Mello Vaz de São Payo

MELLO VAZ DE SÃO PAYO - Dúvidas

Já lá vão mais de trinta anos q. um conceituado genealogista colocou reticências, de algum modo severas, às resenhas de apresentação desta velha família, nos ANP.s de 1950 e 1964. Se bem me lembro, não só este título era questionado, bem como alguns outros, nas ditas resenhas genealógicas destes anuários. A questão da chefia dos Pinto e dos Pimentel, provocou igualmente nesses já remotos anos, acaloradas discussões em serões familiares e não só, pois o assunto saltou para as “Armas e Troféus” então já na sua 2ª série, dirigida pelos muito eruditos Marquês de São Payo, Domingos Affonso e Campos e Sousa. Entrava-se então nos anos 60 e cada fascículo mostrava o exorbitante preço de 50 mil reis, por fascículo! (convirá lembrar que os diários custavam 10 tostões, um papo-seco, ou moulette de trigo, 40 centavos e as sardinhas eram à coroa, cada...)
Partindo do principio de que onde há fumo, há lume, comunguei tb. dessa desconfiança, chegando mesmo a generalizá-la a todas as outras resenhas apresentadas...
Agora e a propósito da bola azul em Lopo Vaz de Sâo Payo, 9º Governador da Índia (o qual, por grande intriga e maior injustiça feita no Terreiro do Paço, não chegou a ser Vice-Rei, como fora suposto) retomo o estudo das origens em questão, com toda a literatura q. tenho aqui à mão, e, da mais antiga à mais moderna, nada encontro q. contradiga o q. na essência está publicado nos ditos ANP.s, salvo o cabal esclarecimento (fundamental, acrescentaria) sobre Martinho de São Payo, Infanção, como provindo da Casa de Toledo, conhecimento esse q. virá de 1288. Das muitas obras estudadas (e a propósito rectifico a Luís Amaral/GP, com o pedido de desculpa, q. este título só aparece em “Le Sang de Louis XIV” por via dos respectivos casamentos dos meus queridos primos Luís Vaz de São Payo e Luís Alte da Veiga, netos do tio-Avô, Luiz V SP, Artilheiro e sábio das pólvoras...) uma houve cuja leitura mto. apreciei e q. não resisto a transcrever, parcialmente.


“ Lopo Vaz de Sampaio, Governador, e Capitão mór da Índia, Comendador da Ordem de Cristo, deixou por nobilíssimos feitos de valor, recomendada sua memória á posteridade entre os que mais acreditaram o nome Portuguez. Teve por berço Anciães, villa notavel na Provincia de Traz os Montes, Comarca da Torre de Moncorvo, e por ilustre progenitor a Diogo de Sampaio, Senhor da mesma villa de Anciães, Villarinho, da Castanheira, e Linhares, que se achou com ElRei D. Affonso V, na tomada de Arzilla, e ahi por mão delle armado Cavalleiro, e o acompanhou na batalha de Touro, onde ficou gravemente ferido, e confundido entre os mortos uma noite inteira no campo. Sua mãi chamou-se D. Briolanja de Mello. Pela parte do pai era neto de Rui Lopes de Sampaio, Senhor de Anciães, um dos fidalgos do seu appellido mui acreditado por muitas victorias ganhas contra os Castelhanos, e de Constança Pereira, sobrinha do Conde D. Nuno Alvares Pereira, filha de seu irmão; e pela materna de João de Mello, Alcaide mór de Serpa, Copeiro mór de ElRei D. Affonso V., filho de Garcia de Mello Alcaide mór da mesma villa, e de D. Beatriz da Silveira, filha de Fernão da Silveira, Regedor e Coudel mór. Passados os anos de moço seguiu logo para a escola militar, a que se davam naquele tempo todos os nobres, aspirando á gloria, a que por ella subiram seus antepassados. Seviu onze annos em Africa, para onde tinha partido com D. João de Menezes, Conde de Tarouca, depois Prior do Crato,” ... ... “ Encontra-se já Cavalleiro de Conselho em 1518. no Liv. da Matricula dos Moradores da Casa de ElRei D. Manoel” ... ... “Teve muitas differenças com Pedro Mascarenhas, Capitão de Malaca” ... ... “Era casado já antes de ir para a Índia com D. Guiomar d’Essa, filha de D. João d’Essa Alcaide mór de Villaviçosa, e de D. Maria de Mello filha de Vasco Martins Alcaide mór de Castello de Vide. Foi esta D. Guiomar, Donzella da Duqueza de Bragança D. Izabel irmã d’ElRei D. Manoel, e teve em casamento de promessa da dita Duqueza com Lopo Vaz de Sampaio trinta e cinco mil reis de tença cada anno por tres mil e quinhentas corôas” ... ... “Houve Lopo Vaz de Sampaio só tres filhos: Diogo Lopes de Sampaio, de quem não devia ficar geração, por morrer moço; Gaspar de Mello Sampaio, Mordomo mór da Senhora D. Izabel mulher do Infante D. Duarte, que casou com D. Antonia Henriques, filha de Henrique de Miranda Henriques, Alcaide mór de Fronteira, Commendador da Alcacova d’Evora na Ordem de Avis, que morreu sem sucessão; e D. Mecia d’Essa, mulher de Antonio da Silveira de Menezes, bem conhecido, e famoso pela victoria que ganhou da poderosa armada do Grão Turco no primeiro cerco de Diu, por quem não lhe ficou tambem descendência. Traz o seu Retrato Faria e Sousa nos Comentarios a Camões, e no Tom. I da Asia Portugueza; e as armas explica Antonio de Villasboas em sua Nobiliarchia, onde se pode ver o principio da linhagem dos deste appelido, mui antiga neste Reino”

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Nesta última parte, penso eu, ficam esclarecidos alguns “escrevinhadores genealógicos” (tal como o Nuno Borrego classifica...) q. conseguiram encontrar na actualidade “netos” de Lopo Vaz de São Payo!
Não consigo identificar o autor destas belas e interessantes páginas, pois o livro q. as contem (pertença q. foi do Dr. Alberto Pinheiro Torres) ainda q. muito bem encadernado, a pele inteira, com 4 grossas nervuras, ostenta só o título de “Apontamentos Historicos” , sem ante-rosto, rosto, facio ou post-facio. Nada identifica o autor. Foi impresso em Lx., 1831, na Typografia de Bulhões. Aparenta serem dois volumes distintos, mas juntos. Não tem valor bibliográfico.

Em verdade, por esclarecer fica a ligação de Martinho de São Payo, Infanção com a ilustríssima e nobilíssima Casa de Toledo, o q. muito me entristece...

Manuel Maria de Magalhães

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