colónias), as montanhas, a províncias e as suas capitais, as linhas de caminho de ferro, etc.
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Confrade Charters de Azevedo
Os meus agradecimentos por ter colocado neste forum um tema tão importante para todos aqueles , que,como eu, procuram estudar quem eram os seus antepassados e esse conhecimento passa indubitavelmente por conhecermos o ambiente social em que estes se moviam, as suas profissões, os acontecimentos históricos ocorridos,etc. Daí, o enorme interesse da inclusão neste forum destas temáticas concretas, o mais cientificas possivel, documentadas e qual a época a que se referem para não surgirem mal entendidos.
Duma tese de Mestrado do Dr. Fernando Antonio Almeida " Operários de Lisboa - na Vida e no Teatro (1845-1870), retirei alguns extractos que documentam a vida do operariado residente na grande Lisboa:
Mas, para não começar com o quotidiano trabalho árduo na fabrica,
começo pela parte mais folgazã...
LAZER
"...Cumpre-nos dar uma ideia, um panorama de algumas das práticas possíveis do lazer operário, do lazer do artista, do lazer do "homem do povo" de Lisboa. Insensivelmente, acabámos por desenvolver com mais espaço as oportunidades de lazer a que se associa uma componente fundamental da condiçao económica do trabalhador - comer; quer este seja visto como simples acto de caracter alimentar quer como forma de prazer - a gula infractora da determinação da religião oficial. Quer ainda um ritual de convívio.
Antes de mais, porém, cumpre advertir que neste panorama fica esquecida uma figura, sempre tão secundarizada, a mulher. Que o deveríamos ter tido em conta, na especificidade do seu comportamento, da sua condição. Recordemos apenas estas palavras de Ramalho Ortigão, em 1872, referindo-se às tardes lisboetas dos domingos:«Ide aos bairros de Alcantara ou à Mouraria[..]: todas as mulheres estão nas suas pequenas casa, às janelas ou às portas, numa inacção desconsolada e abatida. E não encontrareis um homem.»
E explica: « Vede pelo contrárioos divertimentos populares, a trincheira do lado do sol da praça de touros: não há uma mulher.» Ainda no mesmo texto, situando a relação homem/ mulher no casal operário: « Ele come os melhores alimentos e traja os melhores vestidos, tem a sua associação e a sua filarmónica, vai ao café, bebe com os amigos e frequenta os teatros. Ela é na casa um ente subalterno e passivo, que se manda, que se força, que se espanca se desobedece, uma coisa que se possui com o jus utendi e abutendi [..].»
Vejamos então as feiras. Ao que parece com raiz no sec.XV, capela e romaria da Senhora da Luz foram instituidas em Carnide, com festividades em 8 de Setembro. Devota de mareantes, «a estes vieram agregar-se operáriose trabalhadoresdo campo que a 8 de setembro [...], aqui vinham celebrar o final das ''sestas'', o que dava lugar aos serões nas fábricas de Lisboa.
Outras feiras fora do núcleo urbano, como a Lumiar ou a da Senhora da Rocha, em carnaxide. Ou, já nos arrabaldes, mas ainda fora de portas, a feira do Campo Grande, onde também se fazia a concentração para as esperas de touros» e « começaram a instalar-se[...]algumas casas de negócios onde se podiam apreciar grandes petisqueiras». eram os retiros, o Cá e Lá poe exemplo.«Durante a noite beberricava-se,cantava-se,ouvia-se cantar o fado e,quando eram horas, todos iam ao encontro do gado.»
Ainda um apontamento sobre touradas, tardio,de 1881:«O público é feito de trabalhadores, de operários, de logistas, que passaram uma semana inteira a trabalhar no fundo dos seus armazéns, dos seus escritórios e das suas oficinas. Esses homenstêm mulheres e filhos que durante o mesmo espaço de tempo estiveram a apodrecer sobre saguões da baixa.»
Daqui, a «sede de ar livre, de sol, de movimento e de bulha».«Quem tem calor tira a jaqueta, arregaça as mangas, come melancia ou bebe cerveja pelas boticas[...], o público todo, do ladodo sol, da primeira bancada à ultima, entende de gado e sabe o que é lidar com bois.Quando a capinha não presta, o público brada:''Ponham fora essa besta!''.Quando não presta o touro, berra o publico: ''levem esse sujeito para a charrua''.No Campo de Sant'Ana o povo está verdadeiramente em sua casa, e é senhor seu,uma vez por semana, nas tardes dos domingos. Para se saber que em Lisboa há povo,é preciso ir aos touros vê-lo».
Nostalgia duma Lisboa urbana por um tempo e um espaço rurais? Nostalgia dos neolisboetas por uma perdida infância campesina? Ou simplesmente a continuidade de um longo ciclo, de uma Lisboa que nunca deixou de ser rural, que através dos séculos, preservou a sua ruralidade? A ida às hortas tem uma longuíssima tradição. Em meados do sec.XVI eram referidas como « tão antigas» as cerimónias com que os pescadores de Alfama « veneravam e festejavam o dia do bem aventurado S.Pero gonçalves. levando-o às hortas de Enxobregas, e com muitas folias.»
No Verão, a população da cidade sai de Lisboa:...«Ao domingo vai a gente das classes inferiores divertir-se fora de Lisboa a algum desses quintalões onde se passa alegremente o dia, cantando, tocando guitarra, jogando a malha ou passeando. Numa das extremidades da horta costuma haver uma casa de pasto, onde se não julga ser preciso haver lista porque quasi sempre as iguarias se limitamao ''peixe frito'' e ''chouriço com ovos''. Uns ''pasteis de bacalhau'' aumentam às vezes o banquete e uns ''queijos de marmelada'' servem de lauta sobremesa.»
Preocupado com a instrução popular, escreve Ramalho Ortigão, já no início dos anos 80: « de sorte que,como recreio popular temos apenas as feiras. Os operários e os pequeno burgueses, acompanhados das suas familias, quando o bom tempo chega, passam os seus domingos de feira em feira.Na Primavera e no Verão vão para a feira das Amoreiras e para a feira de Belém, no Outono vão para a feira do Campo Grande.» E:«Nas feiras comem-se frituras e saladas, ao estrondo cacofónico dos trombones e dos cornetins, na varanda das barracas; toca-se banza, canta-se o fado, bebe-se vinho, apanha-se poeira[...]
Ainda as hortas, mas urbanas, os retiros. No « baile campestre» na Penha de França « polcava-se e valsava-se e mazurcava-se....
Para além dos bailes campestres, os bailes urbanos, o Baile Nacional, instalado no velho palacete do marquês do alegrete, onde por 1860 no Carnaval, uma entrada valia 360rs.
Mas o espectáculo tambem estava na rua. Eram os artistas ambulantes, como«aqueles cegos cantores» que andavam pelas ruas do bairro alto co cantigas obscenas.
Entre os vários divertimentos populares ....para um autor da época, « a Floresta Egípcia» situada na Rua da Escola Politécnica era o « o melhor divertimento que lisboa tem possuído». compunha-se dum grande jardim e dum « Teatro de Cristal» , onde se realizavam bailes e concertos; « ao ar livre havia montanha russa, carrocel, balouços de cesto,balanças de pesar, pim-pam-pum, tiro ao alvo, pavilhões de jogos chineses,e holandeses, café, restaurante, e quisque de refrescos»
Às classes populares, laboriosas, quer por proibição expressa quer pelo condicionamento envolvente, estava vedada a frequência de certos locais de prazer.Por exemplo, o Passeio público, era « proibido aos homens de capote».
( Segue)
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RE: Como viviam os nossos antepassados
dhelena
Efectivamente é importante colocar no seu contexto os estudos genealógicos que fazemos. Tenho me preocupado ler os livros de estrangeiros que escreveram sobre Portugal e as suas viagens no século XVIII e XIX. Se bem que ás vezes muito criticos e pouco conhecedores da realidade portuguesa, pois não falavam nem comprendiam a nossa lingua e muito menos percebiam os nossos custumes, traçam uma realidade desconhecida de nós como vemos nos primeiros comentarios a este tópico. A lista destas publicaões foi levantada pela Prof Maria Leonor Machado de Sousa e publicado na Revista Municipal de Lisboa, Ano XLIV, 2ª série, nº 5 e 6, de 1983, pag 57 a 75.
Um livro muito interessante é aquele que foi traduzido e anotado pelo Camilo Castelo Branco, "A Formosa Lusitânea, Portugal em 1873", escrito pela Lady Jackson, que foi republicado em Portugal pela Caleidoscópio, em Janeiro de 2007.
No entanto pouco sabemos como vivia e trabalhava o português pobre, e comum nos séculos anteriores a XVIII. Ou pelo menos eu não sei.
Cumprimentos amigos e muito obrigado pela suas achegas
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Joao Paulo
Pena o Forum nao ter som, senão ouviria um enorme aplauso pela forma que expôs o que a maioria das pessoas (pelo menos as que conheço) vê hoje a Igreja e a forma como sente Jesus.
Devemos "seguir" o propósito de Jesus: o fazer o Bem e viver de acordo com a nossa consciência.
Cumprimentos
Susana Rilhó Gama
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RE: O Casamento
Caro João Borges
A carta que transcreve soou-me de maneira tão familiar, que fiquei na impressão de já a ter lido. Depois de muito espremer o puré de batata em que a minha memória se foi transformando, acredito agora ter visto a luz, pelo que, desculpando-me da curiosidade, lhe peço uma confirmação ou um desengano:
Trata-se de uma carta de António Pinheiro Caldas a sua mulher, Cândida Mourão, não é assim?
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caríssimos Senhores,
A propósito dos nossos antepassados, seria interessante perguntar: O que sustentava a sua Fé? Eu arrisco dizer que, como a de todo o católico verdadeiro, o que sustenta a Fé a frequência ao sacramento da Eucaristia, a oração, o rosário, a devoção a Nossa Senhora e a fidelidade absoluta ao Papado e ao que a Igreja ensina.
Quem ama a Fé, detesta as heresias e os erros contra a sagrada doutrina imutável da Igreja.
A Igreja, na Ladainha de todos os Santos canta:
«Ut inimicos Sanctae Ecclesiare humilirae digneris, Te rogamus, audi nos!»
(«Para que Vos digneis humilhar os inimigos da Santa Igreja, nós Vos rogamos, ouvi-nos, Senhor»).
Sobre o que foi dito neste tópico, ouso manifestar a minha posição, assente em dois pressupostos fundamentais: I - a Fé como acto de adesão às verdades de reveladas por Deus fundado na inteligência; II - o amor à autoridade do Sumo Pontífice enquanto manifestação da presença de Deus na terra.
I
A nova vaga de misticismo, ocultismo, gnosticismo e de superstições histéricas típicas dos actuais e tão falados horóscopos, tarot, alquimia, etc., ajudou o Demónio a conseguir o que queria: introduzir a confusão no que respeita ao entendimento da própria génese da Fé.
Está na moda falar da Fé como um sentimento e está na moda dizer-se «Eu cá sinto Deus à minha maneira», como se a graça de Deus fosse sensível e como se as razões da Fé não passassem de um sentimentalismo adocicado e aveludado.
Ora, nós, seres humanos, não somos propriamente animaizinhos irracionais, não fomos criados para ter sensações e viver instintivamente. A Fé não é um sentimento, mas uma virtude teologal pela qual a inteligência - a razão - adere às Verdades reveladas por Deus - reveladas na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja Católica. A Verdade é um objecto da inteligência, da razão, e não dos sentimentos. Disse Jesus: «A Verdade vos libertará» (Jo VIII, 32). Ora, se é a Verdade - dirigida à nossa inteligência - que nos liberta, logicamente não são os sentimentos e os desvarios românticos que respondem à nossa sede de infinito e à nossa procura de significado para a vida.
Esta confusão, certamente tão querida por Satanás, talvez tenha origem no racionalismo cartesiano, que pretende compreender tudo sem o auxílio da Fé, remetendo-a para o domínio da irracionalidade, portanto para fora da vida.
Mas, a verdade é que o falhanço do racionalismo - que endeusou verdadeiramente a razão humana - acabou por estar na origem do Romantismo Alemão, subjectivista e relativista, num processo quase dialéctico, visto que o Romantismo, que foi um movimento de fundo gnóstico, consistiu na negação do papel da razão no conhecimento da Verdade e na exaltação pura do sentimento.
O misticismo, o sensacionismo, o ocultismo e todas estas correntes modernas filhas da heresia gnóstica, apelam à irracionalidade e à falta de clareza no juízo humano, afastando a Fé da vida prática, na medida em que declaram que ela não passa de uma intuição mística, tão ao gosto dos gnósticos, que nenhuma incidência ou relação tem com a realidade em que o homem se encontra. No fundo, trata-se daquilo que o grande Chesterton descreveu de forma soberba quando afirmou: «Enquanto que todas as sociedades humanas consideram a inclinação ao misticismo como algo extraordinário, tenho eu que objectar, entretanto, que uma só sociedade entre elas, o Catolicismo, leva em conta as coisas quotidianas. Todas as outras as deixam de lado e as menosprezam.»
O racionalismo e o Romantismo são, pois, duas pontas da língua da serpente, dois instrumentos usados pelo Diabo na tentativa ora de endeusar o homem, afirmando-o medida de todas as coisas, ora de reduzi-lo a um mero animal sensível, mas em todo o caso afastando-o sempre do caminho da Verdade e de Deus.
Claro que, apesar dos estragos que causa, o Demónio não vence, porque a vitória contra ele já nos foi prometida. Mas não deixa de ser um exercício pedagógico muito importante recordar que a Fé, tal como a Santa Madre Igreja a ensina, não é um sentimento nem exclui a racionalidade. Acreditar que o Verbo habita entre nós é um dom tão precioso para a vida quanto o é como desafio, porque não pode haver nada de mais provocante para a razão e entusiasmante para o coração do homem do que encontrar Cristo e segui-Lo para O conhecer melhor.
II
«Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar «aqui e além por qualquer vento de doutrina», aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.»
Desta forma o Cardeal Ratzinger diagnosticava a desorientação moral que caracteriza a Europa contemporânea, na Missa de abertura do Conclave do qual sairia eleito Papa. O então Decano do Colégio Cardinalício afirmava que, diante dos diversos ventos de doutrina que conhecemos nestes últimos decénios, diante de tantas correntes ideológicas e quantas modas do pensamento,« ao contrário, nós, temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro humanismo. «Adulta» não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. »
É desta «fé profundamente radicada na amizade com Cristo» que nasce, nos católicos, o amor ao Papa.
Todos os anos, a Igreja celebra o Dia de São Pedro. Por isso, no dia 29 de Junho de cada ano é celebrada a fundação da Igreja que Cristo instituiu. Quem quer pertencer a Cristo, não tem outro caminho senão o da pertença à Igreja Católica. «Não pode ter Deus como Pai quem não tem a Igreja como Mãe», diz São Cipriano, numa afirmação que destrói carradas e carradas de concepções modernistas e relativistas instaladas na cultura contemporânea, para a qual todas as religiões são iguais e onde não existe uma verdade.
A Igreja não é um «optional», o seu caminho não é uma possibilidade entre outras e o que Ela propõe não é uma doutrina adequada ao humano, no meio de outras doutrinas. Não há vários caminhos entre os quais se possa escolher como possibilidades para se ser salvo. São Pedro diz, com toda a clareza, no «Livro dos Actos dos Apóstolos», que «não foi dado aos homens outro nome no qual os homens possam ser salvos, a não ser o nome de Jesus».
A Santa Igreja Católica é, por isso, o método que Deus escolheu para se revelar ao homem. E não há outro caminho, outra possibilidade, outro lugar no qual o homem possa conhecer e amar a Deus.
É através desta companhia humana, guiada pelos sucessores de Pedro e dos Apóstolos, sob a assistência infalível de Cristo, que Deus se revela ao homem de hoje. Esta companhia é, desde sempre, guiada pela pessoa do Bispo de Roma, o Papa, o Sucessor de Pedro, a quem os católicos devem obediência em matéria de Fé e Moral.
«Ubi Petrus, ibi Ecclesia», diz Santo Ambrósio. Onde está Pedro, aí está a Igreja. Onde está o Papa, aí está a Igreja. Este substantivo comum - Papa - é um substantivo próprio. Assim o afirmava em Genebra Paulo VI no dia 10 de Junho de 1969, durante a sua visita ao Conselho das Igrejas: «Eu chamo-me Paulo, o meu nome é Pedro».
«Mas quem é o Papa?», pergunta insolentemente o Mundo. A expressão que conheço que melhor diz quem é o Papa pertence a Santa Catarina de Sena que, com muita propriedade, o definia como o «doce Cristo na terra». A definição desta Doutora da Igreja, ainda que suave, não deixa de ser vertiginosa e causar escândalo a muitos.
É verdadeiramente trágico olhar para a cultura ocidental moderna e perceber que ela não sabe quem é o Papa. De tal forma que, mesmo em países cuja existência só é compreensível no âmbito da cultura e tradição católica, poucos sabem distinguir entre a pessoa que é Papa e o Papa enquanto sucessor de Pedro e Vigário de Cristo na terra.
Quando Cristo deu o poder das chaves a São Pedro, fazendo-o Chefe da Igreja, a pedra sobre a qual ia fundar a Sua única Igreja, prometeu-lhe que as portas do inferno não prevaleceriam sobre ela, e que tudo o que Pedro ligasse na terra seria ligado no céu e tudo o que desligasse na terra seria desligado no céu. Concretamente, Jesus prometeu que Pedro, sempre que falasse sobre Fé e moral, para toda a Igreja, com o poder que Ele próprio lhe concedia, seria infalível.
Deste modo, sempre que o Papa se pronuncia «ex-Cathedra», isto é, oficialmente como sucessor de Pedro na sua cátedra, como Bispo de Roma e soberano da Igreja Católica, é infalível. De tal modo que, ao longo da história da Igreja, a consciência de que a última palavra, a palavra certa e definitiva em matéria de Fé, pertencia ao sucessor de Pedro não mais abandonou o santo povo de Deus. Esta verdade foi, depois, reafirmada solenemente e declarada como verdade indubitável de Fé, pelo dogma da infalibilidade papal.
As condições para o exercício do carisma da infalibilidade, de acordo com o dogma estabelecido pelo Concílio Vaticano I e proclamado pelo Papa Pio IX, em 1870, são quatro:
1 - Que o Soberano Pontífice se pronuncie como sucessor de Pedro, usando os poderes das chaves, concedidas ao Apóstolo pelo próprio Cristo;
2 - Que se pronuncie sobre Fé e Moral;
3 - Que queira ensinar à Igreja inteira;
4 - Que defina uma questão, declarando o que é certo, e proibindo, com anátema, que se ensine a tese oposta.
Contudo, é fundamental assinalar que Nosso Senhor não concedeu a Pedro o dom da impecabilidade. Pedro era infalível, mas Simão continuava pecável.
Por isso, quando se fala do Sumo Pontífice, é preciso distinguir o homem e o Papa. O homem pode ser até criminoso - como Alexandre VI -, mas o Papa continua infalível, porque o dom de Cristo é incontaminável. Assim se percebe como um documento da Carbonária dizia que um Papa como Alexandre VI , com toda a sua corrupção, não serviria para a Maçonaria, porque, apesar dos seus crimes, jamais escreveu algo contra a Fé, enquanto Papa.
Por outro lado, quando se fala da autoridade papal, impõe-se também dizer que se o Papa, enquanto chefe da Igreja, não pode errar - nas condições expostas acima - nas questões de Fé e Moral, como pessoa individual ele permanece falível, e enquanto tal ele pode pecar ou seguir uma política errada, e nestas coisas os fiéis católicos têm liberdade, pelo que não estão sujeitos a obedecer sob pena de serem excomungados.
Aos católicos não é ordenado que aceitem de olhos fechados qualquer afirmação proveniente dos seus pastores. Eles têm, aliás, o direito e o dever de alertar para possíveis erros teológicos ou afirmações contraditários com a Doutrina revelada em que os seus pastores - inclusivé o Papa - eventualmente incorram.
O próprio Cardeal Ratzinger ensinou:
«Doutra parte, é possível e até necessário criticar os pronunciamentos do Papa, se não estiverem suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na Fé da Igreja universal. Onde não houver, nem a unanimidade da Igreja universal, nem o claro testemunho das fontes, não pode também haver uma definição que obrigue a crer. Faltando as condições, poder-se-á também suspeitar da legitimidade de um pronunciamento papal.»
Os inimigos da Igreja procuraram sempre criar confusões acerca deste ponto, ora atribuindo ao Papa enquanto tal, e à Igreja, os pecados em que um Papa pode cair como pessoa particular, ora estendendo a infalibilidade a qualquer acção do Supremo Pontífice.
Ora, o Papa é infalível como supremo mestre da Igreja, ao pronunciar-se «ex-Cathedra», mas isso não o torna impecável pessoalmente.
Ao querer confundir infalibilidade com impecabilidade, os inimigos da Santa Igreja visaram minar a devoção e a fé que se deve ter na infalibilidade pontifícia: ao estender-se a infalibilidade a qualquer acção, discurso ou atitude do Papa, leva-se os fiéis a cair num erro que os porá em grave contradição e tentação quando lhes ficar patente que o Papa - como pessoa particular - errou ou pecou.
Assim, ao mesmo tempo que não se deve rejeitar a infalibilidade do Sumo Pontífice por causa dos seus possíveis pecados ou erros pessoais, não se deve negar as suas possíveis faltas morais por causa do brilho do carisma infalível de sucessor de Pedro.
Quanto ao Sumo Pontífice, é preciso sempre ter em mente que ele continua infalível enquanto Papa, mesmo quando pecador enquanto homem, e que ele permanece um homem possivelmente pecador e falível, mesmo sendo Pontífice infalível quando fala «ex-Cathedra».
À pergunta «por que razão amamos o Papa?» a resposta não é outra senão: porque o Papa é Cristo na terra. Amamos o Papa porque é Deus quem o nomeia nosso Pastor. Antes de qualquer simpatia, antes de qualquer tendência ou preferência pessoal nossa, deve estar o amor e a obediência filiais àquele que Deus escolhe para guiar o Seu povo. Não é um ponto de partida ético. Não se trata de associativismo ou comunhão de interesses, nem de política ou clubismo. Trata-se, sumariamente, de um ponto de partida de obediência ao que Deus manda. Por isso, não podemos amar o Papa com base num sentimentalismo, nem amá-lo tendo como base a sua simpatia, as suas virtudes pessoais ou a sua coerência ética, muito menos amá-lo por nos agradar ou por se identificar com as nossas opiniões. Devemos amá-lo porque no poder da sua Cátedra brilha o poder glorioso de Cristo, porque no esplendor e na luz do seu Magistério infalível resplandece a potência infinita e misericordiosa de Deus. Sem o Papa, os homens perdem-se no mar do relativismo, pois ele é a pedra segura e firme que Cristo estabeleceu como fundamento da Sua única Igreja.
Custa ver como, hoje, tantos homens, e até mesmo sacerdotes e bispos, pouco ou nada se incomodam com o que ensina o Papa. Porque, no decorrer da História, mudam as pessoas que exercem o papado, mas o Papa é sempre aquele que fala em nome de Cristo, fonte da unidade da Santa Igreja. O Papa é, de certa forma, sempre o mesmo: Cristo connosco.
Daí a necessidade de ter devoção ao Papa, devoção que não é - de modo algum - uma adesão a um homem, mas sim adesão de Fé àquele que foi posto no lugar de Cristo. Por isso, não devemos ser «fãs» deste ou daquele Papa, mas fiéis ao Papa, defendendo o que os Papas ensinaram. Pela boca de Pedro, Clemente, Pio ou João Paulo, é sempre Jesus Cristo que nos fala.
No século passado, quando foi eleito Pio IX, julgou-se apressadamente que o novo Papa era maçon e que favoreceria o liberalismo. E, de facto, os seus primeiros actos foram extremamente liberais, o que levou os carbonários de Itália a bradarem cotinuamente: «Viva Pio IX!».
São João Bosco, que vivia então em Turim, com a sabedoria e o discenimento próprios dos santos, ordenou aos seus alunos que jamais gritassem «Viva Pio IX», mas sim «Viva o Papa!». Com isto, D. Bosco desfazia a manobra carbonária. Devemos gritar sempre «Viva o Papa», pouco importando o nome daquele que está no trono de Pedro. Seja ele santo ou pecador, devemos manter ao Papa a nossa devoção filial e a nossa fidelidade a tudo o que ele ensina enquanto legítimo sucessor de Pedro e com o poder das chaves.
Neste amor filial não nos move qualquer espécie de idolatria ou histeria colectiva e irracional. Não se trata de um culto do chefe tão ao gosto dos negros totalitarismos do século XX. Na verdade, é, propriamente, a certeza de que Aquele que salva o Mundo se faz presente na pessoa do Sumo Pontífice, ainda que de forma misteriosa e, por vezes, quase que paradoxal, que nos leva a amar o Papa.
Sim, nós temos a certeza. Nós, católicos, somos filhos da certeza. E com a certeza que nos dá a palavra de Cristo e o dogma da infalibilidade papal, firmes sobre a pedra, nós afirmamos: o Papa é Pedro reinando em Roma. O Papa é o Vigário de Cristo.
E quando este tempo maldito nos interroga com a sua boca ateia ou com sua língua progressista; quando ele, sorrindo irónico, duvida da nossa fé; quando ele nos ameaça e nos interroga, dizendo: «E quem é o Papa?», nós, católicos, respondemos, com clareza, que ele é o nosso Pai na Fé.
Depois de séculos de santidade gerada pela Igreja e pela sua Doutrina, infalivelmente repetida pelos papas de todos os tempos; após dois mil anos de milagres, como não saber responder a esta pergunta que o mundo, hoje, nos faz com insolência: «E quem é o Papa?». O Papa é a Rocha sobre a qual Nosso Senhor edificou a sua Igreja.
E quando o nosso tempo subjectivista e evolucionista, que de cada pseudo-cientista ou de cada guru faz um «papa» infalível, repele os Papas do passado porque julga que tudo evolui, nós respondemos que passarão os céus e a terra, mas as palavras do Papa a falar «ex-Cathedra» jamais passarão!
É esta a tragédia das ideologias: propor um «bem» maior que Cristo. Sobre isto, também Paul Claudel tinha algo a dizer quando, em «L' Annoncet a Marie», versava:
«Viver será a finalidade da vida? Estarão os passos dos filhos de Deus amarrados à terra miserável?
O fim não é viver, mas sim morrer, e não armar a cruz mas sim subir à cruz e dar o que temos com alegria!
Ali está a alegria, ali está a liberdade, ali a graça, ali a juventude eternal! E Deus seja bendito, pois na toalha do sacrifício o sangue do velho junto ao sangue do homem
novo põe uma mancha tão vermelha e tão fresca como a mancha dum cordeiro dum ano!
Que vale o mundo em frente da vida? E para que vale a vida senão para a darmos?
E por que nos havemos de atormentar quando é tão simples obedecer?»
Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Sr Luís Froes
Você anda distraído!
Olhe que há muito que o Demónio foi banido pelo Vaticano
M.Elisa
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Senhor Luís de Froes,
Alem de o Vaticano ter banido o Demónio acho que o demasiado grave alguem continuar a afirmar que a sua religião é que é a verdadeira, que a sua religião esta e esteve sempre correcta, e que todos os outros estão errados.
Ora esse recorrente "pecado", nasce ora por falta de conhecimento historico, ora por fanatismo religioso ( e este meu caro Senhor não é salutar, quer se trate de Católicos, Muçulmanos, Judeus ou outra). As leis imutaveis que querem convencer-nos que Cristo impõe à raça humana, acho que de Cristãs pouco têm. Cristo é Pluralidade, é Eclético foi Homem tambem. E de Facto o que sabemos concretamente Dele é que era um Homem, Grandioso, Orador impar, e de uma Bondade Inagualavel, Coerente, falava , ensinava e praticava o Amor. Dai ser tão perigoso para os seus altos sacerdotes Judeus, religião que era a sua, ja que fomos "nós" depois da sua morte que nos separamos da Religião mãe.
Foi Cristo Perigoso para a Hierarquia da Igreja Judaica, falava com uma sapiencia impar para os fieis, de maneira que nenhum rabino fora capaz, esta simplicidade HUMANA de Cristo, conquistou o seu lugar no mundo, perpetuou a sua historia para sempre. O Homem que todos admiramos. O homem que todos deveriamos querer ser, mas para assim o ser, necessitamos de humildade, que é tão rara nos dias de hoje, e o principio basico da Humildade esta no aceitar as diferenças, reconhecer os erros, e não achar que somos mais iluminados e perto de Deus que os comuns.
Jesus, hoje pensa-se que era filho de Maria e José, mas que estes não eram uma simples familia da classe baixa judaica, mas sim da classe alta. Se é verdade ou não , não sou cientista ou Arqueologo para o discutir, mas o seu nascimento humilde,a sua vida sempre passada a lidar com todos , pobres e ricos, doentes e saudaveis, letrados e analfabetos, Jesus Cristo não se chamava Principe da Igreja, não se chamava a si Próprio Unico Filho de Deus, mas antes, disse que TODOS SOMOS FILHOS DE DEUS, TODOS SOMOS IRMÃOS.
Ora quanto no inicios do Cristianismo, o Imperador Romano Adpta a nossa Religião para a Religião do Império,passam os Cristãos de preseguidos e torturados barbaramente nos Coliseus de todo o Império Romano, para um crescente Poder Santo/Politico. A propria Estrutura do Vaticano é uma estrutura politica, com o Papa no topo do poder, depois os seus Principes, Bispos e Padres.
Não Acredito que esta tenha sido a visão que Jesus Cristo tinha para a sua Palavra.
Esta é sim a nossa visão, sobre como gostariamos que fosse a Palavra de Cristo.
Espero que entenda que esta é somente uma opinião minha e nenhuma teoria crescente contra as ideias Católicas.
Sinceros Cumprimentos
João Paulo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Susana Rilhó Gama,
Muito obrigado pelas suas palavras.
Cumprimentos
João Paulo
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A infância
Meus caros ainda coloco aqui como se vivia no tempo da Inquisição. Aí veremos como a Igreja "protegia" as liberdades, no tempo dos nossos antepassados!
Bem, continuo:
A Infância
Durante longos meses o recém-nascido mantinha-se embrulhado, enfaixado de forma a manter os seus membros direitos junto ao tronco, a cabeça bem presa e as orelhas bem encostadas à cabeça. Evitava, segundo se dizia, que apanhasse frio, pois mesmo no verão “o bebé pode apanhar frio”. Por outro lado enfaixando o bebé permitia transporta-lo mais facilmente, mas permitia igualmente que o bebé apanhasse muitas infecções. Mas esta forma de tratar a criança facilitava o seu transporte e permitia pendurá-lo numa árvore, à sombra, enquanto a mã trabalha perto na lida do campo.
Durante um ano o bebé permanece imóvel, e ninguém se ocupa muito dele.
Se ele resistir, pois no século XVIII, uma criança em quatro morria antes de ter um ano de idade. Tratavam-se mal as doenças. Contra a tinha, por exemplo, colocava-se simplesmente cinzas sobre a cabeça. A varíola atacava as crianças até aos quatro anos, até que se começou a proceder à vacinação no século XIX. A varicela provocava complicações fatais. Os problemas digestivos, as diarreias podiam ser mortais. O raquitismo era frequente e somente foi resolvido quando no século XX se começou a administrar o óleo fígado de bacalhau. A difteria provocava hecatombes.
Para evitar todas estas doenças, a criança, trazia amuletos vários: dentes de alho, grãos de pimenta vermelha (que servia ainda para combater o sarampo se se tomasse uma maceração destes grãos em vinho tinto). Era mergulhado em águas de determinadas fontes que se consideravam com capacidade curativas e invocavam-se os santos. Havi-os para todas as doenças. Mesmo quando começaram a aparecer médicos nas aldeias, não os levavam à consulta pois eles não podiam dizer de que sofriam!
A morte das crianças foi durante muito tempo considerada uma fatalidade, uma lei da natureza. Os padres muitas vezes omitiam o seu registo, nomeadamente quando morriam à nascença. Dizia-se: “Mais um anjo para o Paraíso”. O Padre registava o seu óbito, como “um inocente”. E isso até aos sete, oito anos.
O desmame era uma etapa da sua vida. Daí em diante, até poder trabalhar, crescia sem preocupações e com o apoio dos mais velhos que o ensinavam. Rapaz ou rapariga era vestido com um vestido uni sexo até à idade da razão, e isto até cerca de 1910.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Senhora,
Recomendo-lhe que estude Doutrina da Igreja e veja menos televisão.
Paulo VI afirmou categoricamente: «Sabemos, portanto, que este ser mesquinho e perturbador [o diabo] existe realmente, e que ainda actua com astúcia traiçoeira; é o inimigo oculto que semeia erros e desgraças na história humana.»
O Papa Paulo VI afirma que é hereje, isto é, está fora da doutrina revelada na Bíblia e da Fé da Igreja quem nega a sua [do diabo] existência: «Sai do âmbito do ensinamento bíblico e eclesiástico quem se recusa a reconhecer a existência desta realidade... ou a explica como uma pseudo-realidade, como uma personificação conceitual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças» (SEDOC, 5 março 1973, 1037).
Não há dúvida alguma de que Paulo VI espelha fielmente o Magistério ordinário, bi-milenário da Igreja, quando pronunciou estas palavras. A existência do Diabo nunca foi negada por nenhum Papa, nenhum Concílio, nem nunca foi posta em dúvida por nenhum heresiarca. Sem dúvida alguma, trata-se de uma verdade de «Fide Divina et Catholica» pelo Magistério Ordinário da Igreja. Logo é um dogma de Fé.
Pelo Papa João Paulo II:
«Não se deve ter medo de chamar pelo seu nome o primeiro artífice do mal: o Maligno. A táctica que aplicou e aplica consiste em não se revelar, para que o mal difundido por ele desde a origem se desenvolva por acção do próprio homem» (João Paulo II, Mensagem de 31 de março de 1985)
Ou o próprio Concílio Vaticano II:
«Deus decidiu entrar na história humana de um modo novo e definitivo, enviando o seu Filho na nossa carne, a fim de por Ele arrancar os homens ao poder das trevas e de Satanás (cfr. Col 1, 13; At 10, 38) e n' Ele reconciliar conSigo o mundo» (Ad gentes, n. 3).
Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Senhor ou deverei dizer jovem envelhecido?
Doutrina da igreja estudo-a e sigo-a desde muito antes do senhor ter nascido.
Por isso não recebo "lições" suas!
Era o que faltava!
Repito: A Igreja baniu há muito tempo o conceito do Demónio.
Deixe-se de teorias maniqueístas .
M.Elisa
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Senhora,
Prove com um documento de Magistério Ordinário ou com um documento de Magistério Extraordinário a sua tese.
Não sou eu quem lhe dá lições, é a doutrina imutável da Santa Madre Igreja.
Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro João Paulo,
A falta de tempo impede-me de responder com clareza ao que expôs.
Amanhã tentarei fazê-lo.
Uma boa noite.
Com os melhores cumprimentos,
Luís Froes
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro João Paulo
Geralmente não me imiscuo nestes pontos de vista. Respeito as opiniões dos outros, quando não são fundamentalistas e como únicos detentores da verdade.
Gostei muito de ler as suas msgs. que são ,sem dúvida, de verdadeiro humanismo cristão.
E digo-o, porque sou católico e essa educação logo do berço, mas concordo consigo. Felicito-o pela sua postura perante as diferentes religiões e pelo respeito e tolerância que lhe merecem, subjacente ao seu pensamento, de acordo com a sua consciência de homem de bem.
Com os meus melhores cumprimentos,
Rafael Carvalho
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Rafael Carvalho,
Muito obrigado pelas suas palavras.
Eu sou Católico, e por isso ou não foi me ensinada a palavra de Cristo nos meus tempos de menino. Das palavras e passagens do Antigo e do Novo Testamento, o que mais me marcou foram as de Amor e Tolerancia de Cristo.
Tambem por ter nascido em 79, já num regime de Democracia, talvez tenha liberdade e curiosidade natural para questionar o que nos ensinam como garantido, porque todos os regimes sejam eles politicos ou religiosos que proibem o Homem de pensar não podem ser benéficos.A inquisição foi um exemplo disso, tal como as Ditaduras tanto de esquerda como de direita o foram num passado mais recente em todo o Mundo, e esses regimes autoritários , repito tanto politicos como os religiosos provocam a destruição da Sociedade no seu centro vital
( Alguem disse que: "Um Império só é destruido por outro quando ele próprio ja se destruio por dentro) . A inquisição e a ditadura provocaram o pior do que o Homem tem, passando de uma sociedade de respeito e entreajuda, para a sociedade da denuncia, são conhecidos os casos na enquisição de fulano porque não gosta de beltrano, o acusava de Bruxaria, ou Judeismo ou Herege, o Rossio era palco de muitas atrocidades em Lisboa, ja na Ditadura esse mesmo mal( talvez o nosso demónio) veio de novo e surge tambem porque Beltrano não gosta de Fulano e acusa-o de ser contra o regime, de ser Pro-Russia, etc. Este aspecto que mudou a nossa sociedade para sempre, tornando-a Sufucante, esta presente até na nossa Arquitectura. Quem viajou para os Paises Anglo-saxonicos, concerteza reparou que nas cidades as janelas são abertas e despidas de cortinas ou persianas que escondem o que se passa nos lares, não existe a ideia de pecado que nós temos, o medo do vizinho nos espiar e contar o que fazemos em nossas casas, escondemo-nos vivemos tapados ainda hoje, a minha mãe constantemente, quando o sol se põe manda me fechar a janela porque os vizinhos podem nos ver em casa ( que estranho não?). Outro exemplo que podemos ter é o Português que sai do país e sente a liberdade, mesmo nos dias de hoje, torna-se mais leve e até passou de contido a eufórico no exemplo Brasileiro.
Muitas vezes uso a metáfora em meus pensamentos para tentar entender o ponto de vista das pessoas que não conseguem entender que nós como unidade pertencemos a um todo, e que como céculas de um corpo vivo, se estamos salutares o corpo funciona bem, se uma se encontra maligna , põe em risco o correcto funcionamento das outras, o bem e o mal vive em nós, é parte integrante do Homem, cabe é claro se somos racionais, pensar e fazer o que achamos correcto para nós e para a nossa comunidade. é como um jardim... visitei um jardim familiar que outróra teve dias resplandecentes, hoje encontra-se um pouco descuidado, isto porque a pessoa que cuida dele morreu de amores por uma Camélia e de facto a camélia esta lindissima carregada de flores, mas as restantes partes do jardim não acompanham este esplendor, a relva esta por cortar, asfixiada por ervas daninhas, arvores estão por podar, etc...o que se passa neste jardim de uma familiar minha é que a pessoa que o construio não possui uma visão do jardim na sua totalidade, por sua vez a apropriação foi feita por partes, e defacto se tirar uma foto à camélia ou a uma das Palmeiras, todos seriam unanimes a dizer que bonita planta, mas se tirar uma foto da totalidade do jardim ele não funciona, a camélia não tem o brilho neste jardim que poderia ter, entende? eu olho para o Jardim e vejo um todo, claro que cada planta e flor valem por si, mas estando num território comum, dependem tambem umas das outras.
Mais uma vez agradeço as sua amáveis palavras.
Com os meus melhores cumprimentos
João Paulo
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RE: O Casamento
Caro Manuel
É de facto. Algumas destas belíssimas cartas foram publicadas no livro "Dois escritores portuenses, o poeta António Pinheiro Caldas e Amorim de Carvalho" da autoria de um primo meu Júlio Amorim de Carvalho e no qual também colaborei. Se conhece o livro, pode ler outras das cartas. São todas um relato de uma época e das suas conjunturas vistas por um homem de carácter especial e uma das figuras do ultra-romantismo Português.
cumprimentos
João Borges
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Estou admirado com as inofrmações. Parabéns pelo grande trabalho, aprendi muito.
Com os melhores cumprimentos
César Paulo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro João Gaspar
Tal como o estimado confrade Rafael Carvalho, e apesar de não gostar de discutir estes temas, gostei de o ler. Para mim Deus é Amor, Tolerância, Solidariedade, Humanidade, Paz. o " Amar o próximo como o nós mesmos" tem uma profundidade universal, encerra todo um mundo de princípios.
Com os meus melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: O Casamento
Caro João Borges
Recordo agora que li, efectivamente, e penso que não há muitos anos, o livro que refere, embora me pareça que já conhecia a carta antes de lá a encontrar. Terá sido publicada anteriormente? Penso que sim. Talvez n’O Tripeiro, se o “déjà vu” me não induz em erro. Lembro-me ainda de outra carta, encantadora, onde Pinheiro Caldas, conta que, na primeira noite que passou em Paris, estava desejoso que o acompanhante, seu fornecedor de fazendas ou coisa semelhante, o deixasse só no quarto de hotel, para poder chorar, sem testemunhas, com saudades da mulher.
Tenho também memória (e acredite que isto me espanta) de o autor do livro considerar que o poeta possuíra duas tabacarias, por desconhecer que as ruas onde elas se situariam não eram distintas, tratando-se da mesma, ostentando duas diferentes designações, talvez a rua do Bispo, de D. Pedro e de Elias Garcia, que mais não foram que sucessivos nomes da mesma rua, grosso modo correspondendo à via ascendente da actual Avenida dos Aliados.
Concordo com a apreciação que faz das cartas, que exprimem, com uma deliciosa ingenuidade, o tom da intimidade conjugal oitocentista, quando o casamento, coisa rara na época, se fundava em sentimentos.
Muito orgulhoso deste inesperado fogacho de boa memória, agradeço-lhe a confirmação e envio-lhe cumprimentos.
Manuel.
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RE: O Casamento
Caro Manuel
Não lhe sei dizer se esta carta já foi publicada, contudo vou inquirir o meu primo, que vive em paris, sobre este assunto e falar-lhe sobre o nome das ruas!
Na dita carta que refere, e que acho belíssima, o António Pinheiro Caldas escreve: – "(...) este dia devia ser teu e teu foi do principio ao fim. Cheguei a casa. Fechei-me por dentro. Chorei em liberdade, e em liberdade tornei a lêr a tua carta! (...).
Realmente, quando lê-mos a carta o aspecto mais significativo, e imutável, é o sentimental. E é através da saudade e da sua paixão que o poeta revela e constacta todo o seu orgulho pela "modernidade".
Já agora, gostaria de saber se o seu conhecimento do poeta é circunstancial ou se é porventura familiar?
cumprimentos,
João Borges
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O baptizado
O baptizado
Os primeiros baptizados cristãos eram dados aos adultos por imersão na água como São João Baptista fez para Jesus. Sobre a influência de Santo Agostinho, o baptismo passou a ser feito por “aspersão” e que o Concílio de Cartago de 418 permite dar ás crianças. Mas o baptizado das crianças irá sempre trazer problemas. A Igreja passa a insistir que o baptizado seja realizado nos 3 dias após o nascimento. O Concílio de Trento parece ter definitivamente imposto tal, e qualquer genealogista poderá confirmar que a partir do final do século XVI todos os registos de baptizados que podemos encontrar, são realizados quase logo após o nascimento. Consequência deste procedimento é que os baptizados nunca serão cerimónias muito organizadas, com muitos convidados, pois a família não chega a ter tempo para se deslocar quando vive longe do local do baptizado. Claro que as famílias mais ricas fogem a esta orientação e são quem baptiza mais tarde os seus filhos permitindo a organização de uma festa.
Claro que o bebé está protegido, como vimos, mas os perigos de fazer deslocar uma criança tão pequena a uma igreja fria, não irá diminuir a taxa de mortalidade infantil, antes pelo contrário. O cortejo chega à igreja com a parteira à frente levando a criança, seguidos dos padrinhos, o pai e alguns familiares, mas nunca mãe que ainda se não recompôs.
E quem são os padrinhos? Devem ser bons católicos para agradar ao padre. Os padrinhos do filho mais velho são normalmente os avós, ou uns tios ou tias para os outros filhos. Às vezes é o cura, tio da família ou ainda uma pessoa importante da aldeia ou cidade, pensando que poderá ajudar a educação da criança. Claro que a escolha deve ser tal que seja muito difícil ao afilhado ou afilhada vir a casar com o seu padrinho ou madrinha, pois tal não é autorizado pela igreja. Padrinho e madrinha serão compadres e não podem se “conhecer carnalmente”. Se tal acontecer, as tradições populares dizem que nunca poderão entrar no Paraíso, salvo se o afilhado fizer penitências por um e pelo outro. Igualmente se o pai da criança tiver um “affaire” com a madrinha, ou a mãe com o padrinho, “haverão raios e coriscos em terra ou no mar”. Repare-se esta precisão que tal poderá somente acontecer no mar, sem que ninguém venha a saber.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: O Casamento
Caro João Borges
Não sou familiar do poeta. Acontece que me interesso pela envolvência de Faustino Xavier de Novais, que, como decerto sabe, fundou, em sociedade com António Pinheiro Caldas, a revista "O Bardo".
O fascínio de Pinheiro Caldas pela “modernidade” oitocentista, não era uma particularidade dele. Todo o país se orgulhava das “maravilhas deste século”, e mais que ninguém, os portuenses.
Outro dia, ouvi na televisão, num programa sobre a história dos caminhos de ferro portugueses, uma altamente considerada investigadora portuguesa afirmar que, em Portugal, eles foram pessimamente recebidos, porque os engenheiros eram ingleses e os padres sublevavam as populações contra a diabólica invenção dos heréticos.
É difícil imaginar algo mais absurdo, mais afastado da realidade; mas, pronunciado com o ar distante e superior de quem condescente, de vez em quando, em falar para o galinheiro que somos todos nós com uma feminina excepção, soa bem, soa forte e qualifica. Gostava de saber o que a dama diria se lhe pedissem, com bons modos, uma pequena notícia de jornal para suportar a “tese”.
Assim se escreve a História e se criam reputações em Portugal...
Pedindo-lhe desculpa pela digressão (ferroviária), envio-lhe cumprimentos,
Manuel.
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RE: O Casamento
caro Manuel
Gostei da digressão ferroviária! Quanto à forma como a nossa história tem sido "reescrita" e "reinventada" prefiro não enviar comentários...
O António Pinheiro Caldas foi alvo de alguns artigos no Tripeiro mas, de facto, as cartas são inéditas até à publicação do livro que atrás mencionei. Se pretender o contacto da casa Amorim de Carvalho ou do meu primo que procede a inúmeras investigações sobre o poeta, posso enviar-lhe para um seu mail pessoal. Estou por certo que ele lhe poderá facultar dados sobre o Xavier de Novais.
A tal "gafe" que salienta em relação às ruas, está correcta. Disse-me o Júlio Amorim de Carvalho que detectou o facto e corrigiu o dado num artigo publicado à poucos anos na Revista Gil Vicente.
os meus cumprimentos,
João Borges
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Luís Froes,
Santo António, com gente como esta, dedicou-se a pregar aos peixes...
Parabéns pela sua exposição. Vejo que compreende bem a Fé e o papdo romano.
Qualquer pessoa sabe que a Igreja não baniu o demónio. Paulo VI afirmou mesmo: Attraverso qualche fessura il fumo di Satana è entrato nella Chiesa».
O resultado é bem visível e não deixa margem para dúvidas...
Não deixa de ser curioso que tendo suprimido o diabo, o Vaticano tenha há bem pouco tempo promulgado o novo ritual dos exorcismos...
Teologia autodidacta não funciona nem funcionou nunca! Aqueles que - com espírito superior - o tentaram, descambaram na heresia; o comum dos mortais, esse, acaba na patetice sem nexo.
Já agora aconselho o documento «Dominus Iesus» acerca da Igrejae da sua relação com as outras religiões.
Tudo o resto são balelas e não passam de opiniões pessoais eivadas de orgulho. E parece-me que este ainda não foi banido do rol dos pecados...
Gostaria de falar consigo em particular. Peça ao moderador o meu email.
Obrigado.
Cumprimentos,
A. Sapinho
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Já agora mais uma achega:
«... E LIBERACI DAL MALIGNO». Intervista con padre Gabriele Amorth
Il fumo di Satana nella casa del Signore
Sono trascorsi 29 anni da quel 29 giugno del 1972, festa degli apostoli Pietro e Paolo, quando papa Montini parlò del nemico di Dio per antonomasia: «Attraverso qualche fessura il fumo di Satana è entrato nella Chiesa». E oggi? Beh, quel fumo si diffonde in stanze insospettate…
di Stefano Maria Paci
Sono trascorsi 29 anni da quel 29 giugno del 1972. Era la festa di san Pietro, principe degli apostoli. Era la festa di san Paolo, colui che ha portato il Vangelo di Cristo fino all’estremo Occidente. E in quel 29 giugno, festa dei santi protettori di Roma, il successore di Pietro che aveva preso il nome di Paolo lanciò un grido drammatico. Paolo VI parlò del nemico di Dio per antonomasia, di quel nemico dell’uomo che si chiama Satana. Il nemico della Chiesa. «Attraverso qualche fessura» denunciò Paolo VI «il fumo di Satana è entrato nella Chiesa». Un grido angoscioso, che lasciò stupiti e scandalizzò molti, anche all’interno del mondo cattolico.
E oggi, 29 anni dopo? Quel fumo è stato allontanato, o ha invaso altre stanze? Siamo andati a chiederlo a uno che con Satana e le sue astuzie ha a che fare tutti i giorni. Quasi per professione. È l’esorcista più famoso del mondo: padre Gabriele Amorth, fondatore e presidente ad honorem dell’Associazione internazionale degli esorcisti. Siamo andati da lui anche perché poche settimane fa, il 15 maggio, è stata approvata dalla Cei la traduzione italiana del nuovo Rituale degli esorcismi. Per entrare in uso attende solo il placet della Congregazione per il culto divino e la disciplina dei sacramenti. Una nuova arma che ha la Chiesa per combattere il Nemico? Per scacciare, se ancora non è stato fatto, quel fumo penetrato nel tempio del Signore? Macché! Sentite cosa racconta padre Amorth. Scoprirete che la guerra, in corso da millenni, infuria più furibonda che mai. Che la battaglia adesso si è spostata soprattutto all’interno della casa del Signore. E quel fumo... beh, quel fumo si diffonde in stanze insospettate.
Padre Amorth, finalmente è pronta la traduzione italiana del nuovo Rituale per gli esorcisti.
GABRIELE AMORTH: Sì, è pronta. L’anno scorso la Cei aveva rifiutato di approvarla perché c’erano errori di traduzione dal latino. E noi esorcisti, che dovremmo utilizzarla, avevamo approfittato per segnalare ancora una volta che su molti punti del nuovo Rituale non siamo d’accordo. Il testo base in latino resta immutato in questa traduzione. E un Rituale tanto atteso alla fine si è trasformato in una beffa. Un incredibile legaccio che rischia di impedirci di operare contro il demonio.
Un’accusa pesante. A cosa si riferisce?
AMORTH: Le faccio solo due esempi. Clamorosi. Al punto 15 si parla dei malefici e di come comportarsi. Il maleficio è un male causato a una persona ricorrendo al diavolo. E può essere fatto in diverse forme, come fatture, maledizioni, malocchi, vudù, macumba. Il Rituale romano spiegava come bisognasse affrontarlo. Il nuovo Rituale, invece, afferma categoricamente che c’è proibizione assoluta di fare esorcismi in questi casi. Assurdo. I malefici sono di gran lunga la causa più frequente delle possessioni e dei mali procurati dal demonio: non meno del 90 per cento. È come dire agli esorcisti di non operare più. Il punto 16, poi, afferma solennemente che non si debbono fare esorcismi se non c’è la certezza della presenza diabolica. È un capolavoro di incompetenza: la certezza che il demonio sia presente in una persona si ha solo facendo l’esorcismo. Tra l’altro, gli estensori non si sono accorti di contraddire, in entrambi i punti, il Catechismo della Chiesa cattolica, che indica di compiere l’esorcismo sia nel caso di possessioni diaboliche che di mali causati dal demonio. E dice anche di farlo sia sulle persone che sulle cose. E nelle cose non c’è mai la presenza del demonio, c’è solo la sua influenza.
Le affermazioni contenute nel nuovo Rituale sono gravissime e dannosissime, frutto di ignoranza e inesperienza.
Ma non è stato compilato da esperti?
AMORTH: Assolutamente no. In questi dieci anni sul Rituale hanno lavorato due commissioni: quella composta da cardinali che ha curato i Prenotanda, ossia le disposizioni iniziali, e quella che ha curato le preghiere. Io posso affermare con certezza che nessuno dei membri delle due commissioni ha mai fatto esorcismi né ha mai assistito ad esorcismi né ha mai avuto la più pallida idea di cosa sono gli esorcismi. Questo è l’errore, il peccato originale, di questo Rituale. Nessuno che vi ha collaborato era esperto di esorcismi.
Come è possibile?
AMORTH: Non lo chieda a me. Durante il Concilio ecumenico Vaticano II ogni commissione era coadiuvata da un gruppo di esperti che affiancavano i vescovi. E l’abitudine si è mantenuta anche dopo il Concilio, ogni volta che si sono rifatte parti del Rituale. Ma non in questo caso. E se c’era un argomento su cui servivano degli esperti, era questo.
E invece?
AMORTH: Invece noi esorcisti non siamo mai stati consultati. E, tra l’altro, i suggerimenti che abbiamo dato sono stati ricevuti con fastidio dalle commissioni. La storia è paradossale. Vuole che gliela racconti?
Certo.
AMORTH: Man mano che, come aveva chiesto il Concilio Vaticano II, le varie parti del Rituale romano venivano riviste, noi esorcisti attendevamo che venisse trattato anche il titolo XII, cioè il Rituale esorcistico. Ma evidentemente non era considerato un argomento rilevante, dato che passavano gli anni e non succedeva nulla. Poi, improvvisamente, il 4 giugno del 1990, uscì il Rituale ad interim, di prova. Fu una vera sorpresa per noi, che non eravamo mai stati consultati prima. Eppure da tempo avevamo preparato delle richieste, in vista di una revisione del Rituale. Chiedevamo, tra l’altro, di ritoccare le preghiere, immettendovi invocazioni alla Madonna che mancavano completamente, e di aumentare le preghiere esorcistiche specifiche. Ma eravamo stati completamente tagliati fuori dalla possibilità di dare qualsiasi contributo. Non ci scoraggiammo: il testo era stato fatto per noi. E dato che nella lettera di presentazione l’allora prefetto della Congregazione per il culto divino, il cardinale Eduardo Martínez Somalo, chiedeva alle conferenze episcopali di far avere, entro due anni, «consigli e suggerimenti dati dai sacerdoti che ne avranno fatto uso» ci mettemmo al lavoro. Riunii diciotto esorcisti scelti tra i più esperti del pianeta. Esaminammo con grande attenzione il testo. Lo utilizzammo. Abbiamo subito elogiato la prima parte, nella quale venivano riassunti i fondamenti evangelici dell’esorcismo. È l’aspetto biblico-teologico, su cui non mancava certo la competenza. Una parte nuova, rispetto al Rituale del 1614 composto sotto papa Paolo V: del resto, all’epoca non c’era bisogno di ricordare questi princìpi, da tutti riconosciuti ed accettati. Oggi, invece, è indispensabile.
Ma quando siamo passati ad esaminare la parte pratica, che richiede una conoscenza specifica dell’argomento, si è palesata la totale inesperienza dei redattori. Le nostre osservazioni sono state copiose, articolo per articolo, e le abbiamo fatte avere a tutte le parti interessate: Congregazione per il culto divino, Congregazione per la dottrina della fede, conferenze episcopali. Una copia fu consegnata direttamente nelle mani del Papa.
Come sono state accolte le vostre osservazioni?
AMORTH: Accoglienza pessima, efficacia nulla. Ci eravamo ispirati alla Lumen gentium, in cui la Chiesa è descritta come «Popolo di Dio». Al numero 28 si parla della collaborazione dei sacerdoti con i vescovi, al numero 37 si dice con chiarezza, addirittura riferendolo ai laici, che «secondo la scienza, la competenza e il prestigio di cui godono, hanno la facoltà, anzi talora anche il dovere, di far conoscere il loro parere su cose concernenti il bene della Chiesa». Era esattamente il nostro caso. Ma ci eravamo illusi, ingenuamente, che le disposizioni del Vaticano II fossero giunte alle congregazioni romane. Invece ci siamo trovati di fronte un muro di rifiuto e di disprezzo. Il segretario della Congregazione per il culto divino fece una relazione alla commissione cardinalizia in cui diceva che i loro unici interlocutori erano i vescovi, e non i sacerdoti o gli esorcisti. E aggiungeva testualmente, a proposito del nostro umile tentativo di aiuto come esperti che esprimono il loro parere: «Si dovette prendere atto del fenomeno di un gruppo di esorcisti e cosiddetti demonologi, quelli che in seguito si sono costituiti in Associazione internazionale, che orchestravano una campagna contro il rito». Un’accusa indecente: noi non abbiamo mai orchestrato nessuna campagna! Era indirizzato a noi il Rituale, e nelle commissioni non avevano convocato nessuna persona competente: era più che logico che tentassimo di dare il nostro contributo.
Ma allora vuol dire che il nuovo Rituale è per voi inutilizzabile nella lotta contro il demonio?
AMORTH: Sì. Ci volevano consegnare un’arma spuntata. Sono state cancellate le preghiere efficaci, preghiere che avevano dodici secoli di storia, e ne sono state create di nuove, inefficaci. Ma per fortuna ci è stata gettata, all’ultimo, una scialuppa di salvataggio.
Quale?
AMORTH: Il nuovo prefetto della Congregazione per il culto divino, il cardinale Jorge Medina, ha affiancato al Rituale una Notificazione. In cui si afferma che gli esorcisti non sono obbligati ad usare questo Rituale, ma se vogliono possono utilizzare ancora il vecchio facendone richiesta al vescovo. I vescovi devono chiedere l’autorizzazione alla Congregazione che però, come scrive il cardinale, «la concede volentieri».
«La concede volentieri»? È una ben strana concessione…
AMORTH: Vuol sapere da dove nasce? Da un tentativo compiuto dal cardinale Joseph Ratzinger, prefetto della Congregazione per la dottrina della fede, e dallo stesso cardinale Medina di introdurre nel Rituale un articolo – allora era l’articolo 38 – in cui si autorizzavano gli esorcisti ad usare il Rituale precedente. Indubbiamente si trattava di una manovra in extremis per farci evitare i grandi errori che ci sono in questo Rituale definitivo. Ma il tentativo dei due cardinali venne bocciato. Allora il cardinale Medina, che aveva compreso la posta in gioco, ha deciso di darci in ogni caso questa scialuppa di salvataggio, aggiungendo una notifica a parte.
Come venite considerati, voi esorcisti, all’interno della Chiesa?
AMORTH: Siamo trattati malissimo. I confratelli sacerdoti che vengono incaricati di questo delicatissimo compito sono visti come dei matti, degli esaltati. In genere sono appena tollerati dagli stessi vescovi che li hanno nominati.
Il fatto più clamoroso di questa ostilità?
AMORTH: Abbiamo tenuto un convegno internazionale degli esorcisti vicino a Roma. E abbiamo domandato di essere ricevuti dal Papa. Per non dargli l’aggravio di aggiungere una nuova udienza alle tantissime che già fa, abbiamo semplicemente chiesto di essere ricevuti in udienza pubblica, quella in piazza San Pietro del mercoledì. E senza nemmeno la necessità di essere citati tra i saluti. Abbiamo fatto regolare domanda, come ricorderà perfettamente monsignor Paolo De Nicolò, della Prefettura della casa pontificia, che ha accolto a braccia aperte la nostra richiesta. Il giorno prima dell’udienza però lo stesso monsignor De Nicolò ci ha detto – a dire il vero con grande imbarazzo, per cui si è visto benissimo che la decisione non dipendeva da lui – di non andare, che non eravamo ammessi. Incredibile: 150 esorcisti provenienti dai cinque continenti, sacerdoti nominati dai loro vescovi in conformità con le norme del diritto canonico che richiedono preti di preghiera, di scienza e di buona fama – quindi un po’ il fior fiore del clero –, chiedono di partecipare a un’udienza pubblica del Papa e vengono buttati fuori. Monsignor De Nicolò mi ha detto: «Naturalmente le prometto che le invierò subito la lettera con le motivazioni». Sono passati cinque anni, e quella lettera la aspetto ancora.
Certamente non è stato Giovanni Paolo II ad escluderci. Ma che a 150 sacerdoti venga proibito di partecipare a una udienza pubblica del Papa in piazza San Pietro spiega quanto sono ostacolati gli esorcisti dalla loro Chiesa, quanto sono malvisti da tante autorità ecclesiastiche.
Lei col demonio ci combatte quotidianamente. Qual è il più grande successo di Satana?
AMORTH: Riuscire a far credere di non esistere. E ci è quasi riuscito. Anche all’interno della Chiesa. Abbiamo un clero e un episcopato che non credono più nel demonio, negli esorcismi, nei mali straordinari che il diavolo può dare, e nemmeno nel potere che Gesù ha concesso di scacciare i demoni.
Da tre secoli la Chiesa latina – al contrario della Chiesa ortodossa e di varie confessioni protestanti – ha quasi del tutto abbandonato il ministero esorcistico. Non praticando più esorcismi, non studiandoli più e non avendoli mai visti, il clero non ci crede più. E non crede più nemmeno al diavolo. Abbiamo interi episcopati contrari agli esorcismi. Ci sono nazioni completamente prive di esorcisti, come la Germania, l’Austria, la Svizzera, la Spagna e il Portogallo. Una carenza spaventosa.
Non ha nominato la Francia. Lì la situazione è differente?
AMORTH: C’è un libro scritto dal più noto esorcista francese, Isidoro Froc, dal titolo: Gli esorcisti, chi sono e cosa fanno. Il volume, tradotto in italiano dall’editrice Piemme, è stato scritto per incarico della Conferenza episcopale francese. In tutto il libro non si dice mai che gli esorcisti, in certi casi, fanno esorcismi. E l’autore ha più volte dichiarato alla televisione francese di non avere mai fatto esorcismi e che mai li farà. Su un centinaio di esorcisti francesi, solo cinque credono al demonio e fanno gli esorcismi, tutti gli altri mandano chi si rivolge a loro dagli psichiatri.
E i vescovi sono le prime vittime di questa situazione della Chiesa cattolica, da cui sta scomparendo la credenza nell’esistenza del demonio. Prima che uscisse questo nuovo Rituale, l’episcopato tedesco ha scritto una lettera al cardinale Ratzinger in cui affermava che non occorreva un nuovo Rituale, perché non si dovevano più fare gli esorcismi.
È compito dei vescovi nominare gli esorcisti?
AMORTH: Sì. Quando un sacerdote viene nominato vescovo, si trova di fronte ad un articolo del Codice di diritto canonico che gli dà l’autorità assoluta per nominare degli esorcisti. A qualsiasi vescovo il minimo che si può chiedere è che abbia almeno assistito a un esorcismo, dato che deve prendere una decisione così importante. Purtroppo, non accade quasi mai. Ma se un vescovo si trova di fronte a una seria richiesta di esorcismo – che cioè non viene fatta da uno svitato – e non provvede, commette peccato mortale. Ed è responsabile di tutte le terribili sofferenze di quella persona, che a volte durano anni o una vita, e che avrebbe potuto impedire.
Sta dicendo che la maggior parte dei vescovi della Chiesa cattolica è in peccato mortale?
AMORTH: Quando ero ragazzino il mio vecchio parroco mi insegnava che i sacramenti sono otto: l’ottavo è l’ignoranza. E l’ottavo sacramento ne salva più degli altri sette sommati assieme. Per compiere peccato mortale occorre una materia grave ma anche la piena avvertenza e il deliberato consenso. Questa omissione di aiuto da parte di molti vescovi è materia grave. Ma questi vescovi sono ignoranti: non c’è dunque deliberato consenso e piena avvertenza.
Ma la fede rimane intatta, cioè rimane una fede cattolica, se uno non crede nell’esistenza di Satana?
AMORTH: No. Le racconto un episodio. Quando incontrai per la prima volta don Pellegrino Ernetti, un celebre esorcista che ha esercitato per quarant’anni a Venezia, gli dissi: «Se potessi parlare con il Papa gli direi che incontro troppi vescovi che non credono nel demonio». Il pomeriggio seguente padre Ernetti è tornato da me per riferirmi che il mattino era stato ricevuto da Giovanni Paolo II. «Santità», gli aveva detto, «c’è un esorcista qui a Roma, padre Amorth, che se venisse da lei le direbbe che conosce troppi vescovi che non credono nel demonio». Il Papa gli ha risposto, secco: «Chi non crede nel demonio non crede nel Vangelo». Ecco la risposta che ha dato lui e che io ripeto.
Mi faccia capire: la conseguenza è che molti vescovi e molti preti non sarebbero cattolici?
AMORTH: Diciamo che non credono a una verità evangelica. Quindi semmai li taccerei di propagare un’eresia. Però intendiamoci: uno è formalmente eretico se viene accusato di qualcosa e se persiste nell’errore. Ma nessuno, oggi, per la situazione che c’è nella Chiesa, accusa un vescovo di non credere nel diavolo, nelle possessioni demoniache e di non nominare esorcisti perché non ci crede. Eppure potrei farle tantissimi nomi di vescovi e cardinali che appena nominati in una diocesi hanno tolto a tutti gli esorcisti la facoltà di esercitare. Oppure di vescovi che sostengono apertamente: «Io non ci credo. Sono cose del passato». Perché? Purtroppo perché c’è stata l’influenza perniciosissima di certi biblisti, e potrei farle molti nomi illustri. Noi che tocchiamo ogni giorno con mano il mondo dell’aldilà, sappiamo che ha messo lo zampino in tante riforme liturgiche.
Per esempio?
AMORTH: Il Concilio Vaticano II aveva chiesto di rivedere alcuni testi. Disobbedendo a quel comando, si è voluto invece rifarli completamente. Senza pensare che si potevano anche peggiorare le cose anziché migliorarle. E tanti riti sono stati peggiorati per questa mania di voler buttare via tutto quello che c’era nel passato e rifare tutto daccapo, come se la Chiesa fino ad oggi ci avesse sempre imbrogliato e ingannato, e solo adesso fosse finalmente arrivato il tempo dei grandi geni, dei superteologi, dei superbiblisti, dei superliturgisti che sanno dare alla Chiesa le cose giuste. Una menzogna: l’ultimo Concilio aveva semplicemente chiesto di rivederli quei testi, non di distruggerli.
Il Rituale esorcistico, per esempio: andava corretto, non rifatto. C’erano preghiere che hanno dodici secoli di esperienza. Prima di cancellare preghiere così antiche e che per secoli si sono dimostrate efficaci, bisognerebbe pensarci a lungo. E invece no. Tutti noi esorcisti, utilizzando per prova le preghiere del nuovo Rituale ad interim, abbiamo sperimentato che sono assolutamente inefficaci.
Ma anche il rito del battesimo dei bambini è stato peggiorato. È stato stravolto, fin quasi ad eliminare l’esorcismo contro Satana, che ha sempre avuto enorme importanza per la Chiesa, tanto che veniva chiamato l’esorcismo minore. Contro quel nuovo rito ha protestato pubblicamente anche Paolo VI. È stato peggiorato il rito del nuovo benedizionale. Ho letto minuziosamente tutte le sue 1200 pagine. Ebbene, è stato puntigliosamente tolto ogni riferimento al fatto che il Signore ci deve proteggere da Satana, che gli angeli ci proteggono dall’assalto del demonio. Hanno tolto tutte le preghiere che c’erano per la benedizione delle case e delle scuole. Tutto andava benedetto e protetto, ma oggi la protezione dal demonio non esiste più. Non esistono più difese e neppure preghiere contro di lui. Lo stesso Gesù ci aveva insegnato una preghiera di liberazione, nel Padre nostro: «Liberaci dal Maligno. Liberaci dalla persona di Satana». In italiano è stata tradotta in modo erroneo, e adesso si prega dicendo: «Liberaci dal male». Si parla di un male generico, di cui in fondo non si sa l’origine: invece il male contro cui nostro Signore Gesù Cristo ci aveva insegnato a combattere è una persona concreta: è Satana.
Lei ha un osservatorio privilegiato: ha la sensazione che il satanismo si stia diffondendo?
AMORTH: Sì. Tantissimo. Quando cala la fede aumenta la superstizione. Se uso il linguaggio biblico, dico che si abbandona Dio e ci si dà all’idolatria, se uso un linguaggio moderno, dico che si abbandona Dio per darsi all’occultismo. Lo spaventoso calo della fede in tutta l’Europa cattolica fa sì che la gente si getti tra le mani di maghi e cartomanti, mentre prosperano le sette sataniche. Il culto del demonio viene reclamizzato a masse intere attraverso il rock satanico di personaggi come Marilyn Manson, e viene dato l’assalto anche ai bambini: giornali a fumetti insegnano la magia e il satanismo.
Diffusissime le sedute spiritiche, in cui si evocano morti per averne risposte. Ora si insegna a fare sedute spiritiche con il computer, con il telefono, con il televisore, con il registratore ma soprattutto con la scrittura automatica. Non c’è più nemmeno bisogno del medium: è uno spiritismo “fai da te”. Secondo i sondaggi, il 37 per cento degli studenti ha fatto almeno una volta il gioco del cartellone o del bicchierino, che è una vera seduta spiritica. In una scuola in cui mi avevano invitato a parlare, i ragazzi hanno detto che la facevano durante l’ora di religione sotto gli occhi compiaciuti dell’insegnante.
E funzionano?
AMORTH: Non esiste distinzione tra magia bianca e magia nera. Quando la magia funziona, è sempre opera del demonio. Tutte le forme di occultismo, come questo grande ricorso verso le religioni d’Oriente, con le loro suggestioni esoteriche, sono porte aperte per il demonio. E il diavolo entra. Subito.
Io non ho esitato a dire immediatamente, nel caso della suora uccisa a Chiavenna e in quello di Erika e Omar, i due ragazzi di Novi Ligure, che c’era stato un intervento diretto del demonio perché quei ragazzi erano dediti al satanismo. Proseguendo l’indagine la polizia ha poi scoperto, in entrambi i casi, che questi ragazzi seguivano Satana, avevano libri satanici.
Su cosa fa leva il demonio per sedurre l’uomo?
AMORTH: Ha una strategia monotona. Glielo ho detto, e lui lo riconosce… Fa credere che l’inferno non c’è, che il peccato non esiste ma è solo un’esperienza in più da fare. Concupiscenza, successo e potere sono le tre grandi passioni su cui Satana insiste.
Quanti casi di possessione demoniaca ha incontrato?
AMORTH: Dopo i primi cento ho smesso di contarli.
Cento? Ma sono tantissimi. Lei nei suoi libri dice che i casi di possessione sono rari.
AMORTH: E lo sono davvero. Molti esorcisti hanno incontrato solo casi di mali diabolici. Ma io ho ereditato la “clientela” di un esorcista famoso come padre Candido, e quindi i casi che lui non aveva ancora risolto. Inoltre, gli altri esorcisti mandano da me i casi più resistenti.
Il caso più difficile che ha incontrato?
AMORTH: Ce l’ho “in cura” adesso, e da due anni. È la stessa ragazza che è stata benedetta – non è stato un vero esorcismo – dal Papa a ottobre in Vaticano e che ha creato scalpore sui giornali. È colpita 24 ore su 24, con tormenti indicibili. I medici e gli psichiatri non riuscivano a capirci nulla. È pienamente lucida e intelligentissima. Un caso davvero doloroso.
Come si cade vittime del demonio?
AMORTH: Si può incappare nei mali straordinari inviati dal demonio per quattro motivi. O perché questo costituisce un bene per la persona (è il caso di molti santi), o per la persistenza nel peccato in modo irreversibile, o per un maleficio che qualcuno lancia per mezzo del demonio, o quando ci si dedica a pratiche di occultismo.
Durante l’esorcismo di posseduti, che tipo di fenomeni si manifestano?
AMORTH: Ricordo un contadino analfabeta che durante l’esorcismo mi parlava solo in inglese, e io avevo bisogno di un interprete. C’è chi mostra una forza sovrumana, chi si solleva completamente da terra e varie persone non riescono a tenerlo seduto sulla poltrona. Ma è solo per il contesto in cui si svolgono, che parliamo di presenza demoniaca.
A lei il demonio non ha mai fatto del male?
AMORTH: Quando il cardinale Poletti mi chiese di fare l’esorcista io mi raccomandai alla Madonna: «Avvolgimi nel tuo manto e io sarò sicurissimo». Di minacce il demonio me ne ha fatte tante, ma non mi ha mai fatto nessun danno.
Lei non ha mai paura del demonio?
AMORTH: Io paura di quella bestia? È lui che deve avere paura di me: io opero in nome del Signore del mondo. E lui è solo la scimmia di Dio.
Padre Amorth, il satanismo si diffonde sempre di più. Il nuovo Rituale rende difficile fare esorcismi. Agli esorcisti si impedisce di partecipare a una udienza con il Papa a piazza San Pietro. Mi dica sinceramente: cosa sta accadendo?
AMORTH: Il fumo di Satana entra dappertutto. Dappertutto! Forse siamo stati esclusi dall’udienza del Papa perché avevano paura che tanti esorcisti riuscissero a cacciare via le legioni di demoni che si sono insediate in Vaticano.
Sta scherzando, vero?
AMORTH: Può sembrare una battuta, ma io credo che non lo sia. Non ho nessun dubbio che il demonio tenti soprattutto i vertici della Chiesa, come tenta tutti i vertici, quelli politici e quelli industriali.
Sta dicendo che anche qui, come in ogni guerra, Satana vuole conquistare i generali avversari?
AMORTH: È una strategia vincente. Si tenta sempre di attuarla. Soprattutto quando le difese dell’avversario sono deboli. E anche Satana ci prova. Ma grazie al cielo c’è lo Spirito Santo che regge la Chiesa: «Le porte dell’inferno non prevarranno». Nonostante le defezioni. E nonostante i tradimenti. Che non devono meravigliare. Il primo traditore fu uno degli apostoli più vicini a Gesù: Giuda Iscariota. Però nonostante questo la Chiesa continua nel suo cammino. È tenuta in piedi dallo Spirito Santo e quindi tutte le lotte di Satana possono avere solo dei risultati parziali. Certo, il demonio può vincere delle battaglie. Anche importanti. Ma mai la guerra.
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RE: O Casamento
Caro João Borges
Se entende que o seu primo possa deter informação inédita, seja sobre Faustino, seja sobre a mulher, as irmãs, os cunhados, ou ainda sobre António Ferreira Moutinho, que se não importe de partilhar, muito gostaria de a conhecer.
Também não desdenharia de obter dados sobre António Pinheiro Caldas, suplementares aos que constam no livro que cita, pois irei comprá-lo na primeira oportunidade.
De qualquer forma, enviar-lhe-ei o meu contacto, usando da opção prevista para o efeito.
Cumprimentos,
Manuel.
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Senhor,
Concordo consigo quando diz que Santo António com gente como esta, dedicou-se a pregar aos peixes. Santo António e o seu Sermão aos Peixes é uma Metáfora lindíssima mas receio que demasiado inteligente pois a maioria não a entende.
Ao ler as suas intervenções relacionadas com a NOSSA Religião, denoto que o senhor é o verdadeiro Cristão e por oposição a si eu não devo ser o melhor exemplo, mas como ovelha do mesmo rebanho seria de esperar que não fosse desprezada ou banida do seio da sua comunidade mas antes que me mostrassem o caminho “certo”, mas não, o seu texto é revelador da sua verdadeira natureza e forma de pensar, traindo o que escreve quando esta mais calmo. Denoto nesta sua última mensagem que se enervou com as mensagens que eu ou outros como eu escrevem neste tópico, denoto que se enervou e que ao mesmo tempo ficou contente por encontrar uma outra pessoa com quem partilhar um ponto de vista, e isso é salutar.
Voltando a sua mensagem reveladora do seu verdadeiro espírito Cristão, transcrevo alguns excertos com os quais todos devemos nos orgulhar!
“Santo António, com gente como esta, dedicou-se a pregar aos peixes...”
Sapinho Dixit.
“Teologia autodidacta não funciona nem funcionou nunca! Aqueles que – com espírito superior - o tentaram, descambaram na heresia; o comum dos mortais, esse, acaba na patetice sem nexo…”
Sapinho Dixit.
“Tudo o resto são balelas e não passam de opiniões pessoais eivadas de orgulho. E parece-me que este ainda não foi banido do rol dos pecados...”
Sapinho Dixit.
Pecados, Castigos, Medo, Poder, são valores bastante presentes no discurso de muitos religiosos (das varias religiões), e destes, lamento mas discordo. Gosto mais das palavras de um Padre que recentemente deu uma entrevista na TSF, que dizia: “A Igreja Católica não é castigo mas sim perdão”…
Existem dois tipos de Homens nas várias Religiões do Mundo, os que seguem cegamente o que lhe dizem e os que questionam, e como dizia um professor meu, a Questão, é natural no Homem e essencial no processo de raciocino e sinal de inteligência. O facto de uns se questionarem sobre o que lhe dizem, não faz dessas pessoas más aos olhos de Deus, mas sim obstáculos aos que perpetuam mentiras para se manterem num qualquer poder que possuem fragilmente. Claro que os “iluminados” como lhe chama, que ao longo da Historia da Humanidade se opuseram a qualquer tipo de poder, eram imediatamente chamados de Hereges, Galieu, Da Vinci, e muitos Filósofos. Isso só revela o medo e a ignorância dos que olham mas não vêem, e esse medo é tão perturbador que o mais fácil é destruir o que não se compreende do que tentar compreender algo que coloca em risco todo o nosso pensamento e personalidade como homens. Quando isso é destruído não nos resta mais nada. É simples, uns seguem e outros apontam o caminho, e os que seguem não conseguem entender que por vezes o caminho altera-se com o tempo.!!!
Sabe a Hipocrisia assusta me!
Ao contrário do senhor, não me interessa somente conhecer as pessoas que pensam como eu, gostaria de o conhecer a si pessoalmente com todo o respeito e humildade, para isso peça ao moderador o meu e-mail.
Cumprimentos
João Paulo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caríssimo Senhor,
Devo confessar que a sua mensagem me agradou.
Peço-lhe é que não insulte a minha inteligência ao dizer que eu sigo cegamente aquilo que me oferecem, porque, sabe, eu até penso um nadinha nas coisas.
Concordo com o Padre da TSF quando afirma que a Igreja Católica não é castigo mas perdão. Aliás pode-se mesmo dizer que é só perdão! Afinal Cristo morreu no Calvário exactamente para que os nossos pecados fossem perdoados. «A misericórdia de Deus é infinita; Cristo morreu pelos nossos pecados»!
Mas sabe que para haver perdão é preciso haver contrição (arrependimento) e para haver arrependimento é preciso haver muita humildade para admitir que se errou e, até, algum aniquilamento para nos entregarmos nas mãos daquele que ouve as nossas faltas e as nossas angústias, mesmo sabendo-o pecador como nós, mas que, como está investido do poder da Ordem, é Cristo, Juiz Misericordioso, que nos conduz.
Quanto à Verdade (e olhe que vai escrita com V maiúsculo) acho que basta olharmos para Cristo quando este diz: «Ego sum via, veritas et vita». Não é minha nem de ninguém, é uma Pessoa.
É dessa Verdade que a Igreja é depositária e intérprete (não dona, note-se). Ao contrário do que foi afirmado atrás, a Igreja não é uma criação humana: foi querida por Deus para conduzir os Homens à Salvação. É uma instituição divina, se bem que formada por homens pecadores. Crer só na humanidade da Igreja – que infelizmente é o que acontece mais nos dias que correm – é não crer no desígnio salvífico de Deus para toda a humanidade e consequentemente na acção do Espírito Santo no mundo.
Admito que há algumas coisas que escapam à minha compreensão imediata. Há mistérios da Fé que escapam ao entendimento humano, mas o que tenho tentado aqui mostrar é que aquilo que geralmente as pessoas criticam na Igreja, excepto o pecado dos homens, é fruto de um desconhecimento e da falta de um aprofundamento humilde da doutrina, que também tem a sua lógica formal. Condenações do aborto, da homossexualidade, do egoísmo em todas as suas vertentes, da degradação da família, enfim, de uma série de coisas, são perfeitamente “lógicas” no âmbito da Revelação mas nunca entendíveis numa lógica puramente mundana e egoísta; se bem que aqui um aprofundamento do Direito Natural seria muito interessante.
As verdades de Fé são proclamadas pela Igreja para a santificação da humanidade e salvação das almas, e são, aqui e agora, “guidelines” para que o homem – como diria PauloVI – seja verdadeiramente homem, ou, já no discurso de João Paulo II, seja verdadeiramente Pessoa.
São Pio de Pietrelcina (o famoso Padre Pio) dizia: «não se discute sobre a Fé. Ou se aceita de olhos fechados, consciente de que, com a nossa pobre inteligência humana não se pode compreender Deus e os Seus mistérios, Deus, que é infinito, ou então rejeita-se a Fé. Não há nenhuma via intermédia. Tendes a escolha».
Já agora a Fé é qualquer coisa que nos é dada. Não depende de nós. E se achamos que temos pouca, então devemos pedi-la insistentemente.
Em relação aos hereges e às condenações posso, exactamente pegar no exemplo do P. Pio.
Como sabe ele foi durante anos proibido de ensinar, de rezar Missa para o povo, de pregar ou mesmo de confessar. A Igreja, baseada em falsas acusações, proibiu-o de exercer o seu ministério sacerdotal em público. O próprio Padre Pio torturava-se e vivia num dilema, porque sabia que não tinha feito nada daquilo, mas não ousava julgar ou criticar a própria Igreja, mesmo sabendo que estava certo!
É aqui que está a diferença; aquilo que distingue Joana d’Arc, o Padre Pio e tantos outros de um Galileu ou de um Giordano Bruno. Já agora se ler bem o que dizia Galileu e a razão porque foi condenado verá que nada tinha a ver com cosmologia, mas antes com as extrapolações que este fazia desta para a Fé. Leia Giordano Bruno (se quiser empresto-lhe) e perceberá também porque foi condenado. Não é desconforto simples. Uma heresia é algo que atenta contra uma verdade de fé. Não me admira – e concordo consigo – que cause desconforto a quem percebe do assunto e consegue ter uma limpidez de raciocínio superior à sua ou à minha para ver onde está a mossa. É que a Teologia é um enorme edifício, tira-se uma pedra e ele cai todo!
Mas dizia, aqui está a diferenças entre os santos e os hereges, os santos submetem-se os hereges têm dificuldade em retratar as suas posições permanecendo firmes nelas. Depois, bem, depois a verdade vem ao de cima; costuma-se dizer que é como o azeite.
No caso do P. Pio, foi canonizado por João Paulo II.
Enfim, penso que haveria muito mais a falar, mas eu não sou um compêndio de doutrina cristã… tento trazê-la diariamente para a minha vida com muita dificuldade, admito, porque requerer muita exigência. Cristo predisse aos seus Apóstolo que seriam «sinal de contradição», e quem sou eu mais que os Apóstolos? Se eles sofreram por causa da Fé acho que também eu, aos olhos do mundo, terei de passar por retrógrado, medieval e sei lá que mais para, simplesmente, ser fiel ao evangélico «sim sim, não não». E olhe que custa… muito.
Bem, penso que posso ficar por aqui. Se quiser conversar mais um pouco pode pedir o meu email ao moderador deste fórum. Estou disponível para partilhar consigo, não as minhas certezas, mas o caminho que procuro percorrer. O verdadeiro cristão é aquele que é fiel ao seu baptismo. Todos vivemos, como S. Paulo as angustias de um «já mas não ainda»… isto é, o sermos já santos pelo baptismo mas ainda sujeitos ao pecado e às contingências deste mundo que ainda não possui a plenitude da Santidade, isso só nos novos céus e na nova terra. Vivemos numa tensão escatológica.
Agora diga-me lá... não acha que a Cruz deve ser levantada bem alto para que todos a vejam?
Sem mais, cumprimenta-o in Domino,
Alberto
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro A. Sapinho
Venho elogiar o seu límpido discurso, repito – límpido, pois não consegui ficar insensível a alguns aspectos que focou.
De igual modo, várias anteriores opiniões tem primado pela coerência.
Permita-me que prolongue a metáfora com que finaliza o seu texto: eu acho que a Cruz está erguida bem alto, mas cabe-nos a nós descobrir os caminhos de onde a possamos "interceptar"!
cumprimentos
João Borges
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Os nomes ...
O nome a atribuir
As pessoas desinteressavam-se dos registos elaborados pelos padres quando nasciam, se casavam ou morriam. Assim se queixava, no declinar do século XVIII o pároco de S. Julião de Lisboa escrevendo no livro de óbitos que os seus fregueses enterravam nos mosteiros e conventos os seus defuntos sem declarar o óbito para não pagarem emolumentos. Aos assentos era dado o valor de registo do sacramento: o baptismo com os Santos óleos, o casamento com o rito definido pelo Concílio de Trento e o óbito com a extrema-unção e não o valor de registo, de fé pública dos nascimentos, dos casamentos e das mortes.
Assim é vulgar encontrar-se o baptismo de um indivíduo que não consta nos matrimónios nem nos óbitos, ou encontrar o óbito de um viúvo ou viúva de quem não figuram o baptismo nem o matrimónio. As pessoas, muito frequentemente, nasciam, viviam e morriam em casais ou aldeias perdidas no isolamento dos campos, sem preocupações de irem à igreja e vir a pagar emolumentos.
Claro que os padres procuravam que os sacramentos fossem aplicados e o seu registo escrito. Encontramos assentos de nascimentos de crianças registadas de país incógnitos que mais tarde são reconhecidas com progenitores conhecidos pois vieram a casar-se uns dias antes. Neste caso o padre lavra um outro assento dizendo que os recém-casados acabaram de reconhecer como seu a criança atrás dita registada como incógnita . Assim os párocos, pacientemente, lá iam procurando que os seus paroquianos cumprissem os sacramentos, ao menos aqueles que ficavam ao alcance da igreja.
E como eram atribuídos os nomes? No século XVIII deram-se algumas inovações no uso dos apelidos e entre a nobreza titular difundiu-se a moda estrangeira de usar nomes muito compridos chegando a haver pessoas com mais de 30 nomes. Nas classes populares, as mulheres abandonaram os apelidos usando apenas nomes próprios ou de devoção, como Francisca Teresa do Espírito Santo ou Quitéria Maria de São José e muitos outros sem relação nenhuma com as designações que usavam as mães e os pais. Os padres, durante o século XIX, nos assentos começavam por indicar os homens, com os seus apelidos, e só depois as mulheres somente com nome. No entanto, quando a família era respeitada pelo cura, os homens eram chamados de “Ilustríssimo”, e as mulheres de “Dona” sendo então referido o apelido destas.
Em épocas mais recuadas (século XVII e XVIII) as filhas tomavam o apelido dos pais e os filhos, o da mãe. Mas podemos afirmar que a anarquia que reinou na atribuição dos apelidos só terminou com a instituição do Registo Civil obrigatório depois de proclamada a república.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Os nomes ...
Caro Ricardo Charters d'Azevedo
Tenho vindo a seguir com interesse este tópico que lançou e as suas intervenções, se bem que nem sempre concorde com o que diz, sobretudo quando se trata de generalizações. Tenho experiências, noutros locais, que poderiam contradizer algumas mas também não creio que as possa apresentar como regras.
Agora o que não concordo de todo é com a sua última afirmação:
"Em épocas mais recuadas (século XVII e XVIII) as filhas tomavam o apelido dos pais e os filhos, o da mãe."
Em que baseia este dado? Eu nunca o pude verifcar. Será que é uma situação caracterísitica de algum local?
Cumprimentos
João Cordovil Cardoso
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RE: Os nomes ...
Meu caro João Cordovil Cardoso
Os meus textos, com algumas correcções (nomeadamente tendo em atenção os comentarios aqui recebidos) servirão para ser publicados, em fichas, num jornal da "minha terrinha". Tal ira (eventualmente) motivar o interesse em virem a comprar o livro que estou a preparar sobre a minha famíla e as suas relações familiares.
Não pretendo escrever um tratado sobre os temas que aqui apresentei, mas tão somente dar um "flavour" do que acontecia em alguns domínios.
Sobre os apelidos a coisa é complicada. Tenho exemplos, no século XVIII da minha família sobre o que digo. Ver ainda o chamado 2º Caso apresentado a pag 98 do nº 3 das Raizes & Memorias por Carlos Lourenço Bobone para os séculos XVI e XVII, que confirma o que escrevi: "as filhas tomavam o apelido dos pais e os filhos, o da mãe."
As coisas são mais complicadas e nunca foram normalizadas.
Posso ainda juntar o que diz Armando Matos no seu Manual de Genealogia Portuguesa: " Ao filho mais velho cabia o apelido paterno; ao segundo filho o apelido materno; ao terceiro algum dos tios paternos; ao quarto filho algum dos apelidos dos tios maternos; ao quinto um dos segundos tios paternos, etc... o que justifica que outras soluções eram encontradas. Ele apresenta ainda outras soluções, como de resto o Carlos Lourenço Bobone.
Cumprimentos amigos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Os nomes ...
Ricardo Charters d'Azevedo
Assim já estou mais de acordo. Aliás achoque vou tentar assistir a uma aula sobre o tema no curso deste ano do IPH.
É que costumo dizer que a única regra que existe em Portugal, no que respeita aos apelidos, é a de que não há regras.
E quase que o afirmo no presente, tão vaga é a noção de "escolhidos de entre os que tem direito de usar" que consta do Código do Registo Civil actual.
Abraço
João Cordovil Cardoso
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RE: Os nomes ...
Caro Ricardo Charters d'Azevedo
Corroboro quase tudo o que escreveu, pois eu próprio tenho deparado muitas dessas situações, mas deixe-me fazer um reparo quando afirma que "... a anarquia que reinou na atribuição de apelidos só terminou com a instituição do Registo Civil obrigatório depois de proclamada a república." ... era o que faltava vir agora o regime intrometer-se na atribuição e "distribuição" dos apelidos! A única lei que deve reinar na atribuição ou adopção do nome é a afectiva ou genealógica (se preferir) e quanto à limitação dos apelidos muito haveria a considerar. Nem 8 nem 80! Não tarda tomamo-nos por números!
cumprimentos
João Borges
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RE: Os nomes ...
Meu caro João Borges
O que foi instituído foi, por exemplo, o número máximo de nomes e apelidos 5. Claro que há excepções se se provar que os antepassados tinham mais apelidos ligados uns com os outros. Também se proibiu dar nomes próprios ridículos (como Sexta-feira!). Tudo isto devemos ao Registo Civil. Foi ainda alterado nos anos 70 com a possibilidade de o homem poder adoptar o nome de família da mulher quando se casa (questão de igualdade de oportunidades), etc.
Era isto que eu dizia; mais regras do que as anteriores onde tudo valia conforme a família queria, no região era habito ou o padre aceitava ou impunha.
Cumprimentos amigos
Ricardo Charters d’Azevedo
PS: tentei fazer uns textos pequenos e com algum humor. Não pretendi fazer um tratado cobrindo todas as situações. Enfim um texto de divulgação
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RE: Os nomes ...
caro Ricardo Charters d’Azevedo
Os textos que elaborou são mais do um pequeno texto de divulgação. Além da qualidade, são uma mais valia para os interessados em antropologia, sociologia e genealogia. A genealogia sem integração na época e meio é um produto avulso, limitado.
Em relação à imposição – digo, imposição – dos apelidos logo após o golpe de estado de 1910, ela veio na "onda" das inúmeras regras que a fúria igualitarista dos repúblicanos impôs. Digamos, procedeu-se a uma "limpeza". Foram-se os aneis e já agora os dedos. Eu não concordo com a regra dos 4 apelidos actuais, nem sou a fovor do "método" americano: um nome + um apelido (e porque a democracia não é perfeita: do varão!). Hoje, passados estes anos, acomodamo-nos às virtudes dessa limpeza, ou não fossemos nós peritos em "deixar andar"...
Fico (ficamos) à espera de mais itens neste seu interessante tópico.
cumprimentos
João Borges
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RE: Os nomes ...
O meu problema está em que ao ter tres apelidos, sendo que um è composto, estes já nem cabem nas folhas oficiais que por vezes tenho que preencher, ficando sempre mutilado o composto, o que me dá uma tremenda indignaçâo. Vamos no caminho dos anglo-saxoes de economizar, até as datas expressadas já sâo ao contrario do uso do País: 2007-15-02...
Cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: Os nomes ...
Meu caro Ricardo
Só uma pequena correcção. Actualmente podem-se regsitar as crianças com 6 nomes, dos quais quatro apelidos. Pelo casamento podem-se adquirir mais dois o que dá até seis apelidos.
No site da DGRN tirei a seguinte resposta que consta das FAQs:
: Nos termos do artigo 103º do Código de Registo Civil, o nome completo deve compor-se no máximo de seis vocábulos gramaticais, simples ou compostos, devendo dois corresponder a nomes próprios e quatro a apelidos.
Os nomes próprios devem ser portugueses e admitidos pela onomástica portuguesa ou adaptados gráfica e foneticamente à língua portuguesa e não devem suscitar dúvidas acerca do sexo. Aos irmãos não devem ser dados os mesmos nomes próprios, a não ser que um deles seja já falecido.
Os apelidos são escolhidos de entre os que pertençam a ambos, ou a só um dos pais, ou cujo uso qualquer um deles tenha direito, por exemplo, apelido do avô que não conste do nome do pai. Neste caso deverá ser feita prova, nomeadamente através de apresentação da certidão de nascimento do avô que prove o direito ao uso do apelido, perante o conservador que esteja a lavrar o assento de nascimento.
Abraço
João CC
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RE: Os nomes ...
Meuco João
Pois foi, houve uma correcção depois do nosso tempo (meu tempo) onde só se podia colocar 5 (2 + 3) agora permite-se mais um apelido . Um dos meus sobrinhos já (os país) já utilizaram este procedimento
Um abraço amigo
Ricardo
PS: já consegui que mais dois amigos meus passassem a utilizar o nosso software de genealogia, o TMG. Cada vez o acho melhor. Ira sair uma versão 7 para corrigir uns problemas quando corre no Vista
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RE: Os nomes ...
Caro Fernando de Telde
Isto da lei vir "uniformizar" os registos tem muito que se lhe diga!!!! Para mim é uma forma subtíl de ir apagando a história. Diminuir por decreto. Desde sempre, a forma – pública – do uso dos apelidos foi uma prática pessoal (social) e de consciência. Aliás, uma coisa é o nome que temos outra coisa é a forma como nos queremos apresentar ao longo da nossa vida: José Luciano era José Luciano de Castro Pereira Corte-Real, João Franco era João Ferreira Franco e Freire Pinto de Castelo Branco, Almeida Garrett era João Baptista da Silva Leitão Almeida Garrett.
Concordo em haver limites para a assinatura legal ou fiscal mas a adopção de apenas 4 apelidos é pouco. E a desculpa do papel, acabou. Com o cartão digital que vem aí, cabe lá tudo!!
cumprimentos
João Borges
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RE: Os nomes ...
Caro Ricardo
Sim, do nosso tempo, eu também só fiquei com 3 apelidos. E tenho pena, aliás já pensei em requerer a junção do Cary, que a minha mãe usava.
Quanto ao TMG temos que ver se conseguimos uma boa tradução. Eu já temho bastantes coisas mas a WhollyGenes nunca me respondeu.
A versão 7 vai trazer-nos um problema... Vamos ter que a comprar
Abraço
João
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro João Paulo partilho fervorosamente das suas opiniões, agrada-me em especial a tolerância demonstrada no seu discurso, aliás, os extremos professados pelos homens da Igreja Católica, só lhe afastam os fiéis, por isso vê-mos as igrejas vazias, por isso ouvimos falar na “crise de vocações”. Experimente abrir a Igreja ao mundo! Casem-se os padres! Ordenem-se as mulheres! Não fechem os olhos a realidades cada vez mais presentes. Deus não é exclusão, Deus não é desprezo. Ao fechar os olhos aos ventos da modernidade, ao não querer ouvir e ver, a Igreja está a desprezar, a excluir. Por diversos motivos considero-me um excluído da Igreja, pois nela não encontro resposta às minhas dúvidas. E não são tão raros quanto isso os laivos de autoritarismo, direi mesmo ditatoriais, da Instituição. O meu conforto está no facto de saber que Deus está sempre presente, me ouve e me ama.
Louvo a Deus ter-me permitido nascer numa democracia, onde me posso interrogar. Não imagino como seria ser impedido de participar nesta discussão.
Um bem-haja a todos!
Rui Faria.
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A alimentação
A alimentação
A alimentação era quase sempre carne e peixe e poucos legumes. “O peixe era o alimento do baixo povo” como nos conta Link (Viagens em Portugal de 1797 a 1799, Paris, 1803, 2 vol.), sobretudo a sardinha, a única espécie abundante e barata, de tal modo que os portugueses com posses a desprezam: “pão, vinho e sardinhas fazem o jantar do soldado, do magala e das classes pobres; vi frequentemente pobres esfregarem uma sardinha contra o pão dos seus filhos para lhe dar sabor”. Muitas famílias só tinham uma sardinha, pão e batatas para um jantar; a mãe comia a cabeça (que nada tinha para comer e o resto era dividido pelos filhos. “Os pobres costumavam assar sardinhas na rua, servindo-se de alguns pedaços de carvão que eles acendem, obtida prévia licença, no lume de que certos artistas se servem para os seus ofícios” conta Link.
Era enorme a venda de bacalhau. “Não se pode imaginar a espantosa quantidade de navios ingleses que só para as necessidades de Lisboa se ocupam anualmente com o comércio deste artigo, porque o peixe fresco, pela sua carestia, não está ao alcance da bolsa dos mais pobres e mal chega para o consumo dos conventos e dos habitantes mais ricos” de Lisboa. Isto porque “além das sete longas semanas da Quaresma e do jejum das quatro estações, cada um dos quais dura 3 dias, há no Almanaque mais quinze dias de rigorosa abstinência, em que só é permitida uma refeição diária composta de peixe e legumes”.
No entanto, muita gente, não respeita estes mandamentos, “desculpando-se com a falta de saúde que os impede de comer peixe ou indo comer carne nas estalagens onde a há para os “heréticos”. Ainda mediante certas quantias, pode-se comprar o direito de consumir manteiga e ovos. A taxa para os trabalhadores é de 60 réis” conforme nos relata Link.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: A alimentação
Caro Ricardo,
É ler as suas mensagens é na verdade um prazer.Prazer e aprender ao mesmo tempo.Tradições e modos de vida que tinha escutado atraves da tradição oral, com as suas investigações sociológicas confirman-se!
Gosto como em poucas palavras se consegue passar toda uma informação sobrm e a "Fé" secular na Europa. Como por exemplo:
..."Ainda mediante certas quantias, pode-se comprar o direito de consumir manteiga e ovos. A taxa para os trabalhadores é de 60 réis..."
Ou seja o dinheiro apaga o pecado...lol
Cumprimentos
João Paulo
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RE: A alimentação
Meu caro João Paulo
Efectivamente podia-se e compravam-se não só "direitos" , como se compravam pequenas gravuras com Nossa Senhora, ou com um Santo, com uma legenda que afirmava, por exemplo, que o Papa (ou o Cardeal Patriarca) concedia X dias de indulgencias a quem rezasse Y Avés Marias ou Z Padres Nossos em frente daquela imagem.
Mesmo nos anos 50 do século passado (no meu tempo) era ainda habitual comprarem-se uns livrinhos com indulgências. A medida que se iam utilizando uma indulgência, rasgava-se uma folhinha. Pareciam senhas de racionamento! Mas isto variava de Paróquia para Paróquia dependendo do Cura.
A ideia era que se fizessem sacrifícios, pois se gastava dinheiro, o que em princípio significava que nos abstermos de comprar qualquer coisa, e por isso sofríamos um pouco!. Não era exactamente que o dinheiro apagasse o pecado, mas que nos eximíamos de gastar (era a penitência) dando à Igreja um determinado montante que era por esta gasto para apoiar os mais desfavorecidos. Essa era a teoria. Por isso é que havia valores diferentes conforme o estatuto social de quem adquiria as estampas ou cadernos de "isenções".
Não sobre este tema, mas de uma forma mais geral, se se interessa por estes temas veja se encontra um pequeno livro "Lisboa setecentista - vista por estrangeiros" de Piedade Braga Santos, Teresa Rodrigues e Margarida Sá Nogueira, Livros Horizonte., 1992. Neste livro, apresenta-se a cidade de Lisboa olhada e admirada por estrangeiros que visitaram Portugal na segunda metade de setecentos. Muito interessante, com o só defeito, por só apresentar a forma como se vivia na capital e não como se sofria nos campos e pequenas cidades do nosso pais. Mas os autores fizeram-no expressamente pois poucos visitavam a “província” pela dificuldade de deslocação.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: A alimentação
Caro Ricardo : Por acaso entrei nesse tema de como viviam nossos antepassados, que você e outros vêm discutindo, e posso dizer que as suas informações me foram muito úteis. Há 30 anos pesquiso a minha árvore genealógica, atualmente através dos microfilmes dos Mórmons (moro no Brasil), tendo já chegado a 1503, mas muitos dos costumes desses tempos remotos me eram incompreensíveis. Pude compreender porque os casamentos da minha família nunca ocorriam aos domingos nem às sextas-feiras, mas eram mais frequentes no início da semana. Quanto aos apelidos é que minhas pesquisas com mais de 200 antepassados dos séculos XVI,XVII e XVIII na região de Mondim de Basto, mostram que não havia regra alguma para um indivíduo escolher o seu apelido. Encontrei muitos que foram buscá-los aos avós e até aos bisavós, numa irregularidade absoluta. Outra coisa que atrapalha muito as pesquisas é que um indivíduo podia ter nomes diferentes no registo de casamento, no do batismo dos filhos e também no registo de óbito. Fazia-se necessário um bilhete de identidade ... Mas o motivo porque estou a me dirigir a si é que gostaria que me esclarecesse um assunto que pode me ajudar a encontrar alguns parentes por via indireta. Num registo de casamento de 1646, com 8 nubentes,3 irmãos de uma família, 3 de outra e 2 de uma outra, o pároco regista que está dispensando alguns deles no terceiro e quarto graus de consanguineidade. Eu gostaria de saber o que significa esse parentesco ; eram os avós que não podiam ser parentes?Ou os bisavós ? Já vi que você é um estudioso(interessado) nesse assunto, por isso gostaria que dissesse alguma coisa sobre os absurdos impostos que aqueles coitados pagavam, pois li que pagavam ao rei, ao proprietário das terras, à Câmara, portagem (pedágio) e, principalmente as taxas que lhes cobrava a Igreja, pois além do dízimo havia de se dar alimentos ao padres, taxas e taxinhas para batismos, casamentos e, em caso de ocorrer morte, era um sem número de obrigações, muitas até para serem assumidas por gerações posteriores do morto. Um abraço. Antonio Lages.
RespuestaEnlace directo:
RE: A alimentação
Meu caro António Lages
Se colocar "graus" na pesquisa ao cimo deste forum e procurar "todas as salas" encontra diversos Foruns sobre a sua pergunta. O link é:
http://genealogia.netopia.pt/forum/index.php?search=graus+&tema=0&pesq_por=subject
Sobre os impostos, pagava-se bastante e a toda a gente, digamos assim. Por isso se justificava que muita gente, nas aldeias, não chegava a registar o seu casamento. Porquê caminhar até à Igreja, ter que falar com o Padre, ouvir as suas exigências e ainda por cima pagar. Talvez encontre registos de baptismos de crianças filhas de pais incógnitos que passados pouco tempo, umas paginas à frente o pároco já o registava filho de A e de B que se tinham acabado de casar.
Como não havia registo, o nome ia variando ao longo da vida (isto para a plebe, pois os nobres tinham tradições que gostavam de respeitar). Daí o trabalho que nós temos para conseguir "alinhar" os nossos antepassados.
Por último gostaria de lhe lembrar que muitos dos costumes dos nossos antepassados são incompreensíveis hoje. Lembro, por exemplo, que nos anos 40 do século passado havia uma licença para se usar isqueiro em Portugal. Tratava-se de uma forma de o Estado se ressarcir da perda de lucros por aqueles que não compravam fósforos (monopólio do Estado). A questão era tão importante que havia uma equipa de fiscais das finanças que somente controlavam a existência dessas licenças. No caso de haver multa e ela ter sido possível por denuncia, ao denunciante cabia uma boa parte da multa.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: A alimentação
Caro Ricardo : Muito obrigado pelas dicas. No link indicado consegui entender o significado da consanguineidade em 3o. e 4o. graus. Quanto às taxas estapafúrdias eu, que tenho 54 anos, só me lembro da que era cobrada aí em Portugal por cada televisor que a pessoa tinha e que aqui no Brasil se achava muito engraçado. Um abraço. Antonio Lages
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Educação no "tempo do Salazar"
Frases retiradas de revistas femininas da década de 50 e 60 e que me foram enviadas simpaticamente por um ilustre genealogista. Podemos ver como era a sociedade portuguesa ha 50 anos!
• Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas. (Jornal das Moças, 1957);
• Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afecto. (Revista Cláudia, 1962);
• A desarrumaçâo numa casa-de-banho desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa. (Jornal das Moças, 1965);
• A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas. Nada de incomodá-lo com serviços domésticos. (Jornal das Moças, 1959);
• Se o seu marido ruma, não arranje zanga pelo simples facto de cair cimas nos tapetes. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa. (Jornal das Mocas, 1957);
• A mulher deve estar ciente que dificilmente um homem pode perdoar a uma mulher que não tenha resistido a experiências pré-núpciais, mostrando que era perfeita e única, exactamente como ele a idealizara. (Revista Cláudia, 1962);
• Mesmo que um homem consiga divertir-se com sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu. (Revista Querida, 1954);
• O noivado longo é um perigo. (Revista Querida, 1953);
• É fundamenta] manter sempre a aparência impecável diante do marido. (Jornal das Moças, 1957);
• E para finalizar, a mais de todas:
O LUGAR DA MULHER È NO LAR O TRABALHO FORA DE CASA MASCULINIZA. (Revista Querida, 1955).
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Caro Ricardo Charters d'Azevedo:
Só agora reparei nesta mensagem, pois não tenho seguido este tópico.
Para dissipar a minha perplexidade, gostaria que explicasse como se pode ver a sociedade portuguesa de há 50 anos a partir de frases publicadas em revistas brasileiras e em que medida essas frases contribuíram para a educação no "tempo do Salazar".
Não me recordo de ver essas revistas à venda em Portugal.
Cumprimentos,
José Caldeira
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Caros Senhores,
Efectivamente seria talvez o equivalente a caracterizar a sociedade portuguesa actual pelas frases escritas na revista "Maria", passando a publicidade.
É pena que todas as afirmações postadas neste tópico pelo confrade Chartri - ao contrário do que nos quer fazer parecer - não primem pelo rigor científico e por uma cuidada análise sociológica e das mentalidades, são, com efeito, pura especulação eivada de superficialidade.
Mal por mal mais vale consultar o Fernando Rosas na sua obra sobre o Estado Novo...
É pena.
Cumprimentos,
Alberto
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Caro confrade Asapinho
Não me lembro de revistas femininas portuguesas temáticas no tempo de Salazar! Apenas a Eva e a Modas e Bordados. Claro que havia as revistas para meninas da Mocidade Portuguesa e da Obra das Mães, e ainda as da Acção Católica, mas os temas abordados não eram diversos, mais ponto cruz, menos ponto pé de flor, e receitas culinárias variadas. Julgo que o melhor será recomendar a leitura da biografia da Maria Filomena Mónica, pelo menos fica-se com uma ideia do clima em que as mulheres viviam.
Melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Exma Senhora,
Obrigado pela sua resposta que só vem confirmar a minha intervenção.
Com certeza que a biografia de Maria Filomena Mónica, pela consideração científica que me merece, será muito mais esclarecedora que qualquer artigo brasileiro da época ou mesmo qualquer texto de origem e cientificiade duvidosa postado sabe Deus de onde.
Quanto ao Fernando Rosas foi apenas um sarcasmo da minha parte, independentemente de ele ser um historiador...
Friso ainda que me abstive de qualquer juízo sobre a forma de viver da época, deixando isso para historiadores, sociólogos e outros que tais, com certeza mais abalizados que eu para se manifestarem sobre tais assuntos. Gostaria, isso sim (e não me refiro às suas intervenções) que se passasse a utilizar algo que nos permitiria ser o mais isentos possível nas nossas considerações: chama-se contextualização.
Sem mais, os meus melhores cumprimentos,
Alberto Sapinho
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Meu caro José Caldeira
Como eu digo, coloquei apenas algumas frases tiradas das revistas de há 50 anos. Como poderá verificar foram colocadas as mais ridículas. São frases que hoje são impossíveis de encontrar nas revistas que se publicam. Mostram uma época... ridicularizam uma época.
Foi só isto que eu quis quando as coloquei aqui informando que me tinham sido enviadas e por "piada".
Sobre se as revistas estavam ou não à venda em Portugal, aconselho uma consulta à "Probase" da Biblioteca Nacional onde as encontrará. Havia quem as comprava em Portugal.
Claro que não pretendi apresentar um estudo científico e critico. Foi por assim dizer um "desabafo com humor"!
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
PS: Estive fora. Por isso só respondo hoje
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Motivação para ler livros com rigor científico
Meu caro confrade Alberto
Não pretendi colocar um artigo científico neste forum. Não. Procurei mostrar e chamar a atenção para que os nossos estudos genealógicos devem ser enquadrados no contexto em que se vivia, aqui em Portugal e na Europa. Todos nós temos antepassados que tiveram "10 filhos " e viram morrer mais de metade. Devemos perguntarmo-nos por que tal acontece. Todos nós vimos indivíduos que não se casando viam os seus filhos serem registados como país incógnitos por que o padre os queria obrigar a casar. Vimos que muitos dos nossos antepassados morreram cedo e muitos em determinadas épocas e concluímos que devia haver epidemias. Na zona que estudo verifiquei que havia epidemias de cólera. Devemos perceber porque tal acontecia. Encontramos cartas de nossos antepassados onde eles se queixam das taxas do pároco. Encontramos nos arquivos pequenas senhas compradas para que se tivessem indulgencias. Indulgencias essas que só tinham hipótese de as obter os que tinham posses.
Enfim. Julgo que o tema permitirá criar uma certa curiosidade e "obrigar" alguns a irem ler análises sociológicas, daqueles tempos, mais cuidadas, mais bem escritas, e com rigor científico.
Lembro que muito do que aqui eu coloquei é muito anterior ao Estado Novo. Cerca de 300 a 200 anos antes. Mas que no Estado Novo havia muitas coisas que hoje nos parecem ridículas: por exemplo, a obrigatoriedade de se ter uma licença para acender um isqueiro na via pública!
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Caro Ricardo Charters de Azevedo
Já agora vou adicionar o tipo de livros que líamos nos anos 60:
Ao que me lembre, após a Condessa de Ségur, passavamos á Biblioteca das Raparigas.
E aí era indispensável o percurso pela saga da "Brigitte" ; Brigitte Solteira, Casada, Mamã, e mais uns dez livros sobre a mesma personagem, até ela ser avó; uma avó exemplar, como sempre tinha sido exemplar solteira, casada, mamã, etc, etc.
Havia, ainda, a Isabel, "fille de France", da Berthe Bernage. E aí tínhamos o exemplar comportamento de uma menina francesa do "quinzième" antes e durante a IIª Guerra.
Em português, lembro-me das " Aventuras de Mariazinha em África" ( Odette de Saint- Maurice ?) e de " D. Redonda e a sua Gente" cujo autor a esclerose levou para outros locais.
Havia investidas na Biblioteca dos Rapazes, o Tom Sawyer e o Huck Finn era os preferidos, e " Uma Casa no Telhado"! E as aventuras dos 5, não portuguesas mas cheias de lanches admiráveis, de compotas magníficas e da liberdade que os nossos Pais não nos davam!
No meio de tudo isso havia a Pré-Jec e a Jec e, hoje no banho, lembrei-me deste Hino que creio ser da Jec:
" Abram alas terra fora
Por entre frémitos de luz,
Deus nos chama é nossa a hora,
Alerta pela Cruz.
Em nós, acendei em nós, Oh Deus,
Flamas de um nobre ideal,
Clarões, vibrem clarões, nos céus,
Por amor de Portugal."
Não me ponho a cantar pois o desafinanço é tal que ainda causo outro terramoto no Largo do Rato!
Melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Cara Maria Benedita
Lembro-me da música,e numa cerimónia, em Faro, na Sé foi cantada com entusiasmo.Eu era muito jovem, a companhia agradável ,talvez por isso me lembre do entusiasmo ao cantá-la com os amigos da excursão, pois estava em São Bartolomeu de Messines, de férias.
E já agora recordo os romances de aventuras que gostava muito, de Emílio Salgari e os romances históricos de António Campos Júnior.
Os meus melhores cumprimentos e bom fim de semana
Rafael Carvalho
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Caro Rafael Carvalho
É verdade, já me esqucia de Campos Júnior e de Emílio Salgari! Bons momentos que passei a lê-los! E Walter Scott , as irmãs Bronte, Jane Austen, enfim, vou fazer uma lista deles, que alguns já me vão esquecendo!
Bom fim de semana!
Com os meus melhores cumprimentos
Maria Benedita
Maria Benedita
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Minha cara Maria Benedita
Que desafinanço!
Bom fim de semana
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Caro Ricardo Charters
É desafinanço e do forte, mas ainda sinto um leve arrepio quando me lembro deste hino, acredite que empolgava a garotada! A maneira como era cantado e a própria letra levava-nos a imaginar que tinhamos sido escolhidas para mudar o mundo!
Tempos!
Bom fim de semana e os meus cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Do blog "O Sexo dos Anjos" de Manuel Azinhal retirei este pequeno texto, parte de um "post" ali colocado, que me parece enquadrar-se no "espírito" deste tópico:
Os professores no séc.XIX e grande parte do séc. XX:
Antigamente e durante muito tempo, um professor era uma personalidade local em qualquer das nossas vilas e aldeias. Em muitos sítios, não era possível encontrar mais ninguém com instrução, a não ser o padre. Por conseguinte, o professor, a par do padre e eventualmente do médico, eram influentes e venerados, ouvidos muito para além do âmbito estrito das respectivas esferas de actividade.
Esse estatuto diferente das pessoas comuns da terra tinha consequências ao nível da sua expressão exterior (nas suas vidas, no seu vestuário, na sua casa), e naturalmente existia também na sua situação económica.
Um professor nunca ganhou fortunas, mas o seu vencimento modesto colocava-o ainda assim notoriamente num patamar superior ao do operário ou do trabalhador rural cujos filhos educava.
Quando alguém ia falar com o professor do filho fazia-o respeitosamente, com a reverência devida a quem tinha a missão de dar aos rebentos o que os progenitores não podiam dar-lhes - e que todos sabiam ser importante.
Luis Figueira
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Luís Figueira,
Muito bem. Algumas sondagens realizadas no século passado, mostravam exactamente isso. Nas pequenas cidades juntavam-se ao conjunto das gentes com prestígio, o Comandante do Quartel e alguns dos oficiais (bons partidos para as meninas da terra), o farmacêutico (lembremos que a farmácia era o local de cavaqueira) e alguns funcionários (o juiz, o notário, o conservador e o presidente da Câmara).
Hoje tudo mudou. As relações de poder são outras. Algumas profissões degradaram-se pois as admissões a estas não "foram cuidadas" e os seus elementos nunca mais se deram ao respeito, ou melhor, permitem umas certas liberalidades....
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Hoje tudo mudou. As relações de poder são outras. Algumas profissões degradaram-se pois as admissões a estas não "foram cuidadas" e os seus elementos nunca mais se deram ao respeito, ou melhor, permitem umas certas liberalidades....
A este propósito transcrevo na integra o texto do "post" retirado do blog "O Sexo dos Anjos" que descreve na perfeição a evolução do papel do professor e consequentemente da educação em Portugal:
Antigamente e durante muito tempo, um professor era uma personalidade local em qualquer das nossas vilas e aldeias. Em muitos sítios, não era possível encontrar mais ninguém com instrução, a não ser o padre. Por conseguinte, o professor, a par do padre e eventualmente do médico, eram influentes e venerados, ouvidos muito para além do âmbito estrito das respectivas esferas de actividade.
Esse estatuto diferente das pessoas comuns da terra tinha consequências ao nível da sua expressão exterior (nas suas vidas, no seu vestuário, na sua casa), e naturalmente existia também na sua situação económica.
Um professor nunca ganhou fortunas, mas o seu vencimento modesto colocava-o ainda assim notoriamente num patamar superior ao do operário ou do trabalhador rural cujos filhos educava.
Quando alguém ia falar com o professor do filho fazia-o respeitosamente, com a reverência devida a quem tinha a missão de dar aos rebentos o que os progenitores não podiam dar-lhes - e que todos sabiam ser importante.
Dizem-me que este Portugal do século XIX e da maior parte do século XX já desapareceu, e em muitos aspectos devemos congratular-nos com isso.
Todavia, ainda assim quero chamar a atenção para a relevância de algumas mudanças ocorridas na posição relativa dos professores que julgo serem decisivas nos males de que de vez em quando nos queixamos quando se fala da educação.
Agora, os professores em qualquer vilória do nosso país são conhecidos pela população local como uns rapazes e raparigas que vivem nuns quartos alugados ao mês em casa da D. Balbina ou da D. Felisberta. Que são de muito longe e só vão lá estar até conseguirem colocação numa escola mais a seu jeito. Que comem habitualmente na tasca do Catita, perto da escola, onde se servem umas refeições em conta, por entre uns viajantes e uns motoristas de passagem. Há quem lhes chame os "meias-doses", porque é costume pedirem uma dose para dois de maneira a diminuir os custos. Por vezes aos fins de semana vão a casa, normalmente levando um o carro e compensando o outro na vez seguinte, porque com organização poupa-se algum.
Os pais dos respectivos alunos sabem de tudo isto. Como sabem perfeitamente que nenhum operário especializado, nenhum barbeiro ou electricista ganha menos do que o professor do filho. No parque de estacionamento, na balbúrdia em redor da escola, os veículos dos docentes distinguem-se dos outros por corresponderem notoriamente aos apertos do respectivo orçamento.
Quando os encarregados de educação vão falar com os senhores professores, é agora habitual falar-lhes de alto, quando não com agressividade e arrogância. Compreende-se, porque são uma categoria de gente caracterizada pela fungibilidade e transitoriedade, descartáveis e substituíveis a todo o tempo, e que ainda por cima não cumprem as suas obrigações e não têm onde cair mortos. As obrigações, já se sabe, subiram imenso: têm o dever de instruir devidamente todas as crias dos exigentes progenitores, sem os traumatizar com contrariedades ou esforços, e ainda ministrar-lhes educação que em casa não se pode porque nunca há tempo e aliás isso é função da escola.
Perguntarão a que vem toda esta conversa. Respondo que me ocorreu por estarmos num contexto em que o descontentamento do pessoal docente vai traduzir-se em novas manifestações efémeras de revolta, e de novo vamos assistir à argumentação dos governantes sobre os "privilégios", as "corporações", os "regimes especiais", os "interesses instalados", e outras figuras de estilo, próprias da desvergonha de quem fala.
Porém, o problema de fundo ultrapassa muito as circunstâncias de um momento. No campo da educação, como noutros domínios, a funcionalidade, o êxito do sistema, o seu prestígio, dependem muito de imagens, de representações mentais, de simbolismos. Acontece que tudo isso também passa, cruamente, pelos aspectos materiais. A degradação da classe docente para os fundos da escala, em termos económicos e sociais, nunca permitirá alcançar os níveis qualitativos que se pretendem para o sistema de ensino. E tudo indica que é essa visão, eu diria "albanesa", de nivelamento por baixo, de funcionarização e proletarização da classe docente, que está na cabeça e nos actos da casta governante.
Luís Figueira
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Meu caro Luis Figueira
Julgo que esta discussão, sobre o papel dos professores não cabe neste forum, e tambem não neste tópico, como bem comprende.
Julgo relevante um ponto que levantou, e eu me esqueci na resposta que lhe dei, foi o da existencia do Padre, que com o Medico, o Farmaceutico, o Funcionário público, o Professor (muitas vezes do ensino primário), o Presidente da Câmara (i e o político local) eram a gente grada no século XIX ou séculos anteriores. A estes juntavam-se os grandes proprietários. Estes tinham assento num conselho dos maiores 40 contribuites do Concelho e eram ouvidos.
Era assim que "viviam os nossos antepassados", tema deste tópico
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Certamente que esta discussão extravasa completamente o âmbito deste fórum / tópico nem foi minha intenção colocar aqui assuntos polémicos que aqui evito sempre comentar quer concorde ou não. Pretendia apenas dar uma ideia de "evolução" com um pequeno texto que me pareceu bem redigido sem quaisquer juizos de valor.
Mas realmente concordo que a parte do texto que coloquei no primeiro tópico era suficiente.
Luis Figueira
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Luís Figueira
Muito obrigado
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Caro confrade Ricardo Charters
Continuando a desafinar, aqui deixo um texto de Cecília Barreira sobre o papel da mulher sob o Código de Seabra.
"Na família, só o chefe era o decisor supremo. As mulheres submetiam-se à autoridade marital. Eram raras as mulheres que se dedicavam a uma actividade intelectual. As normas eram rígidas. Sobretudo para os filhos. Tudo se encadeava hierarquicamente. Recuemos no Tempo...
Dias e noites na passagem do século. Em tempo de férias ou aos fins de semana eram as idas às hortas, os piqueniques – lembremo-nos de Cesário Verde – ou então, em alternativa, os passeios ao Campo Grande, às feiras da cidade ou arredores, e cada vez mais às praias. Também as tardes ou fins de tarde na Avenida, a subida ao Chiado. Noites de ida ao teatro, à revista ou ao São Carlos, ao animatógrafo – ao bridge.
O primeiro baile. Em finais do século. A donzela tem dezassete anos e apresenta-se à sociedade pela primeira vez. Encontra-se vestida de branco. Usa como jóia um colar de pérolas. As luvas, longas, condizem em branco. Em baile de etiqueta as raparigas deveriam apresentar-se decotadas e de braço nu, vestido branco de faille ou outro tecido precioso, sapato de cetim branco. O primeiro baile consagra a entrada de uma jovem no "bazar das raparigas para casar", na expressão significativa do barão de Frénilly.
O que interessa é arranjar um pretendente à altura, do ponto de vista social e económico, que despose a jovem iniciada.
Como se convidava uma donzela em final de século? Um criado encarregava-se de levar uma mensagem à mãe da jovem a fim de ambas se deslocarem a determinado baile. Após resposta afirmativa conduziam-se a uma modista reputada que confeccionava os vestidos. Não se deveria vestir a mesma indumentária de baile para baile. Daí o dispêndio elevado em vestidos na época da rentrée quando as festas se sucediam a um ritmo alucinante, por vezes a mais de duas ocasiões por semana.
Na manhã do grande dia, já o vestido se encontra depositado numa grande caixa a fim de não sofrer nenhum vinco ou enrugamento. À tarde os cabeleireiros ou "professores capilares", se preferirmos a expressão directamente traduzida do francês, preparavam os penteados. As meninas família só se deslocavam a bailes privados, pois os que o não eram, tinham fama de "mal" frequentados, neles confluindo pessoas diversificadas do ponto de vista social. Por exemplo, o "Baile Nacional" era um desses sítios públicos, conhecido salão da Rua de São Vicente de Guia, n.º 9, que se inaugurou em 1850 e onde primeiramente se dançou o cancan em Portugal. Como se sabe o cancan nasceu por volta dos anos trinta a quarenta do século passado em França – durante o reinado de Luís Filipe – e dançou-se no Moulin Rouge, entre outros locais. Dançou-se nomeadamente no Casino Lisbonense até 1870. O "Baile Nacional", esse, era propriedade de um dono de botequim e de uma loja de penhores designada "A Califórnia". Não nos esqueçamos que em O Livro de Alda de Abel Botelho os protagonistas tiveram o seu primeiro encontro no dito salão de baile; ela, prostituta, ele, jovem amanuense, noivo de uma jovem da classe média.
Havia também inúmeros bailes de máscaras de carácter privado. E havia os públicos, altamente selectos como os de São Carlos entre 1884 e 1890.
Mas retornemos aos bailes privados: desde os do Conde do Farrobo, em meados do século (até 1865), até os de outras casas nobres e de alta burguesia, os Viana, os Penafiel, os Foz, bem como os tradicionais bailes da média burguesia. Quando as senhoras chegavam ao local onde se realizaria o baile, logo uma comissão de jovens cavalheiros se aprestava a ir recebê-las, entregando-lhes, como sinal de respeito, a mão e conduzindo-as à sala de toilette onde poderiam dar um último retoque aos cabelos.
No Guia Mundano das Meninas Casadoiras recomendava-se que num primeiro baile uma menina não se deveria afastar de ao pé de sua mãe, nem falar para os lados, mantendo-se rígida em "compostura", aceitando todos os convites de dança que lhe fossem dirigidos. Se no primeiro baile se apresentasse de branco, nos seguintes deveria vestir-se de azul, cor-de-rosa, ou de outras cores desde que fossem "claras" e "vaporosas".
Na sala de baile o cavalheiro que pretendesse dançar dirigia-se à dama escolhida e pedia-lhe "a fineza" de dançar com ele. Se a dama aprovasse trocavam-se respectivamente os carnets. Ela, escrevendo o nome adiante da dança para que foi solicitada.
Exactamente o mesmo para o homem. Dançar era um cerimonial importante e assentava sob rígidos padrões de comportamento. Os homens deveriam ser lacónicos, segundo os manuais de etiqueta, e convidavam com frases estandartizadas que podiam soar assim: «V. Ex.ª dá-me o prazer de ser meu par para esta valsa?» Despedindo-se desta forma: «Às ordens de V. Ex.ª».
As senhoras esforçavam-se por seguir com passo firme e cadenciado o respectivo par.
Em bailes onde se não usasse carnet, os primeiros cavalheiros que abrissem o baile deveriam convidar a dona da casa e somente no caso de recusa recorreriam a outro par, não devendo nunca dançar com a mesma pessoa mais de uma vez. Até final do século e ainda em inícios dançavam-se as valsas, as polkas, as quadrilhas, as mazurkas, os lanciers e os cotillons. A Polka, a principal das danças da Boémia, foi adoptada pela sociedade de Praga em 1835 e depressa se expandiu para França através de Cellarnis, famoso professor de dança que a apresentou no Odeon em 1849. Passou a haver fazendas à Polka, cascos e bengalas. Em Lisboa publicou-se até um jornal intitulado A Polka em meados do século.
A Mazurka era uma das danças da Polónia. Era dançada por um número de pares indeterminados, espécie de cotillon composto por figuras e passos variados.
O cotillon antigo deriva da velha dança campesina Branda, dançada por mulheres com saias curtas. Mas tornou-se complicado pela quantidade de figuras, de brinquedos e de acessórios e de uma enorme porção de objectos que a fantasia do organizador poderia pôr em cena, dirigindo com autoridade o jogo.
Em Margarida (1880) de Júlio Lourenço Pinto refere-se um baile real e os jogos de sedução que sempre nestas ocasiões se propiciavam. Diz-se a determinado passo: «O Sepúlveda era dos mais pertinazes galanteadores de Adelina, parava repetidas vezes diante dela, todo dobrado em arqueamentos aduladores, trejeitando muito para ser visto, e afectando sorrisos expressivos, equívocos, (...). Tinha marcado no seu cartãozinho uma quadrilha e uma valsa com Adelina, e, logo que lhe tocou a vez, apresentou-se na sala com muita antecipação, passeando, e conversando com intimidade suspeitosa, inclinando-se de lado com ares significativos de homem feliz». Claro que nem sempre os jogos saíam de feição. Adelina não tirava os olhos de um outro homem, o "visconde"...
A Igreja Católica não via com bons olhos os bailes em geral. Ramalho Ortigão refere a propósito que «a valsa está prevista no anátema De Choreis seu saltatiobus, e como todas as demais danças é tida por pecaminosa no conceito dos Santos Padres, segundo o declara o Pontífice Benedito XIV».
A Condessa de Gencé precavia as meninas acerca dos galanteios dos rapazes: «É uma espécie de brincadeira agradável, com um complemento de sorrisos, de fórmulas lisonjeiras, que deixam transparecer a admiração e exprimem (...) o desejo (...) de ser agradável».
Como tal, seria preciso o máximo dos "cuidados" dado que a dança era a altura propícia para o galanteio. E tendo em conta que se é observado e é preciso não dar nas vistas, sendo as regras das danças bastante estreitas e solenes, as senhoras deveriam notar se o cavalheiro não apertava demasiadamente a cintura ou estreitava com algum ardor o corpo do par. Deveria, sim, passar discretamente o antebraço direito à roda da cintura e, para maior exactidão geometrizante, o ombro direito estaria constantemente na perpendicular do ombro esquerdo da dama.
Mas outras precauções eram tomadas: uma senhora nunca olhava de frente o seu par. Deveria deixar guiar-se pelo homem e nunca acelerar o passo. A passividade e a obediência eram cultivadas com exagero e esmero.
Também o sentido do pudor e da timidez. Os contactos corporais eram reduzidos ao mínimo.
A mutação de costumes encontra-se ligada à situação de guerra entre 1914 e 1918. A moda transfigura-se. Os modelos adquirem uma outra leveza e maleabilidade. Dançava-se o charleston, o tango, o schimmy, o fox-trot inventado por MacLennan, o black-bottan, o jazz, o one-step, o java. Também o camel walk, o Houti, e o Pointée. Os movimentos tornavam-se mais ajustados ao corpo, os cabelos encurtavam-se, longos colares pendiam provocantes em pescoços esguios; as silhuetas emagrecidas libertas de espartilhos e de corpetes.
A guerra de 14 permitiu, na sua violência e no profundo impacto psicológico que gerou junto das famílias, uma outra forma de estar e de sentir. Se os salões de convívio continuaram a existir na tradição do que acontecera ao longo do século XIX, também no após guerra se desenvolveram por toda a parte os cabarets e os clubes. As senhoras só se deslocavam a esses locais de divertimento nocturno acompanhadas pelo marido ou, muito liberalmente, pelo noivo, em grupo.
A diferença entre um clube e um cabaret era sobretudo de espaço e estatuto social. O clube tinha de ser sumptuoso e confortável, enquanto o cabaret já permitia uma maior heterogeneidade de classes e uma maior bizarria de costumes.
A Liga Naval onde em Lisboa se poderia ir dançar, ouvir um concerto, uma conferência, no Palácio Palmela ao Calhariz, era um local chic.
A Igreja, essa, não se compadecia destes gostos. Condenava, mesmo nos anos vinte, as novas modas dançantes onde a aproximação entre os sexos se tornava mais fácil em «movimentos cadenciados altamente luxuriosos, gestos lubricamente acariciantes».
O embriagamento das luzes, as bebidas, o álcool, os perfumes, os corpos suados tudo convidava à "luxúria".
A dança na opinião de António Ferro «é bacanal do corpo. Luxuriosas, delirantes, as pernas entregam-se aos braços, deixam-se possuir. As pernas são as fêmeas dos braços...». E nesta descrição breve e sensual se encontra inscrito um estado de espírito, um modo de estar nos anos vinte em que as mulheres são como a famosa heroína do escritor, levianas...
Mas as noites também se passavam no teatro, na ópera ou no bailado. E nestes outros palcos se escondia um mundo de sonho que se escoava por entre os camarotes, a plateia, os corredores, pessoas que se olhavam, se desejavam, se criticavam. As noites de première eram especialmente concorridas. As senhoras traziam os seus melhores vestidos, os decotes, as luvas brancas, as pérolas, falsas ou verdadeiras. As plateias enchiam-se. Era uma Lisboa de final do século que via chegarem carruagens e carruagens de "gente conhecida" com mulheres envoltas em peliças de preço e homens de casaca. Exibia-se o corpo como um painel.
Na Tragédia da Rua das Flores (anos setenta) refere-se a representação de O Barba Azul no Teatro da Trindade em que o jovem vê pela primeira vez Genoveva, mulher fatal por excelência, amante de Dâmaso. Os binóculos que se transportavam em estojos de cetim ou de veludo, eram em tartaruga. As cocotes davam os últimos toques aos penteados bem armados. E a fauna lisboeta corresponde um pouco à visão queirosiana. A viscondessa dos Rosários, vestida de lilás, «branca e gorda». A menina Gosiamá, da Baía, que usava umas meias de seda «muito mostradas, excitando na população masculina a lubricidade mais indomável».
A menina Mercês Pedrão, a Mercesinhas que «dava a todos os menores de 55 anos, que se lhe aproximavam, os afagos refinados duma voluptuosidade prudente». A protagonista, Genoveva, surge num camarote destacado, repleta de objectos que a tornam desejável aos olhares masculinos, desde o pormenor da luva de dezoito botões, à pulseira que em forma de cobra se prendia a um braço nu. Nos intervalos a gente elegante visitava-se, de camarote em camarote, com a habitual intriguice política ou social.
Teatros, havia-os em profusão. O do Ginásio e o D. Maria II, ambos inaugurados em 1846. O Teatro do Príncipe Real, mais tarde designado Apolo, o da Rua dos Condes e o Variedades à Alegria, este último mais vocacionado para o teatro de revista. O teatro São Carlos recebia a mais fina nata social nas suas grandes sessões de ópera ou bailado. Uma récita em São Carlos propiciava a visão de «soberbas mulheres, com os seus bustos marmóreos e bem talhados, os seus braços nus, cobertos de jóias». Havia também o D. Amélia e o Trindade com repertórios e públicos diferentes.
O teatro provocava por vezes atitudes bem polémicas. D. Guiomar de Margarida de Júlio Lourenço Pinto achava escandaloso ir-se ao teatro "a torto e a direito": «É verdade que fui ao Príncipe Real no outro dia com a Meneses – continuou a Guiomar com uma perturbação azeda – mas instaram tanto comigo... Foi uma condescendência depois arrependi-me, não sabia. E também na primeira todos caem, mas nunca mais... Agora ir um ror de vezes, como por aí vejo... e levarem meninas novas, umas crianças... Olhem que educação!... Mesmo uma dor de consciência...»
Fazia parte de um falso pudor o referir-se o teor escandaloso de algumas peças.
Carlos Malheiro Dias escrevia nas Cartas de Lisboa que a vida cultural e social em 1900 transformara-se radicalmente face a épocas bem recentes. A partir de 1870, com maior ou menor imprecisão, refere a ausência dos célebres salões de nobreza, onde o solar de Picoas pontificava no tempo de D. Maria e do Marquês de Penalva, bem como os bailes do Conde de Farrobo nas décadas de 40 e 50. Também os do Conde de Vimioso, os Marqueses de Viana, os Condes de Carvalhal e de Penafiel.
Ora as récitas no teatro de São Carlos que a nobreza animava passaram a constituir outro foco importante de atracção das classes mais privilegiadas.
Os espectáculos abriam invariavelmente com uma parte musical a que se seguiam comédias ou tragédias representadas por nobres.
Passou também a haver o animatógrafo. A primeira projecção da fotografia animada no Coliseu da Rua da Palma deu-se em 1896. Passou depois para o teatro de D. Amélia, posteriormente chamado Teatro da República e, hoje, São Luiz. Em 1907 fundam-se dois cinemas: o Salão Rossio ou Animatógrafo do Rossio e o Chiado Terrasse.
Ritual alegre de encharcar lenços chorando o destino de heróis, o cinema foi substituindo paulatinamente nas noites lisboetas a habitual ida ao teatro.
Em princípio do século falava-se do animatógrafo como da "pianola da arte dramática". Ou o lugar onde se passava a noite por apenas seis vinténs.
O grande estímulo do cinema era o escuro da sala que propiciava encontros íntimos e sedutores. A conquista.
A cumplicidade com o escuro, breves palavras que se trocam, uma carta ou um perfume que se aspira.
No Chiado Terrasse o amor e a paixão podiam coincidir num rosto de tela: «A mulher que eu amo e que todas as noites aqui venho ver, não vem para a sala, não está nas cadeiras, nem no balcão. (...) Suponho que é italiana». A paixão por uma "boneca" que se encontrava numa tela parecia ainda no princípio do século algo ridículo, tendo em conta a inatingibilidade da proeza. Mas em breve voava-se com as personagens dos écrans e com eles se ía para casa sonhando.
Regressar das matinées e ir tomar o chá entre as quatro e as seis da tarde era um requinte a que as senhoras gostavam de se habituar. Os heróis da tela, tal como Rudolfo Valentino, faziam furor numa cidade ainda mal refeita das carruagens puxadas a cavalo.
À tarde tomar "uma xícara de chá" era um ritual citadino da média e da alta burguesias. O chá doirado, as sandwiches triangulares, os moços decadentes de sapato polido e colarinhos "yanquees". O chá embriagava suavemente. Tal como nos diz um Reinaldo Ferreira. Nos anos vinte: «O chá sim... o chá satisfaz-nos; enerva-nos sem nos excitar; embriaga-nos sem alucinações desequilibradas e deselegantes».
As pastelarias mais importantes dos anos vinte eram a Bénard, a Bijou, a Garrett fundada em 1918, a Ferrari e a Pastelaria dos Grandes Armazéns do Chiado. Mário Costa diz-nos que a «Pastelaria Garrett, caprichosa criação do final da primeira guerra mundial, com o seu cosmopolitismo e os seus concertos diários de boa música, formou uma aura de grande brilho e estimulante interesse, de que ainda hoje se lembram os que viveram essa magia de luxo e arte». Mas o chá era também bebido em privado, no recanto de casa onde as senhoras se reuniam habitualmente, centros privados de conversa, comentário e má língua.
Contudo, um outro divertimento se generalizou a partir dos anos 80 do século passado: a ida às praias. De Belém a Pedrouços até Estoril e Cascais. Ía-se de vapor até Belém; a seguir apanhava-se o trem até Pedrouços ou Paço d'Arcos.
Para Ramalho Ortigão, Pedrouços era a praia dos amanuenses. A praia de Paço d'Arcos, era dos comendadores e de alguma nobreza. Cascais destinava-se à Família Real e à alta nobreza. Ramalho designava aristocrata o indivíduo que tinha certos hábitos de vida, certos desvelos de roupa branca e toilette. Eram os aristocratas quem frequentava Paço d'Arcos. Havia mesmo um clube em cujo salão havia soirées ao sábado. As espanholas paravam pelos bailes sendo sobremaneira populares. A esse respeito dizia Ramalho: «Assim como pela manhã se pergunta para o banho – há maré? – assim à noite se pergunta para o baile – há espanholas?»
Apareciam homens das praias circunvizinhas, Boa Viagem, Cruz Quebrada, Dafundo, atraídos pelas espanholas, consideradas mulheres fáceis.
Em Cascais e em Sintra reunia-se a alta sociedade e a corte, no rasto de uma importância que a aristocracia do dinheiro e do sangue nunca lhe sonegava.
Para além de amores e desamores, ilusões ou enganos, o namoro existia enquanto estratégia de sedução. Numa outra perspectiva, como forma de se alcançar o casamento, a respeitabilidade e a aceitação sociais. Existiam duas fases profundamente distintas, apesar de inseparáveis. O namoro à distância, das cumplicidades de uma janela, num baile ou, mais discretamente, na rua, e o namoro como instituição aceite pela autoridade parental, vigiado cuidadosa e afincadamente. Uma e outra fases se tornavam rituais de atitudes, assentando sobre um código de comunicação não verbal. Publicavam-se manuais sobre a linguagem dos leques, do olhar, das mãos; sobre a forma mais usual e convencionalmente aceite de se escreverem cartas, consoante o grau de adiantamento do namoro. E neste jogo decorria a sedução e o encantamento. Dir-se-ía que era um processo no qual todas as personagens participavam conscientemente, mas onde se não verbalizam intenções ou vontades. A mulher deveria mostrar-se esquiva, desentendida face às solicitações masculinas. Os homens galanteavam, envaideciam, aliciavam. Aceites os papéis e os comportamentos respectivos, tudo se conjugava num puzzle.
Por um mecanismo subtil tentava-se observar comportamentos unívocos que não denunciassem pensamentos mais ocultos ou devaneios. Toda a educação feminina se preenchia na base do comedimento, do recato, da ignorância das atitudes mais impulsivas ou que se referenciassem pela opinião.
O paradigma do comportamento feminino era o de uma obediência às autoridades – no sentido familiar e educacional – e de uma movimentação estrita no espaço doméstico. O namoro, enquanto xadrez que envolvia uma comunicação com o espaço de fora – a rua – poderia desencadear a suspeita sobre a honra de uma jovem. Daí as normas e as restrições.
Por exemplo, Alcântara Severo doutrinava que a mulher deveria ser recatada e quando pela primeira vez se lhe deparasse um homem na rua que lhe não fosse indiferente, nunca deveria olhar para trás sem um bom pretexto. O jogo assentava na indiferença estudada, na humildade de quem não se sente desejado, não evidenciando em caso algum a curiosidade pelo outro. Chegando a casa não se apressaria a chegar à janela pois que assim se revelariam intenções secretas. Passados uns bons minutos poderia abeirar-se da janela como num acaso e se o pretendente estivesse ainda na rua, ansioso por uma resposta, deveria retirar-se num sinal de sábia conduta.
Com efeito é no encontrar do pretexto que se baseia a arte do namoro e a de bem seduzir. Encontrar o bom pretexto sem que a donzela subtrais a honorabilidade e o respeito que lhe são devidos. Mas onde se namorava? Quando eram permeáveis as rígidas regras de uma sociedade à beira do século?
Entre 1890 e 1930 os locais de namoro foram-se alterando. Dir-se-ía que à medida que nos aproximamos dos anos vinte a conjugação do binómio distância/ proximidade altera-se substancialmente. Por exemplo, o que mais caracterizava o ritual do namoro na segunda metade romântica do século XIX era, por um lado, a distância e, por outro, o culto do fetiche: a madeixa de cabelo enviada pudicamente num envelope cor de rosa, azul celeste ou lilás; o retrato do amado(a) que se subtraía cautelosamente dos olhares censores dos pais ou o lenço meticulosamene branco e rendado que a donzela oferecia ao eleito dos seus sonhos. Os locais mais susceptíveis de encontro, ainda nos finais do século XIX, eram o adro da Igreja, o passeio público, o teatro e a ópera, os bailes privados ou de caridade. Até aos anos trinta o namoro à janela ou o encontro ocasional nas escadas de um prédio eram frequentes. Por sua vez, os anos vinte assistem a uma proximidade cada vez maior entre os dois sexos e pela primeira vez à mulher é permitido, mesmo que fragmentariamente, um maior espaço de iniciativa na sedução, apesar das normas sociais se manterem pouco permissíveis.
Mas sigamos meticulosamente os passos destes rituais de galanteio e as dificuldades que se colocavam aos amantes.
O que fazia em 1870 um rapaz que se sentia atraído por uma jovem honesta cuja vigilância a que era submetida se procurava ardilosamente ultrapassar? Diz Ramalho Ortigão que o namoro consistia «em atrair e fixar num passeio, num teatro, numa igreja, o olhar de uma menina honesta; de segui-la até casa (...) de lhe dirigir no outro dia uma declaração de amor por intermédio de um jornal complacente ou de um criado brejeiro; de lhe pedir uma resposta, uma entrevista, um sinal de que lhe não era indiferente».
O namorado de 1920, se tomarmos em consideração o testemunho de André Brun, é uma espécie de janota enforcado em colarinhos. Leu alguns livros proibidos, um pouco de Júlio Verne, recita poesia, é sócio de uma academia familiar, vai com frequência às touradas de Algés e flirta abundantemente as coristas do teatro de revista. É nas soirées familiares que há uma maior proximidade para se namorar com desafogo. Ao som das músicas dizem-se segredinhos, passam-se papéis ocultos e desabrocham cenas de ciúme.
Numa segunda etapa a carta em que o rapaz declara o seu amor após uma longa troca de olhares cúmplices e de estudadas poses de sedução, é sempre escrita num estilo emotivo e metafórico onde a artificialidade predomina sobre a naturalidade.
Regina Tavares diligencia com grande precisão o modo como essas cartas deveriam ser redigidas, frase a frase, advérbio a advérbio, com exclamações e adjectivos em abundância. Poderia começar, por exemplo, assim: «A primeira vez que os meus olhos tiveram a ventura de a ver, minha senhora, senti um sobressalto encantador, que me revelou que vossa excelência havia de decidir a minha sorte.
O meu coração disse-me – eu amo – e todos os esforços que eu fiz para a esquecer, julgando-me indigno do seu amor, foram improfícuos. No canto melodioso das avezinhas, no suave perfume das plantas, em tudo enfim, que é belo, releva os encantos da natureza, eu vejo o suave perfil de V. Ex.ª. Creia V. Ex.ª em toda a sinceridade do meu amor! Foi inspirado por um anjo e por isso mesmo é puro, isento de toda a mácula!
Aceite-o V. Ex.ª e creia que a minha gratidão será eterna.
Esperando uma resposta, sou com consideração humilde criado atento e venerador».
A mulher tornada inacessível pelas normas sociais representa no imaginário romântico uma irrealidade enquanto anjo, fada do lar, deusa ou sol da existência. Os apaixonados nas cartas que enviavam às amadas eram sempre humildes servos, eternos adoradores ou escravos. Em alguns exemplos de cartas, Regina Tavares alvitra este final enternecedor: «Resta-me agradecer, Senhora, a esperança que faz nascer no meu coração apaixonado, de que ainda posso ser feliz, ao lado da mulher que mais amo neste mundo, o anjo da guarda do meu futuro ditoso».
A mulher poderia revestir outras formas face a este imaginário: a de ninfa, de moura encantada, fada ou sereia.
O amor da amada é sempre um dom do céu e a sua recusa leva à destruição: «diga-me se terei de ser o mais feliz de todos os homens gozando o seu amor, ou se terei de ser o mais desgraçado pela recusa de V. Excelência».
As declarações são elaboradas num estilo empolado e artificial.
Os agradecimentos também poderiam ter esta forma: «Graças lhe rendo Senhora, pelo mimo com que o seu lindo olhar fortaleceu o meu coração enfraquecido». Ou ainda: «O assentimento de V. Ex.ª ao gosto do meu rogo, seria como a luz brilhante que aquece os pobres deserdados». Uma última fórmula, a mais sofisticada: «A luz do vosso olhar foi, como o sol animador, que fez germinar no meu coração a flor da esperança, o fruto do amor ardente. Bendita hora em que a vi, bendito o seu olhar cheio de encanto, vivificou no meu peito a seiva duma crença consoladora». A linguagem de teor mais conotativo do que denotativo.
Mas as cartas vão tomando em consideração a condição social do destinatário. E se se tratasse de um empregado que ternamente se queria dirigir à filha do patrão, a missiva teria de necessariamente integrar a palavra ousadia, fazendo-se eco de uma humildade a que um estatuto social inferior obrigava. E sempre a noção de que não é a fortuna pessoal da amada que atrairia o enamorado. As Cartas de Amor para Namorados de Maria Celeste conferem uma atenção muito particular ao escalonamento social das pretendentes. Se for um homem rico que se dirige a uma rapariga de condição humilde o tom genérico da carta deveria fundamentar as suas razões na ideia de que a riqueza não dá felicidade. Casos existem em que um rapaz se enamora de uma mulher mais velha e aí deveria ressaltar-se a timidez de quem toma a iniciativa. Também para uma viúva. Interessante evidenciar que a carta que se enviasse à divorciada era menos respeitosa e solene do que as que se enviassem à viúva ou à solteira. Se em qualquer das hipóteses a destinatária correspondesse aos sentimentos de quem a solicitava, então poder-se-ía retribuir com um tom algo relutante na aceitação do amor que era ofertado por se temer que a sinceridade do galanteio não fosse total. Daí que a natureza da resposta fosse por exemplo: «Lisonjeiam-me as expressões dos sentimentos de alma que manifesta e não duvido confessar que eles são em extremo agradáveis para mim; porém é tão vulgar esse fraseado em cartas dessa natureza, que com franqueza receio em acreditá-lo (...): Não obstante reconhece que me dedica um amor tão sincero como o escreve, não duvidarei escutá-lo; porém se é por simples galanteio que procura entreter-se comigo, então não ouse tornar-me a escrever, pois que isso seria uma ofensa que jamais poderia perdoar».
Iniciava-se, então, um labiríntico processo de comunicação à distância, num jogo de esconde-esconde que assentava em estudados códigos. O namoro à janela permitia situações de algum humor. Se as donzelas habitassem no rés-do-chão ou um primeiro andar a comunicação entre os namorados tornava-se fácil. Contudo, se o andar era o segundo ou o terceiro, necessário seria o recurso a técnicas mais sofisticadas de sinais, alfabetos de gestos e mãos, pois a família só aceitava receber o pretendente em casa quando após um pedido oficial de noivado, já o casamento se prefigurava no horizonte. A rua era um palco possível de troca de bilhetes nas costas da mãe ou de uma criada mais complacente. Um dos mais divertidos processos passava pela utilização de um fio ao qual era atada uma carta e que serviria de elevador se a rapariga murasse num segundo ou terceiro andar. Num momento de distracção, em plena noite de família, a menina poderia abrir a cancela do patamar da escada para falar com o namorado, ou dar-lhe uma carta, uma breve troca de olhares, ou, num gesto atrevido, um beijo.
É Sousa Bastos quem nos conta na sua Lisboa Velha publicada em 1947 mas referindo-se à Lisboa entre 1850 e 1910. As cartas poderiam ser interceptadas pela família. Havia que tomar precauções. Um modo reconhecido e bastante utilizado para iludir a vigilância dos pais fazia-se com o nome de flores e plantas que substituíam determinadas palavras: amargura era aloés; amor em linguagem esotérica, mirto; beleza / rosa; solidão / cogumelo; vida / flor de café; esperança / vime; loucura / violeta. Frases como «Estou ramo de rosas por te ver. O cogumelo da minha flor de café é um aloés constante», eram frequentes. Tradução: «Estou morto por te ver. A solidão da minha vida é uma amargura constante. Todavia, a paz do meu coração é uma tristeza infinda».
Outro processo muito utilizado consistia em atribuir a cada letra do alfabeto um número (segundo combinação de ambos os namorados ou seguindo as instruções de um manual). Também se podia escrever às avessas, ou seja, redigir as palavras ao contrário. A linguagem dos pp consistia em colocar um p em todas as sílabas. Uma outra forma de comunicar, mais sofisticada e quase aceite em espionagem era o escrever com o aparo molhado em sumo de limão – não se via nada escrito... – dado que a carta só se tornava legível depois de passada com o maior cuidado sobre o lume. As palavras apareciam com o calor.
Na comunicação não verbal elementos existem que são utilizados como linguagem entre os amantes. E estes elementos – falamos nomeadamente do leque, da luva, da sombrinha, do charuto, da luneta, no caso do homem – vão-se perdendo à medida que nos aproximamos dos anos vinte. O leque, na sua ambiguidade – apesar dos tratados que ministravam judiciosamente o seu manuseamento – era o lugar da imaginação, da emoção, símbolo absoluto do corpo ausente e dissimulado. A voz não se tornava necessária porque era no registo do símbolo que se comunicava. Os anos vinte trazem uma maior proximidade entre os sexos. Explicitavam-se melhor as relações. A palavra exibe-se e, apesar dos jogos que as palavras também permitem, o sujeito que fala é menos ambíguo do que aquele que se remete ao crepuscular virtuosismo do símbolo. O leque, por exemplo. Até o movimento que se lhe imprime pode denunciar, segundo Bernardo de Alcobaça, autor de uma curiosa Enciclopédia do Amor (s. d., de princípios do século) o estado social. Nas mãos de uma viúva o precioso objecto move-se lenta e compassadamente, como convém "àquele que chora". Nas mãos das solteironas o leque agita-se com uma rapidez violenta fruto da ansiedade com que cobiçam um casamento. Nas mãos das mulheres casadas deve ondular com serenidade, num suave contentamento. As raparigas casadoiras agitam-no febrilmente, excitadas, sinal por excelência de conquista.
A maneira de abrir r fechar o leque, de o deixar cair por descuido para que alguém o apanhe faz parte deste ritual. O leque delimitava um espaço de privacidade com o olhar de um outro, apesar de se exibir em lugares públicos: no camarote ou na plateia de uma sala de espectáculos, nas avenidas ou nos bailes. É nesta ambivalência entre o domínio da privacidade e o território do público que se elege o leque como um elemento fundamental na sedução.
Bernardo de Alcobaça refere-nos as principais normas. Se se fechava, suspenso na mão direita, queria significar o pretender-se ficar noiva; na mesma posição, mas suspensa da mão esquerda assinalava comprometimento. Se a extremidade do leque tocasse os lábios, tal era sinónimo de dúvida e ciúme; se tocasse os cabelos, de não esquecimento.
Abanar o leque com celeridade significava gostar muito. Deixá-lo cair era sinal de retribuição afectiva. Encostá-lo ao coração lembrava amor e sofrimento. Entreabri-lo, cobrindo meio rosto, era um aviso para que se tomasse cuidado – outrém vigiava.
As luvas, de um modo não tão expressivo como o leque, também se desmultiplicavam em significados ocultos. Era importante preservar a mão feminina de uma aproximação mais sensual, de um estreitar mais equívoco. Envolver a mão era a encenação de um ritual: certas partes do corpo, as mãos, as pernas e o colo nunca se desnudavam senão em determinadas ocasiões. A luva poderia ser a marca de uma diferença social, protegendo, ao mesmo tempo, dos olhares mais indiscretos, as mãos menos conformes aos padrões estéticos: as mãos vermelhas com veias à superfície, por exemplo. O ideal até finais dos anos vinte continuava a manter-se na preservação da brancura impoluta, quase desmaiada da pele. A coloração impunha-se como uma marca social. Também, as luvas serviam para comunicar amorosamente. Descalçar da mão direita significava aceitar o amor; a atitude de estar zangado manifestava-se com uma luva descalça batendo numa das mãos. o Almanach dos Amante apresenta um conjunto de regras: dobrar as luvas / "vou passear"; deixá-las cair / "sim"; metade da luva calçada / "não"; bater com as luvas nas mãos / "quero-te"; voltear as luvas nos dedos / "escreve"; calçar ambas as luvas / "o papá saíu"; mostrar as luvas / "tem cuidado".
A sombrinha, tal como assinalámos, também pertence a esta mímica da sedução. Protegendo a pele do rosto para que os raios do sol não desfeiassem a brancura rósea da pele, integrava-se nas horas de ócio da mulher burguesa de finais do século XIX.
O Correio Amoroso apresenta a enumeração das mensagens possíveis:
«Suspendida pelo meio
E roçando-a no vestido,
Quer dizer: Amo-te e creio
que serás meu marido».
Independentemente das diferenças de códigos, das linguagens mais ou menos crípticas, da artificialidade dos métodos, o que importa reter é a importância destes objectos no teatro de operações do desejo e da sedução. O leque, a luva e a sombrinha seduzem respondendo às solicitações de bengalas, charutos e lunetas. Instrumentos de conquista e de poder, na sua conotação fálica, agitavam-se num estranho baile mudo onde o poder mímico se sobrepunha à fala.
«É faladora a bengala,
E o namoro catita
À sua deusa fala,
Se a tem quieta, ou se agita.
Bater com ela no chão:
É desespero, é ciúme,
é sentir o coração em vivo lume».
O Almanach das Travessuras de 1905, como era costume, tornava-se mais explícito. Doutrinava ele: Segurar a bengala pelas extremidades / "amo-te"; acariciar os lábios com o castão / "mando-te um beijo"; meter a bengala debaixo do braço / "espero um sinal teu"; encostar a bengala no chão / "gosto imenso de ti"; deixar cair a bengala / "tenho aqui uma carta".
Adornos, modos de evidenciar uma posição social, o charuto e a luneta denotavam o prestígio de uma posição social assegurada.
Mas os lenços, acessórios fundamentais nas indumentárias de ambos os sexos, nestes diálogos silenciosos, podiam expressar sentimentos íntimos. Deixar cair o lenço era a forma universalmente conhecida de uma senhora exprimir interesse por um cavalheiro.
O namoro correspondia a uma fase preliminar cuja sequência última, já oportunamente o dissemos, finalizava no matrimónio, procurando-se, quantas vezes, através deste meio, ascender social e economicamente. Daí que o casamento não significasse, na maior parte dos casos, o culminar lógico de uma relação de amor, mas a confluência de interesses familiares. Em O Barão de Lavos de Abel Botelho (1889), ao descreverem-se as aspirações de uma jovem, lê-se a determinado passo: «a rapariga no fundo não passava duma burguesita leviana e ignorante, extremosa mas fútil, não tendo da moral a compreensão mais estrita, e cultivando assiduamente, por igual, na janela do seu quarto os namoros e os "amores perfeitos". (...) Casar era o seu sonho doirado; casar com um fidalgo – a sua primeira aspiração de burguesa».
Os tratados e os manuais de etiqueta e boas maneira oficiavam que o casamento não se deveria fazer por interesse e que uma grande oscilação etária não seria aconselhável entre os cônjuges. A predisposição natural conduziria as jovens entre os dezoito e os vinte e cinco anos. Carmen Romero que a estes assuntos dedicou um livro, enumerava a lista das profissões possíveis dos maridos, comentando simultaneamente seus defeitos e virtudes. Do militar ao artista, do político ao engenheiro, do advogado ao médico.
Escusado será acrescentar que a autora se dirigia à mulher burguesa: «As mulheres tendo consciência do passo que vão dar devem também ter a sua educação própria não só de donas de casa e também a educação usual que se deve manifestar, não só logo desde a escolha do marido que a poderá fazer feliz na sua casa, mas também na forma de proceder sempre digna, sempre recta, expressiva e sofredora».
Uma educação que apelasse à preservação do espaço doméstico era essencial para que o matrimónio fosse levado a bom termo. Bordar, coser e outros trabalhos de ménage, alguma cozinha e regras de convivência social, integravam os conhecimentos das jovens.
Sobre sexualidade, parto e educação dos filhos já vimos que pouco lhes era dado saber. As mulheres não deveriam exercer qualquer profissão, salvo se o baixo rendimento dos maridos o justificasse. Condescendia-se relativamente às profissões humildes que uma mulher "honesta" poderia exercer: bordadeira, costureira, caixa ou caixeira.
Em Fatal Dilema de Abel Botelho de 1907, Susana encarava assim o casamento: «é uma imposição social como outra qualquer: que remédio terei eu de sujeitar-me».
Mas como se procedia para legitimar, face a autoridade parental, o noivado?
Segundo a Condessa de Gencé era, normalmente uma amiga da mãe da jovem pretendida que em conversa amena fazia confidencialmente constar o interesse de um determinado indivíduo. Os pais, se acaso não estivessem devidamente informados, procuravam conhecer com detalhe meios de fortuna, relações familiares e profissão do pretendente. Se tudo se achasse conforme, fazia-se constar o assentimento e preparava-se a cerimónia do pedido oficial de casamento. Quantas vezes a jovem era a última a saber das intenções dos pais. Toda a obra de Camilo Castelo Branco se baseia em histórias de amores contrariados e infelizes numa sociedade mais fechada e de poder parental mais acentuado, assemelhando-se o casamento a um mero contrato económico entre famílias, se bem que anterior ao nosso período. Mas, retomando o ritual: o noivo deslocava-se a casa dos futuros sogros em companhia do pai, ou de pessoa idosa das suas relações, para formalizar o "pedido de mão". Seguidamente entregava o tradicional anel à noiva. Um jantar fechava a noite. Tratavam-se então de pormenores sobre o dote; os dias e as horas em que os nubentes se poderiam encontrar. «Ao comparecer perante o pai ou a mãe do futuro noivo, ou perante pessoa que as represente convém que a menina se apresente com o seu melhor sorriso».
As entrevistas entre os noivos decorriam usualmente sob a vigilância de um familiar – uma irmã, a mãe, uma criada de confiança. Eram interditas as manifestações de afectividade, para além de um troca de olhares e de um breve e recatado tocar de mãos. Pierre Dufoyer em O Livro da Rapariga, distingue três espécies de beijos. O beijo respeitoso, o afectuoso e o passional. Claro está que somente o primeiro era permitido entre noivos "sem que haja mistura de algum desejo consciente ou voluntário de sensualidade".
Sensualidade, desejo, prazer eram situações interditas. A jovem deveria manter-se casta. Outros conselhos: «É o caso do beijo apaixonado prolongado e ardente dado na boca; este gesto exprime, ordinariamente, um desejo de posse e de doação mútua e é, em qualquer caso, um meio e uma ocasião».
Estudos sobre a virgindade acautelavam os homens face a indícios reveladores de uma ausência de "pureza" nas mulheres. Da grossura do colo, ao olhar e ao rosto em geral. Os olhos da virgem eram "belos e erguidos", contrariamente a "tristes e baixos" quando ela o não fosse. A própria voz sofreria alterações. As virgens tinham-na clara e timbrada. Os peitos eram mais volumosos na mulher que "pecava".
Este conjunto de preceitos, alternando entre a superstição, a crendice e conhecimentos de medicina algo suspeitos valorizavam a virgindade, a honra e a pureza femininas.
Em finais do século XIX, a marcação dos esponsais era feita da seguinte maneira. O noivo, acompanhado dos pais, deslocava-se mais uma vez a casa da futura esposa a fim de se marcarem as datas e pormenores acerca dos preparativos da cerimónia nupcial. Os pais da noiva encarregavam-se dos convites e do banquete. Ao noivo competiria mobilar a casa e adquirir as alianças. A noiva abastecia a casa de roupas e pequenos utensílios domésticos que integravam um enxoval cuidadosamente preparado ao longo dos anos. Várias superstições envolviam o casamento. Luís Chaves garante que casar em Novembro, o mês dos defuntos, traria sinais de morte. O mês do Entrudo, por alusão ao lúdico, era sinónimo de pobreza e desentendimento. Deviam evitar-se os dias treze, onze, as terças e as sextas feira.
Era mau presságio que os noivos deparassem com um funeral no trajecto para a igreja. Trocar lenços entre si era um sinal de afastamento. O leito nupcial não deveria ser feito pela noiva. Se alguma rapariga, que não a noiva, provasse o vestido de casamento, por decerto ficaria solteira para sempre.
Segundo Amália Barbosa os casamentos deveriam realizar-se às duas ou às três da tarde na boa burguesia. Se o casamento civil coincidisse com o religioso o mesmo vestido seria envergado em ambas as ocasiões.
Na manhã do dia de casamento o noivo enviava flores brancas a todo o séquito da noiva. As aias não eram mais do que em número de seis e seria de bom tom que vestissem de claro (mas não de branco). O noivo e o padrinho colocavam-se à direita do altar aguardando a noiva. Quando finalmente esta chegasse à igreja as aias dispunham-se aos pares atrás, segurando a cauda do vestido.
Finalmente, a noiva quedava-se à esquerda do futuro marido entregando o ramo e as luvas a uma das aias. Após a cerimónia os recém-casados dirigiam-se a uma carruagem que seguiria na cauda do cortejo. A mãe da noiva era a primeira a chegar a casa a fim de receber os convidados. Seguia-se um banquete.
Em traços genéricos esta é a descrição típica do casamento nas classes médias entre finais e princípios do século. Os anos vinte não vêm estabelecer substanciais diferenças neste protocolo, com excepção dos automóveis que substituem paulatinamente as carruagens e uma não tão rígida disposição do cortejo nupcial.
A noite de núpcias, bem como a viagem nupcial, eram por excelência episódios que convidavam ao humor, à anedota mais ou menos velada, aos ditos entre o picante e o escabroso, consoante o gosto da época. Toda uma literatura de cordel corria célere em forma de folheto, com gravuras elucidativas. Na maior parte dos casos o ritual do desnudamento da noiva, tal como uma sessão de "strip-tease" envergonhada, fazia as delícias dos leitores masculinos.
O espelho e o toucador constituíam, no recato e na intimidade que propiciavam, os símbolos da noiva em noite de núpcias:
«Pura, inocente, embora, como um lírio
Havia nela assim, tanta luxúria,
Que dava tentação, doida, purpúrea,
de cobri-la de beijos com delírio!...».
Outros livros, mais sérios e com aspecto de tratados de sexologia – embora o termo fosse desconhecido na altura – teciam recomendações aos maridos para que o acto da desfloração fosse menos doloroso:
«É indispensável o marido ser delicado e cauteloso porque, na maioria dos casos, o amor da donzela pelo noivo é o único deleite que lhe é permitido gozar, naquele delicioso momento doloroso: é preciso compensar a sua tortura física com afagos e carícias».
A ambivalência dos termos "delicioso" e "tortura" ilustrava de algum modo a indefinição em que pairavam os assuntos sobre intimidade conjugal. O noivo tanto poderia encarnar o papel de caçador que vai, finalmente, após uma longa caçada, digerir a sua presa ou a de um general que se prepara para uma batalha em que o inimigo é fraco e de fácil vitória.
À mulher restava, na maior parte dos casos, um desconhecimento dos seu próprio corpo e, muito naturalmente, do do marido.
Aliás, o casamento era encarado como um modo eficaz de regularizar o sexo e a paixão. Uma esposa honesta não deveria comportar-se como uma amante. Era necessário não ultrapassar os limites da sexualidade "decente", até porque o excesso poderia provocar problemas na fecundação e na concepção, afinal o fim por excelência da constituição do lar.
No princípio do século opinava-se que entre esposos as carícias seriam doces; o beijo permitido na fronte, nos olhos, nas faces, no colo ou na boca. Mas seria "prostituição" e "luxúria repugnante" que se beijassem outras partes do corpo habitualmente cobertas. Luxúria era, por exemplo, introduzir a língua na boca da mulher, pois, para além do mais, ainda poderia trazer o perigo de contágios e outras enfermidades. Interessante analisar como o discurso sobre a sexualidade oscilava entre o preconceito de ordem moral – "luxúria", "repugnante", "volúpia" – e o de cariz médico em torno da concepção ou da doença. Uma excepção neste discurso moralizador: Alfredo Gallis em O que as Noivas devem saber (3.ª ed. 1910), sob o pseudónimo de Condessa de Til, avançando sobre uma sexualidade mais inventiva. «Apenas o homem comece a manifestar o princípio do tédio, a mulher deve logo procurar defender-se, e essa defesa consiste em tornar-se apetecida, em sugestionar-lhe a fantasia». Para além de aconselhar as esposas a dormirem em quartos separados dos cônjuges – para que certos odores e situações embaraçosas fossem poupados aos maridos – Alfredo Gallis sugere cuidados na higiene e na beleza femininas. E, neste entrecho, o discurso do autor não se encontra em contradição com as ideias em voga.
Um aspecto levava Alfredo Gallis a insistir numa sexualidade mais liberal dentro do casamento: o grande número de casos de adultério e de infidelidade conjugal por parte da população feminina.
No princípio do século era ponto assente que o casamento tivesse como fim óbvio a concepção. Qualquer posição no coito que não respeitasse as normas tradicionais era considerada prejudicial. Para que uma fecundação ocorresse com maior probabilidade de êxito deveriam escolher-se os dois ou três dias antes ou após o ciclo menstrual, sendo a noite especialmente propícia ao repouso e à languidez. Horas a evitar: a manhã e o período após as refeições.
Em relação à sexualidade o conservadorismo era um forte entrave para um relacionamento mais aberto entre os esposos.
Do ponto de vista jurídico, a mulher casada detinha uma posição totalmente subalterna. Segundo o Código Civil de 1867, da autoria do Visconde de Seabra e cujas principais linhas só foram alteradas após 1910, os cônjuges teriam obrigação de:
1.º Guardar mutuamente fidelidade conjugal;
2.º Viver juntos;
3.º Socorrer-se e ajudar-se mutuamente.
O artigo 1185 do Código Civil refere nomeadamente a prestação de obediência ao marido por parte da mulher; o artigo 1187 vai mais longe ao ponto de a proibir de publicar qualquer escrito sem a autorização marital; o artigo 1189 refere que «a administração de todos os bens do casal pertence ao marido, e só pertence à mulher na falta ou no impedimento dele».
Mesmo a mulher administradora não poderia alienar bens imobiliários sem autorização do conselho de família. Vejamos outros aspectos deste Código Civil que à mulher diziam respeito: Residindo no domicílio do marido seria obrigada a segui-lo para toda a parte, se a vontade daquele o determinasse, excepto para o estrangeiro.
O divórcio não era reconhecido. Apenas a separação judicial de pessoas e bens. A separação era decretada pelo tribunal ouvido o conselho de família, constituído por três parentes de cada cônjuge. Para o marido bastaria alegar o simples adultério da esposa.
Para a mulher necessário seria que o adultério do marido fosse cometido com o escândalo público ou completo desamparo da mulher.
Pelo Código Penal, o marido que matasse a esposa adúltera e seu cúmplice era apenas condenado a seis meses de desterro da comarca. A esposa só beneficiava da mesma indulgência se a amante fosse mantida no lar conjugal, o que raramente se passava. O marido possuía o direito de, a título de exemplo, abrir a correspondência da esposa.
Ramalho Ortigão dizia, com alguma gravidade e sentido das conveniências, que «de todas as instituições portuguesas a única definitiva, a única estática, a única inviolável é a família».
O raciocínio de Ramalho, conservador sem dúvida, dava um pouco a tónica das preocupações da burguesia no último quartel do século XIX face ao número crescente de separações de facto e judiciais.
Entre 1867, data da entrada em vigor do Código Civil, até 1876, tinham sido intentados 181 casos de divórcio na sua maioria propostos pelas mulheres. É que bastariam, seguindo ainda Ramalho, dois ou oito dias de intimidade doméstica para logo se gerarem conflitos entre os cônjuges. Ele porque acharia que ela era histérica e ao jantar quando chegasse encontrá-la-ía "feia", os olhos pisados, o cabelo despenteado e sujo, de sapatos achinelados, sem espartilho, sem colarinho, sem toilette e sem banho».
A atitude inicial do marido seria de repulsa e desprezo. É óbvio que este posicionamento tão crítico em relação à mulher casada é apenas uma visão profundamente misógina do casamento, o qual emerge de todo um conjunto de teses que ao longo do século XIX se foram desenvolvendo em torno do lugar feminino na sociedade.
O facto é que homens e mulheres se desconheciam total ou parcialmente no que respeita ao corpo, aos hábitos, nos modos, no temperamento. Segundo Ana de Castro Osório «o homem e a mulher caminham para o casamento sem lhe conhecerem as vantagens ou as desvantagens». A mulher passaria de uma atmosfera asfixiante da casa paterna para a casa do marido, onde desempenharia o papel de alguém desamparado, não sabendo ganhar o seu dia a dia, destituída do direito ao voto.
Mas existem opiniões não tão conservadoras como as de Ramalho. D. Alberto Bramão num célebre ensaio, Casamento e Divórcio, refere-se à peça de Henrique Lopes de Mendonça, Nó Cego representada no D. Maria em 1905.
A intriga é mais ou menos deste modo: um engenheiro, abandonado pela mulher, apaixona-se por Emília, não podendo legitimar a sua união, devido à inexistência do divórcio na lei portuguesa.
A própria Ana de Castro Osório escreve em 1925 um romance doutrinário, O Direito da Mãe, onde expõe o caso aflitivo de uma mulher que se pretende divorciar de um marido alcoólico, jogador, portador de doenças contagiosas, em defesa dos filhos.
Mas situemos os problemas da mulher casada perante o Código Civil.
Não pode ser a educadora dos filhos, que pertence ao pai de direito, o qual os rege, protege e administra, constituindo assim o poder paternal (artigo 1370).
Embora o artigo 1138 proclame que a mãe comparticipa do poder paternal e deveria ser ouvida em tudo que respeita aos interesses dos filhos, tal não poderá suceder, porque o pai é o único representante do poder paternal. Contra ele a opinião e a vontade maternais nada valem.
O pai pode requerer a prisão do filho desobediente ou interná-lo numa casa de correcção mesmo contra a vontade materna.
No caso de casamento de menor torna-se inútil a licença da mãe, porque prevalece a opinião paterna.
Quando viúvo o homem administra e usufrui os bens dos filhos menores, podendo contrair segundas núpcias sem que lhe seja tirada a administração e o usufruto. Viúva, a mulher terá que dar contas da sua administração ao conselheiro que o defuntos tenha deixado nomeado. Caso chegue a contrair segundas núpcias a mulher perde imediatamente a administração e o usufruto da fortuna dos filhos menores. O filho pode ser emancipado antes da idade legal pelo simples consentimento paterno; pelo consentimento da mãe somente quando, viúva, tenha assumido o poder paternal (artigo 1304).
Em consequência destas injustiças Alberto Bramão aponta o crime e o aborto como consequências últimas quando a separação não é possível. O aborto é mesmo citado por Egas Moniz como uma monstruosidade que seria preciso evitar, tendo em conta a não legitimação das crianças pelos pais verdadeiros.
Segundo Roboredo Sampaio existiriam mais de duas mil pessoas separadas judicialmente, em 1908.
O Código Civil de 1910, aprovado sob o governo republicano de Afonso Costa, já permitia que a mulher administrasse os seus próprios bens, publicasse sem autorização do marido as obras de autoria, para além de reconhecer o divórcio. O artigo 39.º do Código Civil dizia nomeadamente: «A sociedade conjugal baseia-se na liberdade e na igualdade incumbindo o marido, especialmente, a obrigação de defender a pessoa e os bens da mulher e dos filhos, e à mulher, principalmente, o governo doméstico e uma assistência moral tendente a fortalecer e aperfeiçoar a unidade familiar».
Sem direito a uma privacidade, alternando entre o espaço doméstico e a convivência restrita às normas sociais – algumas amigas, a deslocação a bailes ou espectáculos, desde que acompanhada – restava à esposa um papel importante na educação dos filhos, enquanto menores. Confronte-se no entanto, e seguindo a ficção queirosiana, nos anos 60 que se prolongam até final do século, a educação de um Carlos da Maia, inglesa e masculina por excelência, voltada para os desportos, numa ambiência ao ar livre e a educação de um Eusebiozinho, frágil, sempre retido nas saias da mãe, hiper-protegido, entre o anémico e o efeminado. Estes modelos de educação estereotipados denotam o quanto, em alguns meios, se considerava a educação dos rapazes algo que se deveria processar longe do espaço materno.
A infantilização da mulher, a sua menoridade intelectual eram encaradas naturalmente. Carmen Romero opinava que, «em vez de línguas, em vez de dons bonitos e efémeros que apenas tornam atoleimadas certas meninas, quanto de mais utilidade não era ensinar-se-lhe a cozinhar bem, a talhar, a coser, a tratar de todos os interesses que uma boa dona de casa deve saber a fundo?»
Ramalho Ortigão não fizera uma "campanha" para que as mulheres soubessem confeccionar uma boa sopa, em vez do manuseamento das teclas do piano e de algumas palavras em francês? Leiam-se As Farpas.
Júlio Dantas, já em 1922 na Arte de Amar, recomendava ao recém-casado que educasse a mulher, como a um primeiro filho, no respeito pelas coisas sagradas. E acrescentava: «Não há felicidade no casamento, quando a mulher não reconhece a superioridade do marido».
A mulher não deveria ler livros que lhe "perturbassem" os sentidos, tendo em conta a sua tendência inata para o capricho e a mentira. Veja-se o exemplo referido em O Primo Basílio. As amigas de Luísa inspiradas por leituras "modernas" têm uma influência decisiva no comportamento adúltero e "pecaminoso" da protagonista. No capítulo sobre Influências Estrangeiras deste trabalho, já referiramos vários romances onde o teor da literatura que chegava às mãos femininas incitava a reacções pouco consentâneas com o estatuto tradicional da mulher. No essencial, esta, teria de acatar ordens, de manter uma casa asseada, sem excesso de despesas, respeitando o marido e cuidando dos filhos.
Um hiato separava a mulher dona de casa e procriadora da que poderia agradar sexualmente. Um hiato de consequências interessantes de analisar nesse final do século. O prazer ía-o o marido encontrar na mulher outra: prostituta, actriz de revista, ou, pura e simplesmente, amante – ocasional ou "manteúda". A educação feminina, resguardada nos clichés de um fazer caseiro mais aparente do que real, ocultava ou desconhecia a preparação sexual."
Melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Cara Maria Benedita e outros confrades,
Hoje pela primeira vez entrei neste topico e como ja passei algumas horas a le-lo contarei so do 10 de Junho de 1958, em que vestida da Mocidade Portuguesa! (tambem foi a unica vez...), fui cantar com um coral, 'a noite, na Torre de Belem...
"Sou Portuguesa de coracao e raca
nao ha talvez maior fortuna e graca
e com fervor num hino sem igual
eu canto o amor que tenho a Potugal
Desde Ourique a Aljubarrota
Desde ...?.. a Santa Cruz
Portugal de lanca em punho
deixa uma esteia de luz.
Combatente e marinheiro
Singra o mar de cruz na mao
Para dar ao mundo inteiro
Fe e civilizacao.
Tinha 13 anos e nao fazia a mais pequena ideia do que era a Mocidade Portuguesa. Para mim era a oportunidade de um passeio 'a noite sem os meus pais o que nesse tempo nao era normal.
Como me lembrei de isto tudo nao sei, pois nao me lembro ja o que tomei ao pequeno almoco.
E alguem se lembra do "Grande Encontro" no estadio do Restelo? Ja nao sei em que ano foi.
Fico sem a certeza se 'e bom recordar!?
Rosario
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A inveja sempre existiu....
Cara Maria Benedita
Mas agora não desafinou. Que GRANDE contribuição a este tópico.
Só tenho para contrapor o que recentemente descobri:
Duarte Nunes de Leão na sua Descripção do Reino de Portugal, obra acabada no século XVI, e publicada no século seguinte, afirmava:
"a gente de Portugal é negligente de suas coisas sendo grande admirador do alheio".
Julgo que esta frase justifica muito o que hoje acontece neste país
Cumprimentos e um muito obrigado
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Cara Rosário
Recordar é...recordar! Umas vezes bom, outras mau, a verdade é que a nossa geração foi marcada por um determinado tipo de educação. Escapei á Mocidade Portuguesa por um triz, nunca vesti a farda nem participei em nada, no meu tempo e no meu liceu não ligavam já a isso, graças a Deus! Mas pertenci ás Conferências de S. Vicente de Paula, á Obra das Mães e á JEC, e revi tudo isso na biografia da Maria Filomena Mónica!
Não sou de Lisboa, sou mesmo provinciana, pelo que também me não lembro desse Grande Encontro do Estádio do Restelo. A Mocidade Portuguesa creio que terá perdido o impacto nesses finais dos anos 50, pelo menos no Liceu de Aveiro só me lembro de ser obrigada a ter aulas de Lavores, enquanto os rapazes, esses sim, eram obrigados a vestir a farda e marchar para trás e para diante nos páteos do liceu ( páteos destinados aos meninos, as meninas tinham outros, o liceu era misto, mas havia um processo de sinalização tipo trânsito que fazia com que só nos misturássemos dentro da aula). E não podiamos ser acompanhadas por rapazes dentro dos 100 metros que rodeavam o liceu!
Mais, não podíamos entrar no liceu sem meias nem de manga curta, lembro-me do enorme desgosto que tinha nos meus 16, 17 anos por ter que usar soquettes no verão e casaquinho de linha de manga comprida.
Enfim, recordações!
Com os meus melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
O Grande Encontro, também conhecido por "Grande Encontrâo" foi por volta dos anos 67/68.
Vale sempre a pena recordar, pois segundo dizem "recordar é viver segunda vez"
Maria
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Cara Maria Oliveira Martins
Eu também acho que vale sempre a pena recordar. Bom ou mau foi o nosso passado que fez de nós aquilo que somos hoje. e é bom recordar!
Mas esse Grande Encontrão, se foi nos anos 67/68...devia lembrar-me, e não me lembro mesmo! Julgo que, nessa data, a Mocidade Portuguesa já era!
Tem mesmo a certeza?
Com os meus melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Cara Maria Benedita,
Mas o Grande Encontrão estava relacionado com a JUC, não tinha nada a ver com a MP.
Mas posso informar-me mais detalhadamente.
Que eu saiba a MP só acabou com o 25 de Abril.
Com os meus melhores cumprimentos
Maria
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Cara Maria
Sim, lembro-me que a gosar, diziam o "grande encontrao" mas foi bem antes de '67 pois eu ja estou em Inglaterra desde Julho de 1966 e eu ainda andava no liceu. Eu diria que foi em 61/62 talvez.
Ja agora aproveito perguntar-lhe, tambem visita o site hisperitanas? e' que o seu "username" e' original e creio que o vi la tambem.
Rosario
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Cara Maria Benedita
O que me assusta ao recordar agora era a minha total ignorancia do que estava por traz do que para mim, como disse, era uma diversao com colegas. So hoje creio que compreendo porque os meus pais nao estavam muito satisfeitos em comprar-me a farda mas para mim, na altura, eles eram uns estraga-prazeres e mais nada.
E a letra, ao minimo, "politicamente incorrecta", mas eu vi-a so como uma cantiga e nunca pensei no significado.
Mas 'as vezes recordar e' engracado, como quando a minha filha nao queria acreditar que nao havia televisao quando eu era pequena e pensava que eu estava a brincar! E o que se fazia para entretimento?!
Enfim, somos um produto duma 'epoca....
Cumprimentos.
Rosario
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Olá,
Não consigo agora confirmar a data, fica para amnhã se tiver resposta ao meu e-mail enviado para uma amiga dessa época.Mas julgo que foi em Maio de 1966
Sim já fui mais vezes do que agora ao Hisperitanas. Houve uma altura que precisei de dados de famílias de Cabo Verde e frequentei-o bastante.São muito "morabeza"
Bjs
Maria
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Caro Ricardo,
Viu o programa que deu hoje na RTP1, logo a seguir ao telejornal das 20 h? Do António Barreto, sobre a vida dos portugueses nos últimos 40 anos.
Claro que havia pessoas que tinhamos outro nível de vida, mas não eramos muitos.
Cumprimentos
Maria
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Minha cara
Não vi o programa pois fui jantar fora .Julgo que me o gravaram
Um abraço amigo
Ricardo
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
Cara Maria Oliveira Martins
Interessantíssimo esse programa!
Mostra bem a evolução que se verificou e é muitas vezes esquecida.
Melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Senhor R. Azevedo:
Muito lhe agradecia se tivesse a possibilidade de me esclarecer esta frase, que encontro em registos de óbitos: 'deixou vinte missas, da esmola de cento e vinte reis cada uma'
As minhas felicitações pelos artigos que tem publicado. Caso tenha ou venha a ter um livro editado poderá informar-me?
Cumprimentos
FDH
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Meu caro FDH (Duarte 1968)
Mas parece-me que ele deixou ao padre rezar 20 missas dando por 120 reis de esmola em cada uma. Isto é gastou 2400 réis com esmolas e talvez tivese de ter pago ao padre mais as missas!
O meu livro, que estou a preparar, tem a ver com a minha família em Leiria e não com a forma como se vivia. Claro que tenho alguns flashs sobre como ela procedia.
Por exemplo quando da morte de um tio-bisavô, ele deixou escrito que:
"... seria conduzido em carro armado e puchado por duas parelhas, acompanhado por 12 pobres com brandões accezos, a cada um dos quaes se dará mil réis, à egreja de Santa Marinha, onde se lhe fará um officio de corpo presente sem pompa, com missa de três padres e assistência dos meninos orphãos e desamparados, dando-se a cada uma d'estas corporações doze mil réis..."
Assim, até na morte ele "vivia" bem!
O livro sairá dentro de uns meses e tera o meu apelido na capa. Tive a ajuda do Prof. Doutor Francisco Queiroz (igualmente participante neste Forum) na sua elaboração.
Cumprimentos
ricardo Charters d'Azevedo
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A licença de isqueiro
Ja alguém viu uma licença de isqueiro? Como aquelas que foram usadas até finais dos anos 60?
Mostraram uma num dos programas da manhã, na TV. Tenho um exemplar do meu avô, datada de 1953 e que irei publicar no meu livro sobre genealogia familiar, que sairá ainda este ano
Era uma licença anual com um valor de 40 Escudos que compensava o Estado pela perda de receitas decorrente da não utilização dos fósforos, que era, nessa altura, um monopólio do Estado.
O Decreto Lei de 1937, corrigido por um Decreto Lei de 1943, referia que "se o delinquente for funcionário do Estado, civil ou militar, ou dos corpos administrativos, a multa de 250 Escudos será elevada para o dobro e o facto comunicado à entidade que sobre ele tiver competência disciplinar. Das multas pertencerão 70% ao Estado e 30% ao autuante ou participante. Havendo denunciante, pertencerá a este metade da parte que compete ao autuante” !
Consequentemente, havia fiscais das Finanças que controlavam os cidadãos que acendessem isqueiros em publico. No entanto "debaixo de telha" não era necessário dispor da licença. Claro que os estudantes de Coimbra, colocavam uma telha na cabeça quando usavam isqueiros na via pública !
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: A licença de isqueiro
Caro Ricardo Charters
Sabia que , até finais dos anos sessenta,era preciso licença para usar isqueiro, mas nunca vi nenhuma.
Mas, pelo meu lado, encontrei um registo de um veículo de duas rodas tirado por dois animais da espécie bovina, vulgo carro de bois. O livrete em questão devia acompanhar sempre o veículo quando este transitasse pela via pública, isto é, o homem dos bois devia ir para a vindima de livrete no bolso sob pena de multa. o livrete é de 1953, e confesso a minha ignorância, não sabia que os carros de bois estavam sujeitos a registo!
Melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: A licença de isqueiro
Cara Maria Benedita.
Lembro-me bem da licença de carro de bois ou de carroça. Era veículos perigosos... Os boieiros solicitavam aos patrões a licença para poderem sair, bem como solicitavam a compra de chocalhos para os animais. Diziam que se não tivessem os chocalhos, os bois (ou vacas) trabalhavam mal, pois ficavam invejosos em relação ás outras juntas de bois que os possuíam.
Por outro lado, a partir dos anos 50, os carros de bois e as carroças não podiam entrar nas vilas ou cidades com os aros metalicos nas rodas. Tiveram de colocar rodas de borracha nas carroças que iam ao mercado e os carros de bois não entravam nas povoações. Igualmente foi proibido caminhas de pé descalço nas povoações. Assim as mulheres (que andavam descalças) passaram a calçar tamancos ou alpercatas que tinham atacadores (não eram Nikes, mas eram de borracha e pano branco, iguais a umas que hoje custam um dinharão)
Tambem havia a licença para conduzir bicicletas. Tive uma por essa altura....
Cumprimentos amigos
Ricardo Charters d'azevedo
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RE: Educação no "tempo do Salazar"
"Mas pertenci ás Conferências de S. Vicente de Paula, á Obra das Mães e á JEC,", era para as raparigas o substituto á Mocidade Portuguesa, que nos anos 50 estava em pleno auge. A MP durou até ao fim do regime e as Juventudes Católicas também... Entre elas as JEC, JOC, JUC.-
Nem se podia visitar o estaleiro naval, onde se construiam barcos de pesca em Aveiro. As meninas alí nâo iam...
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Nem se podia visitar o estaleiro naval, onde se construiam barcos de pesca em Aveiro. As meninas alí nâo iam...
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RE: A licença de isqueiro
Caro Ricardo Charters
Também tive licença para conduzir biciclette, mas o melhor que me podiam dar, em miúda, era conduzir um carro de bois, de pau afiado em punho! Sentia-me uma heroína! Nem notava que o boieiro ia a meu lado sempre pronto a intervir quando houvesse problema!
Também me recordo de começar a conduzir automóvel, aos 14 anos ( nada justifica a minha nabice na área pois até comecei cedo!) e de passar tangentes aos carros de bois, levando com a cauda dos mesmos nos vidros do pobre conduzido. Era uma barulheira dos demónios. Naquela altura não havia, na aldeola, polícia que nos impedisse de treinar ao volante, situação que se mantem até hoje pois a última vez que chamei a polícia da vila mais próxima por um roubo de presuntos(!), a mota do agente estava avariada e não pegava e ele bêbado como um carro, dava pontapés na dita para ver se ela aprendia a comportar-se! Entratanto os meliantes deviam estar a comer óptimo presunto da última matança bem regado com tintol bairradino! Quem disse que a vida mudou muito nos últimos 40 anos?
Afectuosos cumprimentos
Maria Benedita
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escrever desconhecendo a realidade do passado
Se nâo entendeu a indirecta do que afirmou noutro tópico que conhecia um navio por dentro portque tinha uma série de familiares capitâes, engenheiros e supervisores navais, e logo me dá dois familiares que foram capitâes de porto, bastantes anos antes que V/ nascera. Em Aveiro, na época em que diz ter nascido, nâo entrava nenhuma rapariga para visitar barcos, quando diz que tinha um tio supervisor, e já estarei investigando a época em que outros familiares foram maritimos para ver se coincidem com a possibilidade de ter sido convidada a visitar um navio.-
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Quanto ao seu arrozoado escrito em que mete a etiqueta nas salas de baile, o que lhe tenho que dizer é que a sua incapacidade, (por culpa de uma educaçâo espartana e do regime em que viveu), para descrever e descernir o que é um bordel, um cabaret e uma sala que logo veio a evoluir para o que se conhece hoje como um bar americano, e logo top-less, da etiqueta de um baile particular, de um baile popular (normalmente numa praça pública) ou de um baile de palácio, leva o perigo de multiplicar o seu desconhecimento a grande parte de leitores/as mais jovens, que desconhecendo a realidade de uma época, vâo acreditar que o que aqui postou, era a realidade de Lisboa de uma época passada, quando mete no mesmo saco novelas, cenas de Paris sacadas de novelas, a descriçâo de ambientes de bordel, salas de prostituiçâo, a tipica corrupçâo de menores que eram levadas ao teatro, e que também saca a cena de uma novela,
a descriçâo das raparigas que tinham uma caderneta onde apontavam os bailes com os clientes, (bar americano) para logo poderem cobrar uns peniques do dono do local etc... etc... ( também sacada de uma novela e logo de uma cena de uma pelicula de Charles Chaplin), que em nada tem que ver com a etiqueta da sociedade de Lisboa renascentista.
Ao fazer tal arrozoado, está a multiplicar a incultura, nâo contribui para nada para a sua erradicaçâo.-
O desconhecimento da realidade só pode levar á ficçâo, e a ficçâo nâo deve ser apresentada como realidade, sob pena de multiplicar a ingorância, neste caso sobre o passado.-
Melhores cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: escrever desconhecendo a realidade do passado
Caríssimo e estimadíssimo sr. de Telde
Tendo em conta que vocelência não me deixa em paz e socêgo, continuando a ser desagradável em tópicos e assuntos em que a si me não dirijo, ( aliás nunca sou eu a dirigir-me a si!) passo a explicar:
Cá em Portugal nunca houve problema em uma criança ou menina ir com seu pai ver um navio em construção! E nunca houve problema em participar de provas de máquinas, muito menos houve problema em assistir á largada de bacalhoeiros para a Terra Nova ou para a sua chegada! E, calcule lá, que havia cocktails á largada e se subia a bordo! Espantoso, não é!. Mais, se dei o nomo de dois Tios capitães do Porto do Lobito foi a seu pedido! Você é do Lobito, perguntou, eu disse! Já sabia que não o teriam sido na sua época, mas, se pergunta, respondo! E foram capitães do porto do Lobito antes de eu nascer, tudo bem, que quer isso dizer? Supervisor naval nem sei o que é, engenheiro naval, isso sim, já conheço!
"Em Aveiro, na época em que diz ter nascido, nâo entrava nenhuma rapariga para visitar barcos, quando diz que tinha um tio supervisor, e já estarei investigando a época em que outros familiares foram maritimos para ver se coincidem com a possibilidade de ter sido convidada a visitar um navio."
Primeiro,eu não nasci em Aveiro.
Segundo, fartei-me de entrar e andar em barcos.
Terceiro, e já amplamente constatado, você quer embirrar!
E se quer embirrar, embirre, mas comigo não!
Melhores cumprimentos
Maria Benedita
PS Esqueci-me de lhe participar uma visita a um submarino, com o respectivo comandante, e vários passeios de gaivota!
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RE: escrever desconhecendo a realidade do passado
Minha cara Srª:
"Tendo em conta que vocelência não me deixa em paz e socêgo,"
Em resposta, cabe dizer que nâo a conheço de lado algum, a nâo ser de um espaço virtual, e nâo creio que seja um imbécil mental para nâo deixar em paz ou embirrar com um sêr virtual. Apenas, tenho o gosto de criticar algumas realidades virtuais que aqui a Srª Masvac, (srª virtual) vai postando com melhor ou pior virtude.
Quando me disse que por ter conseguido extinguir o incendio na sala de máquinas de um navio, seria causa de despido de um Cmte, me ri do disparate e o atribui ao desconhecimento sobre o que é um navio e do regime interior do mesmo. Respondeu-me que tinha uma série enorme de familiares Comandantes de Marinha e até um Maquinista Naval, supervisor na construçâo de um bacalhoeiro...
Visto ter indicado dois Capitâes de Porto, na cidade onde nasci, lá teve a amabilidade de me responder indicando nome apelido e data da missâoa, o que me levou a concluir, que da lista que me havia enviado, haveria muitos que nâo eram da sua época, e que portanto, estaria legitimado para iniciar uma pesquisa sobre os demais "familares", para conhecer quanto poderia V/ conhecer de um barco...
Como acaba de me dizer que sim, que conhece perfeitamente um navio e que até esteve num sumarino, pois só posso concluir que o facto de a Srª o ter ligado a um possivel despido quando referi ter cumprido o meu dever e ciencia, extinguindo um incêndio na sala de máquinas de um navio que comandei,que isso entâo nâo foi por ignoranciia, mas por supina maldade... quiz morder neste navegante... Foi falsamente ignorante e maliciosamente consciente da maldade.
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Terei que concluir que também foi conscientemente malévola ao alterar e mixturar a realidade social de bordeles, salas de prostituiçâo, bailes sociais populares, de palacetes e palacios?
Foi conscientemente malevola ao alterar e mixturar realidades sociais de épocas e sociedades tâo dispares como a francesa, inglesa, portuguesa, etc... lidas em novelas e escritas por dispares capacidades e sencibilidades sociais?
Nâo abomino da realidade virtual, mas da incapacidade de descernir de alguns pseudo- instruidos que aqui colocam o que quer que seja, sem o minimo senso comum ou conhecimento da realidade cultural, mais para lá do seu circulozinho vivencial.-
Melhores cumprimentos
Fernando de Telde
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RE: A licença de isqueiro
Cara Maria Benedita
Este seu texto faz-me lembrar tempos antigos. Bem haja
Cumprimentos amigos
Ricardo
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O papel da costura no Portugal social dos anos 30
A costura dava emprego a um número significativo de mulheres nos anos 30
Os números não deixam mentir. Nos anos 30, cerca de 82 mil mulheres trabalhavam na indústria de vestuário e calçado. Só havia mais mulheres activas na agricultura, actividade que era nesses anos a principal em Portugal, e nos trabalhos domésticos (incluindo criadas).
Um retrato do Portugal dos anos 30, que ficou bem expresso numa edição de 8 de Agosto de 1937 do Diário de Notícias. Numa fotorreportagem, o jornal pretendeu mostrar como passavam os lisboetas o Verão. Uns aproveitavam o sol para se banharem nas águas frias do oceano. Afinal estavam "trinta e cinco graus à sombra". Por isso, os comboios e as camionetas que "levam para as praias e termas da estremadura e do Norte multidões ofegantes de calor e ansiosas de diversão" enchiam-se.
Na cidade, a vida era outra. "À sombra dos quintos andares, a vida continua, embora com novas imagens: - Fatos de linho, a novidade sensacional da época, vestidos de seda estampada e de fantasia e, às vezes, quando é permitido, a mocidade em mangas de camisa." Nas ruas, a caminho do trabalho, as elegantes e "graciosas" costureirinhas, sempre na moda. "Com os seus vestidos leves e graciosas, as costureirinhas continuam a ir para o trabalho de todos os dias." E dizia-se mais: "Quem ama não dorme! Um rapaz que se levanta cedo para acompanhar a costureirinha que não pode veranear."
As costureirinhas fazem parte da Lisboa antiga. Os célebres filmes da já chamada época d'ouro do cinema português não as esquece. A Canção de Lisboa, um filme de José Cottinelli Telmo datado de 1933, tem como figura principal Alice, interpretada por Beatriz Costa. Filha do alfaiate Caetano (António Silva), Alice garantiu um lugar de destaque, comprovado hoje pelo Youtube, na galeria das músicas de cinema mais famosas com a Agulha e o Dedal.
A Canção de Lisboa foi, segundo a Wikipédia, o primeiro filme sonoro de longa-metragem totalmente produzido em Portugal. Foi produzido pela Tobis, cujo projecto das instalações foi concebido precisamente por Cottinelli, que era arquitecto, um ano antes de produzir A Canção de Lisboa. Já nos anos 50, mais precisamente em 1959, Manuel Guimarães realizou A Costureirinha da Sé. Não era, no entanto, um retrato de Lisboa. A Costureirinha da Sé é um filme do Porto, cidade onde Guimarães estudou Belas Artes. Na Cidade Invicta começou, também, a trabalhar como empregado de alguns cinemas, com funções de cartazista-publicista.
Estes eram tempos em que as costureiras desempenhavam um importante papel social. Os concursos de vestidos de chita, tão populares na altura, são hoje revividos em algumas localidades portuguesas. Do mundo das costureiras, temos hoje ainda a visão das máquinas de pedal. A Singer liderava, mas a Oliva fez-lhe frente. Foi nos anos 40 que a Oliva inaugurou a fábrica de máquinas de costura em S. João da Madeira. "Aceite como um meio de produção fundamental das classes mais pobres, proporcionou e sedimentou um ideário profissional de massas - a costureira. A difusão da máquina de costura Oliva assumiu, assim, uma importância social ímpar, tanto no continente como nas colónias portuguesas africanas, só possível através de uma sábia articulação entre o produto, e a sua publicidade - destacando-se a organização dos concursos do vestido de chita e os múltiplos pontos de venda que na sua maioria tinham formadoras só para estas máquinas", destaca o Instituto Português do Património Arquitectónico, a propósito do edifício industrial. A publicidade era já, então, importante para o sucesso do produto. Francisco de Almeida Grandella foi o grande percursor dos instrumentos publicitários. Mas também dos armazéns. Pelas suas mãos inaugurou-se, em 1907, em Lisboa, a versão portuguesa do parisiense Printemps. Em 11 andares podia comprar-se de tudo. Até que, em 1988, o incêndio do Chiado o destruiu por completo. Já não tinha o esplendor de outrora, já não era um ponto nevrálgico da capital.
De facto, continua o IPPAR, "a numerosa produção de máquinas de costura vai moldar o carácter e o sonho de muitas gerações que viam nesse objecto um meio de promoção social, formando-se centenas e centenas de costureiras por todo o Portugal e colónias".
Texto de Alexandra Machado publicado no DN (edição on-line) de 4/8/2007
Luis Figueira
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RE: O papel da costura no Portugal social dos anos 30
Caro Luís Figueira
Excelente participação! Gostei imenso!
Dá vontade de rir, mas quando vim para Lisboa, as senhoras mais "chiques" não subiam o Chiado pelo lado do Grandela, isso era para pirosas, as lojas de renome estavam do outro lado da rua!
Ainda sou do tempo em que não havia quase pronto a vestir, reinavam as costureiras e cada uma delas tinha um monte de aprendisas a trabalhar. As costureiras eram promovidas a modistas quando dominavam a chamada alta costura, e ainda havia uma outra espécie, as que iam a casa! Lembro-me da grande alegria que era a quarta-feira por ser dia de ir trabalhar lá em casa uma costureira simpatiquíssima que tirava uns bocados para me fazer vestidinhos para as minhas bonecas!
Melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: O papel da costura no Portugal social dos anos
Mas minha Cara Maria Benedita
Isto já é do nosso tempo!. Nesse passeio, à direita de quem subia, haviam, cá para cima, antes de chegar ao Largo do Chiado, duas "pastelarias": a Marques, já desaparecida, e a Benard. Estas, com a Ferrari erm do melhor para tomar chá e bolinhos.!
Mas, às 4ª feiras e sábados os cadetes da Marinha passeavam-se, durante a tarde, no Chiado, o que me impedia de por la passar: não tinha "chances" junto das "pequenas" pois os magníficos uniformes dos marinheiros não tinham concorrência. Cheguei mesmo a fazer um "blaser" com o tecido azul escuro do uniforme deles (num alfaiate, claro - aí estava o papel da costura no Portugal dos anos 50s), mas não resultou. Só tinha as segundas, terças, quintas e sextas, para me passear no Chiado....
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: O papel da costura no Portugal social dos anos
Caro Ricardo Charters
Mas, nesses dias, arrazava, de certeza!Imagino!
Também tive um blazer azul escuro de tecido da Marinha, feito num alfaiate! o Realeza! Até os nomes dos alfaiates eram imponentes! Só os alfaiates faziam bem os ombros!
A Bénard era a minha preferida! No Chiado, diga-se de passagem, pois sempre fui e continuo fã da Versailles! Há dias a minha filha convidou-me para o pequeno almoço lá, e deu-me vontade de rir a quantidade de homens e mulheres das "artes" que lá vão logo de manhã! No meu tempo tomava-se chá, agora é pequeno almoço! Parece que passou tão pouco tempo!
Melhores cumprimentos
Maria Benedita
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RE: O papel da costura no Portugal social dos anos
Cara Maria Benedita
Na Versalhes, hoje, vai-se para almoçar...
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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Recriado casamento do séc. XIX
Os sinos não dobraram, nem o padre esteve no altar porque era tudo a fingir. Mesmo assim, ontem, pelas 9.00 horas, um casal de noivos vestido de negro subiu ao altar da igreja matriz da Lousã para fazer uma reconstituição de um casamento tradicional serrano.
Convidados e noivos simularam uma vinda a pé da aldeia do Talasnal, em plena Serra da Lousã, para casar na igreja matriz, tal como mandava a tradição nos finais do século XIX, inícios do século XX. Já unidos pelo sagrado matrimónio e depois da fotografia que irá perpetuar o momento, reproduziram o caminho de regresso, serra acima num percurso sinuoso de aproximadamente uma hora.
No entanto, como o dia era de festa, no santuário da Senhora da Piedade, junto ao castelo da Lousã, os convivas eram esperados por mulheres da aldeia que fizeram a "entrega da fatia". Aos noivos e convidados foi dada uma fatia de pão a que puderam juntar bacalhau frito, chouriço, queijo fresco de cabra, azeitonas ou a típica chanfana. Tudo regado com um tinto bebido por todos pelo mesmo copo, a que ainda puderam juntar o arroz doce feito apenas com água. Depois, ao som de uma concertina e do entoar de canções lá seguiram caminho.
Chegados ao Talasnal, os noivos eram esperados pela população local que tinha preparado um arco de madeira decorado com finos panos de linho e ouro das habitantes da terra. O casal passou por baixo do arco, com a noiva a segurar a moeda de ouro que, juntamente com o cordão que exibe ao pescoço, faz parte do dote, para que esta seja uma união próspera, fértil e feliz.
Depois do almoço, onde foi de novo servida a chanfana e uma canja, a tarde foi passada a dançar. Chegada a noite cada um dos noivos regressou a casa dos pais por mais uma semana, pois só passado este período é que o casamento será consumado. Tudo em nome da honra da família da noiva, a qual, há cerca de um século atrás, aguardava, recatada e paciente, pela noite de núpcias durante uma semana após a euforia da união sagrada.
A ideia de recriar o evento surgiu no seio do Grupo Etnográfico da Região da Lousã (GERL) que tem vindo, desde que foi constituído em 2004, a fazer pesquisas com o objectivo de se apresentarem o mais genuinamente possível e assim, conseguir também federar-se. Ao GERL juntou-se a Associação Pinus Verde, promotora das iniciativas de animação na rede das Aldeias do Xisto.
No Talasnal reside ainda um casal com mais de 80 anos , que casou seguindo esta tradição. Para o próximo ano está prevista a realização de uma cerimónia a "sério" na Lousã de um casal de namorados que se prepara para seguir os passos dados pelos seus antepassados.
O GERL irá dar continuidade às recriações de tradições características da Serra da Lousã estando previsto para o dia 8 de Setembro a recriação das festas das aldeias em honra de Nossa Senhora da Guia que decorrerão no Talasnal, Casal Novo e Chiqueiro. Para 29 de Setembro está prevista a reconstituição de uma descamisada tradicional no Casal Novo.
A finalizar este primeiro ciclo etnográfico na Serra da Lousã, terá lugar a 25 de Novembro na Cerdeira um Magusto.
(Texto de Licínia Girão e Manuel Correia, publicado na edição on-line do JN 12.8.2007)
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RE: Recriado casamento do séc. XIX
Meu caro
Muito obrigado.
Muito interessante o que fez o favor de colocar aqui neste forum
Cumprimentos amigos
Ricardo Charters d'Azevedo
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Como era a "rentrée" das aulas
Quando começavam as aulas, havia medos e dificuldades bem retratado em :
http://www.youtube.com/watch?v=Y0DnDgPKu7A
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Os nomes ...
Carissimo Ricardo Charters d'Azevedo
Sendo eu um novato nestas coisas da genealogia, nas sei se me poderá dizer algo o baptismo em casa (nomeadamente Séc XVII e XVIII);
Tenho muitos Albuquerquer e Dias e Pais e Siqueiras baptizados em casa, em lugares como Pinhais (Viseu?) e Cadouço Mesquitela, mas não encontro referencia a nunhuma casa (com capela), apenas que fulano ou fulana foi baptizado em casa, neste e naquele lugar...
Tb, engraçado é encontrar que determinada fulana jejuou para o devido efeito, muitas vezes fico sem saber quem baptizou que padre e alguem com autorização para tal desde que feito o jejum... tenho a cabeça baralhada com tanta documentação...
Desde já obrigado
Cumprimentos
HSantos
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RE: Os nomes ...
Mas meu Caro H Santos
Era muito comum baptizar-se em casa, pois havia muitas mortes à nascença. Assim o padre deslocava-se a casa e baptizava, antes que a criança morresse.
Muitas vezes era a parteira, ou um familiar, que o fazia, pois a criança "estava em perigo de vida" e o padre estava longe. O sacramento da baptismo pode ser dado por um não padre em determinadas condições.
Mas atenção. quando o padre não tinha confiança em quem "celebrava" o baptismo, repetia-o, na igreja.
Ficou claro?
Disponha sempre
Ricardo Charters d'Azevedo
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Ser Português...
Ser português… é ser o maior!!!
Levar o arroz de frango para a praia.
Guardar aquelas cuecas velhas, para polir o carro.
Criticar o governo local, mas jamais se queixar oficialmente.
Ladie's night à quinta.
Ter tido a última grande vitória militar em '1385'.
Enfeitar as estantes da sala com as prendas do casamento.
Guiar como um maníaco e ninguém se importar com isso.
Viajar pró quinto dos infernos e encontrar outro Tuga no restaurante.
Ter folclore estudantil anual por causa das propinas.
Ninguém saber nada do nosso país, excepto os Brasileiros e os Espanhóis, que gozam com ele.
Levar a vida mais relaxada da Europa, mesmo sendo os últimos de todas as listas.
Ter sempre marisco, tremoços e álcool, anualmente, a preços de saldo.
Receber visitas e ir logo mostrar a casa toda.
Dar os máximos durante 10 km, para avisar os outros condutores da polícia adiante.
Ter o resto do mundo a pensar que Portugal é uma província espanhola.
Exigir que lhe chamem 'Doutor', mesmo sendo um Zé-ninguém.
Exigir que o tratem por Sr. Engenheiro, mas não tratar ninguém com outras profissões por Sr. Pintor, Sr. Economista, Sr. Contabilista, Sra. Secretária, Sr. Canalizador, Sra. Cabeleireira, Sr. Primeiro-ministro, etc.
Passar o domingo no shopping.
Tirar a cera dos ouvidos com a chave do carro ou com a tampa da esferográfica.
Axaxinar o Portuguex ao eskrever.
Gastar 50 mil euros no Mercedes C220 cdi, mas não comprar o kit mãos-livres, porque 'é caro'.
Ir à aldeia todos os fins-de-semana visitar os pais ou os avós.
Gravar os 'donos da bola'.
Ter diariamente, pelo menos 8 telenovelas brasileiras e 2 imitações rascas da TVI na televisão.
Já ter 'ido à bruxa'.
Filhos baptizados e de catecismo na mão, mas nunca pôr os pés na igreja.
Ir de carro para todo o lado, aconteça o que acontecer, e, pelo menos, a 500 metros de casa.
Lavar o carro na fonte, ao domingo.
Não ser racista, mas abrir uma excepção com os ciganos.
Levar com as piadas dos brasileiros, mas só saber fazer piadas dos alentejanos e dos pretos.
Ainda ter uma mãe ou avó que se veste de luto.
Ser mal atendido num serviço, ficar lixado da vida, mas não reclamar por escrito 'porque não se quer aborrecer'.
Dizer mal dos militares, mas adorar o cravo na G3 e o feriado do 25 de Abril.
Falar mal do Governo eleito e esquecer-se que votou nele.
Viver em casa dos pais até aos 30 anos.
Na terceira idade, pendurar o guarda-chuva nas costas.
Acender o cigarro a qualquer hora e em qualquer lugar, sem quaisquer preocupações.
Ter pelo menos duas camisas traficadas da Lacoste e uma da Tommy (de cor amarelo-canário e azul-cueca).
No restaurante, largar o puto de 4 anos aos berros e a correr como um louco, a incomodar os restantes Tugas.
Ter bigode e ser baixinho(a).
Conduzir sempre pela faixa da esquerda da auto-estrada (a da direita é para os camiões).
Ter o colete reflector no banco do passageiro.
Pendurar o CD no retrovisor, para 'enganar o radar'.
Ter três telemóveis.
Jurar não comprar azeite Espanhol, nem morto, apesar da maioria do azeite vendido em Portugal ser Espanhol.
Organizar jogos de futebol solteiros e casados.
Ir à bola, comprar 'prá geral' e saltar 'prá central'.
Gastar uma fortuna no telemóvel mas pensar duas vezes antes de ir ao dentista.
Cometer 3 infracções ao código da estrada, por quilómetro percorrido!!!
Autor desconhecido, mas com imaginação!
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Ser Português...
Caro Ricardo Charters d'Azevedo,
A minha alma está parva.
100 % de acordo.
Aplausos ao desconhecido, e a si que nos brindou.
Atenciosamente
Anabela Pinto
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RE: Os nomes ...
Caro Ricardo Charters d'Azevedo
Muito obrigado pelo esclarecimento.
Sei que são perguntas que eu penso ter as respostas (como a sua); mas gosto de uma afirmação para começar a ter certezas.
Peço desculpa pelo texto anterior (sobre o qual me respondeu), não sei como entrou com tantas deficiencias... nem eu consegui ler o que la estava...
Cumprimentos
HS
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Muito Obrigado - Fantastico Trabalho !
Muito obrigado.
Luis Filipe Gonçalves (França)
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A influencia da Igreja
Meus caros,
Encontrei, hoje, ao ler o "Público" um texto de Vasco Pulido Valente (transcrito abaixo) que, no fundo, explica, em poucas palavras a influência da Igreja na forma como viviam os nossos antepassados (ver , neste tópico, uma outra mensagem sobre a influencia da Igreja).
Como escreve Vasco Pulido Valente "A Igreja sempre sustentara os partidos da Monarquia, que em troca a sustentavam a ela e lhe garantiam o estatuto privilegiado de "religião do Estado".
Asim se explicava que filhos de pais não casados eram inscritos no registo de baptismo como filhos de pais incógnitos. Só o deixavam de ser quando os pais se casavam e o padre fazia um outro registo, escrevendo, que aquela criança, que a fl. tais tinha sido baptisada, tinha agora pais....
Quando a Républica montou um sistema de registo de nascimentos (que a pouco e pouco pasou a ser independente do da Igreja) tais situações deixaram de existir.
Mas lembremo-nos que sem os registos da Igreja, não poderiamos (ou dificilmente o poderias fazer) os nossos estudos genealógicos. Quantos de nós, nos queixamos que não podemos determinar quem eram os nossos antepassados por não existirem registos paroquiais?
Aqui vai o texto de Vasco Pulido Valente:
"Como se aproxima o centenário do "5 de Outubro", a Igreja resolveu publicar um livro sobre a perseguição de que foi vítima durante a 1 República. A Igreja não confia, e muito bem, na "Comissão para as Comemorações", nomeada pelo Governo e estranhamente presidida por Vital Moreira. Mas confia, e muito mal, na sua "objectividade histórica". Como parte envolvida, a Igreja dará com certeza uma versão incompleta e unilateral do que se passou. De qualquer maneira, está no seu direito de não se deixar envolver na glorificação do jacobinismo, que por aí se prepara. Resta esperar que não se fique pelo martirológio e pelo queixume, que não ajudam, nem edificam ninguém, e tente genuinamente perceber o que levou ao rábido anticlericalismo de 1910.
Isto será difícil, porque implica reconhecer a posição política da Igreja: uma posição dominante, que, sobretudo desde o fim do século XIX, impedia a sobrevivência e o crescimento de qualquer força considerada hostil
Havia alguma possibilidade de "coabitação" entre a I República e a Igreja? Não havia ou mesmo, simplesmente, suspeita. Com excepção do Alentejo, de um pequena parte do Ribatejo e de um ou outro "enclave" no litoral, o poder da Igreja era decisivo. A República de Lisboa, e nunca foi muito mais do que isso, vivia cercada por um país católico e conservador, se não exactamente monárquico. Para existir como regime nacional, precisava de pôr a sua gente no Estado e de reduzir, pela lei e pelo terror, a Igreja à obediência. Foi o que fez com uma certa brutalidade, embora sem chegar ao excesso a que se chegou em Espanha e até em França.
Havia alguma possibilidade de "coabitação" entre a República e a Igreja? Não havia. A Igreja sempre sustentara os partidos da Monarquia, que em troca a sustentavam a ela e lhe garantiam o estatuto privilegiado de "religião do Estado". A República não seria República se não acabasse expeditivamente com este arranjo. De resto, o pessoal "revolucionário", educado pelo "caso Dreyfus" e pelo anticlericalismo militante de Waldeck-Rousseau e do petit père Combes, não engoliria uma República moderada, como logo se viu na delirante caça ao padre do "5 de Outubro". No fim, como é sabido, a Igreja prevaleceu, produziu Salazar e gozou meio século de uma quase absoluta hegemonia. Não deve agora reclamar o papel de uma vítima inerme ou, ainda pior, imaculada, fora da história, a que pertenceu e largamente "determinou". - Público, última pág, colunas 1. 2 e 3.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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FOROS E COSTUMES ANTIGOS DE PORTUGAI. 2.°
FOROS E COSTUMES ANTIGOS DE PORTUGAI. 2.°
A paginas 379 do antecedente volume (O Panorama Vol II, 1838) demos uma breve noticia do que se encontra mais notável e cu¬rioso no foral de Santarém } tractámos ahi, egualmente , da grande luz que o exame e estudo desses antigos foros pode lançar sobre a historia do nosso paiz : continuaremos, por isso hoje, a dar noticia de tão importantes documentos, extrahindo alguns capitulos dos costumes de S. Martinho de Mouros, anti¬go concelho da Beira , no districto de Lamego.
O foral que os precede offerece cousas communs a todos osforaes daquella epocha : pelo que toca aos cos¬tumes apontaremos delles o seguinte :
Todo o homem que ferisse alguém dos olhos para cima, pagava ao mordomo abeirei trinta maravedis.
Se qualquer homem caía de alguma arvore e re¬bentava , ninguém o podia erguer ou tirar dalli sem licença do juiz, sob pena de trinta maravedis : o mes¬mo costume regulava quando qualquer corpo morto vinha pelo rio abaixo, ou encalhava na margem.
Quando qualquer homem apparecia morto sem se saber quem o matara , eram penhoradas por trinta maravedis as tres aldeãs mais próximas ao sitio on¬de apparecera o cadáver.
Todo aquelle que dava uma punhada na cara a al¬guém devia pagar-lhe um maravedi velho: se era bofetada com a mão aberta, tinha de pagar-lhe tan¬tos cinco soldos quantos eram os dedos da mão.
Sendo estes costumes examinados no anno de 1380, por Afonso Annes, corregedor d’elrei, no meirinhado da Beira , este alterou alguns delles , e entre ou¬tras cousas o seguinte: costumava reunir-se o conse¬lho dos vereadores, uma vez por semana na “feyra ás presas”, que parece ser certo campo ou praça , e de¬pois aos “pousadoyros” [*]. Mandou o corregedor, a re¬querimento do conselho, que se reunissem dalli em diante debaixo dos carvalhos da egreja; e dá a razão: porque os homens haviam de ouvir missa , e encommendar-se a Deus; e porque é logar mais convinhavel e mais honra de Deus e da egreja. Esta decisão, e as razões della, pintam melhor aquelle século , do que um volume de chronicas.
Os vexames que os nobres faziam naquella epocha aos povos , talvez em nenhuma parte apparecerão a tão odiosa luz como nos costumes de S. Martinho de Mouros. Tractava o corregedor de emmendar as vio¬lências dos fidalgos contra os peões, e era preciso que se dissesse quaes ellas eram: dos differentes capítulos, que sobre isso mandou Alfonso Annes lançar no livro dos costumes do concelho, se vê, em summa, que os fidalgos mandavam tirar aos lavradores tudo aquillo de que careciam , como aves , gado de toda a casta, pão, azeite, vinho, palha para as cavalgaduras , sem pagarem nada, chegando a ponto de lhes tomarem a roupa da cama, e ficarem com ella, ou restituirem-na feita já em pedaços e mandando estragar as hor¬tas daquella pobre gente , e arrombar-lhes as cubas do vinho, quando não davam immediatamente o que lhes pediam. Punham, além disso, quando queriam dinheiro , portagens , peagens , e outras alcavallas , nas passagens dos rios ou nas entradas das povoações, tirando assim grandes sommas dos povos. Também quem lhes parecia, e depois absolver criminosos, e condemnar innocentes, a seu bel-prazer. Para atalhar tantos rnales, impoz o corregedor graves penas contra os transgressores dos foros e costumes terra; penas que, porventura, nao embargaram continuação das violencias.
(in " O Panorama - jornal Literário e Instructivo – editado pela Sociedade Propangandeora dos Conhecimentos úteis)
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Alguns castigos usados antigamente em Portugal.
De alguns castigos usados antigamente em Portugal.
Ja no extracto que publicámos do foral de Santarém [a paginas 379 do volume II de “O Panorama”] falamos do castigo extravagante, que se dava á mulher casada que bri¬gava com outra : este castigo, ordenado nos costu¬mes de Santarém , era, além de ridículo , bárbaro e indecente} mas outros semelhantes se usaram entre nós na edade média, e se acham consignados nas leis e foraes do reino.
No foral de Pombal, e no do Zêzere , ambos dos primeiros tempos da monarchia, se lê que o mordo¬mo d’elrei não se opponha á execução da sentença , quando o senhor condemnar qualquer mouro seu a ser apedrejado , ou queimado, seja qual for a culpa do sentenceado. Vê-se deste passo daquelles foraes que estas duas cruelissimas penas estavam em uso naquella epocha : e ainda em tempo de D. João 1.° apparece um criminoso queimado vivo, e o mais é, não mouro, mas christão e fidalgo, por ter tido tra¬cto illicito com uma dama do paço. Foi este Fernan¬do Afonso, queimado no rocio de Lisboa por ordem daquelle príncipe.
O castigo das pauladas e varadas era também vul¬garmente applicado a muitos crimes. Distinguiam-se as duas formas do castigo. A denominação geral da pena parece ter sido Fusta, ou Fustám : á de pau¬ladas, dadas com bordão, ou vara não flexivel, o que se exprimia “eorreger por paus”, chamavam varancadas e ás varadas, dadas com varas delgadas e flexí¬veis , chamavam tagantes , o que se enunciava com a expressão “correger por varas”. Este castigo foi substituido pelo dos açoutes, que só neste século se aboliu.
Havia também., nos primeiros tempos da monar¬chia , a pena de cortamento de membros. É celebre na historia a lei de D. Afíbnso 2.°, pela qual orde¬na que , quando elle condemnar alguém á morte ou a cortarem-lhe algum membro, se não cumpra a sen¬tença sem passarem vinte dias, porque na condenação pode haver paixão , ou sanha, da qual elle se arrependa. Esta pena de cortamento de membros era principalmente o das orelhas, que se acha menciona¬do em muitos foraes, e cartas regias. Havia, além disso, a marca na testa , com um ferro em braza para os ladroes e salteadores; mas o ser desorelhado foi a pena que se impoz em 1499 a todo e qualquer peão que se achasse cortando ou desatando alguma bolça, e já muito antes disso dizia o foral de Sancta-Cruz de Villarica, no seu aceado latim, fallando dos ladroes reincidentes: — “Prendant illos alcaldes las orelias : et si alia vice furtaverit, matent illum”.
A pena de expor o criminoso á vergonha, atado a uma argola na picota, ou pelourinho, era só applicada em casos menos graves. Estavam sujeitos a ella, os padeiros, carniceiros, regateiras, que pela 3ª vez roubavam no peso dos géneros. Em varias posturas das camaras do reino se acha esta espécie de condemnação, especificando os casos, em que os infractores dessas posturas deviam ir á “picóta”.
(in " O Panorama - Jornal Literário e Instructivo – editado pela Sociedade Propangandeora dos Conhecimentos úteis, pag 45, Vol III, 1839)
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Antigos foros e costumes de Portugal. (1)
Antigos foros e costumes de Portugal.
Quasi todos os nossos historiadores e chronistas [ra¬ríssimas são as excepções] se deram exclusivamente ao trabalho de escrever a historia dos príncipes e dos exércitos: paços e campos de batalha são os únicos logares por onde elles sabem andar ; as noticias acer¬ca da maneira de existir do povo nos diferentes sé¬culos da monarchia é cousa de que nada ou pouquís¬simo curaram. Deste desleixo, ou, diremos antes, ignorância do verdadeiro fim e caracter da historia , nasceu o não possuirmos hoje dos annaes de Portugal senão a parte militar, e a consagrada ás acções dos reis:, partes em verdade importantes, mas insufficientissimas para com ellas só se haver de compor uma acabada historia nacional.
Todavia em nossos tempos tem-se começado a fa¬zer serias indagações sobre os usos, costumes , insti¬tuições, e usanças de nossos avós:, emfim sobre todas aquellas cousas que podem servir de materiais para a verdadeira historia — a dos progressos da civilisação entre nos.
Deste género de trabalho devemos a maior e melhor parte á Academia Real das Sciencias , e mais de certo lhe deveríamos, se esta corpo¬ração não tivesse sido desajudada, menoscabada, e es¬quecida , por aquelles a quem cumpria anima-la , e incitar esses poucos homens grandes que nos restam a consagrarem os seus últimos annos a desenterrarem do pó do esquecimento vivas e inteiras as gerações que passaram.
Entre os monumentos dos séculos antigos da mo¬narchia , são os foros e usos de varias povoações do reino, porventura, os mais curiosos, e delles foram já publicados alguns pela Academia. Eram estes foros leis municipaes, que do principio da monarchia até o reinado de D. Alfonso 2.° foram as únicas que hou¬ve, e que continuaram ainda a ter vigor, não encon-trando as leis geraes do reino. Foi então que os con¬celhos começaram a servir-se de uma espécie de orde¬nações particulares, em que lançavam primeiro o fo¬ral da terra, depois os usos até ahi não escriptos , e ás vezes apoz isto as leis geraes do reino, que podiam importar á boa administração da justiça dentro dos limites do concelho. Um dos mais notáveis entre os já publicados são os foros e costumes de Santarém , de que daremos aqui um extracto tirado daquelles artigos , que mais podem caracterisar essas epochas semi-barbaras.
Foros.
Se aquelle que travava uma briga era morto, e is¬to diante de homens bons [pessoas graves e principaes], o que o matava tinha que pagar um maravedim ao dono da casa, onde fora a morte, e metade se o per¬turbador só ficava ferido. — Homicídio, ou violência contra mulher , sendo o caso publicamente feito pa¬gava-se com 500 soldos!
Quem punha a outrem sujidade na boca [afronta grandíssima, mas mui frequente nos primeiros tem¬pos da monarchia] pagava 60 soldos.
Para se fazer cabal idéa da conta em que os pri¬meiros portuguezes tinham os mouros seus escravos, pondo-os em valia abaixo de bestas de carga, é inte¬ressantíssimo o artigo do foral que diz respeito ao pa¬gamento da dizima : nelle se vê que a sua cathegoria, na escala dos animaes domésticos, era entre o burro e o porco. " Do cavallo ou da mula, que venderem ou comprarem homens de fora, por mais de dez maravedins, dêem um maravedim, e sendo por menos de dez , dêem meio : da egua vendida ou comprada dêem dois soldos : do burro e da burra, um soldo : do mouro ou da moura, um soldo meio maravedim : do porco ou do carneiro dois dinheiros : do bode ou da cabra um dinheiro &c. "
O clérigo gosava foro de cavalleiro : se o achavam, commettendo actos torpes com uma mulher, podiam prende-la a ella, mas no clérigo, nem pôr-lhe a mão.
Costumes.
Nenhuma mulher que recebesse preço de “más ma¬nhas”, podia fazer cousa que fosse válida, “sem manda¬do de seu marido”.
Nenhuma mulher podia queixar-se de ter sido vio¬lentada dentro da villa, salvo se a mettessem em lo¬gar onde não podesse gritar :, e nesse caso apenas saís¬se d’ahi devia vir chorando e bradando pelas ruas, e ir logo ter com a justiça , e dizer : " Vedes, o que me fez fulano? Se o caso era fora da villa, devia vir todo o caminho chorando e gritando, e dizendo a todos os que encontrasse, quer fossem homens, quer mulheres : " Vedes o que me fez fulano?" — e ir do mesmo modo queixar-se á justiça.
Quando qualquer mulher casada era condemnada a levar açoutes ou varadas, por ter brigado com ou¬tra, vinha o alvazil com ella a casa :, punha um tra¬vesseiro no meio do chão, e começava a dar arrocha¬das em cima delle : o marido estava defronte com a mulher, e com outra vara ía repetindo nas costas del¬ia a mesma solfa, estando á vista a justiça e a quei-xosa. Se o marido não dava as varadas na mulher com a mesma ancia com que o alvazil batia no travessei¬ro, dava-lh'as a justiça nelle.
Entre outras significações que antigamente tinha a palavra homicídio, ou “omezio”, era a de rixa que fi¬cava entre o assassino de qualquer homem e a famí¬lia deste, que por costume de muitas terras, e talvez geral, tinha direito de matar o matador , vendo-se este, portanto, obrigado a andar fugido ou escondido. Disto nos veio, segundo parece, a phrase vulgar de andar homiziado. Quando a família do morto se com¬punha com o matador ou lhe perdoava, chamava-se a isso “fiir omezio”, isto é, acabar a rixa com o homi¬ziado. Pelos costumes de Santarém, a ceremonia que neste caso se usava era a seguinte : o criminoso pu¬nha-se de joelhos, e mettia o seu “cuitello” na mão do queixoso: então o outro lhe pegava na mão, erguia-o, e beijava-o, ficando d'alli avante amigos. Isto se fa¬zia perante homens bons.
Quando os alvazis condemnavam um homem á mor¬te, o alcaide servia de algoz.
Os filhos bastardos de peão, isto é, de homem não nobre , podiam ser reconhecidos , e nesse caso tinham na herança parte egual á dos filhos legítimos.
Se o sayom [beleguim] ía fazer alguma penhora a casa de cavalleiro, e lá o moíam com pancadas, man¬dava o costume da terra que ficasse com ellas, sem coima.
Se alguém dizia “paravoas devedadas” [palavras prohibidas] a alguma mulher honrada, era obrigado a jurar-lhe diante de doze “mulheres boas”, ou doze “homens bons” que nunca viu aquilo que della dissera, que mentira, e que soltava aquellas palavras com sua paixão.
(in " O Panorama - jornal Literário e Instructivo – editado pela Sociedade Propangandeora dos Conhecimentos úteis, pag 379, Vol II, 1838)
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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E as lavadeiras?
Ler sobre as costureiras levou-me a pensar, e a partilhar aqui, memórias sobre as lavadeiras.
Apesar de já existirem máquina de lavar desde há muitos e muitos anos, certo é que me recordo que, em meados dos anos 70 (apesar de ser então ainda uma criança), lá ir a casa uma lavadeira para entregar e recolher roupa para lavar.
A dita senhora, de que infelizmente não me recordo o nome, chegava a casa com um imenso carrego na cabeça, pousava-o e uma empregada, ou mesmo a minha avó, faziam a conferência do "rol", ou seja, verificavam se tudo o que trazia correspondia ao que tinha sido entregue.
A roupa, ao que me lembro contarem, era lavada nas águas do Rio (Mondego) e era entregue sem ser passada ou engomada, tarefas que cabiam a terceiros.
Na época pouco ligava a estes usos e costumes, mas nãodeixo de recordar com alguma nostalgia (pelas pessoas que envolve a história), estas visitas semanais.
Mais uma profissão que desapareceu.
Cumprimentos a todos e votos de que outras histórias (certamente mais interessantes) possam abrilhantar este convivio.
Paulo B rehm
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RE: a identidade
Quero participar neste fórum com mais um pormenor, sobre a vida dos nossos antepassados.
No século XIX só os barbeiros tinham um pequeno espelho para uso masculino. Há 100 anos, 99% dos camponeses não conheciam a sua imagem, a cor dos olhos, o feitio do rosto etc. era-lhes dito por outrém.
Os meus cumprimentos,
Fernanda
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RE: Os espelhos
Cara Fernanda
Efectivamente tal deveria ser.
Lembremo-nos que a chapa de vidro era coisa cara... e rara. Alguns vidros dessa época (que encontramos em janelas antigas ou em moveis) mostram vidros ou vidraças com bolhas e não completamente planos. Assim fazer espelhos (isto pratear uma das faces do vidro) era de resultados maus, pois o espelho assin criado distorciria a imagem.
E vidros planos eram muito caros e raros. Vinham de fora do país
Era costume polir metais para fazer espelhos. Se por um lado eram resistentes, por outro não reflectiam completamente a imagem.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Os espelhos
Não posso deixar de acrescentar que a madrasta da Branca de Neve já perguntava ao espelho: "Espelho, espelho meu. Existe mulher mais bela do que eu?"
Cumprimentos.
Marli Ribeiro
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RE: Os espelhos
Cara Marli Ribeiro
Claro que havia espenhos, claro.O vidro existe desde o "tempo dos arabes".
O problema não é esse, pois os abastados tinham espenhos e vidros.
Mas os pobres, nada tinham e um espelho era coisa cara. As janelas não tinham vidros, quando se era pobre. Tinham janelas de madeira. Pequenas para não entrar muito frio. Vivia-se mal nos campos. Com grandes dificuldades.
Claro que haviam copos de vridro para os abastados, mas bebia-se em copos de barro.
Estamos a falar no sec XVII para traz.
Claro que a madrasta da Branca de Neve era rica. Tinha tudo quanto cria, pois era bruxa. E a história é do sec XX !!!!
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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As medidas
Minha cara Marli Ribeiro
Sobre as medidas. Veja as receitas de antes do seculo XX:
"Receitas de cozinha anteriores à Introdução do Sistema Métrico Decimal
transcritas do livro de receitas "O Cosinheiro Completo" editado no início do seculo XIX
Pão de ló de amendoas
Deite-se um arratel de amendoas cortadas pelo meio e outro arratel mal pisadas, em dois arrateis e meio de assucar em ponto pedra; dando-se-lhe duas voltas no lume; tira-se fóra, bate-se muito bem até levantar: deite-se na pedra, ou em uma bacia untada, bolindo-se com ella, para que perca o lustre; corte-se em talhadas e mande-se á meza.
Borôas
Querendo-se fazer um alqueire, deve levar meio alqueire e uma oitava de farinha de milho, sendo boa e bem penneirada, e tres oitavas de farinha de trigo alva, uma canada de azeite bom, uma quarta de herva doce escolhida e bem pisada; deita-se o azeite em um tachinho com a herva doce dentro, pões-se ao lume até estar quasi a ferver, e então estando a farinha de milho separada em um alguidar, deita-se-lhe por cima o azeite e herva doce para escaldar o milho, mexendo-se muito bem com uma colher, para ficar o azeite bem introduzido na farinha; abafa-se um boccadinho e depois deita-se a farinha alva de maneira que fique bem misturada com a outra; leva tres arrateis de assucar de caixa limpo, não perdendo por levar mais, e levando mel, seja um quartilho, tirando-se um arratel de assucar; o assucar pões-se ao lume com agua sufficiente para se derreter; leva uma quarta de canela pisada e o sal e pimenta sufficiente, fazendo-se a presa como para amassar bolos, misturando-se a canella e o assucar ou mel, e um arratel de cidrão picado: formam-se as brôas, vão ao forno.
Querendo fazer meia porção, parte-se ao meio todo o receituario; e a quarta parte, pratica-se do mesmo modo, dividindo-se o todo por quatro.
Arroz doce
Enteze-se em agua um arratel de arroz, e depois coza-se com uma canada de leite, um arratel de assucar e agua flor; quando estiver cozido, mande-se á meza com canella por cima.
Bolos de assucar
Deite-se em uma quarta de farinha dois arrateis de assucar, meio arratel de manteiga, duas gemas de ovos, um copinho de vinho branco, agua almiscarada, fermento e sal; esfregue-se esta massa muito bem nas mãos; fazem-se os bolinhos e quando vem do forno borrifam-se com agua de flor."
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Os espelhos
Caro Ricardo Chartes d'Azevedo.
Eu só quis fazer uma brincadeirinha ...
A história é do século XX? A imaginação infantil leva-a para bem mais longe!
Quanto às receitas, não consigo fazer a ponte entre alqueire, na culinária, e alqueire, medida de terras. Incrível.
Cumprimentos.
Marli
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RE: Os espelhos
Claro, claro eu entendi a história da fama má (ou bruxa)
Mas para a premiar mandei-lhe as receitas...
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Antigos foros e costumes de Portugal. (1)
Caro Chartri:
Tenho de dar os parabéns pela ideia de um tema pertnente como este. É valioso, mas fica-se um tanto baralhado com a amalgama de assuntos e épocas.
Seria bom seguir critérios de séculos, temas ou espaços. Também as regiões são importantes. Talvez assim houvesse uma maior colaboração e um maior interesse.
Cumprimentos
Nelita
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RE: Antigos costumes de Portugal.
Cara Nelita
Tem toda a razão
Mas procurei fazê-lo por temas (assim começou) mas alguns participantes deste forum introduziram assuntos que nada tinham a ver com o tema. Não digo que o quisessem bloquear, mas tão somente perturbá-lo, para que, julgo eu, a influencia real da igreja nas sociedades dos sec XVI, XVII não fossem tão visiveis, por exemplo.
Mas é história. Tal é real, pelo que não deve ser escamoteado. Deve ser entendido á luz da época, sem qualquer crítica, mas tão somente procurar compreender como se vivia e perceber determinadas opções individuais de alguns dos nossos antepassados. Opções como se se deviam casar na igreja ou não, pois tal obrigava a passar a pagar a "congra" ao padre e pior que isso, deslocar-se semanalmente á povoação mais próxima com igreja. Tal significava andar uns bons quilometros, pois não havia bicicleta e a carrocinha com um jumento era só para os mais abastados. Mas não se casar, significava tambem dificuldades no baptisado do filho que tivessem, não ficando registado como filho deles, pois o padre o registaria como filho de pais incógnitos até que se casassem. Etc...
Este tema serviu-me para testar se valia a pena produzir um capítulo sobre este assunto no meu livro "Villa Portela - os Charters d'Azevedo em Leiria e as suas relações familiares (sec XIX)" (http://www.guardamor.com.pt/livro.php?id=965). Finalmente decedi não o introduzir, pois o livro foca principalmente a sociedade nos séculos XVIII e XIX, pelo que muito do que aqui "se apresenta" não tinha sentido no livro.
Ficará para um próximo livro...
No entanto não deixei de colocar no livro uns pequenos apontamentos sobre o que se passava no sec XIX e XX, como por exemplo, a obrigatoridade de se ser possuidor de uma licença de acendedor se se queria ter um isqueiro. Já isto é dificil de aceitar nos dias de hoje, que tenha sido verdade...
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Antigos costumes de Portugal.
Caro Chartri:
Agradeço a explicação. Conheço e colecciono vários livros de costumes e gosto de fazer comparações. Como lhe disse o tema atrai. Espero que melhor. Também conhecia a licença de porte de isqueiro, que perdurou até há pouco tempo.
Sou e conheço melhor a realidade das terras do Alto Douro, tanto pela viência, qunto pelo estudo, mas a comparação em termos de sociedade e cultura é enriquecedora.
As leis canónicas, abrangiam toda a cristandade, mas a sua aplicação era, por vezes diferente.
Por essas terras a maior influência do Mosteiro de Alcobaça e nas terras que estudo era do Mosteiro das Águias, sucedâneo de Alcobaça, do Bispado de Lamego, mas obedecendo diirectamente ao Papa e seguindo as Constituições do Bispado do Porto.
A influência da Igreja foi enorme e claro que não se pode ignorar.
Cumprimentos
Nelita
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
«Lugar temido antes de ser terapêutico. Lugar deserto antes da moda dos banhos. Eis a praia ao longo do tempo
Ir para a praia nas horas mais quentes. Ficar na praia. Deleitar-se no contacto com a areia, a água e o sol. Há cem anos tudo isto seria considerado excentricidade em Portugal. O conceito de praia como local de diversão é relativamente recente. Data de meados do século XX. Os banhos de mar foram, antes de mais, terapêuticos. E mesmo esta moda é coisa moderna, posterior à Revolução Industrial. No passado mais remoto – até ao 'despertar do desejo colectivo de praia', como lhe chama a historiadora e mestre em História Contemporânea Joana Gaspar Freitas – manteve-se a tradição de repulsa pela beira-mar, alimentada pelos perigos, reais ou fantasiosos, do oceano. Ultrapassados esses receios do desconhecido e, mais tarde, já no século XX, com a promoção do turismo de massas, não restam dúvidas: o fenómeno social da praia transformou completamente o litoral e, em alguns casos, significou a ruína da paisagem e do equilíbrio natural.
Homem da faina, o pai de Lurdes Batalha, de 67 anos, varina da Nazaré, morreu num naufrágio, após ter sobrevivido a uma trintena deles. Lurdes, que ficou sem o pai aos nove anos, tem memória da praia da Nazaré há muitas décadas e lembra-se do que ouviu contar sobre os hábitos de quem a frequentava no início do século – 'as famílias finas que traziam as criadas e ficavam os meses de Julho e Agosto.' Na Figueira da Foz, as mulheres tomavam banho vestidas, comenta Manuel da Cruz Silva, de 83 anos, engenheiro reformado. Na Praia da Rocha, António Duarte, comerciante, diz que os homens levavam uma camiseta para velar o peito. Em Sines, a avó de Francisco Lobo Vasconcelos, arquitecto, contou-lhe que 'a praia era importante por uma questão de saúde'. E não mentiu.
Os banhos de mar por indicação terapêutica surgiram no final do século XVIII na Inglaterra e na França. Em Portugal tornaram-se vulgares entre os grupos sociais mais elevados a partir da segunda metade do século XIX. Eram recomendados para vários tipos de doenças, entre as quais a anemia, raquitismo infantil e depressão. Na Nazaré, para maleitas dos ouvidos 'eram cinco banhos diários', lembra-se Lurdes Batalha de ouvir dizer aos mais velhos.
Os banhos eram administrados como se de medicamentos se tratasse. Segundo a historiadora Joana Gaspar Freitas, havia 'um rigoroso código de conduta a ser seguido por quem procurava nas praias a cura para os seus males'. Definia-se não só a época mais indicada para banhar-se, como a duração da estada balnear, o número de imersões e a duração das mesmas, sem descurar o vestuário adequado para entrar no mar. Praias indicadas, por exemplo, para o tratamento da tuberculose pulmonar eram as que ficavam entre Buarcos e S. Martinho do Porto e as do Cabo da Roca, Sines e Albufeira.
Joana Gaspar Freitas nota que 'a Imprensa do século XIX contribuiu de forma decisiva para a difusão da praia, pelo destaque que deu à estada das elites no Litoral, narrando as festas e a diversão que envolvia a temporada de banhos'.
O desejo de imitar a aristocracia, associado à melhoria das condições de vida, ao desenvolvimento dos transportes e à instituição do dia de descanso semanal conduziu à massificação da praia, sem que tal, como explica a historiadora, tivesse significado de imediato mistura de classes. Diferentes grupos sociais usavam diferentes trechos da costa ou frequentavam-nos em alturas diferentes do dia. Na Figueira da Foz, as senhoras tomavam banho ao meio-dia e o povo ia de manhã cedo.
Na segunda metade do século XIX, a regra era ‘a cada um a sua praia’. Póvoa de Varzim, Espinho e Figueira da Foz eram praias mais cosmopolitas, abertas a banhistas de todas as regiões e até de Espanha. Leça era a praia preferida da colónia inglesa do Porto e Pedrouços a eleita da burocracia lisboeta. Outras eram apanágio de famílias da aristocracia, como acontecia em Vila do Conde, Granja e Cascais, onde, a partir de certa altura, também a família real passou a marcar presença. 'A posterior instalação da corte em Cascais durante o Verão pode ser considerada como o movimento percursor da moda do banho em Portugal', considera a historiadora.
Em Cascais, já nos anos 40 do século XX, o pai de Severino Ribeiro, que foi o primeiro concessionário da praia da Azarujinha, era cumprimentado pelo Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, que, no Verão, se mudava para o Forte de Santo António, no Estoril – onde, em 1968, viria a cair da cadeira –, pagando a estada do seu bolso ao Instituto de Odivelas, ao qual o forte estava confiado. Salazar perguntava pelo miúdo a João Severino e dizia-lhe que o mandasse almoçar no forte com as alunas do instituto.
MUDANÇA
'No início do século XIX existiam longas extensões do litoral praticamente desertas ou povoadas apenas por pequenas comunidades piscatórias, cujos aglomerados eram constituídos por algumas cabanas feitas de materiais precários.' Logo que chegaram os primeiros banhistas foi preciso construir casas, pensões e hotéis para alojá-los, bem como cafés, casinos – em Cascais havia um à beira-mar – e lojas para entretê-los. Resultado: zonas até então desertas ou pequenas povoações de pescadores cresceram rapidamente de olho na oportunidade de negócio
Segundo a historiadora, 'várias vilas e cidades do nosso litoral são o produto do despontar do desejo colectivo da praia. É o caso de Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Espinho, Nazaré, Figueira da Foz, Ericeira e Cascais, as mais antigas, e já no século XX, Vila Nova de Milfontes, Praia da Rocha, Quarteira, Albufeira e Monte Gordo.' No início do século XIX, a povoação de Espinho tinha 'pouco mais do que alguns palheiros de pescadoras e duas ou três casas de pedra e cal'. Quando foi construído o caminho-de-ferro tudo mudou – em 1918 contava já com vários edifícios elegantes, hotéis, teatros, casinos e cafés.
O crescimento urbano que se registou ao longo da costa portuguesa ainda no século XIX intensificou-se no século XX com o turismo de massas e tomou 'proporções desmedidas nas últimas décadas'. O que esta apetência sem regras significou para a orla costeira está à vista. 'A conversão do litoral num local apetecível e muito procurado implicou a sua transformação –o aumento significativo da área e do volume das construções, o aparecimento de avenidas marginais e paredões longitudinais, a edificação de casas o mais próximo possível do mar, tantas vezes em cima de dunas e arribas.' Os sistemas costeiros baseiam-se em equilíbrios precários que o fenómeno social da praia destruiu, como aconteceu em algumas zonas do Algarve, ou ameaça – caso do Sudoeste Alentejano. Esta pressão é uma das causas da erosão costeira a que assistimos actualmente. 'A construção de molhes, esporões, paredões e outras estruturas de engenharia pesada mais não são do que tentativas, infrutíferas, para tentar fixar um sistema natural que se caracteriza pela sua dinâmica', considera Joana Gaspar Freitas.
O areal de Espinho, que António Gaio, de 83 anos, diz ter sido o dobro na década de 30, não é caso singular na costa portuguesa. Os donos dos bares da Costa de Caparica têm visto o mar entrar-lhes pela porta adentro com regularidade, clamando então pela reposição artificial de areia. 'Quase 70 por cento da costa portuguesa está em risco de perder terreno.' O alerta é repetido pelo físico e professor catedrático Filipe Duarte Santos, que é também o maior especialista nacional em cenários, impactos e medidas para lidar com as alterações climáticas em Portugal.
'O dobro', diz António Gaio, sem avançar uma medida concreta. Os especialistas concluíram entretanto que, nos últimos anos, a taxa de recuo da costa tem variado entre 20 centímetros e nove metros. A zona de maior risco foi identificada entre a Foz do Douro e a Nazaré. A praia do Furadouro, em Aveiro, recua, em média, nove metros por ano. Na segunda metade do século XIX era frequentada principalmente pela gente das regiões e localidades próximas. Era uma praia modesta – nada como a Apúlia ou o Baleal, reservadas a famílias selectas. Na segunda metade do século XXI, a praia do Furadouro arrisca-se a desaparecer do mapa. Não será a única caso as previsões de subida da água do mar até um metro ou um metro e meio se concretizem. Praias pequenas, rodeadas de arribas, arriscam o mesmo destino.
Os fenómenos de erosão associados à subida do nível do mar que se prevê resultar do processo de mudança climática ameaçam devolver o Litoral à categoria do território inóspito e perigoso que era a sua antes da moda dos banhos terapêuticos. 'É preciso lembrar que, durante muito tempo, o litoral não era acessível à maioria da população por falta de estradas e transportes', afirma a historiadora Joana Gaspar Freitas. Para os pescadores era espaço de sustento. Para o Estado era fonte de receitas, pela cobrança de taxas alfandegárias, e de ameaças externas, por via da pirataria ou de invasões estrangeiras. E para o público em geral era um local desprezado, pouco conhecido e evitado.
'PRAIA PARA O MEU AVÔ ERA TRABALHAR'
Enterrar os pés na areia ou olhar o mar era, para Manuel Álvares Tiago, sinónimo de trabalho. O guarda fiscal instalou-se 'muito novo' em Peniche – zona balnear muito procurada desde o início do século passado – e os seus dias eram passados de olhos postos na praia, à procura de contrabandistas ou de barcos encalhados. 'O meu avô adorava o mar, nunca tirava de lá os olhos, mas no seu tempo de descanso não gostava de ir para a praia, entendia isso como trabalho', conta o neto, Carlos Tiago, de 66 anos.
'O MEU PAI PESCAVA NO MAGOITO'
O pai, militar, levava-o à pesca na praia do Magoito, Sintra. Rogério Miranda nasceu há 60 anos em Lameiras, ali ao pé, mas desde cedo se encantou pelo Magoito e pelas histórias de viscondes, como o da Asseca, que caçavam na região e erguiam casas diante do mar bravio. No tempo em que a derrocada da duna fóssil ainda não tinha começado.
'AS MULHERES IAM AO BANHO VESTIDAS'
Hoje Manuel da Cruz Silva, 83 anos, prefere as águas mais quentes e está de partida para a Tunísia, mas lembra-se bem 'de picar carreiros', modalidade a que 'chamam fazer surf', no mar da Figueira da Foz. 'A praia era maior e poucas pessoas iam. Os homens só vestiam o fato de banho na praia, dentro dos barcos, as mulheres iam vestidas e assim ficavam mesmo se tomavam banho', recorda o engenheiro reformado.
'IA ALMOÇAR AO FORTE SALAZAR'
'Só o frete de ter de me vestir...' Severino Ribeiro não podia apresentar--se de calção no ‘forte Salazar’, como era conhecido o forte de Santo António, no Estoril, onde o ditador passava as férias. Tinha de pôr bibe, gorro e calçar as alpercatas. D. Maria, a governanta, servia-lhe o almoço, tal como às alunas do Instituto de Odivelas. Severino cresceu, deixou de ser convidado para o forte. Tornou-se banheiro da praia da Azarujinha, em Cascais. Ao serviço da elite.
“SINES ERA QUESTÃO DE SAÚDE”
Francisco Lobo Vasconcelos recorre às memórias da avó para descrever a praia Vasco da Gama há cem anos. “As pessoas mudavam-se de armas e bagagens durante quatro meses para Sines”, recorda o arquitecto, natural de Santiago do Cacém. “Usavam-se fatos de banho que pareciam vestidos e ia-se para a praia por volta das sete da manhã. Havia um banheiro que dava a mão às meninas que voltavam encharcadas. Iam para as barracas onde estavam jarros com água doce para retirar o sal.” O resto do dia passava-se entre piqueniques, burricadas e bailes à noite, em redor da praia. “Tudo se passava bem cedo e a praia era importante por uma questão de saúde.”
'AS CRIANÇAS TINHAM MEDO DAS ONDAS'
Lurdes, 67 anos, conta que o pai, Joaquim Batalha, morreu no trigésimo naufrágio em que esteve envolvido. 'Só viradelas de mar teve 22 e uma vez o mar estava tão bravo que foi ter à Ericeira'. Quando não se fazia ao mar, o pescador ia ajudar o filho mais velho, o banheiro António, na praia. 'As crianças tinham medo das ondas, mas os pais insistiam com os banheiros que às vezes tinham de lhes dar vários banhos seguidos' para curar as maleitas.
'AREAL DE ESPINHO ERA O DOBRO'
'O areal era o dobro e havia a tradição das barracas.' É assim que António Gaio, 83 anos, lembra a praia de Espinho no início do século XX. O pai contava-lhe sobre as festas de Santiago e a colónia espanhola que agitava o areal. 'E a elite vinha à procura dos efeitos terapêuticos do mar. Estiveram cá o Guerra Junqueiro e o Amadeu Souza-Cardoso', conta o director do festival CINANIMA
'SÓ ALGUNS VINHAM A SESIMBRA'
Francisco Silva tem 84 anos e é natural de Sesimbra, tal como os pais e os avós. Lembra-se da vila ser, na década de 30 do século passado, muito menos concorrida do que agora. Então, só 'alguns senhores do Alentejo' vinham passar as férias com a família. As sopeiras eram disputadas pelos sesimbrenses nas noites de sábado, quando as criadas tinham folga. 'Mas a mim nunca me calhou nenhuma', diz sorridente.
'VENDIAM-SE OS BOLOS CAPARICANOS'
Alberto e Ana Maria Cambalacho, 59 e 58 anos, relembram as histórias do tempo em que a classe média lisboeta começou a ir passar férias à Costa. 'Chegavam e arrendavam as casas melhores e as famílias mudavam-se para um anexo'. Foi a partir de 1925 que a praia começou a ser mais concorrida. No areal 'vendiam-se bilhas de água forradas com folhas de cana e um bolo especial: os caparicanos'.
'OS HOMENS USAVAM CAMISETA'
António Duarte, o ‘Bonezinho’, leva 61 anos de trabalho na Praia da Rocha, em Portimão. Começou com 12 anos, a ajudar o pai no negócio do aluguer de toldos, e, aos 16, continuou como banheiro. Está à frente do restaurante que a família abriu na areia em 1964. Lembra-se do tempo em que o biquini era proibido. 'Os fatos de banho eram com perna e os homens tinham de usar uma camiseta para não mostrar o peito'.
'TURISMO FOI BALDE DE ÁGUA FRIA NO MAR'
'Leve sentido'. É palavra de pescadores. 'O turismo foi um balde de água fria no mar'. 'O turismo mudou Alvor, mas para nós não mudou nada'. Quem o diz é António Jacques e Aquilino Jacques, irmãos de 70 e 65 anos, respectivamente. Já o pai era pescador quando Alvor era pouco mais do que uma pequena localidade virada para a ria e para a pesca. Os prédios e o turismo só haviam de chegar na década de 1970.
António Duarte, o ‘Bonezinho’, leva 61 anos de trabalho na Praia da Rocha, em Portimão. Começou com 12 anos, a ajudar o pai no negócio do aluguer de toldos, e, aos 16, continuou como banheiro. Está à frente do restaurante que a família abriu na areia em 1964. Lembra-se do tempo em que o biquini era proibido. 'Os fatos de banho eram com perna e os homens tinham de usar uma camiseta para não mostrar o peito'.
'TURISMO FOI BALDE DE ÁGUA FRIA NO MAR'
'Leve sentido'. É palavra de pescadores. 'O turismo foi um balde de água fria no mar'. 'O turismo mudou Alvor, mas para nós não mudou nada'. Quem o diz é António Jacques e Aquilino Jacques, irmãos de 70 e 65 anos, respectivamente. Já o pai era pescador quando Alvor era pouco mais do que uma pequena localidade virada para a ria e para a pesca. Os prédios e o turismo só haviam de chegar na década de 1970.
António Duarte, o ‘Bonezinho’, leva 61 anos de trabalho na Praia da Rocha, em Portimão. Começou com 12 anos, a ajudar o pai no negócio do aluguer de toldos, e, aos 16, continuou como banheiro. Está à frente do restaurante que a família abriu na areia em 1964. Lembra-se do tempo em que o biquini era proibido. 'Os fatos de banho eram com perna e os homens tinham de usar uma camiseta para não mostrar o peito'.
Isabel Ramos (com HN, CV,IJ, NN, HA, PM)»
Fonte: Jornal CORREIO DA MANHÃ edição on-line de 05.07.2009
Luis Figueira
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Caro Luís Figueira
Muito obrigado pela sua colaboração.
Tenho alguns livros sobre a praia. Alguns com a temperatura das águas (médias) e com o horário dos comboios: ia-se à praia de comboio...
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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Exercícios de autoflagelação & megalomania
... (Como viviam os nossos antepassados) / Exercícios de autoflagelação & megalomania
Ai valhamos a "Nocha Chinhora de Fatmá" que eram tão pobrezinhos!
E tinham tantas doenças pour faltas de higiene, mas eram santas almas pois obedeciam à santa igreja católica romana e só se lavavam uma vez por semana.
Graças à Santa Mãe do Mundo que tudo ilumina desde Paris, a França, o Portugal já não é um país atrasado que sofre com "fomes".
Foi libertado de novo pela francofonia e poderá brevemente viver em liberdade de;
Os homossexuais se casarem
Dos casais homossexuais adoptarem filhos
De poderem consumir drogas
Isto tudo em paz e sobre a protecção do "Guarda-chuva Nuclear Francês" (trezentas e tais ogivas).
Nestes exercícios de autoflagelação & megalomania, da maioria dos intelectuais portugueses, herdado dos Almorávidas, lêem-se muitos artigos deste género do "Como viviam os nossos antepassados"
E como viviam os súbditos dos senhores franceses espanhóis e ingleses ou alemães na mesma época?
Tanto ou pior que os nossos antepassados!
Entre Marx e a "Nocha Chinhora de Fatmá" que venha o Diabo e escolha que os portugueses hão-de sobreviver e perdurar sem os três.
José Manuel CH-GE
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RE: Exercícios de autoflagelação megalomania
Caro José Manuel CH-GE
Muito obrigado por este texto de auto-flagelação, mas parece-me descabido neste forum e nomeadamente neste tema que EU LANCEI
Não lhe parece?
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Exercícios de autoflagelação megalomania
... (Como viviam os nossos antepassados 06-02-2007, 00:06
Autor: chartri [responder para o fórum]
Os nossos antepassados viviam mal. Com fome e com pouco dinheiro. Tinham frio e tinham de trabalhar arduamente: Junto um conjunto de fichas sobre alguns temas importantes para os nossos antepassados, esperando os vossos comentários)
Caro Blogger chartri,
Achei o seu artigo fora de contesto e tendencioso, embora seja verídico e de qualidade.
Mas estou farto de análises do género "ai que somos tão pobrezinhos e pequeninos" e também do anterior da "Grandiosa Nação" onde na realidade se era pobre num Império rico, este dois tipos de análise para mim são exercícios de autoflagelação & megalomania bem portugueses que passam do oito ao 80 muito rapidamente.
Limitei-me a responder à sua solicitação de; "esperando os vossos comentários" embora que a minha resposta comentário fora feita praticando a ironia portuguesa que ainda não foi esmagada pela francófonia onde estou desterrado.
Se não agradou, vous m'envoyer désolé.
Cumprimentos,
José Manuel CH-GE
P. S.
O Ricardo Charters de Azevedo desculpará certamente pois não terei tempo para mais explicações discussões.
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RE: Exercícios de autoflagelação megalomania
Caro José Manuel CH-GE
Continuo a dizer que esta fora do contexto e mostra ignorancia sobre o que se passava na Europa no sec XVI ou XVII (ou mesmo antes)
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Caro Luis Figueira
Muito obrigado por esta colaboração que enriqueceu este tópico
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Caro Ricardo Charters
Não resisto a colocar aqui um link que recebi hoje. Não se trata propriamente dos nossos antepassados, mas de uma questão menoríssima que parecerá, hoje em dia, ridícula, apesar de ter sido uma "luta" esforçada das mulheres da minha geração.
A Guerra das Calças
http://diasquevoam.blogspot.com/2010/02/guerra-das-calcas.html
Um abraço amigo
Maria Benedita
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Cara Maria Benedita
muito obrigado pelo apontamento que transcrevo abaixo:
"A MULHER VAI CANHAR A «GUERRA» DAS CALÇAS
MARIA JOÃO Leitão
Uma loja de pronto-a-vestir de Lisboa vende por «semana centenas» de calças compridas a mulheres de todas as idades, mas a maior clientela é constituída por jovens. Nesse estabelecimento todas as empregadas sem excepção usam calças compridas.
“Este ano temos vendido muitas mais calças compridas do que noa anos anteriores, e desde que começou o frio Tem havido imensa procura, esclareceu uma das empregadas.
A encarregada de uma boutique» que vende dezenas de calças por mês pensa que o facto se não deve apenas à temperatura: “algumas mulheres deixaram de ligar a certos preconceitos».
Universitárias, raparigas de lo¬dos os meios sociais e até, donas de casa usam calças na rua, não só em Lisboa, como era muitas outras cidade*.
Há alguns anos, uma mulher que se atrevesse a usar tal indumentária era, pelo menos, alvo constante de frases ou olhares in¬dignados. Dizia-se que à constituição feminina não assentava bem essa peça de vestuário, até há pouco de uso exclusivo dos homens.
A moda actual, porém, teve em conta o físico feminino e lançou conjuntos de calças e blusão ou casaco que assentam bem a qualquer mulher, gorda ou magra. Apesar disto, a explosão do uso das calças provocou, nas úl¬timas semanas, em Portugal certa controvérsia nos liceus, escolas e empresas, pois nem em toda a parte se sabe exactamente da existência (ou não) de qualquer disposição oficial sobre o assunto.
Não existe nenhuma regulamentação oficial que as proíba -esclareceu-nos o Ministério da Educação. -Há. apenas uma disposição dizendo que as alunas e as professoras se devem apresentar vestidas com dignidade e decência, não especificando o que se considera menos digno ou indecente-. Foi assim que alguns estabelecimento permitiram há pouco tempo o uso de calças, tanto pelas alunas como pelas suas professoras.
«Na escola onde lecciono — explica uma jovem professora — já há autorização, mas ainda ninguém se atreveu a vesti-las. Se aparecesse alguém de calças eu também as vestirias.
Explicaram-nos no Liceu Ma¬ria Amália Vai de Carvalho, em Lisboa, que, a semana passada a reitora deu o seu consentimento. “Não veio nenhuma ordem do Ministério” — continuou a nossa informadora. “Apenas tivemos conhecimento de que noutros liceus era permitido”. A reitora foi ao Ministério e lá disseram-lhe que não havia nada era contrário. Se alguma professora as trouxer, certamente que não ha¬verá objecção (se é permitiu às alunas ...). '”Mas ainda não apareceu nenhuma”.
Uma das telefonistas de uma empresa, cujo horário rotativo a faz trabalhar até à meia-noite apareceu, há dias, com calças compridas, para se proteger do frio, Foi-lhe dito que, segundo ordens superiores, era proibido ás empregadas vestirem-se daquela maneira. Numa outra grande empresa, o uso das calças também não é consentido. Nem sequer o das botas. Um superior. vendo uma empregada de botas perguntou: -Acha que isto é alguma cavalariça?
Também relativamente às em¬presas não há nenhuma disposição¬ção oficial que as obrigue ã proibição de tal modelo tudo dependendo do critério interno.
Num departamento do Estado o subdirector esclareceu: -“não se existe alguma disposição nesse sentido. Parece-me que as funcionárias são livres de usar saias ou calças compridas».
Do ponto de vista moral segundo um sacerdote –“só estarão erradas as mulheres que usam calças compridas apenas para copiar o homem, masculinizando-se. deixando de ser elas pró¬prias. Pretendendo apenas afirmar-se, não se encontram como seres humanos, tendo deste modo uma falsa independência. Mas se as usarem e vencerem uns tantos preconceitos de que a sociedade está cheta, isso é extraordinariamente importante».
Trata-se de um artigo que cai bem neste tópico
Um muito obrigado
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Caríssima Maria Benedita,
Viva!
Não há dúvida alguma que as calças são uma peça de vestuário de extrema utilidade. Elas reflectem o sinal dos tempos(ainda sou do tempo em que os alunos estavam em turmas separadas, não havendo contacto e convívio sequer nas horas do recreio e das refeições), e felizmente que assim acontece. Parece-me óbvio que tem de haver bom senso, já que a nossa liberdade não pode colidir com a dos outros: está bem de ver que as minisaias curtas, as calças e calções de licra, os collants altos, são de evitar; e o que dizer da nudez, que está completamente fora de causa...!?
Bom.... ironias à parte(ou talvez nem tanto), o que é facto é que a compostura e a decência devem prevalecer. Conheço um professor universitário que proíbe os alunos de irem para as "orais" com a "barba por fazer" e/ou com calções. O eminente professor, de seu nome Jorge Miranda, é claramente insuspeito de atentar contras "as liberdades individuais; acontece que considera que deve haver brio e postura. Será uma questão de "ética republicana"...?
E por falar em "calças": porque não se faz um referendo?
Olhe que não estou insano, nem entorpecido pelo álcool ou por outras substâncias!! Lol
Ocorre-me uma coisa pertinente(até para não se dizer que estou a sair fora do ãmbito deste Fórum): as calças, segundo sei, não têm representação heráldica; jás cotas e as camisas de armas têm! Será que não existe uma clara descriminação...?
Queira, a minha amiga, me desculpar por este "arrazoado". Mas, sabe, há que nunca perder o sentido de humor. Mesmo quando aquilo que é, pode não ser!!-))
Forte abraço,
Artur João
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Caro Artur João
Enviou-me a mensagem que deveria ter dirigido a nossa Cara Maria Benedita.
Mas já agora digo-lhe, sobre este tema, "as calças" que a minha avó me dizia, nos anos 50, que eu não me devia aproximar do rancho de mulheres que trabalhava na apanha da uva, pois que havia lá mulheres perdidas: vinham de calças. O Cónego" local" dizia que tal era devido à imigração para França: de lá vinham "esses costumes".
Como vê, sem nenhum referendo, as calças la foram sendo introduzidas nos usos portugueses. Lá nos fomos adaptando ás modernices... sinais do tempo, diriam outros
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Caro Ricardo,
As minhas desculpas.
Aproveitando aquilo que refere: existe uma gtande necessidade em "esconjurar fantasmas" e, não raras vezes se reccorre àquilo qie por cá aparece, vindo do estrangeiro. Não é que a Senhora sua avó não tivesse a sua razão.
A este respeito, e muito rápidamente(porque tenho de sair), lhe direi que corremos o risco de perder os "usos e costumes". Veja bem que até já se recorre a um pretenso "direito nobiliárquico internacional" para justificar a "cooptação"...
Mes melhores cumprimentos,
Artur João
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Caro Artur João
Mas estamos cada vez mais integrados, na Europa e no Mundo. Já não estamos mais isolados ou "ogulhosamente sós".
Mesmo as notas que escrevi para este tópico tanto se podem aplicar a Portugal como a qualquer outro país europeu naquela época.
Os problemas com as liberdades de vestuário, como apontou a Maria Benedita, existiram em Portugal nos anos 60 e uns anos antes em outros paises . Só que estes tiveram a 2ª grande guerra, e foram "tocados" mais cedo.
Veja o que nos aconteceu com as invasões francesas... Vimos os nossos costumes modernizados (com grande impacto na influencia da Igreja) somente pela existencia de oficiais e tropas com outra abertura.
Claro que ha muitos que diriam que essas "abertura" foram más... Mas se teriamos tido a evolução que tivemos mais cedo ou mais tarde.
As "modernices" que vem la de fora nem sempre são boas, concordo consigo. Por exemplo nos inícios do seculo XIX foi "moda" assassinar cabeças croadas. Nós tambem o fizemos... No sec XX fomos dos primeiros a desviar um avião e depois um barco (ou foi ao contrário). Outros la copiaram aquilo que se considerou inovador.
Assim voltando ao tema, vivia-se mal no tempo dos nossos antepassados..ou melhor, hoje vive-se muito melhor que naquele tempo, ou no tempo dos nossos pais. Mas o que pretendo com este tópico, é registar como se vivia.
Estou a escrever um livro sobre a forma como uma familia rica e burgesa vivia em finais do seculo XIX, mostrando como ela se abourgesou nos 100 anos anteriores e como enriqueceu com a agricultura. Hoje ninguem enriquece com a agricultura...
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Viagem pelas praias de há cem anos
Caríssimo Artur João
O artigo da "Guerra das Calças" é de 1969. Constato, pois, que em 1969, em Liboa, já se permitia o uso de calças ás senhoras na Faculdade de Letras e em alguns liceus. Pois em 1970, em Coimbra, fomos falar com o Professor Afonso Queiró para que nos fosse permitido o uso de calças no Inverno. As aulas eram nos Gerais, gélidos e nem Bar tínhamos para ficar nos intervalos, vinha-se cá para fora á chuva e ao vento. Pois bem, fomos corridas ignominiosamente e mandou-nos "para casa coser meias!!!"Enfim, a província era a província, nesses tempos, que agora vive-se cá bem melhor que em Lisboa.
Um grande abraço
Maria Benedita
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caros confrades
Nós todos temos lido livros de história sobre os heróis valentes e nobres que ajudaram a criação e o desenvolvimento do mundo como hoje o conhecemos. No entanto, esses livros de história raramente descrevem o mundo quotidiano desses heróis e heroínas. Às vezes, suas vidas não eram semprea fama e glória. Na verdade, as suas vivencias eram muitas vezes “repulsivas” pelos padrões de hoje.
De fato, o conhecimento era um bem escasso no século XVII. É difícil para nós compreendermos os quão ignorantes eram. A maioria dos europeus não sabiam nada sobre a geografia e pouco sabiam sobre o que se passava para além do horizonte da zona onde viviam. A maioria das pessoas nunca viajou mais de cinco quilómetros de seu local de nascimento.
Apenas um pequeno número de pessoas que sabiam ler nem escrever ou até contar para além de cem. Mesmo os reis do século XVII, eram, na sua maioria, analfabetos. A maioria dos cidadãos comuns não podiam dizer a hora do dia, e poucos sabiam ler um calendário. A maioria dos nossos antepassados não sabe em que ano nasceu e logicamente em que data ocorre o seu aniversário. Vemos normalmente os documentos oficiais referindo-se uma pessoa como sendo "cerca de 45 anos", por exemplo. A razão é que ninguém sabia sua idade exacta. Os aniversários passaram despercebidos a uma população que não conseguia ler um calendário.
Os símbolos foram sendo utilizados para identificar o “status” e ofícios: as pessoas eminentes tinham brasões para se identificar, especialmente no campo de batalha, onde era importante que fossem facilmente reconhecidos.
As mesmas pessoas não sabiam nada sobre quase tudo. Eles não tinham ideia de como seus corpos funcionam - porque respirava, urinava ou defecava, sentia fome ou estava doente, ou tinha febre.
As pessoas viviam com frio, fome, e desconfortavelmente. Fome estava por toda parte, e a doença escondia-se nas choupanas que a maioria das pessoas chama de lar. Em cidades, mesmo como Londres e Paris, esgotos escoriam nas ruas. Penicos eram esvaziados para as ruas em frente das casas e lojas, ou nas ruas laterais. Não havia esgotos. Os cavalos estavam por toda parte, assim como o esterco de cavalo. Podemos imaginar os “aromas” em um dia quente de verão. Indivíduos ricos usavam lenços encharcado com perfume para “segurar” a seus narizes quando os aromas eram especialmente ruins; mas o comum dos mortais não podiam pagar luxos tais como lenços ou mesmo perfume.
Junto com tudo isso havia uma grande “população” de moscas, roedores e outras pragas portadores de doenças. A água potável era uma coisa inédita na cidade, ou vila, e não era muito comum até mesmo no campo. Com o enorme numero de germes e falta de saneamento, é de admirar que sobrevivessem muito tempo.
Desde que os romanos haviam partido da península ou da Grã-Bretanha, as pessoas raramente se lavavam. A Igreja aconselhava a não se banharem. Na verdade, houve uma razão prática para isso: o abastecimento de água no Renascimento tinha sido contaminado com o esgoto, e banhar-se poderia expor-se a doença. Talvez fosse mais seguro não tomar banho.
Muitas pessoas que lavavam o rosto e as mãos com frequência e mas raramente todo o corpo. A maioria só possuía um conjunto de roupas, e comiam com elas, dormiam nelas, e trabalhavam com elas; estavam meses sem lavar ou trocar as de vestes. Claro, atendimento odontológico era desconhecido, e a maioria dos adultos tinham dentes podres ou já estavam sem dentes. Muitos europeus, que podiam pagar especiarias, mastigavam cravo para mascarar o cheiro de dentes cariados. A maioria das pessoas, no entanto, não poderia suportar tal luxo. Desodorantes ainda não tinham sido inventados. Cada um tinha ostentava o seu cheiro.
Pensemos nas personagens de aparência mais suja e mais despenteadas que vimos num filme retratando século XVII, na Inglaterra, em França ou na América do Norte. A realidade é que eram piores de aparência do que aquela que o filme nos retratava. Sim, isso abrange os seus, como os meus antepassados.
Embora os todos filmes modernos, retratem a nobreza europeia vivendo em castelos e limpos, e mostrando bailes elegantes com cortesãs obviamente bem limpas, a história sugere um cenário diferente. Na verdade, mesmo a realeza não tomavam banho regularmente. O perfume “ afogava” o cheiro de uma dama cortesã. Com cabelo despenteado era muitas vezes, uma peruca empoada que lhe dava melhor aspecto. A rainha Elizabeth I da Grã Bretanha, estava à frente no seu tempo pois tinha um autoclismo instalado, e ela escreveu em 1598 que tomava banho uma vez por mês, precisasse dele ou não ! A maioria de seus súbditos vivia no luxo e lavavam-se com muitos menos frequência. Muitos nunca tomaram banho na sua vida. A maioria da população “fedia aos céus”.
Refrigeração, obviamente, era desconhecida, e Louis Pasteur ainda não tinha instruído o mundo sobre os perigos de germes. Ninguém sabia o que era um germe. A maioria dos alimentos era tratada de uma maneira que hoje seria proibida. As especiarias eram usadas para matar o cheiro e o sabor da carne em decomposição - que era então comida por uma questão de disciplina.
Uma experiência que tem sido muito estudada é a viagem do Mayflower em 1620, acabando por aterrar no que hoje chamamos Plymouth. O navio era como uma favela flutuante. As condições de vida lotada, a dieta pobre, nunca podendo tomar banho ou ficar enxuto, e ter que vestir a mesma roupa durante dois meses , prejudicaram a saúde dos tripulantes. A maioria dos passageiros tossia e estava doente. O Mayflower foi construído como um navio de carga, e não como um navio de passageiros e não tinha acomodações adequadas. Os tripulantes eram simplesmente amontoados no convés ou nos porões abaixo. Não havia camas. As temperaturas no Atlântico Norte em Novembro e Dezembro levou que a maioria deles fossem para os lotados porões, onde pessoas e animais se amontoavam para se aquecerem. O ar do porão era nauseabundo na melhor das hipóteses e simplesmente estarrecedor. Enfim durante a viagem nunca estiveram quentes e enxutos.
Os tripulantes pensavam que era perigoso lavar o corpo e mudar de roupa ou tomar banho durante a viagem de 66 dias a bordo do Mayflower. Naquela altura, muitas pessoas achavam que o excesso de ar fresco era mau para a saúde.
Na longa viagem o cheiro imundo, provavelmente, foi incrível. Havia ratos e baratas a bordo. A farinha e biscoitos do navio tinha gorgulhos mofados e vermes. Alguns comiam biscoitos apenas quando já estava escuro, de modo que eles não precisam de ver o que estavam verdadeiramente a comer. Não havia casa de banho - apenas baldes. Não havia nenhuma privacidade. O rolar e o balançar do navio em águas agitadas faz com que muitos enjoassem, aumentando mau cheiro. A água do mar manteve suas roupas e cobertores molhados por toda a viagem. As temperaturas eram provavelmente de zero graus no Atlântico Norte naquela época do ano.
Tente imaginar como terá sido viagem real de D. Maria I, e do príncipe Regente e de toda a corte portuguesa, para o Brasil.
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Ricardo
Acompanhei, desde o início, o desenvolvimento deste tópico tão interessante e que nos ajuda a recriar as épocas. Por isso, fui ler o seu post, com curiosidade redobrada, não só pelo respeito e consideração que me têm merecido as suas achegas a este forun mas, essencialmente, pelo desejo de encontrar algo de novo. Contudo, fiquei um tanto desiludida e passo a explicar porquê.
Embora muito do que escreveu seja uma realidade, em muitos aspectos, penso que generalizou demais e negativamente. Nem toda a sociedade vivia nesse esterco, nem era tão ignorante, nem pouco viajada. Esqueceu-se do grande grupo social que era constituído pelos judeus e cristãos novos.
Sobre estes, posso acrescentar-lhe alguns dados que o vão permitir refazer os seus conceitos.
1- Os judeus e cristãos novos eram limpos, se entendermos por limpeza tomarem banho e lavarem-se mais que uma vez por semana, vestirem roupa lavada e mudarem os lençóis da cama pelo menos todas as semanas, lavarem as mãos antes de cada refeição. Isto fazia parte dos seus preceitos religiosos como seguidores da lei de Moisés. Poderá consultar "qualquer" processo do TSO em que tudo isto é referido como regra e não como excepção.
2- Qualquer judeu ou cristão novo sabia, no mínimo, ler e escrever pois isto fazia parte da sua cultura e era um imperativo religioso, para participarem dos rituais, da sinagoga e transmitirem aos outros essa cultura. Muitos, muitos mesmos, foram médicos, homens de leis, tratantes, homens de negócio, marchantes, mercadores, tendeiros, etc. e mesmo nas profissões consideradas hoje de menor estatuto, como serralheiros, curtidores, ferradores, lavradores, etc, eles sabiam ler e escrever. Uma vez mais, consulte qualquer processo do TSO. Também algumas mulheres sabiam ler e escrever, embora poucas, como pude constatar pela análise dos processos.
3- Devido à situação vivida por esta gente de uma diáspora constante, como podemos verificar através da história, eles tinham necessidade de criar rotas de fuga e contactos exteriores não só para salvaguarda das suas vidas como para estabelecimento de relações comerciais, arranjos de casamentos, etc. Assim, muitos foram viajados não só dentro deste pequeno rectângulo à beira mar plantado, correndo o país de lés a lés, como percorreram a Europa, África, Brasil e Ásia.
4- Em muitos processos que consultei, verifiquei algo de interessante e que contradiz o que o Ricardo escreveu: alguns cristãos novos eram fluentes em várias línguas, como latim, grego, hebraico, francês, italiano, espanhol.
5- O ritual associado ao sepultamento de um judeu ou cristão novo, independentemente de outras manifestações, comportava a lavagem total do corpo, corte das unhas dos pés e das mãos, mortalha nova e limpa.
6- Devido aos casamentos endogâmicos que se verificavam, havia necessidade de dispensas que muitas vezes tardavam em chegar e era frequente, devido à pressa que por vezes tinham os noivos, que muitos chefes de família ou outras pessoas mandatadas por eles, se deslocassem a Roma para trazerem em mão as ditas dispensas, aproveitando as deslocações para mais uns negócios ou para funcionarem como "correios" dos próprios judeus ou cristãos novos.
Tudo quanto disse neste mini apanhado pode ser comprovado por quem tenha interesse em consultar os processos do TSO. Claro que não invalida parte do que escreveu e com a qual estou de acordo. Não é preciso ir muito longe no tempo: ainda na minha infância, na que é hoje a vila do Teixoso, a escassos dez kilómetros da Covilhã, era frequente ouvirmos "Água vai!" e afastávamos-nos para um canto pois os despejos eram atirados para a rua sem cerimónia.
Aquela cor tão especial, o beje, que durante muito tempo foi considerada uma cor "fina", distinta, deveu-se ao facto de Maria Antonieta, por ausência de banho e de não mudar de roupa interior, ter deixado que as suas camisas brancas atingissem aquela tonalidade devido ao sujo. E como era rainha, era copiada até na porcaria!
Enfim,poderíamos estar aqui a relatar outras coisas interessantes mas não vejo necessidade de monopolizar o espaço com factos que são conhecidos pela generalidade dos frequentadores do forun.
Com os meus melhores cumprimentos
maria
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Maria David
Ora muito boa noite e bom ano, para começar...
Concordo e não concordo com o que me diz. Vejamos
Estamos a falar do século XVII e XVIII. Havia, efectivamente um elite que sabia ler e escreve, falar línguas, viajava e pensava e espremia as suas ideias. Eram comerciantes, pequenos empresários, seminaristas ou padres, e alguns nobres. São esses que "apanhamos" nos documentos do TSO ou nos Inquéritos de Génere, ou nas habilitações a Ordens, ou ainda nas inquerições para serem familiares do Santo Ofício.
Aqui dou-lhe razão
Mas o pais era muito mais... Tenho estado a ler os escritos dos viajantes estrangeiros que visitavam Portugal. Extraordinário! E esas viagens são feitas em finais do século XVIII e no século XIX... por exemplo a descrição das estalagens que se encontravam junto á estrada real Lisboa Coimbra, são fabulosas. Por exemplo, que os quartos estavam num 1º piso, tinham mais de 6 habitantes por noite e que vinham cheiros pestilentos dos estábulos que se encontravam debaixo dos quartos. Numa das melhores estalagens, segundo estes viajantes, nos Carvalhos, junto a Rio Maior, onde pernoitavam os estudantes de Coimbra (filhos de pessoas de posse) quando se deslocavam a Lisboa, tinham quartos no r/c com meia dúzia de habitantes, mas, por exemplo, é relatado que muitos faziam pernoitar no quarto o cavalo, pois tinham medo que o roubassem.
Mas a falta de água e os comportamentos de higiene destas pessoas que pernoitavam em estalagens são relatados de forma que me apoiam no que eu escrevi.
Um outro relato de Murray diz-nos que por falta de segurança nas más estradas viajava-se por caminhos, em caravana,s como se fazia no século XII !
Estamos a falar de indivíduos com algumas posses.
E aqueles que estavam nas aldeias e lugares deste pais e que labutavam sol a sol ? São a esses a que eu me refiro. Esses não aparecem nos documentos que consultamos na Torre do Tombo. Mas viviam.
Que dizer aqueles que viajaram com a corte para o Brasil ? Não se lavaram durante quase dois meses, e chegaram carregados de pulga,s percevejos e outros pequenos animais.
Donde o texto que fiz nem ficou mal. Veja recente livro do Matoso, sobre como se vivia na idade moderna e verá que não estou longe.
Para terminar, lembro-lhe que os "manuais de bom tom" (que colecciono) e que são maioritariamente dos finais do sec VIII/XIX, tem recomendações como.
- Não se deve colocar os ossos da galinha que se come no prato do vizinho
- não se devem mostrar ventosidades intestinais
- não se devem palitar os dentes com o garfo
- os homens devem ter dois laços, o que permite viver com uma única camisa, pois evita suja-la
E estamos a falar mais uma vez de pessoas com posses... mas vemos como se vivia.
Cumprimentos amigos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Ricardo
Uma vez mais, quero reforçar a ideia que concordo com o que escreveu...como parte de um todo e não o todo. O defeito foi meu e não seu, pois não soube expressar as minhas ideias.
É evidente que as coisas que relatou se passaram e, pasme-se! ainda se passam em muitos locais e com muita gente nos dias de hoje, depois de tanto avanço tecnológico e já nos princípios do século XXI!
Só para pegarmos nos seus exemplos, a título de curiosidade,
"- Não se deve colocar os ossos da galinha que se come no prato do vizinho
- não se devem mostrar ventosidades intestinais
- não se devem palitar os dentes com o garfo
- os homens devem ter dois laços, o que permite viver com uma única camisa, pois evita suja-la"...
em certos restaurantes da baixa lisboeta, tão frequentados por turistas e não só, EU JÁ VI EMPREGADOS DE MESA RETIRAREM OSSOS DE FRANGO DO PRATO DE CADA UM DOS COMENSAIS COM O MESMO TALHER!!!!!
...Eu já "apanhei" nas minhas pituitárias as tais ventosidades intestinais dos outros, nos elevadores, nos grandes espaços comerciais, nas filas do banco!
...a toda a hora, á mesa, se vêem pessoas palitando os dentes, com palitos e com unhas!...e nos ambientes considerados de certo estatuto e com gente considerada "evoluída"!
...eu já vi, em ambientes públicos, os homens pendurarem os guardanapos no colarinho da camisa para a não salpicarem!....
Mais umas achegas:
"Havia, efectivamente um elite que sabia ler e escreve, falar línguas, viajava e pensava e espremia as suas ideias. Eram comerciantes, pequenos empresários, seminaristas ou padres, e alguns nobres. São esses que "apanhamos" nos documentos do TSO ..."
O Ricardo fala de elite, eu falei de gente comum: sapateiros, ferradores, lavradores, curtidores, serralheiros, etc, etc, etc. Nestes profissionais, nos tais séculos recuados, aponte-me quem sabia ler e escrever que não fossem judeus ou descendentes de cristãos novos! Aí, sim, dou-lhe razão, só a tal elite dos que referiu o fazia. Os processos do TSO a que me referi referem-se a todo o tipo de gente, mais evoluída ou não, mais rica ou não, desde o séc.XVI.
Quanto às estalagens, com os quartos por cima e os estábulos em baixo, isso era comum e tinha a sua lágica, que se estendeu ao século passado. A construção interior era de madeira, chão de soalho. Das estalagens e das casas de habitação comuns. Os animais ficavam no piso térreo, de terra batida, com fardos de palha a um canto e a restante espalhada para que os dejectos, juntamente com a palha, fizesse o tal estrume utilizado na lavoura. Em cima, os quartos de habitação recebiam o bafo quente dos animais e este bafo funcionava um pouco à semelhança do nosso aquecimento central. Ajudava a criar uma temperatura mais amena no interior. Não sei como seria nos outros países nos séculos anteriores mas imagino que seria mais ou menos o mesmo. Só as grandes cidades tinha uma construção diferente. Ainda hoje, nas típicas aldeias portuguesas, podemos ver o mesmo esquema: estábulo em baixo, habitação em cima. Pelas frinchas da madeira é natural que se escapem odores e ruídos.
Vou rematar, contando-lhe o que se passava na quinta dos meus avós, próximo da Covilhã. A nossa casa era enorme, exteriormente toda em pedra de granito e por dentro tudo em madeira. Ao nível térreo, uma enorme adega, completamente cheia de pipos e tonéis que quase chegavam ao tecto. Ao nível do segundo piso, a enorme cozinha, sala de jantar, salão de visitas, escritório, alguns quartos, uma enorme casa de banho com piso de madeira, também; no andar de cima mais quartos, arrecadações, atelier de pintura e por cima disto tudo, um enorme sótão. As divisões eram em taipa, todo o chão em madeira de tábua corrida. Pois meu caro Ricardo, pelas frinchas do chão, nós ouviamos o que se dizia na adega e havia até algumas frinchas mais largas que nos permitiam, a nós miúdos, observar o que se passava em baixo, colando os olhos ao chão. Quem estava na adega ouvia as conversas que se passavam em cima. Por alturas da transfega do vinho, era um pivete desgraçado! Como não seria no século XV ou XVI!!!!! Não considero que isto revele atraso, era assim, simplesmente. Tudo evolui na vida e não podemos esperar que nesses tempos os conceitos fossem os mesmos de hoje, quer de limpeza quer de outras coisas. Olhe, por exemplo, arrotar à mesa, na nossa cultura europeia, é uma tremenda falta de educação; para os árabes, é o melhor sinal que se pode dar de satisfação pelo almoço ou jantar que nos oferecem. Se não arrotarmos, é sinal que não gostámos da refeição. Na Ásia, por exemplo, depois de um jantar formal com imensos partos e iguarias, vem no final da refeição uma travessa com arroz branco que passa por todos os convivas. Ninguém se dever servir desse arroz, excepto a dona da casa, a última a ser servida: significa que todos os seus convivas se sentiram satisfeitos com a refeição que lhes serviu mas ela, por achar que a dita refeição não estava à altura deles, ainda tinha algo mais para lhes oferecer, mostrando que os queria honrar com mais comida, daí ser a única a servir-se de um pouco de arroz branco depois de um lauto banquete!
Gostei da nossa troca de informações e espero que tenha compreendido o meu ponto de vista
Sinceros cumprimentos
maria
Mas este tópico é excelente e permite que conheçamos um pouco melhor oa ambientes em que se movimentavam os nossos antepassados.
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Boa noite,
Sigo con interesse este tópico, pouco ou nada sei de como viveriam os nossos antepassados mas imagino que a vida deles não seria nada fácil. No entanto, gosto de ler livros históricos e alguns sendo romanciados há sempre qualquer coisa de verdade. Li um livro que narrava a história de um plebeu apaixonado pela imperatriz Sissi que lhe seguia os passos. No romance conta certas desilusões que o dito senhor teve com a sua apaixonada, uma delas foi vê-la nos jardins do palácio arregaçar um pouco as saias e abrir as pernas e não é preciso dizer mais.
Há povos que pouco ou nada evoluiram na questão de higiene no, século XX e XXI, penso que os portugueses serão dos povos que mais banhos tomam, é o que tenho observado do meu contacto com outros. Os ingleses, por exemplo a maioria ainda só toma banho 1 uma vez por mês e nem todos, usam diàriamente a luva assim como os belgas. No século XX, tive uma colega de trabalho que foi educada num colégio em Inglaterra e ela contava muitas vezes que no dito colégio só podiam tomar banho uma vez por semana e uma banheira era para 10 raparigas, ela e a irmã colocavam-se sempre à frente para aproveitar a água limpa. Na altura, não acreditei, julguei que era brincadeira dela, mais tarde em conversa com um primo que também estudou em Inglaterra contou-me mais ou menos a mesma história. A primeira vez que visitei Inglaterra fiquei em casa duns amigos meus ingleses, que foram comprar um chuveiro de plástico à pressa para tomarmos banho porque eles sabiam que em nossa casa se tomava banho diário. Também não mudam de roupa interior diàriamente, a louça é lavada só numa água com detergente, não a passam por água limpa. Os pratos dos cães são lavados na mesma água, o pano de enxugar é o mesmo para todos e é até capaz de estar pendurado ao lado da escova do cão,
Cumprimentos,
Fernanda
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Fernanda Farrajota
Tem toda a razão
Se bem que fuja do tema deste tópico, pois pretendo tratar "como vivem os nossos antepassados" e não como se vive, gostaria de confirmar o que diz sobre a Belgica. Tive uns amigos que alugaram uma casa em Bruxelas cuja casa de banho era forrada a papel e sem janela para o exterior. Quando começou a descolar o papel, os proprietários, que eram belgas, ficaram muito espantados que todos os membros da família tomassem banho todos os dias e não usassem a mesma água!
La tiveram que pintar a casa de banho retirando o papel
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Fernanda Farrajota
Acrescento ainda que na minha casa em leiria, construida nos finais do sec XIX, foi construida uma das primeiras casas de benho e com loiça inglesa. Relato tal em no livro "Villa Portela..." (http://www.guardamor.com/livro.php?id=965)
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Maria David
Ora a sua frase "O Ricardo fala de elite, eu falei de gente comum: sapateiros, ferradores, lavradores, curtidores, serralheiros, etc, etc, etc. Nestes profissionais, nos tais séculos recuados, aponte-me quem sabia ler e escrever que não fossem judeus ou descendentes de cristãos novos! Aí, sim, dou-lhe razão, só a tal elite dos que referiu o fazia. Os processos do TSO a que me referi referem-se a todo o tipo de gente, mais evoluída ou não, mais rica ou não, desde o séc.XVI." merece comentários
Lembro que a elite eram os nobres... ás vezes muito pouco cultos e os comerciantes como sapateiros, ferradores, lavradores, curtidores, serralheiros, etc. Eram estes a classe média, que ganhavam dinheiro e que estavam logo abaixo dos nobres. No seculo XVI, ou anteriores, o povo era por estes representados, mas o verdadeiro povo, aquele que trabalhava a terra não tinha voz nem nas Cortes (pois nelas o "povo" era representado por aqueles, pois sabiam falar, contar e escrever), nem eram chamados para a elaboração dos processos do TSO.
Aqueles sapateiros, ferradores, lavradores, curtidores, serralheiros, etc, deram mais tade, aos seus netos, a possibilidade de c virem a viver à lei da nobreza e solicitarem benesses reais, emprestando dinheiro. Aquele dinheiro que os seus avós tinham ganho nos chamados ofícios mecânicos.
Aí entravam os genealogistas que escondiam os antepassados dos novos nobres, entroncando-os com figuras mais prestigiadas pelos nomes que tinham.
Agora espero que perceba o meu ponto de vista, pois na maioria de Portugal, os seus quase 2 milhões de indivíduos viviam muito mal.
Lembro ainda que os balneários criados pelos romanos quando por cá andaram, foram destruídos, na sua grande maioria, como afirma o Mattoso (no seu livro de como se vivia na Idade Média), pela influencia da Igreja catalólica que considerava que o banho público "era uma pouca vergonha" (digo eu) e que a carne se tornava fraca quando do banho (diz o Matttoso)
Cumprimentos amigos
Ricardo Charters d'Azevedo
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Caro Ricardo
Obrigada pela suas achegas.
Pessoalmente, não sabia dos motivos da destruição da maioria dos balneários públicos, criados pelos romanos, pela influência da Igreja católica como aponta (segundo o Mattoso). Nada me espanta tal mentalidade! Basta pensar que nos meus tempos de interna, em colégio de freiras, - e não estamos assim tão longe no tempo, pois tenho 65 anos e isto passou-se na minha adolescência - nós, jovens internas, só podíamos tomar banho uma vez por semana, ao sábado, mesmo que solicitássemos permissão devido ao aparecimento do chamado perído menstrual e querendo fazer uma higiene mais apurada. Era só ao sábado e ponto final parágrafo! Assim como não podíamos comer azeitonas nem bater claras em castelo pois que, devido ao nosso "estado", desmanchavam! Da mesma forma que estava interdito fazermos maionese nesse período, pois esta não tomava consistência! Santa ignorância!!!!!!
E já que estamos a falar de costumes, mais umas pitadas de vivências pessoais.
No dito colégio das freiras onde estive interna, quando vinhamos a férias, a madre responsável pelo nosso acompanhamento, cheirava-nos e se detectava qualquer aroma a perfume, dizia: "Vá-se lavar imediatamente e tirar esse cheiro provocador!"; da mesma forma, a seguir ao carnaval, perguntava a cada uma: "A menina foi a bailes durante estas férias....?" -com resposta afirmativa da nossa parte, acrescentava :"Pois amanhã faça-me o favor de se ir confessar ao Sr.Padre Pereira! Informar-me-ei se o fez."
Curiosamente, pensando que o meu colégio teria sido uma excepção, em termos de mentalidade, vim a constatar que muitos outros tinham idênticos comportamentos. Portanto, não é de estranhar alguns comportamentos e mentalidades dos séculos passados.
Cumprimentos
Maria
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Fernanda,
A sua mensagem fez-me sorrir. Vivo em Inglaterra desde 1966 e muita coisa ja' mudou.... mas nem tudo! A grande maioria das pessoas toma duche diario (embora 'as vezes no autocarro tenho as minhas duvidas!) mas ainda ha' muita casa sem chuveiro. Aqui ha uma expressao ou ditado que diz "don't throw away the baby with the bath water". Antigamente (e pelo menos ate' uns bons anos depois da ultima guerra) a grande maioria das familias nao tinham banheira canalizada e lavavam-se em banheiras de metal (que no inverno eram postas em frente do aquecimento/chamine' da sala) e toda a familia usava a mesma agua. Havia uma hierarquia. Primeiro banhava-se o pai, depois a mae e depois as criancas segundo a idade sendo o bebe' o ultimo. Como nessa altura a 'agua ja' estava tao "turva" havia a possibilidade de ao despejar a banheira atirar-se o bebe' tambem. Claro que esta parte 'e um exagero mas 'e para mostrar como estaria a 'agua.
Ate' pelo menos na decada de oitenta, no norte de Inglaterra muitas casas nao tinham sanitas dentro de casa. Era uma "guarita" no quintal onde se tinha de ir chovesse ou nevasse. Ate' hoje nao existem bide's em todo o país e quando viajam ao estrangeiro chamam-lhe "a foot bath" pois acham que 'e para lavar os pe's, por muito que os comediantes gozem com isso nos programas de televisao!
A loiça continua ser lavada conforme explicou..........
Cumprimentos.
Rosario
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RE: Como viviam os nossos antepassados
Cara Maria David
Sou um pouquinho mais velho e o que me conta ja o sabia devido a ter uma irmã da sua idade
Já agora lembro que na idade média, ou durante a idade moderna, as crianças recém nascidas eram enfaixadas de forma a protege-las. As mães levavam-nas para o capo e aí ficavam à sobra de um a árvore. Tinham os braços presos e uma "tampa" para evacuar. Depois queixavam-se que a mortalidade infantil era muito alta... (este assunto foi já discutido neste tópico).
Enfim, outros tempos... outros hábitos
Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo
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Como era a vida em Portugal há 100 anos
Caros confrades
Acabo de receber o texto abaixo que o Prof José d'Encarnação colocou num Forum de História que lhe foi enviado por Isabel Luna .
O texto parece que foi elaborado a Sábado | 05-10-2010
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Como era a vida em Portugal há 100 anos
Milhares de pessoas presenceavam o sorteio da Loteria do Natal, o Paiz só tinha seis cabines telephonicas e 3.211 automoveis e os toureiros eram as grandes estrellas. Saiba como se vivia em Portugal em 1910, n'um texto escripto com a orthographia da epocha, por Nuno Thiago Pinto
Na tarde de 23 de Dezembro de 1911, uma multidão ansiosa encheu a sala da Santa Casa da Misericordia de Lisboa para assistir à extracção da Loteria do Natal. Sentados em cadeiras collocadas em frente às duas enormes espheras de onde eram retirados os numeros vencedores, homens, mulheres e creanças esperavam pelo resultado do sorteio que lhes podia mudar a vida. Ao fundo da sala, muitos outros aguardavam de pé. A Illustração Portugueza de 1 de Janeiro 1912 descrevia que, na rua, a expectativa era ainda maior, com milhares de pessoas a occupar o Largo da Misericordia - algumas empoleiradas em arvores. Estava em jogo um primeiro premio de 240 contos de réis (cerca de 4,7 milhões de euros na moeda actual), guardados em maços de notas n'um cofre.
Era muito dinheiro para a epocha, pouco mais d'um anno após a queda da Monarchia e a proclamação da Republica. O Paiz era pobre: cerca de 75 por cento dos quasi seis milhões de habitantes dedicavam-se à agricultura e um trabalhador rural recebia em média 280 réis por dia (5,5 euros), que podiam chegar aos 500 (9.9 euros) na epocha das colheitas. Os operarios - 214 mil em 1907 - eram mais bem pagos: em Lisboa e no Porto, podiam ganhar entre 500 e 600 réis (11,9 euros)ao dia. As mulheres, por regra, recebiam metade do que era pago aos homens.
Os dias de trabalho tinham, em geral, nove horas - mas podiam chegar às 14.
As fabricas e as lojas funccionavam ao fim de semana e os trabalhadores não tinham direito a descanso semanal, excepto nas datas religiosas. Apesar de os primeiros governos da Republica terem instituido os horarios de trabalho, as dificuldades de fiscalização tornavam os abusos freqüentes.
A alimentação era a principal despesa dos portuguezes: gastavam 60 por cento do salario em comida. Ainda assim, comia-se mal. Os pobres alimentavam-se à base de pão, hortaliças, legumes, fruta e vinho. Raramente compravam carne ou peixe e eram as mulheres que governavam a casa. Por outro lado, raramente faltava fruta.
Os burguezes e aristocratas também comiam mal. Mas muito e com pouca simplicidade. As refeições eram divididas em trez: as actuaes, mas com nomes differentes. Logo de manhã, tomavam o primeiro almoço. No XI volume da Nova Historia de Portugal, de A. H. Oliveira Marques e Joel Serrão, le-se que esta refeição era à base de café, chá, leite e chocolate, acompanhados de pão, manteiga, bolos sêccos, doces de fruta e fruta fresca, com refôrço, para muitas creanças e até adultos, de papas, òvos, açôrdas.
Ao meio dia tomavam o jantar: sopa, acepipes e dous ou trez pratos. E, entre as seis e as sete horas da tarde, a ceia, que podia chegar aos cinco pratos.
Não havia a preoccupação de alternar peixe e carne à refeição. Grande parte das vezes, eram servidos varios pratos de carne. Preferiam vacca, carneiro e porco, emquanto os peixes predilectos eram o bacalhau e a pescada. As saladas frescas também rareavam. Em vez d'ellas, cozinhavam-se favas, ervilhas, feijões, brocolos e couves. A maioria deixava o cuidado das refeições a cargo das criadas, que compravam os alimentos no mercado semanal. Ahi, carros de pão, legumes, cereaes, fruta e gado conviviam com outros vendedores de botões, meias, fatos, copos, sapatos e alguidares. Mas fosse n'uma casa de ricos ou de pobres, o fogão estava acceso quasi todo o dia.
A alimentação da aristocracia e da burguezia incluia ainda compotas, pudins, bolachas, chocolate e bolos. A água era fervida para evitar a febre typhoide e o vinho a bebida mais consumida. Após a sopa era servido um vinho da Madeira sêcco, o peixe era acompanhado por um branco de Bucellas ou Collares e a carne por espumoso ou tinto do Ribatejo, Collares e Torres Vedras. Com os doces, bebiam um Porto ou Moscatel de Azeitão.
Almoçar ou jantar fòra era um luxo. Além dos restaurantes, era hábito tomar as refeições em hotéis, conhecidos pelo cuidado na cozinha. Os cafés, cujos bifes começaram a ganhar fama, eram preferidos para jantares ou ceias ligeiras. Em 1908 havia em Lisboa 120 estabelecimentos onde se podia comer, a par de 60 hotéis e pensões. Uma refeição media de trez pratos custava cinco (9,9 euros) ou seis tostões (11,9 euros). Uma de cinco augmentava para seis ou sete tostões.
As casas ruraes tinham um ou dois andares e eram em geral mal divididas e pouco illuminadas - a azeite ou a oleo. Todas tinham uma cozinha que se tornava o sitio de convivio após as refeições e até à hora de deitar.
Conversavam, liam em voz alta e jogavam cartas. A maioria das casas tinha outro compartimento onde a familia dormia. Só os mais ricos possuiam quarto, sala e cozinha.
Nas cidades, a organização era um pouco differente. No final do século XIX começaram a construir-se os primeiros predios, com andares para alugar. A burguezia instalou-se em apartamentos com entre seis a oito divisões, tectos altos e duas entradas: uma principal e outra de serviço. A casa era ligada por um corredor estreito e escuro que recebia luz de pequenas janellas que existiam sobre as portas das divisões. Apesar de as casas de banho começarem a apparecer nesta epocha, a esmagadora maioria das habitações não tinha retrete. Os portuguezes lavavam-se em lavatorios e bidets que tinham nos quartos. Só de vez em quando entravam num alguidar ou numa sêlha collocados nas cozinhas ou nas varandas. Especialmente no campo, tomar demasiados banhos ainda era considerado prejudicial à saude.
Apesar de a hygiene em geral não ser muita e os odores corporaes serem intensos, a Primeira Republica foi uma epocha de novos cuidados com a apparência. Mas só para quem tinha dinheiro. O cylindro do dr. Forest era indicado para tirar as rugas da velhice do rosto. Fabricantes de escovas electricas prometiam parar o embranquecimento do cabello. O médico-electricista dr. Scott garantia o rejuvenescimento e a vitalidade do corpo graças ao uso dos seus suspensorios electro-magneticos.
As damas da sociedade portugueza pediam aos maridos o creme Sirene, que tirava as manchas da pelle. Muitas conseguiram o Royal Extirpador, "o melhor depilatorio e o unico reconhecido como decisivo exterminador dos cabellos que desfeam o rosto da mulher". E numa epocha em que ainda estava longe a moderna cirurgia esthetica, as Pilules Orientales prometiam desenvolver e endurecer os seios. Já a parisiense Margarette Mercier explicava como desenvolver o busto e augmental-o 15 centimetros em 30 dias: "Um methodo simples e facil que toda a mulher pode empregar em sua casa e que em muito pouco tempo lhe dará um busto formosissimo." Para receber as instrucções, bastava enviar um sêllo de 50 réis (0.9 euros) e esperar a resposta do correio. O annuncio era acompanhado por quatro gravuras que illustravam o crescimento do peito d'uma mulher.
Chamar o medico a casa era um privilegio das classes altas - e só nas grandes cidades. Em 1908, havia em Lisboa 471 medicos (um para cada 900 pessoas). No Porto, a taxa era um pouco melhor: um para cada 800 doentes. Já se usava o estethoscópio e o medidor de pressão arterial. No final da consulta, os doentes mandavam aviar a receita na pharmacia de confiança mais proxima e ficavam na cama à espera de melhoras. Ou da morte. Só se internava alguém em casos extremos de cirurgia. Porque o hospital servia, na maioria dos casos, as classes populares. E mesmo essas só quando não se conseguiam tratar em casa. Muitas vezes, chegavam tarde de mais.
No XI volume da Nova Historia de Portugal, explica-se que o rachytismo, a debilidade e a tuberculose se tratavam com vinho nutritivo de carne e farinha peitoral ferruginosa. As doenças venereas com o Depurativo Dias Amado. As doenças de pelle com pomadas, ungüentos e sabonetes. Ainda assim, eram estas as doenças a levar mais gente ao hospital - onde já se realizavam as grandes operações da então moderna cirurgia, com a ajuda da anesthesia por chlorofórmio. Em 1909 havia 241 hospitaes de todos os tipos e dimensões no Paiz. No anno seguinte, 79.657 portuguezes estiveram internados, numa população de 5,9 milhões. Os melhores dentistas também annunciavam operações sem dôr, com implantação de dentes artificiaes, coroas e dentaduras.
Na epocha, era tolerada a freqüencia masculina de bordéis e em Lisboa havia quasi trez vezes mais prostitutas do que médicos: em 1900, existiam 1.197 registadas na cidade. Já no Porto, o número chegava a 438 e em Évora a 53.
Os preços variavam entre o meio tostão (0,9 euros) e os 2$250 réis (44,6
euros) para as mais requintadas.
Apesar d'esta tolerancia social, a sexualidade era reprimida. As meninas sòmente aceitavam pedidos de namoro com o consentimento dos pais. As relações desenvolviam-se por carta, fallavam à janella ou em passeios vigiados.
Nas famílias burguezas e aristocratas, o homem só era autorizado a entrar em casa de uma menina após o noivado. Em media, os portuguezes casavam-se
tarde: os homens aos 26 anos e as mulheres aos 24. A mentalidade profundamente catholica fez com que o divorcio, introduzido pela Primeira Republica, não se generalizasse.
A violação das regras de relacionamento entre homens e mulheres podia conduzir a agressões verbaes e physicas. Em casos extremos, restava o duello, que, apesar de condemnado, era tolerado nas classes superiores.
Normalmente, eram combates de espada, mas havia muitos casos em que a arma de fogo era a preferida. Raramente morria alguém - apesar d'isso, os dias anteriores aos duellos incluiam cartas de despedida, redacção de novos testamentos e cenas de desespero entre familiares.
As diversões em Lisboa estendiam-se aos 21 animatógraphos que existiam em 1910. Mas as grandes estrellas da epocha eram os toureiros e forcados, que eram idolatrados ao vivo e nas varias revistas da especialidade.
Na decada de 20, parte deste culto popular iria transferir-se para os grandes jogadores de foot-ball. O primeiro campeonato realizou-se em 1906 entre equipes de Lisboa e arredores. A União Portugueza de Foot-Ball só foi fundada em 1914.
A 20 de Janeiro de 1911 jogou-se pela primeira vez hockey no campo da Cruz Quebrada, entre uma equipe do Lisbon Cricket Club e outra do Carcavelos Club. A Associação Naval promovia torneios de natação com provas de 60, 200 e 400 metros. Em Paço d'Arcos organizavam-se festas desportivas com competições de salto em altura, vara, luta de tracção, corridas de resistencia e velocidade. A Praça do Saldanha servia de meta para a prova do Porto a Lisboa em bicycleta e motocycleta: os 360 kilometros eram percorridos em 16 horas na primeira e em sete na segunda.
Nos domingos de Verão, milhares de lisboetas sahiam da cidade e apanhavam o combòio para Cintra e Cascaes ou o barco para Cacilhas e Almada, onde familias inteiras percorriam as localidades carregadas de farneis à procura da melhor sombra. Em Lisboa, eram habituaes os passeios pela Avenida da Liberdadediz José Augusto França em Os anos Vinte em Portugal.
A moda da epocha vinha de França. Litteralmente. Todas as casas de moda tinham uma modista parisiense que criava, compunha e ajustava a toilette feminina para os bailes, visitas ou passeios. Esses vestidos, feitos por uma costureira portugueza em machinas de pedal, eram compostos por rendas, estofos e guarnições francezas. A Illustração Portugueza de 27 de Fevereiro de 1911 annunciava que, n'aquelle anno, a cor branca era a preferida.
Aconselhava o uso de saia estreita e curta, que deixava liberdade de movimentos, com uma jaquette muito simples ou de bandas cruzadas.
O espartilho de barbas de baleia era um elemento obrigatorio. Apesar de criticado por medicos, muitas mulheres usavam-no para retardar os damnos do tempo no corpo. Por cima, usavam um corpete. E por baixo das saias - uma ou mais - escondiam calças atadas no joelho. O conjunto custava, em 1910, no minimo 2$140 (42,4 euros). Um vestido variava entre os 13$000 (258 euros) e os 35$000 (694.8 euros). Com casacos, capas, chapeus, luvas, meias e sapatos, uma senhora da burguezia podia gastar 25$000 réis (496 euros) para se apresentar com dignidade.
O homem usava roupas mais simples: camisola interior de algodão ou lã, ceroulas ou cuecas, camisa, colete, calças e casaco de fato. O chapeu alto era escolhido para occasiões solemnes. No dia a dia preferiam-se os de côco ou molles. Com gravatas, laços, suspensórios, cintos e luvas, os homens podiam gastar entre 25$000 (496 euros) e 50$000 réis (992 euros).
Barbeavam-se com laminas Gillette, tão commodas de usar que a publicidade mostrava um bébé com espuma na cara. Grande parte das compras eram feitas nos Armazéns Grandella, que em 1910 introduziram os primeiros ascensores em Portugal.
As deslocações eram raras. Grande parte da população passava a vida sem conhecer as principaes cidades do Paiz ou ver o mar. E aquelles que habitavam n'um centro urbano raramente conheciam outro. Em 1900 havia 2.380 kilometros de linhas ferreas no Paiz e a viagem de Lisboa ao Porto durava meio dia. Dez anos depois, tinham sido construidos 16 mil kilometros de estradas. E em 1916 circulavam apenas 3.211 automoveis e camiões - um por
1.692 habitantes. Ao mesmo tempo, existiam mais de 100 mil carroças, carros de bois, carruagens e diligencias. Em Lisboa, Porto, Coimbra e Braga o unico transporte collectivo era o carro electrico. Viajar para o estrangeiro estava fora de questão, excepto para politicos, diplomatas ou burguezes.
Mesmo as comunicações eram difficeis. No anno da proclamação da Republica, estavam installados 679 kilometros de rede telephonica. Havia 3.500 assinantes de telephone em Lisboa, 1.500 no Porto e menos de mil no resto do Paiz. A lista telephonica tinha 79 paginas com 45 nomes em cada uma. A maioria pertencia a casas commerciaes, empresas, repartições publicas e aristocratas. Só havia seis cabines telephonicas espalhadas por todo o Paiz.
O preço difficultava a sua democratização: por cinco minutos de conversa pagava-se um tostão (1,9 euros) - dez vezes mais do que um jornal diario.
Por causa d'isso, os contactos eram feitos por carta: ao todo, eram enviados
100 milhões por anno, ao preço de 35 réis (0,7 euros) cada. Por isso, terá sido por telegramma que a Santa Casa da Misericordia informou a Casa Levy, da então designada Lourenço Marques, que o primeiro premio da Loteria do Natal de 1911 sahira ao numero 5119, vendido na colonia portugueza de Moçambique.
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