A varonia dos senhores da Maia seria Alida?
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A varonia dos senhores da Maia seria Alida?
Não há dúvidas que existiram perto de Lorvão, no século X, membros da
família omíada (DC 229). Nesses documentos encontramos personagens com
nomes como allamaui, allahami, alkaizi. Alamaui é Al-Umawi, o Omíada,
assim como allahami é Al-Lahami, membro de outra família da
aristocracia árabe, alkaizi = Al-Qaysi, idem, etc. Vendem terras a um
abade Dulcidio que cautelosamente identifico a Dulcidio Abolmondar [Abu
Al-Mundhir].
Um destes omíadas era Zaa'adum al-Umawi, que vivera em meados do século
X. O DC 39, de 933 cita um rico proprietário, Zaa'adum, sem sobrenome,
casado com Aragunte Fromariques, em ato de venda. (Há com certeza
outros Zaa'adum citados na área, que podem ser ou não este. Mas este,
citado no DC 39, era um grão senhor.) Por sua vez, o LL dá como
ancestral da família da Maia a um Dom Çadão Çada, nome que interpretei
como prenome + patronímico, mas que pode ser apenas uma forma
intensiva, com redobro, prenome declinado + prenome sem declinação.
Çadão = Zaa'adum; o LL fá-lo `bisneto de el-rei Aboali.' Tinha
identificado Aboali ao emir Abdallah (cf. Boabdil = Abu Abd Allah). Mas
Manoel Cesar Furtado e Manuel Soveral me corrigiram; é com certeza o
califa al-Walid (711).
E' bem conhecida uma linha andaluz de descendentes de al-Walid, os
al-Habibi, Abu Sulayman. Uma série de dados circunstanciais, a
existência de um Morro de Abu Sulayman nas terras desses, um al-Walid
descendente do califa e a tempo de ser bisavô de Zaa'adum, etc.,
sugerem que Zaa'adum al-Umawi, do DC 229, identificado ao do DC 39,
fosse o referido no LL.
Há também um Násr ibn Leodesindo atestado em 967 e 968. Suspeito fosse
Abunazar Lovesendes. (O nome Abunazar é bem atestado.) Abu Násr tem
significado ambíguo: literalmente, é ``pai de Násr.'' Pode ser um
tratamento de respeito, uso que mantemos no coloquial, como p.e., Pai
José - um senhor venerável, de nome José. Ou (pelas datas) pode ser
alguém da kunya (grupo familiar, em sentido lado) de an-Násr, nome
assumido pelo califa Abd ar-Rahman III, m. 961.
A linha da família da Maia seria:
1. Fethe, Ferhe, Farh - talvez o Farh iben Abeth iben al-Hasani, do DC
229, de 1007; ver abaixo. Atestado no DC 94, de 967. P.d.:
2. Leodesindo ibn Fethe, atestado em vários documentos, entre os quais
o DC 94. C.c. Ortega bint Zaa'adum (LL), filha de Zaa'adum e de
Aragunte Fromariques. Confirma um documento entre 939 e 950 junto com
Ramiro II. Zaa'adum é identificado ao de 939, DC 33, e ao Zaa'adum
al-Umawi (o omíada), do DC 229, de 1007, onde aparece como pai de um
confirmante, Yahia. P.d.:
3. Nasr, Nasrum, Abu Nasr ibn Leodesindo/Leodesindes/Lovesendes,
atestado nos DC 94 e 95. C. (1) c. Tortora. Lemos os filhos nos docs.
referidos:
- Suleiman ibn Nasrum.
- Abzieri ibn Nasrum.
- Fromarico ibn Nasr[um] - identificado ao Fromarico Abunazar ``Cid.''
- Malik ibn Abunazar, num doc. de 998.
Depois moveu-se para o norte, c. (2) com Unisco Godins e fundou em 978
o mosteiro de Santo Tirso. Pais dos filhos conhecidos de Abunazar
Lovesendes, ``dom Alboazar Ramires.''
Esta é, com certeza, uma restauração controversa. Se Fethe/Ferhe
estiver corretamente identificado ao Ferhe ibn Abeth ibn al-Hasani,
então seria possivelmente trineto do hassânida Idris ou de algum seu
irmão, ancestrais dos xarifes do Marrocos. Zaa'adum al-Umawi, por sua
vez, é dado como descendente do califa omíada al-Walid, que vivia em
711. Pertenceria à linha al-Habibi, Abu Sulayman, atestada na
Andaluzia.
Toda a lenda da Miragaia resultaria de dois fatos: a ascendência
varonil ilustríssima dos senhores da Maia - seriam alidas, então -
transposta para a varonia mais aceitável (e que ocultava a apostasia da
família), aquela dos reis visigodos, o que resultaria da confusão dos
dois casamentos de Abunazar Lovesendes aos problemas conjugais de
Ramiro II. Notemos que o último Idríssida no Marrocos foi deposto em
931; era de nome al-Hasan:
En 931 c’est à dire en 319 de l’hégire, les Fatimides occupèrent
Tlemcen et chassèrent le dernier émir Idrissi-Soleimanite, El Hassan
Ibn Abou Aich Ibn Aissa Ibn Idrisse Ibn Mohammed Ibn Soleiman.
Se se aceita esse raciocínio, a linha varonil dos senhores da Maia é:
1. Abd Manaf, p.d.:
2. Hashim, p.d.:
3. Abd al-Muttalib, p.d.:
4. Abu Talib, p.d.:
5. Ali, m. 661. C.c. Fatima, filha do Profeta, primo direito de Ali.
P.d.:
6. al-Hasan, m. 689. P.d.:
7. Hasan al-Muthana, p.d.:
8. Abd Allah al-Kamel. De Attika al-Mekhzumia teve a Idris e a:
9. Sulayman, que antes de 793 foi ao encontro do irmão Idris no
Marrocos. P.d.:
10. Idris. P.d.:
11. Aissa. P.d.:
12. Abu Aish. P.d.:
13. al-Hasan, último emir idríssida, destronado pelos fatimitas. A
família se muda depois de 931 para a Andaluzia. P.d., pelo que
admitimos:
14. Abeth. P.d.:
15. Ferhe/Fethe ibn Abeth ibn al-Hasan, atestado em Coimbra em 967.
P.d.:
16. Leodesindo, c.c. Ortega bint Zaa'adim al-Umawi. (Ver supra.) P.d.:
17. Nasr[um], Abu Nasr ibn Leodesindo, o primeiro senhor da Maia.
(Francisco Antonio Doria.)
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