Quem foi Diogo Rodrigues Botilher?
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Quem foi Diogo Rodrigues Botilher?
Diogo Rodrigues Botilher
notas para a sua biografia
1. O Livro do Armeiro-mor, 1509, regista no fólio 100 as armas de Diogo Rodrigues Butilher: de vermelho, duas copas cobertas de ouro em pala; chefe de ouro endentado de três peças e duas meias peças de azul. Reaparecem no Armorial de António Godinho (f.22v), agora com timbre (águia nascente de negro bicada de ouro e lampassada de vermelho, sainte de um ninho de prata) e tendo em chefe quatro peças de azul, em vez das três peças e duas meias. O apelido aparece agora grafado Botilher.
2. É notória a semelhança com as armas dos Butler Ormonde (se há relação genealógica, é outra questão), que esquartelaram as armas próprias (de ouro com chefe endentado de azul) com as do ofício que ocuparam): de vermelho com três copas cobertas de ouro. A similitude foi há muito assinalada num tratado de heráldica de 1892: “CUPS. As allusive to their name and office the BUTLERS of ORMONDE, etc., quartered with their personal arms (Or, a chief indented azure] the coat : Gules, three covered cups or. A Portuguese family of BOTILHER, combines these bearings. It uses : Gules, two covered cups or, and a chiefper fess indented or and azure.” (Woodward, John, 1892 - A Treatise on Heraldry British and Foreign, vol. I, p. 381, W. & K. Johnston, Edinburgh and London) ¬— disponível online em: https://archive.org/details/treatiseonherald00wooduoft/mode/2up?ref=ol&view=theater
3. Quem era o armigerado? O confronto das assinaturas de uma série de documentos, sobretudo do Corpo Cronológico, permite concluir que se trata de um indivíduo cujo percurso se documente entre 1503 e 1518: cavaleiro da Casa Real, com quatro mil reis de moradia; cavaleiro de Avis; mercador(?) de pimenta; feitor de Goa, em 1515, feitor de Cananor entre outubro de 1517 e outubro de 1518; falecido já em 1524. Nomeado como Diogo Rodrigues ou Diogo Rodrigues, inglês; assinando Diogo Rodrigues ou, a partir de 1510, Diogo Rodrigues Botilher.
a) 1503 e 1505 — provisões para se pagarem a Diogo Rodrigues, cavaleiro da Casa Real 4000 reis de tença; é nomeado Diogo Rodrigues e assina Diogo Rodrigues — CC/2/7/60 e CC/2/9/122;
b) 1510, 1512 e 1513 — idênticas provisões; nomeado Diogo Rodrigues ou Diogo Rodrigues ‘Ingres’, cavaleiro da Casa, e assinado Diogo Rodrigues Botilher¬ ¬¬— CC/2/22/157, CC/2/32/32 e CC/2/38/136;
c) 1512 — Visitação e tombo da Quinta do Mestre em Telhada, termo de Alenquer, sendo visitador Diogo Rodrigues Botelho, cavaleiro ... ; nomeado no texto Diogo Rodrigues Botilher, rubrica (em todas as páginas) e assina “Diogo Rodrigues Botilher” ¬— OACSB/B/001/0035
d) 1514 — Provisão de D. Manuel I para o recebedor da Sisa do Trigo de Lisboa dar a Diogo Rodrigues, inglês, 106.000 réis em parte dos 318.567 e meio réis que lhe eram devidos de sua pimento; assinado Diogo Rodrigues Botilher ¬— CC/2/50/174
e) 1515 — três recibos, um de novembro e os outros de dezembro de 1515 em como Diogo Rodrigues, feitor de Goa, recebeu de Manuel da Costa, feitor de Ormuz vários bens — CC/2/62/ 45, 112 e 119 — assina Diogo Rodrigues Botilher.
f) 1517/1518 — de outubro de um ano a outubro do seguinte, mais de trinta documentos referindo o feitor Diogo Rodrigues, entre eles os (dois) que sustentam a identificação: (i) o mandado de Simão da Silveira, capitão da fortaleza de Cananor, ordenando a Diogo Rodrigues, seu feitor, que pague às pessoas declaradas neste mandado, os seus soldos (CC/2/77/102), de 22/09/1518, em que há a assinatura de Diogo Rodrigues Botilher no fim de um rol; (ii) o Conhecimento em que se declara que Luís Figueiredo, feitor de Cananor, recebeu de Diogo Rodrigues Botelho, seu antecessor, as coisas contidas no rol junto (CC/2/78/19), de 20/10/1518, onde Luís de Figueiredo nomeia Diogo Rodrigues Botilher, que o antecedeu no cargo.
4. É tentador, e cronologicamente aceitável, pensar que se trata do ‘Diogo Rodrigues Inglês’ que capitaneou uma das caravelas da armada de Diogo de Azambuja que, ca. 1481, foi construir a fortaleza de S. Jorge da Mina: “[…] dos quaes navios era Capitão mór Diogo d'Azambuja pessoa mui experimentada nas cousas da guerra; e os outros Capitães eram Gonçalo da Fonseca, Ruy de Oliveira, João Rodrigues Gante, João Afonso, que depois mataram em Arguim, sendo Capitão daquella fortaleza João de Moura, Diogo Rodrigues Inglez, Bartholomeu Dias, Pero d'Evora, e Gomes Aires escudeiro delRey D. Pedro d'Aragão, […]” — Ásia, João de Barros, Década I, Livro III.
5. Fica por averiguar, não é pouco, por onde terá andado, entre 1481 e 1503, aquele que nunca se chamou Fernandes, Martins, Botilheiro ou Botelhudo, mas Diogo Rodrigues, com ou sem Botilher, cavaleiro da Casa Real e de Avis, aparentemente mercador de pimenta, feitor no Oriente no final da vida.
João Amaral Frazão
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