O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

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O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

#254662 | PBL | 13 may 2010 22:56

Caros Confrades,
O que representa uma casa de lavoura que produz por ano comum 40.000 réis em 1760. Será este um valor avultado para uma casa agrícola?
Cumprimentos,
PBL.

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RE: O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

#254663 | tmacedo | 13 may 2010 23:14 | In reply to: #254662

Caro PBL:

É um valor muito baixo, são cem cruzados. Esse era o valor médio aproximado de uma pipa de vinha do Douro ao longo do século XVIII.

Cumprimentos,

António Taveira

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RE: O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

#254674 | PBL | 14 may 2010 02:39 | In reply to: #254663

Caro António Taveira,
Muito obrigado pela resposta.
Também me parece um valor baixo.
Já agora num outro tópico: " A q correspondem 26.000 cruzados actualmente ", aberto há cerca de 1 ano, e em que participou, já se tinha aflorado este tema do dinheiro.
Aproveito para lhe dizer que as três maiores casas de Vila Franca de Xira em 1816 eram as do Capitão-Mór da vila António Feliciano de Sousa, futuro Barão de Vila Franca de Xira, avaliada em 300.000 cruzados, a do capitão José António da Silva avaliada em 100.000 cruzados, e a herança do falecido Prior da Ordem Terceira do Carmo, o Rev.º Padre João Pinheiro de Lemos, avaliada em 50.000 cruzados, documentado como: "pessoa rica..."
Será que estas casas ficariam muito aquém das casas mais abastadas da côrte?
E estes homens considerados homens ricos da vila, na côrte não passariam de remediados?
Afinal de contas o antedito Barão de Vila Franca vivia num palácio onde chegou a receber o Rei D. Miguel I, e o Rev.º Padre João Pnheiro de Lemos era Sr. de uma grande quinta onde provavelmente receberia com muita dignidade.
Cumprimentos,
Pedro Borges de Lemos.

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RE: O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

#254675 | tmacedo | 14 may 2010 02:59 | In reply to: #254674

Caro Pedro Borges de Lemos:

"Fortunas" de 50.000 cruzados são correntes no início do século XIX, equivaleriam a cerca de 20 contos de reis. Em todas as freguesias do Douro, que conheço bem, havia famílias com património superior. Já 300.000 cruzados, cerca de 120 contos, era uma fortuna considerável. Se rendesse 5%, valor razoável para aquele tempo, originaria um rendimento anual de 6 contos de reis. Um valor interessante mas muito distante das casas mais abastadas da corte. Para ter uma ideia, o marquês de Pombal lucrava mais por ano com Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro pela venda dos seus vinhos de Oeiras...Este barão de Vila Franca, na Corte seria remediado.

Cumprimentos,

António Taveira

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RE: O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

#254684 | PBL | 14 may 2010 12:08 | In reply to: #254675

Caro António Taveira,
Lembremo-nos q as famílias mais ricas do Ribatejo ou Estremadura não terão os mesmos rendimentos das famílias mais abonadas do Douro, onde a produção de vinho era muito rendosa.
Como lhe disse estas eram as supostas 3 casas mais "ricas" de Vila Franca, sendo o detentor da menos abastada documentado num instrumento de testemunhas como "pessoa rica", como referi.
Provavelmente para Vila Franca no início do século XIX 50.000 cruzados correspondiam a uma fortuna considerável, tendo em conta a região e comparativamente às restantes casas da vmesma vila, não lhe parece?
Cumprimentos,
Pedro Borges de Lemos.

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RE: O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

#254725 | tmacedo | 15 may 2010 10:11 | In reply to: #254684

Caro Pedro Borges de Lemos:

De facto não conheço a realidade passada no Ribatejo ou Estremadura. No entanto faz-me alguma espécie a diferença entre a 1.ª (300.000 cruzados), a 2.ª (100,000 cruzados) e a 3.º (50.000 cruzados). Não sei se a fonte que as refere é a mesma.

Gostava de lhe fazer duas observações. Muitos dos maiores proprietários de Vila Franca Xira viveriam em Lisboa, não aprecendo entre as casas mais ricas da vila (ao contrário do que acontecia no Douro). Por outro lado, devemos distinguir entre bens imóveis e capital circulante. Não havendo bancos, as pessoas recorriam a empréstimos de particulares que tinham a fama de "ricos" a troco de juros. Alguns destes nem tinham grandes propriedades e, por sua vez, chegavam a emprestar dinheiro a quem as tinha. Era muito difícil calcular a fortuna destes particulares, só eles a conheciam. A "vox populi" encarregava-se de espalhar a sua fama atraindo novos necessitados. Julgo que só cerca de 1840, com a definição dos 40 maiores contribuintes por concelho, se pode aferir com rigor da dimensão dos bens imóveis de cada um. Dos móveis não reza a história.

Cumprimentos,

António Taveira

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RE: O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

#254728 | PBL | 15 may 2010 12:55 | In reply to: #254725

Caro António Taveira,

Fundamentei-me únicamente na relação dos elegíveis para a vereação do concelho de Vila Franca para o triénio de 1814-1816 (16 homens) que se presume serem os mais abonados da vila. E nessa relação constam desde aqueles que têm de seu 8.000 cruzados até 300.000 cruzados. Mas, as 2 maiores casas são as que lhe referi (300.000 e 100.000). Quando refere que os proprietários das casas mais ricas viveriam em Lisboa, só me posso lembrar, à época, do negociante de grosso trato Joaquim Pedro Quintela (feito mais tarde Barão de Quintela) que por escritura de 1801 instituiu o morgadio de Quintela na quinta do Farrobo sita em Vila Franca de Xira. Com certeza haveria mais casas titulares com propriedades nesta vila, mas, quando falamos apenas de nobreza ordinária e distinta, e deixamos de parte as grandes casas titulares, concluimos que, nesta época e região, não viveria com avultados cabedais a avaliar pela lista dos elegíveis e seu património.
Passados 200 anos é difícil avaliar a "fortuna" de cada um, pelo que nos resta o que nos chegou e que os documenta como "ricos" com todo o relativismo que esta qualificação encerra.

Cumprimentos,

Pedro Borges de Lemos

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RE: O que representa 40.000 réis por ano comum em 1760

#254729 | tmacedo | 15 may 2010 13:22 | In reply to: #254728

Caro Pedro Borges de Lemos:

Como lhe disse só conheço a realidade passada do Douro. Num concelho em concreto tenho cruzado as informações das listas eleitorais (com os 40 maiores contribuintes e as suas respectivas contribuições) com os inventários orfanológicos (com descrição de todos os bens). É impressionante o nº destes inventários. Havia por norma muitos filhos e a perspectiva de vida era incerta. Assim uma grande parte dos bens são registados nalgum inventário: um pai ou mãe que morre cedo, um avô que morre (sendo herdeiro um neto menor) etc.. O meu conhecimento do terreno, das casas, famílias e quintas vai compondo o quadro.

Cumprimentos,

António Taveira

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