Timbre de Tavares
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Timbre de Tavares
Cf. entre outros Braamcamp Freire "Armaria Portuguesa" é um pescoço e cabeça de cavalo de vermelho bridado a oiro.
Contudo a minha família tem uma carta d'armas de 1802 (Nobreza e Fidalguia - D. João, Príncipe Regente) com um cavalo branco nascente, selado e bridado a oiro.
Durante anos pensei que a diferença no timbre traduzia o cepticismo do Rei d'Armas quanto ao agraciado pertencer aos Tavares da antiga linhagem mas, só agora, tive conhecimento que o Mesmo Braamcamp Freire em "Brasões da Sala de Sintra" (INCM 1973, Vol. I, pg. 36, nº 37) refere um cavalo branco, de sua côr, nascente, bridado de oiro.
Agradeço qualquer informação especialmente de outros Tavares com um cavalo branco nascente pera 'ftalmeida@mail.telepac.pt'.
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RE: Timbre de Tavares
No “Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas” de António Godinho, o timbre de Tavares é pescoço e cabeça de cavalo de vermelho, bridado de oiro.
Não sou heraldista, mas suponho que isto encerra a questão.
No entanto, o caso da sua família deve ser erro do Rei d’Armas. Acho muito cedo para ser uma Mercê Nova e, além disso, se fosse este o caso, julgo que também as armas do escudo deveriam mudar.
Não deve pois tirar conclusões sobre a origem desses Tavares pela côr do cavalo! Esse problema só deverá ser respondido pela Genealogia e não pela Heráldica.
Cumprimentos,
Vasco Jácome
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RE: Timbre de Tavares
1 - No “Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas” de António Godinho, o timbre de Tavares é pescoço e cabeça de cavalo de vermelho, bridado de oiro.
Só que isto não encerra a questão.
(O que segue é quase integramente citado de Anselmo Braamcamp Freire, ainda que truncado e completado por elementos de ligação que dão sentido às citações)
2 - Antes do livro de António Godinho, existiram dois, o “ Livro antigo dos Reis d’Armas” e o “Livo do Armeiro-Mor” - que não tinham timbres - ambos mandados fazer por D. Manuel que foi quem cuidou em estabelecer certas regras e acabar com o arbítrio no uso das armas.
3 - Apesar das acuradas investigações, reconheceu-se que ao livro de António Rodrigues, “Livro do Armeiro-Mor” ou “Livro Grande” faltava a perfeição. Para remediar isto encarregou D. Manuel a António Godinho, escrivão da câmara, de emendar os erros contra as regras da armaria cometidos, e de acrescentar o que necessário fosse, principalmente os timbres, a cada uma das linhagens.
(Principalmente os timbres).
4 - Começou António Godinho o seu livro ainda no reinado de D. Manuel e há folhas em que se pode precisar o tempo em que foram iluminadas. A sétima, no verso e toda a oitava, feitas entre 9 de Setembro de 1516 e 7 de Março de 1517.
(Ainda muito longe dos Tavares).
E terá terminado a sua obra depois de 1528, e antes de 1541.
5 - A Sala dos Brasões, ou dos Veados, ou das Pegas, no Paço de Sintra, foi igualmente mandada fazer por D. Manuel havendo a certeza de ter sido pintado o tecto entre 1515 e 1520, muito provavelmente no ano de 1517 a 1518, entre a segunda viuvez de D. Manuel e o seu terceiro casamento. E, para os brasões dos veados, serviu de modelo o Livro de António Godinho e não os anteriores que não tinham timbres.
(Aqui terminou a exclusividade das citações)
6 - Há assim toda a probabilidade da pintura do brasão dos Tavares em Sintra, ter precedido de alguns anos, a iluminura no livro de António Godinho. Mas em Sintra, o timbre de Tavares é um cavalo branco, de sua côr, nascente, bridado de oiro.
7 - Ao arrepio do que um leigo imaginaria - por identificação de armaria com cavalaria - poucas são as linhagens que têm cavalos nos timbres. Portocarrero (cavalo nascente de oiro, bridado e enfreiado de azul) ; Severim (cavalo nascente de vermelho); os que descendem de Jorge Dias Cabral (pescoço e cabeça de cavalo de prata, bridado de vermelho e oiro, com quatro lançadas em sangue, que também goteja da boca); Tavares, acima descrito em 1; finalmente os Duques de Bragança, seguidos pelos de Cadaval, pelos Faros e não sei se por mais alguma Casa neles originada, que têm timbre idêntico ao dos Tavares, pescoço e cabeça de cavalo de vermelho, bridado de oiro. Outros haverá mas posteriores pelo que para aqui não interessam.
8 - Também não se conhecem muitas excepções a este timbre de Tavares: Braamcamp Freire, cita uma C.B.A. de 1534 (cavalo selado, nascente, de vermelho, bridado de oiro) e, estranhamente, esquece Sintra que ele próprio descreve; Monarchia Lusitana, Nobiliarquia Portuguesa, C.B.A. de 1788 (cavalo nascente de vermelho, bridado de oiro); e eu, C.B.A. de 1802 (cavalo branco nascente, selado e com freio de oiro), ou seja, a versão de Sintra acrescentada da sela.
9 - A importância social e política do primeiro duque de Bragança é desmesurada não permitindo qualquer tipo de comparação com os Tavares que, contudo, levam de antiguidade aos Braganças “grosso modo” dois séculos e meio. Quer dizer que, não fazendo qualquer sentido ir o duque buscar o timbre aos Tavares, já um qualquer Tavares se engrandeceria adoptando o timbre dos Braganças.
(O que imediatamente segue apenas deve ser lido por pessoas não inteiramente desprovidas de sentido de humor).
A não ser que afinal o Barbação fosse Tavares e D. Afonso quisesse de honrar o avô.
10 - O que poderia ter levado António Godinho a, depois de com base nos seus estudos, se ter pintado Sintra, iluminar o brasão dos Tavares com o timbre dos Braganças, sendo certo que outros timbres seriam usados por Tavares, pelo menos o de Sintra, provavelmente o de 1534 referido por Braamcamp Freire, possivelmente ainda mais?
(O que segue é pura especulação, sem base histórica, mas, na minha óptica, não deixa de constituir uma hipótese interessante)
11 - António Godinho, escrivão da câmara, escrivão da côrte, ou escrivão da câmara e do desembargo do paço, não nos dá, nem de forma aproximada, a verdadeira dimensão e importância da personagem que, além de Castelo Branco e da primeira nobreza do reino, foi um dos cerca de vinte fidalgos que asseguravam a segurança de D. Manuel e pernoitavam na sua antecâmara.
Contudo, após a morte do Rei em 13 de Dezembro de 1521, perdido o acesso informal ao Soberano, terá igualmente perdido muita da sua importância.
12 - Dou como certo que o pescoço e cabeça de cavalo de vermelho não seria o timbre dos Tavares nem sequer o da maioria destes pois, se assim fosse, lá teria D. Afonso de Bragança ido buscar-lhes o timbre. Também não considero que entre 1442, atribuição do senhorio de Bragança com o título de Duque, e 1541, última possível data de acabamento do Livro de António Godinho, tivessem os Tavares ou a maioria deles adoptado o timbre dos Braganças, pois Sintra e a C.B.A. de 1534 vão contra essa improvável hipótese.
13 - Por outro lado, algum Tavares usaria o pescoço e cabeça de vermelho pois, se nenhum usasse, não faria sentido atribuir-lha e, além do mais, constituiria ofensa gratuita aos Braganças. Aliás, tenho para mim que a atribuição do timbre dos Braganças aos Tavares nunca terá sido feita contra aqueles mas antes com o seu beneplácito, porventura por sua influência.
14 - O que considero mais provável ter acontecido é que um determinado Tavares, com alguma ligação aos Braganças - aqui as hipóteses são inúmeras, desde o serviço da Casa ao acompanhamento de D. Afonso ao cerco de Ceuta - tenha, com sua autorização ou por sua mercê, adoptado o seu timbre. E que, morto D. Manuel, António Godinho tenha sido permeável a um pedido ou do próprio, eventualmente seu antigo companheiro na Guarda do Rei ou do Duque - D. Jaime ou D. Teodósio - que poderia querer perpetuar eventual mercê de um seu antecessor, concedida antes de D. Manuel mandar estabelecer regras no uso dos timbres.
15 - Daqui concluindo eu que, com excepção de estirpe que descenda do eventual Tavares que primeiro usou o timbre dos Braganças, a todos os outros a quem foi passada C.B.A. e que não fossem armas novas, teria sido mais correcta a atribuição do cavalo nascente. E que, no desconhecimento histórico e genealógico dessa particular estirpe, a todos os Tavares deveria ter sido atribuído o cavalo nascente.
16 - Alguns Reis d’Armas foram particularmente ignorantes mas a grande maioria conhecia o seu ofício e é impensável admitir que um Rei d’Armas Portugal no séc. XIX desconhecesse a Sala dos Brasões de Sintra. Por isso acho mais provável que o timbre da C.B.A. de 1802, concedida ao desembargador Francisco Tavares de Almeida, não tenha sido um erro mas uma opção, apesar do “Livro da Perfeiçam das Armas”. E, por simples curiosidade, gostaria de saber se algum Rei d’Armas anterior terá exercido idêntica opção ou se Manuel Joze Gonçalves foi inovador.
Termino renovando o meu pedido de que, se algum leitor tiver conhecimento de alguma Carta de Brasão d’Armas com timbre de Tavares, diferente do pescoço e cabeça de cavalo de vermelho, bridado de oiro, me faça chegar esse conhecimento.
Claro que ainda mais agradeço explicação para a identidade dos timbres dos Braganças e dos Tavares porque nunca vi tal facto tratado nem comentado.
Antecipadamente grato,
Francisco Tavares de Almeida
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