Casamento Real 1777?

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Casamento Real 1777?

#29126 | Monigo | 20 oct. 2002 13:37

Olá a todos

por favor. gostaria de obter mais informações sobre o casamento entre o Príncipe D. José (1761-1788) e sua tia D. Maria Francisca Benedita (1746-1828). A magnífica coleccão "Nobreza de Portugal e do Brasil" diz que o casamento foi um plano diabólico do Marquês de Pombal para assegurar o poder no caso da iminente morte do Rei D. José I.
Deste modo o Marquês de Pombal contava usurpar os direitos da futura Rainha D. Maria I e fazer subir ao trono o seu filho e sua irmã. Mas a tentativa de usurpação falhou porque D. José morreria dias depois do casamento.
Porque D. José deu permissão a este casamento?
Ao que parece ficou uma mágoa entre D. Maria Francisca Benedita e sua irmã. Era D. Maria Francisca Benedita conivente com os planos "diabólicos" de Pombal? Ela tinha "ambições"?
O casamento chegou a ser consumado?
Qual a reação e opinião da nobreza e do povo em Portugal na época do casamento?
Qual a reação do corpo diplomático em Lisboa e das cortes estrangeiras?
Muito obrigado
Monigo

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RE: Casamento Real 1777?

#29130 | jpcmt | 20 oct. 2002 14:35 | In reply to: #29126

Caro Confrade:
Há uma versão muito menos diabólica e muito mais romântica dos acontecimentos.
Dom António-Xavier da Gama Pereira Coutinho (Soydos) na sua “Armânia, A Sereia dos Olhos Verdes” (Porto, 1941) em que trata de D. Mariana Joaquina Apolónia da Costa Pereira de Vilhena Coutinho (Armânia é um anagrama de Mariana, nome porque esta senhora foi cantada pelos poetas), diz:
“....D. Mariana Coutinho. Trata-se duma alta paixão que despertou: E quem por ela a sentiu foi S.A.R. o senhor D. José, Príncipe do Brasil, herdeiro do Trono.
.............................
O Príncipe D. José, aquêle mancebo simpático que a morte arrebatou tão cêdo - desesperando a Nação -; aquela esperança cadente que Beckford nos descreve, conquistada pelo credo Pombalino, a divagar, enfática e elogiosamente sôbre o despotismo esclarecido - moda da época e gérmen de futuros males - tivera a sua aurora sentimental, como qualquer dos seus súbditos.
O caso era grave; D. Maríana, senhora de gerarquia, educada em princípios rígidos e habituada a servir lealmente a Família Real, nem queria quebrar a sua dignidade, nem ser descortês para com o seu Príncípe e seu futuro Monarca.
Atordoada, mas serena, logo imaginou uma defesa, ao mesmo tempo firme e habilidosa: - Activar o casamento do Príncípe. - Talvez que ouvisse, em conselho, a avó; talvez que esta comunicasse o perigo e a urgência do remédio à sua particular amiga a Condessa de Daun, Marquesa de Pombal; talvez que a Marquesa desabafasse, propositadamente, com o ministro, e, talvez enfim, que a própria Rainha e Sua Filha fôssem postas de sobreaviso, pela previdência e pela. dedicação de D. Apolónia-Maria Pacheco de Sousa, a qual servira Uma e criara a Outra, devendo, portanto, possuir no Paço a intimidade respeitosa que os Principes costumam permitir aos seus velhos servidores. - ... Tudo hipóteses; mas certo é o facto de D. Mariana-Joaquina-Apolónia de Vilhena Pereira Coutinho ter sido um dos principais e dos mais deligentes factores do consórcio do Principe D. José com Sua Tia, a Infanta D. Maria Benedita.
Quanto teria trabalhado pelos escaninhos do Paço, numa altura em que cada corrente politica apresentava a sua pretendente matrimonial? ...
O outro trama do seu passado sentimental, que docemente comoveu a formosa Armânia, veio a servir ao Escritor D. João de Castro para assunto do seu belo conto, “A Sereia dos Olhos Verdes” no seu livro – “Portugal Amoroso”
(trata-se aqui do seu casamento com Miguel de Arriaga Brun da Silveira. D. Mariana ficou na História mais conhecida como Mariana d’Arriaga.
Acrescente-se que D. Mariana era açafata e confidente de D. Francisca Benedita. Parece que foi ela que sugeriu este casamento...
A propósito: Já visitou o Centro de Apoio Social de Runa, das Forças Armadas, mandado construir pela Princesa Real? Vale a pena ver.

Cumprimentos,
J. de Castro e Mello Trovisqueira

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RE: Casamento Real 1777?

#29138 | Monigo | 20 oct. 2002 16:05 | In reply to: #29130

Olá Confrade

muito obrigado pela resposta! Realmente muito interssante!
Mas.....como uma mera sugestão desta senhora D. Mariana Joaquina Apolónia da Costa Pereira de Vilhena Coutinho arranjaria o casamento real?
E além disto por que cargas d'água esta senhora arrumaria um casamento para o seu amor? Que tipo de "defesa" era esta? Ela estava em estado interessante do Príncipe?
E como ela vem a se apaixonar por um menino de 15 anos?
E porque o "Nobreza de Portugal" publicado 20 anos depois deste livro não faz menção a esta história?
Muito obrigado
Monigo

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RE: Casamento Real 1777?

#29140 | jpcmt | 20 oct. 2002 16:16 | In reply to: #29126

Caro Confrade:
Quem se apaixonou por D. Mariana foi o Príncipe (então pouco mais que uma criança) e não o contrário! O casamento era impossível, pois D. Mariana, embora nobre, não tinha sangue real.
A solução que teria cogitado e confiado a D. Maria Francisca Benedita foi uma maneira "airosa" para se livrar da camisa de onze varas onde a tinham metido!
jpcmt

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#354457 | Monigo | 06 févr. 2015 09:01 | In reply to: #29140

Retomando este assunto depois de mais de 12 anos: à luz dos últimos estudos parece que o casamento não foi um plano diabólico de Pombal mas da rainha Mariana Vitoria e de seu irmão rei Carlos III da Espanha para empedir um casamento do príncipe D. José com uma princesa francesa.
A ideia de D. Mariana Vitoria e de Carlos III era manter Portugal sob o domínio dos espanhõis.
Algo a acrescenar, por favor?

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#354490 | Benas | 07 févr. 2015 01:57 | In reply to: #354457

Olá Alberto ;-)

Nunca ouvi falar de qualquer proposta de casamento entre o Pr. D.José e qualquer princesa francesa.

Que elementos tem que possam sustentar esta proposta ?

Um tal casamento poderia querer fazer resvalar Portugal para a órbita do Pacto de Família Bourbónico, que já nos custara uma invasão (meio a brincar) dos espanhóis em 1764.

Quem teria interesse, em Portugal, no realinhamento de Portugal com França, o que contrariava os interesses britânicos ? Pombal, certamente que não !

A única princesa francesa da idade de D.José era a Princesa Elisabeth, três anos mais nova, que acabou por nunca casar.

Irmã de Luis XVI, tendo tido oportunidade de abandonar a França com os tios após a revolução, preferiu acompanhar o irmão e a sua família na sua prisão, acabando por morrer guilhotinada.

O único projecto de casamento que se lhe conhece foi com o Imperador José II, irmão de Maria Antonieta, duas vezes viúvo, desconhecendo porque razão esse casamento não foi àvante.

Bernardo

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#354493 | Monigo | 07 févr. 2015 05:49 | In reply to: #354490

Bom dia,

agradeço a atenção de me responder mas devo dizer que está errado em todos os aspectos...

Não são especulações o quê foi escrito recentemente mas tudo baseado nos arquivos de Portugal, Franca e Espanha.

Pombal sim! Pombal queria fazer um casamento de D. José com a princesa francesa que veria a ser guilhotinada.

A respeito dela só recentemente se falou do projeto de casamento com D. José mas nos anos 1780s ela foi considerada de novo para D. João e esta segunda parte já é conhecida há muito tempo. Mas foi mais uma pressão vinda de Versalhes.

Retornando aos anos 1770s se dependesse de Pombal D. José teria certamente se casado com a francesa mas D. Mariana Vi(c)toria estava a agir nos bastidores junto ao irmão Carlos III da Espanha para impedir esta aliança. Achavam um perigo para a influência da Espanha em Portugal uma aliança francesa. (para além disto a minha opinião, que não se baseia em nenhum estudo é que D. Mariana Vitoria ainda estava "traumatisada" e principalmente despeitada pela Corte de Versalhes). A rainha pressionava D. José e em Novembro de 1776 ela assume a Regência e impede a entrada de Pombal no Paço (ou Real Barraca) e D. José no leito de morte declara a vontade de realizar o casamento de D. José com sua tia Maria (Francisca) Benedita. Contestaram que seria necessária a dispensa papal. Aí então D. Mariana Vitoria, para surpresa geral, apresenta a dispensa que veio do Vaticano VIA MADRID.

Pombal já não podia fazer nada para impedir este casamento absurdo. Do mesmo modo que não foi ele certamente que fez o casamento de D. Maria com seu D. Pedro.

Entre os estudos recentes cito nomeadamente as obras do Professor Paulo (Cesar) Drumond Braga publicados nos últimos cinco anos.

Quando me lembrar de outros eu os mencionarei.

Por minha parte estou a pesquisar nos arquivos do Palacio Real de Madrid que têm sido inexplorados até o momento.

Sugiro a leitura de Joseph II por Derk Beales (Volume I) onde se explica que se bem que Maria Teresa gostaria de ver o futuro imperador Joseph casado com d. Maria (Francisca) Benedita tal não pode ser por Portugal ser aliado da Inglaterra e naquele momento Maria Teresa queria muito a aliança dos Habsburgos com a França.

Com pode ver estou ás voltas no exato momento com D. Maria Francisca Benedita, o príncipe D. José e principalmente D. Mariana Vi(c)toria,

Alberto



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#354494 | Monigo | 07 févr. 2015 06:07 | In reply to: #29126

Talvez não tenha ficado claro que D. Mariana Vitoria pressionava o REI D. José, o neto talvez também.

Não sou admirador de Pombal, longe disto.

E no que diz respeito à aliança inglesa Portugal sob Pombal sempre cuidou com temor a vizinha mais próxima, a Espanha.

Quando se cogitou de uma aliança da futura rainha D. Maria I com o duque de Cumberland a Espanha impôs seu veto e Pombal obedeceu.

Quando do casamento do príncipe D. José com sua tia em Portugal houve o sentimento que se estava a perder a independência da Espanha....

Agradeço qualquer elemento que possa trazer, Bernardo. Questionamentos, contestações, etc.

Atenciosamente,

Alberto

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#354506 | Benas | 07 févr. 2015 18:16 | In reply to: #354494

Do que tenho lido sobre Pombal, nunca me apercebi que ele tivesse a Espanha em tão grande conta.

Quanto ao casamento de D.Maria com o duque de Cumberland, sempre achei que esse era o candidato com menos hipóteses.

A começar pelo facto da diferença de religiões. Cumberland decerto não se converteria.

D.Maria estava apaixonada pelo futuro duque de Lafões, que Pombal exilou; depois havia a hipótese mais forte, a do infante D.Luis de Espanha, irmão de D.Mariana Victoria.

Tio por tio, D.Maria acabou por casar com D.Pedro.

Bernardo

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#354520 | Monigo | 08 févr. 2015 10:36 | In reply to: #29126

O senhor leu a mensagem mais acima número 354493?

Pombal achava um mal menor a futura rainha D. Maria I se casar com o infante D. Pedro a que ela se casasse com o infante espanhol Don Luis.

E justamente por Pombal ser contra um domínio espanhol e aliança com a Espanha é que ele iniciou negociações com a corte de Versalhes com vista a uma aliança entre o herdeiro de D. Maria com a princesa francesa, madame Élisabeth. Mas D. Mariana Vitoria estava agindo desde há tempos junto com o irmão rei da Espanha para um casamento do jovem D. José com a tia.

Na época houve gente se sentiu ameaçada por esta aliança tia-sobrinho para a independência de Portugal. Mas Pombal já não podia fazer nada pois teve o acesso ao rei D. José I proíbido pela rainha D. Mariana Vitoria já no dia 20 de novembro de 1776.

A corte de Versalhes tentou casar madame Élisabeth com o infante D. João em1785 e usaram até de calúnias contra os Borbones ("jogo sujo"). Mas isto já é outra história. Bem conhecida e documentada. O que veio á tona só recentemente, nomeadamente com os estudos do professor Paulo Drumond Braga, foi a tentativa de uma aliança franco-portuguesa tentada por Pombal antes da morte de D. José I. E o papel determinante da rainha D. Mariana Vitoria na aliança de tia com sobrinho.

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