Santa Casa de Lisboa
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Santa Casa de Lisboa
Reparei ao procurar documentos da minha familia, nos registos paroquiais, que na regiao onde procurei, haviam muitas criancas que tinham vindo da santa Casa de Lisboa. Haveria alguma razao especial em tal acontecer? Verifiquei tambem que havia grande mortalidade nestas criancas. Na minha propria familia, ha criancas vindas de la, pois esta escrito nas certidoes, mas nao estao aperfilhadas, so dizem nalguns casos, vivia na casa do Sr. tal, tal. Acho tao estranho. Alguem sabe sobre este assunto? Obrigada, Conceicao
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RE: Santa Casa de Lisboa
Cara Conceição:
As crianças que vinham da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (ou, em geral, das Misericórdias de outras localidades) eram geralmente crianças abandonadas, ou colocadas nas "rodas dos expostos". Eram, portanto, filhas de pais incógnitos.
Habitualmente, as Misericórdias entregavam estas crianças a famílias que tomavam conta delas. Daí que fosse referido que elas viviam em casa de certa pessoa.
Infelizmente, havia muitas crianças nestas condições e, como refere, era elevadíssima a mortalidade entre elas, certamente devido às circunstâncias muito difíceis em que nasciam.
Com os melhores cumprimentos,
Rui Pereira
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RE: Santa Casa de Lisboa
Caro Rui, so nao compreendo e porque os meus antepassados iam buscar criancas a misericordia de Lisboa? Eu sei porque por exemplo, nas certidoes de casamento de uma terra, e de uma epoca, eu vi e li portanto escrito que tal e tal tinha casado, etc, foram criados em casa de tal e tal, sem pais claro, e vieram da casa da misericordia de Lisboa. Ora antigamente, so se andava a burro ou a cavalo e do Cadaval a Lisboa, ainda deveria de ser algum tempo. Porque razao o fariam? Eles proprios tinham bastantes filhos e embora pessoas aparentemente abastadas, porque necessitavam de mais criancas?
Sera que, os filhos dos cristaos novos, eram para la mandados depois dos pais serem mortos ou ate se desterrados? Ja foram feitas buscas sobre essas criancas, condicoes e a inquisicao? Obrigada, Conceicao
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RE: Santa Casa de Lisboa
Cara Conceição
A forma como coloca as coisa é bastante curiosa. Pelo que conheço sobre os expostos das Misericórdias, é perfeitamente normal o que relata. Tenho na minha família um desses casos e com distâncias maiores, de Coimbra para Sintra. Devemos lembrar que houve tempos em que não havia longe nem distância!
Passando à questão principal. Era frequente, sem ser exclusivo da Misericórdia de Lisboa, a entrega destas jovens crianças a famílias de outra região. Essas crianças passavam a crescer e a viver noutros ambientes, bastante menos agressivos em relação ao meio de onde provinham (e aqui refiro-me em concreto a Lisboa). Eram também entregues a amas com alguma intensidade até à 1ª metade do século XX. Mas na maior parte dos casos as crianças eram entregues a famílias com posses, pois essas sempre lhes podiam dar uma vida melhor. E a distância nem sequer era problema, no caso do Cadaval, pois muito provavelmente essas famílias deslocar-se-iam a Lisboa com alguma frequência. No arquivo da Misericórdia de Lisboa existe documentação que não podia ser mais elucidativa, a referente a «registos das entregas aos pais e a fidalgas».
Apesar do que parece, na vida dos expostos nem tudo é simples. Até aos 7 anos eram entregues a uma ama (designada por ama-rodeira) e depois voltavam para a Misericórdia onde ficavam a receber instrução até aos 12 anos. Com esta idade eram entregues como criados a quem lhes pudesse pagar, ficando até aos 21 anos sob a protecção do juiz dos órfãos. Pelo menos foi assim até ao século XIX e não quer dizer, necessariamente, que tenha sido assim com todos os expostos. Casos haverá em que o percurso de vida tenha sido divergente em relação à norma.
Quanto às suas últimas observações, acerca da Inquisição e cristãos-novos, peço antecipadamente desculpa pela franqueza, não fazem muito sentido, pois os «expostos da roda» eram na maior parte dos casos filhos de pais desconhecidos. Sendo assim, como se poderá saber se eram filhos de cristãos-novos ou cristãos-velhos? Ou mesmo filhos de pais de qualquer outra religião. A Inquisição não inquiria apenas os cristãos-novos e, tanto quanto sei, nem todos os cristãos-novos foram mortos. Era um exagero, mais do que foi, se assim tivesse sido.
Cumprimentos
Jorge Afonso
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RE: Santa Casa de Lisboa
Caro Jorge Afonso, a unica razao de que mencionei a inquisicao, talvez nao tenha sido a mais apropriada. Os meus antepassados, portanto, iam buscar aparentemente criancas para serem educadas e crescidas em sua casa, lembro-me ate de ler sobre um "preto", que casou com pessoa da sua raca, e saiu de casa de meus antepassados. O que eu deveria ter dito seria, para onde iriam as criancas orfas pela inquisicao? Saberiam os cristaos novos, de criancas expostas nas misericordias de algumas areas, e ou familiares ou gente da nacao os fossem buscar? Claro que nao era a populacao inteira, so que me recordo do Dr. Mario Soares ter dito ha ja uns anos que pelo menos 68% da populacao Portuguesa de ha uns dez anos, tinha sangue Judeu. Incluindo meu Caro, a Casa de Braganca, que comecou pelo D.Joao I e Ines Peres, filha do barbadao da Guarda.O que quer dizer, que o primeiro Duque de Braganca, e sua irma D. Beatriz de Portugal, eram filhas de uma Judia, embora tenham sido criados como cristaos e sua MAe ter acabado num convento. Estes filhos como deve saber, nasceram antes do casamento com a D. Filipa de Lencastre. Ui mas, ja estamos a ir muito longe, e nao e necessario. Eu gostava imenso de compreender as normas das Misericordias. Incluindo as dos meios mais pequenos. Cumprimentos, Conceicao
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RE: Santa Casa de Lisboa
Cara Maria da Conceição
Sobre as crianças que entravam na Misericórdia já existem alguns estudos. Tudo depende da região que procura para poder dar uma informação mais correcta. Sei, pelo menos, que a Misericórdia de Lisboa já publicou alguns livros relacionados com o assunto.
Quanto à Inquisição, estive a ver recentemente o regimento de 1613 que, no Capítulo XV diz o seguinte:
Os inquisidores se informarão dos filhos dos relaxados e conciliados menores de catorze anos, assim de sua pobreza como do estado em que estão, para os mandarem doutrinar e darão disso conta ao Inquisidor-Geral e Conselho, o que se cumprirá com efeito, sem embargo de não se fazer até agora.
Li também algures, assim que me lembrar onde dir-lhe-ei, que os menores eram entregues ao cuidado do Juiz dos Órfãos, tal como sucedia com os expostos da Misericórdia, devendo este providenciar a sua educação e doutrinação na fé cristã, após o que os entregaria como criados a quem os pretendesse.
Recomendo que veja o texto «Protecção e reeducação dos menores abandonados, marginados e delinquentes do século XIX a 1962», de Ernesto Candeias Martins (http://www.geocities.com/athens/olympus/7501/ver003.htm).
Cumprimentos
Jorge Afonso
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RE: Santa Casa de Lisboa
Caro Jorge afonso, muito interessante. Tenho ca uma sensacao viscera, que haveriam familias de cristaos novos, que talvez procurassem essas criancas para as educar em suas casas, onde por vezes, as leis antigas predominavam as escondidas. Ate faz sentido, agora que li a sua mensagem. Pois que necessidade treriam os meus antepassados de irem buscar criancas do Cadaval a Lisboa, se tinham 11 e doze filhos proprios? Faz mesmo sentido aos nao sentenciados, irem buscar os filhos da Nacao. Que interessante seria aprofundar esse assunto e ate um estudo, tese, etc.
Acabo de ler um livro The Queens Fool, por Phillipa Gregory, ficcao historica, sobre a vida precisamente de uma moca espanhola, portuguesa, sei la, em tanto lado passou, que conseguiu fugir depois de ver a Mae ser queimada no Rossio. Este livro e sobre as Boleyn e a rainha Mary Inglesa. Intrigas da corte etc.
Vou ver se consigo comprar o livro a que se refere. Agradeco imenso a sua informacao. Maria da Conceicao
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