Negro- pode ser cavaleiro Ordem Santiago séc. 16 ?

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Negro- pode ser cavaleiro Ordem Santiago séc. 16 ?

#179868 | JMC | 10 janv. 2008 14:55

Vi uma reprodução de um quadro da Lx do séc. 16, onde aparece no Chafariz dél rei, entre vária população, um negro trajando à fidalgo montado a cavalo e com uma capa da Ordem de Santiago. Ísto será possível ou recreação apenas de uma pintura, sabendo a exigência de habilitações e limpeza de sangue que existia para entrada nas Ordens nesse século ?

Agradeço contributos.

JMC

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RE: Negro- pode ser cavaleiro Ordem Santiago séc. 16 ?

#179873 | Augustus_o | 10 janv. 2008 15:07 | In reply to: #179868

Caro JMC,

uma mera hipótese, é que estaria a representar algum familiar do Rei do Congo, pois muitos vieram a Portugal como convidados de honra e posteriormente baptizados (salvo erro em Lx ou Évora ou Beja)

Cpts,
Augusto

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RE: Negro- pode ser cavaleiro Ordem Santiago séc. 16 ?

#179987 | Joman | 11 janv. 2008 04:10 | In reply to: #179868

Caro JMC

Digamos que seria difícil mas não era impossível. Veja este caso:

“Fez-se consulta a V. Majestade sobre o defeito que se achou nas provanças que se fizeram a André Álvares de Almada, morador no Cabo Verde, para efeito de receber o hábito da ordem de nosso Senhor Jesus Cristo, de que V. Majestade lhe tem feito mercê, ao qual se achou ser sua avó da parte de sua mãe negra, também natural do dito Cabo Verde, e não foi V. Majestade servido dispensar com ele. E porque se lhe não declarava seu despacho, fez petição, a qual se viu nesta Mesa, por mandado de V. Majestade, em que diz que por respeito de seus serviços lhe fez V. Majestade mercê do hábito da ordem do nosso Senhor Jesus Cristo, com quinze mil reais de tença. E que feitas suas provanças para o efeito de o receber, se achou que era neto de uma mulher preta por parte de sua mãe, pela qual razão não fora V. Majestade servido que se lhe deitasse o dito hábito, sendo seu pai, Ciprião Álvares de Almada, do hábito de Santiago, o qual casara na dita ilha com sua mãe, que era mulher parda, cujo pai era nobre, e dos principais daquela ilha. E que seu pai Ciprião Álvares fora capitão e defensor dela. E que ele Suplicante tem servido a V. Majestade com muito ânimo e esforço em todos os assaltos, sucessos e cometimentos que os inimigos ali fizeram, matando muitos, e os desbaratou por muitas vezes, estando actualmente servindo de Capitão de uma Companhia, com a qual tem feitos muitos e grandes serviços, acudindo ao cerco que os inimigos tinham posto à dita fortaleza, na qual estava Brás Soares muito apertado deles, e com sua boa indústria e valor fez tais, e tão assinaladas coisas, que constando a V. Majestade delas lhe fez honras e mercês, mandando-lhe lançar o dito hábito.
E porque depois disto tem feitos muitos, e grandes serviços, pelos quais merecera de novo muito grandes mercês, como em semelhantes casos V. Majestade e os reis passados seus antecessores costumam fazer e honrar aos homens cavaleiros como ele. E que em tais ocasiões mostrou tanto zelo do serviço de V. Majestade e esforço.
Pede a V. Majestade, havendo respeito a seus serviços serem feitos com tanto zelo e tão assinalados, lhe faça mercê de dispensar com ele no defeito que ele tem de sua avó da parte de sua mãe.
Pareceu que vista a boa informação que se houve do Suplicante, do zelo e ânimo, com que se achou sempre presente em todas as ocasiões do serviço de V. Majestade, deve ser servido dispensar com ele no defeito, de que se faz menção, para que assim ele, como os mais virem as honras, e mercês que V. Majestade faz aos que bem servem, se animem a o fazer.
Em Lisboa, 19 de Agosto de 1598.”
Padre António Brásio, Monumenta Missionária Africana - África Ocidental, 2ª série, vol. III, doc. 106, pp. 428-430.

A cerimónia ter-se-á realizada depois de 23 de Janeiro de 1603, pelo governador Fernando de Mesquita e Brito.
Note-se que o documento não aponta os nomes das mulheres e nem faz referências a se os avós maternos eram casados ou não, mas o problema da ilegitimidade não se colocava porque, para os nobres, a lei portuguesa da altura era, neste campo, bastante tolerante considerando que os filhos naturais e os bastardos, também gozavam da condição de nobreza de seus pais ainda mesmo que suas mães fossem escravas, desde que, claro, o filho em questão fosse de condição livre na altura da morte do pai.

Seriam mais rigirosos para a Ordem de Santiago?

Joman

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RE: Negro- pode ser cavaleiro Ordem Santiago séc. 16 ?

#180032 | JCC | 11 janv. 2008 15:17 | In reply to: #179987

Eu diria que a mais exigente era a Ordem de Cristo

Cumprimentos

João Cordovil Cardoso

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Negro- pode ser cavaleiro Ordem Santiago séc. 16 ?

#377972 | centeno13 | 22 févr. 2017 22:20 | In reply to: #179868

Dois exemplos conhecidos de oficiais generais, fidalfos e cavaleiros da Ordem de Cristo no sec XVII.
D. Filipe Camarão, índio
https://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_Camar%C3%A3o
Henrique Dias, negro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Dias

João Centeno

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