Hipótese portuguesa para origem de Sodré

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Hipótese portuguesa para origem de Sodré

#314890 | Sérgio Sodré | 07 oct. 2012 11:14

Na cidade de Silves (Algarve-Portugal) há uma moderna residencial, a Vila Sodré - Silvino's Country House. Há alguns anos fui de propósito falar com o proprietário para ver a que se devia o nome do estabelecimento e, para grande surpresa minha, ele explicou-me que nada tinha a ver com a família Sodré. Tinha inventado o nome Sodré a partir do seu Silvino e do filho André. Pegara no S e O de Silvino e no DRÉ do seu filho André e formara Sodré!

Se Sodré é um apelido de origem portuguesa, será que algo de semelhante ocorreu no séc. XIV? Será que Sodré pode ter derivado de Santo André? A devoção a este santo, o facto de se ter nascido no seu dia, ou algo de semelhante, terá derivado no termo Sodré depois tornado apelido?
Os primeiros Sodré conhecidos estão ligados à zona Lisboa (muito claro em Fernão Sodré de 1414) e uma das torres do castelo de São Jorge é a de Santo André. A aspa no escudo dos Sodré é meia cruz de Santo André...
É muito especulativo, mas será SODRÉ = SANTO ANDRÉ ?

Sérgio Sodré

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RE: Hipótese portuguesa para origem de Sodré

#314891 | Sérgio Sodré | 07 oct. 2012 11:17 | In reply to: #314890

Até hoje não se conhece documento que indique a existência do apelido Sodré em Portugal antes da segunda metade do séc. XIV. Registados estão um cavaleiro e um escudeiro da segunda década do séc. XV, possivelmente irmãos, que portanto nasceram nos finais do séc. XIV, e cujo pai já usaria esse apelido. Não sendo um patronímico nem um topónimo, Sodré deriva de uma alcunha de origem obscura. Não se sabe se o primeiro a usar o apelido já era da pequena nobreza dos escudeiros ou se era plebeu, nem se foi ele ou antes um seu descendente quem ascendeu à nobreza e usou, pela primeira vez, o brasão de Sodré. Não se sabe se o brasão foi assumido livremente por um Sodré, o que era possível no séc. XIV, ou atribuído por algum Senhor pelos serviços por ele prestados. Todavia, é de admitir que o chaveirão de prata carregado de estrelas vermelhas indique a condição de cavaleiro de quem o utilizou pela primeira vez, pois é peça e figuras que muitos relacionam com esporas (há estrelas que até eram representadas com os furos da espora). Já quanto às albarradas ou gomis podem ter significados mais diferenciados, como seja aludirem ao cargo de copeiro, ou à condição de bom servidor, ou estarem ligadas a algum episódio honroso concreto hoje desconhecido, até porque eram artefatos valiosos nessa época e oferecidos como dádivas.

Nas crónicas de Fernão Lopes relativas aos reis D. Pedro, D. Fernando e D. João é dito que foram tempos em que estes reis nobilitaram numerosos servidores, fazendo cavaleiros e fidalgos, designadamente em virtude das guerras fernandinas e da crise de 1383-1385, após a qual um tempo novo se abriu em Portugal. Com a vitória portuguesa na guerra contra Castela, após a gloriosa batalha real de Aljubarrota (14 de agosto de 1385), tornam-se verdadeiras as palavras do grande cronista Fernão Lopes sobre o novo Portugal "fazemos aqui a sétima idade, na qual se levantou outro mundo novo e nova geração de gentes. Porque filhos de tão baixa condição que não cumpre dizer, por seu bom serviço e trabalho foram neste tempo feitos cavaleiros, chamando-se logo de novas linhagens eapelidos". Muito possivelmente será aqui que está a raiz dos Sodrés cavaleiros, e o seu brasão, semelhante no estilo a alguns ingleses, pode ter sido inspirado pelos funcionários ingleses especializados em heráldica que exerciam funções em Portugal nessa época. De facto, não se conhece documentação do séc XIV nem XV que afirme que os Sodrés eram de origem inglesa. Apenas no início do séc XVI foi feito um epitáfio numa campa em que se escreveu que eram ingleses, mas em condições que levam a suspeitar de que se procurou criar uma lenda para engrandecer o prestígio da linhagem dos Sodrés de Santarém, que se tinham tornado morgados e casado na importante família dos Pereira. Assim, não se conhece ainda documentação sólida que leve à conclusão de que os Sodré não foram sempre portugueses. Com a documentação atual, é de admitir como muito provável que se trate de um apelido de origem portuguesa, numa alcunha e na segunda metade do séc. XIV, sendo as suas armas também portuguesas, embora talvez de influência inglesa na composição.

Sérgio Sodré

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RE: Hipótese portuguesa para origem de Sodré

#314896 | chartri | 07 oct. 2012 12:45 | In reply to: #314891

Caro confrade
Será que conhece o livro

Cronica do muyto alto e muito poderoso rey destes reynos de ...
[books.google.com/books?id=D5Yhrl_jkS0C] de Francisco Andrada - 1613 - onde é referido:
"... &vindoaly ter nouas q no rio de Muar cstauáo lancharas de guerra , dom Este* uâo mandou sabera verdade por Simâo sodre & Francisco de bayrros de payua cm cinco manchu as, que chegando has j^ncharas virâo que cráodoze grandes"

Cumprimentos
Ricardo Charters d'Azevedo

PS: acho que ha um tal Vicente Sodré [circa 1503] com Vasco da Gama mencionado em : "Life and travels of Vasco Da Gama - de K. D. Madan - 1998 Page 92
books.google.com/books?isbn=8120613600

"The Portuguese vessel Flor de la Mar tried to hold off the Calicut fleet by its cannon fire. Fortunately, according to this version of the story, Sodre arrived at the scene from Cannanor, just at that time with his caravel, dispersed the Calicut fleet ..."

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RE: Hipótese portuguesa para origem de Sodré

#314897 | Sérgio Sodré | 07 oct. 2012 13:52 | In reply to: #314896

Caro confrade

Esse Simão Sodré era filho de Brás Sodré e, portanto, sobrinho do Vicente Sodré aí referido, e este era tio de Vasco da Gama (Sodré pela mãe). Vicente e Brás morreram em 1503 no mar da Arábia, ilhas de Curia Muria. Simão fez três viagens à Índia e é muito referido nas crónicas,

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RE: Hipótese portuguesa para origem de Sodré

#314898 | portingal | 07 oct. 2012 14:19 | In reply to: #314890

Boas tardes Sérgio Sodré

Creio que a maior dificuldade para aceitar esta hipótese será a ausência da partícula, como em João de Santo André (Chancelaria de Dom Duarte), Guilherme de São Jorge (prior em Coimbra, 1279), Domingos Martins de São Julião (tabelião em Santarém, 1305) . Naturalmente, a partícula também poderá indicar localidades homónimos ao invés de referências devocionais. Estas últimas são mais frequentes após o período medieval. Outro problema seria encontrar construções semelhantes que justificassem a fusão fonética, infelizmente não conheço nenhuma que possa servir de ajuda. Finalmente, acho que a abreviatura mais frequente para Santo era S. ou S.to mas não sou nenhum especialista em paleografia.

Saudações,

Carlos da Fonte

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RE: Hipótese portuguesa para origem de Sodré

#314905 | Sérgio Sodré | 07 oct. 2012 16:42 | In reply to: #314898

Caro Carlos da Fonte

Pela argumentação, a sua objeção afigura-se pertinente e agradeço os exemplos que apresentou.

saudações
Sérgio Sodré

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