Entrevista com D. Luiz de Orleans Bragança
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Entrevista com D. Luiz de Orleans Bragança
Eu gostaria de sublinhar que não vejo nesse senhor a chefia da casa imperial brasileira, mas como é tão raro que ele dê entrevistas à imprensa "corrente" eu a ponho aqui:
04/03/2008 - 11h13
Príncipe imperial vive "sem luxo nem esplendor" em casa alugada em SP
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REGIANE SOARES
da Folha Online
Há 200 anos a família real portuguesa chegou ao Brasil sem saber o que ia encontrar na colônia e muito menos qual seria o futuro da dinastia Bragança. Hoje, a monarquia cedeu espaço para a república e o herdeiro dinástico da família imperial vive à sombra do regime presidencialista na expectativa de um dia governar o país. Em entrevista à Folha Online, dom Luiz de Orleans e Bragança, 69, contou como é viver em São Paulo sem as regalias usufruídas por dom João 6º e Carlota Joaquina no século 19. Veja vídeo.
Folha Online
Dom Luiz disse que a República trouxe perecimento da moralidade política
Chefe da Casa Imperial Brasileira e herdeiro dinástico, dom Luiz diz que vive "sem luxo nem esplendor". Ele nasceu na França, estudou química mas nunca exerceu a profissão. Mora com um de seus irmãos, dom Bertrand de Orleans e Bragança, em uma casa alugada em Higienópolis, bairro nobre da capital paulista. Apesar de bem localizado e grande, o imóvel é um sobrado simples e que requer reparos na pintura e no jardim. A decoração da casa também é simples e não tem nenhum móvel da época da monarquia. Apenas as fotografias ou pinturas de seus pais, avós e bisavós, em especial da princesa Isabel, indicam que naquele lugar vive um nobre.
Apoiado em uma bengala e vestido com um terno cinza com risca de giz, dom Luiz recebeu a reportagem na sala de visitas da Casa Imperial do Brasil onde um grande brasão imperial contrasta com a um imagem de nossa senhora de Fátima. Católico praticante, o príncipe disse que divide seu tempo entre orações e o trabalho como representante da família imperial brasileira. Afirmou que não recebe nenhum recurso do governo brasileiro e vive de doações de monarquistas em melhores condições financeiras.
Durante a entrevista, de quase duas horas, dom Luiz se empolgou ao falar sobre a crise na política nacional e riu ao comentar a questão dos cartões de crédito corporativo do governo federal. "A República trouxe consigo um perecimento da moralidade pública e política e nós chegamos ao auge hoje em dia", disse o príncipe, que defende a monarquia como forma de solucionar parte dos problemas na política brasileira.
Quando o assunto é a disputa da família imperial pela herança dinástica --herdeiros do primeiro filho da princesa Isabel, dom Pedro de Alcântara Orleans e Bragança, que abdicou da dinastia ao se casar, reivindicam o trono inexistente no Brasil--, dom Luiz prefere não se aprofundar no assunto e limita-se a dizer que é reconhecido internacionalmente como herdeiro dinástico.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista com dom Luiz de Orleans e Bragança.
Folha Online - Como é viver hoje como herdeiro dinástico 200 anos após a chegada da família real ao Brasil?
Dom Luiz de Orleans e Bragança - Vivemos sem luxo nem esplendor. Vivemos com os recursos que nós temos, que não são muito grandes. Alguns [dos herdeiros] têm empregos, outros vivem --como meu irmão d. Bertrand e eu-- de auxílio de monarquistas que nos ajudam a tocar a vida mas sem nenhum luxo --como você pode ver essa casa não é um palacete, é uma casa média. Vivemos procurando tanto quanto possível lutar pelos interesses do Brasil, no campo ideológico e civil.
Folha Online - E o governo brasileiro, dá alguma ajuda financeira aos herdeiros da família real?
Dom Luiz - Não, o governo não dá nada.
Folha Online - E de onde vêm os recursos?
Dom Luiz - São recursos particulares de pessoas que tem uma certa folga e nos ajudam. São monarquistas brasileiros.
Folha Online - Então o senhor não recebe o laudêmio --taxa de 2,5% cobrada sobre qualquer transação imobiliária no centro histórico de Petrópolis que vai para a família imperial?
Dom Luiz - Não, não recebo nada. Houve uma divisão nos anos 40 e o ramo da família de Petrópolis ficou com o laudêmio. E o ramo dinástico --o que herda a Coroa se for restaurada a monarquia-- não ficou com nada.
Folha Online - E quem fez esse acordo? Foi o chefe da Casa Imperial da época?
Dom Luiz - Foi uma questão complicada. Eu não gostaria de entrar nesse campo no momento.
Folha Online - É difícil carregar um nome não só longo mas com tanto significado em uma república como o Brasil e em um mundo globalizado?
Dom Luiz - De um lado é difícil, de outro a gente nasceu e foi criado para isso. Agora, traz uma responsabilidade muito grande. As pessoas olham para nós como quem deveria ser exemplos e nós devemos manter uma linha, uma dignidade, uma compostura para evitar toda e qualquer coisa que possa desabonar esse nome.
Folha Online - E como é seu cotidiano? Como é a vida do príncipe imperial do Brasil hoje?
Dom Luiz - Meu cotidiano é parecido com todos os paulistanos ou todos os brasileiros. Eu me levanto de manhã, faço as minhas orações, tomo café e depois tenho o meu trabalho [como chefe da Casa Imperial]. Tenho bastante correspondência [para ler e responder] e muitos contatos com os monarquistas de todo o Brasil. Recebo visitas de monarquistas de todo o Brasil e participo de congressos monárquicos bianuais. Também procuro atuar no campo ideológico e cível na Associação dos Fundadores --grupo dissidente da TFP (Tradição, Família e Propriedade)--, que procura pôr uma barreira à investida do esquerdismo e do comunismo aqui no Brasil muitas vezes sobre o manto da Teologia da Libertação.
Folha Online - Então o senhor é contra a Teologia da Libertação. Como é esse trabalho?
Dom Luiz - Escrevo artigos para algumas publicações, faço conferências e palestras. O próprio atual papa [Bento 16] quando era cardeal condenou a Teologia da Libertação, como sendo uma infiltração marxista na teologia católica. Ora, o marxismo é uma filosofia completamente atéia e materialista e não se coaduna com a religião católica. Porque o marxismo não vê no homem uma criatura de Deus com corpo e alma, portanto com necessidades materiais e espirituais e que deve dar "glória a Deus" e com isso trazer felicidade sobre a terra.
Folha Online - O senhor vai à missa? Em qual igreja?
Dom Luiz - Vou à missa aos domingos em uma igrejinha particular aqui no bairro.
Folha Online - O senhor é solteiro?
Dom Luiz - Sou solteiro, mas a questão da sucessão está assegurada pelo meu irmão dom Antonio. Meu irmão dom Bertrand é solteiro também. Mas dom Antonio tem quatro filhos --dois varões e duas mulheres-- e tenho uma outra irmã casada com dois filhos também. A sucessão está largamente assegurada. Era preciso haver uma catástrofe que matasse todo mundo [para não haver herdeiros ao trono].
Folha Online - O princípio da igualdade de nascimento ainda existe? Ou seja, os príncipes só se casam com princesas --e vice versa-- se não eles tiverem de abrir mão da herança dinástica?
Dom Luiz - Na Casa Imperial do Brasil sim. Pelo seguinte: normalmente todo príncipe é educado não tanto em função de seus próprios interesses mas em função dos interesses de seu país e de seu povo. E os maridos têm de estar de acordo. E se fizer um casamento com uma pessoa que não foi educada desse jeito pode trazer uma série de complicações, erros e uma série de problemas. E para o bem do país, é preciso que eles sejam casados entre famílias principescas.
Folha Online - E foi uma opção do senhor não casar?
Dom Luiz - Foi, para poder me dedicar à causa monárquica no Brasil e os interesses da nação pátria.
Folha Online - Então o que o senhor pensa sobre a forma com que o nosso país está sendo governado?
Dom Luiz - Eu acho que é só abrir os jornais pra ver. [risos] Hoje o jornal que eu leio normalmente tem páginas e páginas sobre a questão dos tais cartões de crédito [do governo federal]. Eu pergunto: Isso é um bom sintoma? Houve escândalos no ano passado um atrás do outro. Eu pergunto: Está certo isso? Nós temos ameaça de um apagão por falta de energia e por falta de investimentos em infra-estrutura. Eu pergunto: Isso é favorável ao Brasil? A república trouxe consigo um perecimento da moralidade pública e política e nós chegamos ao auge hoje em dia.
Folha Online - E qual o futuro que o senhor vê para o Brasil?
Dom Luiz - Eu vejo o Brasil numa situação bem grave hoje em dia mas com recursos ainda --recursos de alma do povo brasileiro e naturais quase inesgotáveis-- e com a possibilidade de sair da crise em que se encontra e se tornar realmente um país de primeiro plano no mundo inteiro. Agora, é preciso uma série de reformas e de limpeza em toda a nossa política e nossa vida pública.
Folha Online - Mas o senhor acha que é necessário mudar apenas os personagens ou o sistema político?
Dom Luiz - Eu acho que a monarquia ajudaria enormemente a resolver os problemas. Pelo seguinte: o soberano não é eletivo e, portanto, não está vinculado nem a partidos nem a grupos de interesses e nem a forças econômicas. O seu interesse é o interesse da nação. Por uma razão muito simples: se ele governar bem, quem vai se aproveitar disso é ele mesmo e seus filhos. Se ele governar mal, o castigo cai sobre ele mesmo e seus filhos. Quer dizer, o interesse do soberano e da nação formam um só e não há essa preocupação que há na república da próxima eleição. Isso não existe na monarquia. Mais uma vez eu digo: o interesse do rei e do imperador é uno com o interesse da nação e isso é uma coisa que tem também a capacidade de moralizar toda a política porque ele se torna um exemplo incorrupto e incorruptível para toda a nação. E por via de conseqüência, toda a máquina política a estrutura da nação se torna moralizada. Com isso, os problemas do país se resolvem muito mais facilmente sem que entrem rixas entre partidos políticos ou grupos de interesses. O soberano é um árbitro, é um juiz imparcial que pode ajudar a harmonizar tudo isso.
Folha Online - O senhor acredita que a monarquia possa mesmo voltar ao Brasil?
Dom Luiz - Eu acho que sim e vou lhe dar um exemplo. Houve um plebiscito em 1993 [para que os brasileiros opinassem sobre a volta da monarquia] e nós tivemos 13% dos votos válidos. Entretanto, isso foi realizado em condições muito pouco propícias, porque quando foi proclamada a república o governo provisório disse que convocaria um plebiscito para ver se o povo brasileiro queria continuar com a monarquia ou aceitar a república. E ele esperou 99 anos para realizar isso. E não só isso: estabeleceu nas sucessivas constituições uma cláusula pétrea que rezava que não se podia pôr em causa a forma republicana de governo. Ora, depois de 99 anos começar tendo mais de 10% dos votos válidos é um colosso para qualquer corrente de opinião. É preciso dizer que quando houve a Constituinte eu escrevi para os deputados e senadores uma carta mostrando como essa cláusula pétrea era antidemocrática e contrariava os princípios que aqueles parlamentares diziam defender. Eles foram sensíveis a esses argumentos e aboliram a cláusula pétrea. Convocaram o plebiscito, mas não foi feito em igualdade de condições. Primeiro pela falta de tempo para organizar os monarquistas. O Brasil é imenso e meus irmãos e eu percorremos esse país de norte a sul e de leste a oeste. Em segundo lugar, o tempo de preparação [do plebiscito] foi encurtado em vários meses: de 7 setembro para 21 de abril. Em terceiro lugar, os meios de comunicação praticamente só se falava de duas das três opções. Havia três opções: República parlamentar, República presidencialista e Monarquia parlamentar. E só se falava praticamente em República parlamentar e República presidencialista. A forma monárquica de governo foi posta de lado. Não só isso, estava previsto no decreto de convocação do plebiscito que cada corrente tivesse um espaço gratuito [de propaganda] na televisão. Entretanto, meus irmãos e eu não pudemos aproveitar desse espaço.
Folha Online - Por que?
Dom Luiz - Por causa de manobras etc. e a coisa foi... Nós impetramos um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal e aquilo foi protelado para depois do plebiscito.
Folha Online - Mas teve propaganda dos monarquistas na TV...
Dom Luiz - Sim, teve, mas por correntes que não eram inteiramente de acordo com as nossas idéias e ideais. E foi muito fraca. O fato de o herdeiro do trono e seu sucessor imediato não poderem aparecer foi realmente uma arbitrariedade colossal.
Folha Online - Foi o dom Gastão que apareceu na propaganda?
Dom Luiz - Não, foi um sobrinho dele. Eu não pude aparecer, mesmo sendo chefe da Casa Imperial do Brasil.
Folha Online - Mas se o senhor era o chefe da Casa e herdeiro dinástico por que não pôde defender a monarquia no plebiscito? A família do dom Gastão conseguiu alguma decisão judicial?
Dom Luiz - Não, não [teve decisão judicial]. Ele foi favorecido por certas correntes do parlamento, por alguns políticos.
Folha Online - O senhor acredita que isso prejudicou o plebiscito?
Dom Luiz - Enormemente. E depois uma campanha contra a monarquia tremenda. Corria tudo que era boato: que seria restabelecida a escravidão, como se não fosse a monarquia que aboliu a escravidão. Os maiores absurdos e nós não pudemos interceder. Apesar disso, [tivemos] 13% dos votos válidos e uma coisa que não se sabe é que mais de mais 50% dos votos foram nulos ou em branco. De onde vem isso? O povo brasileiro é esperto, intuitivo, inteligente e percebeu que o jogo estava falsificado então se absteve.
Folha Online - Ainda assim o senhor acredita que a monarquia possa voltar?
Dom Luiz - Acho que sim. Não hoje, mas amanhã, a médio-longo prazo, pode voltar. E eu acho que vai voltar. Por causa da insatisfação do povo, porque há --não só no Brasil, mas no mundo inteiro-- uma tendência a voltar às antigas tradições aos antigos modos de ser uma moralidade mais severa. Uma corrente muito forte tanto no Brasil como no exterior. E essa corrente no Brasil pode ser determinante num certo momento. Poderia ser um novo plebiscito, depende muito das circunstâncias. Uma coisa que nós não queremos é um golpe de Estado porque um golpe de Estado sujeita o soberano à facção que o pôs no poder e ele perde sua independência e o carisma próprio da monarquia.
Folha Online - O senhor alguma vez foi consultado pelos governos brasileiros?
Dom Luiz - Não. Normalmente os governos republicanos são ultradiscriminatórios. Eles nunca consultam as casas reais ou imperiais.
Folha Online - Também existe preconceito de achar que as casas imperiais são retrógradas?
Dom Luiz - Pode ser isso também. Mas existe o medo que a opinião pública perceba que há algo diferente no país.
Folha Online - E como ficou a disputa pela herança dinástica com a família de dom Gastão?
Dom Luiz - Praticamente não existe mais dúvida. No Brasil inteiro eu sou reconhecido como chefe da Casa e herdeiro dinástico. Esse é um problema que eu preferia não entrar nele porque são problemas familiares. Hoje em dia está completamente resolvido. Não há dúvida nenhuma em lugar nenhum.
Folha de São Paulo
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Entrevista com D. Bertrand de Orleans Bragança
E aqui está uma entrevista com o irmão de D. Luiz, D. Bertrand
Entrevista - DOM BERTRAND DE ORLEANS E BRAGANÇA
Publicada: 12/10/2008
Texto: Andréa Moura
Aracaju recebeu até a última quinta-feira a visita do segundo herdeiro dinástico do trono brasileiro, o príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança, trineto do imperador Dom Pedro II, bisneto da princesa Isabel, a redentora, e filho do príncipe Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança (1909-1981). A convite da Universidade Federal de Sergipe, foi um dos palestrantes da Semana de Direito que a instituição realizou. Aos 67 anos de idade, a alteza imperial fez dois discursos, cuja linha condutora foi o direito e a história. Entre os compromissos assumidos na cidade, Dom Bertrand encontrou tempo para conversar com o JORNAL DA CIDADE, oportunidade em que mostrou grande simpatia pela capital brasileira da qualidade de vida, falou sobre suas palestras, avaliou o governo Lula, criticou o MST, desaprovou a República e deixou claro a sua esperança em ver a monarquia restaurada no país.
w JORNAL DA CIDADE - O senhor veio a Sergipe para participar de um seminário promovido pela Universidade Federal de Sergipe. Sobre o que o senhor falou?
DOM BERTRAND DE ORLEANS E BRAGANÇA - Sim. Fui convidado para fazer duas palestras na UFS. Uma a propósito dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil e a outra sobre o futuro promissor que o Brasil tem pela frente, mostrando que o país tem um futuro extraordinário, com uma gama de oportunidades como nunca teve na história.
w JC - Me fale um pouco mais sobre suas duas palestras.
DBOB - A primeira mostrou que se houve um personagem que foi injustamente ridicularizado no Brasil este foi Dom João VI. Dizem que era uma pessoa gorda, preguiçosa e glutona. Isso não é verdade. Na realidade, ele foi talvez o maior estadista que tivemos na nossa história. Se não fosse ele o Brasil hoje seria um conjunto de republiquetas e não um país de dimensões continentais. Isso nós devemos a Dom João VI, bem como o Brasil uno e forte que temos hoje em dia. E Dom João VI era um corisco muito sagaz, a tal ponto que Napoleão Bonaparte o odiava e dizia que ele foi o único rei que o enganou, quando da sua vinda ao Brasil. Dom João VI deixou Napoleão, no sentido literal da palavra, a ver navios.
w JC - Está havendo uma mudança de percepção?
DBOB - Ainda bem que estamos vendo uma brilhante reabilitação de Dom João VI, pois hoje em dia os brasileiros reconhecem que devemos a ele muitas coisas boas. Nunca se festejou tanto uma data quanto agora, o segundo centenário da vinda família real portuguesa. Basta comparar os fatos. Na ocasião do primeiro centenário da Proclamação da República houve só um ato em Brasília, com 40 pessoas, incluindo o presidente, ministros e poucos convidados. Fora esta, ninguém lembra qualquer tipo de comemoração, até porque não tinha muito o que se comemorar. Agora com essa questão da simples chegada dele ao Brasil tem havido atos oficiais de governo, em todas as esferas, e também organizados por entidades, de norte a sul do país.
w JC - E sobre o que foi sua segunda palestra?
DBOB - Na segunda procurei fazer um retrospecto da nossa história, mostrando todo o passado glorioso que tivemos e mostrando como hoje temos perspectivas muito boas, não só pelas dimensões continentais da nossa pátria, pelas nossas reservas minerais fabulosas e potencial agrícola extraordinário, mas também, e sobretudo, pelo povo brasileiro, que é bom, afetuoso, empreendedor e que tem o desejo de fazer esse país ir para a frente.
w JC - Explique melhor seu ponto de vista.
DBOB - A prova de tudo isso que falo é que o Brasil vai sempre superando todas as crises econômicas e políticas que temos e tivemos, que dá sempre um passo a diante. Falei que hoje se apresenta para nós uma janela de oportunidades simplesmente fabulosa. Fala-se muito da crise alimentar do mundo e o Brasil, sozinho, tem a possibilidade de alimentar o planeta inteiro, toda a população do mundo, pois o potencial agrícola do país é fabuloso. Fala-se do bio-combustível. Com a cana-de-açúcar, o Brasil tem uma solução energética que nenhum outro lugar tem. Possuímos uma solução limpa, mais econômica que o petróleo, e sem falar que a cana é uma das plantas que menos esgotam a terra. Basta dizer que no aqui Nordeste se planta cana há 500 anos e não esgotou a terra. Sabe por quê? Porque o açúcar e o álcool são oxigênio, nitrogênio e carbono, três elementos que a planta retira do ar. A terceira janela de oportunidades do Brasil é o petróleo, ainda mais agora com as novas descobertas, que por sinal não datam do governo Lula, pois antes dele já se sabia perfeitamente da existência dessas reservas petrolíferas. Agora as estão anunciando a cada escândalo que acontece com o intuito de encobrir o assunto.
w JC - E por que essas reservas nunca foram exploradas?
DBOB - Porque não se tinha desejo de fazer sensação, porque de fato essas reservas só vão ser exploradas seriamente dentro de 10 ou 15 anos, tempo necessário para que se comece mesmo a ter resultado de alguma coisa. Agora estão retirando poucas gotas de petróleo da reserva do pré-sal, mas não é uma exploração comercial, como será possível dentro de 15 anos.
w JC - Já que o senhor tocou no assunto Lula, qual sua avaliação da gestão do presidente e das declarações que vem dando ultimamente, a de que dentre as preocupações do próximo presidente está a de superar o feito de um sindicalista, com pouca escolaridade e que conseguiu colocar o Brasil “nos trilhos”, ter pago a dívida externa e fazer com que o país tenha superávit?
DBOB - Lula teve a esperteza de não mudar o plano econômico do governo anterior e aproveitou-se de um momento muito bom da economia mundial. Com isso, o Brasil de fato consolidou sua economia, mas vejo com muitas preocupações alguns aspectos do governo Lula, como, por exemplo, toda a questão das reservas indígenas, todas as questões da reforma agrária, problemas que estão engessando o país. Segundo estudos da Embrapa, se forem aplicadas todas as leis referentes a esses assuntos, que já estão aprovadas, o Brasil vai ficar absolutamente engessado. O próprio ministro da Agricultura do governo Lula disse que teme mais o fim da agricultura do que o fim da Amazônia. São tantas leis ambientais, de reforma agrária etc, que o país vai ficar totalmente paralisado em matéria agrícola. Ou seja, esse potencial fabuloso que temos de fazer do Brasil o celeiro do mundo está paralisado por conta de uma legislação completamente absurda. Sob a questão da reforma agrária estamos na total contramão da história. No mundo inteiro estão sendo revogadas as leis de reforma agrária, como aconteceu na Rússia, no México, no Chile e em Portugal. Só aqui que insistimos nessa solução fracassada no mundo inteiro. Aqui também foi fracasso, pois o resultado dessas reformas foi um só: favela rural. Um desastre total.
w JC - E qual seria a saída?
DBOB - Favorecer o agro-negócio. Dizem que a reforma agrária é necessária para resolver o problema do desemprego. Mas veja: este ano, segundo dados oficiais do governo federal, só a agropecuária, não o agro-negócio, criou 1,1 milhão de empregos novos, enquanto a reforma agrária, que gastou bilhões de reais a fundo perdido, assentou, no máximo, 60 mil famílias. Então, onde está a solução, no agro-negócio, na agricultura, na agropecuária de livre iniciativa ou na reforma agrária? E essas famílias assentadas? Todos sabem que apenas 10% ficam na terra que ganham e o restante vai invadir outros terrenos.
w JC - O governo estaria sendo, então, um pouco paternalista, principalmente com o MST?
DBOB - O MST é um movimento subversivo, porque invadir terra é subversão, é espúrio, seqüestrar fazendeiro é espúrio, queimar fazenda é crime. Tudo o que falei é crime e tudo isso o MST faz. Então, esse é um movimento criminoso e não entendo por que não se aplica a lei.
w JC - O governo Lula estaria, então, tratando as minorias, como ele chama, de uma forma que vai muito pelo caminho de dar o peixe e não de ensinar a pescar?
DBOB - Acho que é exatamente isso, principalmente com essas questões de bolsa família e reforma agrária. Com isso, ele está viciando as minorias a não enfrentar a vida seriamente. É claro que tem de haver alguns programas, como o seguro desemprego, para um caso de situação de emergência, mas não pode viciar o povo, não pode dar milhões em cesta básica e em bolsa família porque se sabe, de acordo com estudos sociológicos, que uma pessoa que deixa de trabalhar durante um ano nunca mais vai trabalhar na vida. Isso acontece porque ela perde o ritmo da vida. Portanto, do jeito que o governo está agindo está criando uma série de desocupados. Um exemplo disso: no oeste da Bahia está faltando mão-de-obra no campo, porque o pessoal não quer trabalhar de carteira assinada para não perder o bolsa família. Acham melhor ganhar uma miséria do programa do que trabalhar no campo e ganhar muito mais.
w JC - Houve uma inversão de valores?
DBOB - Sim.
w JC - O senhor já esteve em Sergipe outras vezes?
DBOB - Várias vezes. Gosto muito de Aracaju e fico impressionado como a cidade tem progredido ultimamente. Me recordo que a primeira vez que estive aqui, ainda na década de 80, Aracaju era uma cidade provinciana, pequenininha, mas muito bonitinha. Hoje em dia tem um progresso impressionante. Fiquei admirado com as avenidas, com as perspectivas, tudo bem arborizado, bem pintado, limpo e com jardins bonitos. Aracaju está uma cidade realmente encantadora.
w JC - Me fale um pouco sobre sua vida. Faça uma pequena auto-biografia.
DBOB - Nasci no exílio, numa cidade no sul da França, porque minha família foi exilada por conta da Proclamação da Republica. Vim para o Brasil com quatro anos de idade, passei toda a minha infância e a juventude numa pequena fazenda no norte do Paraná, em Jacarezinho. Era uma fazenda com 63 alqueires, onde meu pai, Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança, criou seus 12 filhos. Tivemos que trabalhar na fazenda. Lembro que ainda menino distribuía leite na cidade e ajudava na colheita do café, o que para nós foi muito conveniente, pois dessa forma tivemos a chamada escola da vida. O fato de trabalhar, conhecer os problemas do campo, os problemas do povo, de sentir a penúria do povo é muito informativo e agradeço a Deus o fato de ter trabalhado nisso. Papai voltou ao Brasil praticamente com a roupa do corpo, porque com a República confiscaram todos os bens da minha família. Só saí da fazenda quando fui para São Paulo estudar na Faculdade de Direito, onde me formei em 1964, na antiga universidade do Largo São Francisco.
w JC - E a que o senhor se dedica atualmente?
DBOB - Tenho me dedicado, sobretudo, a dois aspectos. O primeiro é à coordenação nacional do movimento “Paz no Campo”, que visa criar uma situação de harmonia no campo para que o Brasil possa realmente progredir e evitar todas as tensões sociais que paralisam os agricultores, portanto, é um movimento muito contra a reforma agrária. Eu desafio qualquer economista, sociólogo e agrônomo a me apresentar uma reforma agrária, na história do mundo, que tenha dado certo. Todas foram um fracasso absoluto e no Brasil não seria diferente. Para você ter idéia desse fracasso, te dou só um exemplo: o Brasil tem 67 mi de hectares de agricultura, entre perene e animal, e isso garante 40% do PIB brasileiro e 37% das exportações, o que garante a nossa balança comercial. O Brasil tem 68, milhões de hectares de reforma agrária. Já viu no jornal alguma estatística a respeito da produção de reforma agrária? Te respondo: nenhum! Fracasso total! Favela rural! Agora pergunto: valeu a pena? Gastaram bilhões de reais com isso, dinheiro que foi literalmente jogado na lata do lixo.
w JC - Existem outros projetos?
DBOB - Sim. O outro aspecto da minha vida dedicado ao movimento monárquico, ato desenvolvido juntamente com meu irmão mais velho, o príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, chefe da Casa Imperial hoje em dia e herdeiro do trono. O movimento tem em vista criar um movimento cultural monárquico mostrando para o Brasil que existe uma solução para a situação de hoje, que é a restauração da Monarquia, porque o período áureo da história do país foi durante o regime monárquico, e isso ninguém nega. Com a República veio o desastre que vemos atualmente, os golpes de Estado, revolução, denúncias contra presidentes, escândalos de todos os tamanhos, roubalheiras como nunca houve. Ruy Barbosa, que foi autor do decreto de Proclamação da República, depois arrependido dizia que durante a Monarquia o parâmetro era uma escola estadista e com a República transformou-se numa praça de negócios. Não sei o que ele diria hoje se conhecesse Brasília. Durante o período de crise na Grécia, o filósofo Sócrates foi questionado sobre o deveria ser feito para voltar a ter felicidade e ele deu uma resposta típica de um filósofo, mas genial: façam aquilo que faziam quando era felizes. No Brasil, houve prosperidade, honestidade e era unificamente estável com a Monarquia. Na República vieram todas as crises, então, se perguntassem a Sócrates o que deveríamos fazer para melhorar, ele responderia a mesma coisa.
w JC - Então a Monarquia seria o fim de todos os problemas do país?
DBOB - Sim. Se hoje em dia formos ver no panorama mundial, quais as nações mais prósperas, veremos que são todas monárquicas. Das 25 nações mais ricas do planeta, 18 são monárquias. Das 40 democracias autênticas, segundo as nações unidas, 28 são monarquias.
w JC - E como seria, no Brasil, a monarquia do século XXI, porque o país tem a peculiaridade de fazer as coisas um pouco diferente do que é realizado no resto do mundo.
DBOB - A primeira coisa a ser feita seria a de não querer copiar as outras monarquias existentes, porque não devemos fazer o erro de copiar os outros, teríamos de ver o que deu certo na nossa história, ver quais as necessidades de adaptações para os dias atuais e projetar isso para o futuro. Seria uma Monarquia constitucional, com poder moderador, como nos tempos de Dom Pedro II, respeitando três princípios fundamentais que garantem a normalidade sócio-econômica de uma nação. Agiríamos respeitando a livre iniciativa, a propriedade privada e o princípio do Estado só fazer o que a iniciativa privada não fosse capaz de realizar.
w JC - Como está o movimento atualmente?
DBOB - Tem um bom número de adeptos. Temos dois congressos anuais, um regional e um brasileiro. O movimento vem crescendo muito, sobretudo por conta da existência, nos brasileiros, de uma espécie de frustração com a República. Hoje em dia não existe um brasileiro que afirme que ela deu certo.
w JC - Há quanto tempo existe esse movimento?
DBOB - Desde que a Constituição atual permitiu, em 1988. Se houve uma corrente política no Brasil que teve seus direitos cassados, foi a Monarquia. O decreto número um da República, de 1889, dizia que estava provisoriamente proclamada a República e prometia no artigo sétimo do decreto número um que seria feita uma consulta popular para saber se o brasileiro queria de fato esse regime de governo. Vendo que perderiam o plebiscito, ao invés de realizar a consulta o decreto número 85A, de 23 de dezembro de 1989, pôs os monarquistas fora da lei, exclusão que permaneceu até 3 de outubro de 1988, com a promulgação da nova Constituição.
w JC - Onde seria a capital da Monarquia? O Rio de Janeiro voltaria a ter destaque? Qual a linha sucessória da coroa?
DBOB - Não vejo motivo agora para mudar de Brasília, não digo que sua construção tenha sido acertada, mas agora, nas atuais circunstâncias, fazer uma nova mudança da capital seria o mesmo que criar uma série de problemas, despesas não convenientes no momento. O herdeiro da coroa é meu irmão mais velho, Dom Luiz de Orleans e Bragança, que possui 70 anos de idade. Depois dele venho eu e em seguida nosso irmão, João Antônio. Depois viriam os filhos do meu irmão e assim sucessivamente.
http://2008.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=16131
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