Dúvida sobre sepultamento? Igreja do Convento do Carmo-Braga.
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Dúvida sobre sepultamento? Igreja do Convento do Carmo-Braga.
Caros confrades,
Um familiar meu, de nome José Paulo Moreira, era natural e morador em Rates-Póvoa de Varzim. Por mero acaso, foi em 1827 a Braga (São Victor), em negócios, e calhou de lá morrer poucos dias depois de chegar. O padre da freguesia, no assento de óbito, diz que morreu com os sacramentos e com testamento (o que leva a pensar que já contava em morrer em breve, mesmo com 28 anos), e que o mesmo testamento dizia era que queria ser sepultado em hábito e igreja que sua mulher quisesse. Como tal, a sua mulher decidiu que seria enterrado na Igreja do Convento do Carmo, em São Vicente,Braga.
O que me deixa curioso, é a referência que o padre faz no fim do assento ("Teve caixão e túmulo"). Ser enterrado em caixão, além de ser somente para gente com dinheiro, não era coisa nunca vista em 1827. Mas o 'túmulo' é que deixa dúvidas, pois consultando os assentos de pessoas que foram sepultadas tanto na Igreja Paroquial de São Victor com na Igreja do Carmo em São Vicente, somente uma ou outra têm a referência a 'túmulo'.
O que queria realmente saber era em que sentido e 'a quê' que se chamava 'túmulo'. À primeira vista, lembra-nos as sepulturas que outrora existiam por todo o soalho das igrejas. Mas se assim fosse, todos os outros assentos de óbito teriam que ter a referência a 'túmulo' pois todos eles foram enterrados na igreja. Assim podemos ter quase a certeza que não foi enterrado em sepultura normal, como todas as outras. Mas também se fosse túmulo em pedra, não deveria ainda existir hoje em dia na igreja? Ou estará 'escondido' por baixo do novo piso? É que pelo que conheço da Igreja do Carmo não existe qualquer túmulo em pedra.
Peço desculpa se a explicação é complicada ou a questão até sem sentido, mas é apenas uma curiosidade que gostava de ver melhor explicada.
Agradeço qualquer ajuda,
Helder
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Igreja do Convento do Carmo-Braga
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Após a extinção das Ordens Religiosas em 1834, o Convento acolheu o Hospital Militar,
tendo sofrido grandes obras.
Sc.
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Caro Helder
Parece-me que está a incorrer no erro de pensar que antes dos Cabrais toda a gente era enterrada no interior das igrejas. De entre as equívocos que se encontram na História de Portugal, este é um dos mais absurdos, tenazes e frequentes. A obrigatoriedade de enterrar fora das igrejas teria até constituído uma afronta de tal magnitude, que levou o povo, no primeiro semestre de 1846, a levantar-se contra o governo, na Maria da Fonte, por este pretender pôr os mortos, coitadinhos, ao frio e à chuva, e no risco de serem desenterrados e comidos pelos cães.
Na realidade, sempre se enterrou fora das igrejas, e ninguém o sabe melhor que os genealogistas, que leram montes de vezes, em assentos de óbito, que o defunto "foi sepultado no adro".
Já vi até, em livro paroquial que cobria uma época de epidemia, um padre escrever que era necessário criar mais adros, dando ao substantivo o significado de cemitério, pois era para servir como tal que eles existiam.
O significado de túmulo, na particular linguagem do pároco, seria o mesmo que o de tumba – vocábulo que também já vi ser usado no sentido de carreta de transportar o cadáver –, uma dessas cavidades rectangulares, que descreve, e que pavimentavam as igrejas, claustros, etc.
Cumprimentos,
Manuel Cravo.
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Caro Manuel Cravo,
Muito agradeço a sua resposta. Porém quando digo que foram todos enterrados dentro da igreja é porque não encontrei nos registos qualquer pessoa que fosse sepultada no adro, em todos eles o padre diz que foram sepultados na igreja. Porém no caso do meu familiar diz que foi sepultado na igreja e que teve túmulo, enquanto os outros diz apenas que foram sepultados na igreja, daí a minha dúvida.
Também não concordo quando diz que túmulo era o mesmo que tumba, porque num assento do mesmo pároco diz que um indivíduo pediu em testamento para ser sepultado na Tumba da Senhora Branca, na igreja e freguesia de mesmo nome, mas sem túmulo nem caixão. Parece que túmulo seria outra coisa que se enterraria dentro da tumba. Quanto à 'carreta' de transportar os cadáveres, se for o mesmo que estou a pensar também é chamado de esquife, e na minha opinião nada tem haver com as cavidades propriamente ditas, pois o esquife era uma espécie de 'maca' em madeira que duas pessoas carregavam (uma à frente e outra atrás) e onde transportavam o cadáver de casa para a igreja, onde se realizava o respectivo ofício fúnebre. O da minha freguesia ainda existe, embora seja usado apenas nas procissões do Senhor Morto.
Peço desculpa por todas estas contrariedades, mas é apenas a minha opinião e penso que só com estas trocas de ideias é que se aprende.
Cumprimentos,
Helder.
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Caro Helder
Vejo que não li com a máxima atenção o que escreveu.
Fui consultar o Dicionário de Moraes, frequentemente de grande utilidade quando se trata de vocabulário arcaico:
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Tumba, s. f. (do grego Tymbus, sepulcro, corrupto do latim Tumulus, como Tambo de Thalamus) Propriamente significa túmulo, sepultura. A caixa, ou espécie de caixão que se põe nas eças; e a espécie de maca ou esquife, com coberta plana, ou em volta de arca, em que se conduz, e leva o morto: "caixão de chumbo encaixado em uma tumba de pau"; Tumba da Misericórdia: o carro que em Lisboa leva os cadáveres dos pobres para os cemitérios.
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Túmulo, s. m. (do latim) Armação alta sobre que se põe o ataúde, caixão, ou tumba na igreja; eça. Monumento elevado em honra de alguém, no lugar onde repousam as suas cinzas, e que nele são guardadas, jazigo: há túmulos destinados a famílias, a corporações, etc. Sepultura. Morte moral.
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Note que eu tinha mencionado ter visto o substantivo Tumba usado como sinónimo de esquife, após ter referido a "particular linguagem do pároco", para dar exemplo dos absurdos que se encontram por vezes nos livros paroquiais.
Verifica-se agora que quem o escreveu tinha razão.
Tal como diz, é assim que se aprende.
Pegando no assunto em causa, a minha interpretação do que seria aquilo que o pároco designa como Túmulo inclina-se agora para a armação alta, etc., que se costuma designar por Eça, mas sem certezas, como imagina.
Cordiais cumprimentos,
Manuel Cravo.
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Caro Manuel Cravo,
Muito obrigado pela sua resposta.
Infelizmente os livros de São Vicente não estão disponíveis, o que dificulta a resolução do 'mistério', pois é nesses livros que estam os óbitos de todas as pessoas que foram sepultadas tanto na própria igreja paroquial como na igreja do Convento do Carmo. Os poucos registos que consultei foram das poucas pessoas de São Victor que quiseram ser lá enterradas, e o pároco de São Victor, como de costume, elaborou uma espécie de duplicado nos seus livros, pois como eram paroquianos era obrigado a tal. Esperemos que um dia possam estar disponíveis.
Onde podem estar mais informações é concerteza nos Livros de Sepulturas, caso existam, e que devem estar no arquivo paroquial. Porém a minha disponibilidade para lá ir é pouca.
Ainda quanto àquilo que disse, que antigamente quase toda a gente era sepultada no adro, olhe que na minha freguesia ninguém era enterrado no adro, excepto os pobres sem dinheiro para comprar sepultura dentro da igreja ou os de fora que calhassem de morrer cá em passagem (Rates sempre foi caminho para Santiago de Compostela, e houve mais de um caso de pessoas que passaram cá a noite na estalagem e na manhã seguinte apareciam mortos). Dentro da igreja, o critério era o que bem conhecemos hoje: quanto mais próximo do altar, mais cara era a 'cova'; à medida que se recuava para trás, eram mais baratas.
Cumprimentos,
Helder.
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