Lobo de Souza e as «órfãs do Brasil»
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Lobo de Souza e as «órfãs do Brasil»
Para quem possa dar achegas a esta questão, aqui ficam algumas considerações sobre os Lobo de Souza e as célebres «órfãs do Brasil»
1- Sabendo-se que a 1ª mulher do Dr. João Fernandes da Silveira, Violante Pereira, faleceu em 1469, este só pode ter voltado a casar com D. Maria de Souza (Lobo) em 1470, pelo que o filho de ambos, o 2º barão de Alvito D. Diogo Lobo, só pode ter nascido em 1470-1, tendo falecido em 1525 com 54 anos de idade.
2- Temos assim que D. Diogo Lobo casou a 1ª vez, com contracto de Agosto de 1483 (teria ele 13 anos e ela 12 anos de idade, o que é um caso extremo), com uma filha dos condes de Abrantes, D. Joana, que faleceu em 1508, voltando ele a casar em 1512 com uma irmã do 1º conde de Sortelha.
3- As donzelas da Rainha D. Catarina, órfãs, que esta enviou em 1551 ao governador do Brasil Tomé de Souza para aí casarem, foram sempre ditas «sobrinhas do conde de Sortelha», expressão que nomeadamente é referida no «Annuario Genealogico Brasileiro».
4- Identificando-as como bisnetas do 2º barão de Alvito, as donzelas seriam à data (1551) sobrinhas (sobrinhas-netas, mas na época não se fazia esta distinção) do 3º barão de Alvito.
5- O 1º conde de Sortelha faleceu em 1533, pelo que à data (1551) vivia seu filho D. Diogo, que no entanto só é feito 2º Conde de Sortelha muito mais tarde, em 1570.
6- Porque razão as donzelas são ditas sobrinhas do conde de Sortelha em vez de sobrinhas do barão de Alvito, parentesco verdadeiro e tanto ou mais fidalgo? Parece evidente que mesmo em 1551 a memória do 1º conde de Sortelha, grande valido e guarda-mór de D. João III, era bem mais prestigiante do que o 3º barão de Alvito, que aliás tinha caído em desgraça e chegara a estar preso em 1546.
7- Mas a verdade é que as jovens, para serem netas de Baltazar Lobo de Souza, não podiam ser verdadeiramente sobrinhas do conde de Sortelha, uma vez que este Baltazar ou era filho natural ou filho do 1º casamento do 2º barão de Alvito, e nunca filho do 2º casamento, pois a cronologia o não permite.
8- O facto de um neta de Baltazar se chamar D. Catarina Lobo de Almeida, sem outra justificação para o Almeida, vem confirmar que Baltazar seria filho da 1ª mulher, D. Joana de Noronha, e portanto neto materno do 2º conde de Abrantes, D. João de Almeida, donde lhe viria o nome. E não se estranhe o facto deste Baltazar não usar o título de Dom, uma vez que, por mercê real de 6.10.1488, os barões de Alvito e sucessores podiam usar Dom, mas os outros filhos não.
9- Baltazar deve ter assim nascido cerca de 1488, pelo que teria 20 anos de idade à data da morte da mãe (1508). Porventura em qualquer documento perdido Baltazar vem mesmo tratado por D. Leonor como filho (tratamento já então dado aos enteados). Pelo que não é de estranhar que passe genealogicamente ao Brasil a informação de que seria sobrinho do conde de Sortelha. O que, por outro lado, vem também confirmar que Baltazar não era filho natural.
10- Convém também não esquecer que D. Leonor (a dita irmã do conde de Sortelha e 2ª mulher do 2º barão de Alvito) ainda estava viva em 1551 e por muitos anos. Creio, aliás, que foi por sua influência junto à Raínha que as ditas órfãs foram tomadas como donzelas da Casa Real e enviadas para o Brasil. E daí, também, o serem referenciadas como «netas» de D. Leonor e portanto «sobrinhas» do conde de Sortelha.
11- Mas se Baltazar não era bastardo, já os seus filhos tinham de ser. Com efeito, nunca é apontada mulher a este Baltazar. Por outro lado, custa-me a crer que bisnetas legítimas dos barões de Alvito e trinetas dos condes de Abrantes fossem enviadas aos molhos para o Brasil para casarem com colonizadores. Mas, sobretudo, porque o sucessor como 3º barão de Alvito, D. Rodrigo Lobo, era dos irmãos mais novos, pois ele próprio diz em 1546, qundo esteve preso, que tinha 52 anos de idade, só tendo casado em 1521.
12- Creio, pois, que ainda novo, a rondar os 25 anos de idade, portanto cerca de 1514, Baltazar terá tido um caso amoroso de que resultaram os seus filhos. E se considerarmos sua filha Joana Barbosa, - nascida cerca de 1517 e casada em Lisboa cerca de 1537 (e não 1549, como se diz, pois sua filha mais velha casa a 24.12.1552) com Rodrigo de Argolo, fidalgo castelhano que veio na mesma época (1551) para o Brasil como 1º Provedor da Alfândega de S. Salvador da Baía, por mercê de D. João III, e já com os filhos -, conforme referem todas as genealogias, parece certo que a mãe de seus filhos seria Barbosa, e muito provavelmente Joana como a filha.
13- Baltazar terá falecido cerca de 1550, com cerca de 62 anos. Provavelmente seus filhos, então a rondar os 33 e 35 anos, foram mortos na Índia na mesma ocasião, possivelmente até em naufrágio. Porque sabemos que pelo menos seu filho Diogo acompanhava o pai na armada que este comandava e que em 1547 foi a Madagascar.
14- Ficam assim órfãs as duas netas de Baltazar, pelo que também não é de estranhar que em vez de netas sejam ditas suas filhas. Até porque uma filha (D. Felícia) de uma destas netas de Baltazar vem a casar, depois de viúva dum primeiro matrimónio, com um neto (filho dos referidos Rodrigo de Argolo e Joana Barbosa) do mesmo Baltazar.
15- Estas netas eram filhas de Henrique Lobo, assim nascido cerca de 1516 e falecido com seu pai na Índia cerca de 1550, e que tinha casado cerca de 1539, teria 23 anos de idade, com Isabel de Reboredo, que foram pais da referida Catarina Lobo de Almeida, nascida em 1541, uma das donzelas enviadas para casar ao Brasil, onde efectivamente casou em 1560, com 19 anos de idade, com Gaspar de Barros de Magalhães, nessa data contador da Fazenda Real do Brasil, e foram pais da referida D. Felícia.
16- Mas se considero, pelas razões apontadas, Baltazar Lobo filho do 1º casamento do 2º barão de Alvito, já considero bastardo Belchior Lobo de Souza (c.c. Inez de Gois), claramente mais velho. É possível é que este Belchior também falecesse na Índia na mesma ocasião de seu meio-irmão e seus sobrinhos, pois sabe-se que era costume as Armadas da Índia juntarem muita família.
17- Assim, teriam ficado na mesma circunstância suas netas, filhas de sua filha Filipa de Souza e de Luiz de Góis, que também já tinha sido morto por seu filho, António de Mendonça, que casara com uma judia e na sequência do parricídio fugira para o Brasil.
18- Acho também perfeitamente aceitável que tenham «apanhado a boleia» e incluídas no mesmo lote duas primas destas últimas, sobrinhas do grande Damião de Góis, mas que não tinham qualquer parentesco directo com os Alvito.
19- Em todo este esquema se verificam datas muito apertadas. Convém no entanto saber que nessa época eram permitidos casamentos com mulheres que completassem os 12 anos de idade e não era raro elas casarem, sobretudo no Nobreza, aos 13 e 14 anos, com homens que tanto podiam ter 40 anos ou mais, como 17 anos ou menos. Veja-se o caso extremo do 1º casamento do 2º barão de Alvito.
Cordiais cumprimentos
Manuel Abranches de Soveral
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