Brasão de Armas de Silves
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Brasão de Armas de Silves
Caríssimos Heraldistas e Genealogistas deste forum. Exponho aqui a informação que tenho sobre as Armas da Cidade de Silves e a sua relação com as Armas do Reino do Algarve. Espero assim contribuir para os vossos estudos.
Brasão da Cidade de Silves
Campo de prata, carregado com cinco escudetes de azul, colocados em cruz, carregados com onze besantes de prata colocados 3, 2, 3, 2, 1, os escudetes laterais com ponta virada para o abismo (centro ou coração do escudo), nos I e IV cantões com cabeça de rei cristão coroado de ouro (que deveria ter touca de cota de malha por ser rei guerreiro e conquistador e de barba de ouro em referência à sua descendência de Dom Afonso Henriques, de origem francesa), no II e III cantões com cabeça de mouro (de tez negra) fotada de prata. Coroa mural de prata de cinco torres visíveis e três invisíveis, unidas por panos de muralha. Abaixo do contra-chefe ou ponta listel branco com caracteres negros formando as palavras: CIDADE DE SILVES.
Extracto da Acta da Sessão da Comissão Administrativa desta Câmara Municipal (de Silves), de onde consta a deliberação tomada pela mesma Comissão Administrativa acerca do novo Estandarte e Brasão de Armas desta Cidade:
“Aos dezoito de Novembro de mil novecentos e vinte seis, nesta cidade de Silves e Sala das Sessões da Câmara Municipal, aí compareceram, pelas catorze horas, os senhores Aníbal Santana, Abelino dos Santos Tomé, Adelino Oliveira Martins, Aldemiro da Encarnação Mira, António José Sequeira e Domingos Setúbal, todos membros da Comissão Administrativa desta Câmara Municipal, verificada a maioria, o senhor Presidente declara, em nome da Lei aberta a sessão, passando o senhor Aldemiro Mira na qualidade de Secretário, a fazer a leitura da Acta da sessão anterior, que foi aprovada sem alteração alguma, depois do que se procedeu à leitura da seguinte correspondência: Ofícios – “... da Associação dos Arqueólogos Portugueses, enviando um novo exemplar do desenho que a Secção de Heráldica daquela Associação entende dever ser o estandarte e brasão deste Município, o qual justifica com o parecer em tempo enviado e que se transcreve a seguir: «Parecer apresentado em sessão de três de Junho de mil novecentos e vinte e cinco na Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses – a AAP, recebeu o seguinte ofício que remeteu à sua Secção de Heráldica e de Genealogia – A Câmara Municipal de Silves. Livro 10, Nº 500. Silves 27 de dezembro de 1924. Exmª Sociedade de Arqueologia Portuguesa. Largo do Carmo, Lisboa. De conformidade com o deliberado pela Comissão Executiva da minha Vice-Presidência, tenho a honra de vir solicitar da mui digna e prestimosa Sociedade de Arqueologia Portuguesa, os esclarecimentos que, porventura, possa fornecer acerca do seguinte: Anda esta Câmara Municipal empenhada na confecção de um novo estandarte para esta municipalidade, procurando dotá-lo com todos os distintivos e características que bem traduzam o passado histórico desta cidade. Sucede porém, que o seu brasão de armas, a figurar no referido estandarte, consta apenas de um escudo com o campo em branco (*vazio, de prata), encimado por uma coroa ducal, parecendo a esta Câmara estranhável , que, tendo sido Silves das cidades mais importantes do Algarve, não possua qualquer distintivo próprio no campo em branco do escudo. Assim, ouso apelar para a comprovada sapiência dos ilustres membros que compõem essa Sociedade Científica, afim de ser ilucidado sobre este assunto, dignando-se fornecer a esta Câmara todos os elementos que a possam orientar no estudo a que está procedendo. Deseja a V. Exª., Saúde e Fraternidade. O Vice-Presidente da Comissão (a) João ... (?)». Mais tarde recebeu a mesma Instituição novo pedido nos seguintes termos: “Câmara Municipal de Silves. Livro 10 Nº 23. Silves 29 de Janeiro de 1925. Exmª Sociedade de Arqueologia Portuguesa – Largo do Carmo. Lisboa. Tendo esta Câmara Municipal todo o empenho em ver esclarecido o assunto da consulta feita a essa Sociedade, em ofício Nº 500 de 27 de Dezembro findo, muito penhorado ficaria se V. Exªa se dignassem fornecer os esclarecimentos pedidos na mesma consulta. Com a mais elevada consideração, desejo-vos Saúde e Fraternidade, o Presidente da Comissão Executiva (a) – Sebastião Roldan Ramalho Ortigão”.
O Algarve foi habitado por várias civilizações, não sendo porém nosso intuito ir muito além, basta-nos que tratemos da dominação Árabe e da dominação Portuguesa, não fazendo caso das grandes manifestações Romanas e outras que por lá se encontram. Sabemos que se diz, que antes dos Cristãos Portugueses, ali tinham entrado já os Cristãos Castelhanos, em 1060 com D. Fernando I à frente. O Algarve foi um Reino Mouro tendo Silves por capital. D. Sancho I de Portugal também invadiu o Algarve tendo Silves em seu poder durante 3 anos até que vindo todos os Mouros do Algarve de Além-Mar, tornaram a recuperar a sua cidade. Foi no Reinado de D. Afonso III que o Algarve ficou definitivamente anexado a Portugal pelo esforço de D. Paio Peres Correia, que ficou como recompensa com o alto cargo de seu Fronteiro-Mór e depois Mestre da Ordem de Santiago. Durante 400 anos foi Silves capital do Reino do Algarve, continuando com a mesma categoria de Capital do Reino do Algarve, desde a tomada em 1242 até D. Afonso IV que mudou a Capital para Lagos para onde também foi mudado o Bispado no século XVI, pela superioridade da importância desta última cidade como porto de mar. A velhíssima cidade de Silves tem os seguinte forais: de D. Afonso III, dado em Lisboa em Agosto de 1266 registado no Livro I das Doações deste Rei, folhas 82 versos, Coluna I existente na Torre do Tombo; de D. Afonso III, dado em Lisboa a 12 de Julho de 1260 aos Mouros forros de Silves, registado no Livro IV de Inquirição do mesmo Rei a folhas 8 verso, existente na Torre do Tombo; de D. Manuel dado em Lisboa a 20 de Agosto de 1504 registado no Livro de Forais Novos do Alentejo a folhas 8 verso, coluna I, existente na Torre do Tombo. Em qualquer dos livros antigos, manuscritos ou impressos que tratem das Armas da Cidade e Vilas, aparece sempre a indicação das Armas de Silves apenas com escudo de prata. Não deveria ter porém sucedido assim pois teve forais antigos e portanto devia ter selo como sucede com todas as Cidades e Vilas antigas, mas também como sucede com muitas, perdeu-se esse selo e não há conhecimento de como teria sido a sua composição.
O Algarve foi como disse, anexado a Portugal em 1242 quando D. Afonso, Conde de Borgonha, depois III de nome, era Regente por seu irmão o Rei D. Sancho II ainda estar vivo. Como D. Afonso III cercou as armas nacionais com uma bordadura de castelos, tem-se repetido que foi isso devido a ter tomado por completo o Reino do Algarve e até que os sete castelos que depois se fixaram para as armas nacionais, representavam os castelos de Estombar, Paderne, Aljezur, Albufeira, Cacela, Sagres e Castro Marim. Sucede porém que foi muito irregular o número de castelos usados na bordadura, não desde princípio, ou seja pelo próprio D. Afonso III, como ainda no tempo dos Reis que se lhe seguiram. Existem armas do tempo de D. Afonso III com doze castelos as quais serviram de base para o ilustre heraldista Guilherme Luiz dos Santos Ferreira, no seu “Armorial Português” indicar as armas de Portugal no tempo de D. Afonso III, com uma bordadura encarregada de 12 castelos. D. António Caetano de Sousa no IV Volume da História Genealógica, apresenta dois selos de D. Afonso III, tendo um 9 castelos e outro 8 castelos na referida bordadura. Vê-se portanto não só neste Reinado, como se vê noutros que se seguiram que o número de castelos da bordadura era conforme a melhor disposição artística, assim como sucedia com os besantes das quinas que até dentro do mesmo reinado aparecem em variado número conforme se eram batidas numa moeda pequena, ou abertas num selo grande. É absolutamente fantástico atribuir os castelos da bordadura das armas portuguesas à conquista do Algarve. D. Afonso III nascendo em 1210, em Coimbra, foi para França e casou em 1245 com D. Matilde, Condessa de Bolonha, viúva de Filipe Hurepel que tinha morrido em 1234. D. Afonso que nesse tempo era apenas príncipe, filho segundo de D. Afonso II e irmão de D. Sancho II adoptou o título da mulher passando a ser chamado Conde de Bolonha. As discórdias de D. Sancho II com o clero e com a nobreza motivaram a Bula Papal de 21 de Setembro de 1245 destronando-o e dando a regência ao seu irmão D. Afonso que se conservava em França. Ainda com o título de Conde de Bolonha, tomou D. Afonso a regência do reino até 4 de Janeiro de 1248, ano em que morreu D. Sancho II, passando o Conde de Bolonha a intitular-se D. Afonso III, Rei de Portugal só nesta ocasião. D. Afonso III toma o resto do Algarve aos Mouros e em seguida faz um ajuste de pazes com Afonso X de Castela, sendo a primeira condição o casamento de D. Afonso III de Portugal com D. Beatriz, filha natural do Rei de Castela, Afonso X, ficando este usufruindo o Reino do Algarve, até que o primeiro filho deste casamento tivesse 7 anos. É de notar que D. Beatriz era criança e D. Afonso III já tinha 40 anos. Deu isto um grande escândalo, formulando a Condessa de Bolonha um protesto que apresentou ao Papa, mas a Condessa morreu em 1258 e tudo ficou bem, nascendo o primeiro filho de D. Afonso III com D. Beatriz, em 28 de Fevereiro de 1259, chamando-se D. Branca, a qual motivou mais tarde o poema de Almeida Garrett com este nome.
Foi pelo casamento com D. Beatriz de Castela que D. Afonso III cercou as armas de Portugal coma bordadura dos Castelos e não por causa da tomada do Algarve. D. Afonso III usou o título de Conde de Bolonha pela sua primeira mulher e a bordadura com os castelos nas suas armas pelo seu segundo casamento. Em Portugal ainda hoje, quando calha, se repete que esta bordadura representa o Algarve nas armas de Portugal. (...) Não foi apenas D. Afonso III que noutras épocas juntou à suas armas as armas de Castela. Roberto de França, o Bom e o Valente, Conde de Artois, filho de Luís VIII e D. Branca filha de Afonso IX de Castela usou por armas: azul, semeado de flores-de-lis de ouro, com um lambel de vermelho de quatro pendentes carregados de três castelos de ouro, e seu irmão, Afonso de França, Conde de Poictou, Toulouse, Auvergne e Albigecis, usou por armas: de azul, semeado de flores-de-lis de ouro partido de vermelho com seis castelos de ouro, abertos. Por aqui se vê, que na mesma época, as armas de Castela tiveram representação pelo menos neste três escudos. O Algarve como qualquer outro Reino, teve as suas armas, que de há muito andam esquecidas e que o acaso me fez conhecer pelo Atlas de M. Seutteri, impresso no terceiro quartel do século XVIII, aonde na carta de Portugal e dos Algarves, vêem as respectivas armas coroadas. Neste Atlas há um mapa de Portugal e Algarve que tem as armas destes dois Países, as de Portugal com sete castelos na bordadura e as do Algarve esquarteladas de ouro com uma cabeça de carnação negra de turbante, de perfil e de vermelho com uma cabeça de frente de carnação branca coroada. O mapa a seguir é de Espanha e de Portugal, tendo as armas de Espanha do século XVII, pois tema ainda incluídas as armas de Portugal e em separado as armas de Portugal com oito castelos e as do Algarve com as mesmas cabeças do antecedente sendo a de carnação negra em campo de prata e a de carnação branca em campo de vermelho. Temos portanto aqui duas formas tanto para as armas de Portugal como para as armas do Algarve visto que as primeiras são representadas com sete e depois oito castelos e as segundas com a cabeça negra em campo de ouro e depois em campo de prata. Consultei imediatamente várias obras e fui encontrar referência às mesmas armas no “Dicionário de Portugal”, de Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, Volume I – A Lisboa. 1904 que as descreve assim: - Escudo esquartelado de branco e encarnado; no branco, em cada um, uma cabeça de Mouro, preto, com turbante; e no encarnado, em cada um, um busto de mulher, branca, com diadema, (...) compreendendo-se imediatamente que sobre o campo de vermelho deveria estar o Rei branco. Mais tarde na Torre do Tombo e no livro do Rei de Armas Francisco Coelho encontrei as armas do Algarve, mas com o campo todo de prata apesar de um traço horizontal e outro vertical, a darem um aspecto de esquartelado. Aqui, nesta obra, as quatro cabeças estão em duplicado o que me parece exagero. Francisco Coelho colheu o maior número de elementos para o seu trabalho e se muitas vezes reproduziu erros, foi porque as informações não eram certas, em todo o caso, sempre é um documento do século XVII em que de facto aparecem umas armas do Algarve com cabeças com turbante (*fotadas) e cabeças coroadas. Talvez uma informação sem desenho desse essa duplicidade de cabeças (...).
Seria pois interessante que as armas de Silves que foi durante séculos a capital do Algarve, fossem a reprodução das armas do Algarve tendo por diferença as quinas usadas quando da tomada pelos portugueses. Foi vermelha a bandeira dos Reis Mouros e foi vermelha a bandeira do Algarve, portanto seria interessante que aqui fosse alterada a regra geral, da bandeira ser das cores das peças principais do brasão, atendendo à circunstância muito especial de durante muitos séculos ser vermelha a bandeira que tremulou nas muralhas do castelo de Silves. Lisboa, Porto e Ceuta, por motivos especiais têm bandeiras fora da regra geral, são excepcionalmente de cores diferentes das peças das armas. Não pode a Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos concordar que estas armas ou outras quaisquer de domínio tenham uma coroa ducal, não. Só os Reinos ou Ducados é que têm a coroa respectiva. As Cidades ou Vilas o que devem ter é a coroa mural que as caracteriza e nada mais, Propomos portanto que as armas de Silves sejam: - de prata com as cinco quinas de Portugal, sendo as duas laterais apontadas ao centro carregadas de onze besantes, postos 3, 2, 3, 2 e 1; acantonadas de quatro cabeças de frente sendo a primeira e quarta de carnação branca coroadas de ouro e a segunda e terceira de carnação negra com turbantes de prata, coroa mural de cinco torres de prata. – Bandeira vermelha de um metro de lado, tendo por baixo das armas uma fita branca (*listel) com os dizeres a negro “CIDADE DE SILVES” (a) – Afonso Dornellas.
Faço lembrar que as Armas do Algarve tem as cabeças de carnação branca de frente coroadas de ouro estão carregadas no II e III quartéis e as cabeças de carnação negra de perfil, de turbante (*ou fota) de prata carregam-se nos I e IV quartéis enquanto que nas armas da Cidade de Silves trocam de posição.
(* notas de minha autoria)
Miguel Angelo M. Boto
(...do Reino do Algarve...)
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RE: Brasão de Armas de Silves
Carissimo:
parabens pelo exposto. Essa foi a acta a que eu tambem tive acesso, quando há anos participei num levantamento sócio cultural na Biblioteca Municipal. Confirma-se assim que foi em 1926 adoptado o novo e que o brazão usado até ai era aquele que ainda se encontra na frontaria do edificio da Camara. Pois nas actas de Maio /Junho de 1926, da Camara, é onde se fala da fundação da nova Corporação de Bombeiros (a actual), e nos primeiros cartões de identidade dos bombeiros figurava ainda o brazão da cidade antigo no meio de uma coroa de louros (a águia ainda não era usada).
Cumprimentos
Joaquim Reis
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