Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
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Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
Texto de Gilberto Freyre:
http://bvgf.fgf.org.br/portugues/obra/livros/pref_brasil/o_velho.htm
Apesar de existir milhões de brasileiros e portugueses com sobrenomes italianos, como Cavalcanti, Accioli e Doria (N1), notei que todos, absolutamente todos os descendentes modernos destas três famílias são descendentes por transmissão feminina, o que vai absolutamente contra as tradições Italianas, na Itália não são nem mesmo considerados membros destas famílias.
De acordo com as tradições italianas um filho sempre pertence a família do pai, ou seja, apenas a varonia tem importância, sendo que a tradição até o século XIX era ainda mais severa, hoje em casos muito raros com autorização judicial se pode carregar mais de um sobrenome alem do sobrenome de varonia. As mulheres até pouco tempo atrás não podiam nem mesmo adotar o nome dos maridos, de tão severa que é esta regra, tendo que manter o sobrenome de nascimento após o casamento.
Nos livros antigos de linhagem na Itália apenas as varonias eram registradas, as linhas femininas não eram nem mesmo publicadas, eram raramente comentadas. Quando uma varonia se torna extinta, na Itália não se pensa duas vezes, escreve-se .
Levando em conta que na Toscana, por exemplo, uma região com cerca de 3.5 milhões de habitantes hoje, praticamente todos os indivíduos provavelmente possuem alguma ascendência remota nos Accioli, Cavalcanti, Médici e outras famílias do século XII e XIII me faz compreender porque esta situação pareça incompreensível ou talvez ridícula aos olhos italianos.
Sem querer julgar o mérito ou qual tradição esta correta, apesar de ter orgulho de minhas origens portuguesas e italianas, na minha família sempre seguimos as regras italianas, ou talvez romanas, o tradicional Jus Sanguinis patrilineal. Como já foi discutido neste fórum, a tradição portuguesa é única na Europa, tendo um sistema muito liberal aos olhos de outros europeus.
Cumprimentos,
Campesino
N1 - Já os Dórias da Bahia, não se sabe se são realmente de origem italiana, a documentação é precária e este nome também existia em diversas regiões da Espanha e nunca foi unicamente Italiano, também não existem documentos que sustentem a conexão da órfã Clemência de Oria (ou Doria) que foi para a Bahia com a família de Genova. De qualquer forma, estes tem transmissão já na primeira geração através de via feminina e talvez ilegítima o que os coloca na mesma situação dos Acciaioli e Cavalcanti, italianos aos olhos brasileiros e nada italianos aos olhos italianos.
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RE: Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
Um um pesquisador sério deve sempre basear seus argumentos em documentos e fontes confiáveis, não em lendas, suposições e falsificações grosseiras.
Freyre era um exemplo de honestidade e excelência acadêmica, mesmo sendo descendente distante destas famílias da "nobreza" Italiana(?) foi honesto.
Um trecho iluminador de Freyre:
"Orgulho nobiliario". Ao Padre Lopes Gama, homem de boas letras e não panfletário vulgar, nunca pareceu que houvesse motivo sólido para os Cavalcantis se gabarem tanto de nobre como, "ainda há pouco [...] um tal João Mauricio Cavalcanti da Rocha Wanderley"e freqüentemente "muitos matutos que tem este appellido".
Ora, escrevia padre em 1846 no seu O Sete de Setembro, "si perguntarmos aos Srs. Cavalcantis d'onde lhes vem a nobreza, elles com uma imparciabilidade espantosa nos firão que de Felippe Cavalcanti, fidalgo florentino evadido daquelle antigo grão-ducado por se ter envolvido em uma conspiração contra Cosme de Medicis, da qual era chefe um Pandolfo Pucci. Mas si lhe pedirmos algumas provas dessa nobreza que por muitas razões se pode contestar sem replica elles nos dirão ainda que consultem a nobiliarchia Pernambucana de José Victoriano Borges da Fonseca, cujo manuscripto existe na Bibliotheca de S. Bento de Olinda com folhas arrancadas e outras substituidas". "Si porem recorrermos aos documentos historicos" - acrescentava o Padre, depois de grifo tão enfático e desprezando a "certidão, que conservam na Bahia os seus descendentes" [de Felipe] certidão publicada por Borges da Fonseca como sendo a "certificação de nobresa" do mesmo Filipe concedida por Cosme de Médicis - " não encontraremos fidalgo algum florentino que tivesse o appellido de Cavalcanti", nem Guido nem Bartolomeu Cavalcanti - ambos literatos, nada mais que literatos - tendo tido foros de nobreza. E depois de literatos - tendo tido foros de nobreza. E depois de discutir longamente o caso da "conspiração contra Cosme de Medicis", Borges da Fonseca: "Os Srs. Cavalcantis não satisfeitos com quererem passar por aquillo que não são, isto é, por fidalgos de uma das maiores e das mais nobres casas de Florênça ainda se agarrão com unhas e dentes aos Albuquerques [...]"; "mas niguem ignora que Jeronymo d'Albuquerque tendo vivido deshonestametne com a cabocla filha do Cacique d'Olinda Arco Verde, tão deshonestamente que a Rainha de Portugal mandou que elle, par aque o escandalo cessasse, se cazasse com a filha de Christovão de Mello (de cujo appellido tirarão alguns a nobreza), teve dessa cabocla, além de outros muitos filhos, uma filha de nome Catharina, que cazou com Felippe Cavalcanti". De modo que para usarem as armas dos Albuquerques - armas a que os Albuquerque, Melos tinham direito, por Ter sido Jerônimo de Albuquerque fidalgo e se haver casado, por ordem da Rainha, com a filha de Cristóvão de Melo, também, fidalgo - os Cavalcantis estavam na obrigação, dentro da heráldica, de apresentar "no escudo o signal de bastardia". Considerando fracassados os Cavalcantis nas suas pretensões a nobres, por falta de documentação idônea, o Padre Lopes Gama queria que também os Wanderleys provassem que "eram fidalgos d'alguma casa de Hollanda". Não lhe satisfaziam as evidências de nobreza, até então aceitas, de Gaspar van de Lei - o capitão holandês do séquito de Nassau que aderindo Ao Catolicismo e casando com uma Melo, de Pernambuco, no século XVII, fundara a família de que descendia o "tal João Mauricio Cavalcanti da Rocha Wanderley". Ainda hoje - acrescente-se não ficaria mal aos nossos genealogistas um tanto ingênuos - como aliás quase todos os genealogistas --- aprofundarem suas pesquisas sôbre a "nobresa dos Cavalcanti de Florença" e mesmo sôbre "a fidalguia dos van der Ler" da antiga Holanda, chamados por Borges da Fonseca de "nobilissimos" sôbre o fundamento da "certificação de nobresa" do capitão de nobresa" do capitão de cavalaria Gaspar van der Lei e, em geral, dos Van der Lei: certificação atribuída por Borges ao Conde Maurício de Nassau. O certo parece ser que poucas famílias brasileiras se podem gabar de um passado tão ilustre no Brasil e de tão boas raízes européias como as duas família visadas pelo Padre Lopes Gama: os Cavalcantis e os Waderleys. A não ser os Albuquerque.
(Freyre, Gilberto O VELHO FÉLIX E SUAS "MEMÓRIAS DE UM CAVALCANTI" Prefácio - http://bvgf.fgf.org.br/portugues/obra/livros/pref_brasil/o_velho.htm)
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RE: Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
Gilberto Freyre foi ainda mais longe, no livro Casa Grande e Senzala ele comentou a respeito da homossexualidade de Felipe Cavalcanti e a respeito de um suposto jovem amante, o que por sinal foi esquecido em diversos trabalhos genealógicos. Felipe foi denunciado ao Santo Oficio na Bahia: "... de dois anos a esta parte ouvio também geralmente em fama publica que Phelipe Cavalcante florentino de nação morador na dita villa (Olinda) dormira antigamente com um moço pecando com ele o pecado de sodomia e disto poderão informar os antigos."
Freyre comenta que tal homossexualidade era comum na Itália, o que esta apenas parcialmente correto, pois a Itália em si não existia ainda, e os estados independentes da península tinham morais, dialetos e tradições bem diferentes. A república e depois ducado de Florença realmente era conhecida por sodomia, não só na Itália como em toda a Europa, a corrupção moral dos Médici e sua corte era legendária. ( http://vimeo.com/8862225 )
Outra duvida que existe é em relação a filiação de Felipe Cavalcanti. "Dom", como aparece em trabalhos genealógicos certamente ele não era. O termo era raro e apenas aplicado aos chefes de família no Século XIII, após a dominação republicana e guelfa o termo sumiu da Toscana, não era usado. Ninguém sabe ao certo de qual ramo dos Cavalcanti ele pertencia. O nome FILIPPO ainda era muito comum entre as pessoas com este sobrenome, sem um documento original conectando diretamente o Felipe de Pernambuco com seu pai e mãe em Florença, tudo não passa de especulação. Como foi denunciado durante o século XIX, os documentos desta família que estavam na biblioteca de Olinda foram propositalmente alterados, páginas foram colocadas e outras retiradas (publicado em reportagens de jornais durante o período Imperial e mencionado por Freyre).
Não havia apenas uma família Cavalcanti em Florença e sim varias, e com diferentes níveis sociais, umas com importância media e outras bem humildes, os Cavalcantis nunca foram a família mais rica de Florença, ou grandes banqueiros, como alguns estão falsamente propagando em trabalhos genealógicos, realmente tiveram alguns escritores famosos e um ou outro membro de destaque, em verdade é muito pouco provável que um membro mais destacado da elite florentina se estabeleceu em Olinda, especialmente nos primeiros anos da pequena vila.
Olhando a lista das 100 casas mais ricas de Florença em 1427 os Cavalcanti nem mesmo aparecem na lista (Os Acciaioli também não), outros nomes famosos estão lá, Bardi, Médici, Strozzi, Tornabuoni, Borromei, Pazzi, Peruzzi, Albizzi e muitos outros. Na Florença deste período quem não tinha dinheiro não tinha poder e importância, era uma cidade de novos ricos, pessoas das mais baixas condições sociais subiriam as mais altas, os Médici são o exemplo clássico, de lideres sindicalistas a Grão-Duques em algumas gerações. Por exemplo, analisando os nomes dos que serviram no alto cargo de Priori entre os anos de 1320-1340 não encontramos nenhum membro da família Cavalcanti, já os Médici, uma família ainda de novos ricos, serviram 9 vezes, os Strozzi 18, os Rucellai 11, os Albizzi 14, os Ricci 12, os Altoviti 13, Alberti 12 e os Acciaioli 12.
Na lista ainda existente dos Gonfalonieri di Compagnia entre 1420-1450, novamente nenhum Cavalcanti. Alguns poucos serviram cargos, porem não os mais altos, o que demonstra uma certa decadência desta família, que por sinal não era incomum, afinal os antigos nobres estavam em plena decadência e a burguesia subindo rapidamente. Os Acciaioli ainda tinham uma certa influencia, porem não estavam entre as grandes casas de Florença mencionadas acima. No censo de Firenze em 1427 havia 29 famílias chefiadas por pessoas de sobrenome Cavalcanti, fazendo os cálculos, na geração de Filippo Cavalcanti que foi para o Brasil o numero de casas era ainda maior.
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RE: Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
Caro Campesino
1. Segundo se diz os Dória fixam-se em Portugal no final do sec XIV ou inicio do sec XV em particular na Ilha da Madeira vindos de Génova. Muito possivelmente dai iriam para o Brasil.
2. Registam-se na Madeira ligações entre Dória e Acciaioli.
3. Não será claro que na linha Portuguesa a varonia se tenha extinguido mas terá que ser pesquisado.
Sugiro que veja http://doria.genealogias.org/2_doria_madeira.pdf
Cumpts
Rui C Correia
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RE: Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
Caro Rui,
Muito obrigado pelas informações. Eu estou aqui para aprender e agradeço qualquer informação, aqui as minhas conclusões:
O diabo esta nos detalhes, veja bem, fazer genealogia como alguns querem só pode acabar mal, podemos provar qualquer coisa desta forma. A verdade é que a origem dos Dórias defendida por alguns é muitíssimo duvidosa.
Em relação ao trabalho do senhor Francisco Antonio Doria, autor de numerosíssimos trabalhos de genealogia (Obs.: quantidade nunca foi sinal de qualidade, o contrário normalmente se aplica) só posso lhe dizer que não o conheço, então não posso afirmar quais são as suas qualidades, sei dele apenas o que leio neste fórum e nos trabalhos que publicou, o que li não me traz nenhuma imagem de um pesquisador profissional. Veja bem, os trabalhos dele são cheios de palavras como: provavelmente, certamente, e outros "mentes". Eu aconselho a qualquer um a tomar muito cuidado. As conexões contêm erros grosseiros e ainda parecem bizarras e pouco prováveis.
Aqui o que sei sobre este senhor:
http://www.jbcultura.com.br/2001/CARTA.htm (a opinião de um profissional e ex-colega)
http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=68808&fview=e (gostei dos comentarios de Ricardo de Oliveira)
http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=207799 ("Desfazendo Inverdades")
Rui, no texto que o compadre me enviou achei uma quebra de varonia já nas primeiras gerações, não entendi, o compadre conhece alguma linha documentada?
Cumprimentos,
Campesino
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Advertência! RE: Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
Caro Rui Correia,
Com periocidade alargada - Graças a Deus! - surgem neste fórum mensagens de anónimos que entrando aparentemente sem más intenções, logo acabam atacando acintosamente Francisco Dória e forçam, mais tarde ou mais cedo, o apagamento do tópico.
Antes desta assisti já a três ocorrências.
Repare apenas em dois promenores reveladores:
- A criatura afirma conhecer a obra de Francisco Dória, do que tira conclusões, mas desconhece o "site" que está no ar há mais de 10 anos.
- Francisco Dória sempre se identificou como Dória com duas quebras de varonia e a criatura vem com aparente surpresa dizer que encontrou quebras de varonia logo no início da linhagem.
Por favor acredite na experiência de quem sabe por ser velho e deixe este "campônio" a falar sozinho.
A. Luciano
P.S. - Não confundir com o dr. Miguel Côrte-Real, que será pouco feliz mas não mal intencionado.
A.L.
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Advertência! RE: Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
Meus Caros,
Penso que seria de facto honesto, referir estas e outras famílias Portuguesas de origem na península Itálica, em particular de Génova. Eram essa a sua origem quando se instalaram no Brasil, quando o criámos.
Não as considerar esta forma, faz propositadamente originar a confusão com os italianos que emigraram em massa na segunda metade do século XIX. Proveniente do acordo do imperador do Brasil com o recém-criado estado italiano em fornecer mão-de-obra substituta á escrava. Sendo esses italianos na sua totalidade de origem camponesa e alguns do operariado. Nada tendo a ver com Portugueses de origem, em alianças familiares por ordem real com homens de negócio e mesmo de nobreza da península Itálica.
Cumprimentos do,
José de Azevedo Coutinho
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Vaidade dos esnobes da República
"A quantos almocreves não tenho comprado farinha, arroz, feijão, milho, e sabidas as contas são uns fidalgos de primeira ordem! Veujo-os descalços, de camiza, e celouras, cabellos desgrenhados, pelle rugosa e cor de viola velha, tracto-os com pouca cerimonia; e eis que me dizem que são fidalgos; porque são Cavalcantis, e não dos tes, cuja nobreza é de enxertio; mas dos tis, que são limpos e claros como um distei!" Padre Lopes Gama de Pernambuco, um dos maiores estudiosos de seu tempo. (O sete de setembro, n 2 34, vol. 1,1845.)
Outro comentario de Freyre (Casa Grande e Senzala):
"Os estudos genealógicos entre nós, em geral realizados superficialmente para atender a vaidade de barões do Império e de esnobes da República, carecem de realismo e de profundidade que correspondam às necessidades propriamente científicas."
Pelo que estou lendo aqui, parece que as coisas não mudaram muito. Qualquer um que publique trabalhos deve esperar criticas, esta e a única maneira de manter qualidade.
Não tenho preconceito social ou racial, alguns usam genealogia para tentar provar que são melhores que os outros, eu não, acho a biografia de um camponês honesto e com nobreza de caráter mais interessante e agradável do que a de alguns "nobres", sem nobreza de caráter. Também não saio pelos quatro ventos cantando vantagem dos muitos antepassados de origem nobre que tenho, acho isso coisa de gente sem classe.
Esta é a minha última mensagem, estou decepcionado com a falta de seriedade, pensamento critico e também a tentativa de censura. De qualquer forma, se ofendi alguém, perdão. Os que tentaram me ofender, estão perdoados, Adeus.
Campesino
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Advertência! RE: Varonias extintas e as tradições italianas – Accioli, Doria e Cavalcanti
Caro Senhor A. Luciano
Gostaria de entrar em contacto com o Dr. Francisco Doria com vista a obter alguma informação sobre os Dorias em
Portugal, não só sobre os que são referidos nos bons trabalhos de genealogia por ele produzidos aos que viveram
na Ilha da Madeira, mas também àqueles que viveram em Lisboa em meados do Século XVI e que mais tarde se
espalharam por outras zonas do País.
Assim, ficaria muito grato que. com a permissão do Dr. Doria, me fosse indicado o seu e-mail. para, no caso de ele
aceitar, trocarmos alguns dados que certamente possuímos sobre famílias que ainda utilizam este apelido.
Os meus melhores cumprimentos
João Doria Pacheco
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