Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Por: Teodosio Muñoz Molina*
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Eram tão orgulhosos, por exemplo, que cada família pintava a casa da mesma cor que seus pais. E não sabiam que a cor das casas era uma alusão às suas origens, o sangue que haviam herdado de seus antepassados junto com as casas. Não sabiam que, muitos séculos atrás, os normandos tinham por costume pintar as casas de branco, enquanto os gregos utilizavam sempre o azul, e os árabes distintos tons de rosa e de vermelho. Os judeus por sua vez usavam o amarelo. Contudo, todos eles se consideravam sicilianos. Os sangues haviam sido tão mesclados no decurso dos séculos que já não se podia identificar o proprietário de uma casa por suas feições e, se alguém tivesse dito ao dono de uma casa amarela que tinha antepassados judeus, poderia terminar com uma navalhada no ventre.
O texto acima, de “O siciliano”, de Mário Puzzo, parece nos comprometer a todos. “Os sangues se mesclaram tanto no decurso dos séculos" que escassos mortais sabem quem foram os seus antepassados em 1512, e muito menos em 1250, e nem falar de 711.
Teria reagido Mussolini também com uma navalha se alguém se atrevesse a recordar-lhe que no século XIII, em Veneza, existiu um judeu de nome Mussolini? Na relação de sobrenomes judeus, publicada na Itália durante o fascismo, não figura nenhum Hitler, mas vários Heitler e Hittler, nenhum Goebbels, mas sim um Goebel e sem deformação ortográfica alguma, outros judeus cujos sobrenomes coincidem com os de vários chefes do nazismo: Rosenberg, Frank, Naumann, Schroeder, Pohl (general das SS), e Wolf (outro de idênticas funções).
E como haveria reagido Hitler de ter-se inteirado de que em 1933, um judeu polonês chamado Moisés Hitler decidiu mudar seu sobrenome para evitar a mínima coincidência com o verdugo de seu povo? A lista não se esgota aí. Teríamos que estar muito atentos à reação de muitos (e não é raro que militem no anti-semitismo) ainda que não sejam sicilianos, se recorressem ao rápido argumento da navalha ou do revólver caso lhes lembrássemos dos seus antepassados das doze tribos. Para que ninguém se sinta tentado a jogar a primeira pedra, é conveniente recordar nomes que alguma vez tiveram a ver com a lei mosaica: Álvarez, Ibañez, Gómez, Fernández, Estévez, Díaz, Heredia, López, Hernández, Méndez, Menéndez, Míguez, Láinez, Nuñez, Suárez, Rodríguez, Ruiz, Pérez, Velázquez, Jiménez, etc.
A relação continua com os nomes de batismo que figuram como patronímicos em qualquer das nações européias e se iniciou com o costume dos judeus que se batizavam ao adotar o nome do padrinho cristão. As águas batismais aumentavam o número de cristãos, mas eram incapazes de apagar a origem do converso. Estes nomes individuais podem vir precedidos ou não da preposição "de": Diego, Nicolás, Miguel, Frank, Franco, Martín, Martino, Albert, Alberti, Michele, Michelet, Micheletti, Michelin, Pierleoni, Pierangeli, Gaspar, Jacob, Michaelis, Benedetto, Benedetti, Guglielmo, Guglielmi, Guglielmini, Jacquart, Jacquet, Bernhardt, Bernardi, Robert, Roberts, Alessandri, Alexander, Giacomo, Giacometti, Simón, Simone, Mattei,
Mateos, Matteis, León, Vicente, Vincenti, Daniel, Danielou, Bertrand, Giovanni, Giovanelli, etc.
Para assegurar-se de um novo protetor no céu, também era muito freqüente entre os judeus conversos, agregar ao nome individual o de algum santo: Santangel, Santa Maria, San Martin, Santa Marina, São José, Saint-Saëns, Saint Chamas, Saint Pierre, Saint Jean, San Juan, etc.
Muitíssimos gentílicos podem remeter também a sobrenomes judaicos desconhecidos ou não: Scott, Langlais, Lallemand, Alemán, Francés, Espanhol, Spagnuolo, Spagnoletti, Catalano, Catalani, Tedesco, Tedeschini, Veneziano, Breton, Lebreton, Lombard, Lombardo, Lombardi, Schweitzer, Pollack, Pohl, Wiener, Berliner, Frankfurter, Hamburger, Ascolelese, Ascolesi, etc.
Como se isto fosse pouco, há que acrescentar os nomes relacionados com as plantas: Cepeda, Cardoso, Espinosa, Carballo, Carballal, Carbajales, Robles, Robledo, Peral, Pereira, Perales, Manzano, Manzanero, Manzanedo, Moreira, Silva, da Silva, Silveira, Pino, Pinedo, Pineda, Piñeiro, Pinheiro, Dupin, Olmos, Olmedo, Noceda, Nocedal, Noguera, Nogueira, Noguerol, Blum, Blumenfeld, Rosenberg, Rosenthal, Lilienthal, Blumenthal, Lafleur, etc. Com preposição ou sem ela, também parecem relacionar-se com a estirpe judaica: Alcalá, Zamora, Berlín, Zaragoza, Meneses, Novara, Paredes, Castro, Ferrara, Sevilla, Montes, del Monte, Delmonte, Belmonte, Montijo, Montejo, Montaña, Montagna, Montanha, Berg, Bergson, Bergmann, Costa, Acosta, Da Costa, Lacoste, Medina, Ríos, del Río, Torres, Torquemada, Aragno, Ascoli, Bassano, Bassani, Fermo, Fermi, Luzazatto, Luzzatti, Mondolfo, Modigliani, Segni, Ravenna, Tolentino, Veroli, Pontecorvo e Tívoli.
Tampouco se livram as particularidades físicas: Moreno, Brun, Lebrun, Brown, Roth, Rojo, Bermejo, Vermelho, Blanco, Branco, Blank, White, Green, Roux, Leroux, Rosso, Rossi, Rousseau, Roussel, Weiss, Black, Nero, Neri, Negro, Braun, Tostado, Crespo, Crespi, Browning, etc.
Muitos irão resistir a aceitar que seu sobrenome, do qual se sente legitimamente orgulhoso, se relacione de alguma forma com o povo de Israel e até poderão perguntar de onde sai tanta conversa mole. Pois bem, nem tanto para tranqüilizá-lo, mas ao contrário, podemos responder-lhe que nenhum dos sobrenomes citados no presente capítulo foi tirado a esmo, sem mais nem menos, e que se quiser convencer-se, pode pesquisar por sua conta, para o que lhe facilitamos as fontes onde pode convencer-se:
Há listas de nomes judaicos de Palermo publicados em 1237. Há listas dos judeus de Paris no século XII. Há uma lista dos judeus de Marselha do ano 1367. Há uma lista de cristãos novos de Provença do ano 1512. Há uma lista dos judeus de Barcelona do ano 1392. Há uma lista dos judeus de Bordeaux do ano 1806. Há um documento que o cardeal de Mendoza apresentou ao rei Felipe II da Espanha que, com o título de “El tizón de la nobleza española” [O tronco da nobreza espanhola], da conta de que há só 48 famílias nobres (e não as mais elevadas) que podem alegar pureza de sangue.
Em princípios do século XX foi publicado na Alemanha um livro chamado “Gotha”, que citava os sobrenomes das casas reinantes, ou que em alguma época haviam reinado. Mas no ano de 1912 também se publicara o “Semi-Gotha”, ou seja, o “Gotha” semítico, onde se informava dos sobrenomes da nobreza européia relacionados com a etnia de Sem. Ao que parece, a intenção de Guilherme II era favorecer as bodas de pessoas da nobreza com judeus, ou judias.
Existem também, em inglês, dois catálogos intitulados “Who is who in the world jewry” [Quem é quem no judaísmo mundial] e “Anglo-jewish Notabilities” [Anglo-judeus de notabilidade], onde, por exemplo, aparecem sobrenomes como Belasco, Franco, Green (nada menos que 15, entre eles um rabino) e mais de 25 Alexander.
E sem pretender o esgotamento da bibliografia, podem ser consultados ainda “La France juive” [A França judaica], de Drumont; “Noms israelites en France” [Nomes israelitas na França], de Paul Lévy; “Los judíos”, de Hilaire Belloc; e “Los judíos”, de Roger Peyrefitte.
Somos então todos judeus desconhecidos? Como sabê-lo? Se alguém ignora quem foram seus tataravôs e os tataravôs de seus tataravôs, é provável que esteja na mesma situação dos sicilianos que pintavam sua casa de amarelo. Os outros, os da nobreza ou das casas reinantes, que têm um minucioso registro de cada ramo da sua
árvore genealógica, sabem muito bem que, em mais de uma oportunidade, as alianças matrimoniais os aparentaram com o povo de Israel.
O mais prudente é ter uma atitude precavida, a não ser que, se padecemos da paixão doentia do anti-semitismo, surja alguém que ao recordar algum próximo ou distante antepassado nosso, pretenda exercer em nós essa mesma paixão enferma. Para curar do espanto aos melindrosos da linhagem, creio ser oportuno citar um texto de Roger Peyrefitte, do seu livro “Los judíos”.
O primeiro de janeiro de 1963, festa da Circuncisão de Nosso Senhor, o general De Gaulle não pensava sem dúvida em seus antepassados, os judeus Kolb. O chanceler Adenauer em seus antepassados, os judeus Adenauer, o presidente da República italiana em seus antepassados, os judeus Segni, o rei da Suécia em seu antepassado, o semi-judeu Bernardotte, o ex-rei da Itália em seus antepassados maternos, os judeus montenegrinos Petrovich Niegoch, o arquiduque Otto de Habsburgo em sua antepassada, a judia Enriquez, mãe de Fernando o Católico, o rei dos belgas em sua antepassada, a judia Pereira, de quem descende sua bisavó Bragança, o príncipe Bernhard dos Países Baixos em sua antepassada a judia Pacheco, a rainha Isabel em seus antepassados maternos, os judeus Bowes-Lyon, o duque de Edimburgo em seus antepassados, os judeus Haucke, o presidente Kennedy não pensava em seus antepassados, os judeus Kennedy, e o vice-presidente Johnson em seus antepassados, os judeus Johnson. Era igualmente duvidoso que, em Louveciennes, o conde de Paris pensasse na judia Pierleoni, de quem descende pelos Bourbons e por Juana de Albret, na judia Älvarez de Toledo, de quem descendem pelos Médicis, e na judia Henríquez, de quem descendem também por Ana da Áustria, nem que a condessa de Paris pensasse na judia Pereira, de quem descende ela também pelos Bragança. Em Havana, Fidel Castro não pensava provavelmente ele tampouco em seus antepassados os judeus Castro; nem em Madrid, o general Franco em seus antepassados, os judeus Franco, nem em Lisboa, o presidente Salazar em seus antepassados, os judeus Salazar. Junto a estes ilustres personagens, glória da conservação do prepúcio, o chefe do Estado de Israel, Ben Zvi, parecia uma figura insignificante e sobretudo fazia o papel de desmancha-prazeres, pois podia dizer a cada um: Acorda!".
* Teodosio Muñoz Molina é o autor do livro: "El enigma de los nombres y apellidos. Su origen y significado", Lidium, Buenos Aires, 1996. O texto é o Cap. II "Entre los judíos", págs. 25 a 28, e foi enviado por Leonardo Cherniak, de Buenos Aires, Argentina, e José Zokner, de Curitiba. Traduzido por Szyja Lorber para o jornal Visão Judaica.
http://www.visaojudaica.com.br/Outubro2005/artigos/17.html
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Muito boa a sua explanação, mas as pessoas não aprendem.
Cumprimentos
mariamoura
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Exato.
Todos, na verdade, e principalmente na velha Ibéria, possuem, além das afinidades linguísticas e culturais, afinidades genéticas, na qual se entrelaçam praticamente tudo e todos.
Melhores cumprimentos,
D.
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro confrade,
Não tenho qualquer dúvida de que a quase totalidade dos actuais portugueses (por exemplo) terá ascendentes judeus e muitos podem comprová-lo; alguns, pelo menos, podem comprovar (como é o meu caso) que tiveram alguns antepassados que se consideravam cristãos-novos (portanto consideravam ter ascendentes judeus convertidos ao catolicismo), tendo-o declarado em processos de que se guardam registos e sendo por tais publicamente reconhecidos.
No entanto é também bem sabido que em Portugal, pelo menos, muitos apelidos foram partilhados por cristãos-novos e cristãos-velhos, não havendo hipótese de, apenas pelo apelido, distinguir uns dos outros; quando muito, em regiões e épocas muito circunscritas (determinada freguesia em determinada época, por exemplo) é por vezes possível suspeitar com alguma razão que determinada pessoa usando determinado apelido será descendente de alguma linhagem com origens cristãs novas, por se ter conhecimento específico da genealogia das famílias dessa região e época e não por qualquer característica própria do apelido.
Como por lei de D. Manuel I os "novamente convertidos" (do judaísmo, do hinduismo, etc.) tiveram a faculdade de escolher para si qualquer apelido por mais nobre que fosse, no momento da conversão, muitos naturalmente o fizeram, pelo que muitos cristãos-novos passaram a usar Castro, Noronha, Silva, Pereira e outros apelidos das linhagens mais nobres da Península Ibérica, sem que isso evidentemente tenha tornado esses apelidos (muito longe disso) exclusivos de cristãos-novos. Muitos cristãos-novos também usaram patronímicos como Rodrigues, Gomes, Fernandes, etc., nesse caso, por maioria de razão, sem que haja a menor hipótese de ligar o respectivo uso, só por si, a uma origem judaica. O mesmo se terá passado nos outros reinos da Península Ibérica.
Muitos judeus oriundos de regiões germânicas usaram (e usam) apelidos partilhados com famílias da Alta Nobreza (como Lichtenstein, Rosenberg, etc.) sem que, obviamente também nesse caso, esses apelidos tenham passado a ser exclusivos de judeus. O mesmo se poderá dizer, em geral dos apelidos "vegetais" como o atrás referido Pereira, Oliveira, etc., que, pelas razões acima aduzidas não têm nada de exclusivamente ou especificamente judeu.
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro confrade António Bivar,
Concordo consigo. Praticamente todos os portugueses possuem, a correr em suas veias, o sangue dos patriarcas, o sangue do Pai da Fé, Abraão. E, certamente, não há como "rotular" alguém tomando como base apenas o apelido familiar que, jamais, conseguiria definir quaisquer tipos de status social-nobiliário-econômico-étnico. Em Portugal, todavia, essa herança judaica é mais nítida e, com certeza, bem mais óbvia que na Espanha, seu irmão ibérico. Isso fica patente ao se comparar as duas nobrezas: a portuguesa é muito mais "aberta", com uma hierarquia razoavelmente desgastada e, talvez, "relaxada" (talvez paradoxalmente, na melhor e na pior acepção da palavra); a espanhola é mais sisuda, altiva, e, por que não?, com uma maior consciência de classe. Isso é, por demais, nítido. Os espanhóis sempre conseguiram esconder melhor e com maior eficiência (vide o filme "Dia de Ira") alguma origem marrana que porventura tivessem. Aliás, tal assertiva fica certamente provada quando nos deparamos com o demasiado apego à suposta e pseudo "pureza de sangue" que nutriam as antigas famílias espanholas. Cristãos Velhos e Novos ainda são termos que, para alguns, permanecem bem atuais, todavia, eis que Mendel "inventou" a genética e esses preconceitos cairam por terra, ao menos oficialmente, pois, oficiosamente, ainda há muito "Grande de España", que meu avô dizia descender de ladrões de cavalo, que torce o nariz (já presenciei tal atitude uma meia dúzia de vezes) quando lhe dizem descender de algum circunciso filho de Jacó.
O mesmo acontece na minha família, posto que, seja na raça espanhola, na portuguesa, na alemã, na francesa ou mesmo na brasileira, a Estrela de Davi acaba dando suas caras no DNA, e, citando como exemplo, anoto nos meus ancestrais desde os Paes Barreto, no Brasil (século XVI e XVII), a um caso mais recente. Meu 7º avô, Oskar Leopold Theodor von Sternberg (1751-1801), casou-se três vezes: a primeira, com Antoinette Françoise de Molleville - sem descendência; a segunda, com Isabelle Adelaïde de Molleville (sendo, as duas, irmãs) - apenas duas filhas; e a terceira com minha 7ª avó Mathilde Tunin, que era de família judia, filha de Albrecht Tunin, burguês, e de Luise Peutinger. Apesar do casamento ter sido realizado na Igreja Católica, com a anterior conversão e batismo da noiva, os possíveis descendentes foram impedidos de adotar o nome familiar, tendo meu 6º avô recebido o apelido materno e batizado Friedrich Wilhelm Joseph Tunin (1799-1876). Mesmo assim, ficaram "mal falados" no seio da própria família de então. A sorte deles é que eram podre de ricos, pois, até pelos próprios avós, foram recusados como netos, que pouco ou nadas lhes deixaram de herança. Por isso mesmo meu 7º avô foi viver na Polônia, onde seus filhos se casaram em boas famílias da aristocracia polonesa.
No final das contas, todos nós, humanos e pó das estrelas, somos unidos na pluralidade e, assim, somos netos de Carlos Magno, Maomé, Gengis Khan, Davi, Constantino e etc. Temos todos, absolutamente todos, o sangue dos reis e o sangue dos servos, o sangue dos santos mártires e o sangue dos pecadores. Somos, portanto, iguais na essência e, assim, "frutos da genética do Éden", como escreveu certa vez Teilhard de Chardin.
Cordiais, sinceros e respeitosos cumprimentos,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Granada,
Para lhe aguçar o apetite sugiro que dedique as suas atenções genealógicas a sua 7ª avó Luise Peutinger. É apelido raro e localizado pelo que, salvo improvável coincidência, descenderá de um Conrad Peutinger que em 1288 ascendeu à burguesia de Augsburg. Seria possivelmente ourives como seu filho homónimo e a sua vasta descendência aliou-se às principais famílias dessa cidade imperial que depois superou Veneza.
Provavelmente encontrará banqueiros como os Welser, que incluem um colonizador da Venezuela e um outro que financiou 3 navios da armada de D. Francisco de Almeida; ou os Fugger que contam entre si o homem mais rico do mundo de todos os tempos - em valores realizáveis - e cujo dinheiro garantiu as eleições de Carlos V e Maximiliano: ou ainda industriais como os Vöhlin, cujas metalurgias foram dominantes por dois séculos, ou ainda os Höchstetter, dos quais um engenheiro explorou minas em Gales sob a protecção de Isabel I, promoveu a imigração de largas dezenas de mineiros suiços e recorreu a contabilistas bávaros, pois galeses e ingleses eram "toscos".
Além do mais encontrará muitos ligados à cultura, como Conrad Peutinger, doutor em Leis e em Cânones, que em 1518 recebeu Lutero em sua casa, foi protector da arte romana - ainda há estatuária na catedral de Augsburg - e cuja riquíssima biblioteca foi em 1762 incorporada na Biblioteca Imperial de Viena; a mulher desse Conrad, Margaretha Welser, corrigia pessoalmente os textos em latim de seus 11 filhos .
São biografias que dão gosto e lições de história que se aprendem.
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caríssimo confrade A. Luciano,
Fico-lhe grato pelo interesse. Eu já havia lido alguma coisa sobre Conrad Peutinger, bem como alguns outros documentos sobre a família do mesmo. Minha 8ª avó, Luise Peutinger (1748-1823), nasceu em Munique, Baviera, filha de Karl Anton Peutinger (filho de Ernst August Peutinger e de Alix Morgenstern - de rica família de comerciantes), advogado, e de Maria Amalie Linz (filha de Peter Joseph Linz e Anna Maria Linz - primos-terceiros). É quase tudo o que tenho desse ramo.
De fato, aguçou meu apetite. De fato, vou voltar maiores atenções a esse ramo.
Como sempre, fico-lhe grato pela deferência.
Melhores e sinceros cumprimentos,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Observação: o nome completo era Luise Sophie Peutinger.
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caros confrades,
Espero não insultar ninguém com a minha resposta, e não é esse o meu objectivo. Nem a audiência, nem o estimado Conde de Granada. Mas devo admitir que este assunto é um que já me cansa um pouco de ver tratado sempre da mesma forma, pelo que suponho não se importarão de uma opinião adicional. Que fique claro, pois, que tenho todo o respeito pelas origens de cada um (que não serão muito diferentes das minhas na maioria dos casos) e pela honorabilidade das suas famílias. Da mesma forma estou ciente de que o tema é delicado e está longe de poder levar a um consenso, sendo certo que o que escrevo é uma interpretação específica, e como tal sujeita a muitos erros.
>Concordo consigo. Praticamente todos os portugueses possuem, a correr em suas veias, o sangue dos patriarcas, o sangue do Pai da Fé, Abraão.
Mas porque razão ficar por aí? Com ainda maior propriedade se pode dizer o mesmo dos Alemães, Holandeses, Polacos, Ingleses e Franceses, que para além das numerosas comunidades sefarditas que albergaram tinham - muitos deles - milhões de judeus askhenazi. É portanto mister celebrar também esta rica diversidade dos restantes povos, que ainda em maior grau se podem gabar por durante muito tempo não terem tido as mesma atitudes discriminatórias que houve na Ibéria e de terem servido de nova pátria para milhares de judeus que daqui saíram. Além de terem incorporado dos mesmos traços nítidos na sua cultura, desde o capitalismo ao protestantismo.
E mesmo Espanha: é do conhecimento geral que muitos judeus vieram para Portugal... mas parece que na altura de fazer contas todos se esquecem dos milhares que fugiram para Espanha devido aos "usos e costumes" da Inquisição Portuguesa, que instaurou mais processos e mais relaxados que a sua congénere. Aliás, se formos por genética os estudos (de conclusões bastante pobres, deva-se dizer, e o que se segue nem sequer é algo em que acredite) colocam mais judeus nas Astúrias do que em Portugal.
>. Em Portugal, todavia, essa herança judaica é mais nítida e, com certeza, bem mais óbvia que na Espanha, seu irmão ibérico.
Alguma razão em concreto? Eu - apenas pelo debate - posso dizer exactamente o contrário. Por exemplo, em Portugal era expressamente proibido o casamento entre cristãos-novos e cristãos-velhos, e isso não se passava em Castela ou Aragão. Se existiu maior associação entre "portugueses" e "judeus" foi porque, segundo a conhecida expressão, "o ar de Portugal cria judeus" devido à intensidade da perseguição e a forma indiscriminada como recaía sobre todos mediante denúncias de teor altamente duvidos, e porque em imensos locais da Europa as comunidades de portugueses que existiam eram praticamente todas provenientes do exílio dos cristãos-novos. Ou seja, a teima de não integrar cristãos-novos, ao contrário da "Europa civilizada", criou a ideia de que tudo eram judeus.
Não que queira ir por esse caminho: não vou certamente fazer eco do discurso das "três culturas" que tanta popularidade parece ter e que teima em fazer de todos ou mouros ou judeus. Caso alguém fizesse o mesmo com visigodos ou celtas seria certamente apelidado de perigoso xenófobo, mas - sic transit gloria mundi - o que parece ser admissível é aquilo que era inadmissível séculos atrás.
A herança ser mais ou menos nítida é uma construção de cada um, partindo de um objectivo definido à partida. Quem quer ver judeus em todo o lado irá encontrar a sua influência na mesma proporção. A questão dos supostos "apelidos marranos" é bem exemplo disso, bem como outras atribuições que devem mais ao sentimento do que a objectividade, querendo atribuir a "qualidades judaicas" um sem número de coisas, de forma semelhante à que outros usam para falar de "veneno judaico".
>Isso fica patente ao se comparar as duas nobrezas: a portuguesa é muito mais "aberta", com uma hierarquia razoavelmente desgastada e, talvez, "relaxada" (talvez paradoxalmente, na melhor e na pior acepção da palavra); a espanhola é mais sisuda, altiva, e, por que não?, com uma maior consciência de classe
Nada disso é, e digo-o respeitosamente, objectivo, e chega a roçar o insulto (sem que provavelmente seja essa a intenção) .Claro que quando o objectivo final é falar na "grande riqueza multicultural", tudo é permitido no caminho, mesmo dizer que a nobreza portuguesa era uma parente pobre, sem altivez, etc. A nobreza espanhola foi alvo dos mesmos "ataques" em termos de "abertura" pelos inúmeros "tições" que foram levantados. Vários livros desse tipo diziam que toda a nobreza castelhana e aragonesa estavam manchadas por sangue judeu e mouro. Era comum na época, de tal forma que a certa altura só os expostos (!) é que estavam a salvo, pois era simples levantar suspeitas sobre o bisavô de alguém.
Quanto à altivez da nobreza portuguesa, sem prejuízo da decadência ter tido o seu efeito nos vários sectores da sociedade, se há algo onde os historiadores, mesmo os que nada têm de especialmente agradável a dizer sobre Portugal, parecem concordar é que franjas enormes do Império apenas se mantiveram devido ao sentimento de altivez e superioridade desmedidos da dita, mesmo quando aliados à incompetência da mesma.
>Os espanhóis sempre conseguiram esconder melhor e com maior eficiência (vide o filme "Dia de Ira") alguma origem marrana que porventura tivessem
Olhe que não, nos forums espanhóis há também os que queiram ver judeus e mouros em todos os espanhóis. Ainda no outro dia num forum espanhol vi um vídeo onde aparecia um rabi de Zaragoça a assegurar isso mesmo, com uma lista impressionante de apelidos onde figurava tudo o que terminava em "-ez", mais nomes de profissões, locais, animais, seres inanimados, enfim, tudo o que tivesse vogais era "apelido marrano". Mais dizia, que de Espanha nunca saíram, que para lá foram imensos de Portugal, que o Ladino é maioritariamente baseado em castelhano por isso mesmo. Bastante interessante, suponho que a única reacção previsível será a do Emir de Córdova que não gostará de saber que afinal os espanhóis não são "todos mouros" e "herdeiros dos gloriosos árabes, a quem tanto devem".
Isto para dizer que a percepção é algo que se constrói. E nisto de mouros e judeus há, quanto a mim, um misto de da escola orientalista do final do século XIX e uma atitude "politicamente correcta", aplicada retroactivamente. Para além de parte substancial da Lenda Negra.
>Aliás, tal assertiva fica certamente provada quando nos deparamos com o demasiado apego à suposta e pseudo "pureza de sangue" que nutriam as antigas famílias espanholas.
E portuguesas. Não há qualquer diferença. E se era suposta ou pseudo já é uma em si uma opinião como outra qualquer.
>Cristãos Velhos e Novos ainda são termos que, para alguns, permanecem bem atuais
Sim, em especial para quem teima em fazer marranos de todos os peninsulares. É onde mais vezes oiço falarem nisso.
> todavia, eis que Mendel "inventou" a genética e esses preconceitos cairam por terra,
Em que sentido? De que estudos genéticos está a falar? Ou é algo mais geral?
>ao menos oficialmente, pois, oficiosamente, ainda há muito "Grande de España", que meu avô dizia descender de ladrões de cavalo, que torce o nariz (já presenciei tal atitude uma meia dúzia de vezes) quando lhe dizem descender de algum circunciso filho de Jacó.
É natural, da mesma forma que haja quem faça gosto em ter antepassados marranos, há quem não sinta por isso especial apreço. Uma atitude é tão legítima como a outra. Não serão só os Grandes de España que o farão. Imagino que a nobreza holandesa e alemã não reagirá de forma melhor se lhe disserem que no fundo são todos judeus.
>O mesmo acontece na minha família, posto que, seja na raça espanhola, na portuguesa, na alemã, na francesa ou mesmo na brasileira,
Ou seja, encontra antepassados cristãos-novos independentemente da origem europeia dos antepassados. Outra questão pertinente é saber se todos os cristãos-novos o eram, pois aqui noto uma coisa curiosa: a Inquisição é (justamente) acusada de ter perseguido tudo e todos sem qualquer razão, mas depois subitamente todos os acusados pela Inquisição passam a ser "judeus". Outra ainda é analisar os fluxos migratórios dos cristãos-novos de forma a verificar se essa ocorrência múltipla não indicia uma tendência maior em irem para o Novo Mundo em determinadas alturas da história (o que poderá ser ou não verdade).
>a Estrela de Davi acaba dando suas caras no DNA
Sendo que os judeus estão presentes em toda a Europa não é de estranhar que no meio dos milhares de ascendentes existam alguns que tenham remotas origens judaicas. E digo remotas porque mesmo a composição étnica dos judeus sefarditas e askhenazi indica introgressão da genética das populações nativas (30-40%, se bem me lembro, mas posso estar enganado).
Volto, agora no fim, a salientar o que disse no início: não pretendo ofender ninguém, e muito menos em termos individuais ou familiares. Se fui por vezes demasiado brusco as minhas desculpas antecipadas, e muito do que disse em resposta foi de forma geral e não especialmente destinado ao Conde de Granada, por quem de resto nutro o respeito devido a um confrade que tantas vezes participa no forum.
Cumprimentos,
Frederico Muñoz
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Cá vai uma lista dos nomes “aportuguesados” de judeus no Brasil por decreto do Imperador D. Pedro II:
Curia – Garcia
Albas – Alves
Aridjah – Aguiar
ElMaleh (male =sal) – Salgado
Cohen – Cunha
Mercaz – Marques
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A origem dos Sobrenomes judaicos
Caro confrade Conde,
Permita-me compartilhar consigo este interessante artigo, que segue abaixo.
Melhores cumprimentos,
Granada
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A origem dos Sobrenomes judaicos
É de conhecimento geral que sobrenomes como Choen, Levy e Katz são praticamente exclusivos dos judeus e que Gross, Schineider, Schwartz e Weiss comumente também indicam famílias judias. Passa um tanto despercebido que o mesmo processo que produziu esta distinção também faz dos sobrenomes uma importante fonte de conhecimento sobre história e cultura judaicas.
De acordo com o segundo capítulo de Bereshit, no início dos tempos, todas as coisas vivas foram trazidas a Adam: "E como as chamou, este passou a ser seu nome." A vida era obviamente mais simples quando havia apenas dois de cada espécie. De fato, mesmo o nome de Adam é uma das palavras hebraicas para homem; e a Bíblia regularmente se refere a sua esposa como haishá - "a mulher."
A medida que as pessoas se multiplicavam, contudo, e se tornou necessário distinguir uma da outra, surgiram nomes próprios. E quando estes não eram mais suficientes, várias formas de "nomear" foram adicionados, mostrando ascendência, profissão, origem ou alguma característica que diferenciasse os diferentes Yossefs, Aharons ou Miriams que viviam numa única comunidade. Assim, na Bíblia, encontramos parentesco para ambos, judeus (Yehoshua ben ("filho de") Num, Hoshea ben Beeri) e não-judeus (Balak ben Tsipor, Bil'am ben Beor), bem como nomes que incorporavam uma série de antepassados - Côrach ben Yits'har ben Kehat ben Levi; Mordechai ben Yair ben Shim'i ben Kish. Durante o período talmúdico encontramos Yochanan, o sapateiro; Hillel, o Babilônio; Gamliel, o Ancião; Aba Arika ("o alto"). É claro, nenhum destes apelidos era hereditário, uma vez que tinha relações com a vida do dono.
Os modernos sobrenomes hereditários remontam ao fim da Idade Média e, entre os judeus, uns poucos séculos mais tarde. Começam com as famílias reais, ansiosas por identificar a si mesmas com uma famoso ancestral ou propriedades, quase que do mesmo modo que os líderes dos chassidim de Chabad tomaram o nome Schneersohn ("descendentes de Shneur"), em honra a seu fundador dinástico, Rabi Shneur Zalman de Liadi. Quando os nobres imitam a realeza e a peble os nobres, os sobrenomes estabeleceram-se por toda a Europa. Embora judeus "emancipados" tomassem sobrenomes em reconhecimento a sua assimilação cultural, os judeus em geral primeiramente resistiram à tendência. Mas à medida que as cidades e as nações começaram a organizar arquivos oficiais, tornou-se óbvio que apelidos de família permanentes eram essenciais à eficiência; e dos judeus foi exigido que adotassem sobrenomes em um país após outro - na Áustria em 1787, França em 1808, Prússia em 1812.
Ao adaptar a antiga tradição sob a qual cada judeu é identificado ou como um descendente de Aharon, o primeiro sacerdote (Choen) ou da tribo de Levi, ou do resto da nação judaica (yisrael), muitas famílias chamavam a suas mesmas de Cohen, Cohn, Kahn, Kahana; Levy, Levi, Levin; Israel, Iserel. Outros empregavam títulos-padrão de sinagogas como Chazan, ("cantor") e Beck, de Baal; Corê, ("o ledor da Torá") ou acrósticos como Katz, de Cohen Tsêdec, ("o justo sacerdote") e Segal, de Segan Leviyá ("ajudante sacerdotal). Outros ainda tiravam os sobrenomes do ganha-pão de um ancestral.
Os mais óbvios sobrenomes referem-se a traços físicos distintivos. Apesar da severa condenação de Shulshan Aruch de apelidos pejorativos, as pessoas com os mesmos nomes eram distinguidas por alcunhas como Grande, Pequeno, Magro, Gordo. Isto é mais evidente em famílias com diversos primos com o mesmo nome de um avô, uma situação que resulta em nomes como Grande Ester; e Moshê der roiter ("o ruivo") em oposição a Moshê der shvartser ("o moreno).
Muitos destes nomes- especialmente ao menos ofensivos - tornaram-se nomes de família em diferentes línguas: Black ("preto") em inglês corresponde a Schwartz em alemão e yidish, e em russo e polonês Cherney; White ("branco") em alemão e yidish é Weiss, e em russo Belli; uma pessoa grande é Gross em alemão e yidish, Krupney em russo, Wilki em polonês, Nagy em húngaro; uma pessoa pequena, Klein em alemão e yidish, Malenki em russo, Piccolo em italiano.
Com afinidades a estes, há outros sobrenomes que se referem a anseios e bênçãos sobre o filho; por exemplo, em alemão Kluger ("inteligente"), Scharf ("perpicaz"), Susskind ("doce criança"); o russo Balaben ("querido") e Lefky ("inteligente"). Mas talvez os mais antigos de todos - de volta às benções de Yaacov sobre seus filhos ao final de Bereshit - são aquelas designando atributos de animais: Yehudá, Gur Aryê ("jovem leão"), Binyamin, Zev ("lobo"), Naftali, Hirsch ("cervo").
Durante a Idade Média na Alemanha, era comum que um nome judaico fosse seguido por seu equivalente germânico, como Aryê Lowe ("leão"), correspondendo ao yidish Aryê Leib, Dov Ber ("urso"), Tsevi Hirsch ("cervo"), Zev Wolf ("lobo). Este costume era aparentemente difundido, como pode ser observado em sobrenomes russos. Lev ("leão"), Volk ("lobo"), Olen ("cervo"), Medved ("urso") e mesmo o nome espanhol Lopez, do latim lupus ("lobo").
Enquanto os sobrenomes escolhidos para si mesmos eram agradáveis ou ao menos neutros, os forçamente impostos eram freqüentemente cruéis. Motivados por amplo anti-semitismo ou o desejo de suborno, as autoridades impingiam a suas vítimas nomes como Kalb ("bezerro"), Knoble ("alho"), Schlemmer("comilão"), Zwieble ("cebola").
Esta espécie de sobrenomes, contudo, muito nos diz sobre as características que os judeus valorizavam, sua ligação às antigas tradições bíblicas e as indignidades que sofreram nas mãos das autoridades dos séculos XVIII e XIX.
Outros três tipos de sobrenomes - os que mostram ascendência, origem e ocupação - são mais significativos que as características físicas como indicadores de onde moravam e o que faziam os judeus.
O valor do nome
Na Idade média, ao abrigar os judeus a adotar um patronímico, os governantes resolveram que deveriam pagar pelo nome - quanto mais pomposo, mais pagavam. Os mais belos e poéticos eram Rosenberg ("montanha de rosas"), Morgenstern ("estrela da manha"), Silverberg ("montanha de prata"). Mais baratos eram os nomes das profissões: Meier ("fazendeiro"), Fischer ("pescador"), Kaufmann ("mercador"). Nesta categoria estavam também os nomes de cores: Grün ("verde"), Braun ("marrom"), Roth ("vermelho"); e de animais: Fuchs ("raposa"), Katze ("gato"); Vogel ("pássaros"); e cidades.
Em todas as partes do mundo, os judeus têm nomes que significam "filho de", uma prática que remete à Bíblia. Assim, mesmo na ausência de outra prova, poderíamos presumir que as colônias judaicas deram origem ao árabe ibn Ezra; ao inglês, Israelson; ao alemão, Mendelsson; ao russo, Jacobowitz; ao polonês, Abramowicz. E a este respeito é interessante notar a popularidade de uma nome como David, que forma a base de Davidson, ibn Daud, Davidowitz, Davidowicz.
É claro, séculos de distorção têm obscurecido a fonte de muitos patronímicos, com Faivelson e Faitelson. Já nos tempos do Talmud, os judeus tinham nomes gregos como Alexandre, Antígono, Hircano, Phoebus. Ao final, Phoebus tornou-se Faibush em yidish, com o diminutivo Faivel e o patronímico padrão hebraico ben Faivel foi traduzido no sobrenome Faivelson remonta à Alta Idade Média, quando muitos nomes hebraicos foram traduzidos nas línguas românicas, dando Chayim-Vidal (de "vita", vida); Baruch-Bendit (de "benedictus", bendito); Ticva-Shprintsá (de "esperanza", esperança). Ao mesmo tempo, Vidal tornou-se Faitel, a base de Faitelson. Os detalhes das colônias são fornecidos por outros sobrenomes também, uma vez que um recém-chegado recebe um apelido de acordo com a sua morada anterior - como era Hilel, o Babilônio. Assim, podemos Ter certeza que os judeus viveram e migraram de países cujos nomes levaram consigo: Frankel, Deutsch, Hollander, Pollack.
Pela mesma razão, podemos presumir grandes populações judaicas das cidades representadas por sobrenomes, como o italiano: Módena, Montefiore, Romano, Soncino; espanhol: Milona, Navarro, Torme, Trujillo; português: Castro, Oporto, da Silva e da Sola; alemão: Berliner, Frankfurter, Neustadter, Oppenheimer; polonês: Breslau, Krakow, Warsaw, Wilner; russo: Kief, Minsky, Novgoroder, Penza - além de nomes que terminam em -berg ("cidade"), -berger("da cidade), -owitz e sky ("de"), como Greenberg, Isenberger, Gartenberg, Neuberger, Isenberger, Moskowitz, Washavski, Poznanski.
Finalmente, se os nomes descritivos contam que os judeus valorizavam e o patronímico e sobrenomes de origem dizem onde viviam, os sobrenomes indicam uma grande visão social daqueles baseados na ocupação. Que os judeus em todo o mundo eram artesãos está claro a partir da riqueza de sobrenomes profissionais: correspondente a alfaiate (em inglês Taylor) temos um Schneider em alemão e yidish, Portnoy em russo, Krawiec em polonês, Sarto em italiano, Chayat em hebraico; para padeiro (em inglês Baker) temos Becker em alemão e yidish, Pekar em russo, Pek em húngaro, Boulanger em francês; para açougueiro (em inglês Butcher) temos em alemão e yidish Fleischer, Katsof em hebraico, Mesnik em russo e Boucher em francês.
Ademais, uma visão adicional surge do amplo uso de nomes hebraicos como Sofer ("escriba"), Melamed ("professor") e Chazan ("cantor"), no lugar de traduções vernáculas como com as ocupações seculares. Os únicos que parecem ter alguma aceitação real são o alemão Schreiber ("escriba") e Lehrer ("professor") e o francês Scrivain ("escriba"). E, desnecessário dizer, todos estes sobrenomes devem ser comparados com a total ausência de nomes hebraicos do tipo Farmer (fazendeiro), Gardener (jardineiro) e Forester (couteiro).
Contudo, embora seja possível classificar sistematicamente como os sobrenomes se originaram, é impossível prever o que acontecerá com eles. E isto é também um reflexo da História judaica. Assim, à medida que os judeus migraram de um país para outro, por força ou por escolha, tinham constantemente de anglicizar, galicizar, hebraizar, diminuir, aumentar, dar outra grafia, reinterpretar ou simplesmente mudar nomes que antes tinham significado em outra língua.
Desta maneira, o nome descritivo Frummer("religioso") tornou-se Farmer; Gartenberg tornou-se Gardener ao contrário de nomes profissionais judaicos. Do mesmo modo, Shkolnik tornou-se Eshkol; Myerson, Meir; Gruen, Ben Gurion; Berg tornou-se Boroughs; Schreiber, Writer e Wright; Chayat tornou-se Hyatt ou talvez Chase; Neustadt e Novgorod ambos tornaram-se Newton.
E, uma ironia derradeira, todo o propósito dos sobrenomes - Ter um registro permanente de laços familiares - ficou subvertido. (Fonte: www.shalombr.com)
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=2950&cod_canal=46
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caríssimo confrade Frederico Muñoz,
Certamente que jamais me insulta!
Mas, "data venia", permita-me discordar de alguns poucos pontos.
Concordo quando diz que "Com ainda maior propriedade se pode dizer o mesmo dos Alemães, Holandeses, Polacos, Ingleses e Franceses, que para além das numerosas comunidades sefarditas que albergaram tinham - muitos deles - milhões de judeus askhenazi." No entanto, incialmente, entre alemães e holandes ("autóctones", dito germânicos, com suas gradações, naturalmente) e entre os poloneses (eslavos, igualmente nativos, também com suas gradações étnicas), os judeus sempre foram muito mal vistos e, possuir tal origem era fator de "vergonha", e, assim, não é à toa que a mistura racial foi bem menor proporcionalmente (vide que vivem sempre em comunidades, quando não quase que totalmente fechadas) se a compararmos com a Ibéria. Em Portugal e Espanha, a miscigenação e "diluição" foi sedimentada de fato e aceita durante grande período (o que não aconteceu na Europa Germânica-Anglo-Saxã - veja lá se encontra facilmente um duque ou conde franco contraindo matrimônio com damas de origem árabe ou judia...), mesmo que, depois, acabou sendo negada por conta de ideologias, de anti-semitismo baseado em raízes financeiras e depois transformadas em "questões religiosas." Quanto inquisidor não possuia o sangue de Israel e, por isso mesmo, tratava de ser mais violento para que dele não disconfiassem? Aliás, lembre-se que o Tribunal do Santo Ofício/Inquisição apenas teve trabalho nos países católicos, já me reportando ao período Pós-Reforma.
Eu diria que houve uma inversão: Na Alta Idade Média os ibéricos não tinham quaisquer problemas com os judeus
e mouros, enquanto os povos germânicos-anglo-saxões tinham impedimentos...; Na Baixa Idade Média os ibéricos "enlouqueceram" e desataram a perseguir tudo e todos, enquanto estes aceitaram o elemento hebreu. E, diga-se de passagem, que a aceitação portuguesa/espanhola foi prática tanto abstrata quanto concretamente, ou seja, ideologicamente (pensamento) e pragmaticamente (casamento)... Ora, a germânica-anglo-saxã foi, muitas vezes, apenas ideologicamente, sendo, muitas vezes, raras as uniões sangüíneas.
De fato, a Holanda enriqueceu e prosperou justamente por conta da fuga dos judeus portugueses para a terra dos Orange, eivados pela tolerância reformada e práticos por receberem grandes fortunas, sábios, cientistas e uma classe burguesa extremamente evoluída.
Sim. Quando digo que Mendel inventou a genética, refiro-me genericamente, ou seja, a algo mais geral, como o senhor bem disse.
Estão e estiveram em toda a Europa, pois, como diz Isaías, "sereis lançados por sobre a face da terra." Mas, nem sempre implica "mistura" com populações locais.
O senhor diz: "Quanto à altivez da nobreza portuguesa, sem prejuízo da decadência ter tido o seu efeito nos vários sectores da sociedade, se há algo onde os historiadores, mesmo os que nada têm de especialmente agradável a dizer sobre Portugal, parecem concordar é que franjas enormes do Império apenas se mantiveram devido ao sentimento de altivez e superioridade desmedidos da dita, mesmo quando aliados à incompetência da mesma."
Será mesmo? Altivez pode ter duas conotações: uma ligada à vaidade, à exacerbação do ego, à frescuras cortesãs; outra ligada à rigidez de caráter, à compostura... Note a organização das hodiernas nobrezas portuguesa e espanhola. Veja quão mais arraigado é o sentimento e consciência de classe dos espanhóis. Olhe as confrarias e os estamentos dos mesmos...
Sempre à disposição (e grato pelos comentários), receba um fraterno abraço de,
Granada
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RE: A origem dos Sobrenomes judaicos
Caro confrade,
Mais uma vez encontro neste artigo algumas afirmações que, no meu entender, se prestam a alguma confusão e que podem ajudar à perpetuação de mitos que, julgo que estaremos de acordo, não têm qualquer fundamento. Assim, muitos dos motivos referidos pelo autor que levaram à fixação de apelidos não são nem de longe exclusivos dos judeus (os patronímicos, as alcunhas, as profissões, as localidades de origem, etc.) e apenas se pode verificar que também os judeus, como muitos outros, usaram esses modos de criação de sobrenomes, pelo que nada de especificamente judaico se pode atribuir a esses costumes. Usando o exemplo que já citei em mensagem anterior, há judeus de apelido Rosenberg mas também é o apelido de uma família germânica principesca que usa esse nome por razões que nada têm que ver com o judaismo.
Por outro lado quando se afirma:
«Pela mesma razão, podemos presumir grandes populações judaicas das cidades representadas por sobrenomes, como o italiano: Módena, Montefiore, Romano, Soncino; espanhol: Milona, Navarro, Torme, Trujillo; português: Castro, Oporto, da Silva e da Sola; alemão: Berliner, Frankfurter, Neustadter, Oppenheimer; polonês: Breslau, Krakow, Warsaw, Wilner; russo: Kief, Minsky, Novgoroder, Penza - além de nomes que terminam em -berg ("cidade"), -berger("da cidade), -owitz e sky ("de"), como Greenberg, Isenberger, Gartenberg, Neuberger, Isenberger, Moskowitz, Washavski, Poznanski»,
não percebo bem qual sentido que o autor pretende atribuir à frase "podemos presumir grandes populações judaicas das cidades representadas por sobrenomes...", dando como exemplos portugueses "Castro, Oporto, da Silva e da Sola". Não vejo qualquer razão para presumir a existência nas cidades de grandes núcleos de Castros ou Silvas, por exemplo, de origem judaica, mais do que usando outro qualquer apelidos dos inúmeors que os cristãos-novos adoptaram ou adquiriram por outras vias de ascendência que não a que lhes dá a origem judaica; "Castro" e "Silva" são apelidos medievais peninsulares de linhagens da Alta Nobreza e que se difundiram por diversos meios, para além da simples sucessão familiar, entre os quais certamente também a adopção por convertidos (não só do judaísmo, mas também do hinduísmo ou do paganismo, no caso dos escravos, por exemplo), nesse caso com toda a legalidade. Não se vê assim muito bem qual a informação relevante que esta parte do texto pretende transmitir; que houve cristãos novos de apelido Castro ou Silva, ninguém o duvida mas o mesmo se pode dizer de praticamente todos os apelidos portugueses mais comuns e não me parece minimamente possível identificar um núcleo de cristãos-novos (muito menos de judeus propriamente ditos) apenas através dos referidos apelidos, a menos que se conheça muito mais acerca da respectiva genealogia, mas nesse caso não é o apelido que só por si é relevante.
Com os melhores cumprimentos,
António Bivar
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Acredito que não quisesse iniciar/desenvolver uma polémica e apenas partilhar uma opinião pessoal. Receio contudo que tenha sido um "acto falhado".
Escreveu tanto tão genericamente que é impossível não concordar com algumas coisa e discordar de outras. Apenas comentarei as últimas e apenas as de que discordo a 180º ou quase, e destas as que implicam ter-se baseado em dados de que não disponho ou de tenho diferente informação. Talvez apenas a divulgação, ainda que genérica ou incipiente das fontes, possa justificar esta troca de ideias.
Para não dar aso a erros de interpretação criando polémicas onde não existem, começo por dar as minhas coordenadas para as origens dos judeus.
Ashkenazis - Originariamente os judeus da Alemanha (lato sensu) o termo generalizou-se a todas as comunidades judaicas da Europa excepto os oriundos da Ibéria: seriam por 1930 97% da população judaica e actualmente 80%.
Sefarditas - Originariamente os judeus da Ibéria e seus descendentes, estes em número significativo apenas na Flandres, hoje Holanda e parte da Bélgica flamenga; com pequenas excepções, mais ilhéus do que ilhas, tipo Ragusa menos de meia dúzia de localizações no Norte de África é de muito difícil cômputo a sua presença no Brasil e América Latina e são negligenciáveis na América do Norte (face ao nº de Ashkenazis).
Havia outra origem de judeus, as muitas pequenas comunidade no Médio Oriente e Ásia, os Mizrahi que, por terem práticas e liturgia semelhantes aos sefarditas, acabaram identificados com estes e hoje aparacem englobados nos 20% de judeus sefarditas da actualidade, facto que naturalmente complica e não raro distorce quaisquer análises que hoje se façam de práticas sefarditas por referência à sua origem ibérica. Insisto neste pormenor porque me parece importante. Inicialmente seriam 70% da população de Israel mas depois das emigrações maciças da ex-URSS serão hoje pouco mais de 50%. Logo aqui poderão haver imensos equívocos pois sendo Israel constituído por 50% de judeus Sefarditas a percentagem de oriundos da Ibéria é negligenciável e se alguma vez foi computada isso passou-me despercebido.
Quer isto dizer que, quando algum dia se ultrapassar o "politicamente correcto" e se possa estudar sociologia a sério, sem ignorar raças, balanceando adequadamente factores genéticos e culturais, estes últimos herdados e também resultantes de alterações ambientais, será possível separar adequadamente Ashkenazis de Sefarditas e, destes últimos, os que provieram de Portugal (Portugal e Brasil) e de Espanha (Espanha e América Latina)
Ultrapassando esta longa introdução e deixando as discordâncias para melhor ocasião (quando?..., não sei!) avanço já que acredito que foi em Portugal e Brasil que a integração teve maior expressão, que em Israel e Estados Unidos se encontram ainda hoje as comunidades judaicas menos integradas e mais intolerantes; e que não existirá em Espanha e na América Latina, com a mesma expressão, o fenómeno de integrações de imigrados recentes, que logo nas primeiras gerações ascenderam às "nobrezas" quer financeira (Cohen, Benoliel) quer da "high society" lisboeta (Abecasis).
Acredito que Portugal (ou os Portugueses) fez a diferença e que (esta então de muito difícil comprovação) a herança árabe foi componente indissociável dessa diferença. Ou, para lhe dar já um ponto de discordância, que a herança visigoda (sou mais cauteloso com a sueva e desconhecedor da celta) será alheia e mesmo contrária a essa diferença.
Como vê, pelo menos culturalmente, assumo-me como um perigosíssimo nacionalista.
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Conde de Granada,
Em primeiro lugar os meus agradecimentos pela elevação da sua resposta; compreenderá o meu receio em discutir estes temas visto estar-se sempre demasiado próximo de conceitos que remetem para posicionamentos ideológicos que envenenam a conversa. Em particular é sempre possível ser-se acusado de racismo e/ou xenofobia sempre que se tem uma opinião oposta nesta temática.
Dito isto, e descansado que fico por ter a certeza de não ser mal interpretado, vou endereçar alguns dos seus interessantes comentários, sempre no espírito de salutar troca de ideias que não tem a pretensão de acabar numa unanimidade estéril.
Em relação à diferença de tratamento dos países mencionados (que vou colocar na categoria demasiado lata de "germânicos" para facilitar) vou honestamente ter que pesquisar mais; por ora apenas me ocorre dizer que em toda a Europa os judeus tiveram, em determinadas alturas da sua história, um posicionamento marginal (no sentido de exclusão social) por razões diversas. Se eram segregados nos guetos da Europa de Leste, também é verdade que as Judiarias não são modelo de integração... Em relação à nobreza tenha seríssimas dúvidas da ausência de uma componente judaica nas que referiu, mas sem dados mais concretos não posso passar daí. Faço notar, no entanto, que o que não faltaram foram oficiais das SS nazis com 1/4 de sangue judaico, e tratava-se de uma organização vincadamente etnicista. Se isto pode ou não ser extrapolado para a população é uma matéria separada (e, em geral, não acho que possa). Além de que volto a alertar para a tendência em dar como certa a filiação judaica de certas pessoas, quando muitas vezes a única coisa que temos é um vago rumor publicado na altura com fins bastante dúbios.
Faço igualmente notar que a realidade objectiva tem bastante influência: quantos nobres ibéricos têm influência genética asiática? Poucos ou nenhuns, já na Prússia a situação é diferente. Cada país teve uma história de relacionamento com outros povos que é limitada pelo contacto possível com esses mesmo povos.Sem querer mentir lembro-me de ler que na altura do Sacro Império e a guerra do mesmo contra os sarracenos em Itália também não faltaram histórias de uniões amorosas.
Parece-me contudo estranho - como referi - considerar que na Ibéria (e em Portugal em particular) a existência de segregação e descriminação serve quase como "prova" de que era inevitável existir uma grande influência (seja genética ou cultural), e os mesmos factores quando aplicados à Europa do Norte e Leste servem amiúde para demonstrar como não houve influência nenhuma.
Um detalhe importante aqui é também a questão dos números, sempre disputados. Do "1/5" ou mesmo "1/3" da população (como já li em algumas fontes) o último trabalho sério que li sobre o tema (de António Borges Coelho sobre a Inquisição de Évora, livro interessantíssimo) cruza todas as fontes e chega a cerca de 2000 famílias de cristãos-novos em Portugal, isto antes (ou durante) da Inquisição funcionar em pleno (não que considere este número o "correcto", é mais um...). Quando falamos de várias zonas da Europa estamos a falar literalmente de vários milhões, o que mesmo levando em consideração a proporção não é de todo insignificante. E, por exemplo, em Inglaterra e na Holanda serviam desde há muito importantes funções nas respectivas monarquias.
Em relação a uma tendência "natural" dos anglo-saxões para terem pruridos especiais, em oposição aos ibéricos, é um ponto onde não estou de acordo. A convivência na Ibéria com judeus e mouros (e isto é de facto uma opinião pessoal, ou pelo menos um alinhamento consciente com uma determinada linha historiográfica) foi longe de ser a "salutar convivência de culturas" que vejo retratada frequentemente. Aliás, antes da questão dos cristãos-novos não se coloca grandemente a questão da influência mútua, pois os judeus enquanto tal viviam sempre altamente segregados (até por imposições próprias). Já desde bastante antes de 711 que a posição dos judeus se vai deteriorando, até ao ponto de serem culpabilizados por terem ajudado os muçulmanos na referida data. Julgo, portanto, que existiam vários impedimentos na altura, fruto da oposição mais ou menos silenciosa entre os grupos.
Claro está, não estou a pintar um cenário de absoluto "exclusivismo étnico", que seria também descabido. Houve certamente cruzamentos entre as comunidades, uns mais conhecidos que outros, mas de forma genérica estou em crer que o antagonismo de raízes variadas que existia entre elas vai dar origem ás leis de limpeza de sangue e outras disposições semelhantes. Mas não tenho dúvidas que o mesmo se passou na maior parte da Europa, e faço notar que em vários dos países que mencionem houve vários judeus que fizeram parte da nobreza. Aliás, falando de genética (matéria na qual sou um amador bastante interessado), um dos estudos existentes (e que, mais uma vez, não creio ter grande validade por razões diversas) coloca o nível de influência judaica em Londres igual ao do Norte de Portugal. Ora, se acho que o estudo não é lá grande coisa porque razão o menciono? Porque tenho a certeza que se os resultados fossem diferentes - mesmo sendo igualmente duvidosos no método - não faltaria propaganda aos mesmos.
Convém também separar por vezes a influência cultural da genética, nem sempre andam acompanhadas, como bem sabe.
Em relação aos ganhos da Holanda, não discordo de si. Aliás, era uma das razões apontadas no século XVII para suportar um perdão-geral aos cristãos-novos, que esteve quase para acontecer (mas foi interrompido devido aos massacres em Odivelas, entre outros). Seja como for acho que é um tema interessante mas separado, pelo menos no que diz respeito ao aspecto económico. Quero com isto dizer que me parece que Portugal e Espanha são normalmente apanhados numa espécie de "pior de dois mundos" (passo a expressão, embora não tenha a mínima dúvida que a afirmação de que os portugueses e/ou os espanhóis são judeus ou mouros é normalmente feita de forma depreciativa, em especial quando vinda de vários países que referi e que convenientemente se esquecem da outra parte da equação): são bárbaros por causa da Inquisição ter perseguido e expulso judeus, mas são "meio judeus"; deixaram que os judeus saíssem e levassem a riqueza para os inimigos, mas no fim parece que ficaram cá todos quando se trata de apontar influências. Quando falei na Lenda Negra era em parte isto que queria dizer.
Em relação à altivez, existe uma fina linha entre a mesma e a arrogância, e que muitas vezes depende mais de quem observa. Por outro lado não se pode comparar a organização da nobreza numa monarquia como Espanha com a de uma república como Portugal. Os portugueses e os espanhóis têm caracteres diferentes, embora em muito tenham uma base comum (como seria de esperar). Tal, de resto, é verdade mesmo entre os espanhóis (não obstante "hispani omnes sumus", falo da Espanha actual), pois um castelhano tem um carácter marcadamente diferente de um galego ou asturiano. Atribuir isso a influências judaicas não me parece algo que possa ser feito de forma de todo linear.
Repare que tenho bastante admiração pelos espanhóis (e não é apenas por razões de ascendência), mas muito do que se considera hoje em dia uma "marca de carácter" (invariavelmente negativa) portuguesa é em grande medida um efeito recente, que temos tendência para projectar para ao passado. Em tudo isto noto normalmente também o efeito do Luso-tropicalismo de Freyre, que foi adoptado e promovido pelo Estado Novo por motivos que se prendem com a tentativa de justificar a manutenção dos territórios africanos. Como tal criou-se uma certa "névoa" sobre os vários períodos históricos, porquanto é necessário que os mesmos confluam para um mesmo fim pré-determinado.
Sei que a resposta foi meio confusa, escrevi tudo sem ter tempo de arrumar as ideias, pelo que peço desculpa pela eventual dificuldade no entendimento.
Subscrevo-me com estima e consideração,
Frederico Muñoz
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro confrade,
Não creio que os judeus fossem lá muito bem quistos em Inglaterra e Holanda (na Alta Idade Média)... Se o foram, em episódios um tanto quanto raros, o foram apenas pelo interesse (geralmente financeiro) das referidas monarquias, Ivanhoé (de Walter Scott) explica bem o período. Lembre-se do "reinado" de João Sem-Terra. É claro que estou a citar um exemplo da literatura (pois é o que, agora, me vem à cabeça), mas, nem por isso, desprovido de realidade; na verdade, o livro é muito bem fundamentado.
Todavia, uma coisa, ao menos para mim, parece ficar certa: na Ibéria, as interações com os judeus, sejam elas raciais ou culturais, foram bem mais profundas, bem mais aparentes, ou seja, mais facilmente verificáveis. A Península foi o único grande ponto de confluência entre os três continentes (Europa, Áfria e América) e, portanto, não era de se esperar que fosse diferente.
Eu não disse, de forma alguma, que quaisquer "discrepâncias" entre as nobrezas espanhola e portuguesa sejam por conta de influências judaícas ou mesmo mouríscas. De modo algum. Mas, que existem diferenças das mais absurdas, existem. Não se precisa estar em vigência da monarquia para se saber portar com dignidade e, sobretudo, humildade sincera e cristã. Quando me refiro a um "espírito de classe", não me refiro, como pensam alguns, em algum sentimento movido por arrogância ou por elitismos segregatórios, ou seja, castas. Não se está na Índia (graças a Deus!). Não generalizo de forma alguma, mas, pelo contato que tenho, a nobreza portuguesa é um tanto quanto mais relaxada (como eu disse, paradoxalmente, na pior e na melhor acepção do termo). Certamente que há diferenças, drásticas eu diria, entre um castelhano e um andaluz. Conheço isso familiarmente. Meu bisavô paterno era granadino, minha bisavó castelhana. Meu bisavô, um homem generoso, galante, afável, mas, com o sangue ardente, corajoso; minha bisavó, enérgica, "geométrica" eu diria, bem à moda "Isabel", de um Catolicismo exacerbadamente tradicional. Somos humanos, portanto, diferentes - é claro que mantidos pela cultura e pelo elemento racial.
Abaixo, deixo um artigo do qual se podem extrair algumas interessantes informações. Certamente que o mesmo não reflete, necessariamente, meu humilde ponto de vista, uma vez que o título já me causa alguns arrepios da espinha...
Cordial e respeitosamente,
Granada
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A culpa da cristandade para com o povo judeu
Após haverem sido revelados os horrores do Holocausto*, foi levantada a questão: “Como isso poderia ter acontecido?”A chocante verdade é que o Holocausto foi o clímax de séculos de ódio e perseguição violenta, freqüentemente inspirados pela teologia cristã.
Sinto-me profundamente culpada como cristã, e também como alemã, pois desde a Idade Média os judeus foram impiedosamente mortos aos milhares, em cidades alemãs. Madre Basilea Schlink, a fundadora da nossa Comunidade em Darmstadt, Alemanha, em seu livro “Israel, O Meu Povo Escolhido”, escreve de maneira comovente como aqueles que atacam o povo de Deus, atacam a Ele próprio, pois Israel é a “menina dos Seus olhos” (Zacarias 2.8).
Considerando as atrocidades cometidas contra os judeus, em nome de Cristo, através de grande parte dos 2.000 anos de história do cristianismo, como podemos celebrar a passagem do milênio sem expressarmos primeiramente nossa profunda tristeza sobre o passado, num espírito de arrependimento? Pela nossa atitude e comportamento anti-cristãos temos envergonhado o Nome de Jesus, tornando-o ofensivo ao Seu próprio povo, os judeus… E assim, hoje é a nossa oração, que os cristãos em todo o mundo sejam inspirados a celebrarem o milênio com um culto de arrependimento, num espírito de unidade, reconhecendo nossa herança cristã comum.
Tirado de fontes históricas cristãs e judaicas, o assunto aqui contido é um breve resumo da horrenda história de conduta da cristandade para com os judeus, condutas essas que pavimentaram o caminho para o Holocausto.
Irmã Pista
Irmandade Evangélica de Maria, Darmstadt.
(Uma irmandade cristã internacional e interdenominacional).
* * *
*Holocausto — Trágico e terrivel acontecimento durante a 2ª Guerra Mundial, quando 6 milhões de judeus foram exterminados nos campos de concentração da Alemanha e outros países da Europa, morrendo em câmaras de gás, por fuzilamento, fome e atrocidades inimagináveis.
Como Tudo Começou
Na Igreja Primitiva, os judeus e os gentios reuniam-se em volta de Jesus como um só corpo, tendo sido derrubada a parede divisória entre judeus e gentios. Eles eram um rebanho com um só Pastor. Mais tarde, a situação modificou-se. Um número maior de gentios entrou para a comunidade cristã, de maneira que a proporção de gentios para judeus cresceu de forma constante. Então, aos poucos, os judeus que ainda não haviam entrado para o rebanho cristão, já não eram mais encarados como irmãos na fé no único Deus revelado, mas sim como estranhos e até mesmo inimigos. A despeito de todas as dificuldades e lutas que surgiram, teria havido toda razão para os cristãos se manterem humildes e com uma disposição amorosa em relação aos judeus, já que deles recebemos a lei, os profetas e o próprio Senhor Jesus. Não é sem razão que o apóstolo Paulo nos exorta a não adotarmos uma atitude de superioridade em relação aos judeus, mas sim, permanecermos humildemente cientes de que os judeus são a raiz da árvore. Eles nos sustentam e não nós a eles, pois somente somos enxertados na oliveira (Romanos 11). Mas o maligno teve sucesso em afastar a Igreja Cristã dessa atitude humilde e fraternal, quando, para sua auto-glorificação, ela apropriou-se de todas as graças e promessas feitas á Israel, eliminando assim Israel da história redentora de Deus.
A Teologia e o Direito de Primogenitura Roubado
Foi depois da era dos apóstolos, que esses outros elementos de imaginária superioridade insinuaram-se para dentro dos ensinamentos cristãos roubando de Israel o seu Direito de Primogenitura. A assim chamada Carta de Barnabé (datada do fim do primeiro século ou do início do segundo), interpretou erroneamente o Antigo Testamento, reivindicando que ele só prefigurava Cristo e a Igreja, e que a Aliança de Deus com o Seu povo agora só é válida para os cristãos, mas os judeus a perderam para sempre.
Isto, e outras declarações idênticas contidas nas cartas de Inácio de Antioquia (70-107 DC), deu origem à teoria de que a Igreja é o Novo Israel. Mais tarde, o imperador Constantino declararia que a terra de Israel não mais pertencia ao povo judeu. Daquela época em diante, disse ele, ela pertencia à Igreja Cristã. Tudo isso não passa de Teologia de Substituição ou Teologia da Aliança em estado embrionário, recebendo um impulso especial entre os anos 1400 e 1700 e nos acompanha até hoje.
Após a destruição do Templo em Jerusalém (70 DC) e a Revolta de Bar Kokba, o judaísmo não desapareceu, mas ganhou nova vitalidade e influência. Conseqüentemente, o argumento de que a Igreja substituíra Israel, já não convencia mais. Além disso, como a luta entre cristãos e judeus, a fim de obterem mais convertidos entre os que eram pagãos, se intensificou, o judaísmo foi encarado como uma ameaça à Igreja. Para frustrar essa ameaça, a teologia cristã tentou criar um Jesus não judeu. Foram citadas as mais estranhas provas (desde a fé demonstrada por Abraão até a promessa dada à Adão), todas visando confirmar o argumento de que a Igreja não somente antecede Israel, mas é de fato, o “eterno Israel” (Tertuliano).
Os perigos de tal mentalidade tornaram-se evidentes no Terceiro Reich quando Hitler, buscando cativar os cristãos, promoveu um Cristo ariano e não judeu.
Além disso, os judeus foram acusados de deicídio (o crime de matar Deus). Embora Mateus 20.18-19 e Atos 4.26-28 claramente declarem que também os gentios foram culpados pela crucificação de Jesus, a teoria de uma culpa exclusivamente judaica tornou-se moda. As “tribulações foram justamente impostas sobre vós, pois matastes o justo” (Justino C. 100-165). Os teólogos cristãos do terceiro século, incluindo Hipólito e Orígenes, elaboraram bastante essa teoria que iria tornar-se dominante no pensamento cristão do quarto século.
Entrementes, como os cristãos “comuns” continuassem a misturar-se com os judeus ou até mesmo visitavam sinagogas, os líderes da Igreja, temendo perder o seu rebanho, aumentaram seus ataques verbais, de forma a inspirarem medo e repulsa ao judaísmo.
Crisóstomo (344-407), cujo nome significa “boca de ouro”, lançou contra os judeus acusações infames, como: “os mais miseráveis de todos os homens” – “libidinosos, gananciosos, avaros e pérfidos bandidos” – “assassinos inveterados, destruidores e homens possuídos pelo demônio” – “a devassidão e a embriaguez deu-lhes os modos do porco e do lúbrico bode” “pestes do universo” – “eles ultrapassaram a ferocidade dos animais selvagens, pois assassinam seus próprios filhos”.
Mas muito mais danosa foi a teologia desenvolvida por esse altamente respeitado Pai da Igreja, com referência à sina dos judeus como um resultado do seu deicídio. Para esse crime, sustentou ele, “não há expiação possível, nem indulgência, nem perdão”; o seu “odioso assassinato de Cristo” foi a origem de todos os seus infortúnios.
“Deus detesta vocês”. Estas palavras de Crisóstomo popularizaram o ódio contra os judeus durante séculos futuros. Assim, citando um historiador: “A doutrina cristã popular tem sido sempre a de que, qualquer pessoa, seja ela pagã ou cristã, que em qualquer ocasião tenha perseguido, torturado ou massacrado judeus, agiu como um instrumento da ira divina”.
Agostinho (354-430), um contemporâneo de Crisóstomo, embora mais contido, foi ambivalente. Enquanto reafirmava a atitude de Paulo de que temos um dever de amar os judeus, compartilhava o ponto de vista de outros Pais da Igreja, de que Judas era a imagem do povo judeu. Veio de Agostinho, a teoria de que os judeus são um povo do testemunho, destinado a viver como um testemunho tanto para o mal, quanto para a verdade cristã, mas que não deveriam ser mortos, pois como Caim, carregavam um sinal. “Deixem que vivam em nosso meio, mas os façam sofrer e ser humilhados continuamente” (Agostinho). A teoria do “povo do testemunho”, mais tarde foi por muitos mal empregada, como um pretexto para aumentar a miséria dos judeus, próximo a tirar-lhes a vida.
Da Teologia para a Lei
Depois que o cristianismo foi reconhecido oficialmente por Constantino, no século IV, a teologia foi transformada em programa de governo, e a sinagoga foi submetida a medidas repressivas. Sob o Imperador Justiniano I (483-565), muitas leis que protegiam os direitos civis e religiosos dos judeus foram abolidas e impostas restrições. Mais tarde, no sétimo século, com propósitos políticos, o Imperador Bizantino Heráclio impôs batismo forçado aos judeus, a fim de garantir a unidade no seu reinado. Esta prática foi repetida em vários outros lugares com resultados devastadores nos séculos seguintes.
A IDADE MÉDIA
Na sociedade medieval, o vínculo estreito existente entre a Igreja e o Estado, fez com que as sementes já espalhadas de anti-semitismo cristão, produzissem terríveis frutos.
As Cruzadas
O ano de 1096 deu início a um período de cruel e mórbido tormento, sem igual na história judaica em termos de duração: as cruzadas.
Grandes hordas mal organizadas de nobres, cavaleiros, monges, e aldeães com as palavras “Deus assim o quer” em seus lábios, enquanto partiam para libertarem a Terra Santa do muçulmano infiel – subitamente viraram-se contra os judeus… Um cronista, Guibert de Nogent ( 1053 – 1124), relatou que os Cruzados de Rouen diziam: “Desejamos combater os inimigos de Deus no Oriente; mas temos aqui, sob nossos olhos, os judeus, uma raça mais inimiga de Deus do que todas as outras. Estamos executando tudo às avessas”.
Aproximadamente um quarto a um terço da totalidade da população judaica da Alemanha e do norte da França, foi assassinada durante a Primeira Cruzada.
Em Jerusalém os judeus fugiram dos Cruzados, trancando-se na principal sinagoga, onde todos os 969 morreram queimados. Do lado de fora, os Cruzados, que acreditavam estar vingando a morte de Cristo, cantavam: Cristo, adoramos-te, levantando as suas cruzes, que usavam como Cruzados. Antes disso, um pouco mais cedo naquele dia, enquanto os Cruzados passavam sobre os corpos mutilados daqueles que haviam sido chacinados, Raymond de Aguilers, citou o Salmo 118.:
“Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele”. Os Cruzados tencionavam fazer de Jerusalém, uma cidade cristã.
Condenados à Servidão Perpétua
Durante as primeiras duas Cruzadas, os judeus alemães apelaram à Coroa por auxílio. Como compensação pela proteção real, eles foram transformados em “servos da Câmara Imperial”. Exigiu-se deles que pagassem enormes somas por esse privilégio, e assim os judeus tornaram-se uma fonte muito real da Receita da Coroa. Sendo eles propriedade do rei, podiam ser – e eram – comprados, emprestados e vendidos, como pagamento a credores.24Esse costume espalhou-se por outros países. Os líderes da Igreja justificavam essa situação teologicamente, com base no ensinamento dos princípios da Igreja, de que os judeus estavam condenados a uma servidão perpétua por terem crucificado Cristo.
Também outros fatores contribuíram para o aviltamento dos judeus. Barrados da maioria das outras profissões e das associações que admitiam somente cristãos como membros, os judeus foram virtualmente forçados a serem agiotas, sendo intrusos na sociedade feudal. Eles eram como uma esponja que absorvia o capital de giro do país, somente para serem periodicamente espremidos pelo Tesouro Público. Embora desaprovando os cristãos que praticavam a agiotagem, a Igreja fazia empréstimos com os judeus, a fim de construir catedrais e igrejas. A imagem negativa do agiota judeu foi mais tarde imortalizada nos personagens de Slylock, de Shakespeare, e de Fagin, em Dickens.
Infelizmente, a proteção pela qual os judeus pagavam tão altos custos, nem sempre se concretizava. Algumas vezes, motivos econômicos também estavam por trás do massacre de judeus. Por ocasião da Terceira Cruzada, um dos mais trágicos tumultos anti-semitas na Inglaterra, ocorreu em York.
Lá, os Cruzados antes de partirem para seguirem o seu Rei, saquearam as propriedades dos judeus, que fugiram para o castelo real onde foram sitiados pelos guerreiros – muitos dos quais, estavam em enormes débitos para com os seus perseguidos. O clímax foi atingido, quando uma pedra, atirada do castelo, matou um monge que tinha o costume de celebrar a missa do lado de fora do castelo todas as manhãs, e incentivar o povo a “destruir os inimigos de Cristo”. Quando os judeus viram a fúria dos sitiantes e sentiram que seu destino estava selado, mataram-se, degolando-se uns aos outros. Quando as multidões finalmente chegaram até à torre, os poucos judeus que restavam e que imploravam para serem batizados e libertos, foram massacrados. O total de mortos foi avaliado, com variações, entre 500 e 1500. Depois desta cena de carnificina, os atacantes convergiram para a catedral onde queimaram todos os arquivos das dívidas financeiras para com os judeus, que ali eram guardados.
Num escrito de 1135, intitulado: “Diálago entre um Filósofo, um Judeu e um Cristão” (Dialogue between a Philosopher, a Jew, and a Christian), o erudito francês, Pierre Abelard, põe na boca do judeu, as seguintes palavras:
Nenhuma nação sofreu tanto por Deus. Dispersados entre todas as nações, sem um rei ou governante secular, os judeus foram oprimidos com impostos exorbitantes, como se eles tivessem de recomprar suas próprias vidas todos os dias. O mau trato dado a um judeu, é considerado como um ato agradável a Deus. Tal aprisionamento, como é o suportado pelos judeus, somente pode ser considerado pelos cristãos como um sinal da mais profunda ira de Deus. A vida dos judeus está nas mãos dos seus piores inimigos. Mesmo dormindo eles são perseguidos pelos mais terríveis pesadelos. O céu é o seu único lugar de refúgio. Se eles desejam viajar até à cidade mais próxima, têm de comprar proteção com elevadíssimas somas em dinheiro, dos governantes cristãos que, na verdade, desejam a morte deles para que possam confiscar os seus bens. Os judeus não podem possuir uma terra ou uma vinha, pois não existe ninguém que possa lhes garantir segurança. Assim, tudo quanto lhes resta como um meio de sobrevivência é o negócio da agiotagem, e isso, por sua vez, traz contra eles o ódio dos cristãos.
Calúnia
Embora opondo-se à matança em massa dos judeus, o francês Bernard de Clairvaux (1090-1153), declarou que eles eram “uma raça que não tinha Deus como pai, mas sim, o demônio”. Seguindo o costume dos teólogos do seu tempo, ele havia tomado uma Escritura, (João 8.44), aplicando-a a todo povo judeu de todas as épocas. Séculos mais tarde, o líder nazista Julius Streicher, levou isto avante, recomendando “o extermínio desse povo, cujo pai é o demônio”.
Bode Expiatório
Um antigo exemplo da teoria do “bode expiatório” aconteceu em 1021, quando o Papa Benedito VIII executou judeus, culpando-os de um furacão e de um terremoto.
Quando houve a Peste na Europa (1347-1350), os judeus foram considerados responsáveis; dizia-se que eles haviam envenenado os poços de água. No sul da França, no norte da Espanha, na Suíça, Baviera, Renânia, Alemanha Oriental, Bélgica, Polônia e Áustria, acreditou-se na acusação e mais de 200 comunidades judaicas através de toda a Europa, foram destruídas. A extensão da tragédia pode ser melhor avaliada pelo número de 10.000 vítimas na Polônia – onde os judeus comparativamente escaparam com poucos mortos. Consideravelmente muito mais do que 10.000 foram mortos em somente três cidades da Alemanha (Erfurt, Mainz e Breslau).
Ritual de Assassinato
Com origem na Antigüidade, a acusação do “ritual de assassinato” foi primeiramente atribuído aos judeus pelos cristãos do século XII, na Inglaterra. Acusou-se os judeus de matarem crianças cristãs, freqüentemente antes da Páscoa, para fins rituais. Essas invencionices, conhecidas como “Libelo de Sangue” e que se transformou num culto às supostas vítimas, iriam pagar um tributo de milhares de vítimas, por toda a Europa. A história do pequeno Hugo de Lincoln, foi incorporada ao “Conto da Priora” (Prioress’ Tale) de Chaucer. Entre 1880 e 1945, a mentira do “ritual de assassinato” espalhou-se largamente no centro da Europa Oriental, tanto entre os Católicos Romanos quanto entre os Cristãos Ortodoxos Orientais. O jornal nazista “Der Stümmer”, apresentava regularmente figuras de rabinos chupando o sangue de crianças alemãs.
A Profanação da Hóstia
Uma acusação semelhante foi a de que os judeus profanavam os elementos sagrados da Santa Comunhão (a Hóstia), numa tentativa de crucificar Jesus uma segunda vez.
Em 1298, a acusação de profanação da hóstia, fez com que toda a população judaica de Rottingen fosse queimada. Seus atacantes continuaram com um massacre dos judeus por toda a Alemanha e também na Áustria. De acordo com as estimativas, 100.000 pessoas foram assassinadas e em torno de 140 comunidades judaicas dizimadas.
Em Praga, em 1389, um sacerdote carregando uma hóstia foi acidentalmente salpicado de areia por algumas crianças judias que brincavam. Em conseqüência disto, 3.000 judeus foram massacrados.
O Emblema da Vergonha
Em 1215, o IV Concílio de Latrão, conclamado pelo Papa Inocêncio III, decretou que, com base na passagem de Números 15.37-41, os judeus deveriam usar uma roupagem diferente (uma restrição também aplicada aos sarracenos, e mais tarde aos hereges, prostitutas e leprosos). Além disso, uma marca característica foi imposta para uso em suas roupas – séculos antes da estrela amarela dos nazistas – o emblema da vergonha, cuja forma e cor variavam de nação para nação. O emblema da vergonha fez dos judeus verdadeiros párias sociais, expondo-os a abusos tanto verbais quanto físicos.
Batismo Forçado
Esta expressão, significando batismo escolhido como uma alternativa entre a morte ou o exílio, tornou-se uma grande questão na Espanha Medieval. Em 1391, quando cerca de 50.000 judeus morreram em arruaças instigadas pela pregação de Ferrand Martinez, um arquidiácono de Sevilha, muitos números multiplicados por aquele foram batizados, inclusive muitos rabinos. Contudo, o batismo forçado criou um problema, pois muitos dos convertidos ainda praticavam a sua antiga fé secretamente, enquanto outros acomodavam-se por causa de vantagens pessoais; ambos os grupos eram chamados de “marranos”, que significa: “porco”.
Obsessão pela Pureza de Sangue
Na Espanha, o anti-semitismo, bem como o anti-marranismo, cresceram de maneira alarmante. Surgiu a noção de que o judaísmo hereditário ou “mala sangre” (sangue mau) era o problema; um problema que nem mesmo o batismo poderia alterar. Nasceu então o racismo espanhol, a obsessão pelo sangue puro.
Da mesma forma, o racismo foi a base do Parágrafo Ariano Nazista e das Leis de Nuremberg, barrando os judeus de qualquer cargo público e negando-lhes a cidadania alemã.
A Inquisição Espanhola
Em 1480, o Rei Fernando e a rainha Isabel da Espanha, estabeleceram um tribunal para expurgar a Igreja daqueles que clandestinamente apegavam-se à sua fé judaica. Seguiram-se prisões em massa. Em 1481, as primeiras vítimas foram executadas na fogueira. No decorrer dos anos, uma estimativa de 30.000 marranos foram entregues às chamas. A Inquisição Espanhola teve uma longa história (do século XV até o início do século XIX)49 e um vasto alcance geográfico, espalhando-se com todas as suas bem documentadas atrocidades até à América Latina.
Expulsões
Os judeus têm sido expulsos de aproximadamente todos os países onde têm residido.
Em 1290 os judeus foram expulsos da Inglaterra, 16.000 partiram para a França e a Bélgica, alguns morreram durante o caminho. Houve repetidas expulsões dos judeus da França e da Alemanha.
Fernando e Isabel expulsaram todos os judeus da Espanha em 1492, de maneira a consolidarem o seu reinado cristão. Muitos dos 300.000 refugiados escaparam para Portugal. Lá, foi-lhes permitido ficar por uns poucos meses, mas com um custo. Mais tarde foram temporariamente escravizados pelo Rei João II (1481-1495) e então – libertos pelo seu sucessor – foram brutalmente forçados a se batizarem.
Folias
Os sofrimentos dos judeus eram freqüentemente a atração das diversões que precediam a Quaresma. Na Roma medieval, o membro mais fraco da comunidade judaica era atirado nu num barril perfurado com longos pregos e rolado pelo morro abaixo, até morrer, enquanto seus patrícios judeus eram forçados a assistirem ao seu martírio. Na época da Contra-Reforma, os judeus de Roma, especialmente engordados para aquela ocasião, receberam uma saraivada de lama atirada pelas turbas – “como merecem os infiéis” – e eram forçados a correr nus pelas ruas onde estavam as diversões, debaixo do frio e da chuva gelada.
A Reforma
Martinho Lutero (1483-1546) originalmente favoreceu os judeus, com a esperança de que eles aceitariam a sua forma de fé, até mesmo louvando a sua contribuição para o cristianismo. Contudo, quando não conseguiu converter os judeus, a sua atitude modificou-se drasticamente.
Todo sangue aparentado com Cristo queime no inferno, e isto é o que merecem, mesmo de acordo com as suas próprias palavras, como falaram a Pilatos… Verdadeiramente, a existência desses judeus é uma coisa sem esperança, perversa, venenosa e diabólica, que durante 1400 anos tem sido, e ainda é, a nossa praga, tormento e infelicidade Eles são simplesmente demônios e nada mais.
No folheto “Com referência aos Judeus e as suas Mentiras” (Concerning the Jews and Their Lies) (publicado em 1542), Lutero escreveu:
Em primeiro lugar, suas sinagogas deveriam ser queimadas… Em segundo lugar, as suas casas deveriam ser destruídas e arrasadas… Em terceiro lugar, deveriam ser privados de seus livros de orações e do Talmud… Em quarto lugar, seus rabinos deviam ser proibidos de ensinar sob pena de serem mortos, se não obedecerem… Em quinto lugar, os privilégios de viagens e de um passaporte deveriam ser absolutamente proibidos aos judeus… Em sexto lugar, deveriam ser impedidos de fazerem agiotagem… Em sétimo lugar, que aos jovens e fortes judeus de ambos os sexos sejam dados manguais, machados, enxadas, pás, rocas e fusos e que eles ganhem o seu pão com o suor de seus rostos… Deveríamos expulsar os preguiçosos velhacos para fora do nosso sistema… Portanto, fora com eles… Para acrescentar, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não lhes serve, encontrem então um melhor, de maneira a que vós, e todos nós, sejamos libertos desta insuportável carga diabólica – os judeus.
Num sermão pouco antes de sua morte, ele clamou pela imediata expulsão de todos os judeus da Alemanha.
Mais tarde, os ensinamentos anti-semíticos de Lutero seriam literalmente aplicados no Terceiro Reich.
A ERA MODERNA
Na época moderna, o anti-semitismo cristão estava de tal maneira enraizado que moldava as atitudes das pessoas comuns, sem levar em conta a tradição cristã ou o segmento político.
O insulto “matadores de Cristo” continuava sendo proferido com veemência contra os judeus. Uma criança que, em 1921, fugiu com a sua família de Kiev para a Polônia, mais tarde se recordava da primeira frase em polonês, que lhe havia sido ensinada: “Os judeus mataram Cristo”.
Apanhados no Meio
A Polônia foi, durante um certo tempo, um refúgio para os judeus alemães fugindo das Cruzadas, da Peste e dos repetidos massacres. Mas em seguida, a situação ficou complicada por causa das relações entre a Polônia e a Ucrânia. Sendo cristãos ortodoxos orientais, oprimidos pelos católicos poloneses, os ucranianos se ressentiam principalmente com os intermediários judeus, atuando em nome dos detestados poloneses. Em 1648, quando os cossacos ortodoxos orientais da Ucrânia devastaram a Polônia, os judeus foram escolhidos para crueldades especiais.
Uma testemunha ocular relata:
Alguns eram esfolados vivos e suas peles eram atiradas aos cães, como carne. Outros eram feridos gravemente e depois atirados às ruas… Outros eram enterrados vivos. Bebês, nos braços de suas mães, eram apunhalados até à morte… Grande número de crianças judias eram atiradas à água, de maneira a nivelar melhor o vau.
Outras atrocidades são imencionáveis.
Durante a invasão sueca de 1655-1658, os judeus poloneses, por assim dizer, foram novamente apanhados dentro do fogo-cruzado. Eles foram atacados pelos russos, cossacos e suecos, cada um por sua vez, e depois que eles se foram, os próprios poloneses novamente os atacaram, sob a alegação de que os judeus haviam ajudado os invasores.
Na Polônia, de 1648-1658, talvez a mais sangrenta década da história judaica desde os tempos bíblicos, em torno de 100.000 a 500.000 judeus foram assassinados e 700 comunidades judaicas destruídas. Os refugiados fugiam em bandos para os outros países europeus.
Na Rússia, durante a guerra civil entre os exércitos Branco e Vermelho (1918-1920), os judeus eram atacados por ambos os lados – pelo Exército Branco, como revolucionários e pelo Exército Vermelho, como opressores burgueses.
Assimilação
No despertar da emancipação judaica em fins do século XVIII e no século XIX, o novo status dos judeus não foi bem-vindo por todos. Na Alemanha, o anti-semitismo tornou aspectos racistas, como reação ao movimento da assimilação judaica.
Em 1819, um panfleto foi tão longe ao ponto de propor massacres, castrações e consignação de mulheres judias à prostituição. Estes fatos levaram Graetz – que não era amigo do catolicismo – a declarar: “A teologia protestante e a filosofia germânica propuseram regulamentos contra os judeus, que não têm rival com as restrições canônicas de Inocêncio III e Paulo IV”.
O Caso Dreyfus
Quando na França, em 1894, um oficial judeu francês, Alfred Dreyfus, foi acusado de espionagem, desencadeou-se uma onda extremista de anti-semitismo – e isto num dos países mais civilizados do mundo, e o primeiro da Europa a conceder emancipação aos judeus. No fim, Dreyfus foi exonerado, mas não antes do caso ter escandalizado o mundo e balançado o governo francês, deixando um rastro de muita amargura contra os judeus. Um dos seus legados foi o regime de Vichy, que colaborou com os nazistas.
Opressão
Com a divisão da Polônia em fins do século XVIII, a Rússia tornou-se chefe da maior comunidade de judeus no mundo. Catarina II restringiu os judeus às províncias recentemente ganhas, agora chamadas “Âmbito do Estabelecimento” (“Pale of Settlement”). Ao mesmo tempo, ela convidou estrangeiros, excluindo judeus, a se estabelecerem na Rússia Central. Sob Nicolau I (1825-1855), a situação piorou para os judeus. O recrutamento militar começava aos 12 anos para os jovens judeus e podia ser estendido até os 25 anos. Eles eram enviados para regiões remotas. Qualquer método era empregado, inclusive tortura e abuso verbal, para fazê-los renunciar à sua fé e aceitar o cristianismo.
Depois da Rússia, a Romênia foi naquela época o maior opressor dos judeus. Sua população de 200.000 judeus, sofreu em condições similares àquelas dos dias mais sombrios da Idade Média.
Pogrôms (Massacre de judeus)
Durante o reinado do czar Alexandre III, o primeiro maior “pogrôm” começou na Páscoa de 1881 e espalhou-se a uma centena de comunidades judaicas. O conselheiro anti-semita do czar tencionava resolver o problema judeu fazendo com que um terço emigrasse, um terço morresse e um terço desaparecesse (ou seja: fosse convertido). Os pogrôms e conseqüentes emigrações em massa, continuaram sob o czar Nicolau II (1894-1917), que considerava os judeus como matadores de Cristo… Mesmo depois da II Guerra Mundial, aconteceram pogrôms na Polônia, apesar dos horrores do Holocausto e a grandemente dizimada população judaica.
Os Protocolos dos Sábios de Sião
Aparecendo pela primeira vez em 1905 na Rússia czarista, este livro de propaganda anti-semítica acusava os judeus de conspirarem para conquistar o mundo. Traduzido em muitas línguas depois da 1ª Guerra Mundial, causou um duradouro impacto no século XX, mesmo após ter sido desmascarado como sendo uma farsa, em 1921. Três edições tiveram ampla circulação nos Estados Unidos devido aos esforços de Henry Ford. Em 1922, o Ministro do Exterior judeu, da República Weimar da Alemanha, foi assassinado por dois fanáticos que imaginavam que ele fosse um dos “Sábios de Sião”. Na Alemanha nazista, a influência negativa do livro anti-semítico “Os Protocolos dos Sábios de Sião” chegou ao auge.
Nazismo
Embora o nazismo fosse anti-cristão, o anti-semitismo cristão tornou possível o Holocausto.
Hitler e os nazistas encontraram na legislação anti-judaica medieval católica, um modelo para si próprios, e leram e reimprimiram os violentos escritos anti-semíticos de Martinho Lutero. É bastante esclarecedor que o Holocausto tenha sido desencadeado pelo único dos principais países da Europa que tinha aproximadamente números iguais de católicos e de protestantes. Ambas as tradições estavam saturadas de ódio pelos judeus.
A Noite dos Cristais (Kristallnacht), em novembro de 1938, a noite em que as sinagogas foram queimadas na Alemanha, foi escolhida em honra do aniversário da data de nascimento de Martinho Lutero. Quando relatava os seus 16 passos do programa nazista, Hitler declarou: “Estou somente fazendo o trabalho da Igreja Católica”.
Uma situação constrangedora foi criada nas igrejas, quando judeus batizados, portando estrelas amarelas, apareciam para os cultos religiosos… Os representantes da Igreja Evangélica Luterana em sete províncias, invocaram os ensinamentos de Martinho Lutero, para declararem que racialmente, cristãos judeus não tinham lugar e nenhum direito numa igreja evangélica alemã.
Embora os cristãos, individualmente, dessem assistência aos judeus, a igreja oficial, em geral, não o fazia.
II Guerra Mundial
Mesmo em face dos horrores do nazismo em seu auge, muitos falharam para com os judeus em sua hora de maior necessidade. Séculos de anti-semitismo cobraram o seu tributo em vários países.
Num julgamento por crimes de guerra em 1958, um antigo ministro lituano (da Lituânia, perto da Rússia), foi inquirido por que ele permanecera em silêncio diante dos terríveis assassinatos a que presenciava. A sua resposta foi que ele acreditava que o versículo da Escritura estava sendo cumprido para os judeus: “Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos”. Embora seja horrendo que esta Escritura possa ser usada para justificar tamanha desumanidade, pontos de vista semelhantes têm sido expressos por cristãos de outras nacionalidades.
Quando um embaixador do Papa foi requisitado para intervir nas deportações da Eslováquia para Auschwitz, considerando o sangue inocente das crianças judias, sua resposta foi: “Não há sangue inocente de crianças judias no mundo. Todo o sangue judeu é culpado. Vocês têm de morrer. Este é o castigo que eles têm aguardado por causa daquele pecado (a crucificação)”.
A Suíça fechou as suas fronteiras. Os rígidos regulamentos do Canadá e dos Estados Unidos impediram a entrada de muitos judeus naqueles países. O governo britânico descumpriu as suas promessas aos judeus, com referência a um país que lhes fosse um lar, (conforme estabelecido na Declaração de Balfour, de 1917), fechando as portas a milhares de judeus que buscavam asilo na Terra Santa durante e imediatamente após a era nazista. A tragédia do navio STRUMA, merece ser especialmente mencionada. Depois de ser mandado de volta de onde viera, o navio foi torpedeado no Mar Negro no inverno de 1942, dos 769 judeus que estavam a bordo, somente um sobreviveu.
Indiferença desumana
Tristemente, após 2.000 anos de cristianismo, esta é a acusação a ser posta à porta de virtualmente todos. De fato, se não tivesse sido pela vergonhosa passividade de quase toda a comunidade mundial às vésperas da II Guerra Mundial, Hitler não poderia ter levado avante o seu extermínio em massa dos judeus. Na conferência de Evian-les-Bains, na França, especificamente convocada pelo Presidente Roosevelt em julho de 1938 para ser discutido o destino dos judeus europeus, somente três, de cerca de 30 nações (Dinamarca, República Dominicana e Holanda) aceitaram receber uns poucos milhares de judeus. Os informantes nazistas relataram de volta a Hitler: “Pode fazer o que quiser com os judeus; o mundo inteiro não os quer.”
Um Chamado ao Arrependimento
O padre católico e historiador Edward Flannery, refletindo sobre o anti-semitismo cristão, observa:
É uma tragédia na qual Jesus participa, sendo crucificado novamente na pessoa do Seu povo, pela mão de muitos que foram batizados em Seu Nome. O pecado de anti-semitismo contém muitos pecados, mas, em última análise, é uma negação da fé cristã, uma falha da esperança cristã, e uma enfermidade do amor cristão. E não tem sido esta a suprema traição do cristianismo: que o povo cristão, a quem foi prometida a perseguição pelo seu próprio Mestre (João 16.2-4), não foi o povo mais perseguido da cristandade, mas, ao invés disso, foi o povo de onde Ele veio? E o máximo dos escândalos: que carregando o fardo de Deus na História, o povo judeu não encontrou nas igrejas cristãs um aliado e defensor, mas sim um dos seus mais zelosos difamadores e opressores? Esta é uma história que clama por arrependimento.
No mesmo espírito, Madre Basilea escreve:
Hoje tomemos nosso lugar ao lado de Jesus e olhemos para o Seu povo com os Seus olhos, cheios de amor e de misericórdia. Então nossos corações doerão ao ver este povo escolhido de Deus, vagando através dos séculos, desventurados, desprezados, enxotados, esquecidos e afligidos com dores, semelhante ao sofrimento do Servo de Deus em Isaías 53. Então, olhando para eles, nós nos lembramos dEle.
Leitura Recomendada:
Israel, O Meu Povo Escolhido, (Livro), de M. Basilea Schlink.
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Sugestões para um Culto de Arrependimento
© Evangelical Sisterhood of Mary 1997
Material de: Has the Church Fallen Under a Curse?, Our Hands Are Stained with Blood e The Anguish of the Jews foi usado com a gentil permissão dos respectivos editores.
Bibliografia utilizada neste artigo:
M.Basilea Schlink, Israel, O Meu Povo Escolhido, 1ª ed.brasileira, 1996, Curitiba, PR, Brasil, pp.29-30.
The Letter of Barnabas 4:6-7, “Apostolic Fathers”, p.195 conforme citado por Edward H. Flannery, The Anguish of the Jews: Tuenty-Three Centuries of Antisemitism, Paulist Press, New York/Mahwah, 1985
Transcrição de uma palestra de Olga Marshall (Conselheira de Pesquisa de Lydia), Swanwick, Inglaterra, Maio de 1997
Malcolm Hay: The Roots of Christian Anti-Semitism. Liberty Press, New York 1981, p.27, conf. Michael L. Brown. Our Hands Are Stained with Blood: The Tragic Story of the “Church” and the Jewish People. Destiny Image Publishers. Shippensburg, 1992
David Rausch. A Legocy of Hatred: Why Christians Must Not Forget the Holocaust, Baker, Grand Rapids, 1990, p.27 e Robert Payne, The Dream and The Tomb: A History of the Crusades, Dorset Press, New York, 1984. pp.102-103, conf. Brown
Petrus Abelardus, Dialogus inter Philosophum Judaeum et Christianum (PL.178:1617-18), conf. Flannery
Hans Kühner, Der Antisemitismus der Kirche, Verlag Die Waage, Zurique, 1976
James Parkes, “The Foundations of Judaism and Christianity”, conf. Dennis Prager e Joseph Telushkin Why the Jews? The Reason for Antisemitism, Simon and Schuster, New York, 1983, p.100, conf. Brown
Martinho Lutero, Concerning the Jews and Their Lies, reimpresso em Talmage, Disputa e Diálogo
Werner Keller Und wurden zerstreut unter alle Völker: Die nachbiblische Geschichte des jüdischen Volkes, Evangelische Buchgemeinde Stuttgart, Droemersche Verlagsanstalt Th. Knaur Nachf., Munique / Zurique, 1966
Eerdmans’ Handbook to the History of Christianity
Elezer Berkovits, Faith after the Holocaust, Ktav; New York, 1973
Prophecy Today, The Park, Moggerhanger, Beds., MK44 3RW, Inglaterra, Vol.5, N°l, Jan./Fev. de 1989, pp.12-13. Vide também None Is Too Many, p.32, e Martin Gilbert (autor de The Holocaust: A History of the Jews of Europe during the Second World War, Henry Holt, New York, 1985), em Final Journey: The fate of the Jews in Nazi Europe, Mayflower Books, New York, and George Allen & Unwin, Londres, 1979
Fonte: http://www.canaan.org.br/israel_culpa.htm
http://reporterdecristo.com/a-culpa-da-cristandade-para-com-o-povo-judeu/
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RE: A origem dos Sobrenomes judaicos
Caro confrade António Bivar,
Certamente que lhe dou total razão!
O texto é falho; o autor errou, e muito, a operar por meio de tantas generalizações.
Apenas o citei por simples curiosidade e pelo mesmo conter algumas informações de interesse.
Cordial e respeitosamente,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro A. Luciano,
Com ou sem polémica é sempre agradável poder discutir temas, em vez de simplesmente discordar em silêncio. Como tal agradeço a sua resposta e permita-me algumas considerações.
É verdade que falei genericamente, pois não era meu objectivo produzir um trabalho quase "académico" (nem tenho a pretensão de sequer o conseguir fazer). No entanto o que escrevo tem como base o que li, e como tal terei todo o gosto em fornecer referências adequadas para os pontos que achar serem no mínimo duvidosos.
A sua descrição inicial sobre as divisões dos judeus, que agradeço, não me era desconhecida. Em especial a integração comum dos sefarditas nos mizrahim é algo que tem impactos em termos de estudos genéticos, razão pela qual muitos deles têm especial cuidado em obter linhagens sefarditas que procedam comprovadamente da Península Ibérica.
O que diz sobre a constituição étnica de Israel também não me merece mais do que a concordância completa. Alias, falando em ultrapassar o "politicamente correcto", subsiste a questão dos Beta Israel, que dentro de Israel continua a levantar questões sobre o próprio significado do que é "ser judeu".
Quanto ao resto, como seria de esperar discordo respeitosamente, não vendo o que na herança árabe poderia explicar essa diferença - que por outro lado também acho difícil de generalizar, sendo que estamos a partir de uma observação quotidiana (o sermos bons a receber imigrantes, que é algo que mesmo assim é passível de ser discutido, no sentido em que muitos países europeus recebem bem imigrantes) para justificarmos retroactivamente que por causa disso é quase certo que integrámos mais que os outros. E, de forma meramente pessoal, conheci imensos locais na Europa onde imigrados recentes forma esplendidamente recebidos. Tudo depende, claro, da época e dos imigrantes, entre outros factores.
Quem são os portugueses, os que receberam judeus durante a segunda guerra ou os que relaxaram em carne pessoas por serem 1/32 avos cristãos-novos? Ambos, mudou o tempo e as circunstâncias.
A herança visigótica, aproveito para esclarecer, diz-me pouco ou nada, a não ser do ponto de vista político em termos de fundamentos da Reconquista (e mesmo isso é mais simbólicos que algo que se deva atribuir aos ditos). Considero que o carácter dos povos ibéricos é essencialmente hispano-romano, tanto em termos mais biológicos como culturais. Influências várias há-as certamente, mas como decerto não consegui disfarçar (e porque razão teria do fazer?) sou altamente céptico e em geral crítico das correntes que vêm a história de Portugal ou da Ibéria numa perspectiva das "três culturas" (que existiam certamente, o que ponho em causa é a salutar convivência das mesmas e a influência desmedida que se quer dar às "derrotadas", a não ser pelo ponto de vista de oposição).
Cordiais cumprimentos,
Frederico Muñoz
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Los judíos en la España visigoda
Fonte: http://themaskedlady.blogspot.com/2009/11/los-judios-en-la-espana-visigoda.html
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Los judíos en la España visigoda
En el año 613 el rey godo Sisebuto ordenó a todos los judíos de su reino que se convirtieran o salieran del país, olvidando la consigna del Papa Gregorio de que el bautismo no debía ser nunca forzado. San Isidoro, obispo de Sevilla y cabeza del clero español, nos dejó las siguientes palabras al respecto:
“En el comienzo de su reinado puso mucho ardor en la conversión de los judíos a la religión cristiana, pero poco entendimiento desde el día en que utilizó la fuerza contra aquellos que más bien debían ser captados por el espíritu de la fe”.
Muchos decidieron quedarse. Se someten al bautismo, pero sólo en apariencia, decididos a permanecer fieles en secreto a la religión de sus antepasados, con la esperanza de que las persecuciones terminen y puedan volver a declararse judíos. Otros abandonan España y atraviesan los Pirineos hacia el reino de los francos, donde poco más adelante, bajo el reinado de Dagoberto, sufrirán la misma desgracia. Otra parte de los expulsados toma el camino de África y empiezan una nueva vida.
No sabemos por qué razón actuó así Sisebuto. La situación de los judíos en España durante el periodo arriano de la monarquía visigótica había sido bastante segura, de ahí que muchos se hubieran ido estableciendo en el territorio, viendo en él un refugio. Y quizá por el número que habían alcanzado, Sisebuto creyó que podrían perjudicar la estructura interna del reino.
La opresión no dura más allá de su reinado. Su sucesor, Suintila, llamado por los oprimidos el padre de la patria, se comporta como un soberano benévolo y justo. Muchos de los desterrados vuelven a sus antiguos hogares. Pero esta pausa dura sólo un decenio. Una conjura destrona al rey, y en el año 633, bajo Sisenando, el concilio reunido en Toledo dispone: “De aquí en adelante ningún judío puede ser obligado a profesar la religión cristiana. No obstante, aquellos que fueron forzados a recibir el bautismo bajo el Piadosísimo señor Sisebuto y a los que se permitió recibir los Sacramentos, deben permanecer cristianos”.
-Los hijos de los bautizados son separados de sus padres y llevados a monasterios para ser educados, o bien son puestos bajo la tutela de familias cristianas.
-A un judío casado con una cristiana no le queda sino escoger entre bautizarse o divorciarse.
-Todo matrimonio en el que la esposa judía se niegue a bautizarse debe ser anulado.
-A los judíos bautizados les está prohibida toda relación con sus hermanos de raza.
-Todo aquel que, habiendo sido bautizado, se descubriera que continuaba observando los preceptos de su antigua religión, pagaría con su libertad y pasaría a ser esclavo.
-Todos aquellos que aceptaran regalos de los judíos y les otorgaran su protección estaban amenazados con la excomunión.
Los judíos preocupan también a Recesvinto. Diez leyes de este monarca contra judíos y judaizantes fueron recogidas en el Liber Iudiciorum. El rey no duda en calificarlos como enemigos. Para él es una deshonra que se haya logrado exterminar todas las herejías y mantener pura la fe y no se haya conseguido la conversión de los judíos. Lograrla es consolidar la monarquía.
Los judíos se unieron al traidor conde Paulo en su rebelión contra Wamba. El rey Ervigio intentará resolver el problema judío promulgando más leyes contra ellos: deberán abjurar de su fe delante del obispo. El rey prohíbe aplicar la pena de muerte, pero exhorta al concilio con estas palabras: “Extirpad de raíz la peste judaica, que siempre se renueva con nuevas locuras”.
(Toledo, la ciudad de las tres culturas, capital del reino hispanogodo)
Como consecuencia de las nuevas disposiciones los judíos tenían la obligación de presentarse todos los sábados y fiestas suyas ante un cristiano autorizado para poder probar que no celebraban sus ritos. Para que ni siquiera los clérigos fueran negligentes en el cumplimiento de esta obligación, se nombraron inspectores entre ellos con el fin de vigilarse unos a otros. Como castigo por tolerancia o dejadez se les imponía una excomunión de tres meses y debían pagar una libra de oro al rey.
Egica, yerno de Ervigio, se mostró benévolo con ellos al principio de su reinado. Sin embargo en el 694 declara que todas las leyes dadas anteriormente contra los judíos para lograr su conversión deben permanecer en vigor. La razón de este cambio en su actitud obedece a su convicción de que los judíos se habían lanzado por el camino de la conspiración. El rey estaba persuadido, al parecer con bastante fundamento, de que había un plan mediante el cual, y de acuerdo con aquellos que se habían refugiado en el norte de África en tiempos de Sisebuto, se facilitaría a los árabes la invasión de la Península Ibérica.
Bibliografía:
Sefarad: los judíos de España – María Antonia Bel Bravo
Semblanzas visigodas – José Orlandis
Historia del reino visigodo español – José Orlandis
Historia de los judíos – Vicente Risco
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Agrada-me ver que leu Borges Coelho "o ar de Portugal cria judeus" é citação que não engana. De facto "A Inquisição de Évora" pesada e desagradável de ler é muitíssimo mais séria e documentada do que "Inquisição e Cristãos-Novos" - que pessoalmente considero facciosa, falsa e desonesta, por ordem decrescente - que o próprio Saraiva admitiu na fase final da sua vida que já não a subscrevia (ou que a reescreveria de forma diferente, já não recordo bem) mas que "curtinha e em estilo agradável" o invés de Borges Coelho é a fonte mais geral do (des)conhecimento geral sobre a Inquisição em Portugal.
Talvez porque nem 10% dos processos da Inquisição tenham sido estudados, todos fogem a quantificações e Borges Coelho, auto-limitado a Évora, não é excepção apesar dos quadros publicados no final de um dos volumes.
De memória, houve um estrangeiro que escreveu sobre a Inquisição Espanhola e que, a talho de foice, atribui à Inquisição Portuguesa 1250 condenados à morte em mais ou menos 250 anos, ou seja 5 por ano em média. Não sei dizer se este número é disparatado e agradeço outra informação. Entretanto ofereço-lhe alguns números para contraste e faço os meus comentários.
1500 judeus foram mortos pela Inquisição Espanhola só na década de 1480-1490 (segundo o mesmo autor) daí que não consiga entender a sua afirmação "...Inquisição Portuguesa, que instaurou mais processos e mais relaxados que a sua congénere."
Também tenho dificuldade em entender a sua antinomia entre os muitos judeus que vieram para Portugal e os muitos milhares que de Portugal fugiram para Espanha. Lúcio de Azevedo estimou em 120 mil os que vieram de Espanha enquanto Damião de Goes falou em 20 mil famílias o que não seria muito diferente e vejo na Wikipédia reduzido para 93 mil. Tem alguns dados de que os que de Portugal fugiram para Espanha tenham sido a décima parte destes? E, se admito a décima parte ou, com muito boa vontade, o dobro disso, teria de incluir as "Índias de Castela" ou seja, a América mas esta emigração seria irrelevante para o argumento.
Quanto aos "usos e costumes" da Inquisição Portuguesa não se referirá nem à violência ...
- Em 1572 em França, mataram-se entre 5.000 e 30.000 huguenotes (massacres de St. Barthelémy);
- Os bispos alemães na célebre "caça às bruxas" promoveram 10 mil mortes femininas.
- Não tenho números sobre a guerra religiosa que opôs Isabel I e Maria "a Sangrenta" (isto é, a vencida) mas não serão inferiores aos anteriores.
... nem aos processos apenas fundamentados em delação suspeita ou interessada ou preconceituosa ...
- Novamente as "bruxas" alemães que, em grande número de casos eram as mulheres com quem os maridos das delatoras se tinham envolvido (li sobre estes assuntos por ter antepassados envolvidos, infelizmente da pior maneira, desde um "promotor de justiça" até outro testemunha de acusação no julgamento da mãe do astrónomo Kepler).
- Sem lhe poder dar referências específicas, pesquise na NET sobre a implantação do Calvinismo, sobretudo na Suiça e em particular na cidade Genebra. Aliás é bem sintomático que calvinistas holandeses em 1645 tenham promovido no Rio Grande do (Norte/Sul?) no Brasil um massacre perpretado por índios sobre católicos com cerca de 80 mortes o que se expresso em percentagem de habitantes seria pior do que o Holocausto.
... também não será sobre o uso da tortura...
- Não vejo desacordo com os costumes da época e que, ao contrário de outras torturas contemporânes e posteriores tinha forma legal estritamente regulamentada e decidida a frio pelos inquisidores (tantas voltas de roda, tantos tratos de polé) normalmente em número de 3 e em que um era um juiz régio, e de acordo com regulamento de que dois foram aprovados pelo cardeal D. Henrique, depois Rei.
... restaria assim como idiossincracia da Inquisição Portuguesa o aproveitamento (e motivação, digo eu) económico, em que toda uma organização da base ao topo se alimentava da extorsão a cristão-novos que, na grande maioria e tanto mais quanto mais tarde pior, não eram mais do que pseudo-judaizantes. Isto seria, digo eu, seria um esquema mafioso de corrupção para-estatal. Merece desenvolver.
No início as Inquisições foram tribunais régios, autorizados pelo Papado por motivos (se alguém quiser substitua motivos por pretextos) válidos sob os pontos de vista religioso e estatal. Logo a primeira para terminar com a heresia Albigense mas as que mais nos interessam, a Portuguesa e a Espanhola para, subordinando-as a um tribunal régio, impedirem que populares fizessem justiça por suas mãos (vejo-me forçado a um salto de coerência para não introduzir já as diferenças portuguesa/espanhola) como viria a acontecer em Paris e noutras localidades e também em Lisboa no "pogrom" de 1506 em que em 3 dias foram mortos possivelmente mais do dobro dos judeus do que os condenados à morte pela Inquisição (mas executados pelas justiças régias). Isto soa a piada de mau gosto mas se, tão ao gosto do positivismo actual, se fizer apenas a análise quantitativa, por oposição à barbárie popular a Inquisição mereceria o título de Benemérita.
O que é certo é que a inquisição ibérica nasce (também) do desejo dos reis aumentarem o seu poder passando a ter jurisdição sobre crimes de religião (e nomeando os agentes judiciários, talvez o mais importante). Ignorando novamente as diferenças com Espanha, em Portugal a inquisição é pedida por D. Manuel - não interessa por enquanto porquê - e apenas implementada já contra a vontade do próprio Papa por exigência de D. João III, Foram Inquisidores-Gerais os cardeais Alberto, arquiduque de Habsburgo e D. Henrique, depois Rei. Saltando os "entretanto", a Inquisição foi sempre próxima e subordinada ao Rei ou ao poder efectivo (não posso demonstrar neste espaço) tanto mais quanto mais efectivo era esse poder. Sintomaticamente, na fase final antes de 1773 (só extinta em 1821 mas sem poder excessivo depois daquela data) foi seu presidente um irmão do marquês de Pombal. Não se tratou de uma "morte lenta" a que a legislação pombalina apenas deu conformidade. Como se pode verificar em Borges Coelho, na década que antecedeu a quase extinção por Pombal o número de autos-da-fé não foi significativamente diferente de período anterior e, aliás, em 1761, no auge pombalino, deu-se um dos mais significativos "crimes contra o espírito" da Inquisição, a queima em efígie do Cavaleiro de Oliveira.
É assim meu entendimento que a Inquisição Portuguesa não é responsável pela decisão das políticas de Estado quanto aos judeus, não se afasta para pior, antes pelo contrário, das práticas repressivas da época e, como acontece a TODOS os estatismos que ultrapassam os seus tempos próprios, autonomizou-se num vulgar bando de extorsionários, amigos de quem ocupava o poder e que ocupava uma vasta gama de "apparatcihks" em que se incluíam membros da nobreza da côrte incluindo titulares (no meu juízo maioritariamente para justificarem não servir de outras formas na Índia ou Brasil) e da pequena nobreza (no meu juízo maioritariamente por motivos de venialidade e/ou vaidade).
Ou seja, como corolário, teria agora de discutir a estrutura de poder em Portugal e em particular, a sua nobreza, campo em que novamente discordo com ambos, Frederico Muñoz e Conde de Granada.
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro confrade A. Luciano,
Permita-me concordar e discordar de alguns pontos:
1. Parece-me, também, ficar claro que as motivações da chamada Inquisição Portuguesa eram quase que exclusivamente de raíz/cunho econômico em detrimento de uma provável "cultura ou senso-comum anti-semita", que, ao meu ver, não existiu em Portugal. Ademais, de fato, a Inquisição foi até que "calma" nas terras lusitanas.
2. A Inquisição Espanhola foi, de fato, "mais cruel" e, certamente, matou mais, o que é, se falarmos apenas em números, "relativo", pois soa anacrônico e paradoxal, uma vez que ataca-se tanto Hilter e o Nacional-Socialismo, que ceifou 6 milhões de judeus, enquanto as perdas humanas com a Colonização Européia (a Espanhola, majoritariamente; bem como a Inglesa/Francesa e a Portuguesa - sem dúvida a mais branda, e, por que não?, até pacífica, se comparada às demais) custou muito mais caro... A "cruz" e a coroa/espada mataram mais nas Américas do que a suástica na Europa... Mas, como dizia o Cristo, "uma alma vale mais que o mundo inteiro", portanto, números não justificam, apenas, aparentemente, amenizam.
3. De fato, Calvino implantou sua própria inquisição/ditadura em Genebra, proibindo, até mesmo, bebidas, música e afins, sem falar da quantidade de gente que ele (tribunais, na verdade) mandou para à fogueira. Foi ele quem obrou o "Malleus Maleficarum" na sua versão protestante, que depois desaguou no extremado puritanismo dos quakers ianques, cheios de recalques e taras escondidas sob o manto da piedade (verdadeiros "santarados")... Infelizmente, os homens são imperfeitos... Aliás, sobre o assunto, indico a leitura de "Castellio contra Calvino - Consciência contra violência", escrito por Stefan Zweig, judeu e lerdo-pacifista exilado no Brasil. Todavia, Calvino foi um brilhante pensador. Seus textos políticos-ecômicos-sociais são a perfeita expressão do pré-liberalismo e contêm, em si, certas doses de uma espécie de social-democracia ou mesmo "comunitárismo", bem diferente da sanguinolência ideológica dos textos de Weber, que criou "o capitalismo protestante", tendo como base apenas a afirmação teológica da elevação e grandeza do trabalho na vida humana.
4. Quando fala "Aliás é bem sintomático que calvinistas holandeses em 1645 tenham promovido no Rio Grande do (Norte/Sul?) no Brasil um massacre perpretado por índios sobre católicos com cerca de 80 mortes o que se expresso em percentagem de habitantes seria pior do que o Holocausto", estaria se referindo à Batalha de Guararapes? Certamente que o local mais próximo da referida, quando fala do "Rio Grande", seria o do Norte. Todavia, as guerras luso-batavas foram, predominantemente, travadas em solo Pernambucano. Provavelmente, o episódio ao qual se refere, ocorrido em 1645, deve se referir à eclosão da Insurreição Pernambucana. Ainda assim, deve-se ficar claro que, jamais, os confrontos tiveram quaisquer motivações religiosas. Portugal e as Províncias Unidas dos Países Baixos (leia-se Companhia das Índias Orientais) lutaram movidos por interesses meramente econômicos (comércio da cana-de-açúcar) e políticos (problemas com a Espanha, principalmente), movidos como marionetes, por sua vez, pela ganância Britânica (Rule Britannia?). Assim, não foi uma guerra entre católicos e calvinistas-reformados, mas, uma batalha entre o Mercantilismo e o nascente Capitalismo, entre a elite colonial luso-brasileira (cheia de dívidas - portanto, já fica claro que não foi ardor patriótico que os levaram à pegar em armas...) e os, por que não, judeus donos da Holanda... Tenho ancestrais que lutaram dos dois lados, portanto, estou, aqui, tentando ser imparcial. Se a questão fosse religiosa, em se tratando de tolerância e liberdade, ganhariam os Reformados, que criaram a "Veneza Brasileira" e que nela, por obra pessoal de Maurício de Nassau, instalaram o primeiro observatório astronômico das Américas. Aliás, foi em Pernambuco que se fundou a primeira sinagoga das Américas...
5. Em que, especificamente, o senhor discorda quanto à situação, formação e "medida interna" da nobreza portuguesa?
Melhores e sinceros cumprimentos,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Dayher Gimenez
Permita-me discordar do seu ponto 1)
Na minha opinião, em Portugal existiu sim uma "cultura ou senso-comum anti-semita", da mesma maneira como existiu, e ainda existe, em outros países europeus. Evidentemente, que com a progressiva integração/desaparecimento da componente étnica judaica da população, se foi diluindo.
Aliás, por que não haveria? Uma parte população que vive à parte, com hábitos e religião diferente, e em média possuindo rendimentos e sofisticação superior à maioria, em tempos difíceis como aqueles atraía sempre a suspeição e o ódio.
Desde os foros de alguns concelhos medievais onde é expressa a proibição de entrada de judeus, passando pelo massacre de 1506, e as perseguições aos supostos "judeus" nas Beiras por alturas das invasões francesas, os exemplos serão vários. Ainda hoje, "judeu" pode ser um insulto em lingua portuguesa. E "fazer judiarias" não é concerteza fazer algo de bom..
Lembro-me de há tempos ter lido numa reportagem sobre a comunidade judaica de Belmonte, os comentários dos habitantes cristãos, que ainda revelavam, e muito aquela desconfiança ancestral pelos vizinhos judeus.
Cmpts,
E.Simões
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
"Por exemplo, em Portugal era expressamente proibido o casamento entre cristãos-novos e cristãos-velhos, ..."
Eis outra afirmação de que desconheço fundamentos e contraria o que julgo saber.
Antes da Inquisição, por mera intuição, diria que, tendo a comunidade judaica melhores níveis económicos e culturais do que a cristã, tendo muito maior sentido gregário - que perdura actualmente - se não existiam casamentos mistos isso dever-se-ia a desinteresse/preconceito judaico e não cristão. Aliás, se jovens da nobreza se enamoravam de judias - acho difícil que a mãe de D. Afonso, 1º duque de Bragança não fosse judia - os não nobres facilmente quereriam com elas casar.
Depois dos paroquiais e da Inquisição está documentado que existiram casamentos mistos e não vejo como teriam sido proibidos. Não sou um conhecedor de processos da Inquisição, mas vi os da minha ancestralidade e em todos (que me lembre) havia referências a "meio cristão-novo" com "parte de cristão-novo" (até ao ridículo limite de 1/32 como referiu) e tudo isso teria tido origem em casamentos de cristãos-novos com cristãos-velhos que seriam assim em muito elevado número. Do que vi, na Inquisição de Lisboa mas mais na de Évora, fiquei com a impressão de que seriam mais os com "parte de cristão-novo" do que os puros cristão-novos.
Quanto à sua discordância com o confrade Conde de Granada quanto à nobreza portuguesa e seus atributos, mais uma vez ignorando deliberadamente as diferenças com Espanha, digo que é discussão sem qualquer sentido porque não há só uma nobreza portuguesa. Em Portugal houve uma alta nobreza, oriunda muito maioritariamente na Família Real ainda que por afinidade que se foi "refinando" só casando entre si e sendo no tempo de Pombal não mais de 15 Casas, possivelmente apenas 11 ou 12 pois alguns "torciam o nariz" até aos Mascarenhas marqueses de Fronteira.
Essa alta Nobreza constituía um fenómeno único e sem paralelo na Europa, nem sequer em Castela, pudessem embora os castelhanos ser mais altivos ou arrogantes ou orgulhosos no trato com terceiros.
Foi precisamente Pombal que obrigou os chefes dessas Casa a casarem e contratarem o casamento dos seus herdeiros fora desse núcleo de Casas "puristas". É também sem paralelo na Europa e, que saiba, no mundo, a decisão de Pombal que, mais do que o processo dos Távora e o "apagamento" da Casa de Aveiro, mostra o incomensurável e desmedido poder desse 1º ministro. Disse-me, em aulas que recordo com enorme saudade, o prof. Adriano Moreira que poder era a faculdade de obrigar os outros a cumprir. Considero espantoso que um homem possa ter tido tal poder!
Pombal justificou a medida pela negativa, isto é, porque só essa Nobreza seria a verdadeira, toda a outra seria de 2ª ordem e assim, Portugal seria aos olhos de estrangeiros e em termos práticos, um País com nobres de segunda categoria. Para mim, parece-me que Pombal apenas queria pertencer ele ao máximo possível; sendo a Casa Real impossível - ainda longe dos Palmelas e Loulés - e não podendo ascender ao máximo apesar de marquês, rebaixou os outros ao seu nível num belíssimo exemplo de inveja e nivelamento por baixo como ainda é hoje apanágio de muito "boa" esquerda "politicamente correcta".
Quanto à restante nobreza titulada mas não de Casas "puristas" não faz sentido defini-la e definir-lhe atributos sem localizações geográficas e temporais definidas. Sendo desde logo evidente que foram filhos segundos de grandes Casas que governaram o império, não se podem comparar estatutos dos que estiveram na Índia ou no Brasil com os que ficaram na Metrópole. Destes, "grosso modo" haverá diferenças abissais entre os que residiam nos seus Coutos e Honras, propriedades com jurisdição, os que possuíam um ou meia dúzia de casais e os que acompanhavem a Côrte. Desde que a côrte se fixou em Lisboa "grosso modo" com D. João IV, também os titulares cortesãos pouco tinham em comum com outros.
De resto, o número de titulares cresceu por saltos, acompanhando as grandes mudanças, 1383-1385 e 1640 mantendo-se relativamente estável entretanto e até finais do séc. XVIII, fenómeno igualmente raro - já não digo sem paralelo - na Europa. Como igualmente foi extraordinário, em expressão percentual, o "deboche" da criação de títulos com o liberalismo.
Por outro lado, Portugal tinha uma enorme "nobreza de serviços" esta em percentagem sem igual na Europa.
É evidente que, entre os "puristas", os mais exclusivos da Europa" e a maior percentagem de "nobreza de serviços" da Europa muito pouco haveria em comum.
(A minha principal fonte é Nuno Gonçalo Monteiro em "O Crepúsculo dos Grandes - ..." e "Idade Moderna" da História de Portugal coordenada por Rui Ramos).
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caríssimo A. Luciano,
Certamente que lhe dou total e ampla razão quando se refere aos processos "físicos" de formação da nobreza/fidalguia portuguesa! Provavelmente, não me fiz entender corretamente. Assim, deixe-me explicar. Refiro-me, como anteriormente dito, não a sentimentos de "casta", cheios de excessivas restrições (que por isso mesmo, como bem o senhor exemplificou, foram motivos de ira para Pombal desaguar seu tolo, infantil, invejosos e recalcado orgulho igualitário - As "luzes" fizeram-lhe, talvez, algum mal...), mas a um necessário sentimento/consciência de classe, algo genuíno, cristão, de um orgulho necessário, enfim, de uma postura que, como no ideal na formação da própria cavalaria/nobreza, servisse de exemplo à sociedade como um todo (orgânica, naturalmente).
Ou seja, apesar do atual estado de completo desmazelo, é um tanto quanto óbvia a origem "refinada" (refiro-me, naturalmente, à seleção de casamentos entre si), como também é perfeitamente provável o excesso de cargos estatais ligados à nobreza, cujo resultado foi um dos piores possíveis, pois, se existiram grandes estadistas e homens de governo nessas famílias, proporcionalmente, também existiu, infelizmente, um grande número de desocupados, corruptos e aí vai. Retirou-se os deveres da aristocracia (aqui, acho que melhor cabe esse termo) e foram mantidos os direitos (não privilégios, que é outra história - assim como não uso muito o termo "desigualdades" - mote de guerra das ébrias esquerdas -, pois, geralmente, são apenas "diferenças."). E esse mal governamental, de estado patronal, messiânico, "pai dos pobres" e "mãe dos ricos", acabou sendo reproduzido, infelizmente, no Brasil, ao menos durante o período do Reino (1808-1822), posto que eu, pessoalmente, não acredite totalmente em "Colônia."
Enfim, no sangue há grandeza, mas nos modos há pobreza de espírito... acompanhada de um (desde o começo do século XIX) completo desdém para com à própria classe a que pertencem, valendo-se mais dos títulos como "ingresso social" do que como arma eficaz de permanente "revolução social" (não no sentido jacobinista-esquerdista, da tri...) e auto-ajuda, enfim, reciprocidade e . A fogueira das vaidades queima... A tradição secular pode tanto originar vícios morais (atávicos, talvez?) quanto grandes virtudes. Assim, como dito, a origem é "ilustre", mas o desenvolvimento, o espírito corporativo, a ajuda e sentimentos de respeito mútuo muito pouco existiram - na Espanha, é bem verdade, isso sempre foi óbvio, apesar de não serem tão "puristas" quando ao status dos seus pares...). Veja como se degladiam os nobres portugueses, como alguns chegam às raias do absurdo de se odiarem "oficialmente", transformando querelas pessoais em alimento para a mídia sensacionalista e, quando não existia a mesma, levando consigo o aparelho estatal ao aniquilamento. Há um termo em tudo, e quando um problema afeta a imagem e a consciência geral, então, devo dizer, perdeu-se há muito a postura necessária.
Assim, referi-me ao estado de coisas que persevera, em decadência, desde o século XIX, sem alinhá-lo à derrocada moral da Civilização Cristão advinda com a chamada Modernidade, que, certamente, contribuiu ainda mais para jogar as instituições monárquicas na lama e, entre elas, a nobreza, que na verdade, adquire esse nome na monarquia, pois, em regra geral, toda sociedade, mesmo republicana (ou até comunista), teve, tem e precisa ter "elites tradicionais análogas", como diria o Dr. Plínio Corrêa de Oliveira. Eles têm o sangue, mas faltou, ao longo da história, a essência. E digo sem generalizar, pois excessões não fazem novas regras... Quanta picuinha... "Noblesse oblige!"
Que ressoem aos quatro cantos do Ocidente a máxima de S.S. o Papa Leão XIII: "Um apelido ilustre jamais deixará de ter eficácia para quem saiba dignamente levá-lo."
Melhores, sinceros e mais respeitosos cumprimentos de,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro confrade Edmundo Simões,
Devo discordar do senhor, também, em alguns pontos.
Certamente há, ainda, gente com algum preconceito, mas, diluido à tal ponto, já à partir do século XVIII, que tais expressões, como "judiaria" (ou, por exemplo, "serviço de preto", no Brasil), tornaram-se apenas expressões populares ligadas a acontecimentos, sem, necessariamente, querer-se atacar esta ou aquela etnia, povo, e etc. Acontece que, quando eu falava em "cultura ou senso-comum anti-semita", eu me referia à processos de formação. Note que tais expressões e preconceitos passaram a existir e serem usados depois do século XV!, enfim, no auge das perseguições da Inquisição, portanto, fica claro que foi a causa natural e óbvia de uma cultura anómala e destoante à formação original portuguesa que, mesmo artificial na origem (a Inquisição...), acabou, como em todo fenômeno humano, ganhando seus adeptos que, à partir de então, começaram a fazer uso dos seus motes anti-judeus.
Anti-judeus é o termo correto, posto que o anti-semitismo é racial/genético, coisa que nunca existiu em Portugal, mesmo por conta do tempo histórico. Fique-se claro, então, que não eram doutrinas raciais/genéticas, enfim, um pensamento que determinava inferioridades por conta de simples traços e diferenças físicas, antes, era uma ideologia, enfim, eram idéias ligadas a conceitos históricos-sociais-políticos-culturais-econômicos habilmente manipulados... Para que haja uma cultura ou senso-comum é preciso, antes de tudo, que haja aceitação geral, mesmo que introduzida gradualmente. Em Portugal não se verifica nenhuma unanimidade, mesmo que de caráter "oficioso."
Todavia, concordo com todas as suas palavras quando recrimina a barbaridade do ódio, do preconceito, enfim, da aversão ao grande Povo de Judá, tão sábio (quantos prêmigos Nobel não sairam de judeus, geralmente alemães!), tão valente (quantos exílios e deportações!). Apenas gente medíocre, tola, influenciável e tristemente presa à ignorâncias existenciais, pode nutrir desconfianças... Mas, como bem sabemos, "o mundo jaz no maligno." Nossa civilização é judaico-cristão e, como tal, o é no espírito/pensamento e no corpo/físico.
Melhores e respeitosos cumprimentos de,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro A. Luciano,
Os meus agradecimentos pelos seus bastante fundamentos e elucidativos comentários; os meus receios iniciais eram de facto completamente infundamentados dado o nível das respostas com que nos brindou.
Vou tentar responder na medida das minhas possibilidades, e tentando combater uma tendência natural de me alongar demasiado, que é tanto mais forte quanto o interesse das respostas. Caso haja algum ponto que eu deixe para trás sem a devida atenção não hesite em lembrar-me.
Vou responder à questão na nobreza em comentário separado.
>Eis outra afirmação de que desconheço fundamentos e contraria o que julgo saber.
Recomendo vivamente o livro "Inquisição Portuguesa: Tempo, Razão e Circunstância", da editora Prefácio, que contém muitos estudos sobre o tema, e é especialmente interessante pela forma como integra textos de autores espanhóis. Um capítulo sobre a emigração de cristãos-novos de Portugal para Espanha é especialmente interessante, e de forma a responder-lhe directamente cito: "...Lo que buscaban los cristanos nuevos com esta forma de proceder [i.e. casamentos com cristãos-velhos] era la assimilácion completa [...] En Castilla y en Aragón no había trava legal alguna para estes matrimonios. No era así en el reino de Portugal, lo que motivó sucesivas peticiones para que se eliminasen las disposiciones restrictivas..."
Obviamente uma proibição não significa a ausência do que é proibido, antes indica que era algo que de facto acontecia. Ainda assim a diferença legal é apontada como uma das várias causas de emigração dos cristãos-novos. Do mesmo modo em Castela e Aragão a ausência de proibição era vista como incentivadora destes comportamentos, sem que seja de todo claro que caso existisse tivesse resultados práticos consideráveis.
>se não existiam casamentos mistos isso dever-se-ia a desinteresse/preconceito judaico e não cristão.
Não sendo tão taxativo da unidireccionalidade do desinteresse (pois mesmo antes da Inquisição os judeus são várias vezes retratados de forma pouco abonatória, até exactamente devido ao seu papel financeiro) era a isso que me referia quando disse que a segregação também acontecia por motivações próprias. Aliás, um pouco fora de contexto mas creio que interessante, as comunidades sefarditas que se instalaram na Inglaterra e Holanda mantinham uma série de proibições de mistura com os judeus askhenazi, que incluía a expulsão da comunidade.
>Aliás, se jovens da nobreza se enamoravam de judias - acho difícil que a mãe de D. Afonso, 1º duque de Bragança não fosse judia
É assunto que terei que analisar, não duvidando da sua opinião que estará correcta. As únicas referências que encontrei a Inês Pires ser cristã-nova estão espalhadas em fontes recentes provenientes de comunidades sefarditas, e existe uma tendência de colocar praticamente todas as figuras menos conhecidas como cristãs-novas. Repito contudo que não ponho em causa a justeza da sua opinião, fundamentada certamente por dados mais concretos, ainda para mais quando não conheço em qualquer detalhe a questão.[1]
Ainda assim creio ser necessário distinguir entre a posição social dos cristãos-novos e o facto de, em especial as cristãs-novas, serem apetecíveis. Num quadro de relações intimas contam factores bem mais, digamos, voláteis.
>os não nobres facilmente quereriam com elas casar.
Creio que dependerá dos "cabedais" e da época.
>Depois dos paroquiais e da Inquisição está documentado que existiram casamentos mistos e não vejo como teriam sido proibidos.
Ver acima - e de facto os referidos casamentos existiam. Quando me referi à proibição em Portugal não foi para dizer que não existiam, mas sim que dado o enquandramento legal não lhes ser favorável em Portugal constituiu mais uma razão para a dispersão pelo resto da península (e, suponho que com igual ou maior intensidade, para as colónias ibéricas ou resto da Europa).
Cumprimentos,
Frederico Muñoz
[1] A modo de exemplo gostava de referir a forma altamente falaciosa como este tipo de questões, quando aplicadas aos povos ibéricos, servem para justificar tudo: existiu uma Rainha qualquer de Inglaterra (não quero perder tempo com os detalhes desta opereta) que segundo alguns tinha "feições negras". Ora, os estimados investigadores ingleses revelaram que isso era por causa da sua ascendência portuguesa, porque descendia de um "ramo negro da Casa Real". Bem espremido isto vai dar a Madragana, que tanto quanto sei é provavelmente moçárabe. Ou seja, a imputação de uma ascendência transformou Madragana em africana sub-sariana, a sua linhagem num "ramo negro", o que mesmo admitindo que seria moura ou judia é patético. Mas para os referidos investigadores foi razão suficiente, e encontrará referências a isto espalhadas pela internet como se de verdade absoluta se tratasse. Já que estamos em rumores, não sei (ou melhor, sei) porque não foram buscar a suposta ascendência a Isabel I, que como "todos sabem" fazia orgias com judeus e seus escravos africanos. Era o que se dizia por cá na altura, deve ser verdade.
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A(s) nobreza(s) em Portugal
Prezado A. Luciano,
Repondo-lhe aqui à segunda parte do seu comentário. Visto bem não é uma resposta, mas mais um agradecimento pela forma como reposicionou o tema e o soltou do simplismo atroz em que eu o confinara.
A obra que refere é de facto uma das minhas referências preferidas (falo d' "O Crepúsculo dos Grande"), a par de "Ricos-homens, Infanções e Cavaleiros" de Mattoso para um período bem anterior. Eu tinha na "calha" fazer uma referência explícita ao episódio dos Puritanos, e foi na obra que refere que me baseei numa referência fugaz que fiz aos "tições" que pairavam sobre a nobreza ibérica, e que eram lançados por partes dos próprios com objectivos vários.
Não acrescento muito ou nada ao que escreveu, sendo que a obra em causa descreve de forma bastante explícita a questão e os interesses que lhe eram subjacentes. Quando referi a questão da "altivez" foi de forma bem mais geral (o que é, de facto, algo que roça o erro) e referia-me sobretudo às descrições feitas à nobreza (e não só) durante a guerra com os Holandeses. Em especial lembro-me de Boxer ("O Império Marítimo Português) que faz menção explícita à forma como os fidalgos se consideravam superiores a todos, atitude que contagiava as camadas socialmente inferiores e que, segundo o autor, foi uma das razões pela qual o Vice-reino das Índias conseguiu contra todas as expectativas (e mesmo contra uma incompetências mais ou menos crónica em determinadas alturas) subsistir às fortes incursões que lhe eram feitas.
Em abono da verdade existem também referências ao contrário: bastará ler algumas das cartas feitas por ingleses e franceses durante as invasões napoleónicas para notar o desprezo que tinham pela nobreza portuguesa, e como a caracterizavam.
Cumprimentos,
Frederico Muñoz
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Dayher Gimenez
O exemplo das expressões que eu dei, serviu para mostrar que o o sentimento anti-judaico existiu, em algum momento da história. Não Presentemente. Evidentemente que o eventual uso actual dessas expressões não significa necessariamente querer-se atacar essa etnia. Como eu referi na minha mensagem, o sentimento anti-judeu, comum a outros povos europeus, só se manteve enquanto havia judeus. Com o seu "desaparecimento", aquele também desapareceu.
O confrade refere que "tais expressões e preconceitos passaram a existir e serem usados depois do século XV!, enfim, no auge das perseguições da Inquisição". Pode-me indicar com que fundamento faz essa afirmação?
De uma forma geral, o preconceito popular anti-judaico existia em qualquer sítio onde uma elevada percentagem da população fosse judia. Na civilizada Alemanha do séc.XIX ainda havia pogroms. Então e mais a leste nem vale a pena falar..
Em Portugal e em Espanha houve pogroms bem antes da Inquisição, e sim, também antes de 1506. Não percebo porque é que os portugueses haviam de ser assim tão diferentes dos outros.. Aliás, será que a Inquisição conseguiria artificialmente introduzir tal "cultura anti-judaica" com tanto sucesso, sem já existir uma base cultural anterior? Não sei, mas duvido.
Cmpts
Edmundo Simões
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro A. Luciano,
De facto a obra que refere de António Borges Coelho faz parte de uma selecção a que recorro frequentemente, apesar de como diz "A Inquisição de Évora" ser de leitura algo diferente dado o ênfase que dá à criação de um certo "clima" que se aproxima do romance histórico (sem que com isso se afaste do rigor quando se trata de analisar e recolher dados). A expressão em causa é provável que a tenha retirado daí, mas se não estou em erro foi pronunciada pelo Padre António Vieira numa das suas críticas exactamente aos "usos e costumes" da Inquisição Portuguesa, e foi reafirmada por vários observadores da altura que alertavam para os efeitos nefastos do clima de suspeição e perseguição permanente, que fazia com que na Europa se tivessem todos os portugueses como judeus.
>Coelho, auto-limitado a Évora, não é excepção apesar dos quadros publicados no final de um dos volumes.
Borges Coelho tem, na obra em questão, um pequeno capítulo que extravasa a limitação geográfica do tema, exactamente chamado "Inquisições de Portugal e Espanha", e que começa, e cito, por dizer que a "...ideia de que as Inquisições de Espanha sobrelevaram em ferocidade a todas as outras da cristandade corre sem contradição. / Sem pretender aprofundar o tema, levantaremos algumas dúvidas que ferem gravemente tal convicção".
As dúvidas (e o que se segue é já um resumo meu) incluem o facto da literatura inquisitorial do período filipino tomar como alvo principal as Inquisições de Portugal, e não de Espanha, o ter havido "muita carne cristã-nova portuguesa a extinguir-se nas plazas mayores de Castela e Andaluzia", em especial no período pós-Restauração (que é acompanhado de um incremento de ferocidade em Portugal), e por último o número de processos, que são para Espanha cerca de 33.000 (1560-1700) e para Portugal cerca de 40.000 (1540-1821). O autor nota que a duração temporal é diferente, e que Sevilha nos primeiros tempos é a excepção (no sentido em que ultrapassa as portuguesas), como de resto fez notar no seu comentário. Termina, e volto a citar, dizendo que é "... tempo das Inquisições portuguesas ocuparem o lugar que legitimamente merecem: o de disputarem a palma do triunfo no campo do terror". Nota-se aqui a referida veia, digamos, mais poética do autor.
Em relação aos relaxados não tem de facto números gerais. Na outra obra que referia ("Tempo, Razão e Circunstância") existem parciais para o período de 1641-1683 apenas que visam mostrar a tensão existente na altura, e que resultam em 250 em carne e 152 em estátua. Terei que voltar aos livros para obter sustentação para a minha afirmação relativa ao número de relaxados, que pode estar errada. Creio que o número que vi tinha uma limitação temporal semelhante à de cima, e como tal não terá os números iniciais de Sevilha.
>Também tenho dificuldade em entender a sua antinomia entre os muitos judeus que vieram para Portugal e os muitos milhares que de Portugal fugiram para Espanha.
É simples: não vejo como é que é possível considerar Portugal como uma espécie de "saco de encher", contabilizando todos os fluxos migratórios de judeus (ou cristãos-novos... temo por vezes estar a usar a mesma falta de distinção inquisitorial) que nele entram e desprezando os em sentido inverso. Posto de outra forma, falar da presença judaica em Portugal como sendo "necessariamente" maior devido à migração vinda de Espanha, ao mesmo tempo que se deprecia a migração em sentido contrário que ocorreu durante as décadas seguintes é de certa forma criar um facto consumado a partir de um dado que, sendo verdadeiro, é apenas parcial.
>Lúcio de Azevedo estimou em 120 mil os que vieram de Espanha enquanto Damião de Goes falou em 20 mil famílias
Sobre isso a obra do Borges Coelho também permite uma reflexão adicional, ao utilizar fontes adicionais e proceder ao seu cruzamento. Indica que Lúcio Coelho estimou em 75.000 os judeus em Portugal antes da expulsão de Espanha, que segundo o mesmo autor acrescentaria 120.000. É daqui que se retira o célebre "1/5 da população nacional". Borges Coelho acrescenta, e cito, "Recentemente, Maria José Ferro Tavares, com mais ampla base documental, calculou em 30.000 os judeus portugueses [...] antes da expulsão dos judeus de Espanha. Por sua vez, Damião de Góis assevera terem atravessado a fronteira cerca de 20.000 famílias de expulsos, o que reduz a cerca de 100.000 o número de judeus entrados[...] Vimos, por outra banda, que [...] os dados que recolhemos no capítulo sobre a terra e naturalidade das vítimas não nos incitam à inflação dos expulsos de Espanha entrados em Portugal[...] Concluindo, os cristãos-novos dos primeiros anos do século XVI [...] deveria exceder um pouco as 100.000 pessoas, isto é, cercade de um décimo da população portuguesa".
>Tem alguns dados de que os que de Portugal fugiram para Espanha tenham sido a décima parte destes?
A isto acrescenta, e continuo a citar, "... quarenta anos depois [...] fala-se em 60.000 almas de cristãos-novos. Falta muitas almas para as centenas de milhar. A aceitar os números de Jorge de Leão, teremos que concluir ou que os 100.000 judeus iniciais são ainda muito exagerados, ou que, em pouco mais de quatro décadas, largos milhares tinham desaparecido já, esquecidos, no corpo dos cristãos-velhos; ou que milhares conseguiram demandar o Norte de África e outras paragens, designadamente Itália, Turquia e Norte da Europa [...] Sessenta anos volvidos, no tempo do perdão geral de 1605, as famílias cristãs-novas não passariam das 6.000 no Reino de Portugal [...] A fuga e a assimilação de milhares de cristãos-novos explicam a queda brusca[...] Em 1631 [...] os números de gente da nação caíam bruscamente para menos de um terço: 1804 famílias"
Estes números valem o que valem (em comparação com outros), e é sempre possível sofrerem objecções. Para além disso, e para o tema em análise, resta sempre discutir o balanço entre fuga e assimilação.
Em relação aos números dos judeus que fugiram para Castela (e restante Espanha) as fontes que tenho apenas indicam "milhares": "Entre el colectivo cristiano nuevo portugués, un caso específico fue el de los que decidieron emigrar. Sabemos que el fenómeno migratório cobró una dimensión extraordinaria entre estas gentes. Fueron miles los que optaron por este camino. Unos como salida a la crisis económica que recorrió el Reino de Portugal desde finales del siglo XVI, otros por no suportar ás la presión social o por temor de la acción inquisitorial[...] Se este fenémeno migratorio fue constante en las decadas anteriores y posteriores al año 1600, pese las prohibiciones existentes, alcanzó ritmos muy intensos en los períodos en los que la Corona suspendió las medidas que lo restringián.
Segue-se, neste artigo ("De la identidad, emigrácion e integración de los Cristaos Novos portugueses en la época filipina", uma muito interessante caracterização das distas comunidades e da problemática associada, em especial em termos da tensão entre o Rei e a Inquisição, e mesmo os efeitos na sociedade em geral, com casos específicos que permitem também perceber a associação que se fez na altura entre "judeu" e "português", como se pode ver na denúncia de uma confraria: "todos cuantos portugueses que aquí se quedaron [en España] han de poner hábito sin que quede alguno sin él, y los que han juido a Portugal, los llevan en los pechos allá, darán que reir a los traidores" - isto em 1640, daí a referência aos "traidores" portugueses que se iriam rir por ver a quem os madrilenos davam hábitos.
Quando falei em Espanha não me estava contudo a limitar a ela em termos de fluxo emigratório, e há várias referências em que Espanha serve mais como escala do que destino final. Descrições da altura referem "largos milhares" na Turquia, 3.000 judeus portugueses em Ancona, "centenas de famílias" em Ruão e Nantes, "muitos portugueses da nação" em Roma, e mais do mesmo para Hamburgo, Antuérpia, Londres, etc. Ou seja, dados relativamente gerais, mas que normalmente apontam para um crescimento dessas comunidades. Aliás, este tema teve um episódio muito interessante, pois que padres espanhóis que viajaram pela Europa garantiam que muitos deles viviam muito católicamente, e que por isso estavam numa condição duplamente miserável: eram judeus para os portugueses, mas eram católicos para os judeus das comunidades onde tinham chegado. Isto levou a uma tentativa de proposta de reintegração (sob várias condições) de um bom número deles em Espanha e Portugal, proposta que nunca avançou porque se levantou logo a indignação da população, sem dúvida instigada pela Inquisição. Dois dos pontos avançados pelo Arcipreste de Lisboa em favor da Restauração era que Filipe queria "Adoptar a Lei de Moisés" e "Quis colocar neste Reino a judiaria".
>Quanto aos "usos e costumes" da Inquisição Portuguesa não se referirá nem à violência ...
Não, estava a falar de forma relativa, nomeadamente em termos á Inquisição de Roma. A reforma dos usos e costumes da Inquisição portuguesa foi tema quente durante algum tempo, colocando em clima de guerra o poder real e a Inquisição, tendo a última levado a melhor.
Os exemplos que indica, de São Crispim ao Malleus Maleficarom, são especialmente pertinentes para recolocar em perspectiva a violência medieval, e em especial para contrabalançar a Lenda Negra que pressupõe que nos países protestantes tudo era muito mais, digamos, civilizado. Sobre calvinistas entao já li várias coisas, e não eram de todo avessos à violência mais extrema.
>restaria assim como idiossincracia da Inquisição Portuguesa o aproveitamento (e motivação, digo eu) económico, em que toda uma organização da base ao topo se alimentava da extorsão a cristão-novos que, na grande maioria e tanto mais quanto mais tarde pior, não eram mais do que pseudo-judaizantes. Isto seria, digo eu, seria um esquema mafioso de corrupção para-estatal. Merece desenvolver.
Sim, sem dúvida. Não limitando as motivações da Inquisição a esse ponto (haveria personagens convencidos de toda uma sorte de objectivos para eles essenciais) é sem dúvida importante, até porque houve hostilidade aberta entre as Inquisições e as Coroas sobre os rendimentos obtidos dos confiscos dos acusados. E mesmo admitindo como pertinente a perseguição por actividade judaizante (que para nós, hoje em dia, nada justifica, mas aos olhos da época era completamente diferente) o exemplo que dei acima mostra que entre muitos dos expulsos e exilados, e sem dúvida entre os acusados em Portugal, muitos eram católicos devotos. Diogo de Cisneros, de resto, chegou a escrever um livro onde no estilo de diálogo popular na época polemizava sobre quais as respostas a dar às objecções dos judeus. Sobre os "brancos costumes" podemos também especular sobre o perigo judaizante de uma rapariga que entrou para um convento com cinco anos, e que aos quinze é interrogada por, creio, se ter levantado a suspeita que teria um avô que poderia ser cristão-novo.
Nem sequer é líquido que todos os acusados de judaísmo fossem, de facto, cristãos-novos. Muitos simplesmente nem sabiam quem eram o bisavô, mas num clima de delação isso era suficiente para qualquer inveja levar a uma delação, que chegava ao ridículo de assumir formas como "Fulano tal chegou ao mercado para comprar peixe e disse que só a Lei de Moisés era boa".
Sobre a relação da Inquisição com o poder, respondo em separado que já me deixei levar em demasia pelo prazer da conversa.
Cumprimentos,
Frederico Muñoz
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Eduardo Simões,
>Em Portugal e em Espanha houve pogroms bem antes da Inquisição, e sim, também antes de 1506. Não percebo porque é que os portugueses haviam de ser assim tão diferentes dos outros..
Colocou a questão que me levou a responder a este tema. Creio que existe nisto, como já referi e sem me estar a reportar a nenhum comentador em concreto pois falo em termos gerais, uma certa idealização histórica de "abertura" e "sã convivência" quando aplicado aos ibéricos em geral e portugueses em particular, que normalmente também refere a suposta ausência de racismo, etc. Por salutares que sejam sentimentos imputados, normalmente implica também a tentação (e estou a falar obviamente a partir do meu ponto de vista) de ver em todos os episódios históricos indícios desse carácter, e desvalorizar todos onde eles não são tão visíveis.
Bastará para isto fazer notar que Freyre, de forma a justificar a pretensa falta de racismo dos portugueses, o justifica por os ditos serem meio mouros. É motivo para dizer que antes queriam-nos todos espartanos, e agora todos sibaritas.
Neste caso em concreto não vejo honestamente como é que é possível isentar de anti-semitismo (e estou a simplificar pois o que o estimado Conde de Granada disse foi que este apareceu mais tardiamente) uma região que começa a legislar contra judeus na Alta Idade Média e que depois antecipa em alguns séculos as Leis de Nuremberga.
>De uma forma geral, o preconceito popular anti-judaico existia em qualquer sítio onde uma elevada percentagem da população fosse judia
O anti-semitismo, tal como o racismo em geral, só se faz sentir na presença de comunidades que são vistas como alógeneas. Não há racismo ou anti-semitismo na sua ausência.
>como eu referi na minha mensagem, o sentimento anti-judeu, comum a outros povos europeus, só se manteve enquanto havia judeus. Com o seu "desaparecimento", aquele também desapareceu.
Concordo em absoluto. Independentemente da questão aparentemente "genética" que estavamos a cobrir, os judeus enquanto comunidade diferenciada com uma cultura, tradição e religião própria desapareceram de Espanha e Portugal. Logo não é de estranhar a ausência de anti-semitismo no século XX, visto que practicamente ninguém na sua vida conhecia sequer judeus, mesmo que hipoteticamente tivesse um antepassado cristão-novo. Podemos exceptuar pequenas comunidades cripto-judaicas, mas em termos gerais isso não altera a questão.
Cumprimentos,
Frederico Muñoz
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Ainda não respondi à talvez nossa mais visível divergência: a questão da cultura árabe. Espero não me perder pelo meio embora não seja fácil sintetizar o que não parece ser susceptível de prova. Ficará para depois.
Agradeço-lhe a indicação do livro "Inquisição Portuguesa: Tempo, Razão e Circunstância" mas desde já lhe digo que este é um ponto em que me parece que apenas poderemos concordar que discordamos.
Nunca vi qualquer menção a ilegalidade dessas uniões e em processos em que intervinham normalmente pelo menos uma meia dúzia de testemunhas e que se baseavam em tantas ou mais denúncias vi alguns cristãos-velhos casados com cristãs-novas e vice-versa. Também no caso de um processado bastante novo - 26 anos - em que o pai era cristão-velho e a mãe cristã-nova e estavam vivos e bem identificados pela Inquisição, nem a mãe foi depois incomodada. Por outro lado, houve de facto restrições originadas pelas leis de pureza de sangue que foram de variadíssima ordem, desde o impedimento ao exercício de certos cargos, às vezes tão humildes como o de escrivão das sacas em Portalegre. à ordenação como sacerdotes ou à qualidade de fidalgos de cota-de-armas. Em relação aos primeiros, uma petição pessoal era vulgar e, pelo que se conhece das chancelarias, muitas vezes aceite; em relação aos outros desconheço petições mas, como é do conhecimento geral, quer para receber ordens quer cartas-de-armas, aceder ao Santo Ofício ou à Ordem de Cristo, omissões e falsificações eram frequentes e pressente-se que toleradas.
Variou no tempo a facilidade/dificuldade de ingressar na Universidade de Coimbra e manteve-se creio que sempre a Casa da Suplicação como patamar máximo de juristas cristãos-novos que nem seriam Ouvidores nem teriam entrada no Desembargo do Paço. Também para algumas destas situações admito que tenham sido apresentadas petições embora não me ocorra nenhum caso concreto. Agora, repito, o que nunca vi nem vi referido e me parece uma total contradição com o baptismo recebido, é uma restrição de casamento.
Por tudo e até que me indiquem disposição da lei, civil ou canónica, inclino-me para erro ou confusão do espanhol que citou.
Quanto à sua "sugestão" de que os casamentos com judias dependeriam do dinheiro e de outros motivos, rejeito o primeiro por não ser exclusivo, isto é, a questão económica - ou apenas social ou até profissional - seria o mais importante em todos os casamentos. Já em relação às judias serem apetecíveis não tenho dados. Temos na península uma tradição de "moiras encantadas" bem expressa na lenda de Miragaia e há na literatura europeia referência às judias que levavam os jovens cristãos à perdição mas desconheço os possíveis equivalentes portugueses.
Creio no entanto que jovens de elevada nobreza se sentiriam mais próximos culturalmente e em hábitos com cristãs-novas, pois só encontrariam equivalente em filhas de comerciantes prósperos ou na média-baixa nobreza que, teriam riscos e inconvenientes como amantes.
É pormenor desagradável mas, como saberá, um dos motivos de denúncias de judaizantes era "lavarem-se". Não posso dexar de concluir que muito provavelmente, judias cheirariam melhor do que cristãs.
Como exemplo e de repente, só me lembro de Juan de La Cerda e Sol Martínez que, contrariando Luiz de Mello Vaz de São Payo e a B.D. do Geneall acredito terem sido a origem dos Lacerda Portugueses.
Não está esgotado, longe disso o assunto mas passando agora a Inês Pires, como acima disse, seria "ambientalmente possível".
O "Barbadão" era sapateiro, um artífice portanto e usava barba o que no Alentejo encaixa bem num perfil judeu, e parece ter ficado muito incomodado com a ligação da filha. Ora nesses tempos havia um certo pragmatismo e um jovem da alta nobreza que assegurasse o futuro de filhos, dotasse convenientemente a amante e/ou obtivesse alguns empregos para parentes, não seria inaceitável; contudo, se as barbas fossem fossem sinal de proeminência na comunidade judaica, rabi ou do equivalente "grosso modo" à nossa vereação, já se explicaria o desencanto.
D. Afonso foi entregue a uma família judaica e só anos depois - possivelmente quando foi decidido destinar-lhe educação militar - foi entregue a um aio cristão.
Inês Pires receberia depois, para lhe garantir o sustento, umas casas de moradia e estas situavam-se na mouraria de Beja.
Como vê, tudo o mais vago e circunstancial possível mas coerente como quadro.
Vi dito por outro confrade e o Frederico com ele concordou que o sentimento anti-judaico desapareceu quande desapareceram os judeus.
Tenho enorme dificuldade em localizar esse desaparecimento. Há diversas sinagogas em funcionamento em Portugal e o rabi (de Lisboa?) tem aparecido na televisão ao lado do imã e do cardeal-patriarca.
Minha mãe e irmãos eram amigos e visitas de casa de judeus praticantes e, como "fait-divers" conto-lhe uma história. Numa festa de aniversário em casa de judeus um grupo de miúdos estavam a arreliar a minha mãe (9/10 anos) a quem tinham tirado uma boneca que passavam de uns para os outros fazendo-a correr em círculo. O meu tio irmão mais velho veio defender a irmã e disse bem alto "deixem-se de judiarias". A dona da casa que acorrera com o mesmo propósito, indignou-se: Judiarias não, cristianices; judia sou eu e nunca fiz essas coisas.
A. Luciano
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PALAVRAS MAL DITAS: FILOLOGIA E PRECONCEITO
Caro Edmundo Simões,
Abaixo, segue um texto que talvez lhe responda algumas questões.
Aliás, quis usar mesmo o termo "anti-judeu(s)", e não "anti-judaíco(s)", uma vez que não é referente à expressão e cultura judaíca, mas, às pessoas/indivíduos. Ora, quantos portugueses, em plena Idade Média (que de trevas pouco tinha...) saberiam lá entender o que era (e é) judaísmo e, aliás, tinha a mais simples noção de que a "guerra" era ideológica (se é que era...)? Como eterna massa de manobras, a parcela populacional portuguesa que atacava, atacava os judeus, as pessoas, e não a cultura e suas formas... Compreende? Era um ódio entre humanos, entre pessoas, e, raramente, possuia lá outra questão. Agora, os membros do alto clero, os inquisidores, a coroa (não sei discutir se era "política de Estado" - levanto aqui algumas dúvidas) e membros da média-baixa nobreza (falidos, necessitados de dinheiro) tinham interesse em ver os judeus mortos, pilhados, extintos, e, daí, usavam os famosos pretextos, manobrando o "zé-povinho."
Atenciosamente,
Granada
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PALAVRAS MAL DITAS: FILOLOGIA E PRECONCEITO
Para o Shmil
Profª Drª Jane Bichmacher de Glasman
Doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica - USP, Professora Adjunta, Fundadora e ex-Diretora do Programa de Estudos Judaicos -UERJ, escritora.
Introdução: A viagem das palavras
Permita-me iniciar com a epígrafe de minha tese de Doutorado, citando Bialik (1979), o poeta nacional hebraico, em Lo revelado y lo encubierto en la lenguaje:
“Os seres humanos esparramam ao vento, premeditada ou inadvertidamente, abundantes palavras em incontáveis combinações, porém são muito poucos os que sabem que aspectos tinham essas palavras em seus dias de grandeza. Algumas chegaram ao mundo depois de uma grande e difícil viagem através das gerações; outras brilharam como relâmpagos e iluminaram repentina e momentaneamente o mundo inteiro, algumas passaram várias transmutações, deixando atrás de si sua estrela e aroma, outras mais serviram de vasilhas para complexos mecanismos de pensamentos profundos e sentimentos exaltados em maravilhosas permutas”.
Um estudo etimológico possibilita a identificação da origem e da evolução das palavras. A filologia permite-nos seguir a trajetória histórica do desenvolvimento de uma língua, estudar sociedades e civilizações através de seu legado escrito. Vários vocábulos da língua portuguesa receberam conotação negativa, devido a processos históricos, sociológicos e culturais, tendo ficado assim perpetuadas no idioma.
Seu uso popular, literário ou na mídia, desvincularam-nos de sua origem semântica, tendo sido usados e consagrados de forma pejorativa e preconceituosa, a despeito da vasta gama de possibilidades sinonímicas.
Alguns exemplos: judeu, judiar, judiação, judiaria, marrano
Os dicionários oferecem-nos uma mostra destas possibilidades, através da polissemia. Utilizo a seguir Houaiss (2001) e Aurélio (Ferreira, 1986), em paralelo:
Houaiss Aurélio
Judeu adj. 1. relativo à antiga tribo de Judá ou indivíduo dessa tribo 2. relativo ao antigo reino hebreu de Judá (c 930-586 aC), na Palestina meridional, ou o que é seu natural ou habitante 3. Relativo à Judéia, região meridional da Palestina (sob o domínio persa, helênico ou romano) ou o que é seu natural ou habitante 4. relativo a ou descendente do povo originado dessa tribo, desse reino ou dessa região; hebreu, israelita 5. individuo nascido de mãe judia, ou de pai e mãe judeus; israelita 6. que ou aquele que segue a religião e/ou a tradição judaica; hebreu, israelita 7. judaico 8. individuo nômade;cigano9.Pej Pessoa usurária, avarenta 10.AM o natural ou habitante da Síria 11. nos trabalhos de mineração, feixe de capim, com pedras dentro, com que se formam tapumes 12. espécie de bolo de milho 13. MG espécie de virado de frango ao molho pardo, lombo de porco, arroz ou angu 14. MG ceia, refeição da noite15. betara16. SC alcunha dada pelos conservadores, ditos cristãos, aos liberais. Judeu do lat judaeu Adj.1.Da ou pertencente ou relativo à Judéia (Ásia).2.De ou pertencente ou relativo a Israel (Ásia): israelense. 3. Judaico 4. Natural ou habitante da Judéia. 5. Natural ou habitante de Israel; israelense. 6. Aquele que segue a religião judaica. 7. Pop. Indivíduo mau, avarento, usurário. 8. Espécie de virado ou tutu de feijão. 9. Bras.Espécie de bolo de milho. 10. Bras AM. Pop Sírio (2).11. Bras, MG cigano (1).12. Bras, MG Ceia (1): "As negras fazem para nós um judeu de frangos de molho pardo, lombo de porco, arroz e angu." (Helena Morley, Minha Vida de Menina, p. 32.) 13. Bras, SCAlcunha que os conservadores, ditos cristãos, davam aos liberais. 14. Bras. papa-terra (3). (fem. (nas acep. 1 a 7 e (bras.) 10 e 11): judia.] .
Judiar 1.judaizar adotar práticas judaicas 2. t.i. (1789) tratar com escárnio; zombar j. com a infelicidade alheia 3. t.i(1881) tratar mal, física ou moralmente; atormentar, maltratar: tem uma alma perversa, judia dos animais judiava dele provocando-lhe ciúmes Judiar. De judeu+i+ar2, 'tratar como antigamente se tratavam os judeus': escarnecer,maltratarvt.i.1.Escarnecer, mofar, zombar: judiar com alguém. 2. fazer judiaria2;fazer sofrer;atormentar, maltratar: judiar dos animais;
Judiação ato de judiar, de fazer de alguém alvo de escárnio ou de maus-tratos; judiaria etim judiar + -ção; ver judeu Judiação. S. f. Bras. V. judiaria2.
Judiaria s.f. (1529 Atenr 86) 1. grande número de judeus; judaria 2. bairro de judeus 3. (1858) fig. Ato de zombar de alguém; chacota; judiação, zombaria 4. fig. Ato de maltratar alguém, física ou moralmente; judiação # etim judeu + ária judiaria1. [De judia + -aria.] sf 1. Grande porção de judeus. 2. Bairro destinado aos judeus. judiaria2. [De judiar.] s f. Ato de judiar; maus-tratos; apoquentação. (Sin. Bras.: judiação.]
Marrano adj.s1. na Espanha e em Portugal, designação injuriosa que se dava outrora aos mouros e esp. aos judeus batizados, suspeitos de se conservarem leais ao judaísmo2. imundo, excomungado3. gado de má qualidade 4. porco de engorda, já crescido #etim Marrano (965) porco, cristão novo,designação pejorativa dada na Espanha aos judeus mouros convertidos, suspeitos de se conservarem fiéis às suas religiões por causa da repugnância à carne do porco alimento não permitido pelo judaísmo e islamismo ar Muharam coisa proibida Marrano. [Do esp. marrano] Adi. e s. m. 1. Diz-se de, ou designação injuriosa dada outrora aos mouros e judeus. 2. Diz-se de ou indivíduo excomungado, sujo, imundo, porco. 3. Bras RS. Diz-se de ou gado ruim.
A discussão sobre o que é “judeu”, apenas em termos filológicos, seria de tamanho incomensurável. Cabe, portanto, neste espaço limitado, somente uma crítica à definição de Aurélio, ao confundir, incorretamente, judeu com israelense. Indubitavelmente, judeu NÃO é sinônimo de israelense!
Acresça-se a surpreendente possibilidade polissêmica das definições 8 a 16 de Houaiss e das de 8 a 14 de Aurélio (sendo a 9 de Houaiss, correspondente ao uso pejorativo, como o 7 de Aurélio).
Assim, “judeu” é identificado no imaginário popular e perpetuado no vernáculo e nos dicionários, como “nômade, avarento, usurário, mau”. Nosso espaço, neste trabalho, não permite esclarecer as origens medievais da exclusão sócio-econômica dos judeus no mundo cristão, levando muitos, por falta de opção, a dedicarem-se a atividades de câmbio, comércio e empréstimo (origem das atuais estruturas bancárias) e suas constantes andanças devidas à impossibilidade de sua fixação como judeus dentro das estruturas feudais estabelecidas, seja para sua sobrevivência econômica, ou - principalmente - devido às suas constantes expulsões do mundo europeu medieval.
As outras definições citadas contêm um ambíguo significado relativo à comida, que abrange o legado de marranos e de judeus, cujas perseguições e expulsões, deveram-se, em grande parte, aos famigerados ‘libelos de sangue’ e ‘acusações de assassinatos rituais’: judeus eram acusados de, entre outras práticas macabras, matar crianças cristãs para fazer matzot (pães ázimos), sendo que uma regra básica da kashrut (leis alimentares judaicas) proíbe a ingestão de sangue, além do consumo de animais como o porco (como observamos em marrano, com o mesmo caráter antitético). Chega a ser tragicômico que as definições transformem ‘judeu’ em “refeição completa”: prato típico, sobremesa e ceia!
As definições dos verbetes judiar, judiação e judiaria, demonstram um percurso histórico subliminar, transformando os judeus de vítimas em algozes - tendo assim se fixado e permanecido no imaginário vocabular do povo.
Analisando os vocábulos, seguindo seu percurso
Segundo Lesser (1985 p.37):
“No século dezenove e principio do século vinte, a maioria dos brasileiros sabia pouco a respeito dos judeus; a maior parte dos judeus sabia igualmente pouco sobre o Brasil. Se quaisquer imagens existiam entre qualquer desses grupos, elas não resultavam de contato humano; não havia ocorrido nenhuma imigração judaica significativa para o Brasil desde a Inquisição, quando os judeus tiveram que fugir da península Ibérica. Esses judeus, denominados de forma variada como judaizantes, marranos, conversos e cristãos-novos, chegaram em quantidade reduzida, para escapar das perseguições econômicas, sociais e religiosas da Igreja e da Coroa. Sua presença, contudo, jamais incentivou uma imigração judaica em larga escala para o Brasil colonial, mesmo apesar de os cristãos-novos poderem ter constituído 20% da população branca da capital colonial de Salvador, na Bahia”.
O termo “marrano” possui uma etimologia diversificada e antitética, como já foi mencionado. Unterman (1992, p.166), conceitua como “nome em espanhol para judeus convertidos ao cristianismo que se mantiveram secretamente ligados ao judaísmo. A palavra tem conotação pejorativa geralmente aplicada a todos os cripto-judeus, particularmente aos de origem ibérica. Em 1391 houve uma maciça conversão forçada de judeus espanhóis, mas a maioria dos convertidos conservou sua fé”.
Cordeiro (1994) afirma que a tradução por “porco” em espanhol tornou-se secundária diante das várias interpretações existentes na histografia do marranismo.
“Dicionários rabínicos hebraicos como o de J. Buxdorf (1640) e de Schindler (1653), assim como os mais atuais, explicam o termo como ‘consagrar a Deus, destruir, anatematizar’, com seus derivados, indicando para o árabe harama, traduzível por ‘proibir, declarar sagrado ou inviolável’”.
Também é curioso que o termo tem similares no siríaco e no etiópico. O professor Zanolini, em seu livro Lexicon Chaldaicum et Rabbinicum comenta a palavra mar, o doutor nas academias da Babilônia. “Em sua origem significa o termo siríaco (aramaico) maranath (o senhor veio), pelo qual se designa uma excomunhão de condenação muito grave, o qual leva o excomungado a ser expulso de uma sociedade e ao qual se reserva unicamente a punição divina. Queriam dizer que tal era o crime de alguém, que nesta vida, nenhum castigo ou suplício era suficiente para poder expiá-lo”.
Maeso (1977) comenta que a fórmula de excomunhão “maranata”, embora sem comprovação lingüística, pode mesmo ter sido usada pelos cristãos contra os judeus, vítima de intenso ódio dos povos espanhóis no final do século XIV e durante o século seguinte, ou seja, cerca de um século antes do decreto de expulsão dos judeus de Castela, em 1492. Graetz, em sua História dos judeus, completa essa teoria dizendo que a palavra maranata é de origem neo-hebraica, de maharam at (maharamt, em sua forma aramaica), ou seja, “você foi excomungado”, o que corresponde ao anátema, adaptado ao grego pelos primeiros cristãos. Nessa linha, o judeu espanhol e português (sefaradi) recebeu a designação de marrano, latinizando o termo.
Outro historiador a estudar o vocábulo foi Cecil Roth:
“A palavra marrano é um velho termo espanhol que data do início da Idade Média e significa porco. Aplicada aos recém-convertidos, a princípio ironicamente devido à aversão judaica `a carne de porco do citado animal, tornou-se enfim um termo geral de repúdio, que no século XVI se estendeu e passou a todas as línguas da Europa ocidental. A designação expressa a profundidade do ódio que o espanhol comum sentia pelos conversos com quem conviviam. Seu uso constante e cotidiano, carregado de preconceito, turvou o significado original do vocábulo”.
Lipiner (1977), define em Santa Inquisição: terror e linguagem:
“Marranos: As derivações mais remotas e mais aceitáveis sugerem a origem hebraica ou aramaica do termo. Mumar: converso, apóstata. Da raiz hebraica mumar, acrescida do sufixo castelhano ano derivou a forma composta mumrrano, abreviado: Marrano. Tratar-se-ia, pois de um vocábulo hebraico acomodado às línguas ibéricas. Marit-áyin: aparência, ou seja, cristão apenas na aparência. Mar-anús: homem batizado à força. Mumar-anus: convertido à força. Contração dos dois termos hebraicos, mediante a eliminação da primeira sílaba”.
Convém acrescentar que mar, em hebraico, significa amargo, amargurado e anús, violentado, forçado. Conquanto a filologia permite-nos observar o percurso dos vocábulos, estamos lidando com o percurso histórico de um povo. Ou mais, haja vista que envolve os mouros, que também eram chamados de marranos!
Utilizando as palavras de Samuel Szerman, Diretor Cultural da ACIB e da Federação Israelita do Centro-Oeste (o Shmil a quem dedico este trabalho):
“Vamos à analise dos termos judiar, judiação e judiaria. O primeiro, como poucos sabem, aí incluindo os próprios judeus, significava "maltratar os judeus". Era um verbo intransitivo. O objeto direto estava subentendido. Hoje, judiar, pela semelhança do vocábulo com judeu, judia, Judas e Judá, cria uma natural associação de idéias, considerando o judeu como o agente da crueldade. Curiosidade: Tornou-se verbo transitivo indireto. "Judiaram dele". É claro que, se o verbo pede um complemento na afirmação, está subentendido o agente.
A palavra já está tão arraigada no uso popular que há quem nem faça a associação. Entretanto, a ofensa aos judeus permanece. É subliminar. Contribui enormemente para incrementar o anti-semitismo.
Judiação pede menos explicação. É um derivado gramaticalmente correto de judiar. Gramaticalmente. Politicamente, NÃO!
Judiaria: Outra forma gramaticalmente correta que pode significar um sinônimo de judiação (...) Pouquíssimas pessoas, judias ou não, têm ciência que Judiaria era o nome dado ao bairro Judeu, tal como Mouraria era o dos mouros.
(...)a discussão sobre o sentido pejorativo ou não dos termos na berlinda não é uma questão doutrinária ou religiosa. É do idioma. É gramatical. (...) Creio que, com esta exposição, consegui explicar minha luta que reconheço quixotesca contra o uso de tais ofensas subliminares. Não tenho a pretensão de elidir do vocabulário popular esses verdadeiros palavrões. Quero, sim, suprimí-los dos principais meios de comunicação de massa. Vários jornais de elevado conceito proíbem este uso em suas páginas. Fernando Levisky, Z'L, grande brasileiro, grande judeu, grande advogado e, também, vereador no Rio de Janeiro, fez uma campanha que foi vitoriosa para eliminar termos pejorativos e/ou injuriosos contra grupos étnicos, profissionais, regionais, religiosos, etc. Se muitos de nós vigiássemos, reagindo imediatamente a esta verdadeira provocação, ainda que, às vezes, inconsciente, eliminaríamos o mau uso de tais palavras do rádio e da televisão. Finalizo dizendo que as palavras valem pelo seu sentido atual, e não, pelo histórico ou primitivo. Só se entende o significado anterior em texto da respectiva época”.
Concordo com Szerman, solidária em sua quixotesca luta, como ele mesmo define. Todavia, estando em um foro acadêmico lingüístico deste porte, ouso trazer esta questão ao mesmo, mais uma vez, apresentando propostas de esclarecimento público e de resgate do sentido original, como forma de através da filologia, eliminarmos preconceitos, conferindo-lhe um papel de mudança social positiva.
Conclusão
A linguagem é um organismo vivo, em constante transmutação e evolução. Dicionários refletem sempre posteriormente as mudanças vocabulares. A expressão “politicamente correto” vem se desgastando, tanto por seu uso irrestrito, quanto por efeitos hiperbólicos na conduta lingüística social, gerando distorções. Exemplo: hoje, no Brasil, chamar alguém de “crioulo” de forma pejorativa e discriminatória pode gerar prisão inafiançável, enquanto que matar um indivíduo negro, não necessariamente!
Usando outra expressão em voga, não proponho um “patrulhamento ideológico”, uma “caça às bruxas”-até porque esta também reflete uma perseguição inquisitorial, por ignorância ou política, como no macarthismo americano da década de 50.
Tenho plena consciência da dificuldade de eliminar preconceitos subliminares reforçados durante centenas de anos. Para citar idiomas neolatinos, em italiano utiliza-se o termo “hebraico” para se referir a judeu; em francês - “israelita”. Em português e em espanhol o uso de “judeu” e seus cognatos adquirem tamanho vigor pejorativo e teor discriminatório e preconceituoso devido aos séculos de Inquisição Ibérica e sua terminologia, que poderia ser sinônimo de morte.
Não sei se necessitaremos de mais trezentos anos para erradicar esta postura. Tampouco tenho a ilusão que um trabalho, apresentado em foro acadêmico, seja capaz de fazê-lo, por si, assim como cartas e e-mails criticando o uso indevido e agressivo, especialmente de judiar e judiação na mídia. Mas tenho clara a idéia que NÃO fazê-lo certamente NADA IRÁ MUDAR.
Concluindo, apenas a insistência, o trabalho de formiga, alertando, esclarecendo e demonstrando nosso incômodo, surtirá, a longo prazo, os efeitos sociais desejados.
Referências Bibliográficas
BIALIK, J. N. Lo revelado y lo encubierto en el linguaje. In: Ariel nº 50, Jerusalém, Jerusalém Publishing House, 1979.
CORDEIRO, Hélio Daniel. Os Marranos e a Diáspora Sefaradita. São Paulo: Israel, 1994.
FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário da Língua Portuguesa. RJ: Nova Fronteira, 1986.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de J: Objetiva, 2001.
LESSER, Jeffrey. O Brasil - a questão judaica. Rio de Janeiro: Imago, 1995.
LIPINER, Elias. Santa Inquisição: Terror e linguagem. RJ. Documentário, 1977.
MAESO, David. “Etimologia do vocábulo marrano” In:Os Marranos. SP: CEJ, 1977.
SZERMAN, Samuel. Judiar, judiação, judiaria. Texto enviado por e-mail em 20/07/2003.
ROTH, Cecil (ed.) Enciclopédia Judaica. Rio de Janeiro. Tradição, 1967.
UNTERMAN, Alan. Dicionário Judaico de Lendas e Tradições. RiJ: Zahar, 1992.
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RE: A(s) nobreza(s) em Portugal
Caro Frederico Muñoz,
As cartas dos ingleses/alemães/alemães/espanhóis, notadamente por demais exageradas, eram absolutamente cheias de desprezo... Alguma coisa recordo de memória: chamavam os nobres portugueses de bárbaros (falando que alguns mal sabiam usar os talheres, que comiam com as mãos, lambendo os dedos e o beiço à mesa), incivilizados (grosseiros, brigões, flatulências), mal cheirosos (pouquíssimos banhos e falta do mínimo aceio - muita sarna), piolhentos (alguns, dormindo em camas sujas, cheias de ácaros e piolhos), imorais (orgias quase públicas, deitando-se com servos, animais...) e, por aí, vai...
Certamente que há um mais do que óbvio exagero e, certamente, algumas inverdades. Não se pode ou deve generalizar tal questão, além do que, testemunhos há também contra outras "nobrezas."
Cordialmente,
Granada
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Anusim portugueses: O farol de Amesterdão
Caro A. Luciano,
Existem algumas importantes informações no texto abaixo, cuja fonte é: http://dasserpentes.blogspot.com/2009_12_01_archive.html
Cordiais saudações,
Granada
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Anusim portugueses: O farol de Amesterdão
Na última década do século XVI e nas primeiras décadas do século XVII algumas centenas de cristãos-novos portugueses (a que se juntaram depois alguns cristãos-novos espanhóis) procuraram Amesterdão para, beneficiando da atmosfera de tolerância religiosa que se vivia nas Províncias Unidas (recém libertas do domínio da coroa espanhola) regressarem à religião dos seus antepassados. Tinha decorrido um século desde a conversão em massa de todos os Judeus portugueses por D. Manuel I, quatro longas gerações, e daqueles que agora queriam regressar ao Judaísmo eram poucos os que conheciam os hábitos litúrgicos e as velhas tradições. Menor era ainda o número dos que conhecia a língua com que D-us falara aos profetas. Mas isso não os desencorajou. A sua comunidade, ao contrário de um propalado mito, nunca foi numerosa, e no auge do seu poder, nos finais do século XVII, eram apenas 2500. Mas sempre foram riquíssimos, poderosos e influentes, e não lhes faltavam meios para alcançar o grande objectivo a que se propunham: o renascimento da antiga e gloriosa Ha’am ha’yehudi portugezit, a «Nação Judaica Portuguesa», ou simplesmente a Ha’umah portugezit, a «Nação Portuguesa», como eles orgulhosamente e patrioticamente se designavam (ainda hoje, passados mais de 400 anos, os seus descendentes se designam como «Comunidade Religiosa dos Israelitas Portugueses», Portugees-Israëlitisch Kerkgenootschap (PIK).
Ansiosos por voltar ao judaísmo e dispostos a reaprender a lei mosaica, contratam o rabbi Mosheh Uri Halevi, um ashkenazi de Emden, na Baixa Saxónia, que exige de imediato a circuncisão de todos os homens… um sacrifício que os Homens da Nação farão para que a sua pequena comunidade possa renascer. O rabbi ficará com a comunidade até 1603, altura em que esta, já integralmente rejudaizada e autónoma, passa a formar os seus próprios rabbis.
A Nação Portuguesa de Amesterdão, apesar de ter estado quase um século proibida de observar a lei hebraica, rapidamente ganhou um excelente domínio do judaísmo rabínico, formando os seus próprios rabbis e os seus intelectuais versados no estudo do Tanakh, tais como Manasseh ben Israel e Isaac Aboab da Fonseca, ou vultos com a dimensão de Baruch Espinosa (Uriel da Costa, apesar de ter um percurso diferente do dos anteriores, também se encontra ligado à Nação Portuguesa de Amesterdão). No seu todo a comunidade era muito activa do ponto de vista religioso e os conhecimentos da tradição judaica eram brilhantes.
Apesar disto a Nação Judaica Portuguesa de Amesterdão desenvolveu características muito próprias, que a tornavam única entre as comunidades judaicas do seu tempo, e que podemos dizer se terá tornado o cunho judaico português entre os Anusim, definidor de um liberalismo que só no século XX encontrará sólidos seguidores no Movimento Reformista Judaico. A particularidade de serem homens e mulheres que voltavam a judaizar ao fim de três ou quatro gerações, imprimia-lhes esse cunho único entre os Judeus do seu tempo.
A Esnoga, a sinagoga portuguesa de Amsterdão
Sabemos hoje, por exemplo, que a circuncisão, enquanto afirmação de aliança entre o homem e D-us, sempre foi uma questão fracturante entre os Judeus Portugueses instalados em Amesterdão, e que boa parte das famílias a recusava. A circuncisão acabaria mesmo perdendo força de lei entre a comunidade, ganhando carga moral e não religiosa. A recusa da mutilação sexual do bebé ao oitavo dia de vida (na cerimónia do brit milah) terá mesmo levado à divisão da congregação dos Judeus Portugueses, a Bet Ya’akov, surgindo uma segunda congregação, a Bet Yisrael (os cristãos-novos espanhóis fundariam uma congregação à parte, a Neveh Shalom). Mas ultrapassada a disputa dentro da comunidade judaica portuguesa, seguramente depois de ter sido institucionalizada a desobrigação de circuncidar os recém-nascidos, as três comunidades sefarditas acabariam por se reunir numa única, criando a poderosa e influente Talmud Torah.
Túmulo de Menasseh ben Israel
Todas as partes podiam reclamar vitória. Os que recusavam a circuncisão viam-na reconhecida como opção pessoal dos pais da criança, e depois do próprio indivíduo ao longo da vida, sem que isso implicasse discriminação ou anátema dentro da comunidade. Os que tinham uma visão mais conservadora e que defendiam a circuncisão acabariam por impor a rígida determinação de que todos aqueles que quisessem ser sepultados no campo santo de Beth Haim (o cemitério judaico-português de Ouderkerk), mesmo que em vida tivessem optado pela não circuncisão, teriam que obrigatoriamente ser circuncidados antes da inumação (havia um mohel para o efeito). Essa tornou-se a única fronteira discriminatória admitida pela Nação Judaica Portuguesa de Amesterdão.
Muitos dos Judeus Portugueses de Amesterdão, antigos cristãos-novos, eram filhos e netos de cristãos-velhos, fruto dos inúmeros e bem documentados casamentos entre as duas comunidades, num esforço de assimilação conforme à legislação manuelina, particularmente pelas famílias nobres portuguesas que, atraídas por vultuosos dotes, emprestavam os seus pergaminhos aos antigos Filhos de Israel (era corrente dizer-se, sem exagero nenhum, que não havia nobre português que não tivesse sangue hebraico) (1).
Estranhamente, podemos avaliar esta realidade através dos judeus ashkenazis holandeses, influenciados social e culturalmente pelos ricos e poderosos sefarditas da Nação Portuguesa. Na verdade as duas comunidades sempre mantiveram relações de grande proximidade, únicas no mundo judeu, frequentando mutuamente as sinagogas, requerendo os serviços dos rabbis disponíveis, sefarditas ou ashkenazis, unindo as famílias pelos laços do matrimónio.
Esta última realidade encontra-se bem retratada no trabalho de D. M. Behar, publicado no Human Genetics (2004) 114:354-365 Contrasting patterns of Y chromosome variation in Ashkenazi Jewish and host non-Jewish European populations. Analisando os cromossomas Y dos Judeus ashkenazis holandeses, é possível identificar uma percentagem do haplogrupo R1b (>25%), único entre as populações ashkenazis da Europa Central e Oriental. Conhecendo hoje a realidade dos casamentos entre os cristãos-novos e os cristãos-velhos portugueses, assim como a realidade dos casamentos entre sefarditas portugueses e Ashkenazis originários da Alemanha e da Polónia no século XVII, os valores do haplogrupo R1b só podem ter tido origem nos sefarditas portugueses que casando com mulheres ashkenazis, acabariam por aderir às respectivas comunidades.
Estes resultados acabam igualmente por nos elucidar sobre a matriz genética dos judeus portugueses de Amesterdão. Não eram apenas «judeus de raça pura» (se é que essa monstruosa expressão faz algum sentido, sobretudo depois de 1945). Eram homens e mulheres, com diferentes graus de sangue hebraico nas veias, que tinham em comum o facto de não se reverem no Cristianismo e de entenderem os valores do Judaísmo (no seu todo religioso, cultural e social) como os valores pelos quais queriam reger as suas vidas. Era afinal, de uma forma indirecta, o retorno ao proselitismo judaico, tão vigoroso no passado, na Hispânia romana, especialmente nas províncias da Bética e da Lusitânia, e só esmagado no século VII pelo feroz anti-semitismo dos reis godos.
Sabemos hoje que os ricos judeus portugueses mantinham relações extra-conjugais com mulheres não judias, normalmente serviçais de classe inferior (a maioria de nacionalidade holandesa ou escandinava). E tão surpreendente era este facto quanto violava quer a rígida lei judaica, quer a própria lei holandesa. Os filhos ilegítimos dos judeus portugueses recebiam apoio financeiro dos pais, que se encarregavam da sua educação, recebendo as raparigas inclusivamente dotes como se fossem filhas legítimas, sendo depois reintroduzidas na Nação Judaica Portuguesa, onde casavam com jovens judeus. E tão grande devia ser o fenómeno das relações extra-conjugais entre judeus e gentias que um grupo de quinze ricos mercadores judeus de Amesterdão criou uma sociedade, denominada Dotar, com o objectivo de apoiar as crianças descendentes dessas relações.
O trabalho de D. M. Behar, confirmando-nos a enorme «pegada sefardita portuguesa» entre os ashkenazis holandeses por via do haplogrupo R1b, mostra-nos igualmente uma percentagem elevadíssima (>10%) do haplogrupo I, característico das populações germânicas. Confirma-nos assim a genética o que desde há muito os documentos e a tradição nos diziam: a Nação Judaica Portuguesa antecipou o Movimento Reformista Judaico em três séculos, seja no casamento entre judeus e mulheres não judias (com a integração dos filhos ilegítimos na Nação Portuguesa), seja na humanidade do seu proselitismo, seja na renúncia à circuncisão dos filhos… um fenómeno tão sensível que só no século XIX teria verdadeiros desenvolvimentos (de salientar a decisão do Movimento Reformista Judaico, em 1892, na «Central Conference of American Rabbis», de abolir o ritual da circuncisão – decisão posteriormente revogada, mas que lançaria a discussão sobre a circuncisão no movimento judaico mundial). Neste campo, como noutros, a Nação Judaica Portuguesa soube encontrar uma solução sábia, uma solução digna de Shlomo ben David.
Liberais, empreendedores, eruditos, orgulhosos do seu recém-adquirido judaísmo, os nossos irmãos de Amesterdão são um modelo e um farol para todos nós, os Anusim portugueses, esta imensa multidão que ficou para trás, encarcerada pelo Catolicismo, todos estes homens e mulheres que agora buscam denodadamente as suas velhas raízes hebraicas…
(1) Hoje esta realidade – fruto da migração interna nos séculos XIX e XX – abarca seguramente o conjunto da população portuguesa, tornando-nos o mais hebraico dos povos europeus. De resto os estudos genéticos assim o comprovam.
Samuel Galazak
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Conde de Granada,
>Anti-judeus é o termo correto, posto que o anti-semitismo é racial/genético, coisa que nunca existiu em Portugal, mesmo por conta do tempo histórico. Fique-se claro, então, que não eram doutrinas raciais/genéticas, enfim, um pensamento que determinava inferioridades por conta de simples traços e diferenças físicas, antes, era uma ideologia, enfim, eram idéias ligadas a conceitos históricos-sociais-políticos-culturais-econômicos habilmente manipulados..
De facto coloca uma questão relevante que é a própria definição de anti-semitismo e anti-judaismo. Que está de resto relacionado com o próprio conceito de o que é "ser judeu", no sentido de ser algo com uma dimensão étnica e cultural.
Assim sendo não sei se concordo com o não ser uma doutrina "racial ou genética" o que se passou na Ibéria. Claro está que em termos físicos não tenho dúvidas que as diferenças seriam poucas ou nenhumas (dado que os relatos existentes apontam par a impossibilidade de distinguir fisicamente cristãos-velhos de cristãos-novos), não se trata de algo tão flagrante... mas havia a crença instalada a certa altura que bastaria o "sangue hebreo" existir em pequenas quantidades para que um sem número de tendências judaizantes se manifestasse. Aliás, esta tensão entre quais seriam os objectivos das leis de "limpeza de sangue" levou a amplas discussões na época, pois se de facto se tratava de defesa teológica não havia necessidade de um sem número de exigências. Isto pode ser visto quando começaram a aparecer escravos negros baptizados: numa primeira fase, não sendo judeus, podiam ser considerados "cristãos-velhos"[1], até que se acrescentou aos critérios "sem mácula de... negro, mulato e índio" (ou melhor, ao critério de habilitações, que era ligado mas não o mesmo que o estatuto social).
Pode este acrescento ser considerado teológico no fundamento? Não me parece. Este é, no entanto, um tema diferente, e este que iniciou já vai de facto longo, e tem sido palco de muita informação interessante, razão pela qual lhe agradeço.
Repare que o Auto da Barca do Inferno é de 1516, é certo, mas não me parece que o que diz seja derivado de qualquer imposição nova que não encontrasse eco na sociedade em geral:
***********************************
Par.
E ele mijou nos finados
n'ergueja de São Gião!
E comia a carne da panela
no dia de Nosso Senhor!
E aperta o salvador,
e mija na caravela!
Dia.
Sus, sus! Demos à vela!
Vós, Judeu, irês à toa,
que sois mui ruim pessoa.
Levai o cabrão na trela!
***********************************
Como o confrade Edmundo Simões refere existem leis de segregação (vulgo, "anti-semitas") antes da Inquisição, e o estimado Conde de Granada também fez aqui menção a disposições visigóticas, que são na verdade mais hispano-romanas que visigóticas por se tratar de uma imposição da religião dos hispanos-romanos (o que é o contrário do que séculos mais tarde prevaleceria com "a religião do povo é a religião do Rei"). No Terceiro Concílio de Toledo proíbem-se os judeus de cargo públicos, de terem relações sexuais com cristãos, etc, tendo estes encontrado auxílio nos bispos que se mantiveram fieis ao arianismo. Temos pois aqui uma inversão de algo que foi falado antes: os Visigodos arianos (de religião) toleravam bem os judeus, mas os hispano-romanos católicos aparentemente não.
Seguem-se mais concílios, alguns incluem ordens de expulsão do Reino se bem me lembro, conversões forçadas e penas de morte para relapsos, etc. De tal forma que em 711 tenho poucas dúvidas de que os judeus ibéricos vissem nos invasores muçulmanos uns libertadores. Seja verdade ou mentira, passaram depois a ser acusados de terem auxiliado os muçulmanos, o que não melhorou a sua imagem durante a Reconquista.
Alturas houve onde tiveram privilégios conferidos, bem como a protecção do Rei, claro. Normalmente estes períodos eram seguidos de retrocessos e novos avanços. No próprio processo de Reconquista houve muito de "realpolitik" há mistura, como de resto provam até as alianças com os reinos-taifa.
>quantos prêmigos Nobel não sairam de judeus, geralmente alemães!
Sem dúvida.
>Nossa civilização é judaico-cristão
Não discordando da essência essa é uma expressão que só poderia ter nascido em países protestantes, por razões várias. O que nos levaria a ainda outro tópico, esse verdadeiramente mais teológico.
Cumprimentos,
Frederico Muñoz
--
[1] Vide a confrontação entre o escritor popular Chiado e um autor mulato cujo nome me falha.
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Deve acrescentar-se, que os Judeus de Portugal foram "forçados à conversão. Cristão-novo- foi o qual foi obrigado por D. Manuel à conversão forçada. Quantos mil baptizados em pé nos Estaus? Na Espanha foram expulsos se senão convertessem, em Portugal a diferença foi, que não podiam sair, mas foram forçósamente convertidos. Só mais tarde D. Manuel deixou que os que quizessem saíssem. Afinal D. Manuel quiz ficar com "os meos Judeos" em casa. Financialmente prudente! Maria da Conceição.
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro A. Luciano,
Em relação ao ponto respeitante à ilegalidade das uniões, terá de facto que ficar pendente visto não possuir mais dados sem ser os que adiantei. Não que seja absolutamente fundamental, é-o talvez no sentido puramente simbólico mais que prático, pois como exemplificou profusamente mesmo os impedimentos mais conhecidos não eram escrupulosamente seguidos (sem falar nos impedimentos de profissão mecânica). Posso no entanto adiantar que o referido autor, Juan Ignacio Pullido Serrano da Universidade de Alcalá, indica em nota de referência "Es una petición reiterada en todos los memoriales dirigidos al rey en esta época. Véase por ejemplo la petición realizada al rey contra los impedimentos a los matrimonios mixtos en 1622, BL Eg. 344 fl. 184r. (Parecer de la Junta sobre las peticiones de los cristianos nuevos, 23-Nov.-1622). También M. J. Pimenta Ferro Tavares, Los Judios en Portugal, p. 316".
>Ainda não respondi à talvez nossa mais visível divergência: a questão da cultura árabe. Espero não me perder pelo meio embora não seja fácil sintetizar o que não parece ser susceptível de prova. Ficará para depois
Não tenha, peço, pressa. Pressinto de facto que essa seja uma divergência maior do que esta, que por si só já vai longa, embora proveitosa. Talvez me (e nos) possa brindar com um novo tópico?
>Quanto à sua "sugestão" de que os casamentos com judias dependeriam do dinheiro e de outros motivos, rejeito o primeiro por não ser exclusivo, isto é, a questão económica - ou apenas social ou até profissional - seria o mais importante em todos os casamentos.
Nem sempre estatuto social era equivalente a poder económico, em especial quando se tratava de judeus. Por razões várias, desde capacidades próprias acima da média até ao facto de estarem associadas à prática da usura, o papel das famílias judaicas era tanto mais odiado quanto prósperas eram. Mesmo a cultura acima da média que referiu é mencionado por vários autores (referindo-se à Alta Idade Média) como factor adicional de desconfiança. Não duvido no entanto que em alturas onde a segregação era menor tais considerações fossem secundárias. Em especial se estivermos a falar de cristãos-novos e não de judeus.
>Já em relação às judias serem apetecíveis não tenho dados.
Note que não fiz uma referência tão explicita às judias em si, enquanto um todo. Falava de mulheres, nada mais, de forma indistinta, e como em termos de atracção física a sua origem é relativamente indiferente.
>Temos na península uma tradição de "moiras encantadas"
Sim, de facto, embora os autores que eu tenho lido integrem essa tradição numa herança pré-romana (cf. Martins Sarmento). Creio que este ponto é já um indício do tema que há-de vir...
>Creio no entanto que jovens de elevada nobreza se sentiriam mais próximos culturalmente e em hábitos com cristãs-novas, pois só encontrariam equivalente em filhas de comerciantes prósperos ou na média-baixa nobreza que, teriam riscos e inconvenientes como amantes.
Não me parece inverosímil que tivessem cristãs-novas como amantes, embora não concorde inteiramente consigo em termos de proximidade cultural e hábitos. Até porque se estamos a falar de algum tipo de elevação cultural a alta nobreza na época não era nela pródiga. Em termos de inconvenientes, se é verdade que poderiam existir os que referiu, todo o clima em redor dos cristãos-novos era também em si próprio um impedimento de monta. Mas, repito, estando nós a falar de relações que são mais propriamente intimas que sociais estas considerações acabam por não ter grande influência. E seja como for não se aplicam a cristãos-novos que vivessem da mesma forma e fossem da mesma condição que os restantes habitantes.
>É pormenor desagradável mas, como saberá, um dos motivos de denúncias de judaizantes era "lavarem-se". Não posso dexar de concluir que muito provavelmente, judias cheirariam melhor do que cristãs.
Talvez, mas tenho dúvidas que a nobreza da época soubesse apreciar essa vantagem...
>Como vê, tudo o mais vago e circunstancial possível mas coerente como quadro.
Não o nego, e estou receptivo a concordar consigo que é uma possibilidade forte, confirmando-se o que disse (não que esteja a duvidar de si, obviamente, apenas nas fontes que podem ter leituras múltiplas). É um tema que tentarei aprofundar pois despertou-me o interesse. A minha ressalva sobre a tendência que tenho em duvidar de algumas atribuições que vou apanhando aqui e ali deve-se mas ao facto de normalmente serem pouco ou nada fundamentadas e fruto mais de um desejo implícito de que assim fosse do que outra coisa. Tal não é o caso aqui, e agradeço-lhe ter partilhado a sua aproximação ao tema. Ser vago e circunstancial é quase uma necessidade na ausência da possibilidade de se obterem provas melhores, dada a época.
>Vi dito por outro confrade e o Frederico com ele concordou que o sentimento anti-judaico desapareceu quande desapareceram os judeus
Sim, de forma geral. Falava especificamente de judeus enquanto comunidade consciente de si própria, com indivíduos que se classificam como judeus do ponto de vista étnico e religioso.
>Tenho enorme dificuldade em localizar esse desaparecimento. Há diversas sinagogas em funcionamento em Portugal e o rabi (de Lisboa?) tem aparecido na televisão ao lado do imã e do cardeal-patriarca.
A comunidade israelita, pelo menos a de Lisboa, é na sua esmagadora maioria de origem bem mais recente, sendo tanto quanto sei maioritariamente askhenazi. O Rabi de Lisboa é italiano, os anteriores creio que eram askhenazi de proveniência incerta. Não ponho de lado que quando da lei de liberdade religiosa no século XIX existissem núcleos de judeus relacionados com o comércio ou alta-finança que fizessem parte de uma comunidade judaica, mas o seu número e dispersão era muito reduzido. Estive agora mesmo na página da comunidade israelita em Lisboa (não tenho a certeza se o israelita tem o significado mais amplo ou se se refere a cidadãos do estado de Israel) e dão como números desde a fundação cerca de 800 pessoas em média. Dizem também que em parte tal se deveu à integração dos judeus (suponho que incluem aqui cristãos-novos, não sei qual o critério exacto) que existiam na sociedade católica durante o final do século XIX e século XX.
Falam também do Massacre de Lisboa e têm muito a dizer sobre D. Manuel, o que não deixa de ser compreensível.
Também existe uma mesquita em Lisboa, como disse, e ninguém usaria isso para sustentar que existiu uma comunidade muçulmana de forma contínua.
>Minha mãe e irmãos eram amigos e visitas de casa de judeus praticantes e, como "fait-divers" conto-lhe uma história.
Agradeço ter partilhado essa história, sem dúvida interessante e que mostra que as expressões que usamos nem sempre têm uma carga que consideramos devidamente - aliás, o confrade Edmundo já tinha referido isso mesmo.
Cumprimentos,
Frederico
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RE: Anusim portugueses: O farol de Amesterdão
Caro Conde de Granada,
Grato mais uma vez pela informação que partilha, apenas um comentário que não é sequer directamente para si mas volta a frisar o porquê da minha aparente insistência neste tema.
>Hoje esta realidade – fruto da migração interna nos séculos XIX e XX – abarca seguramente o conjunto da população portuguesa, tornando-nos o mais hebraico dos povos europeus. De resto os estudos genéticos assim o comprovam.
Quais estudos genéticos é que o comprovam? Acompanho o assunto e não vi nenhum que suportasse essa afirmação. Aliás, este tipo de afirmações ("é bem sabido que", "todos sabem que", "certamente que", "abarca seguramente") é algo que estou mais que habituado a ler de documentos provenientes de comunidades sefarditas (ou mesmo judaicas de forma genérica), e não só sobre Portugal.
Quanto aos "judeus de raça pura", não o eram mais ou menos que os askhenazi, que têm taxas semelhantes de Hg. R1a, o equivalente da Europa Oriental ao Hg. R1b, que é o esmagadoramente maioritário na Europa Ocidental, em especial faixa atlântica. Ou seja, mais uma vez se pega em algo (a taxa de R1b) para "provar" que "obviamente" havia muitos casamentos mistos por causa da "politica incentivadora" em Portugal... quando tal taxa é a mesma nos judeus "germânicos", apresentados aparentemente como "puros", fruto de "poucas misturas".
O R1a deve pois lá ter ido parar por osmose.
Cumprimentos,
Frederico
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro confrade Frederico Muñoz,
Não se distinguiriam, de fato, judeus de portugueses, ou mesmos de espanhóis, alemães e por aí vai. Hoje, as diferenças são bem maiores. Encontrará judeus de todos os tipos físicos. Para citar um exemplo que conheço bem, volto meus olhos a alguns ancestrais: Mathilde Tunin, segundo retratos de época, era claríssima, de cabelos castanhos claros e olhos azuis escuros, já sua mãe (Luise Peutinger), tambem por meio de retrato (mas, de menor tamanho), era perfeitamente germânica - loira, olhos azuis muito claros, quase acinzentados -, mesmo sua avó paterna sendo judia e, aliás, mais próxima de eslavos, posto que de cabelos muito pretos, de pele branca ("leite", posto que os germânicos tem um certo "dourado") e olhos verdes. Em minha ascendência portuguesa, minha trisavó Judith Maria Gonçalves de Oliveira era um perfeita portuguesa típica (que lembra muito o "tipo" mediterrânico), amorenada, olhos castanhos, além de muito bonita, mas, seu pai era tinha olhos verdes e a mãe, castanhos bem escuro. Além do que, há, ainda, outros ruivos, já misturados à raça celta-anglo-saxã (aliás, não me chamam de barbarossa à toa... - risos aqui). Em nenhum deles havia o famoso "nariz de águia." Apenas por curiosidade, meu 6º avô Friedrich Wilhelm Joseph Tunin (1799-1876) casou-se com Anna Zofia Ludwika Sulkowska, minha 7ª avó, filha de Andrzej Franciszek Ludwik Sulkowski e de Elzbieta Maria Helena Zamoyska, ambos da vetusta aristocracia polonesa, na qual, apesar de algumas buscas que fiz, não consegui encontrar ancestrais judaicos.
Creio que talvez houvesse qualquer fundamento teológico... Como supor que aceitassem negros como cristãos-velhos, mesmo com as posteriores diferenças (como bem o senhor citou, com mácula de negro, índigena e ect)? Lembre-se que, até há pouco, já no século XX!, ainda se debatiam, em academias, sobre a existência de alma nos negros... Coisas de Gobineau e do "racismo científico". Concordo consigo quando diz que o termo "judaico-cristã" (peço perdão por escrever "judaico-cristão", já que me referia à "civilização"...) é protestante, mas, hoje, já foi amplamente adotado. Lembro-me que, há algumas poucas semanas, vi um pronunciamento do Papa Bento XVI onde ele usava o termo. Mas, é humano. É certamente o que aconteceu com o termo judiaria; deixou de ser um possível insulto (posto que era um local, um bairro) para se converter em mero verbo que expressa uma ação de "incômodo", sem ter quaisquer ligações com preconceitos e afins. É um simples resquício.
Sincera e respeitosamente,
Granada
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RE: Anusim portugueses: O farol de Amesterdão
Caro confrade,
Certamente!
Há, inegavelmente, certas doses de "propaganda" no texto, com ou sem base para tal afirmá-lo. Todavia, há informações de interesse, como o grande fluxo de casamentos entre cristãos-velhos e novos, entre ricas herdeiras judias e nobres portugueses.
Melhores cumprimentos,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
O assunto é demasiado vasto para se poder cobrir na totalidade ou apenas na maior parte e o aprofundamento ponto a ponto implicaria conhecimentos historiográficos especializados que nem tenho nem tenho grande interesse em adquirir. Resta assim a "pesca à linha" isto é, escolha subjectiva dos pontos a abordar, devolvendo à água os peixes sem interesse, isto é, os pontos em que há concordância ou completa discordância.
Começo por corrigir um lapso: escrevi que as casas dadas a Inês Pires eram na mouraria de Beja quando eram exactamente na judiaria da mesma cidade.
E, na sequência de judiaria, desejo abordar dois pontos. Quer o confrade Edmundo quer eu próprio na historieta que contei, demos a "judiaria" (ou a "judeu") o significado de (+-) maldade, em grau pouco intenso, crueldade, etc.. Como corolário, os judeus, seriam intrinsecamente maldosos. Creio no entanto que a verdade estará mais próxima doutra interpretação: pela própria natureza das suas actividades económicas os judeus em Portugal personificaram e foram "mensageiros" de desgraças ou seja, ficaram associados ao imaginário de ocorrências negativas mas que pouco teriam com as suas naturezas pessoais.
Concordámos no seu melhor nível económico e o Frederico já falou nos serviços financeiros a que acrescento mais dois, as actividades médicas e a contratação. Para compreensão do que desejo exprimir, tenho que previamente introduzir a noção sociológica de ciclo, isto é, de que nas sociedades não existe uma continuidade de sentido igual, mas uma alternância de períodos positivos e negativos ou de períodos em que uma dada realidade está presente e em que está ausente.
Começando pelos serviços financeiros, é imediata a associação à usura. Esta - creio eu - apenas é possível em períodos de autoridade fraca e as suas consequências - o actual "sobreendividamento" - apenas se revelam em períodos de crise, as fases negativas dos ciclos. Os judeus, sob este prisma, tiveram o agravante de parte dos seus empréstimos estarem ligados à cobrança de impostos e taxas, adiantando o dinheiro, com ágio, e cobrando depois dos devedores.Sofreram assim também estigmas que melhor caberiam à voracidade das administrações.
Saltando para a contratação, quem viu processos da inquisição, apercebe-se de que muitos cristãos-novos eram tratantes. Esta palavra significa contratadores ou seja, quando o Estado ou as maiores urbes decidiam adquirir grandes quantidades de um dado produto, "adjudicavam" a sua compra e cristãos-novos, utilizando as suas redes familiares, adquiriam o produto na província concentrando-o no local de entrega. Exemplos típicos seriam os abastecimentos destinados às praças do Norte de África, ou cavalos para uma expedição. Ora tratante, é hoje pejorativo e se isso se deve a agressividade ou aproveitamento dos cristãos-novos enquanto agentes comerciais - que obviamente houve - na minha interpretação, tal deve ser "temperado" com a consideração que tais contratos coincidiam com épocas de carências e/ou de guerra.
Quanto às actividades médicas, compartilham com os serviços financeiros o despertar de invejas - dou como dado adquirido que a inveja é uma das componentes negativas com forte presença nos portugueses - por proporcionarem contactos com a nobreza e, no limite, acesso à côrte. [com pena minha, salto por cima de uma problemática com algum interesse que seria a relacionação entre médicos e "surgiões"]
Mas, sobretudo em pequenos núcleos urbanos do Alentejo, Beira Baixa e Algarve, médicos seriam quase exclusivamente cristãos-novos e em caso de epidemias a sua imagem seria sempre afectada e ainda mais, se boatos intencionais ou nem isso, atribuíssem aos judeus a origem das "pestilências" o que seria "comprovado" por menos cristãos-novos morrerem, como - novamente sem comprovativos - considero provável por terem melhor higiene e melhor alimentação.
Por último a simples questão de terem melhor nível económico que adquiria importância crucial em períodos de carências alimentares, crónicos na alta idade média e que provocaram picos inflacionários frequentes.
Não perdendo de vista que a tese em discussão, se centraria no anti-semitismo em relação a uma maior (ou não) tolerância dos portugueses, poderíamos agora procurar termos de comparação. Sendo claro que os que logo me ocorrem serão os mais favoráveis ao que já acredito pelo que os refiro mais como reflexão a partilhar do que como provas; e, naturalmente, com algum cariz polémico/provocativo.
Recentemente tive de pedir um crédito para fazer face a um pagamento à Segurança Social para cobrir os anos em que a minha mulher esteve com licença sem vencimentos e assegurar-lhe mais tarde a reforma por inteiro. O montante andava por 15% do limite máximo que alguma vez utilizei, não tinha qualquer outra utilização de crédito, ambos temos
rendimentos fixos e alguns bens imobiliários e nenhum de nós teve qualquer incidente em dezenas de anos. Como só existe crédito ao investimento e crédito ao consumo, foi esta última a classificação da operação o que permitiu ao banco exigir seguros em paralelo e resultou numa TAEG de 16,5% (suponho que me deva considerar feliz porque vi a "regulamentação!!!???" do Banco de Portugal para o autêntico crédito ao consumo, limitando-a na ordem dos 30%.
Como o banco me remunera depósitos a prazo à volta de 2% estou a falar de um "spread" real de mais de 800%. Tenho de memórias antigas valores (médios/possíveis) de 5 a 6 e 10 a 12%, ou seja um "spread" à volta dos 100% (valor já anormalmente alto se comparado com a banca europeia no mesmo período).
Pergunto-me assim se os sentimentos que adquiri em relação à Banca seriam muito diferentes dos que a usura terá provocado na alta idade média e início da moderna, se entre usurários cristãos-novos e bancos actuais a diferença será significatriva e qual ficará pior no retrato, e finalmente se ambos, usurários e bancos, são detentores de poder ou apenas fazem o que lhes consentem.
Sem concluir, despeço-me por enquanto.
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro A.Luciano
"Vi dito por outro confrade e o Frederico com ele concordou que o sentimento anti-judaico desapareceu quande desapareceram os judeus.
Tenho enorme dificuldade em localizar esse desaparecimento."
Parece-me que o exemplo pessoal que deu será uma excepção em relação à generalidade dos portugueses. Quantos judeus há Portugal? 5000? Em relação ás sinagogas, que eu saiba temos uma em Lisboa, outra no Porto, e a "nova" de Belmonte. Se tirarmos alguns poucos nomes ligados à comunicação social (como Daniela Ruah), temos que admitir que se trata de uma comunidade que não dá muito nas vistas. Se compararmos com o número de judeus que habitava em Portugal antes da sua forçada integração, temos que admitir que, na prática, para a esmagadora maioria dos portugueses do sec.XX, os judeus desapareceram.
Cmpts
E.Simões
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro E. Simões,
Judeus religiosos praticantes? Claro que haverá muito poucos!
Mas, não se está a falar disso e, sim, como bem dito, de sua "diluição" genética no "dna" português. Portanto, não há tantos judeus praticantes, freqüentadores de sinagogas, mas, quase que a totalidade dos portugueses (genericamente, de ibérios0, matemática e historicamente, possui o sangue de Sem.
Em números, diminuiram em seu aspecto cultural-religioso, mas, geneticamente, Abraão teve sua promessa chancelada por Deus, sendo "Pai de uma multidão incontável como as estrelas do céu e como os grãos de areia na praia..."
Cordialmente,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Dayher Gimenez
Não percebo o motivo da sua resposta. É óbvio que todos os portugueses descendem de judeus. Bem como de árabes, berberes, africanos, germânicos, etc etc. Nunca afirmei o contrário.
Na minha mensagem ao confrade A.Luciano referia-me aos judeus praticantes, ou pelo menos os que se identificam como judeus.
Cmpts,
E.Simões
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Edmundo Simões,
Então, foi apenas engano. Peço-lhe desculpas.
Certamente que são (os praticantes e os que se identificam, como bem disse o senhor) em número dos mais reduzidos.
Cordial e respeitosamente,
Granada
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RE: as origens dos judeus portugueses
Caro Dayher Gimenez
É natural que, discutindo-se desta maneira (por mensagens num forum), haja sempre mal-etendidos- Não tem que pedir desculpas.
Voltando um pouco atrás, ao ler a sua expressão "filhos de Abraão", por vezes pergunto-me quando do "verdadeiro sangue de Abrãao" teriam na realidade os judeus portugueses/hispânicos.
Esta é uma questão interessantíssima, e muito pouco tratada. Sabendo que os judeus, desde a antiguidade até pelo menos até à época visigótica, praticavam o proselitismo religioso, especialmente entre os seus servos e dependentes; seria interessante ter uma ideia de qual o grau de importância que as populações não-judias tiveram para a génese dos judeus ibéricos (e outros). É possível que a maior parte do "sangue" dos judeus de 1498 tivesse origem em populações ibéricas convertidas séculos antes... no fundo, talvez não seriam assim tão diferentes dos cristãos.. e lá se vai o "sangue de Abrãao".
Relacionada com esta questão, e um pouco à parte, se pensarmos nas origens dos actuais árabes palestinianos (cristãos e muçulmanos), talvez se possa concluir que, na sua maior parte, serão descendentes dos habitantes indígenas dessa região, cristãos, convertidos séculos atrás. Que por sua vez seriam em grande parte descendentes dos habitantes originais do reino de Israel, ou seja, dos "verdadeiros judeus". Se tivermos em conta que anteriormente ao séc XIX a percentagem de população judia que habitava a palestina era praticamente nula, e mesmo tendo muitos dos que já lá viviam origem em judeus hispânicos migrados para aí no séc.XVI, a ideia não será totalmente descabida. E também algo irónica, por motivos óbvios..
Cumprimentos
Edmundo Simões
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RE: as origens dos judeus portugueses
Caro confrade Edmundo Simões,
Sim, de fato. Mas, então, haveria a imperiosa necessidade de diferenciarmos os termos religiosos e os étnicos. Certamente que, quando usamos a expressão "judeu", logo pensamos nas duas acepções unidas, enfim, num semita que professa o rito e fé mosaicas, enfim, que crê em Javé (que teologica e teoricamente seria o Deus das três grandes religiões monoteístas).
É muito pertinente a questão que o senhor levanta. Todavia, não creio que antigas populações ibéricas tenham, em período anterior à Idade Média, se convertido, forçosamente ou não, ao judaísmo. Como seria isso? Não sei. Mesmo porque Israel-Judá nunca foi um país (o termo nação aqui seria anacrônico) que denotasse, em toda sua história, quaisquer marcas de imperialismo, de qualquer ordem. Desde Davi, as fronteiras pouco ou nada se expandiram, ao contrário dos filhos de Ismael, que criaram uma civilização bem mais técnica e avançada... Fez-me lembrar de Voltaire, que diz: "Abraão é um desses nomes célebres na Ásia Menor e na Arábia, como Tot entre os egípcios, o primeiro Zoroastro na Pérsia, Hércules na Grécia, Orfeu na Trácia, Odin nas nações setentrionais e tantos outros mais conhecidos por sua celebridade do que por uma história bem comprovada. Não falo aqui senão da história profana, pois quanto à dos judeus, nossos mestres e nossos inimigos, em quem cremos e que detestamos, tendo sido a história desse povo visivelmente escrita pelo próprio Espírito Santo, temos por ela os sentimentos que devemos ter. Dirijo-me apenas aos árabes; que se gabam de descender de Abraão por Ismael; que acreditam ter sido esse patriarca o fundador de Meca, onde teria morrido. O fato é que a raça de Ismael foi infinitamente mais favorecida por Deus do que a raça de Jacó. Uma e outra, é verdade, produziram ladrões. Mas os ladrões árabes foram incomparavelmente superiores aos ladrões judaicos. Os descendentes de Jacó não conquistaram mais que uma faixa de terra insignificante, que perderam. Os descendentes de Ismael avassalaram parte da Ásia, parte da África e parte da Europa, edificaram um império mais vasto que o império dos romanos e enxotaram os judeus de suas cavernas – que estes chamavam terra da promissão."
Pois bem, num plano exclusivamente religioso, conversões e reconversões sempre existiram, mais do que abundantemente, na Palestina. Primeiro, pagãos politeístas e tipos quase animalistas, depois (até o fim dos juízes e a instação da monarquia, reino-unido) monoteísmo clássico/mosaico, depois (posterior às deportações para a Babilônica e aos livros de Isaias, Jeremias e afins) surgiram as várias seitas (saduceus, fariseus e etc) que brigavam entre si, não raramente havendo guerras civis, depois, veio o Cristianismo e boa parcela da população se converteu em menos de 40 anos (quase toda a Ásia Menor foi convertida, só que, obviamente, foi de caráter espontâneo - era o tempo dos Apóstolos), logo em seguida se dá a Diáspora (não me lembro se foi em 75 d.C ou não...), sendo que, alguns séculos depois, nasce o império muçulmano que, alternando níveis de tolerância, ora ou outra obriga à conversão, e as coisas foram desaguar no que é hoje... O número de prosélitos era e sempre foi reduzido.
Mas, eis a questão: "grosso modo", podemos afirmar que não foram os judeus que se misturaram aos cristãos, mas, justamente o contrário, os cristãos aos judeus, portanto, é bem provável que haja (como haviam) judeus "mais puros", posto que os homens judeus faziam seus casamentos com judias e, raramente, o faziam com cristãs. Por outro lado, o casamento de cristãos com judias era, praticamente, uma conveniência de caráter econômico. Portanto, o número de casamentos de judeus com cristãs era ínfimo, pequenino aliás, enquanto o de cristãos com judias era bem maior.
Vivam muito poucos na Palestina porque foram expulsos; foi assim que chegaram à Europa, como também a outros países africanos ou, mesmo, há quem afirme, asiáticos. Todavia, uma coisa é certa: as comunidades eram fechadas e eles foram capazes de manter praticamente intactas sua cultura, religião, língua e culinária (a última marca de caráter cultural que pode se extinguir num povo), mesmo estando tão distantes da "terra que mana leite e mel" e, ainda mesmo, dos seus patrícios espalhados pelo mundo.
Os servos (muitos de antiga origem hitita) ficaram na Palestina quando da última deportação. Como eram propriedade, e os judeus de tudo foram despojados, eles passaram às mãos dos consquistadores, portanto, acho difícil que a tese de que os chamados "judeus ibéricos" não fossem "verdadeiros judeus."
Melhores e mais respeitosos cumprimentos,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
« >Vi dito por outro confrade e o Frederico com ele concordou que o sentimento anti-judaico desapareceu quande desapareceram os judeus
Sim, de forma geral. Falava especificamente de judeus enquanto comunidade consciente de si própria, com indivíduos que se classificam como judeus do ponto de vista étnico e religioso. »
Repare que segundo essa especifidade não há judeus desde princípios do séc XVI e o sentimento anti-judaico não desapareceu nessa data.
(explico interpoladamente que não tenho respondido ao confrade Conde de Granada nem agora a E.Simões o que não significa alheamento ou menosprezo mas apenas, como disse, porque que desejo evitar "ping-pong" eventualmente gerador de polémicas sobre pontos específicos)
Fui muito pouco feliz quando pretendi apenas realçar a contradição que me pareceu existir. É claro que que não há qualquer continuidade para a sinagoga e judeus actuais e lamento ter dado a impressão de que o queria dizer. (incidentalmente, parte importante da comunidade judaica do séc. XIX teve origem em imigração do Norte de África e particularmente, de Marrocos como os Benoliel "Ben O'Liel" que referi)
Vindo a propósito, discordo também de que os cristãos-novos procurariam casar com cristãos-velhos para passar despercebidos ou melhor se integrarem.
Os processos da Inquisição tinham sempre um capítulo com a genealogia dos suspeitos de judaísmo e nos processos mais antigos, já existiam alguns com "parte de cristão-novo" ainda antes da inquisição. Por outro lado, se a intenção fosse a integração e a ocultação, seria adoptada a onomástica cristã-velha e as tendências migratórias seriam também as das famílias cristãs-velhas. Não é esta a minha experiência (que, como disse, está quase limitada à minha família).
Muito pelo contrário, pressenti muito maior ligação, obviamente muito por motivos comerciais, às famílias cristãs-novas e num caso que considero paradigmático (não por ser caso geral mas por ser quase extremo da tendência) num casal, ele cristão-velho, ela cristã-nova, os 4 filhos foram apadrinhados por parentes próximos cristãos-novos; e se, possivelmente, já não existiriam ou estariam longe os parentes próximos pelo lado paterno, o pai era agricultor, proprietário de escravos (2 pelo menos) membro importante da respectiva confraria e filho de um escrivão, pelo que se o intuito era a integração/ocultação não lhe seria difícil obter padrinhos cristãos-velhos para os filhos. Dos filhos, o mais velho - depois processado pela Inquisição de Lisboa - ficou com os apelidos dos avós maternos (cristãos-novos que viviam de sua fazenda) o segundo com os apelidos dos avós paternos e o terceiro com os apelidos dos bisavós, pais da avó materna. Estou convicto de que se o outro não tivesse morrido criança, teria usado os apelidos dos bisavós pais da avó paterna. Quer dizer, a aparente confusão de 3 filhos (e, como disse, seriam também 4) todos com apelidos diferentes, aclarar-se-ia por forma geometricamente perfeita ao nível dos bisavós. Realço que o tronco feminino cristão-novo foi dominante pois deu os apelidos ao primogénito e ao 3º embora possa admitir que, neste caso, o dinheiro prevaleceu sobre a prosápia. De qualquer forma, e era o que pretendia ilustrar, o desejo de ocultação/integração nem estaria presente.
A conclusão que tiro é que, bons ou maus, convictos ou com dúvidas, conservando ou não hábitos domésticos de origem judaica, consideravam-se naturalmente cristãos e, claro, a prossecução da Inquisição tinha motivação venal e não religiosa.
Mais uma vez sem concluir...
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
«... no período pós-Restauração (que é acompanhado de um incremento de ferocidade em Portugal), e por último o número de processos, que são para Espanha cerca de 33.000 (1560-1700) e para Portugal cerca de 40.000 (1540-1821). O autor nota que a duração temporal é diferente, e que Sevilha nos primeiros tempos é a excepção (no sentido em que ultrapassa as portuguesas), como de resto fez notar no seu comentário. Termina, e volto a citar, dizendo que é "... tempo das Inquisições portuguesas ocuparem o lugar que legitimamente merecem: o de disputarem a palma do triunfo no campo do terror". Nota-se aqui a referida veia, digamos, mais poética do autor. »
Voltamos a ter aqui uma divergência aparentemente insanável. O nº de processos da Inquisição Portuguesa que tinha de memória, para todo o período era da ordem dos 30 mil e não 40 mil. Espero que algum confrade mais sabedor possa aclarar este ponto.
No entanto chamo-lhe já a atenção para o facto da Inquisição Espanhola se ter iniciado em 1478 e ter sido extinta no mesmo ano da portuguesa em 1821 e do seu período de "maior ferocidade" ter sido o inicial. Aquela selecção temporal (1560-1700) parece-me tudo menos inocente.
Borges Coelho era mais sério e documentado do que Saraiva mas de facto, limitou-se à Inquisição de Évora. Quando tem um capítulo mais abrangente e liberta a sua veia poética, na minha opinião, a única coisa que libertou foi a sua formação comunista com todos os preconceitos inerentes.
No período pós-Restauração ocorreram várias alterações com interesse para o caso. Desde logo a substituição ad-hoc por um governo inteiramente virado para a defesa ou seja, do ponto de vista da Inquisição, um governo fraco, o que permitiu a esta "entrar em roda livre". Creio ter sido neste período que se acelerou e se tornou dominante a perseguição de cristãos-novos ricos mas creio também que foi quando aumentaram significativamente as sentenças de reconciliação. Não posso generalizar dos que conheço, mas nessa época e até um de 1706 nem foi utilizada a tortura.
Repare que é nesta época que o pe. António Vieira tem o desabafo de que a Inquilição se alimentava da Fé e que se acentua a oposição dos Jesuítas que chegaram a peticionar sua extinção ao Papa. Borges Coelho (creio que foi ele) relata este facto - com honestidade mas não extrapolando conclusões, que lhe seriam difíceis - e, se não erro, o exemplo que cita mostra bem que a principal objecção dos Jesuítas era a ausência de prova suficiente e a condução do processo, a tal fabricação de judeus, mas não fala, que me lembre, no recurso a formas de tortura que pudessem justificar esse "aumento de ferocidade".
O aumento de ferocidade teria de ser documentado com dados sobre os números de processados, relaxados e reconciliados que simplesmente não existem. Até lá, cada um conclui como sabe ou lhe ensinaram.
Há outro factor importante. Quer por motivos comerciais quer para fugir à Inquisição - esta tinha uma maneira de trabalhar já conhecida e sabia-se bem que preso um membro da família os outros ficavam em maior risco - os cristãos-novos tinham grande mobilidade e mudavam-se frequentemente por toda a área alentejana, algarvia e da raia espanhola com predominância de Ayamonte. Por outro lado, na sequência da Restauração, muitos portugueses que haviam colaborado com a administração castelhana, exilaram-se em Espanha e com eles e pelos mesmos motivos, certamente muitos cristãos-novos. Ou seja, o natural aumento de população cristã-nova na área de jurisdição da Inquisição de Sevilha, poderia bem ter outros motivos do que o "aumento de ferocidade" da Inquisição Portuguesa.
Até breve.
A. Luciano
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Judeus nobilitados - Barões de Rothschild
El Barón de Rothschild
La familia Rothschild es una dinastía de financieros y banqueros de origen judeoalemán que realizó operaciones por toda Europa y cuyos miembros fueron declarados nobles por el gobierno de Austria. Desde principios del siglo XIX constituyen uno de los más influyentes linajes de Europa.
Mayer Amschel Bauer (1744 – 1812) fue el fundador de la dinastía. Su padre, Moses Amschel Bauer, era un comerciante de monedas y orfebre que se asentó en el barrio judío de Francfort y abrió un negocio en 1750. Sobre la entrada colgaba un escudo rojo (rot Schild), origen del nombre Rothschild (el rojo era el pabellón de los judíos protestantes en el este de Europa). Pocos años después de la muerte de su padre, Mayer Amschel comenzó como ayudante en la casa bancaria Openheimer en Hannover, donde tras algún tiempo se hizo socio "junior". Mayer Amschel adoptó el nombre Rothschild después de retornar a Francfort y adquirir el antiguo negocio de su padre.
Alrededor de 1760, Mayer Amschel comenzó a realizar negocios con la corte de Hanau, gracias a su relación con el General von Estorff. El 29 de agosto de 1770 se casó con Gutele Schnaper, con quien tuvo cinco hijas y cinco hijos (Amschel, Salomon, Nathan, Karl y James).
En 1801, Mayer Amschel se hizo gerente de la corte (Hoffaktor). De 1802 a 1804 realizó su primer préstamo estatal a la corte de Dinamarca por más de diez millones de florines. Pocos años después forjó una casa bancaria y, con ayuda de los banqueros Lennap y Lawatz, obtuvo interés en toda Europa y pudo especular con el dinero en su control. Tras su muerte en 1812, el secretario de Metternich escribió: "Ellos son los corrientes judíos ignorantes de aspecto respetable. Pero tienen un instinto notable para elegir lo correcto y entre dos cosas correctas, la mejor. Son la gente más rica de Europa”.
Los hijos de Rothschild se hicieron cargo de los negocios bancarios de su padre, mientras Amschel Mayer permaneció en la casa matriz en Fráncfort. Se abrieron subsidiarias en Viena, Londres, París y Nápoles. Esta primera generación, para entonces ennoblecida, financió la industria, los ferrocarriles y la construcción del Canal de Suez. Con un sistema especial de préstamos estatales hicieron al gobierno francés independiente de las autorizaciones de impuestos del parlamento.
De cómo la perspicacia financiera puede conferir un título de nobleza
La restauración de los Borbones en Francia trajo cambios radicales para los Rothschild pues nuevas tradiciones surgentes habrían de crear una situación social única en Europa. Los aristócratas de Rusia, Gran Bretaña y Europa Central habían conservado sus tierras, sus riquezas y su altanería. La soberbia y austera élite prusiana no podía mostrar un contraste más acusado con sus pares de Francia, donde la renta se había convertido en el fundamento de todo poder político y también determinaba la posición social del individuo, fácilmente perceptible para quienes regresaban del exilio en 1815.
Para los nobles, nada fuera del brillo de las hazañas militares podía rivalizar con el ocio y la cultura desinteresada, y estaban mal preparados para resistir el ascenso inexorable de la burguesía. El espíritu de la iniciativa económica reemplazó al valor caballeresco en la carrera por el éxito: ya no contaban las espectaculares gestas de los generales de Napoleón –Ney, Murat, Bernadotte-. Entre la Revolución y el Imperio el ejército ya no proporcionaba el trampolín social de antes.
El resultado era una confrontación entre los aristócratas, más decididos que nunca a reclamar sus propiedades y el poder político, y los nuevos comerciantes, cuyas fortunas eran envidiadas por los terratenientes y de quienes mucho tenían que aprender. A medida que la burguesía en ascenso iba adquiriendo fuerza y seguridad en sí misma, menos inclinación tenía a buscar alianzas a cualquier precio con la vieja nobleza. En París, James Rothschild, uno de los cinco hermanos financistas, sólo se preocupó por expandir sus negocios al máximo.
Al restablecerse la paz, la principal preocupación de los banqueros fue participar en los empréstitos que el gobierno francés se iba a ver obligado a lanzar para pagar todas sus deudas de guerra. Desde Inglaterra, el otro hermano Rothschild, Nathan, puso en movimiento todas sus influencias para lograr que James accediera a los círculos de gobierno. Éste creía tener menos acceso a las sedes del poder que Nathan en Londres. Aunque los desaires sociales lo molestaban aún más, como cuando Lafitte dio un gran baile y él no fue invitado o cuando advirtió que no tenía esposa que oficiara de anfitriona en su propia casa. Nada fuera del triunfo social traería paz al alma de James Rothschild.
En los primeros años de la Restauración, James se esforzó en preparar los caminos del futuro. Primero, en un golpe maestro, obtuvo la protección del duque de Orléans, el futuro Luis Felipe, gracias una vez más a los buenos oficios de Nathan y, por otro lado, se ganó la amistad del jefe de policía Decazes, favorito de Luis XVIII, quien en 1818 se erigió como nuevo primer ministro. Luego logró ser un agente en la transferencia de las indemnizaciones francesas fijadas para Austria.
Todo pequeño príncipe alemán con problemas acudía a la Casa de Rothschild para obtener préstamos. Pero la eficacia y la buena disposición de financistas como Karl y Salomon Rothschild les abrió un campo de operaciones más amplio, en el cual podían hacer grandes préstamos a Prusia, Rusia, Austria y Nápoles. Salomon, en particular, sabía prestar atención a las personas importantes cuyas necesidades muchas veces excedían a sus medios. De este modo granó la gratitud de Gentz, el consejero más influyente en los medios que rodeaban a Metternich, el canciller austríaco.
Friedrich von Gentz, prusiano, intelectual brillante, tenía una debilidad que le impedía convertirse en el comentarista imparcial que hubiera podido ser: le gustaba el dinero y todo lo que podía obtener con él. Gentz siempre estaba dispuesto a recibir efectivo donde pudiera encontrarlo, pues nunca tenía bastante. Salomon captó al gran hombre a primera vista y procedió a complacerlo con lo que él llamaba “agradables operaciones financieras”.
Este fue el canal por el cual los Rothschild consiguieron un acceso directo a Metternich y fueron ganando una posición de monopolio en los asuntos financieros de Austria. El altivo canciller, pese a su antisemitismo visceral, al poco tiempo ya estaba jurando por “su querido Salomón” y su buena voluntad era tan grande que le dio un regalo que sería difícil de evaluar en términos metálicos: un título de nobleza.
El Barón de Rothschild II
Dar títulos nobiliarios a una “tribu” de judíos requería valor y el emperador de Austria no confirió este título por gratitud, sino como resultado de una experta negociación. Austria, casi arruinada luego de las guerras napoleónicas, quería ordenar sus finanzas mediante un adelanto importante de las indemnizaciones que le debía Francia, que habría de pagar en cuotas a lo largo de cinco años. Los Rothschild disponían de medios suficientes para dar el adelanto, pero exigían una tasa muy alta de interés. Entonces el ministro de Finanzas, Stadion, concibió la idea de recompensar a los acreedores judíos ofreciéndoles una partícula: añadir el “von” a su apellido, que naturalmente se convirtió en “de” en francés. Dos años más tarde el ofrecimiento se completó con el título de Barón, concedido a todos los descendientes de Mayer Amschel Rothschild. Los hermanos se sentían tan toscos y vulnerables socialmente que aceptaron regocijados la transacción.
Para los Rothschild esto no significaba solamente entrar en la alta sociedad sino adquirir una dignidad que les permitiría olvidar la exclusión y la humillación del pasado e identificarse con un medio social diferente. La misma demora en las deliberaciones que antecedieron a la concesión del título fue una prueba de que los hermanos no se habían equivocado al preferir una promoción social permanente a una ganancia financiera inmediata.
La propuesta de Stadion creó mucho malestar en las esferas del gobierno austríaco. Los ministros temían el resentimiento del resto de los banqueros y las repercusiones que podrían afectar las negociaciones en torno a los derechos judíos. Favorecer a algunos de ellos en el momento en que Alemania buscaba quitarles las ventajas ganadas durante la ocupación francesa, no tenía lógica para ciertos funcionarios.
Se hizo una investigación para saber si un regalo imperial, como unas cajitas de rapé ricamente decoradas, por ejemplo, no habrían sido suficiente prueba de la gratitud del emperador. Pero éste delegó el problema a Metternich quien, informado por Gentz de las prodigiosas habilidades de los judíos en cuestión y muy consciente de la influencia de los hermanos en la financiación del gobierno, decidió favorecer la propuesta.
Blasones de Rothschild
El título fue un símbolo importante porque mitigaba de algún modo la amargura que les provocaba su condición. El placer que este ascenso social causó a los Rothschild es evidente en sus cartas. Los hermanos se dirigían uno al otro como “mi querido barón” y se burlaban de Salomón, a quien acusaban de estar trabajando ahora con energías disminuidas por culpa de su nueva aristocracia. También crearon su propio escudo de armas y eligieron cinco flechas, que simbolizaban la unidad fraterna, más la divisa Concordia, Integritas, Industria.
Tan sólo Nathan, en Inglaterra, no se dignó utilizar el título. Nathan se consideraba inglés y pensó que un título extranjero no le daba absolutamente nada. No se sentía amenazado ni en su dignidad ni en su posición. Como no tenía ningún deseo de salir de su medio ni necesidad de consagraciones ceremoniales para un ascenso social, Nathan subrayó, no sin cierto estilo, que él prefería seguir siendo Míster Rothschild.
En París, James invitó al duque de Wellington a cenar y el nuevo barón fue catapultado así a las altas regiones sociales. Se instaló en el barrio más animado y moderno de la capital, en la Rue d’Artois, hoy Rue Lafitte, en contraste con el barrio de Saint Germain, el baluarte de la aristocracia. Sin embargo, nadie tomaba en serio allí a su título de barón, sino que lo veían con cierto humorismo benévolo. “Estos buenos judíos son todos barones”, decía el conde de Castellane, sin poder contener su hilaridad. Los títulos napoleónicos suscitaban la misma clase de bromas.
Hubo que presionar bastante para que los ujieres de la embajada de Austria anunciaran a la aristocracia napoleónica por sus títulos. Durante la Tercera República (1871-1940) la gente que frecuentaba los salones legitimistas chasqueaba la lengua cuando eran anunciados los Iéna, ¡esa familia con el nombre de un puente!. Pero las sonrisas que suscitaban los primeros tropiezos mundanos de James eran indulgentes. La Francia de este período no está afectada por el antisemitismo, pues muy pocos judíos habían alcanzado posiciones prominentes y todos se habían beneficiado de la tolerancia intelectual característica de los primeros años de la Restauración.
Nadie rechazaba una invitación de James de Rothschild. Cuando Metternich fue a París, James dio una gran comida a la cual concurrieron los principales diplomáticos. El príncipe von Würtemberg y el príncipe Esterhazy, que en Alemania nunca habrían condescendido a tocar la mano de un Rothschild, concurrieron a la cena junto con todos los otros. El diario Le Constitutionnel no pudo abstenerse de hacer algunas consideraciones filosóficas sobre “el poder del oro, que iguala a todas las clases y cultos. No es uno de los espectáculos menos curiosos que podemos ver hoy, un hoy tan rico en contrastes, el de todos los representantes de la Santa Alianza, establecida en nombre de Jesucristo, que acuden a un banquete dado por un judío”.
Después de concederles un título útil y halagador, Metternich hizo mucho más. Nathan y James, como recompensa por numerosos préstamos hábilmente negociados, concibieron la idea de ser nombrados cónsules, con la representación de Austria, en Londres y París. Algo inconcebible pero que, sin embargo, fue aceptado por Metternich, con lo que se aseguró el leal apoyo de los Rothschild. Que a uno le llamaran barón era satisfactorio para la vanidad, pero convertirse en cónsul daba un rango indiscutible en todas las reuniones oficiales. Hasta los portones más imponentes se abrían ante un miembro del cuerpo diplomático. Fue así que James, en el impecable uniforme de cónsul de color carmesí y charreteras doradas, asistió a la coronación de Carlos X en Reims.
A partir de entonces una lluvia de condecoraciones arreció sobre los siempre sedientos Rothschild: la Orden de San Vladimiro en reconocimiento a los empréstitos negociados para Rusia, el Gran Cordón del Águila Roja de parte de Prusia, la Orden griega del Redentor, la Orden española de Isabel la Católica e incluso la Legión de Honor francesa. La enumeración de títulos y condecoraciones concedidos a los hermanos probaban sin ninguna duda que los Rothschild habían alcanzado la prosperidad utilizando sencillamente con inteligencia las oportunidades que se les presentaban y equilibrando su perspicaz espíritu de empresa.
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RE: as origens dos judeus portugueses
Caro Dayher Gimenez
Não tenho dúvida alguma que houve conversões de gentios ao judaismo, portanto integração de sangue "não-hebraico", digamos assim, no povo judeu do "exílio", pelo menos até ao final da antiguidade tardia. Se não, como explicar as tão evidentes diferenças fisionómicas entre as diversas populações judaicas na Europa?
A verdadeira questão é saber até que ponto os indígenas ibéricos tiveram influência na formação do etno judaico que se manteve até ao final do séx XV - ou seja, até que ponto os judeus de 1497 eram diferentes dos primeiros que chegaram à península vindos da palestina séculos antes.
Já no início do séc IV, no concílio de Elvira, já existem medidas contra a proximidade entre judeus e cristãos, pelo facto de os primeiros poderem levar os segundos a judaizar-se.
No código promulgado pelo rei Sisebuto em 612, a que aqui já se fez referência, ficava totalmente proibida qualquer actividade prosélita que tentasse levar ao judaísmo. Provavelmente haverá mais exemplos, mas estes indícios certamente serverão para indicar que em certas épocas houve conversão de não-judeus ao judaísmo, na Hispânia.
Também recordo a interessante estória de São Manços (o mais antigo mártir cristão em território que veio a ser português?), originalmente redigida no final do séc VII, mas cuja acção supostamente tem lugar na época romana: S.Manços, um cristão escravo ou servo de um grupo de judeus, vem para a Lusitânia na companhia destes, Após uma tentativa de conversão de S.Manços por parte dos seus senhores judeus, este nega-se a adorar falsos deuses. Uma vez que recusa a aceitar o judaísmo, S.Manços é condenado a trabalhos forçados, sofrendo violências e eventualmente o martírio.
Anteriormente ao Reino Visigodo houve um período onde o judaísmo ibérico tinha uma grande liberdade de acção, praticando o proselitismo e sendo um grupo economicamente forte (como sempre foi).
Cumprts,
Edmundo Simões
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
« >Em Portugal e em Espanha houve pogroms bem antes da Inquisição, e sim, também antes de 1506. Não percebo porque é que os portugueses haviam de ser assim tão diferentes dos outros..
O anti-semitismo, tal como o racismo em geral, só se faz sentir na presença de comunidades que são vistas como alógeneas. Não há racismo ou anti-semitismo na sua ausência. »
O primeiro parágrafo é do confrade Eduardo Simões, o segundo seu. Não contesto o segundo que será neutro para qualquer tese e o primeiro, como disse, será crucial para a questão.
Para avaliar fenómenos de xenofobia, entendo que o quadro legal é um indicativo menor e muitas vezes erróneo. Gosto de citar, do Brasil, a Marinha e Florianópolis. Até há poucas dezenas de anos não havia um único oficial negro na Marinha de Guerra e, obviamente, inexistia qualquer condicionante legal; ainda hoje em Florianópolis, uma cidade de mais de 400 mil habitantes com muito bons índices económicos e sociais é difícil encontrar um negro. Discuti isto há tempos numa lista maioritáriamente de brasileiros e recebi desde resposta jocosas do tipo "tinham azar nas provas de admissão" a pretensamente científicas, tipo "a raça negra não se sente confortável com as baixas temperaturas do Inverno em Santa Catarina". Ora até sob o ponto de vista académico, Florianópolis parece-me tão apetecível como Estocolmo, onde nunca faltaram imigrantes negros e, particularmente, estudantes.
Encadeando ideias, se eu afirmar que suecos são muitíssimo mais racistas do que portugueses - especialmente durante o quadro temporal da guerra colonial - seria quase crucificado pelos politicamente correctos com argumentos desde a liberalidade sexual das suecas, às intervenções na Assembleia Geral da ONU, ao auxílio aos países africanos e seus movimentos de libertação (que aliás, não os impediu de fazerem vultuosos investimentos em Portugal, sobretudo nos têxteis, nesse período e ainda sob o consulado de Salazar). Mas de facto, eu afirmo que os suecos são muito mais racistas do que os portugueses e basta-me um exemplo: durante a (escandalosamente venal na minha opinião) intervenção da ONU para evitar a secessão do Katanga no ex-Congo Belga um batalhão de suecos revoltou-se e chegou a sequestrar o seu tenente-coronel porque se recusaram a ficar no mesmo aquartelamento com as tropas do contingente indiano, aliás maioritariamente constituídas por "gurkas", possivelmente os melhores soldados do mundo.
Como, por outro lado, não há - com significado - estudos isentos sobre estas matérias, a sua discussão é quase exclusivamente reflexo de posições ideológicas e não vejo como ultrapassar isto.
Eu entendo que o racismo, estudado como fenómeno (ou doença se quiserem) social, deve ser extirpado de componentes exógenas, ligadas normalmente ao poder ou às ideologias/religiões. É neste sentido que desvalorizo 1506 e a Inquisição Portuguesa para avaliar se o povo português seria xenófobo/racista em relação a judeus. Para além da quota-parte de sentimentos anti-judeus efectivamente pré-existentes e da inveja que estes suscitavam, 1506 ocorreu após uma intoxicação de mais de duas décadas de propaganda anti-judeus oriunda de Castela e bem apoiada e tolerada por aqueles que queriam a inquisição também em Portugal, quer porque eram partidários de um aumento do poder real (ou do nº de empregos a distribuir) ou porque eram zelotas da religião (ou desejavam o seu nicho dentro do poder da Igreja). A dimensão da tragédia, deveu-se a um concurso de circunstâncias infelizes, como a ausência da côrte que demorou as medidas de contenção mas também ao efeito da presença em Lisboa de tripulações de navios estrangeiros que, quer por embriaguez, quer por cupidez e luxúria (saques e violações) actuaram como catalisadores da violência.
Mas recuso-me a acreditar que foi apenas coincidência que tudo tenha começado na Igreja de S. Domingos - que ficou encerrada por alguns anos e D. Manuel puniria alguns frades Dominicanos que foram os principais instigadores da violência inicial - e que mais tarde os Dominicanos apareceram dominantes dentro da Inquisição. Coisas destas não podem ser acaso mas nada têm a ver com características inatas da população.
Seriam assim mais significativos os pogroms anteriores a 1506 e seriam estes que, devidamente estudados, teriam de ser comparados com ocorrências semelhantes noutras regiões europeias. Tudo trabalho historiográfico que está por fazer.
Apenas adianto que, quando o que o Frederico disse, salvo erro, que na península e com início no século XV se teriam cometido as maiores violências sobre judeus (desculpe-me a imprecisão) ficaram omissas as anteriores expulsões gerais de judeus ocorridas em diversos países incluindo Inglaterra e França; ficaram também esquecidas as violências sobre judeus durante a preparação das primeira cruzadas. De facto, quando os prosélitos da "Guerra Santa" faziam (ou divulgavam) a sua propaganda contra os muçulmanos, houve fenómenos de reacção no sentido de que não faria sentido ir libertar os cristãos de Jerusalém e combater os infiéis do Islão, sem que nada se fizesse contra os "deicidas" que mataram Jesus Cristo. Em consequência ocoreram surtos de pogroms alguns de extrema violência.
Mais uma vez, acredito que em termos comparativos, os portugueses ficam bem.
Explicado ou talvez melhor, ilustrado porque acredito que os portugueses foram diferentes para melhor (ou menos mau) faltaria oferecer possíveis motivos da diferença. É uma especulação que conto fazer brevemente.
A. Luciano
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RE: as origens dos judeus portugueses
Caro Eduardo,
Mas, eram leis de caráter eminentemente religioso, enfim, que, no máximo, ao menos oficialmente, impediam aproximação cultural-religiosa, jamais versando sobre algum "impureza" da raça judia, enfim, era mais um "zelo" para com a manutenção da fidelidade à Igreja Católica do que às misturas raciais.
Houveram, de fato, conversões de hispanos ao judaísmo, mas, em pequena-reduzida quantidade. Sem dúvida havia grande liberdade e, como "quase sempre", atuavam no comércio, daí a riqueza. Não é à toa que seriam, possivelmente, de estirpe "mais pura" (o que pode ser relativizado, como veremos mais abaixo) que os judeus alemães, franceses, holandeses ou mesmo polacos. Basta citar o exemplo da colônia judaica no reino de Nápoles, notadamente sob o governo dos Hohenstaufen e, posteriormente, um pequeno período sob o cetro dos Anjou. Os judeus "mais semitas", "mais hebreus", seriam, até por algumas semelhanças genéticas com as populações autóctones, os sicialianos/napolitanos e os portugueses/espanhóis. Ainda assim, fica muito difícil determinar as feições padrões de um "judeu-judeu." Há teorias, mas, poucos fatos. Aliás, nem sei se posso afirmar que havia unidade racial-genética entre os judeus antes e depois dos vários exílios (povos que, também, contribuiram com sua carga genética...).
Mas, entre os judeus, não importava a fisionomia para estabelecer se eram ou não "filhos de Abraão", aliás, provavelmente, eles mesmos eram (ou poderiam, se pensarmos em todo o povo) ruivos. Lembre-se do rei Davi, sobre o qual a Bíblia diz ser "ruivo e belo." Ademais, entre os judeus, "judeu" era quem, em linha direta-reta e varonil descendesse de Abraão. Além do que, lembre-se que as mulheres não eram contabilizadas e, muito menos, inscritas nas genealogias. Judeu era todo filho de pai judeu que, por sua vez, fosse filho de judeu; a mãe, pouco importava, mesmo levando-se em conta as restrições mosaicas para com casamentos com "povos estranhos" (estranhos, aqui, deve-se entender mais para com questões religiosas do que meramente raciais). Os próprios reis tiveram filhos com egípicias, hititas (Agar, se não me engano, era hitita), moabitas e etc... No livro de Cantares, Salomão compôs versos, dos mais apaixonados, à uma bela negra sulamita. Dizia ele: "Não olheis para o eu ser morena; porque o sol resplandeceu sobre mim." Sem falar da rainha de Sabá... Israel era um caldeirão genético.
Cordialmente,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro A. Luciano,
Concordo inteiramente consigo.
De fato, comparando-se, os portugueses ficam (muito) bem.
Á propósito, até onde eu sei, o Brasil nunca teve um diplomata de origem/ascendência negra.
Saudações,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Mencionei antes que a palavra judiaria me merecia duas reflexões, ... eis a segunda.
O cérebro humano funciona muito por associações - daí a importância das mnemónicas - e quando se fala em judiarias e mourarias a associação mais comum é a discriminação, segregação e designadamente o "apartheid" sul-africano que teve em tempos recentes o maior impacto. Contudo da existência de judiarias não é lícito concluir que estas se deviam a esses motivos.
Por um lado, um certo pragmatismo, que se iria perdendo com a modernidade e contemporaneidade, levava a que fosse efectivamente tratado diferentemente o que era diferente e não duvido de que um modelo de integração urbana em que se sucedessem residências cristãos, judias e mouriscas ou moçárabes, seria desagradável a todos. Isto - por não ser susceptível de prova - pode parecer polémico mas, recorrendo a situações com algumas semelhanças, nos períodos históricos em que funcionou melhor a convivência entre as três religiões, o estabelecimento do império muçulmano no séc. VIII, o emirato/califado de Abd-er-Rahman III em Córdova no séc. X, o reinado de Rogério II da Sicília na primeira metado do séc. XII, e já mais limitadamente (literatura e ciência) o reinado de Alfonso X "o Sábio" no séc. XIII, as comunidades também viviam separadamente.
Abro um parêntesis para referir que sempre que se verificou a convivência/colaboração entre as três religiões sob governos fortes, deram-se saltos civilizacionais notáveis e gosto de referir também a Junta de Matemáticos de D. João II que criaria bases para o alargamento do mundo conhecido no século seguinte.
Pela negativa, a actual segregação de imigrantes negros para bairros problemáticos, ou a cintura de musseques à volta de Luanda - hoje avassaladora - mas já denunciada nos anos 50 por um catedrático da Universidade de Coimbra, notável oposicionista de direita - ou finalmente, o mais recente e chocante fenómeno de "cidades de tendas" em grande parte povoadas por reformados que perderam as suas economias e com elas as suas casas, nas falências de fundos financeiros e que estão a aparecer em periferias de grandes urbes nos Estados Unidos, é por demais evidente que não têm origem em qualquer xenofobia, o que acredito ser igualmente verdade para a enorme maioria de judiarias e mourarias (enquanto, note-se, não foram reduzidas a ghettos ou reservas tipo índias nos EUA).
Também por aqui não me parece que os portugueses fiquem muito mal. Basta lembrar que a palavra "ghetto" é italiana e teve origem em Veneza, e que se espalharia por toda a Europa com características variáveis caso a caso mas de sobrelotação populacional, de imposição e de restrições de liberdade de movimentos.
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Acredito, como dito, que os Portugueses foram diferentes mas tenho alguma restrições aos "brandos costumes" a que muitas vezes se subsume a questão. Não me parece que a 1ª República tenha sido "branda" e não tenho dúvidas de que a guerra civil de 1828-34 teve episódios de extrema violência, que também ocorreram nos levantamentos populares contra a ocupação francesa. O que acredito ser mais próximo da verdade é que os portugueses serão mais pacientes (ou mais dóceis ou mais preguiçosos) e não recorrem à violência tão facilmente como outros povos.
Contudo, não encontro na História de Portugal nada que se compare à cruzada contra os cátaros ou à brutalidade dos Hohenstauffen na Sicília, nem a violências como a que abaixo relato como "fait-divers".
Em 1532 o bispo de Rochester deu um jantar de que resultaram intoxicações nos convidados, tendo morrido dois; em consequência, o cozinheiro, Richard Rose, seria condenado pelo Parlamento a ser queimado vivo. Numa manhã de Abril desse ano, muito povo de Londres que acorrera a Smithfield Market na sequência de editais e proclamações de Henrique VIII, convidando para um espectáculo oferecido, deparou-se com um enorme caldeirão onde Rose foi "cozido", não percebi bem se repetidamente mergulhado se mergulhado lentamente, pois o espectáculo durou duas horas até à morte do cozinheiro.
Quanto à violência associada a xenofobia, também como disse, entendo separar a componente popular, do exercício do poder, e da actuação de institutos procedentes do anterior e acabam por se autonomizar e extravasar as finalidades para que foram criados. Foi, na minha opinião o caso da Inquisição Portuguesa mas encontro paralelos, por exemplo na Companhia Neerlandesa das Índias Orientais ou nos privilégios dos Welser na Venezuela. Se, nesses casos, a actuação xenófoba coincidir com os sentimentos populares, não valerá a destrinça mas, no caso português, creio que isso só ocorreu limitadamente no tempo e, suspeito, também geograficamente.
Terão sido "populares" os pogroms anteriores a 1506 - que não conheço em detalhe - enquanto o de 1506 seria já de inspiração externa e representou o pico dos sentimentos anti-judeus mesmo se, tanto quanto sei, ficou quase confinado a Lisboa. Falta-me informação sobre as manifestações de desagrado quando D. Manuel autorizou o baptismo dos judeus que quisessem ficar, o que seria necessário para avaliar a sua extensão e intensidade.
Quando D. João III forçou o Papa a autorizar a Inquisição Portuguesa, esse sentimento popular teria já diminuído e suponho que continuou em regressão lenta até finais do séc. XVII, em que seria já pouco significativo e, na prática, meramente venal. De facto, denunciar um pseudo-judaizante seria forma eficaz de evitar pagar uma dívida ou substituir o denunciado num negócio; e, se fosse forte o sentimento popular não parece possível que os jesuítas e designamente o Pe. António Vieira criticassem a Inquisição em sermões públicos.
Seria assim no primeiro século e meio que a Inquisição Portuguesa teve carácter anti-judeus mais "nacional" e, nesse período, só poderiam testar-se comparações com países (ou regiões, ou cidades) com percentagens da mesma ordem o que excluíria desde logo alguns como a França e a Inglaterra que tinham antes procedido a expulsões gerais e cujas percentagens de judeus que depois aí se acolheram nunca tiveram expressão significativa. A propósito, também gostaria de ter mais informação sobre a Polónia, que recebeu bem os expulsos sobretudo de França e ficou assim com a maior concentração hebraica da Europa - eram polacos 3 a 3,5 milhões dos 6 do Holocausto - mas não sei se conviveram sempre separadamente ou se houve assimilação significativa.
Também me faltam conhecimentos sobre a Inquisição Espanhola e sobre as percentagens de população de origem hebraica que subsistiu ou regressou a Espanha. No entanto a teorização da "pureza de sangue" foi criação espanhola depois de certa forma imposta a Portugal em período de poder fraco - D. Manuel tinha outras prioridades e D. João III herdou e reinou com uma situação financeira que não permitia margem de manobra (ainda que o quisesse, o que não creio) - o que levou, por exemplo, à adopção da definição "espanhola" de cristão-novo, apesar da então já profunda diferença das duas realidades.
Acresce que nunca em Portugal se verificou a concordância entre Coroa, autoridades judiciárias e eclesiásticas e populações - que pouco contariam mas de que não se conhece nem oposição nem apoios particulares aos visados - como na expulsão dos "morizcos" que levou alguns a considerarem a união das coroas de Castela e Aragão como a ocorrência do primeiro estado racista do mundo.
Também entre as respectivas guerras civis - 1828-34 e 1936-39 - encontro semelhanças (ideologias importadas e importante participação estrangeira) e diferenças (talvez as mais marcantes sejam a estratificação social em Espanha e a transversalidade familiar em Portugal); mas acho muito significativo que, aproveitando a "boleia da guerra" tenham ocorrido ensaios de limpeza étnica de ciganos em Espanha.
A. Luciano
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Hohenstaufen - Perseguidores?
Caro A. Luciano,
Ora, não me parece correto afirmar que os Hohenstaufen foram grandes perseguidores... Pelo contrário, fica nítida a tolerância dos mesmos...
Cito como exemplo:
1)
Trechos do livro O Império Marítimo Português 1415–1825, de Charles R. Boxer
Trecho 1 - páginas 16 e 17
"É comum ouvir dizer que os povos da península Ibérica - e em particular os portugueses - estavam especialmente preparados para inaugurar a série de descobrimentos marítimos e geográficos que mudararn o curso da história do mundo nos séculos XV e XVI. Entre essas vantagens em geral enumeram-se a posição geográfica na janela mais avançada da Europa sobre o Atlântico, e certas características nacionais desenvolvidas em oito séculos de luta contra os mouros. O famoso sociólogo brasileiro Gilberto Freyre e seus discípulos salientaram que a longa dominação moura na península fez com que muitos habitantes cristãos considerassem o mais escuro mouro ou árabe socialmente superior. A mulher moura, morena, também era vista somo tipo invejável de beleza e de atrativo sexual, como comprovaria a duradoura popularidade das histórias da Moura torta, a princesa moura encantada, entre os camponeses portugueses analfabetos. Daí à tolerância da mestiçagem racial, alegam esses sociólogos, só faltava um passo. Estava assim explicada a tendência dos portugueses - e, em menor grau, dos espanhóis - de não praticar a segregação racial. Como se sabe os séculos durante os quais cristãos e muçulmanos lutaram pelo domínio da península Ibérica não foram épocas permanentes de intolerância religiosa nem de guerras. Tanto o herói castelhano El Cid Campeador como seu equivalente português Geraldo Sem Pavor serviram aos governantes cristãos e muçulmanos, conforme a ocasião. Houve mesmo um período, no século XIII, em que os ritos cristãos, muçulmanos e judaicos eram celebrados amigavelmente no mesmo templo - a mesquita de santa Maria la Blanca, em Toledo.
É óbvio que há algum fundamento nesses argumentos, mas em geral são levados longe demais. Em primeiro lugar, muitos - e, em algumas regiões, a maioria - dos mouros que ocuparam por longo tempo a península Ibérica não eram mais escuros do que os portugueses, porque eram bérberes e não árabes ou mouros negros. Os povos do Norte da África eram brancos, faziam parte da grande unidade mediterrânea. Em segundo lugar, se a luta ferrenha pela hegemonia da península foi pontuada por intervalos de tolerância mútua, essas tréguas já haviam terminado no século XV. Os anos em que os credos rivais eram celebrados em igualdade de condições, em Toledo, não tiveram resultado mais duradoulo do que o obtido com o notável rapprochement cristão-muçulmano realizado na Sicília, durante o governo dos reis normandos e de seu sucessor Hohenstaufen, Frederico II, Stupor Mundi, de 1130 a 1250. Seja como for, no século XV, o cristão ibérico médio, como seus contemporâneos franceses, alemães ou ingleses, raramente se referia às crenças muçulmana e judaica sem acrescentar algum epíteto injurioso. O ódio e a intolerância, e não a simpatia e a compreensão, pelos credos e raças alienígenas eram a regra geral; e o espírito ecumênico, tão em moda hoje em dia, naquele tempo primava pela ausência. Mouros e sarracenos (como eram chamados os muçulmanos), judeus e gentios eram considerados popularmente condenados ao fogo do inferno no outro mundo. Conseqüentemente, não deviam ser tratados com muita consideração neste.
É evidente que a intolerância religiosa não se limitava aos cristãos, embora estivesse talvez mais profundamente enraizada neles do que na maioria dos povos de outras religiões. Mas o muçulmano ortodoxo via com horror todos os que 'concediam associados a Deus', e era exatamente isso os cristãos faziam com a Trindade, a Virgem Maria e, até certo ponto, com os santos. A veneração aos santos e a crença em presságios, superstições e milagres estavam bastante disseminadas no mundo muçulmano até o século XV, particularmente entre os adeptos das ordens sufis, ou das confrarias místicas, para quem tais práticas exerciam grande atrativo. No entanto, a veneração aos santos e a seus sepulcros nunca chegou a atingir no Islã os excessos que o culto dos santos e de suas imagens muitas vezes provocou na cristandade.
A Europa medieval era uma escola dura e rude, e graças mais amenas da civilização não eram mais cultivadas em Portugal do que em outro lugar qualquer. Uma nobreza e uma fidalguia turbulentas e traiçoeiras; um clero ignorante e lasso; camponeses e pescadores trabalhadores mas imbecis; e uma ralé urbana de artífices e empregados diaristas, como a plebe lisboeta descrita pelo maior dos romancistas portugueses, Eça de Queiroz, cinco séculos depois. como 'beata, suja e feroz'; tais eram as classes sociais de que advieram os descobridores e os colonizadores pioneiros."
____________________________________
2)
"O Reino da Sicília de Rogério II foi caracterizado pela sua natureza multi-étnica e tolerância religiosa. Normandos, judeus, muçulmanos árabes, gregos bizantinos, lombardos e sicilianos viviam em harmonia.[1][2] O Imperador Frederico II de Hohenstaufen (1215-1250) permitiu-lhes permanecer no continente e construir mesquitas, alistarem-se em seu exército, e até mesmo tornanrem-se seus guarda-costas pessoais. [3]" (http://wapedia.mobi/pt/Liberdade_religiosa)
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RE: Hohenstaufen - Perseguidores?
Caro Frederico Muñoz,
Não era minha intenção considerar os Hohenstauffen "perseguidores" mas exemplificar um acto de extrema violência que tinha fixado quando li pormenores já não sei aonde e que associei erradamente à Sicília por se ter passado no burgo de Altavilla.
"The vengeance was terrible: the city of Altavilla, where they had found shelter, was razed, and the guilty were blinded, mutilated and burnt alive or hanged."
Esta passagem tirada da Wiki inglesa no artigo sobre Frederico II, identifica o evento mas não dá nem aproxidamente os detalhes que me impressionaram.
De igual forma, quando referi a cruzada contra os Cátaros, foi igualmente como exemplo de extrema violência e concretamente a actuação de Simão de Montfort no cerco de Béziers - a célebre frase (que pode ter sido imaginada pelo cronista mas que definiu o acontecido) "Matai-os a todos. Deus saberá reconhecer os seus." e o seu procedimento quando defrontou duas fortalezas que defendiam a cidade, uma mais pequena e mais facilmente conquistável que tomou, tendo-se submetido a segunda quando viu a guarnição da primeira às suas portas em fila indiana agarrados um atrás de outro pois todos tinham os olhos arrancados, guiados pelo primeiro que só tinha um olho arrancado.
Devo honestamente referir que este último exemplo me afectou muito e independentemente da leitura muito crítica que tenho sobre os motivos desta cruzada, porque não me pude impedir de fazer a associação à rendição de Sintra após a tomada de Lisboa.
Nesta enorme "empreitada" em que me meti, é impossível aproveitando intervalos e sem revisão de textos, não errar pormenores (p.ex., a Igreja de S. Domingos terá estado fechada semanas e não anos, como escrevi) nem evitar deficiências de exposição.
A próxima mensagem iniciará as especulações sobre possíveis motivos da "diferença" dos portugueses mas, devo já desenganá-lo: não conte com nada de tão interessante como "mouras encantadas".
A. Luciano
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RE: Hohenstaufen - Perseguidores?
Caro confrade A. Luciano,
Permita-me uma pergunta: o senhor enganou-se ao destinar a mensagem ao confrade Frederico Muñoz numa postagem minha (dirigida ao senhor) ou era destinada a mim e errou o nome?
Mais sinceras e respeitosas saudações,
Granada
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RE: Hohenstaufen - Perseguidores?
« Permita-me uma pergunta: o senhor enganou-se ao destinar a mensagem ao confrade Frederico Muñoz numa postagem minha (dirigida ao senhor) ou era destinada a mim e errou o nome? »
De certa forma, ambas. Respondi a uma mensagem sua como se tivesse sido Frederico Muñoz o autor.
As minhas desculpas aos dois.
A. Luciano
P.S. - Simão de Montfort não só lhes mandou arrancar os olhos como a língua e os narizes.
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
« «Não percebo porque é que os portugueses haveriam de ser assim tão diferentes dos outros.
Colocou a questão que me levou a responder a este tema.»
-----------------
Considero (especulo, conjecturo, etc.) que houve causas genéticas e culturais. E começo pelas primeiras.
Aceitando por simplificação a homogeneidade das populações ibéricas antes da invasão muçulmana e assim também das populações refugiadas nas Astúrias, bem como das que ficaram sob domínio muçulmano, as diferenciações étnicas posteriores explicar-se-iam pelas diferentes interacções nas zonas de fronteira e depois, já na Reconquista, pelas diferentes composições dos estados por essas populações já diferenciadas entre si; e também pelas diferenças entre populações árabes reconqistadas.
Assim o que depois seria Portugal ter-se-ia diferenciado pelos contactos comerciais e incursões de povos marítimos, enquanto a Cantábria e a Catalunha, teriam tido contactos continentais transpirenaicos. Diferentes de todos seriam os bascos e neutras as Astúrias, tronco comum. [Incidentalmente porque os judeus nunca foram muito vocacionados para actividades militares, as Astúrias terão conservado grande parte da sua população inicial judaica refugiada, que teria aumentado percentualmente pela saída de cristãos para a aventura da Reconquista; considerando ainda a situação geográfica, com fronteira pirenaica e marítima, admito que possam ter depois recebido mais judeus oriundos de França, Inglaterra e outros países que os expulsaram. Não fiquei assim muito surpreendido com os resultados genéticos superiores aos portugueses.]
Alfonso I "el Catolico" (693-757) genro de Pelágio conquistou a Bardúlia aos muçulmanos mas, sem tropas para a defender, ermou-a, isto é desertificou-a de população e destruíu qualquer construção com possível aproveitamento militar. Por iniciativas particulares, as primeiras apoiadas pela Coroa ainda no tempo de Alfonso I, o território começou a ser lentamente repovoado por cantábricos a Oeste e catalães a leste, estes acompanhados de muitos aventureiros bascos, como se comprova pela onomástica da nobreza inicial do território. Sujeito a repetidas incursões e fossados de muçulmanos, o extenso território foi uma espécia de fronteira mais ou menos selvagem - longo tempo passou até que a então coroa Leonesa nomeasse (ou reconhecesse?) os primeiros juízes e mais algum até que foi instalado o primeiro conde. Por premente necessidade, foram contruídos numerosos castelos (castillos) e por isso, o território ficou conhecido por Castela (Castilla). Assim entre as populações portuguesas e castelhanas existiu, desde o início, a maior diferenciação étnica da península, com a excepção dos bascos.
Quanto aos muçulmanos, inicialmente nada haveria a diferenciar. A Península foi invadida por Omíadas árabes, mas estes eram uma elite muito minoritária, sendo já a maior parte das suas tropas berberes do Norte de África (berberes essencialmente mediterrânicos com pouca mistura de negros). Viriam depois árabes Abássidas e Fatimidas do Egipto (muito provável mas pouco documentado) mas sem grande significado em termos genéticos.
É geralmente pouco sabido que os primeiros muçulmanos não trouxeram mulheres, pelo que logo na segunda geração, tinham já metade do material genético herdado de cristãos e judeus. Este facto levanta uma série de indeterminações pois, sendo as mulheres ignoradas na sua cultura, não há na historiografia muçulmana dados sobre quando terão vindo as primeiras mulheres e em que quantidades o que, suponho, irá causar muitas interrogações e originar muitos disparates à medida que prosseguir o mapeamento genético.
Enfraquecidos, os muçulmanos apelaram aos Almorávidas (também berberes mas sobretudo magrebinos e já com algumas misturas subsaarianas) fundamentalistas religiosos (eram monges guerreiros). A sua expansão em "Portugal" seria travada em 1090 por Gualdim Pais e seriam logo depois suplantados pelos Almóadas (também berberes e com mais percentagem subsaariana) também "puristas" da religião e chefiados por um rei que austeramente se vestia de pele de cabra. Estes tiveram o seu apogeu quando derrotaram os cristãos em Alarcos em 1095 mas logo em 1212 iniciaram o seu irreversível declínio com a derrota nas Navas de Tolosa.
Não se pense contudo que eram apenas militares pois al-Mansur, que tomou o nome de "o Vitorioso" depois de Alarcos, era extremamente culto e foi protector de Averróes, um dos grandes filósofos de todos os tempos. São também genealogicamente muito promissores pois, apesar da sua descendência estar ainda indeterminada (com excepção de uma atrevida hipótese deduzida a partir da historiografia muçulmana e documentos do mosteiro de Lorvão, que conduz aos Silvas, senhores da Maia) têm descendência profética pelo rei Idris de Marrocos e os seus antepassados xarifes do Magrebe, descendência essa firmemente documentada o que não acontece com a linha Fatimida que será a da varonia do Aga Khan (Omíadas e Abássidas todos Quraish da mesma tribo de Maomé, não descendem dele, sendo os mais próximos descendentes de seu avô).
Tendo-me já alongado, a continuação fica para depois.
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Continuando mas intercalando a minha feira de disparates.
a) Alarcos foi em 1195 (não) 1095;
b) Al-Mansur significa exactamente "o Vitorioso";
c) Os Idríssidas teriam ascendência (não descendência) profética.
Como disse a grande maioria muçulmana seria berbere; árabes apenas os Omíadas e os Abássidas, e muito limitadamente os Fatimidas, que fundaram o primeiro estado chiita no Norte de África e vindos depois de Ocidente, conquistaram o Egipto de onde poderão alguns ter passado à Península mas, também como disse, até agora pouco documentados.
Considero também que, sob o prisma da tolerância, os mais tolerantes seriam os Omíadas, pois os Abássidas dificilmente não acusariam o estigma da sua origem (o fundador, Abbas, "o Sanguinário" aproveitando o prestígio de ser tio do Profeta, convidou todos os seus primos para um jantar a meio do qual fê-los todos matar, excepto um que fugiria para a Península) Fatimidas tiveram alguns episódios de violência especialmente com o califa louco que não deixou de ter por algum tempo um vizir (1º ministro) cristão) e Almorávidas e Almóadas eram "puristas" religiosos. Sintomaticamente Almorávidas e Almóadas tiveram dificuldades em controlar muçulmanos já residentes que, habituados ao "status quo" com cristãos e judeus não aceitaram facilmente as novas regras que lhes queriam impor. Ambos, Almorávidas e Almóadas, se foram adaptando, sendo que os últimos, talvez por terem tido mais tempo, tornaram-se mais tolerantes do que os primeiros.
Também existiria - presunção minha - uma diminuição progressiva de tolerância entre os berberes, à medida em que os mediterrânicos foram sendo sucedidos por magrebinos e foram aumentando as percentagens subsaarianas. (abro um parêntesis, por cautela, explicando que não pretendo atribuir maior intolerância a negros mas apenas que os negros trazidos pelos berberes tinham sido inicialmente capturados, selecionados e treinados como soldados, o que nunca seria grande fonte de tolerância).
Dado que Almorávidas e Almóadas não passaram com permanência acima de Santarém, é lícito concluir que o Portugal inicial, entre a Galiza e o condado de Coimbra, incluído, teria uma população de muçulmanos, descendentes principalmente dos primeiros invasores sob chefia - e cultura - árabe.
Esta presunção reforça-se ainda com o conhecimento de que, ainda no tempo de Alfonso I "o Catolico" mal começaram as divisões entre os muçulmanos - demograficamente insuficientes para ocupar eficazmente o que conquistaram - a Galiza e suponho que a costa até ao Douro, foi atribuída a berberes, isto é berberes sob chefias berberes e já não árabes, mas estes, não se adaptaram ao clima húmido e acabaram por abandonar a região.
Assim, enquanto Castela se originou num território despovoado, constantemente sujeito a razias e fossados, o território galaico-português, pelo menos na costa até ao Douro, foi repovoado sem grandes guerras e, mesmo no Alto Douro que havia sido ermado, o repovoamento deu-se sem grandes combates e povoações tão distantes entre si como Figueira de Castelo Rodrigo e Ciudad Rodrigo, foram possivelmente repovoadas por iniciativa leonesa sob comando do mesmo conde D. Rodrigo (não é certo, sobretudo quanto à primeira).
Também enquanto castelhanos, não tinham qualquer população "autóctone" com quem se relacionar, os cavaleiros leoneses da Reconquista, encontraram certamente, núcleos de cristãos que viveram sob autoridade muçulmana, os moçárabes. Realço especialmente a importância destes, quer demonstrada pela quase guerra religiosa que teve de lhes ser imposta para substituirem a sua liturgia pela bracarense e pela implantação que tinham na zona de Coimbra para onde D. Afonso Henriques deslocou o centro político do seu governo quebrando com outras tradições senhoriais do norte, pois a grande maioria dessa antiga nobreza seguiu o partido de sua mãe.
Quanto aos árabes que ficaram depois sob dominação cristã em territórios reconquistados, dou como certo que a sua assimilação foi quase total em Portugal e quase negligenciável em Espanha como se comprova com o episódio da expulsão dos "morizcos" - com pormenores macabros e de que se calcula que tenham apenas sobrevivido 25% dos adultos pois as crianças foram retiradas às famílias para serem compulsivamente educadas na fé Católica - e pelo muito menor número de vocábulos de origem árabe na língua castelhana e na ausência de certos cargos, como almotacé, que provam que Portugal integrou parte da baixa administração muçulmana e Espanha não o fez.
Considero também prova indirecta destes opostos percursos, o conhecido facto de espanhóis - excepto catalães - terem dificuldade e recusarem aprender línguas estrangeiras, enquanto portugueses têm enorme facilidade na sua aprendizagem e, sempre que podem, tentam usar as línguas dos estrangeiros com quem convivem.
À laia de conclusão mas ainda não de finalização, diria que concordando com Gilberto Freyre quando a propósito do luso-tropicalismo - como referido pelo Frederico - diz que os portugueses não foram racistas porque eram meios mouros, eu atrevo-me a acrescentar que foram meios mouros por não serem racistas. [mais uma vez, à cautela, esclareço que isto tem de ser tomado com muito sal ou seja, relativizado, pois racismo, existiu sempre, existe hoje e continuará a existir por muito mais tempo do que as actuais civilizações]
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Falta-me abordar três pontos, todos complexos e nenhum redutível a quantificação, ou seja, todos inapreciáveis pelo racionalismo Kantiano que actualmente enforma a nossa cultura:
Primeiro, a diferença implantada por diferentes contactos, continentais e marítimos;
Segundo, a diferença entre assimiliação de muçulmanos e de judeus;
Terceiro, o possível motivo porque portugueses seriam "preguiçosos" em relação à violência.
Quanto ao primeiro, é meu convencimento pessoal - artigo de fé, se quiser - que quase toda a barbárie e violência proveio dos impérios continentais e quase todos os grande avanços civilizacionais tiveram origem em zonas ribeirinhas, de que exemplifico com o comércio fenício, a filosofia grega, o parlamentarismo inglês e, porque não, a expansão portuguesa.
Sem me atrever a explicações científicas apenas refiro que há estudos - sectoriais e limitados - que atribuem grande importância ao clima na formação da cultura das sociedades e que a proximidade do mar é factor de suavização.
Claro que não seria "suave" uma incursão, com saques e violações mas o efeito de miscigenação forçada e repetida por agentes variados desde nórdicos a piratas berberes poderá - e deverá, creio eu - ter contribuído para que o conceito de "pureza de sangue" nem sequer ocorresse à maioria dos portugueses. E, para que fosse imposta a "pureza de sangue", terá sido crucial a política de matrimónios em Castela que seguiram os reis e a alta nobreza mas sem equivalente noutros grupos sociais.
Creio que a significativa dimensão do comércio marítimo em toda a costa de Portugal não oferece dúvidas e lembro-me de ter visto um qualquer estudo filológico que encontrou vocábulos portugueses ligados a navegação e comércio sem equivalente em castelhano mas com equivalente em catalão.
Desde os tempos mais remotos, vários povos por aqui andaram e alguns até com regularidade; mais tarde, por aqui passou o tráfego de recovagem que ligava o Levante mediterrânico ao Báltico; e é facto - embora pouco conhecido - que muito antes do "Prince Henry, the Navigator" de portos como Buarcos, existia um comércio regular com as Ilhas Britânicas.
Também não tenho dúvidas de que um comerciante necessita de boa capacidade de relacionamento com diferentes.
Sentindo-me hoje com "veia poética" ainda acrescento duas experiência pessoais.
Pelos finais dos anos 60, encontrava-me em Angola a caçar com um primo nas chamadas "terras do fim do mundo", o distrito do Cuando-Cubango. Aconteceu que numa povoação "próxima" se tinham apresentado cerca de 3 centenas de refugiados e o Chefe de Posto estava com sérios problemas para assegurar-lhes alimentação. Sabendo da nossa presença pediu-nos para o ajudar numa caçada com a finalidade de obter carne (note-se que desde 1961 que não haveriam ali caçadores e o exército apenas dispunha de munições perfurantes perfeitamente inadequadas). A avioneta que nos transportou, aterrou ao fim da tarde e em menos de um fósforo, tudo estava decidido e tratado: onde comíamos, onde dormíamos (em casas diferentes pois nenhuma dispunha de dois quartos vagos) e senti que estava a ser recebido como um velho amigo da família, numa hospitalidade "de porta aberta" de que já quase só conheci resquícios nalguns locais do Portugal interior.
Muitos anos depois, visitei o Líbano e manifestei o desejo de conhecer a região dos Drusos. O meu anfitrião, dentro de um programa muito completo, levou-me a Raschaya, localidade hoje de maioria drusa mas onde persiste uma pequena comunidade de gregos católicos e viveria uma sua antiga aluna na Universidade. Chegámos sem aviso perto do meio dia, a antiga aluna não estava e a mãe, que nos viu a todos, dois casais, pela primeira vez, estava a preparar o almoço - mediterrânico, tarefa muito demorada - mas fez-nos entrar, serviu café, ofereceu doces e cigarros e entre várias idas à cozinha, foi chamar parentes e vizinhos que, por idade e cultura, pudessem connosco conversar. Nem se pôs a hipótese de não almoçarmos lá, numa refeição improvisadamente alargada. A minha mulher disse depois que se sentiu morrer de embaraço pelo transtorno que estávamos a causar mas eu apenas me lembrei do episódio do Cuando-Cubango. Comentando depois com o meu anfitrião, ele disse-me que era natural e seria uma herança cultural fenícia.
É certo que os libaneses, pelo menos os cristãos, têm alguns problemas de identidade e a "herança fenícia" será mais um "wishful thinking" do que um dado histórico mas agrada-me sobremaneira imaginar que, ainda que mínima, carrego alguma herança genética fenícia.
Ainda a propósito, li há alguns anos um livro de um indiano de nome arrevesado sobre o império português no Oriente sob uma perspectiva económica. De uma maneira geral, era fortemente crítico da nobreza e tinha quase desprezo pela administração - basicamente, pareceu-me, por comparação com a administração colonial britânica que nunca foi corrupta - mas demonstrou uma admiração sem limites pelo português isolado (espantosamente para mim com dados e nomes de que nunca ouvira falar) por vezes esquecido do governo, outras em conflito com ele mas que em condições à partida adversas, comerciou, sobreviveu, por vezes prosperou e até deixou descendência. Sem esta clareza, definiu-os como desenrascados, comerciantes natos e vagamente anárquicos.
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Prezado Confrade:
Tem a lista dos judeus de Bordéus de 1806 ? Interessa-me saber se lá está alguem Lourine ou Lurine ou similsr.
Obrigado.
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Prezado Conde,
Nem sei dizer se, de facto, existiu uma lista oficial de judeus em Bordeaux.
Segundo textos e artigos colhidos na internet, houve a formação, em 1806, de um Conselho Imperial ("Sanhedrin") composto exclusivamente por judeus. Assim, possivelmente, tenham sido inscritas as famílias judaícas.
Vide:
http://www.beitfortaleza.com.br/artigos/ver_artigos.php?id=26
e
http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=672&p=2
Perdõe-me por não poder ajudar além disso.
Sinceros e respeitosos cumprimentos,
Granada
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"Sanhedrin" - Conselho Imperial Judaico (Napoleão Bonaparte)
Na Wikipédia:
http://en.wikipedia.org/wiki/Napoleon_Bonaparte%27s_%22Grand_Sanhedrin%22
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Edson Nery da Fonseca: entrevista com estudioso da obra de Gilberto Freyre
Prezado confrade A. Luciano,
Como citou Gilberto Freyre, pensei que essa entrevista, que recebi há pouco pelo e-mail, lhe seria interessante a leitura.
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Subject: Edson Nery da Fonseca: entrevista com estudioso da obra de Gilberto Freyre
Date: Mon, 2 Aug 2010 13:48:11 -0300
Edson Nery da Fonseca / Entrevista com estudioso da obra de Gilberto Freyre (Prosa & Verso, 31/07/2010)
*'Freyre queria entender de tudo na vida'*
Estudioso da obra do autor homenageado em Paraty, Edson Nery da Fonseca diz
que sociólogo era um grande sedutor e desejava ser lido por todos
*ENTREVISTA Edson Nery da Fonseca*
O pernambucano Edson Nery da Fonseca é um dos maiores estudiosos da obra de
Gilberto Freyre, autor homenageado desta oitava edição da Festa Literária
Internacional de Paraty, que começa na quarta-feira, dia 2. Nery é também um
pesquisador privilegiado, pois conviveu por quase 50 anos com o autor de
"Casa-grande & senzala", obra sobre a qual chegou a fazer inclusive um
"dicionário", "Gilberto Freyre de A a Z". Também organizou alguns livros do
mestre, a pedido dele, como "Palavras repatriadas". Há ainda aqueles que o
próprio Nery inventou, como "Prefácios desgarrados", pois considera Freyre o
maior prefaciador brasileiro e um dos maiores do mundo. Nessa entrevista, em
Recife, Nery - que se recupera de um problema de saúde, mas já foi liberado
pelos médicos para comparecer à Flip - conta como o sociólogo elegeu-se
deputado no século passado com votos comprados, tenta explicar porque seu
amigo foi vítima da patrulha ideológica pós-1964, quando teve uma relação
polêmica com o governo militar, e mostra porque as obras de Freyre são
inconclusas: "Para ele, a História continua, está evoluindo", diz. Além
disso, destaca a visão generalista do sociólogo sobre a sociedade: "Era um
homem que pretendia de entender tudo na vida."
*Letícia Lins Correspondente . RECIFE*
*O GLOBO: Sociólogo, antropólogo, escritor mais generalista do que
especialista, autor de "Alhos e bugalhos", "Sobrados e mocambos",
"Casa-grande & senzala". Quem foi o intelectual Gilberto Freyre?
*
*EDSON NERY DA FONSECA:* Ele próprio escreveu em um livro pouco conhecido,
chamado "Como e porque sou e não sou sociólogo", no capítulo "Como e porque
sou escritor": "em mim, o antropólogo, o sociólogo, o possível pensador são
ancilares (escravos) do escritor". E se queixava muito de que não era
convidado para congressos de escritores. Também se queixava que as histórias
da literatura brasileira não o incluíam, porque ele era um pensador social,
sociólogo, cientista social.
*Ele foi mais antropólogo, mais sociólogo, ou mais escritor?
*
*EDSON NERY:* Ele próprio se considerava um escritor. Mas tinha formação
acadêmica, no sentido universitário, em ciências sociais.
*Por que, com tanta formação acadêmica, ele dizia "abaixo o sociologês, o
antropologês, o filosofês" e se classificava como um generalista, não
especialista?
*
*NERY:* Ele detestava essa terminologia especializada. Queria ser lido pelo
público em geral, e não apenas por especialistas. Os cientistas apegados a
terminologias científicas diziam que ele não era um cientista social, mas um
escritor. Como se uma coisa se opusesse à outra, mas não há oposição nenhuma
entre a ciência e a literatura. Quem se posicionou assim tinha mentalidade
estreita. O grupo de São Paulo, liderado por Florestan Fernandes, por
exemplo, se opôs durante muito tempo a Freyre, dizendo que ele tinha
generalizações que não eram científicas. Que era prejudicado pelo fato de
escrever bem.
*Poderíamos dizer que ele foi um dos mais versáteis intelectuais do país?
*
*NERY:* A minha definição de Freyre é que ele era um grande sedutor. Por
quê? Inicialmente nos seduzia pelas suas ideias originais a respeito da
formação brasileira. Por exemplo, dizer que ao contrário do que ocorre na
América Hispânica, onde os países foram feitos pela Espanha e pela Igreja, o
Brasil foi feito pela família patriarcal. Isso é uma ideia completamente
original de Freyre. E é verdadeira. Portugal e a Igreja aqui ficaram
submetidas à pátria família dos escravocratas. E sedutor porque recebia
todos com muito acolhimento. Era um fidalgo ao natural. Freyre não fez
estudo antropológico do Brasil só através dos índios. Ele procurou entender
o país de uma maneira global.
*Durante a vigência da ditadura militar, Freyre passou a ser hostilizado por
intelectuais de esquerda que o consideravam um colaboracionista do regime.
Como avalia essas contradições?
*
*NERY:* Antonio Candido o admirava, mas depois retirou a admiração. Como o
próprio Sérgio Buarque de Holanda, que foi um dos maiores amigos e ajudou
Freyre a escrever "Casa-grande & senzala", porque sabia alemão, língua que o
pernambucano não conhecia bem. Muitos daqueles que antes eram amigos, depois
de 1964 viraram as costas.
*Qual é sua interpretação desse episódio?
*
*NERY:* Freyre foi chefe de gabinete de Estácio Coimbra, que foi deposto
pela Revolução de 1930, e os dois partiram juntos para o exílio em Lisboa.
Estácio tinha grande admiração por Freyre e dizia que, um dia, Freyre seria
governador de Pernambuco. Quando acabou a ditadura Vargas, na eleição de 45,
a UDN, para agradecer aos estudantes a participação na derrubada da
ditadura, ofereceu uma vaga na chapa para a Constituinte de 46. Estudantes
elegeram Odilon Ribeiro Coutinho, que nobremente convenceu os colegas de que
o representante deles deveria ser Gilberto Freyre, que estava ao lado do
estudante Demócrito de Souza Filho quando a polícia civil matou o estudante
na sacada do "Diário de Pernambuco".
*Qual foi a reação da sociedade da época?
*
*NERY:* Os usineiros da UDN ficaram indignados, e acusaram os estudantes de
terem colocado um marxista, um esquerdista na chapa deles. Era assim que os
usineiros os tratavam. Quando escrevia "Nordeste", Freyre fez uma pesquisa
sobre a situação dos trabalhadores nas usinas, e as denunciou como
sub-humanas. Então propôs ao Sindicato dos Usineiros que se fizesse um
inquérito para fornecer a eles subsídios para melhorar a habitação e a
alimentação dos cortadores de cana. Essas sugestões deixaram os usineiros
indignados. Eles o denunciaram à polícia, onde foi fichado como agitador.
*Mas a partir de 1964, depois de participar da elaboração do programa de
governo da Arena (partido que dava sustentação ao governo militar) ele foi
acusado de estar a favor da ditadura.
NERY:* Freyre foi eleito para a constituinte de 1946. Ele estava bem na
cidade de Recife mas tinha poucos votos no interior. Odilon Ribeiro Coutinho
foi ao interior e comprou votos para ele. E Freyre se elegeu. Gostou de ser
deputado, onde se transformou em um homem de comissões. Quando acabou o
mandato, ele se candidatou de novo. Mas a usina de Odilon estava mal e ele
não pôde comprar votos para Freyre, que não se reelegeu. Quando os militares
deram o golpe e acabaram com as eleições diretas, eles iam a todas as
reuniões da Fundação Joaquim Nabuco, inclusive sobre reforma agrária. Quando
disseram que não haveria eleição direta, ele pensou que certamente o
Marechal Castelo Branco, que era seu amigo, ia indicá-lo à Assembleia
Legislativa para o governo do estado. Acontece que o deputado Nilo Coelho
oferecia almoços com lagosta todos os domingos e, em um deles, pediu que
fosse indicado.
*Por que Freyre, que sempre foi amado ou odiado, agora está virando
unanimidade?
*
*NERY:* Ainda há pessoas que não o aceitam. Em Pernambuco há uma professora
que publicou um livro acusando Freyre de racista, porque ele criticava os
judeus. Ele não era contra coisa nenhuma, era um homem que pretendia
entender de tudo na vida. Ele não era anticatólico. Era a-católico. Ele não
era antimarxista, mas pós-marxista. Não era contra nada, porque queria
entender tudo na vida. "Casa-grande & senzala", por exemplo, está cheio de
elogios a judeus, mas também tem restrições. Por causa delas, ele é
considerado antissemita. Quem diz isso estuda isolando frases, para atacar
uma pessoa e toda uma obra.
*Durante décadas ele viveu entre a canonização e a excomunhão, segundo seus
estudiosos.
A que atribui isso?
*
*NERY:* Ao fato de ter procurado ser objetivo, nem de extrema direita nem de
extrema esquerda, de ter optado pelo equilíbrio. De ter tido a compreensão
global, gestaltiana das coisas.
*Além do senhor, que conviveu com ele por longo tempo, e de Odilon Ribeiro
Coutinho, outro companheiro de juventude de Freyre foi José Lins do Rego.
Pela correspondência entre os dois, parece até que viveram um caso amoroso.
O que eles viveram foi amor ou amizade?
*
*NERY:* José Lins conta no prefácio que escreveu para um livro de Freyre o
encontro deles. Ninguém os apresentou. Ele lia os artigos de Freyre, ficou
impressionado e ficaram amigos. Acho que era uma amizade amorosa que havia
entre os dois.
*Tem muita gente estudando Gilberto Freyre, mas provavelmente ainda há muito
o que ser desvendado dos seus escritos e estudos, não?
*
*NERY:* Ele é um mundo. Deixou muitos papéis que ainda estão para ser
organizados. Ele só não conseguiu escrever o quarto tomo da obra "Introdução
à História da sociedade patriarcal no Brasil", que seria "Jazigos e covas
rasas", dando continuidade a "Casa-grande & senzala", "Sobrados e mocambos"
e "Ordem e progresso". Eu o ajudei, porque morava no Rio de Janeiro quando
ele foi deputado federal. Como a sessão era à tarde, ele passava a manhã na
divisão de obras raras da Biblioteca Nacional, fazendo pesquisas para esse
livro.
*Por que ele não terminou?
*
*NERY:* Ele não conseguiu, sequer, iniciar. Ele reuniu uma grande
documentação. Aí ele não se reelegeu e trouxe a documentação para o Recife.
Enrolou tudo em uma toalha vermelha, que desapareceu.
*Ele ficou triste por não concluir o trabalho?
*
*NERY:* Não. Porque não concluía nada. A ideia dele era a seguinte: a
História não se conclui. Ela continua, está evoluindo. Ele detestava aquilo
que chamam de chave de ouro, a conclusão. "Casa-grande & senzala", "Sobrados
e mocambos" e "Ordem e progresso" são obras inconclusas. A "Introdução à
história patriarcal do Brasil" ficou sem o último volume, que seria a
conclusão, mas ele não gostava de concluir. Chegava a dizer que deveria
ficar para os mais sábios a tarefa certamente mais nobre de concluir.
*Ele também escrevia poemas e pintava. Como o senhor vê esse lado menos
conhecido de Freyre?
*
*NERY:* Vou declamar na Flip o poema "Bahia de todos os santos e de quase
todos os pecados", que ele escreveu em 1926, quando conheceu a Bahia,
portanto muito antes da exaltação dos valores baianos feita por Ary Barroso
e depois por Dorival Caymmi. É um poema em que se manifestam as duas
principais características do estilo literário de Freyre: o magismo e a
enumeração caótica.
*A pintura de Freyre parecia ingênua, mas ele levava a arte muito a sério,
dizia que ela tinha a ver com sua produção literária. O senhor concorda?
*
*NERY:* Sim. Tinha a ver até com a sociologia dele, porque pintava casas
grandes, senhoras de engenho, o capelão da casa-grande, os assuntos eram
sempre esses. A pintura foi a continuação de sua obra sociológica.
*O Brasil seria o mesmo sem "Casa-grande & senzala" ou a obra reforçou a
identidade nacional?
NERY:* O livro foi publicado pela primeira vez em 1933 e em 1934 saíram
muitos artigos a seu respeito. Colecionei muitos, quase todos elogiosos,
escritos por todos os grandes críticos da época. Lembraria João Ribeiro, que
elogiou o livro e fez uma só crítica: não conclui. Freyre respondeu: meu
empenho não é concluir, mas interpretar.
*FH destacará atualidade da obra de seu antigo adversário intelectual*
*
Ex-presidente elogia pioneirismo e pesquisas de Freyre
Gilberto Scofield Jr.*
*
SÃO PAULO*
No próximo dia 4 de agosto, quando o expresidente Fernando Henrique Cardoso
fizer a conferência de abertura da Flip sobre Gilberto Freyre - com a
palestra "'Casa-grande & senzala': um livro perene", num evento que pretende
homenagear o sociólogo, antropólogo e escritor pernambucano - os debates não
estarão restritos à ótica do conceito de democracia racial, seus flertes com
o conservadorismo, sua extraordinária tese sobre a formação da sociedade
brasileira através da contribuição de brancos, negros e índios ou mesmo seu
apoio ao golpe militar de 64.
Mais que isso, as discussões provavelmente mostrarão a impressionante
atualidade de Freyre e sua inesgotável capacidade de gerar questionamentos,
especialmente num momento em que ainda se discute no Brasil a propriedade
das ações afirmativas e cotas específicas para negros em empresas e
universidades. Nestes casos, diz o ex-presidente, Gilberto Freyre é tanto
atual quanto conflituoso, especialmente com o movimento negro no Brasil
hoje.
- Nos anos 30, Freyre foi muito inovador. Rompeu com um tipo de análise
social racista na época. Rompeu com a visão evolucionista de (Francisco José
de) Oliveira Viana, o ideal do Estado forte. Curiosamente, hoje o movimento
negro deve achá-lo racista porque ele era a favor do sincretismo, enquanto
hoje eles não são. Todo o movimento negro atual vai na direção da identidade
e classificação racial, na base do "tudo o que não é branco é negro". Mas a
teoria de Freyre defende que o Brasil é diferente justamente porque não tem
isso. Ele não aceita raça como critério, diz que aqui há um leque de cores e
é melhor que seja assim. Simpático com os negros e indígenas, sobretudo com
a ideia de miscigenação, e crítico da enorme mortalidade infantil nesses
grupos, acho que ele seria simpático a ações afirmativas, mas seria
contrário às cotas - diz ele.
Fernando Henrique Cardoso - que também receberá na Flip, das mãos dos
editores da Paz e Terra, o seu novo livro "Xadrez internacional e
socialdemocracia" - vai tentar explicar também os fundamentos da já clássica
ruptura, nas décadas de 50 e 60, entre o pensador pernambucano e certo grupo
acadêmico das áreas de sociologia e antropologia da USP (onde o próprio FH
estudava e pesquisava).
Mais tarde, o meio acadêmico acabou "reabilitando" Freyre, convencido da
importância de seu pioneirismo em muitos campos, incluindo a defesa do papel
da miscigenação das raças na formação de um Estado menos conflituoso em
comparação, por exemplo, aos EUA da época.
Segundo FH, as críticas iniciais dos professores da USP a frentes: uma
relativa ao seu pensamento acadêmico e outra por conta de suas posições
políticas conservadoras. Nos anos 50 e 60, diz ele, a época de
transformações fazia crescer a importância das teses desenvolvimentistas,
especialmente em São Paulo. Aos olhos do grupo da USP, a ideia de
romantização da escravidão e a tese da democracia racial, que subestimava os
conflitos raciais no país, eram subjetivas demais para serem levadas a
sério. Freyre era considerado, com desprezo, um ensaísta pouco objetivo.
*Retirada de patrocínio por sua causa seria ridículo, diz*
Do lado pessoal, condenavam as demonstrações de simpatia do antropólogo
pelos ideais salazaristas, pelo golpe militar de 1964 e até pelo
luso-tropicalismo, que de alguma maneira foi lido na época como uma
justificativa da presença colonial portuguesa na África. Não faltaram
sobrancelhas eriçadas em relação ao que consideravam um "saudosismo do
patriarcado", especialmente nas críticas ao seu livro "Ordem e progresso".
- Além disso, as pesquisas e estudos de nosso grupo na USP sobre relações
interraciais nos mostravam outro panorama.
Nós não encontrávamos outra coisa senão preconceito e discriminação.
Minha pesquisa na Região Sul e outras não batiam com a imagem que ficou de
"Casa-grande & senzala", de idealização. É verdade que Gilberto Freyre não
fala diretamente em democracia racial, mas a ideologia era bastante
endossada oficialmente no Brasil na época, especialmente pelos militares -
afirma FH.
Ele conta que, uma vez, em palestra a empresários e diplomatas estrangeiros
sobre seus estudos de negros realizada no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa
Catarina, encomendada pela Unesco, ouviu de um diplomata do Itamaraty, onde
ocorria o encontro, que quase o colocara para fora: - Apresentei meus dados
dizendo: "tem preconceito no Brasil". No final, o diplomata me chamou e
disse: "eu quase botei você para fora da sala porque você está falando mal
do Brasil para estrangeiros". E o fato é que o governo todo defendia as
teses de Gilberto Freyre de que o Brasil era uma democracia racial, sem
conflitos. A própria Unesco, quando veio a São Paulo pedir que nós
fizéssemos o estudo no Sul vinha com a ideia.
Eles queriam mostrar ao mundo que o Brasil era um exemplo de democracia
racial - conta.
Explicadas as desavenças, Fernando Henrique tratará de mostrar que, no
frigir dos ovos, as idiossincrasias de Gilberto Freyre nunca comprometeram
sua genialidade, originalidade e sua contribuição para o entendimento do
tecido social brasileiro ontem e hoje. A começar por seu gigantesco domínio
da bibliografia e de sua base empírica ampla, o que derruba a tese do
"ensaísta subjetivo". E de como ele influenciou gerações de pensadores
brasileiros, incluindo o próprio ex-presidente, que não tinha com o
pernambucano uma relação de proximidade - encontrou-se com o pernambucano
apenas em três ocasiões -, mas foi a única exceção na lista negra de
Gilberto Freyre sobre os "marxistas ideológicos da USP".
- Você pode discordar das interpretações de Freyre, mas não da falta de
conhecimento dele dos assuntos. Não era um achismo, como se dizia. Seu
entendimento de Brasil permaneceu porque, de alguma maneira, se aquilo não
era assim, ele e muita gente gostaria que assim fosse. Então há nele um lado
mítico, não no sentido negativo de dizer que é uma fantasia, mas no sentido
de dizer: "olha, as coisas poderiam ser assim" - afirma.
Sobre os boatos de que a Petrobras teria cancelado o patrocínio da Flip por
conta de sua participação, é taxativo: - Não sei se é verdade, mas se fosse,
seria ridículo. Inacreditável essa noção de que tudo é para aproveitamento
político, o que reduz os espaços para o debate intelectual. Eu nunca misturo
canais. E desde quando Gilberto Freyre é um ícone da esquerda?
*ENCONTRO COM O AUTOR:* Quarta, dia 4, às 19h, fará a palestra "'Casa-grande
& senzala': um livro perene". Debatedor: Luiz Felipe de Alencastro. Quinta,
dia 5, às 13h30m, ele conversará com o escritor Salman Rushdie sobre obras
clássicas em encontro promovido pela Companhia das Letras.
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*"A História é o passado ressignificado"*
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RE: "Sanhedrin" - Conselho Imperial Judaico (Napoleão Bonaparte)
Caro Conde
O Sanhedrin, era presido por um Nazi, Título Hebraico que significa Príncipe.
Muito curioso! Não?!
Eu sempre disse que o Império Romano continuava radioso e fresco!
Só vai mudando de nome, consoante as circunstâncias, ao longo dos Séculos.
Qual será actualmente o seu nome?
Não! Não diga!
Não se pode, dizer. É segredo!
Um Segredo de Polichinelo!!!
Melhores Cumprimentos
Airmid
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RE: "Sanhedrin" - Conselho Imperial Judaico (Napoleão Bonaparte)
Confrada Airmid,
Não vai satisfazer essa angustiante curiosidade?
Será União Européia? É este o Polichinelo?
Ou será o moribundo Império Ianque pós-Bush?
Ou outro, ainda?
Ora, vamos...
Lembra da profecia de Daniel, da estátua com os pés de barro e ferro? Á estátua babilônica dos impérios ainda é a mesma, e esse Império (ou versão dele) é o último...
Grande abraço,
Granada
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Na Reconquista ficaram sob domínio cristão, muçulmanos e judeus que viviam em comunidades separadas. Tal é evidenciado com as medidas de expulsão executadas no dobrar do séculos XV para o XVI, sobre judeus e "morizcos" em Espanha; mas em Portugal, pouco depois apenas se dá a conversão forçada de judeus - e exílio forçado dos que a recusaram - mas não se fala de mouriscos. Ora estes existiram em Portugal, possivelmente em maior número do que em Espanha a ajuizar pelo legado que deixaram e que em muito ultrapassa o legado espanhol, quase exclusivamente limitado à arquitectura. E, se nos deixaram coisas tão simples mas tão fundamentais como técnicas hortícolas, culinária, doçaria e medidas - arrátel, almude, alqueire - é-me difícil imaginar que não tivessem também deixado traços de carácter.
De qualquer forma, a assimilação de muçulmanos em Portugal e não em Espanha, até à citada transição de séculos, marca a diferença entre portugueses e espanhóis mas marca igualmente a diferença entre muçulmanos (assimilados) e judeus (que praticamente não o foram ou não o foram em percentagens significativas).
Poderão existir diversos motivos para essa diferença mas um chegava: desprezando exactidão, mais século menos século, se nos situarmos em 1200, a religião islâmica teria 400 anos, a cristã 3 vezes isso e a judaica 12 vezes isso.
Ou fossem de facto inatos e originais ou fossem adquiridos por séculos de perseguições e conflitos, considero muito provável que os judeus tivessem alguma componente xenófoba e pessoalmente filio aí a solidariedade que sempre demonstraram aos seus quando estes se encontravam em circunstâncias difíceis e que - com muita simplificação - permitiu a observação de que os judeus podiam não ser ricos mas nunca eram os mais pobres. Foi exemplo o extraordinário apoio que os mais ricos prestaram aos refugiados nos Países-Baixos e que chegou ao financiamento das passagens de muitos para as Américas. Pode ser uma maneira muito negativa de apreciar a questão mas se judeus se consideravam um povo "eleito" possivelmente não suportavam que irmãos seus vivessem em condições inferiores às dos "goys".
Por isso considerei provável que a haver preconceito em Portugal entre casamentos entre cristãos e judeus, este estaria mais provavelmente do lado dos últimos. Isto, claro, até ao referido marco temporal de ca. 1500 pois a seguir, temos já os efeitos que levariam ao pogrom de 1506, e ao exílio dos que não se converteram, o que mudaria o panorama.
De facto, as primeiras medidas de D. Manuel levaram ao exílio dos mais convictamente religiosos - que incluiriam os mais ricos mas não se esgotavam nestes - e foram ficando os menos convictos, isto é, os que se converteram incluindo também os que optaram pela dissimulação, os cripto-judeus. Estes últimos, por receio da Inquisição, foram depois optando igualmente pelo exílio. Concluo assim que os cristãos-novos que ficaram foram já o resultado de filtragens que seleccionaram os mais facilmente assimiláveis, o que permite ultrapassar a aparente contradição de considerar os judeus "ab initio" pouco integráveis e aceitar posteriormente um relativo sucesso da sua assimilação.
Quanto aos muçulmanos e antes do mais, provinham de uma cultura mais tolerante que a dos cristãos. É ponto que possivelmente desencadeará forte desacordo mas, de facto, estou convencido de que na Reconquista - "grosso modo" e com todas as excepções que uma tal simplificação comporta - a violência e intolerância estava do lado cristão e a cultura e maior tolerância do lado muçulmano. O desenvolvimento que sob eles atingiram os moçárabes - bem ilustrada naquele Sisnando, bispo de Coimbra quando bispo seria a personagem mais importante a seguir ao conde e, não raro, mais importante do que este - e também na riqueza da Sé de Lisboa, saqueada com o assassínio do bispo, um ancião, na tomada da cidade, em minha opinião prova o ponto. Mas relembro que na fase de expansão do império islâmico - a maior expansão e mais rápida da história - quando o Egipto foi submetido a um governador e era cristã a grande maioria da população, o regime imposto não tocou nas crenças e práticas e se os impostos eram superiores, o acréscimo incluía a isenção de servir na guerra - qualquer comparação com Carlos Magno, da mesma época, deixa este muito mal colocado - o que levou o bispo copta, em agradecimento, a oferecer a Maomé como escravas duas irmãs de boas famílias, uma das quais, ao que parece de rara beleza, seria a mãe do seu último filho Ibrahim.
Além de descenderem - os muçulmanos de "Portugal" - de islamizados relativamente recentes, os berberes da costa conviveram com comunidades de diferentes religiões e, nas alterações políticas que toda a costa do Norte de África sofreu, por diversas vezes se aplicou o princípio depois chamado "eius regio cuius religio" pelo que não seria propriamente novidade para muitos, adoptarem a religião do seu actual rei.
Também não teriam problemas com propriedade - normalmente causa de radicalismos - pois os urbanos seriam essencialmente pequenos artífices, comerciantes e funcionários - nada de contratadores ou financeiros - e o muito maior número, agricultores, especialmente horticultores. As elites almóadas e os militares, obviamente ou morreram ou partiram.
Cabe talvez lembrar que para os islamizados, toda a terra era de Alá e os homens apenas podiam usufrui-la, pelo que o seu natural administrador em nome de Alá era o Califa, depois o Sultão e só Napoleão, esse destruidor de culturas, depois da invasão do Egipto, veio a atribuir a propriedade da terra ao clan de Mohamed Ali, um albanês. Assim cultivar hortícolas e também transportá-las e vendê-las na cidade, pagando impostos ao Emir ou fazê-lo pagando ao Rei não seria grande diferença. Esta situação perdurou séculos e acredito que estudos genéticos sistemáticos na chamada região saloia ao redor de Lisboa, irão provar o ponto. Aliás o mesmo terá acontecido em Espanha, até à expulsão que, como não podia deixar de ser, causou em poucos anos difíceis problemas de abastecimento, pois os cristãos não podiam nem sabiam substituir-se aos muçulmanos como agricultores.
Brevemente conto arriscar uma especulação sobre o motivo dos portugueses não actuarem violentamente senão após longa provocação ou sob influência alogénea.
A. Luciano
Enlace directo:
RE:
Caro Conde
Para quê?
Num Fórum onde escrevem dezenas de Genealogistas, sobre antepassados ,cujo papel na Sociedade da Época desconhecem, e apenas TRÊS pessoas se interessam pela VERDADEIRA HISTÓRIA DE PORTUGAL, melhor será o Silêncio.
Lamento, caro Conde, mas já não acredito que valha a pena.
Um abraço de despedida
Airmid
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RE:
Caríssima Airmid,
Mas, por que?
Espero estar entre essas três pessoas, pois, você bem sabe, me interesso integral e totalmente pela VERDADEIRA HISTÓRIA DE PORTUGAL.
Despedida apenas deste tópico, não é? Não me vá dizer que é do fórum... Não se deixe afrontar! Vale a pena sim! Lembre-se do nosso grande Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena."
Um abraço de reencontro,
Granada
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RE: PORTUGAL ESTÁ MORTO E ENTERRADO NUMA LIXEIRA DE RATOS E BARATAS
Caro Conde
Um país que não levanta um dedo para recuperar o Património Histórico que lhe foi roubado, e ainda chama Invenção da Glória ao Reinado de Dom Afonso V, está morto e enterrado.
Enterrado na Lixeira em que foi transformada a Cidade de Lisboa, onde a falta de limpeza, que grassa por toda a parte, levou a que uma Praga de Baratas a invadisse impunemente.
A próxima praga será de RATOS.
Para quem desconhece as doenças transmitidas pelos Ratos, aconselho uma Pesquisa rápida na Net.
Volto, no dia em que uma BRIGADA DE DESINFESTAÇÂO, acabar com estes PARASITAS de vez!
Um abraço
Airmid
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RE:
--------------------------------------------------------------------------------
Estou procurando informações de onde nasceu meu avô José Silveira Jorge, nascido em Portugal em 24 de fevereiro de 1900; filho de Baptista Jorge da Silveira e neto de José Cardoso Serpa Junior e Maria Luiza. Migrou para o Brasil por volta de 1911 e se estabeleceu no Rio de Janeiro como comerciante, vindo a falecer na década de 1970. Obrigado
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RE: A VERDADEIRA HISTÓRIA DE PORTUGAL
Cara Armid
Afinal já somos mais de três. Hoje verifiquei que o espaço no Facebook já tem aderentes. Alguns estão neste forum
Aqui fica o link do perfil e da página associada, como um convite a mais adesões.
Perfil: http://www.facebook.com/photo.php?pid=30799388&id=1651961734#!/profile.php?id=100001452071072
Página: http://www.facebook.com/photo.php?pid=30799388&id=1651961734#!/pages/A-Verdadeira-Historia-de-Portugal/131554493554357?v=wall
Em conteúdos estamos por enquanto a zero, mas acredito que com a divulgação do espaço, muitos serão aqueles que aproveitaram este espaço para contribuir com os seu conhecimentos para a Verdadeira Historia de Portugal.
Ainda há muito que fazer no espaço. Para já a imagem da Tapeçaria de D Afonso V é a imagem do perfil
Os meus Cumprimentos
Carlos Ribeiro da Silva
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RE: A VERDADEIRA HISTÓRIA DE PORTUGAL
vVrifiquei que por lapso o link reencaminha para um dos aderentes do espaço A verdadeira História de Portugal. Por tal facto as minhas desculpas.
Aqui fica o link certo.
http://www.facebook.com/photo.php?pid=30799388&id=1651961734#!/pages/A-Verdadeira-Historia-de-Portugal/131554493554357?ref=ts
Os meus Cumprimentos
Carlos Ribeiro da Silva
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Frederico Muñoz,
Houve muita controvérsia, sempre reflexo de posições ideológicas, sobre se em Portugal houve ou não feudalismo. Entendo que alguns aspectos do feudalismo existiram em Portugal, poderá mesmo ter existido relação vassálica fora da coroa mas feudalismo, como por quase toda a Europa, é evidente que não houve; e onde poderia ter havido, nas cinco grandes famílias iniciais, logo se perderia quando seguiram D. Teresa e os conde de Trava.
Se imaginarmos um camponês - com contrato feudal mais como em França ou apenas sem acesso à propriedade mais como na Alemanha - mas dependente de um Senhor, logo vemos que a única alternativa quando a opressão se tornava intolerável era a revolta. De facto é impensável admitir que um outro Senhor, vizinho, se imiscuíria e o Rei ou o "overlord" só em face de motivos flagrantes - que seriam na prática a revolta já em curso - se atreveria a violar ou revogar os direitos senhoriais.
Ao invés em Portugal, onde na prática Coutos e Honras com jurisdição total eram uma minoria, onde existiam em grande número concelhos com foral régio e sempre que o poder real era forte, se reprimiam abusos da nobreza antes ainda de revoltas populares - Inquirições - o recurso natural dos que se sentiam injustiçados era o apelo ao Rei.
Por toda a Europa, num período que por comodidade se pode balizar entre 1358 e 1526, houve um enorme número de revoltas populares, iniciadas pelo campesinato mas as mais significativas apoiadas depois por estratos urbanos normalmente os de menor capacidade económica - artífices, operários - mas também os que estavam ligados aos circuitos económicos agrícolas o que incluía comerciantes e alguma outra burguesia.
Ficaram genericamente conhecidos por "jacqueries" - do 1º em 1358 que terá sido reprimido com 20.000 mortos - e terão culminado nas muito mais importantes "bauerkriegs", literalmente "guerras de camponeses" que envolveram 300 mil revoltosos e custaram a vida a uns 100 mil.
Historiadores, sociólogos, economistas, etc., mas todos políticos, degladiam-se há séculos sobre as causas que as provocaram - quanto à última são de compêndio as análises de Marx e Engels (compêndio já completamente arrumado na prateleira das velharias inúteis, entenda-se) e a mais recente (anos 50/60) de Frank - e, de facto, além de factores de coincidência que agravaram circunstâncias, como guerras externas, pestes ou períodos de más colheitas, a única coisa em que todos parecem estar de acordo é que se tratou de crises do feudalismo, sem se poder ir mais longe, pois uns dizem crises estruturais, outros crises cíclicas, etc..
A de 1358 - Jacques Bonhomme - ocorreu quando e rei de França se encontrava prisioneiro dos ingleses e alguns nobres, querendo compensar o efeito da diminuição demográfica - guerra e peste negra - nos seus rendimentos e ainda reconstruir o que fôra destruído, aumentaram os impostos e as exigências de trabalho obrigatório. A última, que se iniciou com um motivo aparentemente restrito e local, uma exigência despropositada de uma condessa, alastrou como rastilho a todo o Sul da Alemanha, parte da Áustria e, depois de já aí debelada, estendeu-se à Suiça; como consequência formou-se a Liga Suábica, que incluía soberanos, titulares de senhorios, incluindo bispos e abades mas também cidades livres, na prática governadas por conselhos de burgueses, ou seja, no fundo todos os proprietários da terra. Realço também que nesta última - 1524-1526 - foi reivindicado pelos populares um "caderno" com 12 pontos, claramente de carácter genérico - o mais específico seria talvez a abolição do "imposto por morte" - o que contrasta com as detalhadas e localizadas reivindicações dos procuradores do Povo nas nossas Côrtes às vezes em alongado número.
Também Portugal teve algumas manifestações de violência popular, por exemplo, no difícil período da regência do Infante D. Pedro de Coimbra e logo a seguir a Alcácer Quibir mas, como evidente, pouco paralelismo terão com as referidas. A antinomia que proponho entre feudalismo/revolta por oposição a poder régio/petição não é susceptível de demonstração lógica mas parece-me um factor importante para uma explicação razoável da "diferença portuguesa".
A exploração desta tese - que não penso tentar - levaria a interpretações da História de Portugal diferentes das mais habitualmente apresentadas. Não seria novidade, antes pelo contrário, a exaltação do binário Rei/Povo mas considerar esse binário como fundamente de paz social e elemento indispensável e estruturante da sociedade portuguesa, teria por natural corolário a "classificação" de reis e regimes de acordo também com esse dado, o que, por exemplo, deixaria bastante maltratados quase todos os Bragança e, particularmente os que entregaram a governação a validos; deixaria igualmente mal todos os "ismos" de importação, logo a começar no iluminismo e também a República, que restringiu fortemente a base eleitoral em vigor na monarquia liberal. E se os excessos - por exemplo na primeira "jacquerie - seriam uma degradação de um legítimo direito à revolta, a degradação do "direito de petição", na impossibilidade deste, irromperia em saudosismos e messianismos, logo avultando como melhor exemplo o Sebastianismo, mas também o aparentemente estranho fenómeno de Salazar ter hoje maiores índices de popularidade do que teria tido na últina década do seu consulado.
A. Luciano
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro confrade A. Luciano,
Onde está o confrade Frederico Muñoz?
Não apareceu mais no fórum...
Abraços,
Granada
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"Anjo Bento"
Caríssima,
Repito: não se deixe afrontar!
Compartilho contigo esse poema, "Anjo Bento", de Gregório de Matos, que dá-nos uma bela lição existencial:
"Destes que campam no mundo
Sem ter engenho profundo
E, entre gabos dos amigos,
Os vemos em papafigos
Sem tempestade, nem vento:
Anjo Bento!
De quem com letras secretas
Tudo o que alcança é por tretas,
Baculejando sem pejo,
Por matar o seu desejo,
Desde a manhã té à tarde:
Deus me guarde!
Do que passeia farfante,
Muito prezado de amante,
Por fora luvas, galões,
Insígnias, armas, bastões,
Por dentro pão bolorento:
Anjo Bento!
Destes beatos fingidos,
Cabisbaixos, encolhidos,
Por dentro fatais maganos,
Sendo nas caras uns Janos:
Que fazem do vício alarde:
Deus me guarde!
Que vejamos teso andar
Quem mal sabe engatinhar,
Muito inteiro e presumido,
Ficando o outro abatido
Com maior merecimento:
Anjo Bento!
Destes avaros mofinos,
Que põem na mesa pepinos,
De toda a iguaria isenta,
Com seu limão e pimenta,
Porque diz que o queima e arde:
Deus me guarde!"
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RE: "Anjo Bento"
Caro Conde
Eu não me deixo afrontar.
O que sinto, é VERGONHA!
Vergonha da imensa cobardia dos portugueses, que permitiram que o seu Património fosse roubado, e a sua História e a sua Memória ocultadas.
Perdemos a Guerra! Perdemos.
Fomos atraiçoados! Pois fomos.
E daí?
Não sabiam preservar a Memória?
Não sabiam transmitir aos Filhos e aos Netos, o que na realidade aconteceu?
Não sabiam ensinar-lhes, que o que se contava oficialmente era mentira?! Que o que estava escrito, era uma calúnia?!
Não sabiam escrever a Verdadeira História, e passá-la de mão em mão?
Nós, que somos as Gerações Futuras desse Passado, fomos duplamente atraiçoados.
Pela Máfia que nos dominou, e pela cobardia dos nossos, que nos ocultaram a Verdade.
Lamento!
Mas é o que sinto.
Uma Imensa Vergonha!
Melhores Cumprimentos
Airmid
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RE:
Cara AIRMID
Permita-me o tratamento, pois ao ter lido as suas intervenções (dezenas, se não centenas) me parece a mim conhecê-la de longa data.
Mas não conclua que só 3 pessoas se interessam pela VERDADEIRA HISTÓRIA DE PORTUGAL. Uma coisa é o interesse e outra a capacidade de intervir.
Pela parte que me toca, confesso que não tenho essa capacidade, quer por não ter formação específica, quer por não ter tempo para a isso me dedicar como desejaria.
Leio com com interesse as suas intervenções e agrada-me sempre uma boa discussão (de preferência).
Não sei se pensa realmente despedir-se ou se irá reconsiderar ( o que muito me aprazaria). Mas se for o caso da despedida, pela minha parte resta-me desejar-lhe as maiores venturas e agradecer as suas intervenções. A sensação com que fico, é de que perco uma amiga.
Cordiais cumprimentos
Manuel da Silva Rolão
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RE: A Invenção do Tempo
Caro Confrade Manuel Rolão
Eu também não tenho formação específica nem em História, nem em Arqueologia, nem sequer em Genealogia, um dos Ramos da História, em que o caro Confrade é experiente.
Tempo, inventei-o....
Reduzi as horas de sono, e comprei uns óculos para vêr ao perto, e poder voltar a estudar.
Mas a inércia que vejo à minha volta, sobretudo naqueles que poderiam ainda fazer alguma coisa, causa-me o maior desânimo.
Não somos três. É verdade que somos mais.
Mas de nada serve se não nos fizermos ouvir.
Melhores Cumprimentos
Airmid
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A herança também é genética
Caro confrade A. Luciano,
Compartilho contigo este interessante artigo. Recomendo-lhe que o leia em: http://veja.abril.com.br/241208/p_080.shtml# uma vez que não é possível ver, na mensagem, as tabelas anexas ao artigo.
Cumprimentos,
Granada
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Demografia
A herança também é genética
Judeus e muçulmanos, expulsos da Península Ibérica
no século XV, deixaram um rico legado arquitetônico
e cultural. A influência também está marcada no DNA: um
em cada três portugueses e espanhóis descende de judeus
Thomaz Favaro
Fotos Jose Luis Roca/AFP e AKG-Images/Latin Stock
Marcas do passado
Alhambra, jóia da arquitetura mourisca, em Granada, e, à direita, a expulsão dos judeus
A curiosidade em relação aos antepassados é um componente da natureza humana. Para reconstruir a história, conta-se tradicionalmente com documentos, testemunhos e artefatos arqueológicos. Agora, uma nova ferramenta está à disposição dos estudiosos: a pesquisa genética. Ela permitiu comprovar que os ameríndios são originários da região central da Sibéria e revelou que nada menos que 12 milhões de pessoas na Eurásia são descendentes diretos do conquistador mongol Gêngis Khan. Um estudo genético divulgado neste mês traz outra revelação inesperada: um terço da população de Espanha e Portugal – países com uma história de fervor católico e intolerância religiosa – tem entre seus ancestrais judeus ou mouros.
Mais de 99% do genoma humano é idêntico em todas as pessoas. Mas cada grupo populacional possui um conjunto de pequenas mutações identificáveis, chamadas marcadores. Estes marcadores podem ser rastreados por meio da análise do cromossomo Y, que passa quase intacto de pai para filho. Fizeram parte do estudo 1 140 portugueses e espanhóis cujos avôs também eram nascidos na Península Ibérica – o que indicava que suas famílias estavam ali desde pelo menos 1900. Esse material foi comparado com os marcadores de muçulmanos do norte da África e de judeus sefarditas de várias nações para medir a sua presença na população ibérica atual. Sefarditas são os descendentes dos judeus expulsos da Espanha e de Portugal no século XV. A conclusão: 20% dos habitantes desses dois países possuem ascendência judaica e 11% têm genes árabes e berberes.
Os muçulmanos invadiram a Península Ibérica em 711 e dominaram boa parte dela por sete séculos. A presença judaica remonta à primeira grande diáspora depois da tomada de Jerusalém pelas legiões romanas, no ano 70. Os judeus consideram como uma era de ouro justamente o início do domínio mouro. Foi um período de florescimento cultural, com destaque para a medicina e a filosofia, e de relativa tolerância religiosa. Apesar das disputas dinásticas e das rixas entre tribos berberes, em raras ocasiões os judeus e os cristãos foram massacrados ou forçados à conversão. Em parte por razões pragmáticas, dizem os historiadores, visto que os "infiéis" pagavam altos impostos.
A convivência foi sepultada em 1492, quando os reis Isabel de Castela e Fernando de Aragão tomaram Granada, o último reduto mouro na península. No mesmo ano, os judeus foram forçados a se converter ou deixar a Espanha. Na época, havia cerca de 400 000 deles no país. Desses, 120 000 fugiram para Portugal. Quatro anos depois, a intolerância religiosa cruzou a fronteira. Para cederem a mão de sua filha Isabel ao monarca português dom Manuel I, os reis da Espanha exigiram a expulsão dos judeus que recusassem a conversão. Até o marquês de Pombal destruir os registros, no século XVIII, os convertidos, chamados de cristãos-novos, permaneceram cidadãos de segunda classe em Portugal e também no Brasil. Percebe-se agora que as conversões ao cristianismo durante a Inquisição parecem ter ocorrido em maior quantidade do que se pensava.
"O que mais nos surpreendeu foi o fato de a influência judaica ser tão maior que a muçulmana, mesmo com séculos de domínio mouro", disse a VEJA o historiador português Jorge Martins, autor do livro Portugal e os Judeus. "Até hoje não há compreensão do real tamanho da contribuição judaica para nossa identidade nacional." Atualmente, essas confissões religiosas compõem menos de 2% da população da península e nem sempre são vistas com bons olhos. No último censo realizado em Portugal, apenas 1 773 pessoas se declararam de religião judaica. Segundo uma pesquisa recente, metade dos espanhóis tem uma visão negativa dos judeus, um dos índices mais altos de toda a Europa. À luz do estudo genético, pode-se dizer que se trata de uma visão distorcida da própria imagem no espelho.
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RE: A herança também é genética
Caro Granada,
Já me tinha apercebido de que a "VEJA" pode ser consultada "on-line" contudo e pedidndo antecipadamente desculpa se a minha franqueza será excessiva, ainda que vivesse no Brasil, duvido que a "VEJA" fosse uma das minhas leituras habituais e, para o caso em apreço, artigos de divulgação jornalística, valem pouco menos do que zero.
"Em parte por razões pragmáticas, dizem os historiadores, visto que os "infiéis" pagavam altos impostos."
Uma frase destas, apenas serve baralhar. Como evidente, não existiu uma bitola única e as situações terão variado muito no tempo e no espaço. De resto, os impostos não eram normalmente "por cabeça" e eram aplicáveis a situações específicas como transacções ou produção de determinados produtos ou lançados para cobrir necessidades, por exemplo uma campanha.
Um leitor desprevenido, fica sem saber se os "infiéis" pagavam mais do que os muçulmanos - em circunstâncias idênticas - se pagavam mais por serem mais ricos ou apenas que o total que pagavam, independentemente de comparabilidade, não podia ser dispensado; e o que é mais "engraçado" é que apostaria sem grande risco de errar que o autor do texto também não faz a menor ideia.
Seria significativo que os "infiéis" pudessem pagar um imposto que os isentava de serviço militar mas nunca vi estudos que quantificassem esse encargo em função da restante "carga fiscal" e, por outro lado, como essa opção não era dada aos muçulmanos, sobretudo em períodos de instabilidade - a grande maioria do período de ocupação islâmica da Península - nem sei bem se seria um encargo se um privilégio.
"Fizeram parte do estudo 1 140 portugueses e espanhóis cujos avôs também eram nascidos na Península Ibérica"
R I D Í C U L O!
Amostra pequena e sem o menor valor científico se não acompanhada da distribuição geográfica. À partida a qualificante genealógica - avós oriundos da Península - desqualifica quaisquer conclusões pois não só o limite temporal - 1900 - é perfeitamente inadequado - como misturar portugueses e espanhóis, poderá ser político ou jornalístico mas é anti-científico. Aliás, duvido que espanhóis possam ser estudados sem alguma desagregação regional.
Pouco, a roçar o nada, sei de genética e já não irei aprender até porque estou a reconhecer-lhe todos os factores negativos que bem conheço de outras "novidades". Com as mutações imprevisíveis do "y" e os resultados de séculos de civilizações de dominância masculina, que limitam a utilidade prática do mtdna, a genética deveria inicialmente ser apenas uma auxiliar da genealogia e só divulgada depois de estudos exaustivos em linhagens genealogicamente conhecidas para testar a sua real utilidade e a sua fiabilidade. Mas, ao invés, testam-se pessoas sem qualquer critério nem qualquer seleclção válida para publicar resultados e extrair conclusões que são apresentadas como científicas, quando são exactamente o contrário disso. Chegou-se já ao extremo de testar marcadores com algoritmos que não são avalizados por ninguém a não ser pelos técnicos das empresas comerciais interessadas e que levam o mesmo indivíduo a obter interpretações diferentes conforme a empresa que efectuou os testes.
Como está, a genética - não falo de aplicações médicas restritas, essas sim com alguma base científica - é mais uma ciência para suporte de políticos e patrocinada por basbaques, e só espero que não traga maus resultados como algumas suas antecedentes.
A. Luciano
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RE: A herança também é genética (No hay un ADN judio - José Antonio Lorente)
No hay un ADN judio - José Antonio Lorente
Olá,
Embora a revista em questão http://veja.abril.com.br/241208/p_080.shtml# não seja propriamente científica a informação é de carácter generalista também não gostei do artigo, pois já tinha lido o original sobre o estudo do ADN que menciona, onde se pode ver que o actual território português tem mais influência das heranças judias (vindos da Rússia) que magrebinas e a maioria é "europeia" (Celta), discordo que continuem a dar informação que existe um ADN para cada grupo étnico ou religioso, existem sim concentrações de certos tipos de pessoas, mas a sociedade actual funciona assim onde o indivíduo não conta mas sim o seu grupo:
No hay un ADN judio - José Antonio Lorente
«Me piden que al menos diga si tenía ADN judío, sin saber que no existe un ADN propio de ese pueblo, que tan sólo hay ciertos fragmentos más frecuentes en algunos miembros de esa etnia, formada no por los genes sino por causas culturales, geográficas e históricas» http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=223803&fview=c#reply
Sim é verdade que isto dos cromossomas é um assunto que pode ter muitas leituras e algumas um pouco curiosas a não negligenciar sua leitura mesmo quando são feitas aparentemente com intenções políticas:
"O ADN lusitano não é o mesmo do ADN português"
Antes nós lusitanos tivéssemos continuados "mouros", porque a Lusitânia embora não independente sob domínio islamo-muçulmano, as suas comunidades nativas rurais e principados gozavam de reconhecimento e de autonomia política (e hoje provavelmente, pese embora o facto de estarmos inseridos numas diferente geopolítica, seríamos um país já independente à semelhança da Albânia, da Bósnia ou da Turquia, por exemplo). Coisa que nunca aconteceu sob domínio bárbaro, godo ou português por exemplo.
"o fundador do primeiro Estado Luso unificado, Lysus, vindo do sul da actual Anatólia, estabelece-se no território da Lusitânia no ano 900 a.c. e unifica muitos reinos e principados";
http://aceltrebopala.home.sapo.pt/adnlusoetuga.html
Veja o filme "Gattaca" de 1977 http://pt.wikipedia.org/wiki/Gattaca quem diria que seria realizável já em 2010 escolher a cor dos olhos e mais...,
Se quiser ver onde isto pode acabar veja a obra-prima que é o "Blade Runner" http://pt.wikipedia.org/wiki/Blade_Runner
Cumprimentos,
José Manuel CH-GE
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RE: A herança também é genética (No hay un ADN judio - José Antonio Lorente)
Caríssimo,
Permita-me, educadamente, discordar!
Então, os semitas são o quê? Invenção dos Protocolos dos Sábios de Sião? Se, originalmente, os judeus não possuem diferenças básicas no dna, os negros também não; igualmente, os asiáticos e os “arianos”... E agora, somos todos iguais? Não, não somos. José Antonio Lorente diz que não, mas, outros tantos que dizem que sim; enfim, existem especificidades no dna, mesmo que, actualmente, existam em menor quantidade, dada a ampla "mistura" de tudo e todos... Aliás, A "troca" de dna é coisa velha nesse planetinha da esquina da Via-Láctea chamado de terra... e que é água...
Sim, sociológica e antropologicamente, cada cultura/religião é, originalmente, ligada a um certo tipo étnico que, como tudo, acaba se dissolvendo/misturando/absorvendo com o tempo, entretanto, é típico que os "diferentes" no fator étnico o sejam nos usos e costumes, enfim, que comunidades humanas plurais no sentido racial acabem por desenvolver modelos próprios e diversos de "entendimento do mundo."
Saudações,
Granada
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RE: A herança também é genética ("The Mysterious Origins of Man" apresentado pelo Charlton Heston)
Olá,
Aqui vai a minha opinião sobre o tema que é tabu, ADN/Etnias/Religiões, devo dizer que sou um católico que se tornou agnóstico e budista, mas não acredito na teoria de Darwin, ao fim ao cabo nada se sabe realmente actualmente, tudo são teorias conjecturais, penso que o nível de utilização actual do cérebro humano não pode compreender o que procura saber.
As heranças semitas originais vêm de um grupo de mulheres, que depois se expandiu com a religião, os judeus portugueses são maioritariamente de origem da Rússia, houveram duas migrações uma da Península Ibérica depois da grande glaciação e outra mais tarde no sentido inverso, é esta a causa de muitas confusões, pois na cabeça de muitos tudo veio da África, e não se vê mais longe geralmente, se quiser saber a minha opinião existem dois grupos originários, os Neandertal ( http://portugalliae.blogspot.com/2009/06/homem-das-neves-iberico-do-neandertal.html & Neandertal code 6 vidéo) e os Cro-Magnon, ambos sapiens, uns Europeus os outros Africanos, mas nunca se pode dizer que os judeus têm um gene que os caracteriza, é falso e errado, como católicos há muitos e não somos todos iguais nem temos todos um gene que nos define, era isto que queria dizer, sim tem razão não somos todos iguais, um dia teremos um bilhete de identidade com o código genético de cada um.
Sugiro ao confrade granada a leitura do livro Les Secrets de la Bible de Roger Sabba hhttp://www.amazon.fr/Secrets-Bible-Roger-Sabbah/dp/2848550295 trata da possível origem do judaísmo.
Este mapa é esclarecedor do que eram as populações antes, pode ver até onde foram os Celtas desde a Ibéria até à China Tibete:
http://www.scs.uiuc.edu/~mcdonald/WorldHaplogroupsMaps.pdf
Y Haplogroups of the World
The data in this map is supposed to represent the situation before the recent European expansion beginning about 1500 AD. In some cases such as some Native American tribes and the Maori this can be done reliably because STR typing was done. In other cases, especially in America, it is guesswork. The “Other” sectors in America indicate this. Native American groups are labeled by language group as Amerind, Na-Dene (N-D), and Eskimo. F, K, L, and P are in some cases “catchall” groups because some researchers did not use enough markers for a full haplotype determination. 2005 J. D. McDonald
MTDNA Haplogroups of the World
Specific tribes or locations are shown at left. Unlabelled pies are for general population in the area. African, American, and especially Polynesian areas are very large. The data in this chart is supposed to represent the situation before the recent European expansion beginning about 1500 AD. Assignments in Australia are somewhat iffy.
E se quiser ver este YouTube também dá para ver porque temos que oficialmente ser todos iguais, mas não discuto isto mais neste Fórum pois não estou para ser molestado:
The Mysterious Origins of Man apresentado pelo Charlton Heston, um excelente trabalho da NBC:
http://krishnatube.com/video/269/The-Mysterious-Origins-of-Man
Cumprimentos,
José Manuel CH-GE
http://portugalliae.blogspot.com/
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RE: A herança também é genética ("The Mysterious Origins of Man" apresentado pelo Charlton Heston)
Caríssimo confrade José Manuel,
Vou ler com a maior e mais prudente atenção o livro e os sítios da web que me indicou.
A teoria de Darwin foi revisada mais de uma centena de vezes pelos seus "herdeiros ideológicos." Por enquanto, levando-se em conta apenas os fatos, não passa de mais um filosofia, mais uma possível explicação que, aliás, alinha-se cronologicamente com o Gênesis bíblico. As coisas demorarão a se encaixar. No final das contas, perceberemos que nosso dna, antes de tudo, é divino. Sou cristão protestante, "filho" de Lutero, do Gênesis ao Apocalipse.
Saudações,
Granada
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RE: A herança também é genética
Caro A. Luciano,
Devo lhe dizer que comungo, absolutamente, da sua opinião com relação à revista "Veja". É uma revista das massas, portanto, não se pode esperar lá muita qualidade e conteúdo científico. Penso que não passa de "entretenimento intelectual" para a classe média, enfim, é mais um meio da pequena e média burguesia achar que sabe alguma coisa do mundo... Além do que, a "Veja" é por demais politiqueira... Minha avó diz que só lê a "Veja" nos consultórios médicos. Todo consultório brasileiro que se preze possui um ou outro exemplar da "Veja" jogado pelos cantos da sala de espera...
Do resto, também concordo. No entanto, faço uma observação já clara e notória: segundo me consta, os judeus sempre alcançaram, na Ibéria, de maiores níveis de tolerância, se comparados com os muçulmanos.
De genética, apenas sei o que aprendi no Ensino Médio, apesar de "bem aprendido". Portanto, junto-me ao confrade. Mas, e como fica Jorge Martins, com seu livro "Portugal e os Judeus"? Estará assim tão imerso em erro? Acho até que ele foi conservador ao estipular que apenas 20% dos espanhóis e portugueses possuem ascendência judaica e 11% têm genes árabes e berberes. Certamente que esse número é muito maior... muito mesmo.
Grande abraço,
Granada
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Quem é judeu? (Sergio Feldman)
Quem é judeu?
Em teoria, fazendo uma generalização, por vezes imprecisa, mas de acordo com a lei judaica (Halachá), seria todo filho de mãe judaica, que passasse pelo ritual da circuncisão (Brit Milá). Isso o colocaria no pacto de Abraão que simboliza sua pertinência ao povo judeu. Isso não exime o judeu de outros dois aspectos fundamentais: o conhecimento da Lei (Torá) e a prática dos preceitos (mitzvot), que são o tripé básico do Judaísmo, de maneira simplificada: Brit (Pacto), Torá (Lei) e Mitzvot (Preceitos). Não creio que nenhum rabino ortodoxo, ou liberal, reformista ou conservador se oponha em princípio a esta definição básica. Alguns rabinos ou pensadores podem derivar desta conceituação, algumas condições e preceitos e complementá-la com argumentos e detalhes.
Porém a pergunta que se faz é a seguinte: quantos de nós podemos ser considerados judeus segundo esta definição “básica”. Quem conhece de maneira sucinta e simplificada a Lei (Torá) e pratica de alguma maneira os preceitos (mitzvot), seja numa versão ortodoxa ou neo-ortodoxa, seja de uma maneira liberal ou conservadora? Ou seja, deixamos de ser judeus, apesar de sermos filhos de mães judias e sermos circuncidados (os homens judeus, obviamente)? Ser ou não ser, eis a questão.
Viajemos na história. Reflitam comigo e ousem pensar sem preconceito.
Nosso primeiro exemplo vem da Idade Média, na Europa Ocidental. No período das Cruzadas (1096 a 1250) em países como a França e a Alemanha (1ª Cruzada) e na Inglaterra (3ª Cruzada) judeus são colocados entre e espada e a cruz: converter ou morrer. A grande maioria opta por morrer em Santificação do Nome Divino (Al Kidush HaShem). Uma minoria opta pela conversão. Isso se explica pela pouca integração dos judeus no meio em que viviam. Ser judeu ou morrer. São os mártires das Cruzadas. Isso está descrito no último livro editado por meu mestre e orientador Nachman Falbel. Na seqüência vemos outro fato ocorrer, mas de maneira diferente, no sul da Europa.
Após alguns séculos de vida judaica na Península Ibérica, já no século XIV, se configura o inicio de uma prolongada crise. Em 1391, estala em Sevilha um violento pogrom antijudaico, deflagrado por um frei. Este se espalha por toda a Espanha atual (na época reinos de Castela e Aragão), menos em Portugal aonde o rei protege os judeus. O resultado desta violência foi surpreendente: um elevado número de judeus optou por se converter ao Cristianismo, ao invés de morrer em “Santificação do Nome Divino” (Al Kidush HaShem). Isso devido ao fato dos judeus ibéricos serem muito integrados ao meio em que viviam e a crença de que após a crise poderiam retornar à sua fé ancestral. Surge um grupo numericamente grande de “cristãos novos”. Alguns judeus, não chegam a ser convertidos à força e conseguem permanecer judeus; alguns (minoria) preferem morrer sem profanar a fé de seus ancestrais. Entre 1391 e 1492, convivem nos reinos ibéricos alguns grupos étnico-religiosos: cristãos velhos, cristãos novos, judeus e muçulmanos. A convivência por vezes se torna tensa. Inúmeras campanhas tentam converter os judeus ao catolicismo. Os cristãos novos são discriminados em Toledo (1449) pelo estatuto de pureza de sangue. Trata-se de um antecessor ibérico das leis racistas que surgirão no século XX. Os cristãos novos são proibidos de exercer determinados cargos, de cobrar os impostos reais e de ter poder sobre a casta dos nobres e burgueses cristãos velhos. Trata-se de uma lei racista que exclui cristão e os discrimina pela sua pretensa origem “judaica”. Paira sobre os cristãos novos a mesma desconfiança que os judeus sofriam. Uma continuidade do preconceito, com os recém convertidos e uma restrição “racial” (numa época que este conceito ainda não existe!), aos descendentes de judeus.
Há alguns cristãos novos que se integram à nova fé, e tratam de mostrar que são fiéis e confiáveis. Há diversos cristãos novos que se dedicam a carreiras eclesiásticas, se tornando monges, padres e bispos. São por vezes fervorosos, talvez até para mostrar sua fidelidade.
Uma minoria dos convertidos opta por seguir praticando as escondidas a crença de seus ancestrais judeus: surge o cripto-judaísmo ou marranismo. Este grupo vive sob o risco de ser acusado de apostasia ou de heresia, algo inaceitável sob a ótica católica. Uma vez batizado, mesmo contra a vontade, não há retorno ao fiel. Um cristão (católico) nunca poderia abandonar a sua fé. Nestes casos, havia o risco de ser condenado por um tribunal inquisitorial que poderia levá-lo à fogueira. Isso não tardou em ocorrer. Os Reis Católicos (Fernando de Aragão e Isabel de Castela) instauram a Inquisição em seus domínios, na segunda metade do século XV (c. 1476) e começam a inquirir e condenar inúmeros cripto-judeus. Já não são judeus, pois a Inquisição não poderia julgar infiéis judeus, mas sim cristãos heréticos. Pelo catolicismo, são cristãos e são julgados por apostasia e heterodoxia. Pelo judaísmo, não são mais judeus, já que se converteram ao catolicismo, participaram da missa, e dos sacramentos. Geralmente não eram circuncidados e portanto não realizaram o Brit Milá, não sendo membros do Pacto, ou seja judeus.
Morrem na fogueira por crime de heresia judaizante: são cristãos que realizam rituais judaicos, herdados de seus ancestrais que foram judeus. Nem em termos judaicos e nem em termos cristãos, podem ser chamados de judeus. Mas fica a sensação de que morrem em “Kidush HaShem”, da mesma maneira que os judeus vitimados durante as Cruzadas. A minha lógica fica estreita e minha razão se atrofia quando penso que morreram como judeus, mesmo sem serem considerados assim, nem pelos membros do Pacto de Abraão e tampouco pelos seus algozes da Inquisição. Morreram por professar um certo tipo de Judaísmo. O que você acha? Seria uma maneira de “ser” judaica, em pessoas legalmente não judias? Seria “Kidush HaShem”? Os judaizantes não seriam judeus?
Passemos ao século XIX e XX. Surge o Racismo Europeu, na esteira da expansão colonial. Distorcendo a teoria de Charles Darwin e inserindo nesta a semente do nacionalismo europeu do século XIX, com uma forte dose de preconceito aos povos “não europeus”, incultos e inferiores. Buscando justificar a ocupação colonial da África e da Ásia, pelos caucasianos (leia-se brancos europeus), que buscavam mercados consumidores e matérias-primas para a expansão da Revolução Industrial. Assim, na esteira da expansão industrial européia se consolida um preconceito aos “outros” que será adotado pela teoria racial nazista. Os judeus são vistos por muitos europeus como asiáticos, infiltrados no seio da população européia. Uma espécie de figura “non grata”, um paria racial que contaminava a pureza ariana. Mas muitos judeus se integram e se afastam de suas raízes. Casam com não-judeus e se convertem ao cristianismo. Outros se tornam socialistas e cosmopolitas e deixam de ser judeus. De diversas maneiras tratam de se integrar numa sociedade que os vê como infiltrados, estranhos e “não europeus”. Esses judeus que abandonam sua identidade serão apanhados por uma “armadilha da História” tal como os judaizantes da Península Ibérica, o foram.
Em 1933, ascende ao poder o Nacional Socialismo (Nazismo), na Alemanha. No seu ideário político o mito ariano tem papel fundamental. A pureza racial é almejada para fortalecer uma política de fortalecimento do Reich alemão. Os arianos seriam os “senhores do futuro” e construtores do Império Alemão: o Reich de Mil Anos. Os judeus deveriam ser escravizados e eliminados. Mas e os judeus que haviam se convertido? E os meio judeus? E os que tinham um quarto de sangue judaico? Cria-se o conceito de Mischlinge. Seriam meio judeus.
As Leis de Nuremberg (1935) excluem os judeus de direitos de cidadania e apontam uma categoria diferenciada para os que fossem um quarto, metade ou três quartos judeus. Muitos são discriminados, excluídos de direitos e por vezes exterminados. Outros são integrados ao exercito ou a grupos de elite, sendo provados em sua fidelidade e lealdade ao Reich. Um destino diferente perseguiu alguns. De acordo com a vontade de Himmler, ora eram levados aos campos, ora eram aproveitados no esforço de guerra nazista. Quase todos já não se consideravam judeus: eram por vezes netos de um judeu e três arianos. Ora eram netos de dois avós judeus, mas de outros dois avós não judeus (arianos) e ambos os pais não professavam o judaísmo. Muitos foram mandados as câmaras de gás, como se fossem judeus, mesmo se fossem filhos de mães não-judias, mesmo se não fossem circuncidados e não se identificassem como judeus. Não praticavam o judaísmo e não eram judeus de acordo a Lei (Halachá). Mas morreram como judeus e por terem sangue judaico. Como analisar estas mortes?
A nossa análise pode se prolongar. Mas não queremos gerar conclusões e certezas. Neste momento preferimos gerar polêmica e dúvidas. Seriam judeus, os judaizantes hispânicos mortos pela Inquisição? Seriam judeus aqueles Mischlinges não poupados por Himmler e chacinados, por possuírem sangue judaico, mesmo se suas crenças e práticas não o fossem? E somos, nós mesmos judeus, se não praticamos os preceitos e não conhecemos a Lei (mesmo se for sob uma ótica moderna, conservadora ou reformista)? Basta ser filho de mãe judia e ser circuncidado para ser judeu? E quem foi convertido por um rabino não-ortodoxo não pode ser considerado judeu? Pessoalmente não aceito o monopólio da minoria ortodoxa e creio que a diversidade judaica é condição “sine qua non” para a sobrevivência e a continuidade da identidade judaica.
* Sergio Feldman é professor adjunto de História Antiga do Curso de História da Universidade Tuiuti do Paraná e doutor em História pela UFPR.
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RE: Sobrenomes - O apelido Azuero
Caro(s) Confrade(s),
Em finais do século XVII, chegou a Santander, Nuevo Reino de Granada (Colômbia), um Ambrosio de Azuero, nascido +- em 1660, referenciado como português e possivelmente judeu-converso.
É antepassado de Vicente Azuero Prata (1787-1844). Advogado, político e jornalista colombiano. Na República do Panamá, que no século XIX fazia parte de Colômbia, a Península de maior extensão do país recebeu, e até hoje conserva, o nome de Península de Azuero em memória deste político (Wikipedia).
As conotações e ligações de Assuero (Xerxes), Rei do Medos, com a Ester bíblica, por um lado, e o mito do Judeu Errante, também chamado Ahsverus ou Ahsuerus, por outro, explicam a hipótese da origem judia do referido Ambrósio.
Têm alguma informação sobre este apelido e/ou sobre famílias que o usaram...
Cumprimentos,
José Fernandes Rodriguez
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Subsídios para o estudo genealógico dos judeus e cristãos-novos
Trabalho do Dr. Manuel Abranches de Soveral, que consta em: http://www.soveral.info/mas/judeusecristaosnovos.htm
Saudações,
Hirão/Granada
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Subsídios para o estudo genealógico dos judeus e cristãos-novos
e a sua relação com as famílias portuguesas
Séculos XV e XVI
Muito se tem escrito sobre os judeus e cristãos-novos de Portugal, e a sua relação com as famílias portuguesas. Mas, infelizmente, nem sempre com o conhecimento de causa que se impunha.
Antes da conversão forçada, com D. Manuel I, são bem identificáveis os judeus portugueses, ou seja, melhor dito, os judeus que aqui nasceram e/ou viveram. Com efeito, tinham um estatuto jurídico e fiscal distinto dos portugueses e aparecem sempre, na documentação do reino, com a indicação de judeus ou da nação judaica.
Mas a sua liberdade religiosa era grande. Vários são os portugueses, alguns deles fidalgos, condenados por terem baptizado à força um judeu. É o caso, por exemplo, de Gonçalo Vaz de Castello-Branco, cavaleiro da Casa do infante D. Fernando, que é o futuro D. Gonçalo de Castello-Branco, pai do 1º conde de Vila Nova de Portimão, que a 30.11.1468 teve perdão de D. Afonso V por, juntamente com outros escudeiros e cavaleiros, obrigarem um judeu a tornar-se cristão contra sua vontade. Se bem que os judeus não estivessem autorizados a esconjurar Cristo e Nossa Senhora, pois alguns foram condenados por isso.
Sem querer aqui entrar no regime jurídico e fiscal em vigor no século XV para os judeus, convirá referir que existiam excepções, pois são várias as cartas de privilégio passadas pelo rei a judeus, escusando-os por exemplo de usar o sinal, de pernoitar nas judiarias, permitindo-lhes andar por todo o reino, nalguns casos montados e armados. Podiam mesmo ter a qualidade de vizinhos, como é o caso, por exemplo, Isaque Abravanell, judeu, mercador, morador na cidade de Lisboa, que a 7.10.1472 o rei recebeu por vizinho da dita cidade, com todos os privilégios, liberdades e franquezas, como têm os cristãos vizinhos e moradores da dita cidade.
O casamento entre judeus e cristãos estava proibido, bem como todas as relações carnais, havendo alguns casos de condenação por isso.
Na sua grande maioria, os judeus que se documentam nesta época eram mercadores, muitos com negócios com o estrangeiro. Logo a seguir estão os médicos (físicos e cirurgiões) e os ourives. Desempenhavam também ofícios variados, donde sobressaem os ferreiros e os alfaiates e gibeteiros. Aparecem também bastantes tecelões. Muitos eram rendeiros, alguns da criação do rei e seus servidores, tendo vários participado nas conquistas de Ceuta e Tânger, por exemplo. E, obviamente, muitos desempenhavam funções nas judiarias e respectivas câmaras, como vereadores, escrivães, ouvidores, etc. Mas é evidente que havia de tudo, embora globalmente se possa dizer que a comunidade judaica era mais rica do que o povo português e até do que muita nobreza. Sobretudo após o êxodo de Castela, que começou no final do séc. XIV, donde em geral vieram os mais ricos, já que era preciso pagar para cá entrar...
A própria comunidade judaica teria certamente a sua nobreza própria, e o estatuto social e económico de algumas famílias judias era muito alto. Nestes casos, os homens chegavam a ter o tratamento de Dom e as mulheres de Dona. E podiam instituir e possuir morgadios, como é o caso, por exemplo, de Gabriel Ben Crespo, morador na cidade de Lisboa, que a 24.9.1450 teve confirmação real da doação de um morgadio, com todos os privilégios, honras, graças, mercês, liberdades, usos e costumes, feita a 31.1.1436 por Abraao Romeiro e Lidiça, sua mulher, que o haviam recebido por morte de D. Mousen Navarro, rabi-mor, que morrera sem herdeiros. E já D. Pedro I tinha confirmado a Isac Navarro a administração do morgado de Mousen Navarro e sua mulher Salva (1, 77v), onde se transcreve a carta de instituição.
De resto, ficaram alguns selos e matrizes sigilares medievais que demonstram que os judeus já então usavam em Portugal não só selos pessoais mas também selos inequivocamente heráldicos, como é o caso de um exemplar datado do séc. XIII (aproximadamente), que tem um castelo de três torres no interior de dois círculos concêntricos, entre os quais se desenvolve a legenda em caracteres hebraicos.
Certos judeus ou cristãos-novos conseguiram mesmo chegar à nobreza portuguesa, como é o caso bem conhecido dos Castro do Rio. E o caso, também, do rico mercador judeu Jocob Baru, falecido em 1471, cujo filho foi para primeiro para a Holanda e depois para Inglaterra, onde o rei Edward IV o baptizou de pé com o nome de Edward Brampton, o armou cavaleiro (documenta-se como Sir) e lhe deu o governo da ilha de Guernsey. Com a morte deste rei voltou a Portugal, adoptando o nome de Duarte Brandão, tendo comprado a lezíria da Corte dos Cavalos, no termo de Azambuja, a D. João de Almeida, e a vila de Buarcos, com as marinas de Tavarede e a dízima nova de Montemor, a Martim de Sepúlveda, tudo bens da coroa que D. João II lhe doou de juro e herdade a 14 de Janeiro e 22 de Maio de 1487, sendo então já do Conselho deste rei e continuando a sê-lo com D. Manuel [1] .
Paradigmático também é o caso dos Espargosa e dos Alte, que foram nobilitados, não só eles mas retroactivamente os seus ascendentes. O doutor Cristóvão Esteves de Espargosa, desembargador dos feitos da fazenda de D. João III, e sua mulher Isabel da Pinta, foram senhores da quinta de Espargosa, no termo de Mértola, que instituíram em morgadio (7.6.1543), vinculando-lhe ainda a quinta de Vale da Pinta, no termo de Santarém, a herdade do Moutinho, no termo de Mértola, e casas e a quinta da Silveira, no termo de Évora. Cristóvão Esteves foi nobilitado, adoptando no nome da sua quinta (Espargosa), que D. João III privilegiou como solar da família e a quem deu carta de armas novas. Era judeu e fora baptizado de pé, sendo filho de Mestre Estêvão (Isac antes do baptismo), boticário em Beja, e sua mulher Branca Esteves. O Doutor Cristóvão Esteves, que a 29.8.1533 teve de D. João III carta de privilégio que supria o seu «defeito de nascimento», foi primeiro procurador dos feitos da fazenda, pelo menos desde 1518 até 14.9.1521. Deste Cristóvão Esteves foi irmão o licenciado Bernardim Esteves de Alte, desembargador do Paço, senhor da herdade de Alte, no termo de Serpa, de que tirou o nome e que também foi nobilitado por D. João III e confirmado por D. Filipe I em 1583, sendo pai do doutor Cristóvão Esteves de Alte, nascido na corte de Lisboa, doutorado em Leis pela Universidade de Coimbra a 9.6.1553, onde foi lente de Instituta (16.11.1551) , sendo também chanceler e desembargador da Casa da Suplicação, e do doutor Bernardim Esteves de Alte, lente de Vocações (1553) da Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, desembargador da Casa da Suplicação e do Paço, etc. O rei fez o dito licenciado Bernardim Esteves «Fidalgo, e nobre como se toda sua avoenga o fora», e como «se o dito sollar fora antigo, e os Pays, Avós, bisavós, e tresavós dos ditos L.dos Bernardim Esteves e Simão Gonçalves (Simão Gonçalves Preto, seu genro) fossem Fidalgos de sollar conhecido».
Os nomes
Os judeus anteriores à conversão forçada são também facilmente reconhecíveis pelos nomes, não só pelos os nomes próprios mas também pelos apelidos ou nomes de família.
Percorrendo a longa Chancelaria de D. Afonso V (1438-1481) foi-me possível recolher um vasto conjunto de nomes de família tipicamente judeus, se bem que muitos deles apenas se documentem com os nomes próprios, geralmente antecedidos da designação mosse ou mestre.
Esses nomes de família são os seguintes, por ordem alfabética:
A - Abam, Abaya, Abaz, Abeaçar/Abeaça, Abençall, Abraçar, Abenzamorro, Abenazo, Abete, Abez, Abife, Aboa/a Boa, Abraão/Abraham (sobretudo nome próprio), Abravanel, Abroz, Abudente, Açaral, Adaroque, Adereos/Aderes, Adida, Aidara, Alarbom Albarrux, Albogalim, Albotene, Alcabaz, Alcale, Alegria, Alfaquy/Alfaquem/Alfaquim, Alfeice/Alferce, Almalle/Almalee, Almusas Alzagal, Alravel, Alroz, Alvargo/Allvargii/Allvargy, Alvo, Am/Ham, Amalho, Amanilho, Amigo, Amyz, Anyneu, Arary/Arari, Arrobas, Arte, Azeerim/Azecrim, Azenha;
B - Bacoa, Bagally, Barnabé, Barrocas, Barrobe, Bari, Baru/Barru, de Barbova, Baquis, Beacar/Beaçar/Beatar, Bega, Beiçudo/Beyçudo, Beiro, Belacide, Belhamym, Benafull, Benafaçom, Benazo, Benjamim, Bemzamerro Benziza, Beuafaçom, Bichacho, Bieudo, Bixorda, Brafanez, Bono, Boym;
C - Caçez, Cachado, Çaçom/Saçom/Sacam, Cadaley, Çadiz, Caldeirão, Calimy, Çalleicaa, Calvo, Camacas, Camarinha, Canana, Canfi, Capam, Capaya/Capayo, Catarribas, Catelaão/Catalão, Cardinel, Carilho, Carraf, Caruchel, Castelão/Castelhão, Catam, Catiell, Cefim, Cerasady, Chaveirol, Cide/Cid, Codilho, Cofeiro, de Colhar, Çoleima, Colem, Colodro, Conciel, Cordilha, Coser, Cosfem, Cosim, do Crasto/de Castro, Crespim, Crescente, Crudo, Cudello, Curuto;
D - Dano, Danom, Delhescas, Donhas, Douo;
E - Eide, de Elhifes, Escalona, Espanom, Espantão, Erguas, Erudo;
F - Falaz, Famiz, Famta, Faquom, Faquim, Faracho, Faravom, Fayham/Fayam, Focem, Folega, Frances, Franco/Franquo;
G - Gabay, Gabril, Gadim, Gaguim/Gaguy, Gaim, Galiote/Galite, Galaje, Galante, Garçom, Gayos, Gedelha (sobretudo nomo próprio), Golete, Gota, Guaryto, Gualite, Graço;
H - Husque;
L - de Labymda, Latam/Latão, Lavanca, Lázaro, de Llescas, de Lestes, Levi, Liam, Lias, de Liscas, de Lixeas, Loquem, Lozora;
M - Maalom, Macaz, Machosso, Maçon, Maconde, Martelo, Marracoxy, Mataro, Matrotel, Mayll, de Medina, Menafem, Mocatel, Mocato, Mofejo, Mosejo, Mollaão, Montam, Motaal, Motal, Muça;
N - Nafas, Nanyas, Naniras, Natam;
P - Papo, Palaçano, Palacho, Patteiro, Peço, Pello, Pernica, Pexeiro, Picorro, Piecho, Picho, Prateiro;
R - Ribaro, Ricomem, Rodriga, de Rogos, Romano, Romão, Romdyem, Romeiro, Rondim, Rosall;
S - Samaia/Çamaya, Sanamel, Saraya, Savarigo, Solega;
T - Tarraz, Tavy/Tovy, Toby, Tolledam/Toledano, Tony, Torigo, Tristam;
V - Vaca, Vallency, Varmar, Vascos, Venyste, Viarcis, Vivas/Vivaz, Vidas, Vidos, Vivallaquero;
Z - Zaaboca, Zabocas, Zaquim, Zaquem, Zarco.
Outros nomes usados por judeus desta época têm a aparência de alcunhas, como é o caso de Crespo, Dourado, Querido, Parente e Ruivo (nome usado por vários judeus de Évora, alguns pais e filhos), podendo também ser o caso de Branco e Preto, nomes que também se documentam em judeus, este último o nome de uma importante família de mercadores de Lisboa. Mas Crespo, que também aparece antecedido da partícula ben, seria por isso um nome próprio. E resta saber se alguns outros nome de aparência portuguesa não são afinal palavras hebraicas homónimas ou pelo menos homógrafas.
Documentam-se também famílias judias com nomes claramente tirados de cidades ou vilas portuguesas: Murça, de Faro, de Leiria, Coimbra, de Lamego, de Tomar, Penafiel, da Pedreneira, de Cea/Seia, da Vitória (uma família do Porto) e Cascais. Se bem que, quando se documentam, estas famílias vivessem em terras completamente distintas das que ostentavam no nome.
Como característica geral, os nomes judeus nunca têm patronímicos à portuguesa, se bem que pelo menos os nomes antecedidos por ben o pareçam ser. Como é o caso, por exemplo, de Benafaçom, que significaria filho de Afaçom. Na verdade, só encontrei três judeus com nomes de família que podem ser patronímicos à portuguesa: Marcos, Vicente e Manuel, se bem que este último nome também apareça como Manueell. Claramente patronímico português só encontrei um, aliás associado a um primeiro nome cristão. Trata-se de Álvaro Gonçalves, judeu, morador na cidade de Évora, que a 15.10.1454 teve perdão da justiça régia pela fuga da prisão. Mas julgo tratar-se já de um converso (ou um dos vários que, como vimos, foram por certas pessoas obrigados a converter-se), ou então um descendente de judeus de Castela, onde as conversões forçadas começaram em 1391 e desde 1449 estavam em vigor os estatutos de pureza de sangue.
A verdade é que vários judeus se converteram ao cristianismo muito antes da conversão obrigatória. E este baptismo obrigou ao abandono do nome judeu e à adopção de um outro, normalmente o do padrinho. É certamente o caso de Simão Homem, judeu, convertido ao cristianismo, que a 27.4.1473 teve perdão da justiça régia por ter ferido Yuda, judeu, e pela fuga da prisão, mediante o perdão das partes e tendo pago 400 reais para a Piedade.
O que nos leva à questão dos judeus, anteriores à conversão forçada, que ostentam nomes de famílias da nobreza portuguesa. Não são muitos, mas são alguns, sendo que esta adopção não pode estar relacionada com a conversão, pois usavam esses nomes como judeus. É o caso típico de uma das mais importantes famílias judias de Portugal, os Navarro. Sendo certo, por outro lado, que no século XV existia o nome Navarro em cristãos, como é o caso de Gomes Martins Navarro, morador em Altares, que esteve em Alfarrobeira pelo infante D. Pedro. Bem assim como uma importante família de judeus alentejanos que usava o nome Pinto. Documentei ainda judeus com os nomes do Crasto/de Castro, Lobo, Marinho, Caldeira, Caldas, de Sá, Amado e Pereira. Em alguns destes casos apenas encontrei um indivíduo com este nome, como é o caso de Isaque Pereira, judeu, morador na cidade de Évora, servidor de D. Afonso V, que a 9.7.1439 lhe confirma um privilégio D. Duarte de 9.4.1434 que o isentava do pagamento de qualquer imposto régio e concelhio, de qualquer encargo e servidões régias e concelhias, de pagar o serviço real novo em cabeças, do direito das sisas, de nenhum encargo na comuna dos judeus, bem como de trazer na roupa o sinal no peito, concedendo-lhe ainda licença para andar em besta muar de sela e freio.
Os cristãos-novos
Com a conversão obrigatória de 1497, no reinado de D. Manuel I, todos os judeus que não conseguiram fugir do país foram baptizados compulsoriamente e tiveram que abandonar os seus nomes e adoptar nomes cristãos, quer nomes próprios quer de família. Se bem que, convém dizer, esta obrigatoriedade não se estendeu imediatamente aos domínios ultramarinos, na África e na Índia, onde os judeus puderam permaneceram como tal durante algum tempo e para onde alguns foram. O judeu Bento Maça, por exemplo, era almoxarife de Azamor em 1522.
O mais interessante documento que conheço sobre os nomes adoptados pelos judeus baptizados é uma genealogia [2] dos cristãos-novos de Barcelos, escrita nos finais do século XVI, onde se inventariam todos os cristãos-novos desta cidade, começando cada família com o judeu baptizado, dando o seu nome original e o nome que então adoptou. E aqui verifica-se o que julgo ter sido a regra geral: os judeus da conversão obrigatória adoptaram sobretudo patronímicos.
De resto, o mesmo acontece com os cristãos-novos que consegui documentar como tal até à Inquisição (1536), amostra onde de facto predominam os patronímicos, assim como certos nomes claramente recuperados dos anteriores nome judeus. A saber: Manuel Alves, Diogo Fernandes, Luiz Álvares, Rui Lopes, António Rebelo, Sebastião Garro, Manuel Lopes, Pedro Homem, Diogo Mendes, Cristóvão de Brito, Fernando Rodrigues, Gabriel Dias, Francisco Lopes, Luiz Lopes, Diogo Nunes, Diogo Mendes, Leonor da Paz, Gaspar Lopes, Miguel Gomes, João Fernandes, Fernando Álvares, Henrique Dias, Cosme Dias, António Gomes, Diogo Fernandes Safim, Luiz Álvares Vitória, Luiz Vaz de Negro, Diogo da Pena, Diogo Vaz, Álvaro de Medina, Simão Fragoso, João Rodrigues, Francisco de Burgos, Francisco Mendes, Gabriel Rodrigues, António Dias e Fernando Lopes.
Na Chancelaria de D. Manuel I surgem os seguintes cristãos-novos, identificados como tal: Afonso Gomes, casado com Branca Navarro; Afonso Gonçalves, tecelão; Aires Gonçalves; Álvaro Fernandes, escrivão das sisas de Ponte de Sôr; Álvaro Lopes, alcaide-pequeno das Caldas; Álvaro Rodrigues; Braz Reinel; Diogo Manuel; Duarte Borges, alfaiate, casado com Violante Borges; Duarte Lopes; Duarte Rodrigues; Francisco Gonçalves, merceeiro; Garcia Mendes, vedor dos panos de Castelo de Vide; Gaspar Vaz; Gomes Aires; Henrique Fernandes, mercador; Henrique Lopes; João Afonso da Câmara; João Rodrigues, regatão; João Velho, grumete; Jorge Dias, sapateiro; Jorge de Oliveira; Lourenço de Paiva; Manuel Rodrigues, sapateiro; Pantalião Dias; Pedro Tristão, Rui Lopes, ferreiro; Samuel Robim e sua mulher Amada Balhamim; Simão Dias; Tomé Lopes; Tristão Apelacano; Tristão Dias, filho de António Dias; e Vicente Reinel.
Portanto, se a maioria usou patronímicos e alguns mantiveram os nomes judeus menos evidentes, outros adoptaram os nomes de famílias pré-existentes, nomeadamente dos respectivos padrinhos, o que, nalguns casos, se documenta.
Um dos casos mais conhecidos de adopção de um nome nobre é o de Fernão ou Fernando de Noronha, um importante e rico mercador que, quando demandava as costas do Brasil em busca do «pau Brasil», descobriu a ilha a que deu o nome de S. Jorge ou S. João Baptista, mas que ficou conhecida pelo seu, ou seja, Fernando de Noronha. D. Manuel I fê-lo donatário da ilha (16.1.1504), que D. João III lhe confirmou por duas vidas (3.3.1522). Fernão de Noronha chamou-se inicialmente Fernan Martinez. Era irmão de um Martin Alfonso e ambos filhos de outro Martin Alfonso, todos ricos judeus castelhanos que fugiram para Inglaterra, onde prosperam a ponto de o rei britânico lhes ter dado carta de armas burguesas. Com seu irmão Martin Alfonso, que aqui parece que foi escrivão do mestrado da Ordem de Cristo, Fernan Martinez veio depois para Portugal, onde D. Manuel I o fez cavaleiro da sua Casa e lhe autorizou a 26.8.1506 o uso das armas dadas em Inglaterra, que são: escudo partido de prata e verde, na prata duas meias rosas de vermelho, moventes da partição; no verde duas meias flores de lis de ouro, também moventes da partição e pegadas às meias rosas, e no cantão do chefe uma pomba de prata voando.
Quando D. Manuel lhe reconheceu as armas já se chamava Fernão de Noronha e tinha sido baptizado em pé - como nomeadamente conta o genealogista e heraldista seiscentista Padre António Soares de Albergaria -, quando em Portugal os judeus foram obrigados a converter-se, tendo como padrinho D.António de Noronha, 1º conde de Linhares e escrivão da puridade (espécie de 1º ministro) de D.Manuel I, de quem tomou o nome de família.
Este fenómeno era então relativamente vulgar, quer no baptismo de judeus quer de mouros ou pretos, bem como escravos. Já no fim da vida, Fernão de Noronha foi mesmo tirado do conto plebeu e nobilitado por D. João III, a 28.6.1524, que o fez fidalgo de cota de armas, com o escudo que trouxera de Inglaterra e que já D. Manuel I lhe reconhecera.
A relação com os cristãos-velhos
O cristão-novo começou por ser, face à lei, totalmente equiparado ao cristão-velho. O casamento entre cristãos-velhos e cristãos-novos passou a ser permitido por lei, embora socialmente não fosse bem visto, não só na nobreza mas também no povo.
No período que mediou entre a conversão forçada e os primeiros tempos da Inquisição, foram vários e graves os problemas entre cristãos-velhos e cristãos-novos, tendo levado à fuga de muitos destes, o que conduziu a que o rei, depois de permitir, acabasse por proibir a sua saída do reino por cartas de 15 e 18.6.1532, o que adiantou pouco. Esta situação documenta-se bem. A título de exemplo, temos uma carta de 30.6.1543 de Frei Jorge de S. Tiago a D. João III dando-lhe conta da fuga de muitos cristãos-novos e de como o Crato se ia despovoando deles; outra de 3 de Setembro do mesmo ano, de Rodrigo Rebelo, dando conta ao rei que de Lagos fugiam para Nápoles muitos cristãos-novos com mulheres, filhos e toda a sua fazenda, pedindo-lhe que lhe ordenasse o que devia fazer em semelhante caso; outra de 10.12.1525, portanto anterior à Inquisição, de D. Manuel de Azevedo, dando parte a el-rei que chegara a Veneza uma grande multidão de cristãos-novos de Portugal; e outra de 6.6.1542, de Sebastião de Vargas, aconselhando D. João III a que não era conveniente passarem a Fez cristãos-novos, porque dali fugiam para a terras dos mouros.
As acusações contra os cristãos-novos e a má-vontade popular contra o seu novo estatuto levaram D.Manuel I a emitir vários alvarás em defesa dos conversos, nomeadamente um alvará de 2.6.1512 para os corregedores da corte não aceitarem acusações tocantes à união que se fez sobre os cristãos-novos. E D. João III promulgou várias cartas de privilégio para cristãos-novos, esclarecendo que podiam participar e ser eleitos nas eleições para as câmaras, e que podiam servir nelas, que as suas aposentadorias deviam ser iguais às dos cristãos-velhos, etc. E houve mesmo a necessidade de proceder contra cristãos-velhos que não aceitavam os novos, como é o caso da prisão do madeirense Gomes Martins. A 7.12.1515 o governador escreveu ao rei dizendo que Gomes Martins, da ilha da Madeira, estava preso por dizer que se houvesse cem mancebos, como ele, matariam todos os clérigos-novos, acrescentando serem escusados os pregões para se saber quem publicou os escritos contra os cristãos-novos, por estes não quererem dar o prémio de três mil cruzados a quem o descobrisse. E o juiz de fora de Trancoso a 24.5.1547 escreveu ao rei pedindo que, pelos seus serviços, o despachasse para outra terra, por ter naquela muitos inimigos, principalmente os cristãos-novos, pelas prisões que tinha feito, e que os ditos peitaram nove pessoas para o matarem, no que entrara um clérigo, que prendera e remetera ao seu prelado.
Estas desordens e o geral descontentamento público foi dando força aos que defendiam a necessidade da Inquisição, primeiro criada a 17.12.1531, por Clemente VII, mas cuja formulação, que dava o comando a Roma, não agradou aos responsáveis portugueses, que nesse sentido escrevem várias cartas ao rei, situação que piorou quando no leito de morte o papa deu, a 8.4.1534, perdão geral aos cristãos-novos, que entretanto, de forma anárquica e sem cobertura institucional, tinham começado a ser presos e julgados pelas autoridades locais e eclesiásticas. Finalmente, com o novo papa, Paulo III, foi verdadeiramente criada a Inquisição, por bula de 23.5.1536, mas ainda não nos termos que Portugal queria, sendo D. João III aconselhado por vários responsáveis, inclusive o inquisidor-mor, a não fazer cumprir várias coisas que essa bula estabelecia.
É então que D. João III adoptou os estatutos de pureza de sangue, em vigor em Castela desde 1449, que proibia os conversos e seus descendentes de participar das corporações de ofícios, da Igreja, das ordens militares, impedia o acesso a cargos burocráticos e oficiais, e dificultava a entrada nas universidades. E, obviamente, o acesso ao sacerdócio e à própria Inquisição, nomeadamente como familiares do Santo Ofício. Sendo que, convém lembrar, a Inquisição não perseguia os cristãos-novos, mas apenas os que mantinham o judaísmo, bem como em geral todos os que estivessem contra a Igreja e as suas normas, como todo o tipo de heréticos e, sobretudo após Trento, os libertinos, sodomitas, bígamos, bruxos e feiticeiros, etc.
O certo é que para a generalidade dos portugueses, sobretudo para o povo, o baptismo forçado dos judeus foi considerado uma afronta e desde sempre muito mal visto. As famílias cristãs-velhas, da nobreza e do povo, guardavam ciosamente a sua cristã-velhice e poucos se deixaram seduzir pelo ouro judeu, agora cristão-novo e muito diminuído, embora algumas o fizessem, como é o caso bem conhecido dos filhos de Pedro Álvares Lobo, o Galego, rico cristão-novo da Galiza, nascido em Monforte de Lemos cerca de 1515, que foi para Vila Real e lá foi sentenciado pela Inquisição em 1570. Apesar disso, casou uma filha, Violante Guedes, com Gonçalo Leitão da Mesquita, com geração nos Sottomayor Mui Nobre, e uma neta com Pedro Machado, com geração nomeadamente no grande Camilo Castello-Branco.
Mas, em geral, as famílias de conversos foram cuidadosamente evitadas, observadas e seguidas. Nos primeiros tempos, na documentação oficial continuou o hábito de nomear como tal todos os judeus, que então passaram a ser nomeados como cristãos-novos.
Esta distinção, se bem que depois tenha desaparecido da documentação oficial, com a Inquisição tornou-se uma verdadeira obsessão. Saber exactamente quem eram os cristãos-novos passou a ser uma espécie de obrigação social. Ao ponto de a própria Inquisição, por exemplo nos processos para familiar do Santo Ofício, o mais das vezes o que tem é de desmentir as informações populares, que rapidamente rotulavam de cristã-nova uma família onde apenas um indivíduo casou com uma cristã-nova. São inúmeros os casos de acusação de ascendência cristã-nova que afinal se vem a provar sem fundamento, pois apenas um parente colateral do habilitado, por exemplo um tio-bisavô ou tio-trisavô, ou mesmo um primo, casou com uma cristã-nova. E tanto bastava para lançar a suspeita popular sobre toda a família.
Por outro lado, os nobiliários passaram a anotar cuidadosamente todos os casamentos da nobreza com pessoas com ascendência cristã-nova. Alão, por exemplo, é sistemático e meticuloso nesta matéria. De forma que é hoje perfeitamente possível saber, sobretudo na nobreza, quem tem ou não tem ascendência cristã-nova. E, ao contrário do que se possa pensar, são muitíssimas as pessoas da nobreza portuguesa em que é possível dizer que não têm qualquer ascendência cristã-nova. E o mesmo terá acontecido no povo, embora seja mais difícil dizê-lo com segurança, por falta de informação e documentação que permitam reconstituir toda a sua genealogia.
De facto, os casamentos entre os cristãos-novos eram extremamente consanguíneos, como aliás entre a nobreza, formando grupos geneticamente muitos fechados. É por isso que erram fatalmente todos aqueles que aplicam raciocínios estatísticos e sociológicos ao grupo genético chamado os portugueses. Porque esse grupo, desse ponto de vista, não existia. Na verdade, existiam em Portugal três grupos muito fechados: a nobreza, o povo e os judeus/cristãos-novos. Ao povo juntou-se com certa facilidade a descendência dos escravos, sobretudo africanos, mas também berberes, ou mouros, como se dizia. Além de, obviamente, galegos, outros espanhóis e estrangeiros em geral, do mesmo nível, que para cá vieram.
Os cristãos-novos em geral fecharam-se nas suas comunidades e muitos emigraram, nomeadamente para o Brasil, onde a miscigenação foi bem maior, como é natural.
A nobreza portuguesa também se misturou sobretudo com a nobreza espanhola, e europeia em geral, e, nalguns casos de remoto medievalismo, com a nobreza árabe, distinta dos berberes. De forma que todos esses raciocínios estatísticos só têm algum cabimento se aplicados apenas a cada um destes grupos. Sendo evidente, é claro, que as excepções de miscigenação também se verificaram, como convém à confirmação da regra, sobretudo com a extinção em 1773 da diferenciação entre cristão novo e velho pelo marquês de Pombal, que mandou queimar os registos cadastrais dos cristãos-novos, e que muito mais se verificam no presente e se verificarão no futuro.
2005
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[1] Vide «Sottomayor Mui Nobre», 1999, de Luiz de Mello Vaz de São Payo.
[2] Julgo que só existe hoje uma cópia, que foi apensa ao mega-processo de Diogo de Barros Selório, a quem foi recusada carta de familiar do Stº Ofº a 24.51685, depois de uma longa inquirição que começou em 1676, por ser bisneto de Catarina Fernandes, afamada de cristã-nova. Vide o meu livro «Ascendências Visienses. Ensaio genealógico sobre a nobreza de Viseu. Séculos XIV a XVII», Porto 2004.
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Boa tarde,
Encontro-me à procura de informação sobre judeus de origem polaca/alemã em Portugal, especialmente negociantes e do ramo da chapelaria, com especial incidência da zona norte do país. Encontrei apenas a família Sternberg e Ulrich, de momento, mas por uma razão de documentação genealógica pessoal é-me muito importante descobrir mais factos.
Desde já o meu muito obrigada.
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Vi, muito por acaso, a sua mensagem.
Lembro-me de um senhor Pressman, que vivia em S. João da Madeira, e fabricava chapéus e boinas.
Salvo erro era Paulo Pressman.
Não sei se ajudei alguma coisa.
Inácio Steinhardt
inacio@steinhardts.com
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro Inácio,
Desde já agreço a sua ajuda. Tem mais alguma informação sobre esta família Pressman? Não consigo encontrar nada sobre eles.
De acordo com um estudo genético e de parentesco que fiz, sou aparentada com a família Mayer/Meyer/Meihr, que terá chegado a Portugal após a Idade Média. Obviamente há toda uma mudança de apelidos que não ajuda a ir muito longe. Contudo, essa herança do fabrico de chapéus e luvas permaneceu até ao séc. XX e é o fio condutor por onde estou a complementar a genética.
Obrigada!
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
O Pressman que eu conheci não terá, que eu saiba, ligação com a sua família da Idade Média.
Salvo erro era Paulo Pressman. Deve ter vindo para Portugal da Polónia na década de 1920 ou 1930.
Tinha uma fábrica de chapeus e boinas em S. João da Madeira, nos arredores do Porto, e foi, durante muitos anos, presidente da Comunidade Israelita do Porto. Lembro-me que na antecâmara da sinagoga entregavam aos visitantes não judeus, em lugar de kipot, boinas do fabrico do senhor Pressman.
Penso que, se escrever para a nova direcção da Comunidade Israelita do Porto (encontra no Google), apesar de que as pessoas de hoje já não o conheceram, eles poderão encontrar mais informação nos arquivos.
www.comunidade-israelita-porto.org/
Desejo-lhe boa sorte nas suas pesquisas
Inácio Steinhardt
em Israel
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RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caros,
Na década de 30, passou ao Brasil -- vindo de Portugal!, mas de Coimbra -- uma família Pressmann (dois enes) que se estabeleceu em São Paulo (capital), chefiada por um certo Ludovico Jacobo Pressman, à época octagenário, cujo único filho casou-se com Maria da Graça Moreira César Marcondes do Amaral. Lembro-me bem disso porquê uma amiga da família é prima da Graça, creio que ainda viva. Porém, penso que não sejam judeus; ao menos a atual geração não o é.
Cumprimentos,
D.
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Pressmann RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Verifiquei: o filho de Ludovico chamava-se Carlos Manuel Cyr Pressmann.
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Pressmann RE: Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
De facto, constatei que não é a família que procuro. Consegui recuar até ao apelido Damas (Damasky ou Damask) de uma antepassada minha que vivia em Baião no séx. XIX...
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Minha tataravó se chamava Constança da Silva ascoli , ela era brasileira mais não encontrei mais nada e nem da onde surgiu esse sobrenome Ascoli.
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Bom dia caro confrades,
Aproveito o facto de este tópico ter aparecido novamente na lista dos mais recentes do fórum, devido a um post colocado hoje, para fazer uma pergunta / pedido de ajuda relacionado com o tema:
Há alguém que se tenha debruçado sobre o estudo das famílias Cristãs-Novas da Covilhã, e os casamentos endogâmicos dessas mesmas famílias? Coloco esta pergunta pois tenho interesse em saber a história de uma família Covilhanense em particular, que pela tradição oral será cristã-nova, mas não estando na Covilhã nem sendo Covilhanense, bati num muro intransponível de silêncio e indiferença para com o tema. Tenho vários livros e estudos académicos acerca da comunidade Judaica da Covilhã, mas existem muitas histórias que não estão escritas, apenas são conhecidas dentro de determinadas famílias, e que assim parecem querer permanecer…
Obrigado e cumprimentos,
GP Porto
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Boa Tarde
Por causa da família Castro Solla (da Reigada mas também de Trancoso) fui ter à Covilhã, Penamacor,Monsanto etc. Como eram comerciantes, andavam sempre de terra em terra. A família de Marcelo Rebelo de Sousa,(por parte da mãe) também é de cristãos-novos da Covilhã.
miguel monteiro
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Boa tarde caro Miguel Monteiro,
Obrigado pela sua resposta. Gostaria de precisar o meu pedido; o meu interesse é em famílias Cristãs-Novas da Covilhã, que casaram entre si, e ligadas aos lanifícios. Pela informação que recolhi, uma parte significativa das fábricas que fizeram da Covilhã a "Manchester Portuguesa" eram de famílias Cristãs-Novas, que depois casavam entre si. Alguém estudou ou tem informação deste tema em particular?
Obrigado e cumprimentos,
GP Porto
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro,
Sei que já faz muito tempo da publicação dessa mensagem, mas somente agora, nesse ano 2020, é que descobri, encontrei, esse Fórum. No entanto, se ainda for possível, gostaria de saber se o amigo tem uma cópia do referido Decreto de Dom Pedro que possa me enviar.
Desde já agradeço.
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
A minha solicitação é se alguém tem uma cópia do Decreto de Dom Pedro II que altera os nomes dos judeus no Brasil para nomes portugueses. Como foi posto pelo colega
"Cá vai uma lista dos nomes “aportuguesados” de judeus no Brasil por decreto do Imperador D. Pedro II:
Curia – Garcia
Albas – Alves
Aridjah – Aguiar
ElMaleh (male =sal) – Salgado
Cohen – Cunha
Mercaz – Marques"
Ficarei muito grato se alguém puder ajudar.
Abraços
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Caro confrade,
Qual é a família Covilhanense em particular que pretende informação. Tenho estudado algumas famílias ligadas aos lanifícios (Cristãs Novas).
Cumprimentos,
SC
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Bom dia caro confrade SC,
Obrigado pela sua resposta e disponibilidade. Tenho alguns dados que gostaria de comentar consigo; podia por favor contactar-me para o endereço search.ranito arroba gmail ponto com?
Obrigado,
GP Porto
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
leitura interessante e muito precisa, ninguém sabe ao certo que corre em nossas veias
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Boa tarde.
Alguém me sabe informar onde se podem consultar os processos onde se guardam os registos de conversões de Judeus Portugueses em Cristãos-Novos? Tenho alguns antepassados com nomes próprios de origem Judaica e gostaria de perceber se terei antepassados Judeus ou se é pura coincidência....
Muito obrigada
Andreia Soares Matos
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Boa noite,
Se se refere às conversões do tempo de D. Manuel I, feitas sob ameaça de expulsão, não há quaisquer “processos” ou registos escritos sistemáticos de tais conversões, embora possam aparecer referências a casos particulares em documentos de diversa ordem. O que há também é inúmeros processos da Inquisição envolvendo descendentes ou supostos descendentes de tais conversos; com sorte pode encontrar algum relativo a antepassados ou colaterais seus, mas para isso tem de conhecer bem linhas de ascendência até pelo menos ao século XVIII em que por alguma razão possa suspeitar de que existam processados pela Inquisição. Pode fazer buscas no site da Torre do Tombo, usando o TT online colocando no motor de busca nomes de antepassados “suspeitos”, etc.
Cumprimentos,
António Bivar
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Sobrenomes - Os judeus desconhecidos
Valorizo o que é escrito neste tópico. Estudo as famílias da Covilhã, lugar de nascimento de meu pai, há anos e reparei muito cedo na dificuldade de acesso ao estudo dos Cristãos Novos desta cidade e a sua ligação às fábricas de lanifícios. As suas relações familiares são muito estreitas havendo mesmo casamentos com dispensa de 2ª grau. Percebi que estas relações familiares e empresariais passavam pelo Banco Covilhanense(sec. XIX e inicio do sec XX).Tenho tentado estudar os Mendes Alçada cujo apelido se mantem desde o sec XVII, bem como os Almeida e os os Rato Fui até mais atrás do que encontro aqui no geneall, mas nada me prova a sua ligação judaica
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