Dinâmica das populações humanas
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Dinâmica das populações humanas
Caros colegas,
Após um ano de pesquisa em que recuei quase quinhentos anos na história da família de meu pai, faço algumas observações. Meu avô paterno era de Póvoa de Rio de Moinhos e minha avó paterna, brasileira, tinha sua mãe nascida na Meda. O pai de minha avó paterna eu ainda desconheço sua naturalidade. Atualmente penso que ele é do Porto.
A família de meu avô paterno ainda está em Póvoa de Rio de Moinhos no século dezesseis. Alguns antepassados meus mudaram-se para a Póvoa e entre eles, a maioria veio de outras freguesias de Castelo Branco, como Alcains e Escalos de Baixo, entre outras. Alguns poucos vieram da Guarda ou Viseu e raríssimos foram os que vieram de algum outro lugar.
A mesma constatação faço em relação à família de minha avó que veio da Meda. Há uma tendência a se ficar no lugar de origem. Vários antepassados meus foram para a Meda e a maioria vem de concelhos vizinhos como Trancoso e Outeiro de Gatos, entre outros. No caso de Meda houve uma exceção de um antepassado que veio de um local mais distante, de Braga. Ele mudou-se de Braga para a Meda cerca de 1800.
Eu não consegui me aprofundar muito, ainda, pela família de minha mãe. Mas tudo indica que eles são de Coimbra e Leiria.
Eu não sei se é coincidência mas eu não tenho antepassados que vieram do sul de Portugal. Todos estão do centro para o norte. Estrangeiros eu também até agora só encontrei dois que são espanhóis.
Eu ainda estou longe de chegar ao fim de minhas pesquisas pois ainda posso recuar até onde me permitem os registros das igrejas. Porém, como a emigração tem uma freqüência relativamente muito baixa, eu posso concluir que se eles estavam lá em 1500 também devem ter estado lá em 1100 e provavelmente estavam lá quando da dominação romana (estou me referindo à Povoa de Rio de Moinhos).
Eu não sou profissional das ciências humanas e provavelmente eu estou me espressando mal. Mas o que quero dizer é que se eu quiser estudar minha família de Póvoa de Rio de Moinhos anteriormente ao que me permite os registros, basta estudar a povoação que muito provavelmente eu estarei estudando meus antepassados.
Cumprimentos
Lourval
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Caro confrade,
Acho que está naquele twighlight zone de querer saber mais sem saber muito bem para onde olhar, entre a relativa certeza dos registos e o que lhe parece pura dedução a partir de sugestões indirectas, inferências, indícios que irá encontrar (ou não!) na bibliografia.
Pode ser que tenha razão. Estudar em termos genéricos o que se passou por ali é de alguma forma estudar o que pode ter-se passado com os seus ancestrais. Só que ...
Aquilo é uma zona de fronteira. Como tal, foi durante muito tempo invadida, atravessada por gente de todos os sítios, que por lá foram ficando e deixando descendência. Por outro lado, era política de sucessivos reinados fomentar o povoamento de terras de fronteira, entre outras formas, com a criação de 'coutos de homiziados': quem era fugido à justiça, fosse de que terra fosse, ia para essas zonas e se lá ficasse ninguém o ou a prendia.
Daí que nunca vai saber qual a proporção dos seus avoengos a que essa História local diz de facto respeito.
Uma forma de acrescentar aos registos paroquiais é pesquisar nos Arquivos Distritais documentos vários que se refiram às terras do seu interesse. P.ex., nos Documentos dos Cabidos das Sés, nos dos Conventos, Irmandades locais, há os arrendamentos das terras que lhes eram doadas. Se esses documentos estiverem organizados com índices, poderá descobrir mais coisas do que os paroquiais dizem e para tempos mais recuados.
O melhor é perguntar no ADCB. Eles poderão sugerir mais formas de retirar informação aos documentos que têm. No de Viseu há índices para tudo e mais alguma coisa, o que é óptimo.
Cumprimentos e boa continuação de pesquisas. VF
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RE: Dinâmica das populações humanas
Caro Lourval:
O tema que agora trouxe a este Fórum é muito interessante e merece certamente uma análise aprofundada.
Não me surpreende que o seu avô paterno não tenha quaisquer antepassados do sul de Portugal. Refiro-me apenas a esta parte da sua família pois, tendo as ligações posteriores ocorrido já no Brasil, os seus outros avós poderiam ser de outra região de Portugal, ou até de outros países, sem que isso alterasse o essencial da situação.
A minha família paterna tem uma distribuição do mesmo tipo. É originária de Casegas, uma aldeia do concelho da Covilhã. Nas gerações mais próximas todos os meus antepassados são de Casegas, e mesmo nos séculos XVII-XVIII a esmagadora maioria dos meus ascendentes é de localidades a menos de 20 quilómetros de Casegas. Entre os cerca de 1000 antepassados paternos que tenho documentados (muitos dos quais por várias vias) não há nenhum estrangeiro, nenhum é do sul de Portugal e, exceptuando o ramo de um antepassado do Minho que se estabeleceu em Casegas onde casou em 1720, todos são das Beiras.
Como diz, "eles" lá estavam em 1900, em 1500, e certamente em 1100 e antes. Resta porém saber exactamente o que se entende por "eles".
Recuando tempo suficiente (talvez até 1100, 1000 ou 900, mas certamente não será necessário recuar muito mais), todos os habitantes do actual território português cuja descendência não esteja extinta serão nossos antepassados. Com um detalhe muito importante: os habitantes da região de origem da nossa família imediata (no seu caso Póvoa de Rio de Moinhos, por exemplo) serão nossos antepassados muitos milhares ou mesmo milhões de vezes enquanto os do outro extremo de Portugal apenas serão nossos antepassados 5, 10 ou 20 vezes. Esta diferença tem de existir, e é por ela que se explica que se tenham mantido ao longo dos últimos milénios diferenças físicas significativas entre as populações de diferentes países e regiões da Europa.
Quanto à sua afirmação:
"se eu quiser estudar minha família de Póvoa de Rio de Moinhos anteriormente ao que me permite os registros, basta estudar a povoação que muito provavelmente eu estarei estudando meus antepassados."
Mais que "muito provavelmente", é uma certeza praticamente absoluta. Mas repare que pelo mesmo raciocínio pode estudar a época muçulmana da Península Ibérica, o Império Romano ou até a civilização da Suméria: em cada um dos casos todas ou quase todas as pessoas sem descendência extinta serão seus antepassados. No entanto, a ligação exacta é desconhecida e para mim, pessoalmente, o que é realmente interessante é conhecer as ligações exactas - quem é filho de quem. Mesmo nessa situação, as ligações familiares começam a perder o significado que normalmente lhes atribuímos: posso chamar a um oitavo ou nono avô "o meu antepassado Fulano" mesmo sendo um de (presumo) centenas ou milhares de descendentes, pois sei que menos de um milésimo dos portugueses é descendente dele e portanto eu tenho, desse ponto de vista, uma ligação especial com ele; mas será razoável fazer o mesmo com um vigésimo ou trigésimo avô? Será razoável aplicar, sem ser de forma mais ou menos humorística, a expressão "o meu antepassado" a D. Afonso Henriques, a Egas Moniz, a Carlos Magno ou a Manuel, servo anónimo vivendo numa obscura aldeia medieval? Pessoalmente parece-me que não. Sinto o mesmo quando falo com pessoas de Casegas (que não as da minha família próxima) sobre as minhas investigações familiares: aí raramente trato algum dos meus oitavos ou nonos avós por "o meu antepassado ..." porque em muitos casos a pessoa com quem estou a falar também descende do mesmo antepassado - ele já não é só "meu". Digo geralmente apenas que "é meu antepassado" ou que "descendo dele". É uma diferença subtil de linguagem, mas que para mim é importante.
Com os melhores cumprimentos,
Rui Pereira
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Caro Victor Ferreira,
Seus comentários são bem interessantes e esclarecedores. Entre estes outros documentos que não os registros paroquiais, o único que pesquiso são as inquirições de gênere mas somente as do Arquivo Distrital de Braga que estão ´on line´ e graças ao António Mota, cuja gentileza é imensa, quase inacreditável, que as transcreve para quem os solicita. Seria muito interessante que os outros arquivos distritais copiassem o exemplo do de Braga. Tenhos muitos antepassados na Guarda e em Castelo Branco mas de onde estou, é praticamente impossível pesquisar as inquirições de gênere nestes arquivos. Tudo isto sem citar as outras fontes de informação que citou em sua mensagem. Você realmente tem razão: há muito o que pesquisar para além dos registros paroquiais. Obrigado.
Cumprimentos
Lourval
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Dinâmica das populações humanas
Caro Rui Pereira,
Bastante interessante o seu comentário. As leis que regem este fenômeno, o da emigração, numa linguagem análoga às ciências exatas, eu diria terem componentes altamente não lineares. Como você, eu também tenho um antepassado que veio do Minho e ´caiu´ lá na Guarda, inesperadamente. O que o levou a esta mudança brusca, só Deus sabe. Da mesma forma, os descendentes de meu avô, da Póvoa de Rio de Moinhos, daqui há mil anos, levarão um susto quando, inesperadamente, saírem da costa do sul do Brasil e tiverem de atravessar o Atlântico para continuarem suas pesquisas.
Estas mudanças bruscas podem por um termo (fim) em certos ramos. Cito o exemplo de minha bisavó Leopoldina da Meda. Ela emigrou para o Brasil em 1893 e ela sempre deixou claro que ela era da Meda. Foi a sorte, pois os livros de 1891 da Meda sumiram! E ela nasceu em 1891. Eu nunca encontrei e nem vou encontrar seu batismo, mas encontrei lá os de seus pais.
Meu trisavô Júlio Teixeira que há mais de um ano procuro a sua naturalidade, não deixou nenhum sinal dela aqui no Brasil. Mas eu tenho esperanças de encontrá-la. Mas se os livros do ano que ele nasceu sumiram......é o fim!
Eu gostaria de um dia poder modelar, supondo certas simplificações, quanto tempo eu teria de recuar para poder dizer que em dado ano todos os habitantes de uma certa freguesia seriam todos meus antepassados e depois estender a modelagem para um concelho e assim por diante. Eu acredito que admitindo certas simplificações, este cálculo não seria tão difícil de se obter.
Cumprimentos
Lourval
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