Ajuda à interpretação de uma Súplica a Sua Majestade El-Rei D. João VI
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Ajuda à interpretação de uma Súplica a Sua Majestade El-Rei D. João VI
Caros confrades,
Na pesquisa de informação sobre meus ascendentes do ramo Abreu e Lima, encontrei acidentalmente o documento que pode ser lido em https://digitarq.arquivos.pt/details?id=8010915
Trata-se de uma súplica de Maria Antónia Pereira de Melo Barros Abreu e Lima, de S. Pedro de Esqueiros, que se intitula, à data, “legítima herdeira e administradora do seu Morgado e Caza da Boca” sito naquela frequesia, em que relata eventos algo rocambolescos.
Em suma, do que percebi, Maria Antónia alega ser “perseguida e ultrajada” por seu marido Manuel Lobo de Mesquita, que, protegido pelo Corregedor de Barcelos, lhe “sequestra” os rendimentos do dito Morgado e a pretende internar num convento em Trancoso. Tudo isso por não “consentir, na sua própria Caza da Boca mancebias, sendo uma delas uma cunhada do dito seu marido, irmã da suplicante, de quem tem filhos e por não querer assinar uma escritura de dinheiro a juro de avultada soma”. Para se proteger das acções do marido, Maria Antónia pede autorização (a conceder por “avizo”) para se recolher ao convento dos Remédios, em Braga, “e este lhe servir de Depozito” com a possibilidade de sair em “caso de grande necessidade” requerendo ainda que lhe seja entregue a administração do seu morgado e Caza da Boca com todos os rendimentos sequestrados “para se poder tratar com decoro e decência”.
Creio ser este, salvo melhor opinião, o enquadramento geral que subjaz à súplica. Contudo, aspectos há que não consegui entender integralmente, a saber:
a) Na primeira página (m0001), diz-se que o requerimento do marido da suplicante foi “escusado” em 16 de Maio de 1820. Neste contexto, o que significará escusado? Recusado, indeferido, improcedente?
b) Na m0004, em cima “... e como não aprova o dito seu marido depózito algum e ainda a casa de seu tio José de Mello do termo dos Arcos, freguesia de S. Jorge onde se acha por autoridade de justiça depozitada”. Depozitar equivalerá a fixar residência?
c) Na página m0004, ao fundo, diz Mª Antónia: “e como é de idade de 45 anos e não tem filhos de matrimónio nem nota no seu procedimento”. Quererá ela dizer que teve conduta sem mácula?
Na expectativa de quaisquer comentários/informações que possam contribuir para o total esclarecimento desta “súplica”, aqui ficam desde já os meus agradecimentos.
Sérgio Feliz
Nota:
Mª Antónia (*ca 1775, +01.07.1842 S.Pedro de Esqueiros, Vila Verde; fonte: PT-UM-ADB-PRQ-PVVD15-003-0021_00735) é filha de
António José Pereira Pinto de Melo Barros Abreu e Lima (Morgado e Senhor da Casa da Boca *12.07.1744 S.Pedro de Esqueiros, Vila Verde; fonte: PT-UM-ADB-PRQ-PVVD15-001-0004_00014; + 17.05.1804 S. José de S. Lázaro, Braga)
e de
Maria Joaquina de Mello.
Casou com Manuel João Lobo de Mesquita a 02.09.1804 em Turiz, Vila Verde; PT-ADLSB-PRQ-PLSB29-002-C11_m0009.
É neta paterna de
Maria de Melo da Silva Coelho Pereira de Azevedo [de Lima e Abreu] Senhora da Casa da Boca
*Bp. 27.04.1719 Vila Verde, Esqueiros PT-UM-ADB-PRQ-PVVD15-001-0003_00528
cc 15.02.1741 Vila Verde, Esqueiros Alexandre Luís Pereira Pinto de Barros *c.1710 S. Jorge, Vila dos Arcos PT-UM-ADB-PRQ-PVVD15-002-0011_00647
+12.12.1800 S.Pedro de Esqueiros, Vila Verde, sepultada em Braga PT-UM-ADB-PRQ-PVVD15-003-0020_00277 a 00279
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Boa tarde caro Sérgio,
Segue a minha modesta interpretação do documento em causa:
a) Julgo que o requerimento terá sido indeferido por ser considerado desnecessário.
b) Mais do que mera fixação de residência, parece-me que a suplicante teria sido confiada à guarda de seu tio.
c) Neste caso a "nota no seu procedimento" parece-me referir-se ao facto de não existir qualquer justificação para que o marido se aproprie dos rendimentos do morgadio que são dela por direito, uma vez que não existem filhos a salvaguardar nem ela teve qualquer conduta imprópria (possivelmente em relação à gestão do próprio morgadio).
Espero que tenha sido de alguma ajuda,
Com os melhores cumprimentos,
SF
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Boa tarde, cara Stella.
Muito obrigado pela sua interpretação do documento. Há no entanto aspectos algo nebulosos que ando a tentar esclarecer. Estou a escrever, até para minha própria orientação, um texto que aborda a história deste ramo familiar, bastante complexa e repleta de episódios e factos estranhos.
Se estiver interessada, partilharei esse texto consigo quando o concluir, mas preferiria fazê-lo, por agora, fora do âmbito deste fórum. Enviar-lho-ei por email se assim o desejar. O meu endereço é asmlopes@netcabo.pt.
Melhores cumprimentos,
Sérgio
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