Enterramentos nas igrejas
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Enterramentos nas igrejas
Uma dúvida que ainda tenho.
Todas as pessoas, sem excepção de classes sociais eram sepultadas dentro das igrejas ? Ou os criados e os escravos sepultados nos respectivos adros ?
E também outra pergunta.
Tenho uma avó Domingas João + aos 20.12.1675, da freg. de São Domingos da Castanheira (hoje, Castanheira de Pêra) cujo assento de óbito diz que foi "sepultada junto à pia baptismal" e também aparece um Manuel Carvalho "sepultado debaixo da porta travessa" .
Eu gostaria de saber, excluindo claro está quem tinha campa brasonada, túmulos, capela,etc.porque estes tinham lugar cativo,quase sempre de direito próprio ou adquirido,além dos que eram enterrados nas suas capelas privativas dos seus solares.
Refiro-me aos outros "da cova da fábrica". Por isso gostaria de saber se o caso acima descrito de dOMINGAS jOÃO teria sido ,por acaso,ou se a sua sepultura junto da pia baptismal significaria lugar privilegiado por motivo que me escapa ( principalidade, por ex.) Suponho que não,e muito menos o de Manuel Carvalho. Mas, na dúvida, aqui fica o pedido de informação sobre este tema.
Obrigado desde já.
RC
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RE: Enterramentos nas igrejas
Senhor RGC,
Embora não tenha muita experiência nestas lides, daquilo que até agora pude investigar, pareceu-me que não havia muita distinção, e tudo dependeria, isso sim, de haver ou não lugar dentro da igreja. No caso concreto que estudei, a Igreja de Laúndos é muito pequena e verifiquei que os familiares de Pedro Pires de Sá foram sepultados dentro da Igreja, a maioria junto ao altar de São Miguel para a parte da Epístola.
Por outro lado, Pedro Pires de Sá foi sepultado dentro da igreja, por parte da epístola da porta travessa (marítima (?)) da sepultura.
No entanto, em 1760 a nora de Pedro de Sá já seria sepultada no "adro desta Igreja, da parte norte (central) das escadas, que vão das casas dessa residência da parte do mar". Creio que isto aconteceu por já não haver mais lugar dentro da Igreja.
Espero ter contribuído.
Melhores cumprimentos
Rosário
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RE: Enterramentos nas igrejas
Caros Rafael e Rosário
Com os meus parcos conhecimentos pouco posso adiantar, mas aqui vão alguns exemplos e opiniões.
Grande parte dos meus familiares de apelido Lucas, de Mora, gente principal,foram enterrados em "cova própria" dentro da igreja, conforme rezam os assentos de óbito.
Por outro lado o meu antepassado Manuel Pratas + em 1680, lavrador principal, foi enterrado "na sua sepultura que está de pedra debaixo do altar de N. Sra. do Rosário" na Igreja do Chouto.
Muitos outros dos meus antepassados foram enterrados dentro da Igreja, com menção do local, sendo alguns em "cova da fábrica", outros o foram no adro.
Parece-me, grosso modo, que a principalidade era na maioria das vezes sepultada dentro da Igreja, o que não impedia de alguns escravos, criados, e outras pessoas que não pertenciam à principalidade o fôssem também, e que alguns dos principais fossem sepultados no adro.
Julgo que o enterramento dentro da igreja poderá ser um indicador, ténue, não definitivo, de alguma relevância social, quer fôsse em cova própria ou em cova da fábrica paroquial. Óbviamente que o enterramente em cova "própria" será um indicador mais seguro de principalidade.
Por exemplo o meu antepassado Manuel Ferraz , na 2ª metade do sec. xvii, sendo pessoa principal de Mora, foi sepultado dentro da igreja, em sepultura de pedra, por não haver já memória da sua pertença.
Outra minha antepassada, pessoa principal, foi sepultada dentro da igreja, em Montargil, junto ao altar ... ( não recordo qual) perto do local onde costumava estar na Missa.
Vezes haveria em que não havendo lugar dentro da igreja teriam que ser os enterramentos feitos no adro, fôsse pessoa principal ou não.
Será útil, ver em assentos com grande proximidade de datas ( ou até na mesma data) se havia alternância no local de enterramento. Tal averiguação pode fazer alguma luz sobre a existencia ou não de lugar dentro da igreja e os eventuais motivos que levaram a que o enterramento se tivesse feito dentro ou fora da igreja.
Não sei também se a sepultura era paga ( a da fábrica pois quem a tinha própria poderia, penso, eventualmente não a pagar) e se o valr a pagar era mais caro dentro do que fora, levantando-se então aqui a hipótese de o local do enterramento ter a ver com disponibilidade financeira.
Na verdade é esta a análise que faço ( eventualmente errada) com base no conhecimento do estatuto social de parte das pessoas que investiguei e no conhecimento do local onde foram sepultadas.
Deixo estas ideias à vossa consideração.
Cumprimentos
António Godinho de Carvalho
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RE: Enterramentos nas igrejas
Caros Rosário e António
Os meus agradecimentos pela atenção que o assunto vos mereceu. Quando coloquei o tópico pensei que a referidas sepulturas no lugar descrito fosse por falta de espaço dentro da igreja; mas ao pé da pia !!! ... , ainda pensei ser lugar privilegiado e num sítio que o sepultado, em vida o tivesse adivinhado ficaria ,talvez,contente. Penso por mim, que não me importaria nada de ser sepultado, quando chegar a minha vez, ao pé da pia baptismal da minha aldeia onde fui , e muitos dos meus familiares, baptizado. E já agora vem a propósito referir, e aproveito sempre em alargar as notícias, que na "visitaçam da jrmida de samta anna termo da dita villa a qual foy edeficada depois da visitaçam passada.............................visitamos a pia de bautizar / a qual he h~uu testo de barro/Mandamos aos/ moradores do limite da dita capella que da pobrjcaçam desta visitaçam ha dez meses ponhão em ha dita jrmjda h~ua pia de pedra boa que pertemçe.........com cobertura e cadeado o que compriram com a pena de dous mil Reaaaes a metade para per a fabrjca da dita ermjda e a outra metadae pera os cativos".............. com sello pemdemte ....a xiij dias do mes de fevereiro anno de j b ( um hífen por cima do j e um c pequenino-por cima do b como se fosse expoente) j b xb......( gostariam que me lessem bem esta data e me informassem neste tópico) 15......" etc. O que aconteceu pois a pia da minha igreja é Manuelina e de boa cantaria com lavores.
A mensagem vai longa, mas como eu gosto de saber estas coisas também as gosto de dar a quem as aprecia. Continuo a abusar dos olhos, mas em começando a escrever assunto que me agrade, é isto !... Mas há confrades que sabem muito sobre este assunto, que façam o favor de nos dar outras informações complementares.
In Ordem de Santiago TT -Liv.º 183 . OS/cp 1533 -s.d .para a visitação da ermida atrás referida.
Na minha família tenho também antepassados como os vossos ,sepultados em "cova da fábrica" outros em campas próprias ou em capelas privativas . Há também brasonadas; outras do séc. XVIII , que estão devidamente epigrafadas O enterro de algumas avós levou os pendões todos, pagaram às confrarias todas, nalguns óbitos contemporâneos de outros desse tempo, noto que houve avós (os testamenteiros, claro) que pagaram um óbulo mais avultado que outroa que constam da respectiva folha,respeitante a outros defuntos aí assentados. Outros pagaram "um cruzado"e deixavam estipuladas certas esmolas.Enfim, fica aqui um breve resumo do que tenho apontado e que me tem merecido muito respeito e curiosidade ultimamente, e que descurei durante anos. Porque através dos óbitos como sabem , descobre-se alguma coisa,que se procura, em vão, nos assentos de baptismo e de casamento .
O meu agradecimento , boa noite e um bom fim de semana tb para todos os confrades.
Rafael Carvalho
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RE: Enterramentos nas igrejas
Caro Rgc
Do que tenho vindo a encontrar em documentos credíveis, e que ainda aqui não vi evocado é o facto de que as pessoas principais terem nas Igrejas um local reservado para o enterramento dos seus familiares a que era dado o nome de CARNEIRO, o que equivalia ao que hoje usamos de sepultura perpétua de F............. e sua família.
Normalmente esses locais aparecem com a sua localização dentro da igreja bem definida, ou seja: junto ao altar tal ........ junto á porta tal. Os que nos aparecem localizados junto ao altar-mor, em geral, eram destinados a pessoas de grande representação.
Cumprimentos
texmel
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RE: Enterramentos nas igrejas
Caro texmel
Já não queria voltar ao assunto, pois não é dos mais agradáveis,porque ninguém escapa a tal. Mas é de facto, como diz. Mas na minha terra costumavam tb chamar "carneiro" a um lugar do cemitério mais recôndito onde recolhiam os ossos de certos defuntos quando abriam outra cova no mesmo lugar, porque ninguém recolhia tais restos, ou por indiferença, geralmente por serem covas sem identificação que ninguém reclamava por serem de pessoas muito pobres ou se desconhecia de quem se tratava. Porque os que tinham posses e eram pessoas "qualificadas"os restos mortais não iam para o "carneiro"como "lixo"eram lavados e limpos e enterravam-se ou punham-se numa caixa ou pequeno recipiente, muitas vezes já antigo d família e lá ia tudo isso novamente com o recente enterrado para a mesma cova ou campa da família, se fossem parentes.Embora se ficasse com alguma jóia ou objecto de adorno que se encontrasse de alguma Senhora, como me lembro da minha avó paterna.Também num jazigo subterrâneo de minha família algarvia houve pessoas lá colocadas que não eram parentes directos, mas pode ter sido confusão minha de criança acerca do assunto, mas não da catacumba.
Escrever acerca como se processava o acompanhamento, algumas vezes com música, mais que um oficiante religioso, missa de corpo-presente,esmolas por alma do falecido,etc. não vale a pena,porque slvo algumas excepções se processavam quase todas da mesma maneira dentro dos estratos sociais correspondentes.Mas o que refiro, ainda me lembro dos meus tempos de criança, e que está ainda na memória colectiva da população da aldeia..
Num liv.º misto da minha freg.ªacerca do enterro do meu avô Francisco Anes que foi sepultado na igreja da minha aldeia a 11-4-1653 " dentro da capela"
como escreveu o padre freire da O.S. suponho eu que pelo seu estatuto social, nesse tempo, que teria sido na capela-mor da ermida que era então, pois há muitas sepulturas em ermidas e capelas abandonadas de que restam apenas leves vestígios epigráficos ou indícios de brasão e pouco mais, quando não serviam de pedra para as paredes ou soleiras das portas. Mas como a m/igreja foi sendo revolvida para "beneficiações"através dos séc. os restos ósseos que se desenterraram na igreja e no adro, e as campas como me informaram,lá teria ido tudo desirmanado não se sabe para onde e os ossos sem distinções de pessoas e famílias para um dos chamados "carneiros" do cemitério local a que as intempéries e o tempo se foi encarregando de reduzir a pó, que na Semana Santa na imposição das "Cinzas" isso era recordado.
Encerro este assunto,pois estamos ainda na época da Páscoa que é de Ressurreição
Cumprimentos.
Rafael Carvalho
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