Mártires do Rio Grande do Norte - 1645

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Mártires do Rio Grande do Norte - 1645

#36213 | Ricardo de Oliveira | 23 févr. 2003 10:52

Pesquiso elementos genealógicos (ascendentes e descendentes)dos mártires do Rio Grande do Norte (nomes listados abaixo):

"No dia 5 de março passado, o Papa João Paulo II beatificou os Mártires do Rio Grande do Norte. Transcrevemos aqui artigo do Postulador da Causa da Beatificação, Mons. Francisco de A. Pereira, publicado em L’Osservatore Romano de 26/2/2000.

No ano de 1997, a igreja de Natal, sede arquidiocesana e metropolitana, capital do Estado do Rio Grande do Norte, na Região Nordeste do Brasil, celebrou os 400 anos de sua evangelização. De fato, no dia 25 de dezembro de 1597, solenidade do Natal do Senhor, chegava ao Rio Grande do Norte a expedição colonizadora na qual vinham quatro missionários, dois jesuítas e dois franciscanos, os pioneiros da evangelização daquela região. Seguindo um belo costume dos navegadores portugueses, a pequena cidade que ali surgiria receberia o nome de Natal, em homenagem à festa do dia.

Estava lançada assim a primeira semente do Evangelho nas terras habitadas pelos índios potiguares. Seguiram-se as outras etapas da verdadeira epopéia da fé em que se constituiu o trabalho missionário: pacificação dos índios, catequese e primeiras conversões dos nativos potiguares, construção de capelas, etc. Assim foi se delineando o vulto da nascente igreja de Natal.

Mas o campo da messe do Senhor, preparado com tanto carinho pelos missionários, precisava ser regado com o sangue dos mártires para produzir uma boa colheita. Aqui também aconteceu o paradoxo que segue a lógica do Evangelho: "o sangue dos mártires é semente dos cristãos". Como outras igrejas que, quando perseguidas, recebem um novo vigor para o apostolado, a igreja de Natal cresceu graças ao corajoso testemunho de seus protomártires.

Não foi, porém, a oposição do gentio que provocou o derramamento de sangue no Rio Grande, mas foi a própria divisão do mundo dito civilizado que trouxe a perseguição religiosa ao nosso meio e desencadeou o martírio sangrento. A região nordeste do Brasil sofreu no século XVII as conseqüências das divisões políticas e religiosas da Europa no início da Idade Moderna.

Colonizada pelos portugueses católicos, a região foi invadida pelos holandeses que, em pouco tempo, obtiveram controle da região e exerceram domínio total sobre o território nordestino, do Ceará ao Sergipe, durante 24 anos (1630-1654). Os holandeses, em conseqüência das lutas religiosas na Europa, tinham aderido ao calvinismo e implantaram nas terras brasileiras o credo da Igreja Cristã Reformada, com a ajuda de pastores e "predicantes", que acompanhavam as expedições. Apesar de uma certa tolerância no início e de uma legislação que teoricamente favorecia a liberdade de culto, a situação dos católicos foi se tornando insustentável com as restrições à liberdade e ao exercício do culto até chegar a um ponto que os historiadores caracterizam como verdadeira perseguição religiosa.

É neste contexto que se colocam os dois episódios ocorridos no Rio Grande do Norte no ano de 1645. O primeiro aconteceu na localidade de Cunhaú, no dia 16 de julho. Era um domingo e os fiéis para cumprir o preceito dominical se reuniram na capela de Nossa Senhora das Candeias, sob a presidência do pároco, Pe. André de Doveral. Eram aproximadamente 69 pessoas. Na véspera tinha chegado a Cunhaú um emissário do governo holandês de Recife, trazendo mensagens para os moradores do lugar.

Durante a celebração da Missa, após a elevação, foram trancadas todas as portas e saídas da igreja e imediatamente começou uma chacina generalizada dos fiéis, comandada pelo emissário e realizada por soldados holandeses e índios canibais. Foram cenas de grande atrocidade com soldados e índios bem armados, atacando de surpresa os indefesos fiéis. O Pe. André foi alvejado com mais crueldade por se tratar de um sacerdote, apesar de ter alertado os algozes a não tocar no ministro de Deus e nos objetos sagrados do altar.

Não houve reação por parte do fiéis, mas exortados pelo Pe. André que com eles rezava a oração da agonia, "se confessaram ao sumo Sacerdote Jesus Cristo, pedindo perdão de suas culpas".

As disposições dos fiéis à hora da morte eram assim as de verdadeiros mártires, aceitando voluntariamente o sacrifício supremo por amor a Cristo. Por outro lado, parece não haver dúvidas de que, da parte dos algozes, como um instrumento de um governo que hostilizava abertamente a Igreja Católica, como aparece de todo o contexto histórico, agiram movidos por ódio à fé.

O impacto causado pelos acontecimentos de Cunhaú sobre os habitantes do Rio Grande foi muito forte. Os moradores de Natal, atemorizados pela dupla ameaça dos índios e das forças de ocupação, procuraram lugares seguros para sua defesa. Os moradores mais influentes, um grupo de 12 pessoas, entre os quais o Pe. Ambrósio Francisco Ferro, se refugiaram na Fortaleza dos Reis Magos. Outro grupo mais numeroso, 70 pessoas, sem contar as crianças e os escravos, construíram um abrigo improvisado, mas bem fortificado, na localidade de Potengi, a poucos quilômetros de Natal. No dia 3 de outubro daquele mesmo ano, as autoridades levaram o grupo da Fortaleza e, em seguida, os moradores de Potengi, para um lugar que haviam determinado, às margens do Rio Uruaçu.

Foram duas cenas e dois momentos de grande dramaticidade, quando 200 índios bem armados, comandados por um fanático chefe indígena convertido ao calvinismo e mais uma tropa de soldados flamengos caíram sobre os assustados moradores do Rio Grande, matando a todos com requintes de perversidade e selvageria, que os cronistas registraram em seus relatos: a uns cortaram os braços e as pernas; a outros degolaram; a outros arrancaram os olhos, as línguas, narizes e orelhas; aos já mortos despedaçaram-nos em pequenas partes. A Mateus Moreira foi arrancado o coração pelas costas e este morreu exclamando: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".

A atitude resignada dos fiéis ao suportar tantos suplícios, confissões explícitas de fé como a de Mateus Moreira, orações e penitências, feitas pelos moradores antes do martírio, são sinais mais do que evidentes que, "ex parte martyrum", foram preenchidos todos os requisitos teológicos para o martírio.

Com base em fontes históricas foi possível identificar 30 pessoas; nem todos os seus nomes, porém, constam nos registros consultados. Contudo a Postulação da Causa apresentou no processo de beatificação e canonização a seguinte lista: a) martirizados em Cunhaú: Pe. André de Soveral, Domingos Carvalho.

b) Martirizados em Uruaçu: Pe. Ambrósio Francisco Ferro, Mateus Moreira, Manuel Rodrigues de Moura e esposa, Estevão Machado de Miranda e duas filhas, Antônio Vilela Cid, Antônio Vilela, o Moço, e sua filha; João Martins e sete jovens companheiros; uma filha de Francisco Dias, o moço; João Lostau Navarro; José do Porto; Francisco de Bastos; Diogo Pereira; Francisco Mendes Pereira; Vicente de Souza Pereira; João da Silveira; Simão Correia; Antônio Baracho.

Ao todo, então: 27 brasileiros, 1 português (Pe. Ambrósio), 1 espanhol (Vilela Cid) e 1 francês (Lostau Navarro)".

Mons. Francisco de A. Pereira

Postulador da Causa de Beatificação dos Mártires do Rio Grande do Norte.

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