Segredos de Familia
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Segredos de Familia
Caros confrades,
iniciei a genealogia da familia FONSECA em Leiria mas devido ás guerras Napoleónicas muito se perdeu ao nivel de arquivos e registos pariquiais,o que me irá levar provávelmente a desistir deste ramo familiar ainda assim descobri que existe alguma relutancia e resistencia das pessoas em facultar informações.Uma pessoa que fazia investigaçõres da sua familia disse-me que os FONSECA tinham muitos segredos. Pelo que se consta esta familia não apoiou D. João I e colocou-se ao lado dos Castelhanos e que os chefes desta familia se exilaram na Galiza e onde atingiram grande notoriedade através dos Arcebispos e isto não é segredo para ninguem. Assim haverá algo mais escondido? Era esses segredos que gostaria de saber, quem sabe não me ajudem na minha pesquisa.
Obrigado.
Cumprimentos;
Monteiro.
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RE: Segredos de Familia
Caro Confrade Monteiro
Infelizmente, a "relutancia e resistencia das pessoas em facultar informações" que refere ainda é uma realidade incontornável. No meu caso, conheço algumas pessoas que adoram dizer que são detentoras de grandes segredos e inéditos documentos, achando que isso lhes acrescenta poder e importância, quando, na verdade, apenas contribui para salientar o seu espírito mesquinho. É até o caso de pelo menos um arquivo público, que não revela e disponibiliza o acesso aos fundos documentais de que é fiel depositário - caso contrário, estaria a reduzir o campo de investigação aos seus quadros ou aos ilustres professores da instituição a que está associado -, onde a aplicação das novas tecnologias é uma miragem, não existindo sequer uma sala de leitura de microfilmes. Assim, muitos dos antigos livros paroquiais continuam a desfazer nas mãos dos numerosos frequentadores, aos quais, ainda por cima, é cobrado o preço de uma certidão para a cópia de cada assento que tiverem a veleidade de solicitar, quando o próprio Decreto-Lei que instaurou a nova tabela de emolumentos do Registo Civil e Notariado prevê em ambos os casos a emissão de fotocópias não certificadas a preço substancialmente inferior, já para não mencionar que a quem não interessasse a certidão poderiam ser fornecidas simples fotocópias a partir dos microfilmes que conservam (não se sabe para quê). E poder-se-ia ainda falar das condições de conforto do utilizador, isto é, de mesas e cadeiras que nos tempos que correm mais parecem próprias da sala de visitas de um estabelecimento prisional, da ausência de candeeiros individuais, do insuficiente número de suportes para a leitura de códices, enfim, este é um rosário que bem poderia continuar a ser desfiado.
Eu compreendo e aceito perfeitamente que se mantenha sob reserva os resultados de trabalhos que exigiram uma esforçada pesquisa, ainda para mais quando os respectivos autores os pretendem editar - mas só nesse caso.
Quando penso no que nós hoje usufruímos da generosidade de tantos que nos antecederam, que dedicaram vidas inteiras a laboriosos estudos, muitas vezes publicados a expensas próprias, não para abrilhantarem os respectivos currículos, mas tão somente com o nobre e desinteressado intuito de prestarem um SERVIÇO PÚBLICO - e não havia facilidade de transportes, fotocopiadoras, microfilmagem, digitalização... Basta entrar na sala dos catálogos da Torre do Tombo - que logicamente não é o arquivo a que atrás me referia - e tentar imaginar o esforço que representou a elaboraçção dos índices das Chancelarias Régias, que tantas vezes nos passam pelas mãos; realizando por outro lado que desde então permanecem por inventariar as Chancelarias da Casa do Infantado e da Casa das Rainhas, além de milhares de maços do Tribunal Desembargo do Paço: ainda em 1984 (e porventura na actualidade), havia 1658 maços "representando 200 m aproximadamente" que ainda não tinham tido qualquer espécie de tratamento arquivístico, "desconhecendo-se portanto a sua repartição de origem", e faltavam índices para 1089 maços da Repartição do Minho e Trás-os-Montes, para 548 da da Beira e para a totalidade dos livros.
Correspondendo apenas à ponta do véu, este exemplo serve no entanto para demonstrar muito do drama com que continuadamente se debatem neste País os investigadores de assuntos históricos: apesar de se ter a certeza que a solução para anos de árdua pesquisa jaz nas estantes dos depósitos de determinado edifício, não há como aceder-lhe!
Depois de esta longa divagação, e retomando a sua mensagem, posso dizer-lhe que desde há cerca de uma década estou envolvido na reconstituição de uma família do mesmo distrito, centrada no actual concelho de Pombal e possuindo duas importantes ramificações em Leiria e Ourém. Portanto, conheço muito bem as situações de que se queixa, mas não posso deixar de lhe transmitir a minha opinião pessoal, que é a seguinte:
-por um lado, nesta zona os Franceses têm tido as costas muito largas e servido de alibi a indivíduos que sem qualquer espécie de escrúpulos foram esvaziando alguns cartórios dos seus mais preciosos exemplares;
-noutros casos, a documentação deve encontrar-se num estado tal de desleixo e conservação, que os seus curadores preferem omitir a sua existência. Julgo que poderá ser este o caso da documentação diocesana, cuja destruição pelo Exército do General Massena julgo nunca ter sido devidamente provada (como no caso de Aveiro, em que estão documentados incêndios no Paço Episcopal). Mas mesmo que tal tivesse acontecido em 1811, continua por explicar o paradeiro da restante documentação oitocentista, parecendo-me altamente improvável que tivesse sido levada para Coimbra aquando da extinção do bispado (será, possivelmente, mais um argumento de grande utilidade);
-existem ainda exemplos onde se terão conjugado os dois tipos de situações, como é o caso da documentação municipal de Pombal, que ao longo do último século foi alvo de uma escandalosa negligência, que muito contribuiu para que do respectivo arquivo desaparecesse o próprio foral manuelino da vila, além de uma boa parte, senão a totalidade, dos códices do Convento do Louriçal, que para ali tinham sido depositados (o que costuma ser uma maneira elegante de dizer que foram roubados).
Lamentavelmente, terá sido esta a realidade de muitos concelhos por este Portugal fora, em que os crimes patrimoniais, apesar da sua enorme frequência, raramente são notícia, designadamente os de carácter documental, pois este é um assunto totalmente desprovido de impacto mediático, que hoje em dis parece ser a única coisa que atormenta as más consciências. Com efeito, a generalidade das pessoas quer lá saber da papelada velha - desde que lhe vão construindo mais estradas e rotundas...
No que toca aos Fonsecas de Leiria, parte desses "muitos segredos" poderá estar relacionada com o facto de a dada altura ter recaído sobre alguns membros desta família terem sido infamados de cristãos-novos e perseguidos pelo Santo Ofício. A isso se refere Felgueiras Gayo no §§ 7 e 14 do título de "CASTELLOSBRANCOS", embora no primeiro comece por relatar o casamento de Diogo Soares (ou Vaz) de Castelo Branco com Catarina da Fonseca, "fª de Alvaro Glz da Fon.ca Fid. da Casa Real q jaz em sepultura honrada com Armas, eletreiro aporta de S. Fran.co da cid.e de Leyria". O filho herdeiro, António Vaz de Castelo Branco foi casado em primeiras núpcias com D. Ana de Sousa, filha do 4.º Sr. do Guardão, casa que viria a recair na sua ilustre descendência. O 2.º casamento foi com Francisca da Fonseca, que provavelmente já seria cristã-nova, da qual teve os seguintes filhos: Francisco Vaz de Castelo Branco, "casado com Joanna Lobo xª nova q foi penetenciada pello S. Offº fª de Henrique da Cunha, esua m.er Branca da Fon.ca", com geração descrita no outro parágrafo; e Bernardo da Fonseca de Castelo Branco, "casado 3 vezes das 2 pr.as s.g. e da 3ª casou com D. Catª Soares fª de hum Medico x novo", da qual teve um filho chamado Pedro de Sousa da Fonseca, "q foi pª India onde casou c.g.".
No entanto, não nos podemos esquecer que se trata de um apelido muito difundido, pelo que certamente terão existido muitos outros ramos de Fonsecas na região, nada garantindo que estejam relacionados entre si.
Para que a minha ajuda possa ser eficaz, nomeadamente através da indicação de fontes e bibliografia, precisava de saber qual o âmbito da sua investigação (se são todos e quaisquer Fonsecas, ou tão somente algumas linhas), a respectiva delimitação geográfica (se considera apenas os que residiam na cidade, ou contempla também outras zonas), e, sobretudo, quais as épocas que mais lhe interessam.
Não posso deixar de me despedir sem lhe desejar as maiores felicidades, e aconselhá-lo a não desistir perante esse tipo de contrariedades, já que, no que diz respeito à Genealogia, creio que os resultados de tudo aquilo que não é fácil e exige empenho acabam por ser os mais gratificantes e recompensadores.
Um abraço
Miguel Mora
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RE: Segredos de Familia
Caro Sr M. Mora,
agradeçolhe a bondade de me ter respondido.
Pelos vistos não sou o unico a ter dificuldades em pesquisar informações aqui em Leiria ainda há minutos li duas mensagens onde também se queixavam dos mesmos entraves.
Dado as dificuldades todos os fonsecas da zona de Leiria me interessam e depois logo farei a filtração; embora e para lhe ser mais exato eu descendo dos Fonsecas que se radicaram na Freguesia de Colmeias - Leiria e como se não bastasse esta freguesia pertencia á ordem dos templários que não eram pródigos em guardar informações escritas.Estou a ver se consigo consultar os registos desta freguesia mas o pároco é mais um entrave, mas acho que achei uma solução, vamos ver se resulta.Se me puder ajudar em alguma coisa fico-lhe agradecido.
Cumprimentos,
Daniel da Fonseca Monteiro.
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RE: Segredos de Familia
Caro Miguel Mora, consegui falar com o o pároco da minha freguesia e confirmou-se o meu receio, os registos paroquiais só vão até 1860 o que me é manifestamente insuficiente e se dantes estava dificil progredir agora complicou-se; enfim seja o que Deus quiser. Vou ver se tenho novas ideias que me ajudem a avançar, se me puder ajudar desde já lhe agradeço.
Cumprimentos,
Daniel da Fonseca Monteiro.
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RE: Segredos de Familia
Caro Daniel da Fonseca Monteiro
Em primeiro lugar não posso deixar de lhe apresentar as minhas desculpas por só agora me ter sido possível responder às suas mensagens, o que se deve não só ao facto de ter demorado a reunir alguns dados que lhe queria apresentar mas também a uma inesperada avaria no meu PC, do qual estive privado mais de duas semanas.
Parece-me, no entanto, que não compreendeu algo que estava subjacente à minha mensagem, que é a necessidade de os investigadores destas matérias fazerem uso de um velho e salutar princípio chamado “dúvida metódica”, isto é, de não aceitarem como verdades absolutas as informações que lhes vão sendo prestadas e questionarem permanentemente essas supostas realidades, como é o caso que relata a propósito do Pároco da sua freguesia. Como depreendo que seja a de Colmeias, fica a saber que os livros paroquiais da mesma abrangendo o período de 1811 a 1905 se encontram microfilmados - microfilmes esses que foram realizados no Arquivo Distrital de Leiria , esse sim o local onde deve procurar esse tipo de registos (os da freguesia da Sé, por exemplo, vão de 1810 a 1910).
Em Portugal, a partir de 1860, houve uma tentativa de transformação do registo paroquial em civil: os assentos passaram a ser feitos em duplicado, e, para cada categoria e ano civil, passou também a ser obrigatória a utilização de livros distintos. Assim, quando a seguir à implantação da República os responsáveis Igreja Católica Portuguesa foram obrigados a entregar ao Estado os livros paroquiais - uma boa parte dos quais já havia recolhido aos seminários diocesanos - de um modo geral ficaram retidos nas respectivas igrejas os duplicados dos assentos posteriores a 1860, tal como deve ter acontecido no caso de Colmeias.
Ainda que os registos paroquiais constituam o meio mais procurado - e a seguir à cópia, o mais fácil - para se elaborarem genealogias, não são de forma alguma o único, havendo até quem dispense a sua consulta a partir do momento em que consegue estabelecer determinada ligação aos nobiliários, como se estes tivessem um estatuto de infalibilidade e não devessem ser analisados com um espírito altamente crítico, dada a quantidade de fantasias que os povoa.
Na realidade, não têm conta as obras e os documentos onde poderá encontrar provas ou pistas sobre laços familiares, pelo que lhe deixo aqui as seguintes sugestões:
=Antes de mais, julgo ser essencial o conhecimento tão completo quanto possível dos locais onde a família que se pretende estudar está ou esteve implantada. Para isso existem obras de carácter generalista, como as enciclopédias - sobretudo a “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira”, que em muitos casos indica bibliografia no final dos artigos -, as corografias - “Corografia portugueza”, do Padre António Carvalho da Costa; “Diccionario geografico”, do Padre Luís Cardoso; “Portugal antigo e moderno”, de Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal; “Portugal”, de Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues; “Dicionário corográfico...”, de Américo Costa, etc. Esta última obra indica habitualmente a entidade a quem competia a apresentação do pároco, dado esse da maior importância para a pesquisa documental.
Creio ainda não ter qualquer fundamento aquilo que lhe disseram a respeito dos Templários, cuja Ordem foi extinta pelo Papa Clemente V, a 2-IV-1312 (época em que não seriam de esperar relatos muito pormenorizados), vindo os seus bens a ser posteriormente entregues à Ordem de Cristo, instituída por bula do Papa João XXII, de 14-III-1319. Aliás, nem sequer me parece que esta possuísse grandes domínios na zona de Leiria, onde entre os principais proprietários sobressaíam a Casa de Vila Real, a Mitra e o Cabido da Sé, e os diversos conventos da cidade (S. Francisco, St.º Agostinho e St.ª Ana). Após a extinção daquela nobilíssima Casa, em 1641, os bens confiscados acabariam por constituir a parte principal do património da Casa do Infantado, que passou assim a deter um enorme conjunto de propriedades na região leiriense.
=Outras fontes importantes entram na categoria das chamadas memórias, que tanto podem ser impressas - caso do famoso “O couseiro ou memorias do bispado de Leiria” - como manuscritas - com destaque para as informações remetidas em 1721 à Academia Real da História (parte das do bispado de Leiria encontra-se no Cód. 153 do Fundo Geral da Biblioteca Nacional, e as do provedor da Comarca de Leiria constituem o Cód. 503 dos Manuscritos Reservados da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra) e para as informações paroquiais de 1758, encadernadas nos 43 volumes do célebre “Dicionário Geográfico” do antigo convento das Necessidades, actualmente na Torre do Tombo.
=Fundamentais são ainda as obras de âmbito local, que, numa terra da dimensão de Leiria, certamente abundam, das quais poderá encontrar espólios de grande valor tanto na Biblioteca de Apoio do Arquivo Distrital de Leiria (que possui dezenas de milhares de livros provenientes da antiga Biblioteca Pública, bem como a sua preciosa colecção de jornais locais e regionais, abrangendo o período de 1855 até à actualidade) como na Biblioteca Municipal de Leiria. De entre os mais variados temas, indico a título de exemplo as que se seguem:
-“Anais do município de Leiria”, de João Cabral (dedicadíssimo investigador que ainda tive o privilégio de conhecer);
-“Inventário Artístico de Portugal. Distrito de Leiria”, de Gustavo de Matos Sequeira;
-“Leiria. Subsídios para a história da sua diocese”, de Afonso Zúquete;
-“Heráldica leiriense”, de Alda Sales Machado Gonçalves;
-“Dicionário dos autores do distrito de Leiria”, de Agostinho Gomes Tinoco.
=A Biblioteca Nacional (bnpontoptbarradefaultpontoasp), principal instituição congénere do País, possui antes de mais o maior fundo de genealogias manuscritas portuguesas, essencialmente repartido entre os Códices e a Colecção Pombalina, além de um número menor que integra alguns arquivos particulares, caso da Livraria Tarouca. Indico apenas as seguintes:
-“Colecção de vários títulos genealógicos de famílias de Portugal”, alguns dos quais foram atribuídos ao leiriense António Vaz de Castelo Branco (Cód. 1030 a 1035 dos Códices);
-“Nobresa da Estremadura”, de José Freire de Monterroio Mascarenhas (Ms. 96 da Colecção Pombalina).
=No Arquivo Distrital de Leiria (adlrapontonetfirmspontocom) encontra-se depositada uma grande parte dos principais fundos documentais da região, nomeadamente:
-Confrarias: Irmandade de St:ª Cruz e Passos de N.º Sr. Jesus Cristo de Leiria (1833-1911);
-Diocesanos: Cabido da Sé de Leiria (1801-1916); Mitra da Sé de Leiria (1615-1908);
-Famílias: Casa do Infantado (1763-1885);
-Governo Civil de Leiria (1834-1998): tem núcleos de grande interesse, entre os quais os dos Passaportes e Recenseamentos;
-Monásticos: Convento de St.ª Ana de Leiria (1581-1914); Convento de St.ª Agostinho de Leiria (1520-1945). A profissão religiosa não dispensava a habilitação de genere, sendo ainda possível encontrar muitos dos correspondentes processos;
-Notariais: o fundo é bastante completo e recuado no tempo;
-Paroquiais: o respectivo inventário está publicado;
-Pergaminhos (1391-1786).
=Arquivo Municipal de Leiria (séc. XVIII-actualidade): é permitida a consulta mediante pedido prévio de autorização. Ali se encontra certamente a documentação da extinta Administração do Concelho (que entre 1834 e 1936 foi responsável pelo registo e cumprimento dos testamentos).
=Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Leiria (1777-actualidade): é permitida a consulta mediante pedido prévio de autorização. Durante muito tempo, para se ser admitido como “irmão” era necessário provar a limpeza de sangue, sendo ainda conservados por muitas destas instituições os respectivos processos.
=Na Torre do Tombo (ianttpontopt) - sede do Instituto dos Arquivos Nacionais -, e numa fase mais avançada da sua pesquisa, poder-lhe-ão ser de grande utilidade os seguintes fundos:
-Casa do Infantado (1650-1833);
-Chancelarias Reais (1279-1826): possuem índices de nomes (próprios) e de localidades e ofícios (comuns);
-Desembargo do Paço - Repartição da Corte Estremadura e Ilhas (1744-1833): possui índices de nomes (próprios) e de localidades e ofícios (comuns);
-Dicionário Geográfico (1758): já referido;
-Genealogias Manuscritas;
-Habilitações da Ordem de Avis (sécs. XVII-XIX);
-Habilitações da Ordem de Cristo (sécs. XVI-XIX);
-Habilitações da Ordem de Santiago (sécs. XVI-XIX);
-Institutos Religiosos (988-séc.XIX);
-Leitura de Bacharéis (sécs. XVII-XIX): processos de habilitação daqueles que serviam os lugares de Letras;
-Mesa da Consciência e Ordens: com destaque para os Tombos das Comendas;
-Ministério do Reino - Decretamento de Serviços (1643-1843);
-Mordomia-Mor da Casa Real (1755-1910);
-Registo Geral de Mercês (1639-1949): dispõe de uma base de dados;
-Tribunal do Santo Ofício (1547-1820): dispõe de uma base de dados;
-Vínculos (sécs. XIV-XIX): o registo vincular está organizado por distritos.
Tudo isto constitui apenas uma amostra de como é possível superar a falta de registos paroquiais.Por conseguinte, não deverá dispensar uma aturada pesquisa nos sites da Biblioteca Nacional, do Arquivo Distrital de Leiria e da Torre do Tombo, o qual até tem um tópico onde se ensina a dar os primeiros passos nos estudos de genealogia e história local - tomara eu, quando me iniciei nestas lides, ter podido dispor de algo semelhante à Internet. Muito útil se revelará ainda a consulta dos diversos roteiros e catálogos publicados pelos mesmos arquivos, e bem assim a de preciosos auxiliares como o “Guia do estudante de História Medieval Portuguesa”, de A. H. de Oliveira Marques, ou o “Roteiro de fontes da História Portuguesa Contemporânea” (em 4 volumes), de Joel Serrão, Maria José da Silva Leal e Míriam Halpern Pereira.
Quase a terminar, não posso deixar de insistir no facto de, tal como os limites temporais de alguns fundos existentes no Arquivo Distrital de Leiria o demonstram, ser falsa uma boa parte da culpa que os Franceses carregam, a qual tem servido, isso sim, quer para favorecer quer para justificar situações tão ou mais condenáveis.
Finalmente, não gostaria de o ver perder o ânimo, porque, como se viu, há todo um mundo à sua espera; só precisa de arregaçar as mangas e começar a explorá-lo. Mais do que Deus - cujo Nome poderá ter sido invocado em vão - a sua pesquisa será sobretudo aquilo que o Daniel quiser.
Um abraço
Miguel Mora
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RE: Segredos de Familia
Caro Miguel Mora
Li com muito gosto a mensagem que enviou ao nosso Confrade Daniel da Fonseca Monteiro.
Agradeço-lhe também muito as valiosas informações-imprescindíveis que aqui deixou.
No meu caso, embora não seja, propriamente, um "principiante", não passo de um simples amador, ignoro ainda muito que é elementar e tantas vezes terei insistido demasiado na procura de conselhos, instruções (sobretudo, de carácter informático e documental)e outras informações que só posso obter através da boa vontade de amigos e confrades.
Assim, é de louvar e nunca é demais enaltecer o altruismo de muitos Confrades,é o caso da sua mensagem, aqui, no Forum; porque estão sempre prontos a dar uma ajuda, sem outro interesse que não seja:colaborar desinteressadamente,entreajuda, e procuram valorizar e entusiasmar por uma Genealogia sólida, fundamentada e bem documentada,e ao mesmo tempo agradável a todos os investigadores.
Com os meus melhores cumprimentos
Rafael Carvalho
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RE: Segredos de Familia
Caro Sr. Miguel Mora ;
nem sei como lhe agradecer, é o que dá eu ser novo nestas andanças; mas graças a si já vi que novas portas se abriram.
Muito obrigado.
Com os meus melhores cumprimentos;
Daniel da Fonseca Monteiro.
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RE: Segredos de Familia
Caro Senhor
Seria factível informar-me, no tocante a Lamego e respectível concelho, se além das fontes citadas e, dos arquivos e bibliotecas relacionadas com os locais em apreço, que pistas adicionais poderia sugerir, para uma investigação genealógica exaustiva?
Séculos XVI e XVII.
Obrigado e melhores cumprimentos
Gervásio Costa
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RE: Segredos de Familia
Caro Rafael Carvalho
Agradeço, reconhecido, as amáveis palavras que me dirigiu, certamente injustificadas, porque mais não tenho feito do que tentar pôr em prática um velho princípio cristão - e não só -, que dá pelo nome de partilha. Esta, no que diz respeito às actividades genealógicas, acaba por ser muito prejudicada por situações do tipo das que referi na minha primeira intervenção neste tópico, umas decerto desculpáveis, outras seguramente lamentáveis.
No meu caso, apesar de ser um verdadeiro entusiasta da Genealogia, encaro a sua prática como uma actividade científica e não como um meio para atingir determinados fins, nem sempre recomendáveis, e que, infelizmente, tanto têm contribuído para o seu descrédito.
A Genealogia encerra um carácter universal, que transcende grupos, classes sociais, nações e civilizações; e, pelo menos na sua vertente oral, terá até precedido a própria História, podendo mesmo considerar-se o seu “grau zero”. No que toca à escrita, muitas foram as antigas civilizações que nos legaram as suas narrativas genealógicas, como acontece com as famosas “Listas de Reis” da Suméria e da Babilónia. Quanto à judaico-cristã, na qual nos inserimos, basta recordar que, no “Pentateuco”, o “Génesis” se encontra recheado de genealogias - “Descendência de Caim” (Gn., 4,17), “Patriarcas anteriores ao Dilúvio” (Gn., 5, 1), “De Sem a Abraão” (Gn., 11, 10), e por aí fora -, sendo ainda sintomático que, no “Novo Testamento”, as primeiras linhas do “Evangelho segundo S. Mateus” sejam dedicadas à “Genealogia” de Jesus Cristo (Mt., 1,1), tema igualmente abordado por S. Lucas, que no seu “Evangelho” nos traça a “Genealogia do Senhor” (Lc., 3,23).
Por tudo isto, e muito mais haveria a acrescentar, é no mínimo patético assistir às tentativas de apropriação de que a Genealogia entre nós continua a ser alvo, o que só serve para consolidar a conotação negativa que a maioria das pessoas lhe atribui. Para cúmulo, ainda recentemente essa discriminação foi consagrada no novo “Regulamento Emolumentar dos Registos e Notariado”, estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 322-A/2001, de 14 de Dezembro, em cujo Art.º 18.º (Emolumentos do registo civil e de nacionalidade) se pode ler o seguinte:
8—Exame de registos:
8.1—Pelo exame de livros para fins de investigação científica, por cada período de duas horas de consulta .................. 7 (euros)
8.2— Pelo exame de livros para fins de investigação genealógica, por cada período de uma hora de consulta .................. 7 (euros)
É triste - para não dizer indecoroso -, mas até para os nossos ilustres governantes a investigação genealógica representa metade do valor da sua congénere científica! Aliás, ainda estou para perceber como - ou com que autoridade “científica” - é que os funcionários das conservatórias as poderão diferenciar; tal como gostaria de conhecer a lista - certamente muito extensa - das investigações científicas que têm implicado o “exame” dos livros de registo civil.
Pela minha parte - e porque lastimo que se perca tanto tempo a discutir o acessório -, desejo apenas contribuir para um debate sério, amplo e fundamentado de temas genealógicos, procurando, na medida do possível, divulgar fontes e instrumentos de manifesta utilidade. E, no fim, se for capaz de transmitir nem que seja uma ínfima parte do fascínio que a Genealogia sobre mim exerce, darei por muito bem empregues as preciosas horas de sono que este Fórum me tem roubado.
Grato pela atenção dispensada, despeço-me com os meus melhores cumprimentos
Miguel Mora
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RE: Segredos de Familia
Caro Daniel da Fonseca Monteiro
Antes de mais, peço-lhe que não me trate por Sr.; e não precisa de me agradecer, porque foi para partilhar informações e trocar experiências que eu aderi a este Fórum.
Quanto às “novas portas”, elas são quase infinitas, tivéssemos nós tempo... Já D. António Caetano de Sousa - o maior genealogista português de todos os tempos - se lamentava em 1735 de que “não cabe no tempo de huma só vida poder alcançar tudo o que encerra o Archivo Real da Torre do Tombo” (“Apparato à Historia Genealogica da Casa Real Portugueza”, p. VI), e logo ele que tinha a Eternidade à espera.
Dando um salto para a sua freguesia de Colmeias, não quis deixar de confirmar o que dela dizia Américo Costa no seu “Dicionário Corográfico...”, onde consta o seguinte:
“A antiga freg.ª de S. Miguel das Colmeias era curt. da apr. do bispo de Leiria, no termo da mesma cidade”.
Tal informação vai no sentido do que eu lhe havia dito, e aponta em direcção aos fundos documentais do Cabido e da Mitra existentes no Arquivo Distrital de Leiria, onde será ainda absolutamente fundamental a pesquisa nos cartórios dos conventos leirienses, sobretudo para tentar localizar tombos em que tenham sido demarcadas propriedades na zona de Colmeias - posso até acrescentar-lhe que na não muito distante freguesia de S. Simão de Litém se situavam diversas propriedades foreiras ao convento de St.ª Ana de Leiria, uma das quais se chamava “Moinho das Freiras”.
A fundamental importância de que os tombos se revestem para a Genealogia, deriva do facto de neles se incluírem tanto os reconhecimentos do senhorio directo como as escrituras de novo emprazamento ou de renovação do anterior - casos em que, na maior parte das vezes, o foreiro ou senhorio útil tinha de justificar a posse da propriedade e o modo como a mesma lhe havia sido transmitida (por compra, por nomeação do pai ou da mãe, etc.). É possível, portanto, o estabelecimento de laços familiares, sendo este um dos principais recursos para a composição de genealogias medievais.
Já a forte presença em Colmeias da Ordem de Cristo (que foi como que a herdeira da do Templo) me levanta grandes dúvidas, não só porque em tal caso deteria o direito de apresentação do pároco, mas também porque da mesma não se descortina nenhum indício no recém-editado catálogo da Mesa da Consciência e Ordens - não afasto, porém, a hipótese de ali poder possuir alguma propriedade.
Aliás, no atrás citado “Dicionário Corográfico...”, Américo Costa cita o conhecido Padre Carvalho a propósito da capela de N.ª Sr.ª da Piedade, segundo o qual, a existência de um portal em ogiva e de pinturas no interior teria ser atribuída aos Templários, cuja cruz também havia sido descoberta em diversos marcos dos seus arredores; o que, como atestado de paternidade, me parece manifestamente insuficiente e destituído de qualquer suporte documental.
Não resisto, ainda, a deixar aqui o comentário que aquele Sacerdote mereceu ao mesmo D. António Caetano de Sousa (“Apparato à Historia Genealogica da Casa Real Portugueza”, p. CII , n.º 224), que segue:
“O Padre Antonio Carvalho da Costa, natural de Lisboa, Author da Corografia Portugueza, que em tres tomos imprimio nos annos de 1706. 1708. e 1712. em que acabou aquella obra, na qual trabalhou muito com desvelo, e curiosidade, de sorte, que pela sua applicaçaõ merece louvor, ainda que padeceo em muitas partes equivocações, que nos naõ pertence averiguar. Nestes livros trata de muitas Familias deste Reyno, desde a sua origem; porém o Author desta obra totalmente ignorou este estudo, e andou mendigando as Genealogias, que escreveo, como depois delle tem feito outros; copiou o que lhe deraõ, que foy destribuindo pelas partes, que lhe pareceo, ainda que naõ pertencessem àquelle lugar, defeito em que lhe naõ faltam companheiros, porque o seculo he de todos fallarem em Familias, o que naõ causa pouca adimiraçaõ ver a facilidade com que se instruem; porém verdade he, que referem chimeras, e cahem em absurdos. Nestes livros a parte Genealogica naõ merece attençaõ, porque nella se enxertaraõ em troncos antigos ramos desconhecidos, que lhe introduziraõ interessados na sua publicaçaõ, e como elle era hum bom Sacerdote, de animo syncero, de genio brando, e de facil crença, a tudo se persuadia, e a tudo dava igual fé. Era pobre, e com estas lisonjas agenciava alguma utilidade, supposto naõ era muita, porque com pouco se accommodava. Naõ digo que todas as Familias, que escreveo nos ditos livros, tem o mesmo vicio, porque nelles entraõ muitas Casas grandes, e illustrissimas, que naõ comprehende esta censura; confesso, que tambem o soccorri com algumas Familias, as quaes saõ conformes à verdade, quanto eu podia alcançar; porém como naõ he facil nos que lem, separarem, e distinguirem o verdadeiro do fabuloso, com a sua crença augmentam as fabulas, tendo por fundamento hum Author , que naõ soube nada de Genealogia; e assim naõ merece credito nesta parte o que escreveo”.
Mas, apesar da credibilidade que o emérito e insuspeito genealogista lhe negava, acabaria por ser reproduzido em praticamente todas as obras corográficas e enciclopédicas que desde então se publicaram, beneficiando hoje do invejável estatuto de fonte que na própria época lhe foi recusado.
No fundo, é apenas mais um episódio de “Portugal no seu melhor”!
Um abraço e mãos à obra
Miguel Mora
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RE: Segredos de Familia
Caro Gervásio Costa
Antes de prosseguir, deixe-me insistir no pedido para não ser tratado por Senhor, o que, aliás, me parece ser a regra que aqui vigora.
Quanto à sua mensagem, eu não serei certamente a pessoa mais indicada para o aconselhar, pois nunca fiz investigação genealógica relacionada com a cidade de Lamego, mas apenas pesquisas superficiais em algumas freguesias do bispado lamecense.
Assim, e por neste momento enfrentar sérios problemas na gestão do meu tempo disponível - o que me obrigará durante um mês a reduzir ao máximo as minhas intervenções neste Fórum -, terei forçosamente de ser mais sintético.
Posso , no entanto, deixar-lhe a minha modesta opinião:
=Para qualquer investigação é sempre fundamental uma boa pesquisa bibliográfica, e vai ver que, se no site da Biblioteca Nacional introduzir o termo Lamego no sistema de busca “sirius”, lhe aparece uma lista com pelo menos 384 registos, dos quais lhe lembro os seguintes:
-“Historia ecclesiástica da cidade e bispado de Lamego”, de D. Joaquim de Azevedo;
-“História do bispado e cidade de Lamego”, de M. Gonçalves da Costa.
Esta vultuosa obra (6 grossos vols.) é absolutamente essencial, embora a sua consulta nem sempre seja fácil; e, além do mais, está recheada de referências a fontes e bibliografia.
No ano passado, a Quarteto publicou uma tese intitulada “O mosteiro das Chagas de Lamego”, mas de momento não me recordo da respectiva autoria.
=A Biblioteca e Arquivo Municipal de Lamego tem um espólio valiosíssimo, segundo me pude aperceber numa rápida passagem pelo site da Câmara Municipal de Lamego - se no item “pesquisa” introduzir “arquivo municipal”, encontrará uma série de referências à documentação que nele se guarda.
=A Santa Casa da Misericórdia de Lamego deverá certamente possuir um rico acervo - sob a orientação dos arquivos distritais têm vindo a ser publicados os roteiros dos aqrquivos municipais e particulares existentes em cada distrito Projecto PARAM).
=No Arquivo Distrital de Viseu (aconselho-o a percorrer o respectivo site), destacam-se os seguintes fundos:
-Governo Civil de Viseu: apesar de ter início em 1835, nos livros do “Registo Vincular” poderá estar transcrita documentação muito anterior;
-Judicial;
-Monástico: o cartório do convento das Chagas cobre o período de 1530 a 1909;
-Notarial: o Cartório Notarial de Lamego abrange os anos de 1565 a 1996);
-Paroquial: a maior parte dos registos das paróquias lamecenses encontra-se arquivada no Paço Episcopal de Lamego.
=Como se acaba de perceber, a colecção do Arquivo Episcopal é riquíssima, e não diz apenas respeito aos paroquiais - em M. Gonçalves da Costa encontra abundantes referências a outras espécies ali conservadas.
=A propósito da Torre do Tombo, se através do site aceder à “Sala de Referência virtual” (via item “Fundos e Colecções”); constatará que após pesquisar o termo Lamego lhe é indicada alguma documentação, parte da qual é também mencionada por A. H. de Oliveira Marques no “Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa” - recomendo-lhe ainda a observação dos diversos catálogos e roteiros que têm sido publicados por esta instituição.
Quanto à lista que indiquei ao Confrade Daniel da Fonseca Monteiro; ela mantém-se no essencial, mudando apenas a Repartição do Desembargo do Paço, que passa a ser a da Beira - e que, infelizmente, não possui índices para 548 maços -, e acrescentando-se os Fundos eclesiásticos, que neste momento estão inacessíveis devido à sua rearrumação - antigamente, a documentação do Cabido da Sé de Lamego fazia parte da 2.ª incorporação das Corporações Religiosas.
Embora esta seja uma região em sou muito inexperiente, espero de algum modo ter podido responder à sua solicitação.
Com os melhores cumprimentos
Miguel Mora
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RE: Segredos de Familia
Caro Miguel Mora
Bem Haja pela sua preciosa ajuda.
Impressionante a sua generosidade e altruismo! Um verdadeiro exemplo a seguir.
Melhores cumprimentos
Gervásio Costa
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RE: Segredos de Familia
Caro Miguel Mora
Com as minhas desculpas por o incomodar de novo, solicitava o favor, quando tiver mais tempo disponível, de me dar a sua opinião àcerca deste caso:
No século XVII, numa localidade da região de Lamego, nasceu e foi baptizado um rapaz, cujo o nome do pai, na respectiva certidão, estava riscado, sendo a mãe solteira.
Pela certidão de óbito, verifiquei que ele tinha sido padre. Personagem curiosa, porque e tomando em consideração o seu estatuto, o nome dele não consta em mais nenhum documento, a não ser em certidões de nascimento/baptismo de filhos!
Terá alguma ideia porque terá sido que ele além de nunca ter, aparentemente, exercido a sua profissão, jamais aparece como testemunha ou padrinho de um casamento, baptizado, nascimento, acto notarial e etc.?
Desde já grato.
Melhores cumprimentos
Gervásio Costa
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RE: Segredos de Familia
Caro Gervásio Costa
Agradeço a amabilidade das suas palavras, mas, muito sinceramente, não creio merecê-las.
Na verdade, e tal como referi na minha primeira intervenção neste tópico, todos quantos se dedicam à investigação histórica sabem o quanto devem à generosidade e altruísmo de tantos quantos nos antecederam, que doaram as suas bibliotecas ou arquivos pessoais, que muitas vezes publicaram a expensas próprias imprescindíveis instrumentos de trabalho e de pesquisa, sem qualquer ajuda de fotocópias, microfilmes, bons transportes, etc.
Quanto à sua pergunta, receio não ser capaz de lhe dar uma resposta muito concreta. À primeira vista, sou levado a pensar que poderia ter desempenhado funções sacerdotais noutra freguesia (que poderia nem sequer pertencer ao mesmo bispado); mas também se poderia dar o caso de ter sido ordenado já viúvo ou pai de filhos ilegítimos, o que não constitui certamente um fenómeno raro.
Porém, sem um conhecimento razoável dos antecedentes será sempre difícil evitar a especulação; embora me pareça que as situações que refere possam corresponder a uma ausência física do local.
Aconselho-o, no entanto, a dar uma olhadela à base de dados online das "Inquirições de genere" do Arquivo Distrital de Braga, que abrange muitas freguesias exteriores ao arcebispado bracarense. Como a documentação diocesana tem grande importância, deverá esclarecer qual o bispado a que pertencia a freguesia em questão, para a seguir poder localizar os livros "de devassa" e "de termos" realizados no decurso das respectivas visitas pastorais.
Os da diocese de Coimbra foram inventariados por Joaquim Ramos de Carvalho e José Pedro de Matos Paiva ("Repertório das visitas pastorais da diocese de Coimbra. Séculos XVII, XVIII e XIX"), tendo-lhes merecido as seguintes palavras:
"Assim, a documentação principal que fica de uma visita pastoral é composta por: capítulos que descrevem o estado dos lugares e instrumentos de culto, tecem apreciações à actividade pastoral dos párocos e registam as ordens reformadoras deixadas pelo visitador ao responsável dda freguesia; livros de devassa que registam minuciosamente, freguesia a freguesia, o testemunho das pessoas ouvidas pelo visitador; livros de termos que compreendem as confissões dos culpados e os pedidos de recurso dos que se declaram inocentes. Periodicamente eram elaborados livros onde se registavam os nomes, culpas e lapsos de culpados de uma zona ao longo de uma série de anos. Estes livros, elaborados visivelmente com base nos termos, chamam-se «livros de extractos».
Deste riquíssimo manancial retira-se preciosa informação sobre a vida quotidiana das populações e as suas relações com a instituição eclesiástica: a força e o peso da igreja, os interditos religiosos, os vícios dominantes, as formas concretas do pecado (o concubinato, a usura, a má língua, a embriaguez, a prostituição). E, para além disto, no testemunho de milhares de indivíduos, as atitudes face ao casamento, à morte, à mulher, ao dinheiro, às doenças, surgem com uma nitidez e vivacidade extraordinárias. As visitas pastorais são, sem dúvida alguma, uma fonte excepcional neste aspecto".
De um modo geral, há muitas igrejas que ainda conservam os «livros de capítulos» - não abrangidos pela entrega compulsiva dos paroquiais -, ao passo que os outros ficavam em poder dos visitadores e eram por eles levados para os respectivos arquivos episcopais.
Com os melhores cumprimentos
Miguel Mora
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