Heráldica: Os Sodrés não eram Sudleys

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Heráldica: Os Sodrés não eram Sudleys

#233042 | Sérgio Sodré | 30 juin 2009 22:17

Caros colegas

Em 1991 julguei que a Heráldica demonstrava que as tradições de genealogias manuscritas que davam os Sodré portugueses como derivando dos Sudley ingleses eram verdadeiras. Então, recorri a armoriais ingleses onde vi que existiam ramos dos Boteler (Butler) ingleses com brasões muito semelhantes aos dos Sodré e reparei que, por volta de 1341, um William Boteler casara com uma Joane Sudley, e isso conjugava-se com a tradição que afirmava os Sodré como Sudley. Havia vários argumentos circunstanciais aparentemente correctos e também reparei que um William Boteler (de Kirkland) até tinha o chaveirão do escudo com as três estrelas vermelhas como os Sodré, a única diferença eram as copas ou taças de ouro e não de prata. Assim, os Sodré poderiam ter ido buscar as armas ao lado paterno e o nome do lado materno. Teriam entrado em Portugal por um filho segundo ou mesmo por via feminina, e cá o seu estatuto era apenas o de escudeiros ligados á Casa Real e não mais que isso... Uma campa de finais do séc. XV início do XVI também referia os Sodré como senhores ingleses e outros aspectos vários pareciam corroborar a hipótese... Mas a heráldica parecia-me decisiva e conclusiva. Sem encontrar novos elementos, abandonei o tema durante anos.
Em 2008, a revista Armas e Troféus publica um vasto e imprescindível artigo sobre a origem dos Sodré da autoria dos investigadores Manuel Soveral e Manuel Lamas, com o apoio de especialistas em paleografia, que me leva a regressar ao assunto das origens daquele apelido e, pelas 22 horas de 12 de abril de 2009, apercebo-me definitivamente que tinham toda a razão na descrença da ligação tradicional Sodré - Sudley.
Era outra vez a Heráldica. Em 1991 não recorria ainda à internet, mas naquele dia vi claramente que o William Boteler (de Wemme) que casara com Joane Sudley nada teria a ver com o William Boteler (de Kirkland) que tinha armas quase iguais aos Sodré. Os Boteler de Wemme que foram por décadas senhores de Sudley usavam um brasão completamente diferente, como qualquer pessoa pode observar abrindo as páginas inglesas da internet relativas à história do castelo de Sudeley. São de vermelho, uma faixa xadrezada de prata e negro acompanhadas de seis cruzes de ouro, três em chefe e três em ponta (leitura talvez não muito perfeita).
Assim, mesmo que seja possível uma qualquer ligação entre o brasão dos Sodré e o de um ramo Butler, deixa de fazer sentido remeter para os Butler e os Sudley, e, sem esta peça fundamental, a tese Sodré-Sudley-Boteler cai e ocorre um efeito dominó em toda a argumentação associada.
Só posso reconhecer que estava errado e demasiado empenhado em "descobrir" qual a origem de um apelido e umas armas "misteriosos". Uma vez o argumento desfeito é fácil perceber como surgiu a "lenda".

Há muito a dizer ainda sobre este assunto e continuarei a levantar diversas questões que os documentos conhecidos, nomeadamente os recém-publicados, suscitam. Tenho já algumas hipóteses de explicação (nome e armas), mas são mais pontos para discussão do que teses documentadas (embora não meras invenções).... receio que nunca se venha a saber a verdade.

cumprimentos a todos.
Sérgio Sodré

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RE: Heráldica: Os Sodrés não eram Sudleys

#233097 | 1385 | 01 juil. 2009 17:05 | In reply to: #233042

Sempre aberto à reflexão. Sempre pronto a abrir janelas e refazer percursos. Sérgio você constitui um exemplo que gostaríamos de ver seguido. Como já escrevi a propósito de autores auto indulgentes, mas sempre lestos em fulminar (ás vezes com que arrogância) êrros alheios o Sérgio nunca perdeu de vista
Bem Haja por essa postura academicamente correcta!

Manuel

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RE: Heráldica: Os Sodrés não eram Sudleys

#233099 | 1385 | 01 juil. 2009 17:14 | In reply to: #233097

Ignoro porque motivo a minha última mensagem saiu truncada, Ela terminava assim: o Sérgio nunca perdeu de vista que conhecemos pouco mais do que a extensão do que ignoramos
Também o contraditório do Manuel Abranches de Soveral ficou no tinteiro...
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• Heráldica: Os Sodrés não eram Sudleys Sérgio Sodré 30-06-2009, 22:17
• RE: Heráldica: Os Sodrés não eram Sudleys » 1385 01-07-2009, 17:05

RE: Heráldica: Os Sodrés não eram Sudleys 01-07-2009, 17:05
Autor: 1385 [responder para o fórum]
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Sempre aberto à reflexão. Sempre pronto a abrir janelas e refazer percursos. Sérgio você constitui um exemplo que gostaríamos de ver seguido. Como já escrevi a propósito de autores auto indulgentes, mas sempre lestos em fulminar (ás vezes com que arrogância) êrros alheios o Sérgio nunca perdeu de vista
Bem Haja por essa postura academicamente correcta!

Manuel

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Utilizador: 1385 (Logout)


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Ignoro porque motivo a minha última mensagem saiu truncada, Ela terminava assim: o Sérgio nunca perdeu de vista que conhecemos pouco mais do que a extensão do que ignoramos
Também o contraditório do Manuel Abranches de Soveral ficou no tinteiro
A questão é esta:

Rodrigo Álvares Pereira anda, na História, muito confundido com Rui Pereira (3º marido de Violantes Lopes de Albergaria). E, como verifiquei, houve na própria chancelaria (não me acredito que fosse um erro fortuito, ainda por cima repetido) uma operação posterior para o "recuperar" da "traição".

Na verdade, existem na Chancelaria de D. João I (1, 154v e 155) duas doações a Rodrigo Álvares Pereira, seguidas, uma de umas azenhas e outra de Vila Nova de Cerveira, de juro e herdade, para si e seus descendentes, dadas no «arreal de sobre chaues» uma a 2 de Fevereiro e outra a 9 de Março da era e mjl iiijc xxiiij, ou seja 1424, portanto 1386. Assim, já depois de Aljubarrota.

Mas quem acrescentou dois ii (dois anos) a estas cartas esqueceu-se de corrigir outra carta do mesmo livro (1, 4v), de 8.2.1385, em que o mesmo rei deu a Gonçalo Rodrigues Novais, seu vassalo, todos os direitos, rendas, tributos e foros de Vila Nova de Cerveira «assy como a tijnha R.o aluarez pireira que se foe pa castella» (1, 4v).

Portanto, a antedita doação de Vila Nova de Cerveira não pode ser de 9.3.1386, mas sim de 9.3.1384. De resto, era bom de ver que Vila Nova de Cerveira não seguiu nestes Pereira, que foi aliás o que primeiro me alertou para a incongruência.
A questão é esta:

Rodrigo Álvares Pereira anda, na História, muito confundido com Rui Pereira (3º marido de Violantes Lopes de Albergaria). E, como verifiquei, houve na própria chancelaria (não me acredito que fosse um erro fortuito, ainda por cima repetido) uma operação posterior para o "recuperar" da "traição".

Na verdade, existem na Chancelaria de D. João I (1, 154v e 155) duas doações a Rodrigo Álvares Pereira, seguidas, uma de umas azenhas e outra de Vila Nova de Cerveira, de juro e herdade, para si e seus descendentes, dadas no «arreal de sobre chaues» uma a 2 de Fevereiro e outra a 9 de Março da era e mjl iiijc xxiiij, ou seja 1424, portanto 1386. Assim, já depois de Aljubarrota.

Mas quem acrescentou dois ii (dois anos) a estas cartas esqueceu-se de corrigir outra carta do mesmo livro (1, 4v), de 8.2.1385, em que o mesmo rei deu a Gonçalo Rodrigues Novais, seu vassalo, todos os direitos, rendas, tributos e foros de Vila Nova de Cerveira «assy como a tijnha R.o aluarez pireira que se foe pa castella» (1, 4v).

Portanto, a antedita doação de Vila Nova de Cerveira não pode ser de 9.3.1386, mas sim de 9.3.1384. De resto, era bom de ver que Vila Nova de Cerveira não seguiu nestes Pereira, que foi aliás o que primeiro me alertou para a incongruência.

Um abraço,

Manuel





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RE: Heráldica: Os Sodrés não eram Sudleys

#233124 | Sérgio Sodré | 01 juil. 2009 20:54 | In reply to: #233099

Caro Manuel

O papel de Rodrigo Álvares Pereira na crise de 1383-85 está retratado em passagens da Crónica de D. João I de Fernão Lopes e dúvido que este estivesse disposto a entrar numa "conspiração" para "branquear" Rodrigo quando relata claramente a morte a participação em Aljubarrota dos seus irmãos Diogo e Pedro.

Sigo para o tópico Sodré Pereira conforme sugere.
Até já.
Sérgio

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