V. Ribeira Brava
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V. Ribeira Brava
Recentemente disseram-me que o Visconde da Ribeira Brava, avô do futuro Duque de Bragança, esteve envolvido no Regícidio. Custa-me a crer... Há algum fundamento histórico para esta acusação, que partiu de um republicano convicto e muito meu amigo e que me deixou algo perplexo e com falta de argumentos?
Agradeço qualquer informação.
Rui Venceslau
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RE: V. Ribeira Brava
Exmo Senhor Rui Venceslau,
Avô?? - Conforme poderá aqui verificar na base de dados o Visconde da Ribeira Brava é 4º avô do futuro Duque de Bragança. Se o Visconde da Ribeira Brava este ou não envolvido no regicidio não sei, mas mesmo que tenha estado não quer dizer que os seus descendentes tenham de estar ligados a essa acção não acha?
Cumprimentos
José Tomaz de Mello Breyner
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Sr. José Tomaz Mello Breyner
Agradeço a sua rápida resposta. Vim aqui municiar-me de argumentos para uma discussão que ficou por acabar. Já vi que de facto o Visconde é tetravô do futuro Dq. de Bragança.
Parece-me completamente descabido associar o tal Visconde ao regícidio, mas não tenho conhecimento definitivo sobre o assunto. Por isso mandei esta pergunta.
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Rui Venceslau:
Confesso que também já tinha ouvido dizer qq coisa sobre esse tema, nomeadamente num artigo publicado sobre a actual Duquesa de Bragança.
Mas de facto não lhe posso assegurar nada, sendo certo que haverá muitos Confrades que o poderão elucidar melhor.
A ser é verdade, será mais uma destas coincidências históricas de que a nossa História é pródiga, mas sem consequências de maior.
Aliás, recordo-me de uma entrevista em que o falecido Marquês de Abrantes se referia ao casamento de um membro da sua família com um descendente do Marquês de Pombal.
Cumprimentos.
João Pombo
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RE: V. Ribeira Brava
Eu fui apanhado de surpresa , mas julgo que são apenas boatos postos a circular para descredibilizar a figura de SAR o Duque de Bragança e a sua Família. Daquilo que já procurei no gogle até vi um link que diz que o tal Visconde da Ribeira Brava recebeu o D. Carlos em sua casa na Madeira. Daí ao Regícido vai um grande passo...
Rui Venceslau
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RE: V. Ribeira Brava
Retirado do Portal da História com a devida vénia
1908
Janeiro, 28 - Jugulada uma conspiração conjugada, entre dissidentes progressistas e republicanos. São presos vários membros da chefia republicana como Luz de Almeida, Afonso Costa, Egas Moniz, João Chagas e António José de Almeida. Luz de Almeida era o chefe carbonário que mobilizava a chamada artilharia civil; António José de Almeida tinha entendimentos com o exército e mobilizava anarquistas. Também foi preso Ribeira Brava, enquanto Alpoim, depois de se refugiar em casa de Teixeira de Sousa, fugiu para Espanha, instalando-se em Salamanca. A revolta foi jugulada graças à acção do general Malaquias de Lemos.
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RE: V. Ribeira Brava
Caros Senhores
O que tem a ver o rabo com as calças ?????
Mais uma discussão á portuguesa??????
PTP
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RE: V. Ribeira Brava
Caros Confrades:
O senhor Visconde da Ribeira Brava esteve efectivamente envolvido numa conspiração nas vésperas do regícidio. Foi efectivamente preso a 28 de Janeiro de 1908. Mas a sua ligação aos carbonários talvez tenha mais origem na oposição a João Franco do que irremediável antagonismo com o senhor D. Carlos I.
A única ligação que antevejo possível com o regícidio é este ter sido apresentado como uma vinagança de dois carbonários ao facto dos seus líderes irem ser deportados para as colónias em virtude do decreto que o Rei assinara a 31 de Janeiro com o objectivo de incidir sobre aqueles que estavam envolvidos na dita revolta de 28.
Acerca desta questão pode-se ver o artigo, ainda que pouco elogioso para o VIsconde, de Manuel de Sampayo Pimentel Azevedo Graça-"Os últimos dias da Monarquia em Portugal", na revista de História do Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Vol. XIII. Porto; 1995.
Espero que estas informações sejam de molde a esclarecer alguma coisa.
Com os meus melhores cumprimentos;
Nuno de Souza Falcão
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RE: V. Ribeira Brava
Caros Senhores
Parece hoje inegável a participação do Visconde da Ribeira Grande numa primeira intentona para derrubar o Senhor Dom Carlos. Preso e em vésperas de seguir para o degredo, levou o Monarca a dizer, enquanto assinava a sentença dos conjurados, que assinava a própria sentença de morte.
Sabemos que o Ribeira Brava era maçon assumido, o que o poderá colocar bem próximo dos carbonários. Sabemos que lidou com Alpoim, uma das figuras mais pardas da nossa História, que se apressou a fugir de Portugal, para não assumir as consequências dos seus actos, de si gravíssimos, contra o País e SMF...
No entanto, não devemos - nem podemos - associá-lo à figura da Senhora Dona Isabel ou de qualquer dos Príncipes... Qual de nós não descende de alguém que, a qualquer momento, pegou em armas contra o País. Veja-se o Conde de Benavente, tronco da melhor parte das Casas ibéricas e uma boa parte da fidalguia portuguesa, que teve de exilar-se em Castela... Ou alguns dos manos do nosso Dom Nun'Álvares, antepassados de bons portugueses... para não falar de mais ilustres...
Melhores cumprimentos
Manuel Azevedo Graça
(NB - o artigo mencionado foi apenas uma aula dada na Faculdade de Letras da UP, enquanto aluno...)
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RE: V. Ribeira Brava
Meu caro Manuel Azevedo Graça,
Estou de acordo. Lamento que, mais uma vez, se recorra a indevidas extrapolações para se atingirem inconfessáveis fins...:-)
Melhores cumprimentos
Artur Camisão Soares
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RE: V. Ribeira Brava
Caros Senhores
À laia de curiosidade:
O Porto teve registado na sua toponímia o nome do Visconde da Ribeira Brava. Foi por alguns anos, talvez nem sequer uma década, na Rua que agora se chama de Pêro de ALenquer, na freguesia de Nevogilde.
Melhores cumprimentos
Manuel Azevedo Graça
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Dr. Manuel Azevedo Graça,
Pedindo desculpa pela "intromissão" neste tópico vimos por este meio solicitar-lhe, se possível, que entre em contacto connosco.
O Secretariado
do I Congresso de Heráldica de Tomar
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Manuel Azevedo Graça,
Tal como muito bem refere, o Visconde da Ribeira Brava foi preso na sequência da revolta falhada de 28 de Janeiro de 1908, juntamente com alguns monárquicos que se opunham ao governo de João Franco e vários republicanos, entre os quais, se a memória me não falha, Afonso Costa e António José de Almeida. Aparentemente a intentona visaria liquidar o próprio João Franco, o qual, alertado para o facto, mudou de trajecto no seu caminho para o Terreiro do Paço.
Mas aparentemente o regicídio já nessa altura se encontraria planeado, pelo que é difícil considerá-lo consequência das medidas repressivas posteriores à intentona falhada, se bem que não seja de excluír identidade de conspiradores.
A este propósito é instrutiva a leitura de Rocha Martins, no seu livro "D. Carlos".
Um abraço
Alexandre Burmester
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Manuel Azevedo Graça:
Concordo plenamente com o que diz, e peço-lhe desculpa pelo abuso de citar o seu artigo, mas tendo-me passado recentemente pelas mãos e pelo interesse que me causou não pude deixar de o mencionar, pois pareceu-me um bom trabalho para as questões tratadas neste tópico e as que envolvem o fim da Monarquia. Além do mais como aluno de História da FLUP não posso deixar de divulgar os trabalhos que tanto têm enriquecido a nossa "alma mater".
Com os meus melhores cumprimentos;
Nuno de Souza Falcão
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Confrade,
O Ribeira Brava foi uma daquelas personagens algo escuras que povoam a nossa história do final do sec XIX / principio do sec. XX.
Maçon e repúblicano assumido esteve seguramente envolvido em conspirações destinadas a derrubar a monarquia. Mas daí a ter tido envolvimento activo no regicidio ainda vai um grande passo...
O Ribeira Brava acabou por não ter um fim de vida feliz, tendo sido marginalizado pelos seus correlegionários repúblicanos após a revolução.
É um antepassado da Sra. D. Isabel de Herédia, porventura não o mais ilustre, mas também não existe motivo para querer esconder esse facto. As suas convicções politicas, por si só, não o tornam num ser desprezível nem trazem consigo um estigma que manche os seus descendentes.
De resto, não me recordo da Sra. D. Isabel de Herédia ter publicamente demonstrado vergonha pelas acções do seu antepassado, até porque, tenham elas sido quais fossem, nunca poderão ser imputadas às gerações seguintes.
Todos nós temos ascendentes dos quais nos orgulhamos mais do que outros, mas não devemos é recusar nenhuns, até porque, sem a contribuição de todos, não existiamos enquanto pessoas :-)
Por isso não compreendo o nervosismo de alguns monárquicos sempre que se fala no Ribeira Brava, como que querendo negar as suas acções ou convicções quando a própria família não o faz.
Deixem lá a Sra. D. Isabel de Herédia em paz com este assunto que é irrelevante. Ela é descendente de um repúblicano e maçon assumido mas isso não a diminui como pessoa ou a torna incapaz de assumir as suas responsabilidades enquanto Duquesa de Bragança, o que tem feito de uma forma exemplar.
Cumprimentos,
JP
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Confrade (duplamente)
Citar os artigos é algo a que, por formação académica e profissional nos devemos habituar. Não é abuso, mas o que nos ensinam na FLUP, tão documentalista, tão picuinhas em atribuir o seu a seu dono... E quem publica, por muito bom ou péssimo que esteja o trabalho, tem de se habituar. Obrigado pela citação.
Já agora, também voltei a ser aluno da FLUP, estando a finalizar a minha tese de mestrado. E é com orgulho que me afirmo sempre aluno do casal Ferreira-Alves, ou da Lúcia Rosas, e de o ter sido dos Profs. Carlos Alberto Ferreira de Almeida e Baquero Moreno, para citar só estes...
Os meus melhores cumprimentos
Manuel Azevedo Graça
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Alexandre Burmester
Não discuto, e até me parece natural, que a preparação do atentado de 1 de Fevereiro seja anterior a 28 de Janeiro, data do malogrado golpe contra João Franco.
Tampouco discuto que o alvo de ambos os atentados pudesse ser João Franco, e não SMF, teoria, aliás, muito querida aos monárquicos que então se opunham ao antigo Primeiro Ministro e veiculada na sua demissão, muito sob a influência que a Rainha Dona Amélia exercia sobre o filho. Tudo é possível.
Conheço bem a obra de Rocha Martins, a que se refere. E, permita-me que também recomende duas leituras: uma pró, outra contra João Franco, nas duas versões das «Cartas de D. Carlos a João Franco», a primeira comentada e anotada pelo próprio Ministro, a segunda por um dos seus maiores detractores (peço desculpa de não me lembrar do seu nome). As perspectivas são diametralmente opostas...
Agora, que Ribeira Brava estaria em permanente e próximo contacto com a Maçonaria, parece-me mais do que claro; e que, muito possívelmente com a própria carbonária, também não me espantaria... Hoje esquecemo-nos que figuras como Aquilino eram carbonários activos, com atentados à bomba; e que o próprio Sidónio era maçon, bem como quase toda a sua "entourage".
Seja como fôr, parece-me claro que o Visconde não seria a mais cândida personagem da nossa História recente... Mas seria bom uma consulta dos arquivos de José de Alpoim, do Ribeira Brava, de Afonso Costa e de António José de Almeida, os verdadeiros e visíveis responsáveis da queda da Monarquia em Portugal (com tudo o que isso teve de bom e de mau)...
Um abraço
Manuel Azevedo Graça
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Manuel Azevedo Graça,
Em primeiro lugar devo dizer-lhe que muito me apraz conversar sobre estes assuntos sob o ponto de vista estritamente histórico.
Do que no anterior parágrafo escrevi resulta, tal como do que a este propósito aqui anteriormente discorri, que não pretendo - longe de mim - defender a "reputação" seja de quem for, mas apenas trocar impressões despidas de preconceitos com alguém que comigo partilha o gosto pelo rigor histórico.
Resulta para mim evidente que Ribeira Brava "estaria em permanente e próximo contacto com a Maçonaria", mas devo também dizer que não sofro de "maçonofobia". Inclusive acho que Portugal muito deve a alguns vultos maçónicos, não necessariamente devido a essa qualidade, mas a virtudes cívicas que exemplarmente demonstraram, e vem-me à mente a esse propósito a proba figura de José da Silva Carvalho, com cujo exemplo muito teríamos lucrado se outros o tivessem seguido.
Toda esta questão, aliás muito anterior ao regicídio e posterior queda da Monarquia, está inquinada também pelo facciosismo e intolerância do campo oposto, o qual, em nome "do Trono e do Altar", muita barbaridade também cometeu. Está, aliás, ainda por escrever a verdadeira história do golpe de 5 de Outubro de 1910, e as responsabilidades por omissão que nesse aspecto serão atribuíveis à oficialidade "miguelista", que preferiu ficar na caserna e deixar caír a Monarquia.
Bom seria, sem dúvida, a consulta dos arquivos que refere, e doutros que porventura a esse respeito existam, sem qualquer intuito persecutório, mas apenas e só em nome do rigor histórico.
Um abraço
Alexandre Burmester
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RE: V. Ribeira Brava
“O plano do regicídio começa a ser desenvolvido por Alpoim e toma foros de realidade no seio da Coruja (ala ultra-secreta que figurava no topo da Carbonária), à qual não era estranha a presença do visconde da Ribeira Brava (Aqui está a segunda pessoa a quem Alpoim se referia ao dizerque só ele e outra pessoa sabiam de tudo). Ali definem uma estratégia a seguir que seria naturalmente apoiada pela restante Carbonária” (Cf. Miguel Sanches de Baena, “Diário de D. Manuel e estudo sobre o regicídio”, Lisboa, Publicações Alfa, SA, 1990).
Será conveniente a leitura de livros do Conselheiro António Cabral, como “D. Carlos” e “Os Culpados da Queda da Monarquia”, entre outros.
Convém lembrar que se começa a falar, logo após o regicídio, de um conluio entre dissidentes, na pessao de Alpoim e os regicidas, sendo por isso chamados os “Buissidentes”.
Miguel Sanches de Baena disse que por razões que desconhecia, o processo sobre o regicídio apareceu recentemente (1996) nas mãos de um particylar, que permitiu, a título privado, a sua consulta.ogo após a implantação da república, Abílio Mgro recebeu uma notificação para entregar ao governo as actas e o processo do regicídio, e a partir de então perdeu-se o rasto dos documentos. Porém, Miguel Sanches de Baena que teve acesso ao processo, chegou a conclusões perturbadoras.
Os juizes e o referido escrivão chegaram a conclusões de tal modo terriveis, que Ferreira do Amaral, presidente do Conselho após a queda de João Franco, tentou afirmando que nada se descobrira, sonegar as provas. O mesmo aconteceu com o seu sucessor, Teixeira de Sousa, e as investigações são suspensas e os processos e actas abafados (cf. Miguel Sanches de Baean, ob cit. , pág. 125-128).
Bem, será melhor ficar por aqui sbore tão indignos acontecimentos e seus protagonistas.
Tudo isto consta de um artigo da autoria de Rui Manuel da Costa Neto, historiador da Universidade de Lisboa, publicado na revista “História”, ano XVIII (Nova Série), nº 26, Novembro 1996.
De resto, nada de novo que não fosse já contado por outras personalidades que viveram por perto daqueles terriveis acontecimentos.
O próprio Dr. Eugénio da Cunha e Freitas me contara tudo acerca do aparecimento do processo sobre o regicídio nas mãos de um particular...muito antes do casamento de D. Duarte com D. Isabel de Herédia...
Sem mais comentários.
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Alexandre Burmester
Também estava muito longe de mim fazer julgamentos de valor sobre a Maçonaria e acusações persecutórias ou defesas de carácter de quem quer que seja. Concordo inteiramente consigo quando se refere ao papel importantíssimo que a Maçonaria e elementos seus tiveram, em determinadas alturas, na nossa História.
Interessa-nos tentar fazer a História séria e apurada dos factos. Ainda poucos se aventuraram a estudar os últimos anos da Monarquia Portuguesa ou a I República. Salvam-se, talvez, os casos dos Profs. da Univ. Nova de Lisboa, com Pulido Valente e Fernando Rosas à cabeça.
Por detrás desta demora em registar, talvez esteja o facto dos espíritos ainda estarem muito levantados. Veja-se o que tem acontecido nos últimos dois meses, com o degladeio de miguelistas e loulézistas... Alguns de nós descendemos de intervenientes directos nos períodos do Franquismo, do 5 de Outubro, da Monarquia do Norte ou da I República. De uma forma ou doutra, estas fases marcaram as nossas famílias, o que nos deixou marcas profundas, desde logo ao nível dos preconceitos. Importa desmontá-los e afastá-os, para que se possa analizar o caso clara e friamente, como se exige de qualquer historiador que se preze. E não quero dizer que não se ponha alguma paixão nessa análise, mas de forma bem refreada, para que não se turvem os espíritos...
Enfim, pode ser que a minha geração, ou talvez a que se segue, já a sair das faculdades, possa analizar toda a primeira metade do século XX de forma racional e analítica...
Um abraço
Manuel Azevedo Graça
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RE: V. Ribeira Brava
Miguel Sanches de Baêna, penso que no seu estudo, que já li há alguns anos ,referia, se não me falha a memória, que realizou um exame pericial de balística, com a colaboração da judiciária, e conseguiu determinar que uma das carabinas envolvidas no regícidio (salvo erro uma Winchester)teria sido comprada pelo Visconde da Ribeira Brava em Londres conforme registos que ainda existem.
Destaco que este estudo de M S Baêna foi feito uns anos antes de sequer se falar no casamento dos Senhores Duques de Bragança. De maneira nenhuma podemos responsabilizar alguém pelos actos dos seus antepassados.
Cumprimentos,
José de Castro Canelas
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RE: V. Ribeira Brava
Meu caro Fernando de Sá Monteiro
A história do regicídio continua infelizmente a ser objecto de fantasias, propícios como somos, neste torrão, a efabular quando sentimos colectivamente o choque da perda de um líder. Já foi assim com D. Sebastião; continuou a sê-lo com D. Carlos; e, pelos vistos continua a sê-lo espectacularmente, com o chamado "caso Camarate".
A nossa repulsa pela realidade crua que privou a Pátria de quem a conduzia, leva-nos a construir uma realidade nova, ao sabor da imaginação.
Num caso, era o Rei que, afinal, não tinha morrido. E se transformara no misterioso "Encoberto", pronto, mesmo 40 anos depois, a redimir o Reino subjugado... Noutros casos a criação imaginativa é um mundo de inimigos ocultos e poderosos, cheios de comparsas e de cúmplices, a velha teoria da "conspiração", que representa a nossa catarse relativamente a sentimentos de culpa colectiva que nos atingem.
A história, porém, tal como a vejo, não se faz de efabulações, mas de factos razoavelmente provados. E, de preferência, como muito bem sustentavam os positivistas, provados por documento.
O caso do regicídio de D. Carlos é típico. Ainda hoje continua a perfilhar-se a tese da extensa conspiração - como se fosse possível, neste País em que os segredos são todos de Polichinello, que uma qualquer conspiração secreta deste jaez escapasse a prova abundante, que rebentaria das mais variadas fontes com irreprimível caudal...
Muita calúnia e disparate se tem dito e continua a dizer, desde que o Conde de Arnoso, emocionado pela perda do Rei de quem era fidelíssimo servidor, começou a fazer acusações infundadas na Câmara dos Pares em 1908!
E muita "história" se tem querido fazer, neste particular, em cima dos boatos, tantas vezes risíveis, de que se fez eco um brilhante ficcionista como foi Raul Brandão.
O livro de Miguel Sanches de Baena infelizmente manteve-se na mesma linha, a meu ver errada, construindo uma versão que, a par de alguns factos interessantes e provados, se desvia para disparates, ignorando prova documental já hoje disponível.
Basta ver que ele, aparentemente, não consultou o meu livro "A Acalmação e D. Manuel II", publicado em 1966, onde formulei uma tese específica sobre o regicídio, a qual continuo actualmente a perfilhar, no essencial, aduzindo documentos inéditos, com importância para essa nova visão.
Alude Você ao meu bisavô o almirante Ferreira do Amaral, Presidente do 1º Governo de D. Manuel II, sugerindo que ele teria colaborado na ocultação do processo do regicídio. A documentação que então publiquei e alguma que me pertence e está agora depositada na Torre do Tombo, para consulta, prova que isso é mentira.
Assim como é falso que o Visconde da Ribeira Brava tenha sido co-autor do regicídio. É certo que a carabina que o Buiça utilizou foi provavelmente comprada pelo Visconde ou com o seu dinheiro. Mas, quando o foi, destinava-se a um movimento revolucionário que tinha por objectivo derrubar o Governo ditatorial de João Franco, não matar as Pessoas Reais.
Os regicidas - que foram um número pequeno, talvez 5 ou poucos mais - deliberaram matar o Rei, o Príncipe e o Infante D. Manuel, depois de ter abortado em 28 de Janeiro aquele movimento revolucionário, com a prisão ou fuga das principais cabeças, entre elas o Visconde e o Alpoim.
Mas a decisão de fazer a agulha para o regicídio não fora dessas cabeças do movimento. É natural, mesmo, que tenha sido motivada pelo desespero causado por essas prisões, em meia dúzia de fanáticos (talvez todos ou parte deles carbonários), sem qualquer destaque na política.
Não se continue portanto a caluniar quem não foi regicida, nem quem nunca foi encobridor de regicidas!
Desculpe-me o desabafo, mas Você tem mérito e objectividade, como conhecedor que é, da História, que justificam que lhe dedique esta minha intervenção, pois aposto que, em si, ela não cai em saco roto.
Um abraço
Augusto Ferreira do Amaral
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Augusto Ferreira do Amaral:
Não posso deixar de ficar estupefacto pela sua presença neste fórum, com uma intervenção que me parece, e perdoar-me-á, de uma inexplicável infelicidade.
Em primeiro lugar, deverei salientar que não sou eu a tecer quaisquer juizos de valor sobre o seu antepassado. Nem, de resto, seria necessário.
Devo, ainda assim, salientar que a figura de Ferreira do Amaral, seu antepassado, não é propriamente uma figura muito simpática para muitos monárquicos da época. E isso não são conjecturas, nem afirmações descabidas. Basta consultar muitos autores de então.
Quanto às afirmações que produz sobre o Regicídio, bem como sobre Camarate, pedir-lhe-ia que fosse mais recatado. Na verdade, quanto a Camarate, poucos hoje terão quaisquer dúvidas acerca da tese do atentado. Ainda que muita gente prefira continuar a defender a tese ridícula do acidente. Mas nem sequer pretendo continuar tal estilo de discussão.
Relativamente ao Regicídio, queira o meu querido e respeitado correlegionário ser mais cuidadoso e menos crítico de quem, pela consulta do próprio processo, permite alguma luz sobre tão lamentável episódio da História de Portugal.
A não ser que, o Augusto Ferreira do Amaral esteja a acusar o Miguel Sanches de Baena de mentir...
Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”, caro Augusto Ferreira do Amaral. O trágico atentado foi qualquer coisa de terrivel e nele estiveram integradas muitas personalidades que hoje, por razões de algum modo compreensíveis, convém manter no anonimato. Outras mesmo, convirá, porque politicamente correcto, nem sequer as associar ao facto histórico... Razões óbvias...
Por outro lado, caríssimo Ferreira do Amaral, nenhum de nós deixa de ter antepassados que nos são incómodos, sem por isso deixarmos de assumir toda a nossa história de Família.
O que não é possivel, é o meu ilustre correlegionário aqui entrar neste fórum, tentando iludir as verdades historicamente comprovadas, não sendo sequer eu a “inventá-las”. Se há coisa de que nunca fui acusado foi de “inventar” factos históricos sem documentação que os sustente...
Convirá recordar-lhe que se V. Exª é um ilustre e respeitado autor e historiador, muitos outros distintos autores e historiadores têm uma versão sobre os acontecimentos que anteciparam a “Queda da Monarquia” bem diferente da sua.
Queira, pois, caro Augusto Ferreira do Amaral, ser mais cuidadoso nas suas observações, assim como o aconselho – se me permite o atrevimento – a não ser sistematicamente o porta-voz de “defesa da honra” do mal amado Visconde da Ribeira Brava....
E não continue a tentar fazer dessa negra figura um exemplo a admirar, pois que a História, há muito, lhe fez a devida justiça...
Repito: doa a quem doer, custe a quem custar, o Visconde da Ribeira Brava é tido como um dos vergonhosos responsáveis pelo Regicídio. As provas existem e nem sequer são sonegadas.
Isso não faz da Senhora D. Isabel de Herédia responsável pelo seu pouco recomendável antepassado. Mas também não é bonito sonegar-se o que é a realidade histórica. E esta é, indesmentivelmente, que muita gente esteve envolvida no Regicídio, e que houve muita gente que procurou que o processo desaparecesse, como assim aconteceu.
E....quem não deve não teme.
Faça o favor de aceitar um abraço meu.
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Exo Senhor Dr. Augusto Ferreira do Amaral
Também dediquei algum tempo a investigar e a estudar os últimos anos da monarquia constitucional e, claro, consultei alguns documentos e obras sobre o regicidio (confesso não ter consultado o livro a que se refere- "A Acalmação e D. Manuel II").
Concordo consigo quando diz que está questão deve ser discutida no plano histórico e científico e não num plano pessoal, o que seria no mínimo deselegante para com a descendência dos visados que, para além da já citada Senhora Duquesa de Bragança, é constituída por muitas outras pessoas que merecem consideração e respeito, entre as quais estão algumas com quem tenho laços de amizade (inclusive com descendentes de Afonso Costa e, não sei se colaterais se directos, de Alpoim).
Julgo que será de afastar qualquer tipo de implicação da Maçonaria (cujo Grão Mestre era na altura Sebastião Magalhães de Lima) e do Directório do Partido Republicano Português no regícidio. O mesmo não se poderá dizer de José Maria de Alpoim (dissidente do Partido Progressista) e de Afonso Costa (membro do directório do Partido Democrático), que terão contado com a preciosa colaboração da Carbonária (de Luz de Almeida), organização que abraçava qualquer projecto para derrubar qualquer regime. Não se pode provar a implicação dos referidos personagens no regícidio mas unicamente no golpe falhado de 28 de Janeiro (que, como muito bem diz, pretendia derrubar o ministério de João Franco). No entanto, alguns indicios levam-me a não considerar descabida a implicação de Alpoim e Afonso Costa no regicidio. Assim, e estou a citar de memória, é sabido que Alpoim era um dos principais inimigos de D. Carlos e que quando o Rei da Sérvia foi assassinado (salvo erro em 1903) exclamou na tipografia do Novidades "e quando é que cá se faz o mesmo?". Tal facto nada prova, mas indica que, para Alpoim, tal ideia não seria de afastar. Aliás, José Maria de Alpoim pretendia derrubar o Rei a qualquer custo, como o prova a campanha que inicia em 1907 no jornal Novidades para que D. Carlos abdicasse no principe D. Luis Filipe. Quanto a Afonso Costa, é também conhecido o facto de (e tenho pena de o voltar a citar de memória sem poder de momento indicar a fonte) em data posterior à implantação da República, ter insinuado numa reunião do directório do Partido Republicano (em fase de transição para o Partido Democrático), a sua implicação no regicidio, juntamente com os deputados dissidentes Alpoim e Ribeira Brava. Sabe-se também que Afonso Costa e Alpoim eram por esta altura bastante próximos e que o Visconde da Ribeira Brava (também dissidente progressista), era íntimo colaborador de Alpoim. Chegamos então ao 28 de Janeiro de 1908 e ao golpe liderado por Alpoim e Afonso Costa, que tinha por objectivo derrubar João Franco. Qual o verdadeiro objectivo dos conspiradores- prender João Franco? assassiná-lo em caso de resistência? com que finalidade comprou o Visconde da Ribeira Brava as carabinas Winchester ao armeiro Heitor Ferreira? Estamos de novo no campo da expeculação e das hipóteses. Teriam sido os autores materiais do atentado inspirados pelas teses de Alpoim e Afonso Costa? E qual o objectivo destes dois oposicionistas- assassinar o Rei ou o Presidente do Ministério? Julgo que concorda comigo quando considero ser no mínimo estranho (ou então uma grande coincidência), que a arma comprada pelo Visconde da Ribeira Brava fosse parar ás mãos de um dos regicidas (não me lembro agora de qual) e que este tenha actuado por sua conta e risco, impelido pela loucura ou por um desejo de vingança contra a Familia Real ou contra o Presidente do Ministério.
Tudo isto para lhe dizer que não considero que a tese que implica Afonso Costa, Alpoim e o Visconde da Ribeira Brava no regicido (admito também que a finalidade fosse atingir João Franco) seja disparatada ou inspirada "em boatos, tantas vezes risiveis".
Com os meus melhores cumprimentos,
Lourenço Pereira Coutinho
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RE: V. Ribeira Brava
Meus Caros Correspondentes
Continuo na minha. Quando é que seremos capazes de analisar friamente e com a razão que Deus nos deu, os factos históricos, nomeadamente aqueles que são mais susceptíveis de provocar reacções emotivas?
O Fernando Sá Monteiro não foi (desta vez).
O Lourenço Pereira Coutinho (que gostaria de saber se é meu parente ou seja, se é dos Soidos) evidenciou mais serenidade.
Vou procurar responder telegraficamente aos dois.
Quanto ao Fernando Sá Monteiro, lamento que pareça admitir como critério histórico o da "autoridade" (falsa) consistente numa opinião difusa e pouco documentada, ou então o facto de uma personagem ser "antipática" aos olhos de monárquicos. O que fundamentalmente está em causa é saber:
1 - se o Visconde da Ribeira Brava foi, ou não, autor ou cúmplice do regicídio;
2 - se houve governantes do tempo da Monarquia encobridores (entre os quais o meu Bisavô) dos implicados no regicídio.
Não se trata duma simples questão académica. A acusação é grave e envolve a imputação de algo muito negativo para o direito ao bom nome dessas pessoas. Quer dizer: este é daqueles factos históricos cujo apuramento não é inócuo.
Redobrado cuidado se recomenda no juizo de realidade que sobre ele se faça.
Ora sobre o almirante Ferreira do Amaral, daquilo (que foi muito) que dele estudei, com base em prova documental a mais variada, posso afirmar - independentemente da simpatia ou antipatia que a sua pessoa implique, para quemquer que seja, que ele nada fez (nem podia fazer, como é óbvio a quem minimamente conheça como funcionavam então as instituições - havia e funcionava então a separação de poderes!), que nada fez para encobrir fosse o que fosse, relativamente à autoria do regicídio. Ele veio a aderir, algum tempo depois de 1910, à república. Mas, por muito criticável que seja tal opção, não o torna encobridor dum crime como aquele, nem sequer invalida a comprovada lealdade com que se manteve fiel às instituições monárquicas até a proclamação da República. Posso até dizer-lhe, como se alcança do livro "A Acalmação e D. Manuel II", (que o Fernando Sá Monteiro infelizmente não terá lido e que eu infelizmente não posso oferecer-lhe, como gostaria, porque já não tenho exemplares para tal), ele, logo após a revolução de 1910, ainda pensava reformar-se de oficial da armada para não servir as novas instituições.
Você acha que fui infeliz nesta intervenção no forum. Discordo. Seria infeliz, sim, se me calasse, quando a verdade e a justiça - na minha convicção - são beliscadas. Ainda que estas sejam ofendidas em nome da simpatia dos monárquicos ou seja de quem for, ou do politicamente correcto, que continua a ser, entre os Portugueses, afirmar que Francisco Sá Carneiro foi assassinado. Eu, como não tenho preocupação em ser agradável a qualquer eleitorado, não me coibo de dizer: é minha presunção, do que até hoje ouvi e li, que Camarate foi um acidente. Provem-me o contrário, e eu convencer-me-ei.
Quanto a Lourenço Pereira Coutinho
Não creio que José de Alpoim - que era um político truculento e em meu conceito pouco recomendável, e por quem não nutro qualquer simpatia - tivesse tido autoria no regicídio. Do mesmo modo Afonso Costa, por muito que eu veja neste - como efectivamente vejo - um político execrável, muito responsável no passo atrás que Portugal deu com a implantação da 1ª república. Simplesmente, para apuramento dum facto histórico como é a autoria do regicídio, não devem ser levadas em conta considerações dessa ordem. E a verdade é que nenhum indício minimamente seguro surgiu, em 95 anos, de que esses homens (e o Visconde da Ribeira Brava) tivessem agido como autores, mesmo morais, do funesto atentado. E, lembre-se, já houve época em que os regicidas foram glorificados como heróis e em que, se Alpoim, Costa ou Ribeira Brava tivessem contribuído directamente para tal acção, não teriam rebuço em confessá-lo ou em fazerem provar por depoimentos de terceiros essa contribuição, pois ganhariam mais do que perderiam.
As carabinas foram, em grande número adquiridas para outro fim. Revolucionário e criticável, sem dúvida, mas que não era o de servirem para o regicídio. Foram distribuídas e ficaram (como avant la lettre poderia hoje dizer-se, "em boas mãos"...). E foram algumas, escassas, dessas "boas mãos", pelo menos a de Buiça, que as desviaram para o fim diverso e repugnante de assassinar dois grandes Portugueses - um notabilíssimo Rei e um Príncipe completamente inocente.
Como Você, também estou convencido de que a Maçonaria foi alheia ao regicídio. Já o mesmo não digo da Carbonária, pois é provável que alguns, senão todos os cinco (?) regicidas, a esta pertencessem. E que o repugnante assassínio tivesse sido preparado numa loja, talvez da franja, da sinistra organização.
Mais do que isto, só por especulação pouco fundamentada, o que, quando está em causa a memória de pessoas que, mesmo sendo antipáticas aos nossos olhos, têm o mesmo direito ao nosso respeito, não me parece correcto. Além do que especular, em história, é algo que considero metodologicamente errado. Exactamente da mesma forma que o era quando os historiadores marxistas, que durante algumas décadas pontificaram, moldavam a realidade histórica à sua cartilha preconceituosa.
Aceitem os cumprimentos amistosos do
Augusto Ferreira do Amaral
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Doutor Augusto Ferreira do Amaral:
Pouco irei acrescentar ao já anteriormente escrito e, que pelos vistos, V. Exª não quis alcançar.
Na verdade, não conheço o estudo que refere. Lamentável falha minha, pois V. Exª parece apresentar-se como dono da Verdade histórica, o único fiel às “provas” e aos “factos”.
Lamentavelmente, caro Doutor, li muito e de autores que reputo serem , no mínimo, tão credíveis como V. Exª. Não me poderia ficar pela leitura de um estudo seu, por muito bom que ele seja. De resto, pelos vistos, tal falha imperdoável, é também apanágio de muito boa gente que desconhece por cmpleto a sua obra.
Pese embora tudo isso, bem como as suas doutas lições acerca do rigor da investigação histórica, continuo a pensar como pensava até hoje, sendo de resto acompanhado na minha visão histórica por autores que V. Exª, algo indelicadamente acusa de não serem “capazes de analisar friamente e com a razão que Deus nos deu, os factos históricos”.
Nem sequer querendo enveredar pela leitura de certa postura de arrogância e petulância da sua parte, ao tratar-me por “Você”, tratamento que para estas bandas é considerado descortês, dado que o nosso relacionamento nunca foi sequer de amizade ou convivência – e não venha, por favor, V. Exª tentar explicar-me o significado da palavra, que bem conheço -, não posso deixar de lamentar a forma como pretende desvalorizar todos os restantes autores (relembro-lhe, por exemplo, António Cabral, pensando que seria indesculpável para V. Exª não conhecer a sua obra), para valorizar a sua tão discutível autoridade sobre a matéria versada.
Recordar-lhe-ia que este autor avança mesmo com a informação de que um homem como Guerra Junqueiro, ouvira o terrivel Alpoim dizer "finalmente morreu o porco" quando soube do Regicídio!!! E não irá certamente dizer que Junqueiro era suspeito de simpatizante do rei morto e da Monarquia!!!
Quanto a Camarate, fique V. Exª com a sua opinião, que não é certamente a de muita e muita gente. Daquela que, como V. Exª refere, só sabe “ser objecto de fantasias, propícios como somos, neste torrão, a efabular quando sentimos colectivamente o choque da perda de um líder”.
Pois é, Doutor Ferreira do Amaral, nós, pobres mortais, longe de atingirmos a sua sapiência infalível, só sabemos acreditar no inacreditável. Até nem discutimos que Kennedy foi assassinado. Que Luther King igualmente foi morto.
Que D. Carlos foi alvo, por engano, de certos pobres caçadores que pelo Terreiro do Paço se dedicavam a abater patos bravos e pombas inocentes. Que tudo o que se passou em Camarate foi somente o resultado de um piloto inconsciente e louco, de figuras de Estado que até nada sabiam sobre certos negócios obscuros...
Tenha Santa paciência, Doutor Ferreira do Aamaral! Fique-se com a sua versão dos “acontecimentos históricos”, que segundo diz não são fruto do “politicamente correcto”, pensando eu embora que V. Exª imita, no mínimo, muito bem tais posições. Já que, segundo creio, não é hoje menos verdade que tal “acidente” continua a apresentar sinais e indícios de tal envergadura que merecerá ser levado, como ainda espero, até às últimas consequências.
Só me pergunto a quem interessará ocultar provas e sonegar informações de testemunhas, como ainda hoje é abundantemente afirmado...
Queira V. Exª dispensar-me de mais considerações sobre os seus pontos de vista que, embora respeitando, entendo tão faliveis como os de qualquer outro autor. E nem sequer espere qualquer tipo de desculpa da minha parte por ter aqui expressado o que outros autores pensavam e pensam sobre os acontecimentos do Terreiro do Paço e seus interventores.
Se há qualquer insulto aqui expressado, ele é certamente contra os autores indesmentiveis de tal crime. Os que forem inocentes, a História se encarregará de lhes fazer justiça mais cedo ou mais tarde. Como sempre foi e será.
Não me atrevendo a tratar por “Você” o meu estimado correlegionário (e tão somente isso), apresento-lhe os meus cumprimentos.
Fico atentamente.
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Augusto Ferreira do Amaral (permita-me que o trate assim pois, apesar de mais novo-tenho 30 anos-, sempre me fez confusão usar o tratamento de "Dr.")
Sou de facto, "dos Soidos", do ramo da Quinta da Ribeira, onde tive a felicidade de passar os verões da minha infância, pois esta quinta pertenceu ao meu avô Luís.
Não entendo como pode afirmar de forma tão taxativa que José Maria de Alpoim, Afonso Costa e o Visconde da Ribeira Brava não estiveram implicados no regicidio.
Concordo que todos têm direito ao seu bom nome e à, actualmente tão em voga, "presunção de inocência" (sobretudo neste caso em que não existem provas formais). Contudo, não podemos deixar que questões emotivas ou pessoais condicionem a nossa capacidade de análise. Como aqui escrevi, conheço duas trinetas de Afonso Costa e parentes do José Maria de Alpoim. As conotações pessoais com este tipo de análises conduziriam, por exemplo, á conclusão simplista de que quem critica a actuação de D. Miguel I ou do Imperador D. Pedro (e é muito fácil encontrar quem critique ou um ou outro)está a procurar ofender o Senhor Duque de Bragança.
Posso também adiantar-lhe que, pelas razões já aqui expostas e pelo que investiguei, tenho uma opinião muito pouco favorável da actuação política do Almirante Ferreira do Amaral.
Este é de facto um assunto delicado pois toca em aspectos pessoais e tão sensíveis para qualquer um de nós como o são a memória dos nossos avós. No entanto, se nos honra e enche de orgulho ouvir falar dos feitos heróicos dos nossos antepassados, também deveremos saber lidar com os lados menos positivos de alguns deles.
Concordo igualmente que a especulação em história é algo de metodologicamente errado. Só que discordo de si quando considera as minhas suspeitas como "especulação pouco fundamentada". Tanto mais que elas partem de dados concretos e documentados.´Na minha anterior intervenção, suscitei uma serie de interrogações para as quais ainda não obtive as respostas que me permitam "deixar de especular".
É um facto que foi o deputado dissidente visconde da Ribeira Brava a comprar as carabinas que seriam utilizadas no golpe de 28 de Janeiro e que uma destas foi utilizada no regicidio. Ribeira Brava adquiriu na altura, e salvo erro, seis carabinas (não foram por certo mais de 10). Para que serviam? Por certo que os mentores do golpe não pretendiam enfrentar um regimento ou guarnição com seis carabinas. É pois legítimo especular que estava planeado outro tipo de acção (qual o alvo? O Rei ou o Presidente do Ministério?). Com seis carabinas não se enfrenta um regimento mas efectua-se uma prisão...ou um assassinato...
Uma última palavra para o conde de Arnoso, a quem se refere na sua primeira intervenção. Este Senhor foi uma das honrosas excepções que, no meio do ambiente de cobardia generalizada que se seguiu ao regicidio, procurou que a verdade (e o Conde de Arnoso procurou que se descobrisse a verdade e não a incriminação de A ou B) fosse apurada e que o inquérito ao regicidio tivesse uma conclusão.
aceite os meus melhores cumprimentos,
Lourenço Pereira Coutinho
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Manuel Azevedo Graça,
A propósito do que refere sobre a historiografia portuguesa dos séc. XIX/XX, eu juntaria o nome do Dr. Rui Ramos, o qual tem, inclusive, um trabalho sobre precisamente João Franco.
Um abraço
Alexandre Burmester
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Lourenço Pereira Coutinho,
Só uma pequena ajuda: a carabina adquirida pelo Visconde da Ribeira Brava foi utilizada pelo Buíça, que matou o Príncipe Real. D. Carlos foi morto pelo Costa, que utilizou uma pistola.
Anos mais tarde, como sabemos, foi o Presidente Sidónio Pais assassinado por um outro Costa, tendo surgido o seguinte refrão popular:
"Um Costa matou o Rei
Outro Costa o Presidente
Mas temos ainda outro Costa
Para dar cabo da gente!".
Os meus cumprimentos
Alexandre Burmester
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Alexandre Burmester:
Obrigado pela sua ajuda. Já li várias coisas sobre o tema em causa- incluindo o livro de Miguel Sanches de Baena, já mencionado neste tópico, e que apresenta uma documentada visão dos acontecimentos e um interessante estudo sobre o regicidio- mas continuo a confundir os regicidas e quem acabaram por assasinar (talvez por sempre ter dado mais importância aos, na minha opinião, autores morais deste crime).
com os meus melhores cumprimentos e um abraço,
Lourenço Pereira Coutinho
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RE: V. Ribeira Brava
Caros Alexandre Burmester e Lourenço Pereira Coutinho:
Fico grato pela vossa intervenção, não por de algum modo auxiliarem a versão dos acontecimentos que aqui reproduzi, mas por virem completar elementos importantes para tão sinistro caso.
Não tenho qualquer intenção de menosprezar ninguém, nem sequer foi minha intenção desconsiderar a família Ferreira do Amaral de hoje, cujos membros muito considero e respeito.
As figuras históricas, pelo simples facto de se tornarem públicas, não podem ficar alheias às crítas, do mesmo modo que lhes são reconhecidas as qualidades.
Todos nós temos antepassados de que mais nos orgulhamos, assim como outros que prefeririamos que não tivessem sido como foram. Nós próprios (e neste grupo me incluo) gostaríamos de ter sido melhores, dando um contributo bem superior à Alma Portuguesa.
Tenho um enorme orgulho em descender de um homem como Bernardo V. Moreira de Sá. Homem tão impoluto que mereceu de alguém como José Relvas a seguinte expressão: “Moreira de Sá é de uma altura moral incompreensivel. Pena ser político da Música”.
Pois mesmo acerca de um homem como Moreira de Sá, artista e professor de renome mundial, muitas críticas foram tecidas sobre a sua postura. E nem por isso me sinto menos honrado por ser seu bisneto.
Citei aqui o Conselheiro Dr. António Ferreira Cabral Pais do Amaral, bisavô paterno de minha Mulher.
Político distintíssimo, chefe parlamentar do Partido progressista, Ministro de várias pastas de D. Carlos e D. Manuel II e, acima de tudo, parlamentarista insigne, respeitado e temido, além de autor de uma extensa obra acerca de Camilo Castelo Branco (que, como eu, muito admirava) e sobre o final da Monarquia.
É António Cabral um dos que indicia a trama do regicídio, dando a entender, sem qualquer rebuço, a participação de homens como Ribeira Brava e outros nos acontecimentos que levaram ao desaparecimento do rei e do infeliz Príncipe Herdeiro.
A figura de José de Alpiom é de tal modo sórdida que ninguém, honestamente, o lembrará como exemplo a seguir. E, no entanto, a sua distintissima Família nem por isso deixa de ser respeitada e conceituada.
Pois foi sobre este homem que Guerra Junqueiro, figura pouco grada dos monárquicos, ouviu exclamar: “fnalmente morreu o porco”, referindo-se a D. Carlos!
Guerra Junqueiro era, como todos sabemos, republicano. Mas muito distante de ideias de regicídios. E se ficou escandalizado com a afirmação de Alpoim, foi por considerá-la indigna de qualquer hoem de bem.
Quanto a Ribeira Brava, continuo a pensar, na linha de muitos e ilustres historiadores, que foi uma figura sinistra. Culpado, pelo menos, de saber do que se iria passar e ter, pelo menos, colaborado na “sombra”.
Mas há mais, muito mais. Um crime desta natureza, é preparado e levado a cabo por muita gente. E não por 4 ou 5 desgraçados, por mais fanáticos que sejam.
Defender que tudo não passou de uma actuação limitada é, no mínimo, indigno de quem se afirma historiador. E muito mais quem tem responsabilidades sobre a matéria.
Quanto ao almirante Ferreira do Amaral, figura pouco simpática e respeitada entre os monárquicos, não deixou de ser um protagonista de toda a História da época. Infelizmente, tal como o sucessor teixeira de Sousa, figura no mínimo parda e pouco respeitada. Doa a quem doer.
A diferença que separa homens como Ferreira do Amaral, de António Cabral e seu ilustre Chefe, o Conselheiro José Luciano de Castro, bem como muitos mais, é que o primeiro deixou uma lembrança de pouca consistência e algum envolvimento no “apagar” do processo sobre o Regicídio.
Mas, enquanto António Cabral e outros se mantiveram monárquicos até aos últimos dias da sua vida, outros mudaram de “fato” e viraram republicanos...
Não discuto as opções, mas a História cá está para os colocar em pratos diferentes da balança da Vida.
Dizia-se que o rei D. Carlos afirmava que não havia monárquicos em Portugal. Afirmou-se e continua a afirmar-se que os partidos políticos foram os responsáveis máximos pela queda da Monarquia.
Indubitavelmente que os partidos tiveram grandes responsabilidades pelo descrédito a que tudo chegou. Mas seria bom recordar que a Família Real (cá, como noutras paragens...) também teve enormes responsabilidades por tudo o que aconteceu. Sei que esta afirmação é pouco agradável para com os últimos protagonistas reais da Monarquia portuguesa. Mas não posso deixar de o lembrar, para que se aprenda com a História.
A Monarquia caiu porque ninguém, ou muito poucos, conseguiram estar à altura da situação grave em que se vivia.
A sumptuosidade que se atribuia à rainha D. Maria Pia, com gastos elevados e incompreensiveis para a altura, bem como a sistemática intromissão da rainha D. Amélia em assuntos de Estado, aliada à malfadada história dos “adiantamentos” que tanta tinta fizeram correr então, foram alguns dos motivos para o descrédito em que cairam as figuras reais.
Lembremo-nos que os insultos à Familia Real ultrapassaram tudo o que era suposto admitir-se e tolerar-se em tais circunstâncias. Já aqui o afirmei num outro tópico.
Apesar de tudo, ainda coube aos restantes membros da Fmília Real portuguesa a hipótese de sobreviver. Coisa que poucos anos depois não seria permitido num país como a Rússia, onde toda a Família Real foi dizimada, por nunca ter sido capaz de “ouvir” os gritos de revolta e desepero de uma população em esatdo miserável de sobreviv~encia.
A História não perdoa a quem não é capaz de atender às necessidades dos mais pobres e desfavorecidos. E esses, geralmente, nem sequr são os autores materiais dos crimes e vinganças.
E por aqui me quedo sobre tão desagradável assunto.
Não posso, porém terminar, sem uma sincera e desinteressada palavra de admiração e respeito pela actual Duquesa de Bragança, D. Isabel de Herédia. Seja seu antepassado nais ou menos “recordável” em toda esta trama histórica, a Senhora Duquesa de Bragança é um exemplo de categoria, sensatez e inteligência, que merece ser acentuado, não havendo qualquer limite à minha enorme admiração pelo papel que tem desempenhado junto de seu Augusto esposo.
Bem haja, Senhora D. Isabel, Duquesa de Bragança!
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Ex.mo Senhor
Fernando de Sá Monteiro
Leio sempre com a maior atenção as intervenções de V. Ex.ª neste Forum. Posso nem sempre concordar com as opiniões colocadas, mas reconheço sempre a clareza, a profundidade, o conhecimento e a educação, a que, aliás, nos habituou...
No caso presente, não posso deixar de concordar plenamente com V. Ex.ª. Podemos gostar mais ou menos dos nossos antepassados, mas jamais esconder verdades... Todos temos os nossos fantasmas nas Famílias, cmo tão bem expôs. Mas, as intervenções de V. Ex.ª disseram já tudo o resto, inclusivamente a consideração que tenho de SAR a Senhora Dona Isabel.
Os meus melhores cumprimentos
Manuel Azevedo Graça
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RE: V. Ribeira Brava
Obrigado, caríssimo Manuel Azevedo Graça. A sua mensagem é tanto mais lisongeira para mim, quanto V. Exª é figura que respeito pelo rigor e diplomacia que o tornam figura grada deste convívio.
Obviamente que nuna entendi ser dono da Verdade Histórica. Obviamente que nem sequer me reconheço uma tal autoridade, muito longe disso.
Penso sobre os assuntos, depois de consultar a maior parte da bibliografia que se encontre ao meu alcance. Somente isto.
Errarei muitas vezes. Serei infeliz outras tantas. Mas nem por isso deixo de procurar a Verdade Histórica com algum rigor e usando critérios que considero importantes para afastar a sempre possivel tendência para a "personalização" dos factos históricos, bem como os "ódios de estimação" que muitas vezes nos acometem...
Procuro, acima de tudo, ser justo. Umas vezes consegui-lo-ei, outras tantas ficarei longe de o alcançar.
Por tudo isso, peço que me perdoem. Sou simplesmente humano e limitado.
Aceite os meus mais respeitosos cumprimentos.
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Ex.mo Senhor
Fernando de Sá Monteiro
Agora é a minha vez de agradecer a V. Ex.ª. Confesso que conseguiu fazer-me corar, o que é raro... Quanto a limitações, todos as temos e saiba V. Ex.ª que as minhas são grandes.
Desde já digo que não é minha intenção - e bem me sei acompanhado por V. Ex.ª - ofender a pessoa do distinto Senhor Augusto Ferreira do Amaral, nem tampouco a de seu antepassado, que nem sequer aqui está para se defender. Mas que a figura histórica (insisto neste termo) deste último não é das mais favoráveis, parece-me consensual. Será só pelo Almirante ter sido um dos Primeiros-Ministros da Monarquia?! ou haverá mais alguma coisa por detrás disso? Relembro que o seu mandato foi curto... porquê?! É bem possível que toda a verdade não venha a ser descoberta...
Também não é minha intensão julgar os José de Alpoim, os Ribeira Grande, os Afonso Costa ou os António José de Almeida, cabeças pensantes do republicanismo português; menos ainda os Buíça, os Costa ou Aquilino Ribeiro, que mataram, puseram bombas, agiram em nome daqueles... A própria História encarrega-se desses julgamentos, ora escondendo verdades, ora absolvendo, ora proferindo sentenças cruéis e impiedosas. Quantas figuras foram já acusadas e julgadas?!... e quantas dessas foram incriminadas ou absolvidas?!, ou até incriminadas e absolvidas ao mesmo tempo, como nos casos de Lucrécia Bórgia ou de Napoleão, para citar nomes que nos estão mais longínquos e que são mais consensuais...
Durante os meus anos de faculdade, em que cursei História, Variante da Arte, costumávamos dizer que «o moral da História é que a História não tem moral!». Às vezes assim acontece... Nos tempos que correm, quando a escrevemos, urge-nos olhar ambos os lados da barricada e ver bem, muito bem, todos os ângulos da questão...
Finalmente, eu é que rogo que aceite os meus mais respeitosos cumprimentos
Manuel Azevedo Graça
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RE: V. Ribeira Brava
Meu Caro Lourenço Pereira Coutinho
Só agora lhe respondo, porque tive problemas com o meu computador.
Também só lhe respondo a si, e não ao Fernando de Sá Monteiro, pois o sujeito parece que quer que o trate por "excelência", e eu, francamente, não sou capaz...
Continuo a considerar não provado e pouco provável que o Visconde da Ribeira Brava, o José de Alpoim e o Afonso Costa fossem autores, sequer morais, do regicídio. Note-se que a minha apreciação da actuação política destes últimos é muito negativa, pelo que não tenho a mínima vontade nem o menor interesse em poupá-los a críticas. Mas isso não impede que, com isençao, em vista da prova até hoje produzida, deva reconhecer ser pouco verosímil que estivessem deliberadamente implicados no assassínio do Rei e do Príncipe.
Se esse crime tivesse sido objecto de preparação num amplo conciliábulo, com personagens tão variadas e destacadas como eram os implicados na intentona de 28 de Janeiro, alguma vez teria vindo a público alguma denúncia circunstanciada e fidedigna sobre o facto. Por outro lado, os regicidas foram celebrados como heróis da 1ª república; ora nem mesmo durante a 1ª república aquelas personagens foram reconhecidas como autores do regicídio.
A participação de outros cúmplices, que se apurou, cingiu-se apenas a um escasso número de personagens obscuras, como foi o caso de José Nunes (veja-se, p. ex., de Félix Correia, "Quem matou o Rei D. Carlos").
Assim, insisto, em termos estritamente históricos, penso preferível a versão de que o Visconde da Ribeira Brava não foi autor do crime. Note-se que não é apenas, na dúvida, uma questão formal, de presunção jurídica de inocência. O meu convencimento, segundo a verdade material, é de que ele não o foi.
O outro facto histórico que debati, neste breve diálogo, é o de saber se houve, ou não, embaraço ao pleno apuramento da verdade, por parte das autoridades, designadamente do Governo, durante o reinado de D. Manuel II, e em especial por parte do almirante Ferreira do Amaral, primeiro Presidente do Conselho e Minstro do Reino.
A minha tese é que isso é redondamente falso.
Há documentação que a evidencia, parte dela já por mim publicada e parte no arquivo de família, que se acha hoje depositado na Torre do Tombo e pode ser consultado.
O inquérito policial era presidido pelo Juiz de Instrução Criminal. Durante 1908 e parte de 1909, este foi o Dr. José da Silva Monteiro, magistrado respeitabilíssimo, cuja carreira terminou como Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça. Foi sogro do eminente e laureado Prof. Inocêncio Galvão Telles. Não tem a mínima verosimilhança a ideia de que o inquérito fosse manipulado, ou mesmo que fosse manipulável. Ou de que o Dr. Silva Monteiro se prestasse a isso. E muito menos que isso fosse possível, com a exposição pública que o assunto tinha, perante a imprensa e o Parlamento. É pouco menos que absurdo que, nessa altura, pudessem pelas autoridades responsáveis pelo inquérito, ser escamoteadas provas materiais, pistas, informações válidas ou peças processuais.
A razão por que intervim neste tema do fórum é que considero uma calúnia despropositada sobre o almirante Ferreira do amaral, insinuar o contrário. Ele pode ser uma personagem pouco simpática aos olhos de muitos, nomeadamente dos monárquicos. E não serei eu quem lhes negue nisso razão, pois se sabe que ele aderiu à república algum tempo depois de ela ter sido implantada.
Mas enquanto vigoravam as instituições monárquicas, ele foi sempre leal a estas. Mais. Quando a Monarquia caiu, a sua primeira intenção foi deixar o serviço. Só depois, influenciado pelos conselhos de pessoas que prezava, tomou a resolução (que também considero lamentável) de se manter ao serviço e aderir, para mais activamente, às novas instituições.
E considero impensável, dadas as suas convicções e a sua personalidade, que ele alguma vez se prestasse a encobridor dum crime. Foi toda a vida um escrupuloso respeitador da lei, da ordem e da hierarquia, não obstante o liberalismo das suas convicções. Aqulea hipótese não tem ponta por onde se lhe pegue.
Eis o que, em resumo, penso sobre as duas questões em debate.
Não disponho de tempo nem o forum será o lugar próprio para uma extensa e aprofundada análise do regicídio e dos problemas que sobre ele a história coloca. Talvez um dia possa escrever algo de substancial sobre a matéria. Mas confesso que os meus tempos de dedicação à história neste momento não apontam para a época contemporânea.
Acredite, no entanto, que foi um prazer trocar estas breves ideias consigo, ainda mesmo quando em nada tenha conseguido convencê-lo.
Os cumprimentos amigos do parente
Augusto Ferreira do Amaral
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RE: V. Ribeira Brava
Caríssimo Manuel Azevedo Graça:
Não vou repetir a façanha de certos “figuras” ao dizer-lhe que o meu computador avariou, para justificar uma necessária demora na resposta, pelo facto de nada ter a acrescentar senão a insistência numa posição de arrogância e má criação.
Dizia V. Exª, na sua primeira mensagem que fez o favor de me dirigir: “Posso nem sempre concordar com as opiniões colocadas, mas reconheço sempre a clareza, a profundidade, o conhecimento e a educação, a que, aliás, nos habituou...”.
Agradeço-lhe penhoradamente o elogio, talvez nem sempre merecido, mas que obviamente me faz corar de orgulho.
É que, nunca pretendi, nem a ele me senti nunca com direito, qualquer tratamento de “excelência”, como certa figura me apontou. Pelos vistos, porém, essa mesma “criatura” entende que só ele tem direito a tal tratamento, (...).
É certo que, repetindo Gabriel Garcia Márquez, “nenhum homem tem o direito de olhar de alto para baixo para outro homem, excepto se for para o ajudar a levantar-se”.
Concordo plenamente.
Acontece, porém, que a “criatura” ora em causa, (...)
Há seres humanos que, pela sua postura arrogante, nada mais merecem do que o silêncio. Principalmente quando, esgotados os argumentos, sempre se vai deitando mão do insulto pessoal e da total ausência de boas maneiras.
Pois é, caro amigo, a educação em certas pessoas cai por terra com um simples pestanejar.
Continuarei a tentar ser digno dos elogios que me dirigiu. Tentarei ser justo e honrado em tudo o que faço na vida. Sem esperar algum dia que me seja concedido qualquer tratamento de “excelência”, pois que a ele não tenho direito.
Apenas pretendo ser respeitado como qualquer ser humano, bastando-me um tratamento coincidente com o que o mais modesto “sujeito” se julga com direito.
Obviamente que é preciso, pelo menos, haver categoria e educação. Quando estas falham, não há argumentos que os possam substituir, nem muito menos desculpar.
Por vezes, o nível de certas pessoas está ao nível do mais rasteiro dos seres humanos. Temos que viver com essa realidade e ultrapassar a decepção que por vezes elas nos causam.
Queira aceitar, caro Manuel Azevedo Graça, os mais respeitosos cumprimentos deste “sujeito”.
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Deixo aqui registada a minha maior indignação pelo corte da censura na minha última intervenção neste tópico.
Não consigo ver em que é que qualquer referência à maior ou menor estatura de alguém (mesmo que ela seja arrastada para a estatura moral...), seja mais "censurável" e insultuosa, do que a afirmação de certa "figura" dizendo, ao referir-se a mim, que "o sujeito parece que quer que o trate por "excelência", e eu, francamente, não sou capaz...".
Ora tenham paciência, meus caros Senhores, mas a vossa capacidade de "corte" nas mensagens é, no mínimo, tendencialmente pouco sensata e de imparcialidade altamente discutivel.
Fica registada a minha indignação, parecendo-me que, Vossas Excelências, ultimamente, têm andado "gegos" em casos de muito maior insulto pessoal.
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Queria escrever "cegos", obviamente, acrescentando que me retiro, definitivamente, de qualquer tipo de discussão que de hoje em diante exista sobre assuntos que não tenham a ver, directamente, com a Genealogia.
Pergunto-me se tal "censura" seria aplicada do mesmo modo com outra pessoa que não fosse o dito "sujeito"...
Pois é, a vossa posição pauta-se pela maior ou menor simpatia pessoal. Entendido...
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Fernando Sá Monteiro,
Não admitimos que se tente atingir alguém através da sua caracterização física. Para nós são ofensas intoleráveis, cuja remoção não é sequer questionável. Enquanto proprietários deste espaço, é de nossa inteira responsabilidade a moderação do Forum, seja ou não do seu agrado. As regras estão definidas desde o início e são para cumprir. Se discorda delas ou não lhe agradam, pode efectivamente abster-se de participar.
Quanto ao modo de intervenção que proporcionamos: não se trata "de qualquer tipo de discussão", mas antes de debate, que se pretende sereno e dirigido a temas genealógicos.
Cumprimentos,
Genea Portugal
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RE: V. Ribeira Brava
Caros moderadores:
Dispenso esse tom da vossa parte, tanto mais que fui eu, inicialmente, que fui tratado de forma intolerável e não vi da vossa parte qualquer chamada de atenção ou "censura".
Fiquem com as vossas mais do que discutiveis "regras", não deixando embora eu de manifestar aqui o meu desagrado pela forma como procedem aos cortes.
Nas verdade, noutros tópicos, onde seguramente têm sido dirigidas mensagens que, essas sim, são indubitavelmente ofensivas de certas pessoas, V.s Exªs parecem ter andado "distraidos".
Não teço mais comentários, nem me preocupa minimamente a vossa tão discutivel imparcialidade.
Aceitem os meus cumprimentos respeitosos.
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Meu Caro Oliveira Lima,
Li com interese a sua exposição e gostaria apenas de comentar a sua referência "ora nem mesmo durante a 1ª república aquelas personagens foram reconhecidas como autores do regicídio". Concordará comigo que até mesmo para a I República seria demasiado rebaixamento reconhecer uma das suas figuras de prôa - o Dr. Afonso Costa - como regicida. Uma coisa era transformar uns anónimos em "heróis populares", outra muito diferente o implícito reconhecimento da autoria moral de um crime daquela magnitude por parte de tão excelsa figura.
Os meus cumprimentos
Serpa Pinto
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RE: V. Ribeira Brava
Meu Caro Bettencourt e Serpa Pinto
De acordo que, para a maioria dos primeiro-republicanos, repugnaria propalar cumplicidade ou autoria moral do regicídio por parte de líderes e governantes então conceituados. Mas para muitos militantes, nomeadamente para carbonários e outros revolucionários e anarquistas que instabilizaram Lisboa até 1926, tal participação seria merecedora de encómio. Não teriam rebuço em envolverem os próceres republicanos em acto que consideravam motivo de orgulho. E muito naturalmente, se essa fosse a verdade, teria brotado perante a imprensa ou mesmo perante os órgãos de soberania. Se a intentona de 28 de Janeiro de 1908 envolvesse o regicídio, dificilmente esses fanáticos teriam resistido a enaltecer o facto associando-lhe a morte do Rei, para evidenciar que o movimento não tinha fracassado mas que o principal dos seus objectivos - o regicídio - teria sido cumprido.
Mas - atenção - estas são razões especulativas e eu, na história, prefiro as documentais.
Muitos cumprimentos do
Augusto Ferreira do Amaral
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Senhor Barão
Na sua teoria existem verdades, não há dúvida , mas tb muitos lapsos.
Mas uma coisa é certa a culpa morre solteira em Portugal parafraseando um "ilustre" politico da nossa praça.
Com os melhores cumprimentos de um Monárquico convicto e moderno como o Senhor.
Picanceira
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Augusto Ferreira do Amaral:
Temos de facto duas interpretações diferentes sobre este assunto, o que acaba por ser positivo, pois tal tem permitido manter consigo e com os outros íntervenientes no tópico esta interessante troca de ideias.
Pertenço à corrente que considera que a abordagem à História verdadeiramente isenta e imparcial chama-se Cronologia, porque factual e não interpretativa. Tudo o resto é tendencialmente subjectivo, desde o simples facto de dar mais atenção a uma fonte do que a outra, às nossas convicções e tendência para desculpar ou agravar esta ou aquela atitude.
Formei a minha opinião sobre o tema em causa após consulta a jornais, autores e testemunhos da época (nomeadamente na Torre do Tombo, Biblioteca Nacional e Arquivo Histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros) e, também, a autores nossos contemporâneos. Como lhe disse, ainda não consultei o livro "Acalmação e D. Manuel II" nem o arquivo do Almirante Ferreira do Amaral que está na Torre do Tombo. Vou procurar consultar estas fontes quando tiver oportunidade e tenho a certeza que as mesmas irão contribuir para aprofundar os meus conhecimentos sobre o período em causa.
Quanto ás responsabilidades de José Maria de Alpoim, Visconde da Ribeira Brava e Afonso Costa no regicidio, e não querendo ser repetitivo, gostava apenas de comentar dois pontos de uma sua anterior intervenção: Afonso Costa e Ribeira Brava foram presos aquando da revolução de 28 de Janeiro mas José Maria de Alpoim conseguiu escapar para Espanha. Como é sabido, e por decreto de 31 de Janeiro, os implicados no golpe de 28 de Janeiro seriam expulsos do reino. Julgo que foi esta decisão a causa próxima do regicidio. Não me parece que Manuel Buiça e Alfredo Costa tenham actuado por iniciativa própria para vingar a "afronta" do governo aos conspiradores de 28 de Janeiro. Convém não esquecer que Alpoim estava a monte e dele poderá ter partido a indicação para avançar com o plano que delineara com os outros conspiradores (esta é uma dedução que pode, como é óbvio, estar errada, mas a troca de ideias passa também pela formulação destas hipóteses e pelo seu comentário pelos intervenientes neste tópico).
Como já escrevi numa anterior intervenção, o objectivo do golpe de 28 de Janeiro seria prender João Franco mas não creio que os conspiradores não tivessem preparado um plano alternativo, onde se incluiria a possibilidade de assassinato do Rei ou de João Franco. Alpoim era extremamente impulsivo e, desesperado pelo golpe falhado, dele pode de facto ter partido a ordem para o regicidio.
Quanto ao facto de, e após a implantação da República, nenhum dos supostos implicados no regicidio ter assumido publicamente o crime, convém lembrar que o directório do Partido Republicano Português desaprovara (pelo menos até 1909) qualquer forma violenta de tomada de poder, designadamente qualquer solução que passasse pelo assassinato da Família Real ou de algum membro do governo. Afonso Costa agiu sem o conhecimento do PRP. Era demasiado calculista para que tivesse interesse em vangloriar-se posteriormente de um assassinato, sobretudo numa altura conturbada como foi a I República, em que tudo mudava da noite para o dia e em que nada estava verdadeiramente sob controlo...
O tema do regicidio, porque não inteiramente provado, presta-se ainda a inevitaveis especulações. Também gostaria de, um dia, vir a saber de forma rigorosa e definitiva o que verdadeiramente se passou no dia 1 de Fevereiro de 1908 e ter oportunidade de perceber se a minha interpretação dos factos foi ou não a mais correcta.
É mais delicado escrever sobre o segundo ponto da sua intervenção (o Almirante Ferreira do Amaral). Respeito-o como membro de uma família ilustre, e enquanto seu avô e filho do Governador de Macau, Capitão-de-Mar-e-Guerra João Ferreira do Amaral, mas não posso deixar de criticar a sua passagem pela política. Posição aliás que defendo no meu trabalho "Do Ultimato à República", que a Prefácio irá editar muito em breve. Não me pareceu correcto estar a debater consigo sobre esta matéria e ocultar-lhe este dado.
Quero agradecer-lhe esta troca de ideias, que indiscutivelmente enriqueceram a minha reflexão sobre o período em causa. Estarei sempre disponível, desde que tenha conhecimentos sobre o tema, para este estimulante género de debates.
Com os meus melhores cumprimentos,
Lourenço Pereira Coutinho
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RE: V. Ribeira Brava
As investigações
“Para muitos, talvez mesmo para a maior parte, o alvo, visado no dia 1, não era o rei, mas sim João Franco.
Trata-se de uma ideia bastante divulgaga, em que muita gente acreditou, e sobre a qual muito se tem escrito e afirmado. Contudo, se o alvo inicial era o chefe do Governo, parece-nos estranho que, numa questão de breves segundos e num caso de tal magnitude, os regcidas tenham decidido a aniquilação do rei e do principe real. Mais estranho se nos afigura a questão se tivermos em conta que João Franco terá passado duas vezes pelos regicidas quando se deslocava para a estação. Houve, de facto, intenções anterioreso presidente do Conselho, mas há hoje a certeza de que o objectivo naquele dia era a morte da Família Real. Existiam intenções bem marcadas nesse sentido e que nada tinham a ver com João Franco.
Por outro lado, a versão oficial que nos restou do regicio de 1 de Fevereiro de 1908 é que seteria tratado de um acto esporádico levado a cabo por dois exaltados fanáticos. Seria, na opinião de republicanos maçons e oposição monárquica, uma atitude individual de que não se podia responsabilizar ninguém. Era esta a situação que convinha: um não envolvimento na tragédia de qualquer uma das forças políticas. Os responsáveis estavam mortos. A culpa, genericamente aceite, havia sido do presidente do Conselho de Ministros, João Franco, que levara ao desespero o Páis, e assim o melhor era não falar mais no assunto.
No entanto, o que ocorreu na fatídica tarde de 1 de Fevereiro talvez não tenha sido apenas o resultado de uma acção individual, mas sim o fruto de uma conspiração, na qual participaram algumas das instituições da oposição. Desde logo, nao faltaram especulações, ou talvez não o fossem, que procuraram relacionar quer o partido republicano quer os dissidentes progressistas com o crime.
Especulações essas que seriam imediata e definitivamente esclarecidas se os famosos processos do regicidio, onde se haviam registado todas as conclusões a que se havia chegado, não tivessem desaparecido, sem deixar rasto, após o 5 de Outubro de 1910.
Três juizes de instrução criminal, com os seus auxiliares, realizaram as investigações sobre a tragédia do Terreiro do Paço: Alves Ferreira, Sousa Monteiro e Almeida de Azevedo. Mas foi Abílio Magro, escrivão na Boa Hora e secretário deste último, quem mais notoriedade adquiriram ao levar para diante as investigações.
Logo após a implantação da República, Abílio Magro receceu uma notificação para entregar ao Governo as actas e o processo do regicidio, e a partir de então perdeu-se o rasto aos documentos. Contudo, Miguel Sanches de Baena teve acesso a esse processo, a aprtir do qual chegou a conclusões verdadeiramente perturbadoras. Os juizes e o referido escrivão chegaram a conclusões de tal modo terriveis que Ferreira do Aamaral, presidente do Conselho após a queda de João Franco, tentou, afirmando que nada se descobrira, sonegar as provas. O mesmo aconteceu com o seu sucessor, Teixeira de Sousa, e as investigações são suspensas e os processos e actas abafados.
Porquê este silêncio? Não se teria, de facto, descoberto nenhum dado novo e de relevância para o processo, ou, pelo contrário, existiria um forte grupo de pressões avesso ao evoluir das investigações e que tão directamente influiram nas decisões governamentais? Parece-nos acertada esta última hipótese. E essas pressões manifestam, indubitavelmente, os interesses de determinados sectores da oposição. Republicanos, sociedades secretas e, sobretudo, os progressistas dissidentes representam o grosso desse núcleo. Aliás, começa-se, logo após o crime, a falar de um conluio entre dissidentes, na pessoa de Alpoim, e os regicidas. Foram várias as personalidades que o acusaram, e este, com o intuito de esclarecer toda a trama, escreveu: “Só há duas pessoas em Portugal que sabem tudo, eu e outra. Dou-lhe a minha palavra de honra. Não tenho querido dizer nada, porque ninguém sabe, na época em que estamos, o que pode vir a suceder...Mas só eu e outro sabemos em que casa foi a reunião, quem a presidia, e quem trocou ao Buiça o revólver pela cabina.”
Só ele e utra pessoa é que sabiam de tudo. Como sabiam? Porque sabiam? Conheceriam todos os pormenores porque haviam participado activamente na conspiração? Não há dúvidas nenhumas de que José de Alpoim estava ao corrente de todos os factos até aos mais íntimos pormenores, o que não será de admirar, posto que ele próprio traçou e orientou as linhas de fundo que conduziram ao regicidio. “O palno do regicidio começa a ser desenvolvido por Alpoim e toma foros de realidade no seio da Coruja, à qual não era estranha a presença do visconde da Ribeira Brava (aqui está asegunda pessoa a quem Alpoim se referia ao dizer que só ele e outra pessoa sabiam de tudo). Ali definem uma estratégia a seguir que seria naturalmente apoiada pela restante Carbonária.
Não parece, pois, haver d´´uvidas algumas sobre a participação dos dissidentes e do seu chefe, José de Alpoim, no regicio. E se algumas houvesse, ficariam totalmente desfeitas perante uma simples leitura so processo do atentado. Daí a atitude de Ferreira do Amaral e de Teixeira de Sousa em quererem abafar o processo. Sobre este aspecto, Joaquim Leitão refere que a atitude de Teixeira de Sousa derivou em grande parte “(...) porque, sabendo que os dissidentes tinham tido intervenção na norte do rei e do príncipe, pretendia, com o termo de histórico processo-crime, encobrir a acção desses seus amigos e aliados políticos no atentado de 1 de Fevereiro” (vd. Joaquim Leitão, “Os cem dias funestos”, Lisboa, pág. 174). E por isso não é de estranhar que o presidente do Conselho, em conversa com o juiz de instrução criminal, Almeida de Azevedo, após anunciar que não permitira a duvulgação do processo, porque podia originar uma resolução, desabafava que, para além disso, seria a vergonha dos dissidentes ((vd. António Cabral, “Os culpados da queda da Monarquia”, pág. 96).
Posto isto, podemos hoje afirmar que a hipótese de o atentado ter sido obra de fanáticos exaltados que actuaram isoladamente, como se procuror fazer crer, está fora de causa. O regicídio foi o resultado de um conluio bem planeado e pensado e os factos posteriores demonstram-no. Havia, como tal, razões políticas de fundo, suficientemente fortes, para justificarem a sonegação de provas que pudessem envolver qualquer um dos sectores da oposição. A ninguém convinha uma conexão com os assassinos. Daí a resistência sistemática às investigações de Abílio Magro e ao processo do regicidio, cujas terriveis revelações nele contidas não convinham, de forma alguma, a ninguém. E daí também o seu posterior desaparecimento.
A tiudo isto não seria também estranha a acção desenvolvida pelos republicanos e pelas sociedades secretas.”.
(“O regicídio de 1908”, Rui Manuel da Costa Neto, FL/UL, in “História”, ano XVII (Nova Série), nº 26, Novembro de 1996, pág.s 10 a 25).
Cumprimentos.
Fernando de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Meus caros moderadores do GeneaPortugal e restantes participantes:
Esta será, sem qualquer dúvida, a minha última intervenão neste tópico. E se os moderadoresx deste fórum o desejarem, por entenderam ser eu pessoa “non grata” nele, abandoná-lo-ei sem hesitação.
Se transcrevi para aqui, na mensagem anterior, todo aquele texto – estando embora, a priori, a ser algo incoerente com o que escrevi anteriormente “acrescentando que me retiro, definitivamente, de qualquer tipo de discussão que de hoje em diante exista sobre assuntos que não tenham a ver, directamente, com a Genealogia” – fi-lo unicamente com o intuito de que esta transcrição vincasse, definitivamente, a autoria das afirmações inicialmente aqui transcritas por mim e que mereceram do Exmª Senhor Dr. Augusto Ferreira do Amaral _ personlidade que sempre respeitei e admirei, ao contrário do que possa ser pensado por quem leu tudo o que aqui ficou escrito – reconhecendo-lhe o valor, dignidade e autoridade que há muitos anos me habituei a ler em tudo oq ue escreveu e nas suas posições em níveis diferentes da História.
Que não fiquem, pois, quaisquer dúvidas acerca do que penso sobre tão distinta figura pública. E nem seuqer, quem me conhece, conseguirá descortinar nestas minhs palavras qualquer tipo de cinismo ou falta de dignidade pessoal. Sou, acima de tudo, ou tento ser – pois que muitas vezes todos nós incorremos em faltas, mais ou menos inconscientemente ou por mero momento de irritação – justo nas minhas apreciações pessoais.
A minha reacção deveu-se a certa forma arrogante com que o Dr. Ferreira do Amaral entrou neste tópico, querendo dar ideia de que era a única pessoa detentora da Verdade sobre tão lamentáveis acontecimentos.
Na verdade, como já o afirmei anteriormente, as figuras históricas, pelo simples facto de o serem, estão sujeitas a todo o tipo de consideraç~es, umas mais justas, outras menos, ainda que futuramente tudo possa vir a ser, mais ou menos esclarecido.
Mas, em História, não é verdade que nunca existiu, nem existirá jamais, uma única versão? E quem sou eu para assegurar que aquilo que hoje penso, será ou não amanhã totalmente alterado pelo aparecimento de documentos que o alterem substancialmente?
A minha convicção sobre tão malfadados acontecimentos está na razão directa das inúmeras fontes que consultei, muitas delas reputadas e respeitadas. E não tentei somente ler o que fosse mais próximo das minhas simpatias por certas figuras históricas.
Posto isto, de que modo poderemos transportar para o ataque pessoal, nas figuras de hoje, qualquer tipo de crítica ou de considerações menos abonatórias de certas figuras que viveram aqueles terriveis acontecimentos? Porventura iremos tomar atitudes de repulsa e indignação sempre que algum historiador tecer comentários menos abonatórios acerca de antepassados ou outras figuras histórticas que, por razões pessoais, nos sejam queridas? Obviamente que estamos no direito de o fazer. Obviamente que temos o direito ao bom nome e à consideração pelos nossos antepassados. Mas tais atitudes de repulsa e indignação terão que ser na razão directa de uma indiscutivel e deliberada intenção do autor ou autores em colocarem em causa o bom nome, sem possuirem qualquer tipo de “provas” ou “suspeitas bem fundadas” para tais acusações.
Francamente, não me parece, neste caso, o que se passou, nem me parece que os autores aqui ciatdos sejam menos respeitados e considerados.
Terminarei pedindo aos moderadores e ao Dr. Ferreira do Amaral que entendam a minha reacção mais violenta, derivada do facto deste “sujeito” nuna ter pretendido insultar ninguém, nem sequer ter asssumido qualquer posição de arrogância e muito menos de autoridade histórica que não possui.
Mas o que entendo ser merecedor é de respeito, como qualquer mortal, pois toda a minha vida tem sido pautada pela defesa do bom nome e da educação recebida desde o berço.
É chegado o momento de me retirar, definitivamente, deste tópico. Muito foi já escrito, muito foi já fonte de desentendimentos e insultos pessoais que a ninguém interessa, nem foi o meu motivo inicial para nele entrar.
Como escreveu o Manuel de Azevedo Graça, «o moral da História é que a História não tem moral!».
Sem embargo, fica-me a sensação de que a moral que nos deve nortear é a do respeito mútuo, tentando, acima de tudo, sermos justos para com os outros e entendermos que, por princípio, todos somos pessoas de bem, merecedoras de respeito. Mesmo que sem qualquer direito a títulos tão discutiveis de “excelência”. Tão somente o título de pessoas que procuram diriamente ser dignos dos seus maiores.
Aceitem todos, sem excepção, os meus respeitosos cumprimentos, sem que no meu coração albergue qualquer tipo de ressentimento ou repulsa.
Fernando Manuel Moreira de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Fernando de Sá Monteiro:
Reforçando a sua intervenção, passo a transcrever o seguinte parágrafo (História de Portugal-Direcção de José Mattoso- vol. VI pág.291 ed. Circulo de Leitores):
Sobre as prisões efectuadas a seguir ao golpe de 28 de Janeiro:
"No governo civil de Lisboa, toda a gente estava aterrorizada por terem prendido Afonso Costa."Deviam tê-lo deixado fugir", era a opinião geral.(...)Quanto ao juiz de instrução criminal, Alves Ferreira, já desesperava de todo: folheava a lista de presos, via os terríveis nomes de Afonso Costa e de Ribeira Brava e choramingava: "Então eu é que hei-de julgar esta gente toda?" (Chagas, O Movimento, vol I, p.98). Imagine-se ele, a julgar o grande Afonso Costa! Tremia só de pensar."
Neste contexto, tornava-se dificil aos juizes julgar com isenção. É, aliás, escandaloso que Afonso Costa, já em República, tenha intimado Abílio Magro a entregar-lhe as actas e processo do Regicidio. Se por mais não fosse, este acto teria bastado para me levar a considerar Afonso Costa como uma das personagens históricas mais infelizes do nosso séc. XX.
Com os meus melhores cumprimentos,
Lourenço Pereira Coutinho
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RE: V. Ribeira Brava
Meu Caro Fernando Sá Monteiro
Não posso deixar passar esta sua digna intervenção sem corresponder às simpáticas referências que nela faz, transmitindo-lhe a minha consideração e amizade por si, em nada perturbados pelas divergências relativamente ao tema em questão.
Vamos a ver se um dia poderei tratar de novo do regicídio, mais especificamente e compulsando e criticando mais exaustivamente as fontes, tudo numa óptica meramente histórica. E que, então, a verdade (de que é minha entranhada convenção não andar muito longe dos pontos de vista que expus em "A Acalmação e D. Manuel II"), surja mais evidente.
Penso que num forum como este - que aliás é sobre genealogia - é difícil, senão impossível e inapropriado, encaixar uma análise minimamente pormenorizada desse material.
Por isso será tarefa inglória tentarmos, nele, uma aproximação à objectividade.
Receba os meus cumprimentos amistosos
Augusto Ferreira do Amaral
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Senhor "Picanceira" (penso ser pseudónimo que não faço ideia de quem designe, apesar de ter já lido várias mensagens com esta assinatura neste fórum)
Registo a sua opinião e fico curioso de saber quais as verdades e quais os lapsos. No entanto, não deixo de observar que a culpa, no caso do regicídio não morreu solteira, mas sim polígama (!), pois se conhecem os nomes de pelo menos três regicidas (dois dos quais expiaram com a morte violenta a preversidade do seu acto), e se sugerem com probabilidade o nome de mais dois.
O seu correlegionário, monárquico moderno,
Augusto Ferreira do Amaral
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RE: V. Ribeira Brava
Meu Caro Lourenço Pereira Coutinho
Fico então curioso de ler o seu trabalho "Do Ultimato è República".
Felicito-o pela elegância com que se manteve discordante nestes tão controversos temas.
Os cumprimentos amigos do
Augusto Ferreira do Amaral
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Augusto Ferreira do Amaral:
Agora sim, estamos ambos no plano que sempre entendi ser o autênctico em nós: pessoas de bem!
Bem haja pela sua última intervenção e aceite os meus mais respeitosos cumprimentos e um abraço de alguém que, há muito, o respeita e admira.
Fernando Moreira de Sá Monteiro
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RE: V. Ribeira Brava
Caro Senhor Dr.
O tema do regicídio é-me particularmente penoso pelo que me abstenho de falar sobre um assunto perfeitamente morto.
Entrei no tema somente , para sublinhar que os actos do personagem Ribeira Brava ( enterrado até ao pescoço no movimento revolucionário republicano e indirectamente responsável, como muitos outos, no Regicídio), nada tém a ver com a personalidade de SAR a Duquesa de Bragança,(como é óbvio), a quem devemos consideração e estima, e nisso parece estar-mos de acordo.
Com os melhores Cumprimentos
Pedro Teixeira-Pinto
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