O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
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O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Armando de Mattos no seu "Manual de Heráldica Portuguesa", refere-se ao pavilhão como um dos ornatos exteriores do escudo. Constata ainda que só o podem usar para a composição do seu brasão de armas, para além do Rei, o Príncipe Real, os infantes, os duques, marquezes, condes, conselheiros de Estado (tinham honras de marquês), pares do Reino (tinham honras de Conde) e grã-cruzes, "variando nas cores e bordados". Esta limitação econtra-se reflectida na regulamentação heráldica e muitos outros países europeus. (Julgo que o pavilhão propriamente dito é reservado apenas a Chefes de Estado, os demais usando um manto).
O pavilhão/manto heráldico começou a aparecer na Europa no século XVI. No entanto, em Portugal, conheço exemplos concretos do seu uso (aliás variadíssimos) apenas a partir do século XIX, se não mesmo só já no regime liberal - por membros da família Real, titulares com grandeza, pares do Reino e conselheiros de Estado. É possível que me tenham escapado exemplos mais antigos, sendo eu um mero amador nestas lides.
O que mais me intrigou da frase de Armando de Matos foi a sua alusão a variações nas cores e bordaduras nos mantos, que eu desconhecia por completo, que não é óbvia dos exemplos de heráldica que conheço do século XIX, e que não encontro referenciado em mais nenhuma obra.
Deixo aqui esta curiosidade para a apreciação dos utilizadores deste fórum com maior conhecimento da matéria.
Luis Lavradio
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Caro Luis Lavradio,
Depois de uma conversa tida com amigos sobre o tema em que se abordou o facto de haver pavilhões a preto em vez de a encarnado, li que o "Pavilhão a negro com forro e bordadura de arminho é usado apenas pelos dos pares do Reino por sucessão, todos os outros deverão usar o pavilhão encarnado."
Li noutro local que o forro de arminho era próprio só dos grandes do Reino e que os pares e conselheiros, mesmo com honras de grandeza não deveriam usá-lo.
Existe uma obra francesa, do Império, que aborda exaustivamente este tema, mas penso ser perigoso aplicá-la ao caso português. A título de exemplo, cita que os pavilhões pretos serão usados pelos príncipes, competindo aos duques, chefes da Casa, os pavilhões a encarnado.
Com os meus cumprimentos
José Berquó de Seabra
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Ainda a tempo...
E passo a citar:
"Chama-se pavilhão a um manto real, de púrpura e forrado de arminhos, que se desenha com a forma de dossel ou tenda, e que fica por detrás do escudo real.
Parece que a ideia desta composição heráldica seria representar a tenda régia, dentro da qual estivesse exposto o escudo. Teoricamente, o pavilhão é composto de duas partes: o dossel, no lado superior, franjado de oiro, e as cortinas, que se apresentam com o aspecto de estarem levantadas para os lados, e que seriam, portanto, originadas na parte superior dos panos de tenda que formavam o tecto, e na parte inferior, que se podia afastar para dar entrada na tenda.
A certas dignidades em Portugal era consentido representarem por detrás do escudo uma espécie de pavilhão, significando o manto do cavaleiro. Houve certamente abusos ao apresentar este desenho, com o fim de elevar a categoria social e nobiliárquica do portador das armas.
Em certas armas de domínio o pavilhão é substituído por uma figura animal, na maior parte dos casos uma águia, que fica subposta ao escudo..." Heráldica - Gastão de Mello Mattos e Luis Stubbs Saldanha Monteiro da Bandeira.
José Berquó de Seabra
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Caro José Berquó de Seabra,
Fico muitíssimo agradecido pelas suas informações. Há ainda poucas fontes sobre a regulamentação da heráldica em Portugal (embora tenham aparecido ultimamente com maior frequência) e, infelizmente, muitas vezes divergem em relação a determinados aspectos ou pura e simplesmente não tratam dos mais obscuros (a questão dos mantos é um exemplo). Espera-se que o interesse que a heráldica está hoje em dia a suscitar leve a cada vez mais e mais completas investigações sobre a matéria, para ajudar a manter esta ciência/arte viva não só a nível municipal como também a nível familiar e pessoal!
Luis Lavradio
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Caro Luís,
Este assunto tem o maior interesse e está infelizmente pouco estudado e/ou divulgado. Aqui ficam algumas notas que talvez sejam úteis.
Apesar do que diz Armando de Mattos, creio que do ponto de vista legal só o uso por parte dos Pares do Reino foi consagrado. Houve alguns casos de Cartas de Brasão de Armas com manto de Par e coronel de conde, como lhes competia por terem honras de grandeza. Sobre este assunto vd. SÃO PAYO, Marquês de - As insígnias heráldicas do pariato em Portugal. "Armas e Troféus", 1967, pp. 5-8.
Todos os outros, Conselheiros, Grandes do Reino, etc, poderão ter usado mantos mas não conheço legislação.
Os Conselheiro de Estado (não confundir com os "Acácios" do Conselho de S.M.F.) usavam de facto coronel de marquês, conforme um documento que encontrei na Mordomia da Casa Real. Os "Acácios" usariam, segundo o Marquês de S. Payo ("Armas e Troféus", 1968, pp. 7-8), um coronel de sete pérolas, como figura na C.B.A. de mercê-nova concedida António Roberto de Oliveira Lopes Branco, do Conselho de S.M.F. e Ministro e Sec. de Estado honorário. Pergunto-me porém se este novo coronel corresponderia ao 1.º título (Conselheiro) ou ao 2.º (Ministro honorário).
E por agora é tudo. Se me lembrar de mais alguma coisa digo.
Um abraço
Lourenço
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Caro Lourenço,
Como sempre uma fonte de novas (pelo menos para mim) e interessantes informações! Li entretanto, noutro tratado sobre heráldica portuguesa, que os grandes do reino já usavam o manto como parte do seu brasão no século XVIII - este uso de base fancófona, pois os mantos, na parte exterior, tinha elementos das armas dos ditos senhores. Esta prática tinham-na os duques, pares de França.
Um abraço,
Luis
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Caro Lourenço
Deve ser das férias, mas o que é S.M.F.?
Um abraço
João
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Caro Luis Lavradio,
Encontrei um pavilhão com as armas dos Marqueses de Fronteira (infelizmente a preto e branco) em que o exterior tem uma bordadura de folhas de oliveira e franjas. No interior, tem dois escudos, o dos Mascarenhas e da Marquesa, que são encimados pela coroa de marquês (que já figura no cimo do manto) e de três figuras heráldicas: uma árvore, uma mão e um leão. Sob os referidos escudos está a divisa Deus Dará e a ordem de Cristo. O forro é de arminho.
Em França, a Família Real usou por vezes a flor-de-lis no exterior, que era de azul.
Em "Os La Rochefoucauld" de Solange Fasquelle, filha dos XII Duques, esta afirma que o pavilhão começou a ser usado no reinado de Luis XIII, tendo sido autorizados por Luis XV a acrescentar troféus. O uso do pavilhão é anterior ao pariato.
Com os meus cumprimentos
José Berquó de Seabra
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Caro João
"Sua Majestade Fidelíssima". Os inumeros Conselheiros do século XIX eram apenas agraciados com o "título" "do Conselho de SMF", não sendo Conselheiros de Estado efectivo. Sobre este assunto lê sff o tópico http://genealogia.netopia.pt/forum/msg.php?id=31060
Chamo-lhes "Acácios" porque o célebre Conselheiro de "O Primo Basílio" era destes: um simples funcionário público agraciado com este pomposo título.
Um abraço
Lourenço
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Muito obrigado, Lourenço, supus que fosse Fidelíssima mas quis ter a certeza.
Quanto aos Acácios, tinha sido óbvia a remissão. MAs destes, há muitos, com e sem manto :-)
Um abraço
João
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RE: O "pavilhão" ou "manto" na heráldica portuguesa
Tenho comigo cópia de um ex-libris dos marquezes da Fronteira que julgo com as mesmas armas, sendo as armas Mascarenhas as da marquesa e as outras de Pedro Morais Sarmento, seu marido, Barão da Torre de Moncorvo.
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