Erros nas Corografias, Enciclopédias, etc
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Erros nas Corografias, Enciclopédias, etc
Caros Confrades,
É impressionante a dificuldade em corrigir erros administrativos oficiais neste país. Acompanhem nos textos que anexo a situação da freguesia de S. Vicente de Pereira, que agora, e enquanto a situação não for corrigida, ostenta no seu brasão de armas quatro torres (que não tem direito a possuir) e um sobrenome que além de não lhe pertencer, informa erradamente a sua localização.
"JUSÃ: Um enxerto espúrio em S. Vicente de Pereira
Acaba de ser aprovado oficialmente o brasão de armas e a bandeira da freguesia de S. Vicente de Pereira, ali designada S. Vicente de Pereira Jusã.
O que deveria ser motivo de orgulho para a freguesia, torna-se ocasião para avivar uma ferida que desde há, pelo menos, um século e meio, rói o seu corpo, sem que apareça cirurgião capaz de a cicatrizar.
Mas vamos aos factos.
No concelho de Ovar há dois locais com o nome de Pereira. Ficam a poucos quilómetros um do outro, na direcção nascente-poente. Chamemos-lhe Pereira de cima (a nascente, onde se situa a Igreja de S. Vicente de Pereira), e Pereira de baixo (a poente, em Válega, onde teve sede um antigo concelho).
Era mesmo assim, com este realismo, que os antigos os nomeavam e distinguiam. Só que usando as designações então em voga: Pereira Susã (= de cima) e Pereira Jusã (=de baixo).
Comprovam-no documentos de há muitos séculos, com mais persistência em relação a Pereira Jusã, pelo estatuto administrativo que este lugar, manteve, como vila e sede de concelho, até quase ao fim do século XVIII.
O termo Susã cedo deixou de ser utilizado, em proveito do antropónimo S. Vicente, padroeiro da Paróquia, cuja Igreja sempre se situou no referido lugar de Pereira com a designação de S. Vicente de Pereira, topónimo que continua a ser o único que legitimamente deverá usar.
Por um equívoco qualquer, motivado por desconhecimento da história e da geografia locais, começaram a surgir publicações, inclusive um mapa cadastral do Exército, em que à Freguesia de S. Vicente de Pereira é ligado o sobrenome Jusã, epíteto que, como escrevemos atrás, pertence, por direito próprio, consignado em séculos de história, ao lugar de Pereira, de Válega, a cujo concelho pertenceu a parte poente da freguesia de S. Vicente (mas nunca o seu lugar de Pereira que, a ter um designativo dessa natureza, teria de ser, pelos motivos históricos e geográficos atrás aduzidos, de Susã.)
Já em 26/08/1873, 21 anos após a extinção do concelho de Pereira Jusã, o vice-presidente da Câmara de Ovar, Francisco Joaquim Barbosa de Quadros, querendo acabar com o equívoco, explicava ao escrivão da fazenda: “Se nas repartições públicas se tem chamado a S. Vicente de Pereira Jusã é isso devido a trocarem um nome por outro. Na freguesia de S. Vicente existe também um lugar chamado Pereira, que fica superior ao lugar de Pereira da Freguesia de Válega e como os dois termos Susã e Jusã significavam de cima e de baixo, é provável que à Pereira Susã (S. Vicente) alterassem o nome, e lhe chamassem Pereira Jusã, que é de Válega.” (cf. A. Sousa Lamy, Monografia de Ovar, Vol. I, pág. 416.)
O probo historiador Monsenhor Miguel de Oliveira, natural de Válega, saiu também à estocada em defesa da sua dama, Pereira Jusã, publicando um texto lúcido e persuasivo, na tentativa de repor a ordem no assunto. Fê-lo num número especial do “Notícias de Ovar”, quando do Centenário da Cidade.
O seu protesto caiu em saco roto, e o erro continuou a figurar no tal mapa, cheio, aliás, de outros erros crassos, como o de trocar o leito dos rios Ul e Antuã!
Se durante muitos anos esta situação não trouxe graves consequências práticas, o tempo encarregou-se de mostrar o perigoso desajustamento entre a denominação comum e secular da freguesia – S. Vicente de Pereira – e o intrometido Jusã do mapa “oficial”.
Pedidas, na década de 60 do século passado, pelo Ministério da Justiça, informações a entidades de Ovar – Registo Civil e Câmara – foi dado como resposta que a designação da freguesia era S. Vicente de Pereira. Jusã. Certamente por influência do mesmo famigerado mapa.
E foi assim, com toda esta “ciência” e com a facilidade, que aquele Ministério praticou uma injustiça de todo o tamanho!
Outros textos vieram, entretanto, a lume, no “João Semana” (M. Pires Bastos e A. Almeida Fernandes), chamando à realidade os pouco escrupulosos seguidores de tal dislate, mas sem qualquer resultado.
E o mais caricato – será assim que se fabrica justiça em Portugal? – Foi saber-se que os serventuários do Ministério aduziram, como razão para não voltarem atrás na decisão tomada, o facto de já estar sido assim registado no computador… (Como se quem carregou mal o computador não soubesse corrigir o lapso!...).
Mesmo sabendo-se que os outros Ministérios – o da Educação, por exemplo – continuavam a manter, ao longo dos anos, o nome correcto de S. Vicente de Pereira, o da Justiça foi obrigando os cidadãos vicentinos a aceitarem nos seus bilhetes de identidade um nome que não lhes pertence, pois está acrescentado de uma excrescência que não lhe pertence e que só atrapalha.
Para cúmulo, e dentro de solenes comemorações dos 1700 anos do mártir S. Vicente, acaba de permitir-se que o nome sagrado da freguesia apareça, com aquele enxerto espúrio, gravado no seu brasão e desfraldado no pano da sua bandeira.
Isto é desdizer a História.
Será esta a missão da Justiça em Portugal?
Que o Ministério da Cultura nos valha!
M. Pires Bastos
Em “João Semana” de 01/01/2005"
"A extinção do concelho de Pereira Jusã (28/12/1852).
Resenha histórica das alterações do concelho
A visita da Rainha D. Maria II à vila de Ovar, em Maio de 1852, acompanhada do Duque de Saldanha, Ministro da Presidência do 1º. Ministério regenerador, foi ocasião oportuna para as autoridades locais exporem as suas reivindicações. A uma delas, e possivelmente em reconhecimento da recepção grandiosa que lhe fora prestada, deu a rainha no mesmo ano satisfação. Assim, por decreto de 28 de Dezembro de 1852, suprimiu o velho concelho de Pereira Jusã, que englobava as freguesias de Válega e S. Vicente.
O concelho de Pereira Jusã fora já associado, por decreto de 2 de Julho de 1844, ao de Ovar, com a finalidade de serem administrados por um só magistrado, embora não perdendo a autonomia.
A Câmara Municipal de Ovar teve conhecimento do teor daquele decreto somente na sua reunião extraordinária de 9 de Fevereiro de 1853, pela leitura do mesmo feita pelo Administrador do Concelho, Dr. Francisco Pereira da Cunha e Costa.
Em consequência do decreto foram dissolvidas as Câmaras de Ovar e Pereira Jusã e nomeada, por alvará do governador civil, uma comissão destinada a gerir os interesses daquelas duas corporações, presidida pelo Dr. Serafim de Oliveira Cardoso. O escrivão daquela primeira câmara, Pedro Alexandrino Chaves Pereira Valente, arrolou então todos os livros, papéis e mais pertenças da corporação dissolvida, encaminhando-as para esta Vila, onde ficaram à sua guarda. Nas eleições de 6 de Março de 1853 foi reeleito presidente Manuel Bernardino de Carvalho.
Com a morte do concelho o lugar de Pereira Jusã ficou a ser um simples local, perdendo até o apelido de Jusã. Este, impropriamente, passou para a freguesia de S. Vicente, do concelho de Ovar, que as enciclopédias, corografias e até publicações oficiais passaram a designar por S. Vicente de Pereira Jusã.
Esta mudança foi explicada, a 26 de Agosto de 1873, na carta do vice-presidente da câmara em exercício, Francisco Joaquim Barbosa de Quadros, ao escrivão da fazenda deste concelho: - “É manifesto, incontestável e nunca admitiu dúvida neste concelho que o lugar de Pereira Jusã é um insignificante ajuntamento de casas pertencente à freguesia de Válega e que apesar dessa insignificância dava o título ao extinto concelho de Pereira Jusã por ser neste lugarejo que se achavam o pelourinho e Paços do Concelho. Se nas repartições públicas se tem chamado a S. Vicente de Pereira Jusã é isso devido a trocarem um nome por outro. Na freguesia de S. Vicente existe também um lugar chamado Pereira que fica superior ao lugar de Pereira da freguesia de Válega e como os dois termos Susã e Jusã significavam de cima e de baixo, é provável que à Pereira Susã (de S. Vicente) alterassem o nome, e lhe chamassem Pereira Jusã, que é de Válega. Demais a freguesia de S. Vicente pertencia ao extinto concelho de Pereira Jusã, e é mais certo o dar-se nas repartições a designação de S. Vicente de Pereira à freguesia de S. Vicente para a distinguir de S. Vicente da Beira e outras”.
(…)
Enxerto da “Monografia de Ovar”
Volume I, pág. 415 e 416
De Alberto Sousa Lamy
Edição da Câmara Municipal de Ovar
Que fazer nestas situações?
Reparem que há erros graves nas enciclopédias, dicionários e corografias.
Aliás, já na "Corografia Portugueza e descrição topográfica do famoso Reino de Portugal" do Padre António Carvalho da Costa (tomo segundo, página 175) de 1707, e portanto anterior a toda essa confusão, o antigo concelho é tratado por "Pereyra de Suzão".
Um grande abraço.
Fábio Reis Fernandes.
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RE: Erros nas Corografias, Enciclopédias, etc
Caro Fábio Reis Fernandes
Realmente esta situação é incrível. Costuma dizer-se que "uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade".
Penso que o que há a fazer-se é a população "mexer-se", o.s., chegar até à Assembleia da República.
Veja-se o exemplo de um conhecido Presidente de Junta de Freguesia que conseguiu com que o nome com que os Serviços do Ministério da Justiça designavam a sua freguesias nos BI's (Rãs) fosse corrigido (para Rans).
Tudo isto através de uma decisão da A.R.
Cumprimentos
Arlindo Rodrigues
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