Ragusinos que migraram para Lisboa
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Ragusinos que migraram para Lisboa
A cidade de Cavtat, designação eslava de Ragusa-vecchia, cidade que se encontra a cerca de 20km de Dubrovnik, muito perto do Aeroporto, é a capital e único porto do Konavle, um planalto que constitui o extremo sudeste da Croácia e que representa a última aquisição territorial da República de Ragusa.
Cavtat é uma cidade minúscula. No século XV, não tinha mais do que 400 habitantes. Durante os séculos XVII e XVIII cresceu, transformando-se num importante centro de comércio marítimo no qual se radicou um forte núcleo de armadores e negociantes marítimos, juntamente com suas famílias. O censo de 1991, atribuiu-lhe cerca de 2500 habitantes. Mas houve tempo em que os navios de Cavtat cruzavam todo o Mediterrâneo e ultrapassavam largamente o estreito de Gibraltar.
Algumas das mais importantes famílias de Cavtat tinham casa também em Dubrovnik, a capital da República de Ragusa, à qual era fácil chegar por via marítima. Hoje, Cavtat é essencialmente uma estância de turismo satélite de Dubrovnik.
A razão do interesse que Cavtat nos merece provém do facto de um grupo de emigrantes de Ragusa que vieram para Lisboa por alturas da queda da República terem sido quase todos baptizados na única paróquia de Cavtat, a de S. Nicolau Speridione, ou S. Nicolau Epidaurensis.
Que razões teriam levado a que emigrassem esses filhos das famílias mais importantes da cidade? Parecem ter sido sobretudo razões de ordem económica. Os anos que antecederam imediatamente a queda da República foram efectivamente anos de profunda crise que levou a que procurassem fortuna fora dela jovens que, pertencendo ao círculo dos armadores e negociantes marítimos, estavam bem preparados para as coisas do mar e do comércio. Cavtat, e mesmo Dubrovnik, não ofereciam já perspectivas de futuro, sobretudo aos filhos segundos.
Era a este círculo que pertenciam as famílias Pusich, Radich, Krillanovich, Zecchinelli e Romano, das quais houve membros que vieram fixar-se em Lisboa.
António Pusich, o que primeiro se fixou, foi um homem notável, que seguiu carreira como oficial da Marinha Real portuguesa e veio a ser Governador de Cabo Verde. Foi ele o pai da escritora D. Antónia Gertrudes Pusich cuja descendência foi já tratada neste Forum.
Baltazar Radich, o primeiro Ragusino que se estabeleceu como comerciante em Lisboa, era tio materno de Baltazar Crilanovich e de Francisco Romano, bisneto este de um António Zecchinelli que foi apelidado Romano por razões que tinham certamente a ver com a origem da sua família. Este último casou-se duas vezes, deixando o apelido Romano aos filhos do primeiro matrimónio, e o apelido Zecchinelli aos filhos do segundo. Assim, João Baptista Zecchinelli, outro dos que veio para Lisboa, era também descendente de Antonio Zecchinelli, dito Romano. Um irmão de João Baptista Zecchinelli, também chamado António, casou-se em Cavtat com uma irmã de António Pusich. Ele próprio, João Baptista, casou-se com uma irmã da mulher de António Pusich, um irmão do qual, Nicolau, igualmente se fixou em Lisboa.
O título de "capitão", cuja importância se explica pelo facto de a economia da República depender, como a de Veneza, dos armadores e comerciantes marítimos, passou a ser usado pelas famílias Radich e Romano, e provavelmente também pelos Pusich e Crilanovich (Krilanovich), no século XVIII.
Estas famílias estavam ligadas, por casamento, com outras famílias prestigiosas de Cavtat, como os Casilari, Kristich, Palikucha, Malosevich e Herendija, no seio das quais também deve ter havido emigrações, não já para Lisboa, mas para outros pontos da Europa.
Os Covacich (Kovacich), que também, por essa altura, se estabeleceram em Lisboa, têm uma história diferente. Proprietários rurais no Konavle, originários de Mocichi, junto de Cavtat, a sua genealogia é conhecida com base documental desde o século XV. Ivan, o pai dos três irmãos, Pedro, João e Nicolau, que vieram para Lisboa, foi o primeiro Kovacich que se fixou em Cavtat. Por isso, foi também em Cavtat, na igreja paroquial de S. Nicolau, que Pedro, João e Nicolau se baptizaram.
Baltazar Crilanovich (e não Crinalovich como está escrito na Base de Dados do Genea) chegou a ser Cônsul Geral da Áustria e o homem de confiança em Portugal (nos dias difíceis do regresso de D. Miguel, até então exilado em Viena) do Príncipe de Metternich, Primeiro Ministro da Áustria, com quem se correspondia directamente. Um dos seus filhos foi afilhado do Principe Felix de Schwartzenberg, que também chegou a ser Primeiro Ministro da Áustria.
Muito agradecia, para efeitos de um trabalho de investigação, que me fisessem chegar ao Forum informações sobre parentes destes e doutros Ragusinos que vieram para Lisboa, nomeadamente sobre os Crilanovich, apelido que parece ter deixado de ser usado em Portugal nos princípios do século XX. Haverá ainda descendentes dos Crilanovich?
Desde já agradeço.
Eduardo Arantes e Oliveira
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Senhor Professor,
Aqui lhe envio algumas´páginas dos "Apontamentos Genealógicos e Heráldicos" de Jorge de Moser que certamente lhe interessarão, caso ainda não os tenha consultado:
Pusich - 1ª série, tomo VIII, pp.316-317 e 2ª série, tomo XII, pp.137-139
Radich - 2ª série, tomo XII, pp.202-203
Krillanovitch - 1ª série, tomo VI, p.64
Covacich - 1ª série, tomo IV, pp.81-82
Romano - 1ª série, tomo VIII, p.476 e 2ª série, tomo XII, p.372
Um abraço
Lourenço Correia de Matos
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
No livro "A Família Ribeiro Ferrão de Vilhegas" de Maria João Craigie, II vol., p.36, encontra-se Joaquim Borges de Madureira, filho de Joaquim Nunes Borges de Madureira e de D. Emília Augusta Teixeira Covacich, n. no Barreiro, filha de Ion Nicolae Covacich e de D. Luísa Maria Teixeira.
LCM
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caro Lourenço Correia de Matos,
Peço-lhe desculpa a si, a ao Sr. Professor Arantes e Oliveira por interferir no tópico, mas por acaso, recebeu ontem um mail meu?
É que tive problemas com a minha caixa do hotmail, e não sei se enviei ou não.
Cumprimentos
Luis
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caro participante,
A obra "Croacia/Portugal - relações historico-culturais no decorrer dos séculos", de Nikica Talan (uma edição bilingue de 1996 promovida pelo Ministério da cultura da Croacia) tem uma extensa bibliografia onde podera tavez encontrar algo com interesse. A primeira vista a obra em si não menciona os nomes que refere.
Cumprimentos
João Ary
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Em 1908, "Almanak Palhares", p.659:
- Radich & C.ª, comissões, Rua da Prata, 15
- Augusto Radich, despachante oficial da firma Radich & C.ª
Na genealogia de Radich e Romano publicada no "Livro de Oiro da Nobreza" é referido um trabalho inédito de Frederico Perry Vidal sobre Gavazzos. Como estas famílias se ligaram, sabe de algum estudo sobre Gavazzos?
Abraço,
LCM
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caro Lourenço
Muito obrigado pelas suas informações que me serão muito úteis. Sabe que sou Romano pelo lado da minha Mãe? Por isso, o meu nome completo é Eduardo Romano de Arantes e Oliveira. É esta a principal razão do meu interesse.
Tenho informações tão completas quanto possível (neste caso, o possível é um pouco limitado, em virtude do sistema das invasões periódicas vindas da Sérvia e do Montenegro) através do Instituto de Estudos Históricos de Dubrovnik cujo director está muito interessado nesta parte da diáspora Ragusina. O Nikica Talan enviou-me o livro dele. Quando o escreveu, ainda não tinha conhecimento das informações que eu vim a receber mais tarde.
Quanto aos que já nasceram em Lisboa, o que sei baseia-se, por um lado, nos estudos do meu falecido primo Dr. Frederico Perry Vidal, a quem interessava muito a Família Gavazzo (à qual não pertenço, embora esteja relacionado através dos Radich e Romanos). Por outro lado, fiz as minhas próprias investigações.
A minhas falhas dizem sobretudo respeito aos membros mais recentes da família Crilanovich e, no que se refere à família Covacich, aos Nicola Covacich (conheço bem os Covacich Lamas).
Interessa-me também saber se há mais famílias ragusinas que vieram para Portugal.
No fundo, interessar-me-á tudo o que me chegar às mãos, já que a ideia é publicar um livro com duas partes: uma primeira sobre a origem (a cargo dos meus amigos de Dubrovnik) e a segunda sobre o que se passou em Portugal.
Estou à sua disposição se precisar de qualquer informação sobre a parte que já é do meu conhecimento.
Eduardo Arantes
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Agreço também aos outros membros do Forum que fiseram o favor de me fornecer as suas valiosas contribuições. Pelo-lhes que leiam o que dirigi directamente ao Lournço Correia de Matos.
Melhores cumprimentos
Eduardo Arantes e Oliveira
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Estive, durante mais de 10 dias, em Cavtat (antiga Jugoslávia) no final de Agosto de 1982. Só tornei a ter notícias dessa terra durante a guerra, em que vi na Tv o hotel em que tinha estado hospedado (Croacia) completamente escavado.
E só agora, tanto tempo depois, venho a descobrir que há tantas ligações entre famílias de lá e de cá...
Um abraço.
Luís K W
Lisboa-Portugal
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caro Senhor
Sou descendente dos Covacich Lamas e interesso-me muito por genealogia.
Gostava de consultar o livro do Jorge de Moser mas não o encontro nem na BN.
Agradeço que me indique se sabe onde o posso consultar.
Com os melhores cumprimentos
MLamas
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caro MLamas
Os "Apontamentos..." de Jorge de Moser estão na Biblioteca Nacional, Secção de Reservados, Col. Jorge de Moser n.º 704.
Cumprimentos
Lourenço Correia de Matos
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caros Confrades,
Pelo que me foi dado saber pelo meu primo Jorge Ponce de Leão Ávila de Castro, descendente de António Pusich, o primeiro ragusino a imigrar para Portugal teria vindo pela mão do Embaixador em Itália D. Rodrigo de Sousa, conde de Linhares.
Possuo o recorte de um longo artigo de Elsa Rodrigues dos Santos (sem data), que terei muito gosto em enviar a quem estiver interessado.
Melhores cumprimentos.
Maria José de Zea Bermúdez
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Senhora D. Maria José de Zea Bermúdez
Teria muito interesse em receber esse artigo. O meu endereço electrónico é:
eraolarrobaclixpontopt .
Agradecendo desde já
Eduardo R. A. Oliveira
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Cara Maria José de Zea Bermúdez
Também tenho o maior interesse em consultar este artigo. Pode enviá-lo para joliveiarrobamacau.ctm.net Mas, dado a possibilidade de haver mais interessados, porque não o coloca no fórum para o debate?
João Nobre de Oliveira
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caro João Nobre de Oliveira,
O artigo parece-me grande de mais e foca, especialmente, sua filha escritora e defensora dos direitos das mulheres. Vou enviar-lhe directamente o artigo, tal como fiz para o prof. Arantes e Oliveira e, eventualmente, seleccionarei partes do texto que se refiram à migração dos ragusinos, para colocar no fórum como me sugere.
Melhores cumprimentos
MJ
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Obrigado
Então ficarei à espera. Tenho interesse por esta família devido à sua passagem por Cabo Verde no século XIX.
João Nobre de Oliveira
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caro João Nobre Oliveira,
O sistema devolve-me a mensagem que lhe envio. Estará correcto o endereço que me deu?
Cumprimentos.
MJ
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Cara Maria José de Zea Bermúdez
Tente: jolivei@macau.ctm.net
Desculpe pelo incómodo
João Nobre de Oliveira
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Sou descendente de Zecchinelli e fiquei muito interessada na história da imigração para Lisboa. Como posso ter acesso a mais informações sobre estes Zecchinelli?
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Prezada Ângela Zecchinelli
O que sei dos Zecchinelli foi o que enviei para este Forum a 24/III/2004, isto é, um António Zecchinelli, que seria originário dos Estados Pontifícios, migrou para Ragusa, dando origem aos Romanos e Zecchinelli de Ragusa. Alguns dos seus descendentes vieram para Lisboa.
Mas em Itália continuou a haver Zecchinelli. Alguns podem ter migrado para outros países, nomeadamente para o Brasil.
Com amigos cumprimentos
Eduardo Arantes e Oliveira
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RE: Ragusinos que migraram para Lisboa
Caro MLamas,
Encontrei hoje um casamento que talvez lhe interesse:
Reg. Par. - Lisboa - Santos-o-Velho, C.-29, fl. 75v.º-76
28.7.1877
- José de Sousa Arcanjo, com
- D. Helena Maria da Assunção Covacich, n. em Lisboa, S. Paulo, filho de Nicolau Covacich, n. S. Nicolau de Raguza, e de D. Emília Maria Conceição Bigott Covacich, n. Encarnação, Lisboa.
Cumprimentos,
Lourenço Correia de Matos
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Ragusinos que migraram para Lisboa
O meu nome é Miguel Gavazzo e tenho a árvore genealógica da minha família. Poderá contactar-me por mail - miguelgavazzo@hotmail.com
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Ragusinos que migraram para Lisboa
O meu nome é Miguel Gavazzo e tenho numa das linhas ascendentes da minha árvore genealógica a família Zecchinelli. Pode contactar-me para miguelgavazzo@hotmail.com
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Ragusinos que migraram para Lisboa
Pode contactar-me para miguelgavazzo@hotmail.com
Tenho a árvore genealógica de algumas famílias ragusinas que se cruzaram com a minha família, nomeadamente os Zecchinelli-Romano e os Radich.
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Ragusinos que migraram para Lisboa
Pode contactar-me para miguelgavazzo@hotmail.com
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Ragusinos que migraram para Lisboa
Prezado Eduardo, tudo bem? Primeiramente, muito obrigada pelo rico artigo. Sou brasileira e Francisco de Mesquita Crillanovich, nascido em Lisboa e neto de Baltazar Crillanovich, é meu trisavô. Infelizmente o sobrenome se perdeu na minha família, pois minha bisavó Virgínia de Mesquita Crillanovich (nascida no Brasil) adotou o sobrenome do marido e não repassou o sobrenome Crillanovich aos seus filhos. Você poderia, por favor, compartilhar comigo os documentos e informações que você possui sobre o Baltazar Crillanovich e seus filhos? Muito obrigada! Um abraço, Flávia.
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